O autor confesso dos ataques de julho de 2011 na Noruega, Anders Behring Breivik, é mentalmente capaz para ser criminalmente responsável pelos atentados que fizeram 77 mortos, afirmaram hoje psiquiatras e psicólogos durante o julgamento do extremista de direita.
Os especialistas hoje ouvidos no tribunal de Oslo integram o painel de testemunhas da defesa.
O estado da saúde mental de Breivik é uma das questões centrais do julgamento do extremista, que arrancou a 16 de abril na capital norueguesa.
Breivik, opositor da multiculturalidade e da "invasão muçulmana" na Europa, quer ser considerado mentalmente capaz, para que os seus ideais não sejam invalidados por um diagnóstico de demência.
Um dos peritos, o psicólogo Eirik Johannesen, declarou diante do tribunal estar "plenamente convencido" que Breivik não estava psicótico no momento dos ataques, afirmando que os seus atos não tiveram como origem uma doença, mas sim os seus ideais políticos extremistas.
"Tendo em vista a sua ideologia, não penso que possa ser tratado através de terapia ou de medicação", sublinhou Johannesen, que teve oportunidade de observar o acusado, no total de 26 horas, durante o período de detenção.
Ainda durante o depoimento, Johannesen descreveu que o contacto que manteve com Breivik era "como encontrar Hannibal [Lecter]", a personagem do filme "O Silêncio dos Inocentes".
O extremista de direita foi submetido até à data a duas avaliações psiquiátricas oficiais.
Ainda na audiência de hoje, outra testemunha da defesa, o professor de psiquiatria Einar Kringlen, que inicialmente defendeu a inimputabilidade do acusado, acabou por admitir outro cenário.
"O mal nem sempre é explicado pela doença", declarou diante do tribunal, citando o exemplo do Holocausto.
Os relatórios psiquiátricos oficiais não têm um carácter vinculativo, uma vez que será o painel de juízes do tribunal de Oslo que irá determinar se Breivik é ou não criminalmente responsável.
Breivik foi o autor do atentado à bomba contra a sede do Governo norueguês e de um tiroteio na ilha de Utoya, perto de Oslo, a 22 de julho do ano passado.
Os dois ataques causaram 77 mortos, na maioria jovens que participavam num acampamento da Juventude Trabalhista, na ilha de Utoya.
O extremista de direita reconheceu a autoria dos ataques, mas recusou declarar-se culpado.
Se for considerado culpado, Breivik incorre numa pena de 21 anos de prisão ou de retenção de segurança -- uma pena renovável enquanto o preso for considerado perigoso. Caso seja considerado inimputável, pode ser condenado a internamento psiquiátrico, potencialmente para toda a vida.
A justiça norueguesa divulgou na semana passada que o veredito será conhecido a 20 de julho ou a 24 de agosto.
Fonte: Lusa (Portugal)
http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2012/06/11/psiquiatras-e-psicologos-acreditam-que-breivik-e-criminalmente-responsavel
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segunda-feira, 11 de junho de 2012
terça-feira, 26 de julho de 2011
Breivik não é uma singularidade na Noruega
MATTHEW GOODWIN
DO "GUARDIAN"
A tragédia que aconteceu na Noruega neste fim de semana pode vir a ser um divisor de águas em termos de como encaramos os seguidores da extrema-direita, os grupos da extrema-direita e sua ideologia. Até agora, as democracias europeias e seus serviços de segurança vinham focando quase exclusivamente a ameaça do terrorismo inspirado na Al Qaeda. Os grupos extremistas de direita e suas entidades afiliadas mais violentas eram vistos como nada mais que um movimento desorganizado, fragmentado e irrelevante.
Mas essa visão convencional não levava em conta as evidências mais amplas de um estado de ânimo mais violento e beligerante que se manifestava nos círculos da extrema-direita europeia. Essa mudança pode ter sido uma reação à chegada do terrorismo inspirado na Al Qaeda, ou o sentimento de que os partidos políticos de extrema-direita na Europa (como o Partido do Progresso norueguês, ao qual o autor dos ataques foi filiado no passado) não estão exercendo influência suficiente em questões como a imigração.
Dois anos atrás, autoridades antiterrorismo no Reino Unido lançaram um aviso sobre a ameaça crescente representada por "lobos solitários" de direita. Ao mesmo tempo, o Departamento de Segurança Interna dos EUA avisou que o clima econômico mais amplo e a eleição do primeiro presidente afro-americano poderiam resultar em confrontos entre extremistas de direita e autoridades governamentais, "semelhantes aos do passado". Esses acontecimentos passados incluíram o atentado contra um edifício federal em Oklahoma, no qual morreram 168 pessoas.
Os fatos ocorridos no fim de semana contestam diretamente a ideia de que o extremismo de direita seja uma ameaça apenas secundária à segurança. De acordo com a polícia norueguesa, o autor dos ataques --Anders Behring Breivik, de 32 anos-- confirmou que planejou e realizou os dois ataques sozinho.
As origens de suas influências ideológicas já começaram a vir à tona. Breivik era longe de ser o que se poderia descrever como um extremista de direita tradicional. Ao mesmo tempo em que estava profundamente preocupado com os efeitos da imigração, do multiculturalismo, do islã e do crescimento das comunidades muçulmanas radicadas no país, ele também rejeitava as ideias neonazistas e supremacistas raciais grosseiras e os partidos que as defendem, citando, por exemplo, o Partido Nacional Britânico (BNP).
Talvez tenha sido sua rejeição do BNP que o levou a se interessar pela Liga de Defesa Inglesa (EDL). Breivik ficou impressionado com a velocidade do crescimento desse grupo e elogiou as "escolhas táticas" feitas por seus líderes. Isso incluiu o endosso da rejeição por parte da EDL do discurso supremacista branco tradicional e do racismo, além da decisão da liga de opor-se ao islã por razões culturais. Essa distinção entre as formas tradicionais de extremismo de direita baseadas na questão racial (como as do BNP) e uma nova narrativa antimuçulmana reflete uma mudança mais ampla no interior da extrema-direita europeia. Em lugar da oposição à imigração e ao islã por razões raciais (argumento que atrairia pouco apoio), a ênfase se desloca para a questão da cultura, que encontra aceitação social maior: os muçulmanos não seriam biologicamente inferiores, mas seriam culturalmente incompatíveis, diz o argumento. O objetivo é abrir os grupos de extrema-direita modernos a um público mais amplo.
Como a maioria dos integrantes da extrema-direita, ao mesmo tempo em que Breivik expressava preocupação profunda diante de uma série de ameaças à sociedade mais ampla, ele parecia enxergar os partidos majoritários como sendo incapazes ou não dispostos a oferecer respostas à altura das ameaças. Ele foi em dado momento membro do Partido do Progresso, de direita, que também argumenta contra a imigração e tece críticas aos muçulmanos, mas, mais tarde, denunciou membros desse partido como sendo "políticos de carreira, politicamente corretos" que não estavam preparados para "correr riscos e trabalhar por metas idealistas". Mais amplamente, Breivik também se opunha ferrenhamente à influência cultural do marxismo e da chamada "correção política" e convocou setores da direita a combater essa influência, assumindo o controle da mídia e outras posições de influência.
Seria fácil qualificar Breivik como uma exceção norueguesa, mas seria um engano. Embora ele seja distinguível por seus atos, é importante observar que algumas de suas preocupações básicas também vêm exercendo papel destacado na política norueguesa e na política europeia, de modo mais geral. Eu passei quatro anos entrevistando ativistas da extrema-direita, muitos dos quais rejeitavam a violência política. Mas o que ficou claro ao longo dessa pesquisa é que existe, inquestionavelmente, uma cultura da violência dentro da subcultura de extrema-direita mais ampla. Muitas das ideias expressas durante a pesquisa também vieram à tona nas últimas 48 horas: a ameaça que seria representada pelas comunidades muçulmanas, a ideia de que os grandes partidos são incapazes de fazer frente a essa ameaça, e uma ênfase forte sobre o "choque de civilizações" entre membros da população majoritária e de grupos minoritários.
Por meio de sites na internet, materiais impressos e reuniões (e Breivik teria sido exposto a tudo isso), esse movimento fomenta entre seus seguidores várias narrativas: a ideia de que estão travando uma batalha pela sobrevivência racial ou cultural; que seu grupo racial, religioso ou cultural estaria ameaçado de extinção iminente; que as opções políticas existentes seriam incapazes de reagir a essa ameaça; que ações urgentes e radicais são necessárias para responder a essas ameaças na sociedade, e que eles precisam cumprir esse dever para poderem deixar um legado a seus filhos e netos.
Esses argumentos proporcionam aos seguidores de grupos de extrema-direita e fundamentalistas um raciocínio convincente e forte para que se envolvam ativamente. Para começar, esses cidadãos consideram que uma comunidade mais ampla se encontra ameaçada, quer seja pela Al Qaeda, por organizações supranacionais como a UE ou a ONU, pela imigração ou pelo crescimento de comunidades muçulmanas radicadas.
Ademais, eles argumentam que essa ameaça é de ordem cultural, e não econômica. Não é uma simples questão de emprego ou de moradias subsidiadas. É um conjunto profundo de receios de que um conjunto de valores, um modo de vida e uma comunidade maior estejam vivendo sob ameaça, e que apenas as formas de ação mais radicais seriam capazes de eliminar essa ameaça.
Recentemente escrevi uma resenha de um livro acadêmico que terminava com a previsão de que a próxima onda de terrorismo na Europa virá não de grupos inspirados na Al Qaeda, mas de grupos de direita que querem reagir a essa ameaça e reafirmar a posição de seu grupo mais amplo. Ainda é cedo para saber se os atos de Breivik vão inspirar ataques semelhantes, mas uma coisa está clara: a ameaça representada pelos grupos e as ideias extremistas de direita merecem uma atenção muito maior.
Tradução de Clara Allain
Fonte: Bol Notícias(Brasil)
http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2011/07/25/breivik-nao-e-uma-singularidade-na-noruega.jhtm
Texto original: The Guardian(Reino Unido)
Norway attacks: We can no longer ignore the far-right threat
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/jul/24/norway-bombing-attack-far-right
Monstro norueguês acredita estar em guerra (AFP Brasil)
DO "GUARDIAN"
A tragédia que aconteceu na Noruega neste fim de semana pode vir a ser um divisor de águas em termos de como encaramos os seguidores da extrema-direita, os grupos da extrema-direita e sua ideologia. Até agora, as democracias europeias e seus serviços de segurança vinham focando quase exclusivamente a ameaça do terrorismo inspirado na Al Qaeda. Os grupos extremistas de direita e suas entidades afiliadas mais violentas eram vistos como nada mais que um movimento desorganizado, fragmentado e irrelevante.
Mas essa visão convencional não levava em conta as evidências mais amplas de um estado de ânimo mais violento e beligerante que se manifestava nos círculos da extrema-direita europeia. Essa mudança pode ter sido uma reação à chegada do terrorismo inspirado na Al Qaeda, ou o sentimento de que os partidos políticos de extrema-direita na Europa (como o Partido do Progresso norueguês, ao qual o autor dos ataques foi filiado no passado) não estão exercendo influência suficiente em questões como a imigração.
Dois anos atrás, autoridades antiterrorismo no Reino Unido lançaram um aviso sobre a ameaça crescente representada por "lobos solitários" de direita. Ao mesmo tempo, o Departamento de Segurança Interna dos EUA avisou que o clima econômico mais amplo e a eleição do primeiro presidente afro-americano poderiam resultar em confrontos entre extremistas de direita e autoridades governamentais, "semelhantes aos do passado". Esses acontecimentos passados incluíram o atentado contra um edifício federal em Oklahoma, no qual morreram 168 pessoas.
Os fatos ocorridos no fim de semana contestam diretamente a ideia de que o extremismo de direita seja uma ameaça apenas secundária à segurança. De acordo com a polícia norueguesa, o autor dos ataques --Anders Behring Breivik, de 32 anos-- confirmou que planejou e realizou os dois ataques sozinho.
As origens de suas influências ideológicas já começaram a vir à tona. Breivik era longe de ser o que se poderia descrever como um extremista de direita tradicional. Ao mesmo tempo em que estava profundamente preocupado com os efeitos da imigração, do multiculturalismo, do islã e do crescimento das comunidades muçulmanas radicadas no país, ele também rejeitava as ideias neonazistas e supremacistas raciais grosseiras e os partidos que as defendem, citando, por exemplo, o Partido Nacional Britânico (BNP).
Talvez tenha sido sua rejeição do BNP que o levou a se interessar pela Liga de Defesa Inglesa (EDL). Breivik ficou impressionado com a velocidade do crescimento desse grupo e elogiou as "escolhas táticas" feitas por seus líderes. Isso incluiu o endosso da rejeição por parte da EDL do discurso supremacista branco tradicional e do racismo, além da decisão da liga de opor-se ao islã por razões culturais. Essa distinção entre as formas tradicionais de extremismo de direita baseadas na questão racial (como as do BNP) e uma nova narrativa antimuçulmana reflete uma mudança mais ampla no interior da extrema-direita europeia. Em lugar da oposição à imigração e ao islã por razões raciais (argumento que atrairia pouco apoio), a ênfase se desloca para a questão da cultura, que encontra aceitação social maior: os muçulmanos não seriam biologicamente inferiores, mas seriam culturalmente incompatíveis, diz o argumento. O objetivo é abrir os grupos de extrema-direita modernos a um público mais amplo.
Como a maioria dos integrantes da extrema-direita, ao mesmo tempo em que Breivik expressava preocupação profunda diante de uma série de ameaças à sociedade mais ampla, ele parecia enxergar os partidos majoritários como sendo incapazes ou não dispostos a oferecer respostas à altura das ameaças. Ele foi em dado momento membro do Partido do Progresso, de direita, que também argumenta contra a imigração e tece críticas aos muçulmanos, mas, mais tarde, denunciou membros desse partido como sendo "políticos de carreira, politicamente corretos" que não estavam preparados para "correr riscos e trabalhar por metas idealistas". Mais amplamente, Breivik também se opunha ferrenhamente à influência cultural do marxismo e da chamada "correção política" e convocou setores da direita a combater essa influência, assumindo o controle da mídia e outras posições de influência.
Seria fácil qualificar Breivik como uma exceção norueguesa, mas seria um engano. Embora ele seja distinguível por seus atos, é importante observar que algumas de suas preocupações básicas também vêm exercendo papel destacado na política norueguesa e na política europeia, de modo mais geral. Eu passei quatro anos entrevistando ativistas da extrema-direita, muitos dos quais rejeitavam a violência política. Mas o que ficou claro ao longo dessa pesquisa é que existe, inquestionavelmente, uma cultura da violência dentro da subcultura de extrema-direita mais ampla. Muitas das ideias expressas durante a pesquisa também vieram à tona nas últimas 48 horas: a ameaça que seria representada pelas comunidades muçulmanas, a ideia de que os grandes partidos são incapazes de fazer frente a essa ameaça, e uma ênfase forte sobre o "choque de civilizações" entre membros da população majoritária e de grupos minoritários.
Por meio de sites na internet, materiais impressos e reuniões (e Breivik teria sido exposto a tudo isso), esse movimento fomenta entre seus seguidores várias narrativas: a ideia de que estão travando uma batalha pela sobrevivência racial ou cultural; que seu grupo racial, religioso ou cultural estaria ameaçado de extinção iminente; que as opções políticas existentes seriam incapazes de reagir a essa ameaça; que ações urgentes e radicais são necessárias para responder a essas ameaças na sociedade, e que eles precisam cumprir esse dever para poderem deixar um legado a seus filhos e netos.
Esses argumentos proporcionam aos seguidores de grupos de extrema-direita e fundamentalistas um raciocínio convincente e forte para que se envolvam ativamente. Para começar, esses cidadãos consideram que uma comunidade mais ampla se encontra ameaçada, quer seja pela Al Qaeda, por organizações supranacionais como a UE ou a ONU, pela imigração ou pelo crescimento de comunidades muçulmanas radicadas.
Ademais, eles argumentam que essa ameaça é de ordem cultural, e não econômica. Não é uma simples questão de emprego ou de moradias subsidiadas. É um conjunto profundo de receios de que um conjunto de valores, um modo de vida e uma comunidade maior estejam vivendo sob ameaça, e que apenas as formas de ação mais radicais seriam capazes de eliminar essa ameaça.
Recentemente escrevi uma resenha de um livro acadêmico que terminava com a previsão de que a próxima onda de terrorismo na Europa virá não de grupos inspirados na Al Qaeda, mas de grupos de direita que querem reagir a essa ameaça e reafirmar a posição de seu grupo mais amplo. Ainda é cedo para saber se os atos de Breivik vão inspirar ataques semelhantes, mas uma coisa está clara: a ameaça representada pelos grupos e as ideias extremistas de direita merecem uma atenção muito maior.
Tradução de Clara Allain
Fonte: Bol Notícias(Brasil)
http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2011/07/25/breivik-nao-e-uma-singularidade-na-noruega.jhtm
Texto original: The Guardian(Reino Unido)
Norway attacks: We can no longer ignore the far-right threat
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/jul/24/norway-bombing-attack-far-right
Monstro norueguês acredita estar em guerra (AFP Brasil)
sábado, 16 de outubro de 2010
Estudo aponta que extremismo é gerado mais por questões sociais e menos por ideologia
Extremistas de todas as colorações – desde os anarquistas munidos de coquetéis molotov, passando por terroristas islâmicos até skinheads neonazistas – têm algo em comum, diz estudo.
Para os jovens radicais, fatores de ordem social são mais determinantes do que convicções políticas: isso é o que afirma o recente estudo "Extremistas sob a Perspectiva Biográfica", idealizado pelo Departamento Federal de Investigações na Alemanha e realizado em cooperação com o Instituto de Pesquisa Social e Consultoria Política (RISP) da Universidade de Duisburg-Essen.
Os pesquisadores responsáveis entrevistaram 39 extremistas políticos entre dezembro de 2004 e dezembro de 2008 e detectaram diversas semelhanças entre suas biografias. A maioria dos entrevistados encontra-se hoje na prisão.
Aparentemente, diz o estudo, as ideologias dos entrevistados não poderiam ser mais díspares. No entanto, a convicção política acaba sendo um fator de segunda ordem no processo de radicalização, analisam os pesquisadores.
Desejo de inclusão
Os jovens, de acordo como o estudo, são mais atraídos pelo sentimento de pertencimento a um grupo do que por pontos de vista políticos, diz Thomas Kliche, pesquisador na área de Psicologia e Política da Universidade de Hamburgo.
"A ideologia ocupa um lugar muito secundário nas biografias desses extremistas. Nessa idade, eles nem ao menos compreenderam o alcance dessas ideias. Eles apenas sentem que o grupo os elogia, dizendo que são bons e fortes", descreve Kliche.
No entanto, acentua o pesquisador, nem todo jovem é suscetível ao fascínio da identidade grupal. Entre os entrevistados para o estudo do BKA, praticamente todos vinham de famílias com problemas e, por isso, desenvolveram um interesse exacerbado pelo grupo social nos quais circulam.
"Muitos infratores vêm de lares destruídos ou suas famílias não estão em condições de dar a eles o sentimento de segurança, calor humano, a sensação de serem bem-vindos. É aí que entra o grupo na jogada", afirmou o pesquisador à Deutsche Welle.
Extremismo por acaso?
O estudo detectou que muitos dos entrevistados, além de terem famílias com sérios distúrbios emocionais, tentam se integrar à sociedade por outros caminhos. Na maioria dos casos, eles interromperam a vida escolar ou a formação profissional ou foram mal-sucedidos nesses âmbitos, o que faz com que tenham necessidade de compensar suas deficiências.
De acordo com o estudo, a identificação de uma pessoa com uma ideologia extremista em particular depende mais do acaso do que de sua tendência para determinada convicção política. Religião e política são, para os entrevistados, irrelevantes, ao contrário de aspectos sociais como solidariedade ou apoio emocional.
Não raras vezes, a ânsia de pertencimento ou integração a determinado grupo leva à violência e ao abuso de drogas. A maioria dos entrevistados já havia demonstrado comportamento delinquente antes de se aliar à cena radical em questão, levando o autor da pesquisa a concluir que os chamados "crimes politicamente motivados" muitas vezes não têm, de fato, uma motivação ideológica real.
Autora: Sarah Harman/dpa (sv)
Revisão: Simone Lopes
Fonte: Deutsche Welle(Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6046901,00.html
Extremistas: mais coisas em comum que coturnos |
Para os jovens radicais, fatores de ordem social são mais determinantes do que convicções políticas: isso é o que afirma o recente estudo "Extremistas sob a Perspectiva Biográfica", idealizado pelo Departamento Federal de Investigações na Alemanha e realizado em cooperação com o Instituto de Pesquisa Social e Consultoria Política (RISP) da Universidade de Duisburg-Essen.
Os pesquisadores responsáveis entrevistaram 39 extremistas políticos entre dezembro de 2004 e dezembro de 2008 e detectaram diversas semelhanças entre suas biografias. A maioria dos entrevistados encontra-se hoje na prisão.
Aparentemente, diz o estudo, as ideologias dos entrevistados não poderiam ser mais díspares. No entanto, a convicção política acaba sendo um fator de segunda ordem no processo de radicalização, analisam os pesquisadores.
Desejo de inclusão
Os jovens, de acordo como o estudo, são mais atraídos pelo sentimento de pertencimento a um grupo do que por pontos de vista políticos, diz Thomas Kliche, pesquisador na área de Psicologia e Política da Universidade de Hamburgo.
"A ideologia ocupa um lugar muito secundário nas biografias desses extremistas. Nessa idade, eles nem ao menos compreenderam o alcance dessas ideias. Eles apenas sentem que o grupo os elogia, dizendo que são bons e fortes", descreve Kliche.
Jovens radicais são detidos com frequência |
"Muitos infratores vêm de lares destruídos ou suas famílias não estão em condições de dar a eles o sentimento de segurança, calor humano, a sensação de serem bem-vindos. É aí que entra o grupo na jogada", afirmou o pesquisador à Deutsche Welle.
Extremismo por acaso?
O estudo detectou que muitos dos entrevistados, além de terem famílias com sérios distúrbios emocionais, tentam se integrar à sociedade por outros caminhos. Na maioria dos casos, eles interromperam a vida escolar ou a formação profissional ou foram mal-sucedidos nesses âmbitos, o que faz com que tenham necessidade de compensar suas deficiências.
De acordo com o estudo, a identificação de uma pessoa com uma ideologia extremista em particular depende mais do acaso do que de sua tendência para determinada convicção política. Religião e política são, para os entrevistados, irrelevantes, ao contrário de aspectos sociais como solidariedade ou apoio emocional.
Não raras vezes, a ânsia de pertencimento ou integração a determinado grupo leva à violência e ao abuso de drogas. A maioria dos entrevistados já havia demonstrado comportamento delinquente antes de se aliar à cena radical em questão, levando o autor da pesquisa a concluir que os chamados "crimes politicamente motivados" muitas vezes não têm, de fato, uma motivação ideológica real.
Autora: Sarah Harman/dpa (sv)
Revisão: Simone Lopes
Fonte: Deutsche Welle(Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6046901,00.html
terça-feira, 14 de julho de 2009
Faltou solidariedade da maioria frente ao assassinato de Marwa El-Sherbini
Opinião: Faltou solidariedade da maioria frente ao assassinato de Marwa El-Sherbini
As reações ao homicídio de Marwa El-Sherbini em Dresden chegaram tarde mais. Consternação forçada não convence, comenta Stephan J. Kramer, secretário-geral do Conselho Geral dos Judeus na Alemanha.
Na segunda-feira (06/07), visitei Elwi Ali Okaz no hospital de Dresden, junto com o secretário-geral do Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha, Aiman Mazyek; o embaixador egípcio Ramzi Ezzeldin Ramzi; o diretor da polícia Brend Merbitz e o secretário de Justiça da Saxônia, Geert Mackenroth.
A mulher de Ali Okaz, Marwa El-Sherbini, foi esfaqueada por um fanático que odeia muçulmanos – isso na sala de um tribunal alemão, diga-se de passagem. Seu filho, ainda no ventre, também morreu. O outro filho, de três anos de idade, foi obrigado a presenciar o ocorrido no tribunal. Seu marido, que tentou ajudá-la, foi ferido gravemente, correndo risco de vida.
Através da visita ao hospital, queríamos encorajar Elwi Ali Okaz após sua perda irreparável e seus ferimentos graves – ele ainda foi, em função de uma terrível confusão, considerado agressor, tendo sido baleado por um policial – e também darmos um sinal para o mundo lá fora de solidariedade não apenas com as vítimas, mas com todos os muçulmanos na Alemanha.
Nossa visita desencadeou uma ampla reação da mídia. Desconcertante é o fato de, para alguns desses jornalistas, a viagem de dois secretários-gerais de religiões distintas a Dresden parecer ser mais digna de nota do que o homicídio por motivos racistas em si. Tudo indica que alguns desses jornalistas acharam a morte de uma muçulmana muito menos relevante do que o aparecimento em público de dois secretários-gerais juntos: um, muçulmano; outro, judeu. Em algumas publicações, percebia-se até mesmo uma satisfação arrogante e cheia de boas intenções em relação a uma "aliança das minorias", que, enfim, agora, mostrava que tinha capacidade de aprender e estaria agindo conjuntamente.
Diante desta situação, há urgência de uma palavra esclarecedora. Não fui a Dresden porque, como judeu, sou membro de uma minoria. Fiz a viagem porque, como judeu, sei que quem ataca uma pessoa por causa de raça, etnia ou religião, não ataca somente uma minoria, mas a sociedade democrática como um todo.
Neste sentido, não é relevante perguntar por que um representante da comunidade judaica manifesta seu pesar e sua solidariedade a Elwi Ali Okaz, mas sim por que não houve também uma avalanche de visitantes nem a solidariedade de representantes da maioria da sociedade alemã?
Por que as reações da mídia e da política ao assassinato chegaram tão tarde? Agora, muito em função da pressão da opinião pública internacional, tenta-se melhorar a situação. Consternação forçada, contudo, não convence.
Parece que a sociedade alemã não entendeu a envergadura do atentado de Dresden. Falta reconhecer que o assassinato de Marwa El-Sherbini é evidentemente o resultado de uma propaganda praticamente desimpedida contra os muçulmanos, feita desde as margens extremistas da sociedade até seu centro.
Principalmente a cena da extrema direita provoca, há anos, um clima de exclusão, demonização e medo frente a pessoas de outras crenças, estrangeiros e membros de minorias. Mas falta também enxergar que a ausência de resistência na sociedade contra o racismo pode incentivar outros atos terroristas – o termo é, nesse caso, absolutamente adequado – como esse homicídio covarde em Dresden.
Por isso, a Alemanha precisa, o mais tardar agora, levar a si mesma a julgamento. Não se trata apenas de isolar e punir os agressores, mas também de fazer um trabalho sustentável de esclarecimento, bem como disseminar o saber sobre a população muçulmana, sua cultura, sua religião e seus costumes.
Nossa meta não é a tolerância, mas sim o respeito no convívio mútuo. Não há nada que substitua um diálogo amplo, do qual participem não somente teólogos e autoridades, mas sim o maior número possível de cidadãos – um trabalho de base, no melhor sentido do termo.
Sei que a indignação e a insegurança entre os muçulmanos são grandes no momento, o que é compreensível. Mesmo assim, eles não deveriam esmorecer em seus esforços pelo lugar legítimo que lhes cabe na sociedade alemã. Para muitos – e isto ensina a experiência de outras minorias, inclusive dos judeus – tal significa um exercício de equilíbrio entre manter a própria identidade e se abrir para o ambiente social. Para solucionar esse dilema, é também imprescindível um diálogo aberto entre a minoria e a maioria. Integração não significa assimilação. Em caso de respeito mútuo, a diferença não é uma pedra no sapato da convivência.
Stephan Joachim Kramer é secretário-geral do Conselho Central dos Judeus na Alemanha. Este comentário foi escrito originalmente para o portal www.qantara.de, que conta, entre outros, com a participação da Deutsche Welle.
Autor: Stephan Joachim Kramer
Revisão: Augusto Valente
Fonte: Deutsche Welle(12.07.2009, Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4474247,00.html
As reações ao homicídio de Marwa El-Sherbini em Dresden chegaram tarde mais. Consternação forçada não convence, comenta Stephan J. Kramer, secretário-geral do Conselho Geral dos Judeus na Alemanha.
Na segunda-feira (06/07), visitei Elwi Ali Okaz no hospital de Dresden, junto com o secretário-geral do Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha, Aiman Mazyek; o embaixador egípcio Ramzi Ezzeldin Ramzi; o diretor da polícia Brend Merbitz e o secretário de Justiça da Saxônia, Geert Mackenroth.
A mulher de Ali Okaz, Marwa El-Sherbini, foi esfaqueada por um fanático que odeia muçulmanos – isso na sala de um tribunal alemão, diga-se de passagem. Seu filho, ainda no ventre, também morreu. O outro filho, de três anos de idade, foi obrigado a presenciar o ocorrido no tribunal. Seu marido, que tentou ajudá-la, foi ferido gravemente, correndo risco de vida.
Através da visita ao hospital, queríamos encorajar Elwi Ali Okaz após sua perda irreparável e seus ferimentos graves – ele ainda foi, em função de uma terrível confusão, considerado agressor, tendo sido baleado por um policial – e também darmos um sinal para o mundo lá fora de solidariedade não apenas com as vítimas, mas com todos os muçulmanos na Alemanha.
Nossa visita desencadeou uma ampla reação da mídia. Desconcertante é o fato de, para alguns desses jornalistas, a viagem de dois secretários-gerais de religiões distintas a Dresden parecer ser mais digna de nota do que o homicídio por motivos racistas em si. Tudo indica que alguns desses jornalistas acharam a morte de uma muçulmana muito menos relevante do que o aparecimento em público de dois secretários-gerais juntos: um, muçulmano; outro, judeu. Em algumas publicações, percebia-se até mesmo uma satisfação arrogante e cheia de boas intenções em relação a uma "aliança das minorias", que, enfim, agora, mostrava que tinha capacidade de aprender e estaria agindo conjuntamente.
Diante desta situação, há urgência de uma palavra esclarecedora. Não fui a Dresden porque, como judeu, sou membro de uma minoria. Fiz a viagem porque, como judeu, sei que quem ataca uma pessoa por causa de raça, etnia ou religião, não ataca somente uma minoria, mas a sociedade democrática como um todo.
Neste sentido, não é relevante perguntar por que um representante da comunidade judaica manifesta seu pesar e sua solidariedade a Elwi Ali Okaz, mas sim por que não houve também uma avalanche de visitantes nem a solidariedade de representantes da maioria da sociedade alemã?
Por que as reações da mídia e da política ao assassinato chegaram tão tarde? Agora, muito em função da pressão da opinião pública internacional, tenta-se melhorar a situação. Consternação forçada, contudo, não convence.
Parece que a sociedade alemã não entendeu a envergadura do atentado de Dresden. Falta reconhecer que o assassinato de Marwa El-Sherbini é evidentemente o resultado de uma propaganda praticamente desimpedida contra os muçulmanos, feita desde as margens extremistas da sociedade até seu centro.
Principalmente a cena da extrema direita provoca, há anos, um clima de exclusão, demonização e medo frente a pessoas de outras crenças, estrangeiros e membros de minorias. Mas falta também enxergar que a ausência de resistência na sociedade contra o racismo pode incentivar outros atos terroristas – o termo é, nesse caso, absolutamente adequado – como esse homicídio covarde em Dresden.
Por isso, a Alemanha precisa, o mais tardar agora, levar a si mesma a julgamento. Não se trata apenas de isolar e punir os agressores, mas também de fazer um trabalho sustentável de esclarecimento, bem como disseminar o saber sobre a população muçulmana, sua cultura, sua religião e seus costumes.
Nossa meta não é a tolerância, mas sim o respeito no convívio mútuo. Não há nada que substitua um diálogo amplo, do qual participem não somente teólogos e autoridades, mas sim o maior número possível de cidadãos – um trabalho de base, no melhor sentido do termo.
Sei que a indignação e a insegurança entre os muçulmanos são grandes no momento, o que é compreensível. Mesmo assim, eles não deveriam esmorecer em seus esforços pelo lugar legítimo que lhes cabe na sociedade alemã. Para muitos – e isto ensina a experiência de outras minorias, inclusive dos judeus – tal significa um exercício de equilíbrio entre manter a própria identidade e se abrir para o ambiente social. Para solucionar esse dilema, é também imprescindível um diálogo aberto entre a minoria e a maioria. Integração não significa assimilação. Em caso de respeito mútuo, a diferença não é uma pedra no sapato da convivência.
Stephan Joachim Kramer é secretário-geral do Conselho Central dos Judeus na Alemanha. Este comentário foi escrito originalmente para o portal www.qantara.de, que conta, entre outros, com a participação da Deutsche Welle.
Autor: Stephan Joachim Kramer
Revisão: Augusto Valente
Fonte: Deutsche Welle(12.07.2009, Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4474247,00.html
Milhares de alemães se manifestam contra o racismo em Dresden
Racismo
Milhares de alemães se manifestam contra o racismo em Dresden
A população da cidade alemã de Dresden homenageou, este sábado, a cidadão egípcia, Marwa El-Sherbini, assassinada em pleno tribunal, por um alemão.
A vítima contava 31 anos, era farmacêutica, tinha um filho e estava grávida.
Hoje, a sua memória foi recordada por cerca de 800 pessoas, que se juntaram em frente da sede do município da cidade.
O assassino tinha sido acusado de crime xenófobo contra a vítima. Quando se encontraram no Tribunal a 1 de Julho, o réu desferiu-lhe várias facadas.
“Eu penso que é importante estar aqui e dizer que é totalmente inaceitável que um ser humano faça qualquer outra coisa de semelhante, somente porque alguém é diferente, ou estrangeiro ou de outra religião”.
“Estamos aqui a expressar a nossa solidariedade e condenar o que aconteceu à mártir Marwa EL-Sherbiny, puro terrorismo”.
Em Teerão, também se recordou Marwa El-Sherbini. 150 pessoas concentraram-se, em frente da Embaixada Alemã e acusaram o governo de Angela Merkel de indiferença, perante um crime xenófobo.
Uma manifestação que condenou igualmente a discrição com que os media ocidentais trataram o assunto.
Fonte: Euronews
http://pt.euronews.net/2009/07/11/milhares-de-alemaes-se-manifestam-contra-o-racismo-em-dresden/
Milhares de alemães se manifestam contra o racismo em Dresden
A população da cidade alemã de Dresden homenageou, este sábado, a cidadão egípcia, Marwa El-Sherbini, assassinada em pleno tribunal, por um alemão.
A vítima contava 31 anos, era farmacêutica, tinha um filho e estava grávida.
Hoje, a sua memória foi recordada por cerca de 800 pessoas, que se juntaram em frente da sede do município da cidade.
O assassino tinha sido acusado de crime xenófobo contra a vítima. Quando se encontraram no Tribunal a 1 de Julho, o réu desferiu-lhe várias facadas.
“Eu penso que é importante estar aqui e dizer que é totalmente inaceitável que um ser humano faça qualquer outra coisa de semelhante, somente porque alguém é diferente, ou estrangeiro ou de outra religião”.
“Estamos aqui a expressar a nossa solidariedade e condenar o que aconteceu à mártir Marwa EL-Sherbiny, puro terrorismo”.
Em Teerão, também se recordou Marwa El-Sherbini. 150 pessoas concentraram-se, em frente da Embaixada Alemã e acusaram o governo de Angela Merkel de indiferença, perante um crime xenófobo.
Uma manifestação que condenou igualmente a discrição com que os media ocidentais trataram o assunto.
Fonte: Euronews
http://pt.euronews.net/2009/07/11/milhares-de-alemaes-se-manifestam-contra-o-racismo-em-dresden/
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