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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Poloneses e alemães constroem museu judaico no antigo Gueto de Varsóvia

Há exatos 40 anos, o então chanceler alemão Willy Brandt se pôs de joelhos diante do Memorial aos Heróis do Gueto de Varsóvia, em um gesto histórico. Hoje, um museu sobre história judaica é construído no mesmo lugar.

Projeto do novo museu,
na capital polonesa
A construção do Museu da História Judaica de Varsóvia é atualmente o projeto cultural mais caro em curso na Polônia, embora poucos saibam dele na vizinha Alemanha.

O museu está sendo construído no local onde ficava o Gueto de Varsóvia durante o período da ocupação nazista, bem perto do memorial para as vítimas do levante do Gueto de Varsóvia, em frente ao qual o então chanceler alemão Willy Brandt se colocou de joelhos 40 anos atrás, em 7 de dezembro de 1970. Foi um gesto inédito de humildade que se tornaria um marco nas relações entre alemães e poloneses.

Obrigação moral

Os primeiros planos para o museu começaram em 1994, quando o então presidente alemão Roman Herzog decidiu apoiar o projeto e supervisionou a criação de uma fundação para ajudar a financiar a instituição. Embora a ideia inicial tenha vindo da Polônia, o país não tinha na época os fundos necessários para o empreendimento.

"De repente, Roman Herzog deu apoio à ideia", lembra Josef Thesing, presidente da fundação. "Nossa instituição foi criada para tornar essa ideia realidade. Se não tivéssemos conseguido assegurar fundos desde o início, jamais a coisa teria acontecido."

Até agora, a fundação conseguiu captar cerca de 6 milhões de euros para o projeto cujos custos totais foram calculados em 90 milhões de euros e deverá ser inaugurado em 2013.

Gesto histórico de Willy Brandt
em Varsóvia
Thesing acha que a Alemanha tem responsabilidade moral de investir no museu. "Acho que podemos mostrar que existe uma Alemanha diferente agora", diz. "E, junto com os poloneses, hoje também nossos amigos na Comunidade Europeia, podemos trabalhar através do nosso passado em vez de renegar esse passado e olhar para um futuro comum de uma perspectiva única."

História judaico-polonesa começou no século 10

O caminho para o futuro nos conduz primeiro pelo passado. Apenas poucos poloneses sabem que a primeira menção conhecida ao seu país foi escrita em hebraico. As raízes da vida judaica na Polônia remontam ao século 10º, diz o sobrevivente de Auschwitz Marian Turski.

"Hoje há apenas uns poucos judeus na Polônia. Mas o judaísmo é parte da nossa história, da literatura. Hoje se nota um vácuo social, mas – aos poucos – o interesse por essas questões vem aumentando. Por isso, acreditamos que este será um dos museus mais visitados na Polônia", avalia Turski.

Foi Marian Turski que teve a ideia do museu no início dos anos 90. Hoje ele não apenas é presidente do Conselho de Museus, mas também preside o Instituto Histórico Judaico da Polônia.

Na visão de Turski, o museu tinha que ser edificado necessariamente diante do Memorial aos Heróis do Gueto de Varsóvia. "Como presidente do Instituto Histórico Judaico, por um longo período fui praticamente dono desse terreno. Estava claro para todos que não havia lugar melhor para se construir o museu", lembra.

Museu será marco de uma história difícil

"Com o início da construção, há pouco menos de um ano e meio, a história retornou àquele lugar", afirma Turski. Jerzy Halbersztadt, diretor fundador do museu, concorda com essa opinião e acredita que a instituição a ser inaugurada em 2013 será um marco para a difícil história da relação entre poloneses e judeus.

"Na verdade, tudo isso levou bastante tempo. Este museu é especialmente importante para a educação da população, porque o nacionalismo e a xenofobia tendem a retornar. A inauguração deverá servir como marco de uma mudança. Não mudará todo o país, mas poderá assinalar o desenvolvimento democrático nos últimos 20 anos", explica Halbersztadt.

A coleção do museu não vai abranger somente o período do Holocausto, mas deverá compreender os primórdios da história judaica na Polônia até os dias de hoje. Entre os capítulos mais dolorosos estão também o pogrom de Kielce, em 1946, o extremo antissemitismo no final dos anos 60 e o retorno gradual do judaísmo na Polônia pós-comunista.

"Nossa missão é alcançar aqueles que não entendem o que significa no mundo contemporâneo manter um diálogo aberto, revisitar a história, dizer a verdade sobre o passado, sendo ele bom ou não", afirma Halbersztadt. "Aqueles que ainda não estão convencidos disso hoje serão convencidos amanhã, tenho certeza."

Como diretor do museu, Halbersztadt espera que a instituição venha a atrair meio milhão de visitantes por ano. E cada um deles poderá contribuir para a formação de uma nova consciência histórica na Polônia.

Autor: Wolfram Stahl (md)
Revisão: Simone Lopes

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6302898,00.html

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Brandt de joelhos em Varsóvia

1970: Brandt de joelhos em Varsóvia

No dia 7 de dezembro de 1970, o chanceler federal Willy Brandt e seu ministro do Exterior, Walter Scheel, assinaram na capital da Polônia o acordo de normalização das relações teuto-polonesas, o Acordo de Varsóvia.

(Foto)Gesto do chanceler alemão na Polônia entrou para a história


Ao se ajoelhar diante do memorial às vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia, o gesto de Willy Brandt entrou para a história como símbolo da busca alemã pela reconciliação.

Os nazistas haviam encurralado meio milhão de judeus no Gueto de Varsóvia. Até que em abril de 1943 aconteceu o levante, reprimido violentamente pelas tropas de Hitler. Poucos sobreviventes restaram para contar a história. A queda de joelhos do chefe de governo Willy Brandt (o primeiro chanceler social-democrata do pós-guerra) e o silêncio que se seguiu – interrompido apenas pela chuva de flashs fotográficos – repercutiram no mundo como um símbolo de arrependimento, pedido de perdão e tentativa de reconciliação da Alemanha.

Dentro do país, entretanto, Brandt foi até xingado. Grande parte da população considerou a atitude exagerada. Os conservadores chegaram a xingá-lo de traidor e entreguista, de estar entrando no jogo dos soviéticos, que pretendiam açambarcar também o lado ocidental da Alemanha. Brandt, por seu lado, justificou que seu gesto foi completamente espontâneo, levado pela consternação de não poder expressar em palavras o que sentia no momento.

Para muitos, a derrocada da Cortina de Ferro começou com o sindicato Solidariedade na Polônia e a queda do Muro de Berlim, em 1989. O primeiro embaixador polonês na Alemanha reunificada, Janusz Reiter, por seu lado, considera que a partir de 1989 começou uma nova era política, semeada em 1970 com a reconciliação teuto-polonesa.

Acordo de normalização de relações

Vinte e cinco anos depois do final da 2ª Guerra, a viagem de Brandt à Polônia de regime comunista foi um tema extremamente controvertido na Alemanha. O objetivo era a assinatura do tratado de normalização das relações entre os dois países, que seria seguido de um acordo no mesmo sentido entre a Alemanha e a União Soviética.

Um dos aspectos importantes do Acordo de Varsóvia consistia no reconhecimento pelo governo de Bonn da fronteira ao longo da linha formada pelos rios Oder e Neisse. Um duro golpe para milhões de alemães desterrados que moravam ali antes da guerra.

A coragem e espontaneidade de Willy Brandt naquele 7 de dezembro de 1970 foram apenas um dos motivos que lhe valeram o Prêmio Nobel da Paz do ano seguinte. Um caso de espionagem em seu gabinete causou sua renúncia, em 1974. Na opinião de John Dew, autor de um projeto da peça A Queda de Joelhos em Varsóvia, Brandt tornou-se figura-guia na história do pós-guerra, por ter expressado o desespero, a tristeza e a sensação de impotência das pessoas naquela época. Brandt teve visão e esta visão ajudou a superar a Guerra Fria", conclui Dew.

Volker Wagener(rw)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,1564,704988,00.html
Revisitar o Holocausto(coleta de textos jornalísticos publicados sobre o Holocausto)

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