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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Svenja Leiber: “Culturalmente, a Alemanha ainda não se recuperou do Holocausto”

A escritora alemã publica 'Los tres violines de Ruven Preuk' (Malpaso) (Os três violinos de Ruven Preuk, tradução livre).

Svenja Leiber
Literatura como seguimento, literatura que se toma o garoto e deixa o homem, e levanta ata de sua formação: é assim que funciona 'Los tres violines de Ruven Preuk' (Malpaso) [Os três violinos de Ruven Preuk, tradução livre], a segunda novela da escritora alemã Svenja Leiber (Hamburgo, 1975), que conta a peripécia de um músico alemão através do campo minado do século vinte. O jovem Preuk, um superdotado do violino, não só assiste - primeiro como espectador, e como soldado depois - a duas guerras mundiais e seus seguintes pós-guerras, como emigra do campo para a cidade, converte-se em músico, namora e se casa, triunfa e fracassa, e presencia, por fim, o vago despertar do fim do século.

O estilo de Leiber, um presente deliberadamente frio, elíptico nas zonas de sombra, se abraça ao fato visto por uma lupa. Com detalhe. Sua intenção é contar a outra guerra: o pós-guerra, o grande através do pequeno, o que ocorreu não só na retaguarda, senão no lar, ainda mais ao fundo de quem se livrou do front, mas que ao invés teve que esperar, entre ruínas e entulhos, a vitória ou a devastação. Por isso Hitler não é citado nominalmente - se faz referência ao Führer só uma vez - e não se mencionam fatos, nem batalhas, nem campos de concentração. "A política não se pode ficcionar - disse Leiber, uma alemã considerável, alta e elegante -, mas ao mesmo tempo toda novela é política, pois a política começa na vida dos homens e disso se ocupa a literatura. Eludir a cita direta não é difícil: cada coisa que ocorreu teve sua consequência direta na gente".

-De onde vem a história de Ruven e seus três violinos?

-Eu cresci em um povoado próximo de Hamburgo, e ali um dos granjeiros tinha três violinos, um dos quais, tinha um valor incalculável. O problema é que nunca soube qual de todos eles era o violino valioso. Partindo daí quis fazer uma analogia com a história de Orfeu a partir da relação do mito com a morte. Era essa, em resumo, a história que eu queria contar, uma história que, devido às andanças dos violinos, tinha que estar atravessada pelo século XX alemão. Alegro-me de ter escrito um livro que fala da história de meu país justo num momento em que percebo certa saturação dos alemães com respeito a isso.

-A que se credita este cansaço?

-É como se muitos alemãs tivessem chegado a uma espécie de limite. Não desejam seguir escutando o que ocorreu. Por outro lado, hoje há certa tendência a dizer: "Bem, fizemos o que fizemos, nosso país fez o que fez, mas eu estou orgulhoso de ser alemão. Já sei: nós alemães somos os melhores". Mas, no meu modo de ver, isso é incompatível com uma visão crítica da história. Continuamente, os meios nos dizem que somos melhores jogando o futebol, que a nível político lideramos a Europa e que somos uma potência econômica. Muito bem, mas vamos aonde nos levou a retórica dos vencedores? A vitória gera derrotados e Alemanha, tendo em conta seu passado, não se pode permitir essa mentalidade.

-Disse que os alemães estão cansados de sua história, mas no ano assado uma série de televisão, Filhos do Terceiro Reich (Unsere Mütter, unsere Väter), foi o maior sucesso de audiência na Alemanha nos últimos anos.

-É interessante que menciones essa série, porque para muitos foi a última gota que encheu o vaso. Minha opinião é que ela é horrível. É uma série cheia de clichês, tópica, sentimental no pior sentido, com essa música que que te falam quando tens que rir, quando tens que se emocionar etc. É uma visão romântica, e portanto, adulterada, do período mais duro do século XX. Por aí não pode ir nossa forma de afrontar o passado.

-Você também se refere, ao final do livro, ao chamado milagre alemão depois da devastação da Segunda Guerra Mundial. Ao lê-lo dá a sensação de que se fez de algum modo a luz.

-A verdade é que não estou muito convencida de que se fez a luz. Na realidade, o milagre alemão não foi tal. É certo que em pouco tempo se levantou um país novo, e no plano econômico pode parecer que as coisas vão bem, mas isso não quer dizer que se levantara um país melhor.

-Por onde há margem de melhorar a Alemanha? A que se refere quando diz que não é um país melhor?

-Refiro-me ao que ficou da guerra. Desde então, há um vazio gigantesco na Alemanha que no dia de hoje se chegou: não nos recuperamos em absoluto a nível cultural. O extermínio de toda a elite judaica foi trágico para a história cultural da Alemanha. é certo que se melhorou, mas ainda se te muito caminho. É curioso, porque hoje são precisamente emigrantes do leste, de procedência em sua maioria judaica, quem está fazendo a Alemanha se recuperar, pouco a pouco, parte do brilho do passado.

Fonte: El Cultural (Espanha)
http://www.elcultural.es/noticias/letras/Svenja-Leiber-Culturalmente-Alemania-aun-no-se-ha-recuperado-del-holocausto/6868
Título original: Svenja Leiber: “Culturalmente, Alemania aún no se ha recuperado del holocausto”
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Criminosos nazistas receberam pensão do governo dos EUA

Martin Hartmann é um dos que deixaram os EUA
e podem ainda estar recebendo pensão
O governo dos Estados Unidos pagou milhões de dólares em pensões a dezenas de suspeitos de serem criminosos de guerra nazistas, após forçá-los a deixar o país, segundo investigação da agência Associated Press.

Os pagamentos foram realizados graças a uma brecha legal. Alguns dos suspeitos recebem pensão até hoje.

Entre eles estão pessoas suspeitas de terem atuado como guardas em campos de concentração nazistas.

O Departamento de Justiça dos EUA afirma que os benefícios são pagos a indivíduos que renunciam à cidadania americana e deixam o país voluntariamente. Mas o fato de dinheiro público ter sido usado para isso tem causado protestos.

A congressista democrata Carolyn Maloney, que integra um comitê de reforma governamental, pediu que o caso seja investigado, por se tratar de um "mau uso grosseiro de dinheiro dos contribuintes", e que essa brecha legal seja corrigida por novas leis.

Suspeitos

Departamento de Justiça diz que benefício é pago a
indivíduos que renunciam à cidadania americana;
acima, Jakob Denzinger
Acredita-se que quatro suspeitos de crimes durante a 2ª Guerra Mundial ainda estejam recebendo o benefício previdenciário. Um deles é um ex-guarda da SS (organização nazista que atuava como serviço de inteligência e protegia os campos de concentração) Martin Hartmann, que já admitiu seu passado nazista; o outro é Jakob Denzinger, ex-segurança do campo de Auschwitz.

Há relatos de que Hartmann tenha se mudado para Berlim em 2007, depois de ter morado no Estado americano do Arizona, e de que Denzinger tenha trocado Ohio pela Alemanha em 1989. Hoje ele vive na Croácia.

O pagamento de pensões supostamente permite que o Escritório de Investigações Especiais do Departamento de Justiça evite longos processos de deportação e expulse mais suspeitos nazistas dos EUA.

Segundo a investigação da AP, ao menos 38 de 66 suspeitos nazistas que deixaram os EUA continuaram recebendo o pagamento de pensões.

Em comunicado, o porta-voz do Departamento de Justiça, Peter Carr, disse que em 1979 o Congresso dos EUA ordenou a expulsão de criminosos nazistas "o mais rápido possível" para países onde eles pudessem ser processados criminalmente.

"Sob as leis existentes nos EUA, todos os benefícios de aposentadoria são extintos se alguém é expulso do país por ordem judicial", declarou. "No entanto, se um indivíduo renuncia à cidadania americana e deixa o país voluntariamente, eles podem continuar a receber os benefícios de seguridade social."

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/10/141020_nazistas_eua_pensao_pai.shtml

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Conversas com o carrasco: Franz Stangl, comandante de Treblinka (livro de Gitta Sereny)

Franz Stangl
Poucos foram os responsáveis dos campos de extermínio e concentração alemães que tiveram que responder por seus atos ante tribunais posteriormente com o fim da Segunda Guerra Mundial. A maioria deles havia morrido ou havia se suicidado para evitar a responsabilidade judicial e moral pelo ocorrido. Foi o caso do primeiro escalão de figuras do regime nazi (Hitler, Himmler, Göring...). Foi no segundo escalão de autoridades alemãs onde a justiça dos aliados pode se exercer durante os chamados Julgamentos de Nuremberg. O caso mais destacado, que já tratamos, foi o de Rudolf Höss, comandante de Auschwitz, executado em 1947. Nos anos 60 dois casos de responsáveis foragidos, e refugiados na América do Sul, voltou a atrair a atenção da opinião pública perante o tema das responsabilidades graças a sua prisão e julgamento.

O primeiro foi o de Adolf Eichmann, sequestrado na Argentina por um comando dos serviços de inteligência israelense e condenado a morte em Israel em 1962. O caso atraiu a maioria dos jornalistas, entre eles Hannah Arendt a quem escreveria um memorável livro convertido em "guia" para tratar de compreender a natureza do mal que se aloja nos responsáveis do extermínio de milhões de pessoas nos campos de concentração. O segundo caso, o que nos ocupa aqui, foi o de de Franz Stangl, comandante de Treblinka, cuja detenção no Brasil, depois de ter residido um tempo em Damasco, ocorreu em 1967, sendo extraditado para Alemanha. O caso de Stangl se converteu na Alemanha no equivalente midiático do caso Eichmann em Israel.

Durante o período de detenção de Stangl, uma jornalista, Gitta Sereny, teve acesso ao prisioneiro, realizando uma série de entrevistas que serviram de base para a elaboração deste livro. Sereny, nascida na Europa central em 1929 havia colaborado com a resistência francesa, trabalhado em campos de refugiados e colaborado com a ONU na ajuda a crianças refugiadas. Sua vinculação com Stangl - a própria autora explica no prefácio -, surgiu como consequência do fato do interesse pelo qual o tema despertou nos anos 60 entre a população na Alemanha e no resto do mundo, (e sobretudo nas novas gerações que não haviam vivido a guerra diretamente), plantava problemas de difícil resolução: "O que em certo modo segue sendo incompreensível para eles é, como isto pode ocorrer? Como homens podem cometer os atos que cometeram? Como puderam as vítimas "se deixar" maltratar? E como pode o resto do mundo deixar conscientemente que aquilo ocorresse?" (Gitta Sereny, "Desde aquella oscuridad", "Into That Darkness: An Examination of Conscience" pag. 18).

Essas eram as mesmas perguntas que ela carregava desde a guerra: como eram realmente os criminosos responsáveis pelo genocídio e extermínio de milhões de pessoas? Sob essa necessidade de conhecer a natureza do mal existiam já poucas possibilidades de encontrar a um responsável de mais alta patente que Stangl: "Antes que fosse tarde demais, eu pensava, era essencial penetrar na personalidade de ao menos uma das pessoas vinculadas intimamente neste Mal absoluto." (pág. 12). Tinha que conhecer sua vida cotidiana, sua infância, sua família, tudo o que servisse para discernir "até que ponto o mal nos seres humanos é fruto de seus genes e até que ponto é fruto de sua sociedade e seu entorno" (pág. 12). Era evidente para a autora o perigo da justificação que poderia surgir de uma tarefa assim: haver do carrasco uma vítima do sistema, da sociedade.

Stangl havia tentado a princípio aproveitar sua entrevista inicial para dar corda para as típicas justificativas que tantas vezes havia se utilizado: de que as ordens vinham de cima, que ele só obedecia, que eram situações lamentáveis e produto da guerra... Sereny incutiu em Stangl a necessidade de ir mais além dessas palavras vazias ("Eu não desejava discutir a bondade ou maldade de tudo isso", pág. 30), o que se propôs é se aprofundar em sua realidade, em sua psicologia e em sua vida para "encontrar uma certa verdade entre ambos, uma nova verdade que contribuísse para a compreensão de coisas que até então não havia se compreendido" (pág. 31). Sob essa perspectiva, o livro de Sereny se inicia com o relato da infância de Stangl sob a férrea disciplina de um pai oficial do exército austro-húngaro, seus hobbies - tocar cítara - ou seu início na polícia austríaca - incluindo o episódio no qual ele mereceu uma condecoração por acabar com um grupelho nazi no período anterior ao Anschluss, o que também lhe criou mais de uma preocupação posterior -. Seu casamento é um ponto-chave em sua biografia, pois Sereny nos mostra um homem que "mais além daquilo que havia se convertido, era capaz de amar" (pág. 55). Junto aos conflitos morais que padeceu Stangl devido à moral católica inculcada por sua mãe, seus principais problemas surgiram sempre ao tratar de distanciar sua esposa, fervorosa católica, do que era a realidade de ser comandante de um campo de extermínio. Precisamente Sereny segue sua investigação depois da morte de Franz Stangl, com entrevistas com sua viúva no Brasil e a outras testemunhas sobreviventes dos campos. O resultado é o retrato de um homem devorado pela ambição, superado por suas obrigações, mas em todo momento consciente da realidade criminosa na qual estava implicado: o programa de eutanásia e os campos de extermínio de Sobibor e Treblinka. Não há dúvida de que sua experiência na polícia austríaca lhe foi útil para seu trabalho de extermínio, mas também para ser consciente da diferença entre o bem e o mal, o que lhe leva a um certo reconhecimento de sua culpa: "Deveria ter morrido. Essa foi minha culpa". (pag. 548).

O livro, em definitivo, trata de mostrar a verdadeira natureza daqueles criminosos do Estado nacional-socialista, que longe de serem "monstros", podiam passar por pessoas normais, pais de família, profissionais competentes, cujo aspecto mais obscuro só era possível tornar evidente ao concluir o conflito bélico e serem julgados. Sereny conclui que "um monstro moral não nasce" (pág. 551) senão que a essência da pessoa se constrói a partir de um núcleo que "é profundamente vulnerável e dependente de certo clima de vida" (pág. 552). Mas além da natureza do mal, a autora aprofunda outros temas também destacados na introdução: como pode ser que o resto do mundo não reagisse? Neste sentido Sereny indaga na implicação da Igreja Católica na ocultação de criminosos nazistas durante os primeiros meses do pós-guerra, assim como no silêncio durante a guerra.

Definitivamente, "Desde aquella oscuridad", é uma obra imprescindível para se aproximar da responsabilidade moral do indivíduo e da coletividade, nos processos de crimes em massa, conhecer até que ponto o indivíduo atua de acordo com sua liberdade de decisão, ou é prisioneiro de um compromisso, ainda que seja criminoso, com a sociedade que o rodeia e o influencia.

PARA CONSULTAR AS TAGS DESTA OBRA: DESDE AQUELLA OSCURIDAD

Título do livro em espanhol: Gitta Sereny, Desde aquella oscuridad. Conversaciones con el verdugo: Franz Stangl, comandante de Treblinka, Edhasa, 2009.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/libro-del-mes-recensiones/gitta-sereny-desde-aquella-oscuridad/
Título original: Gitta Sereny: Desde aquella oscuridad (título em inglês: Into That Darkness: An Examination of Conscience)
Tradução: Roberto Lucena

Observação: ler no final deste post uma opinião sobre Hannah Arendt e essa ideia de "banalidade do mal". Há quem concorde com a ideia, tanto que é repetida ou citada por muita gente, mas em geral (pelo que já vi), repetem a coisa sem refletir o significado da ideia, que acho meio torta (opinião pessoal).

Não sou muito simpático a "ideia" que a Hannad Arendt elaborou sobre a ação desses nazistas, há uma ação consciente, lógica, fria, mecânica (é isso que pode assustar muita gente) de como operam o extermínio conduzidos por crenças racistas profundas ais quais se guiam e/ou absorvem. Também não gosto desses "psicologismos" para entender que alguém que quer matar, mata, sem precisar "fazer" essas reflexões "profundas" sobre moral ou conduta. Acho até tolice esse tipo de indagação, por isso que estou fazendo esse comentário à parte do texto acima.

Alguém com uma moral não muito sólida (torta), se encontrar facilidades (ou um meio que propicie isso e que não ache "nada demais" certos atos criminosos extremos como: matar) para praticar atos que sejam moralmente condenáveis, cometerá. Na verdade esses "psicologismos" mais ajudam a criar 'nuvens' moralistas sobre a questão do genocídio do que ajudam a explicar e entender o problema.

Prum nazista que achava que judeus não eram gente ou não tinham importância alguma, não seria um problema de consciência, ou moral, matar judeus (ou no caso: "se livrar" deles), mesmo que pudessem depois refletir sobre os atos que cometeram e "cair em si" (ou não). Se eles continuaram a crer que judeus não valiam nada e que fizeram o que achavam que era pra ser feito, então não se arrependeram de coisa alguma.

Também não me convence o que ela descreve como 'consciência de culpa' dele sobre os atos que cometera, se ele tivesse isso não haveria fugido pra ficar impune, é incoerente o que ele afirma com sua própria conduta no pós-guerra. Por isso que, como disse acima, odeio esses "psicologismos".

E uma observação dentro da observação, em virtude de aparecer muita gente religiosa "entusiasmada" com esses assuntos só por conta de "crença religiosa", só que não compartilho dessa visão de mundo deles ou de como eles interpretam essas questões. Há um problema nisso: essas pessoas em geral tentam impôr a forma de "pensar" não respeitando que outras pessoas não concordem com essa visão religiosa, e isso gera conflitos e atritos. Curiosamente os "revis" fazem esse tipo de "acusação" quando no fundo os religiosos são eles. Não a toa que tem aparecido sistematicamente matérias sobre intolerância religiosa no país que podem descambar, invariavelmente, prum conflito maior. Não estou nem um pouco propenso a ser tolerante com esse tipo de postura de fanatismo religioso, pois há uma certa tendência de grupos religiosos circularem em torno de assuntos relacionados a judeus e Israel, a meu ver de forma equivocada, só que o assunto nazismo e segunda guerra não se restringe à questão judaica, apesar da relevância do antissemitismo no racismo nazista e das chacinas citadas. Nazismo é um tipo de fascismo ou de extremismo de direita, essas pessoas tratam o nazismo achando que os outros fascismos e regimes de exceção de direita (o Brasil teve dois) são coisas "toleráveis" ou aceitáveis, algo que além de ser equivocado, é uma forma distorcida de entender esses assuntos.

Mas voltando ao assunto anterior, não sei se é porque a gente acaba de certa forma não se 'assustando' mais com a monstruosidade dos nazistas (não se assustar é diferente de concordar, mesmo não se assustando o tamanho da barbárie nazi continua monstruosa) que acaba se aborrecendo fácil com as famosas indagações de "como isso foi possível", e ficando um pouco intolerante com esse tipo de "pergunta".

Mas há também um problema de como esse assunto continua sendo abordado por alguns seguimentos como se o mundo atual fosse o mesmo de 50 anos atrás, e isso provoca inevitavelmente problemas pois coloca o evento da segunda guerra como algo à parte do que se passa no mundo atualmente ou desconectado de outras questões.

Como isso foi possível? É só ver os neonazis chegando ao poder na Ucrânia atualmente, ou os fascistas sendo os mais votados na França pro parlamento europeu, ou os massacres no Iraque, a invasão do Iraque etc. Como é constatável, um monte de coisas têm sido possíveis contra a vontade de A, B ou C, então é algo meio banal a tal pergunta "como foi possível".

De qualquer forma, esse registro é um documento importante dos relatos do carrasco de Treblinka.

segunda-feira, 31 de março de 2014

A aventura de Josef Mengele na América do Sul (filme)

No terceiro e penúltimo dia da Mostra de Cinema Judaico (29/03), o argentino Wakolda ("O Médico Alemão"), de Lucia Puenzo, é um dos pontos altos. O filme, que passou pela A Certain Regard do Festival de Cannes em 2012, mostra as experiências desenvolvidas por um estranho médico na Patagônia nos anos 60.

O filme remete a um contexto histórico muito familiar aos sul-americanos: o refúgio de nazis foragidos dos aliados após o fim da 2ª Guerra Mundial. Alguns, como Adolf Eichmann, não tiveram sorte e, no caso deste ex-administrador de Auschwitz, foi sequestrado em plena Buenos Aires pela Mossad e executado em Israel. Já o sinistro Mengele deu-se melhor: acusado de experiências abomináveis com seres humanos durante a guerra, acabou por conseguir fugir sempre e terminou seus dias a viver pacificamente no litoral do Brasil, onde viria a morrer afogado em 1979.

A Wakolda do título original é uma menina que tem um problema: é muito mais pequena do que todas as outras pré-adolescentes da sua idade. Após infiltrar-se no seio da família dela, um misterioso médico vai tentando convencê-los a deixar submete-la a um método supostamente científico para ajudá-la a crescer.

A exibição do filme é precedida pela singular curta-metragem da Bielorrússia Shoes, que em poucos minutos, sem diálogos e sem mostrar rostos, filmando apenas os pés e as pernas dos "personagens", recria uma tragédia da 2ª Guerra.

Outro destaque na programação deste sábado é o documentário Os Judeus e o Dinheiro – Investigação de um Mito, que será seguido de um debate. Partindo de um homicídio que chocou a França em 2006, quando foi encontrado o cadáver de um jovem que havia sido sequestrado e torturado brutalmente durante vários dias, o realizador Lewis Cohen vai investigar um dos mais duradouros mitos relacionados com os judeus – a sua riqueza.


Ligando presente e passado, Cohen evita a superficialidade dos telejornais e dá ao crime, aparentemente cometido contra aquele jovem porque pensavam que ele, por ser judeu, "tinha dinheiro" (na verdade era o proprietário de uma pequena loja de telemóveis*), uma dimensão diferente. Para isso mergulha no passado para encontrar a origem deste mito – contando para isso com comentários de Jacques Le Goff, um dos maiores medievalistas de sempre, além de outros historiadores.

Já O Casamenteiro, de Avi Nesher, que teve no ano passado o seu trabalho mais recente exibido em Portugal, The Wonders, foi um grande sucesso em Israel, enquanto o alemão Os Vivos e os Mortos traz uma jovem em peregrinação por vários países em busca da sua identidade – o que a vai levar até a 2ª Guerra Mundial e o holocausto.

Fora do âmbito do cinema, a Judaica terá uma homenagem a Jan Karski, que contará com a presença do embaixador da Polônia. Karski foi um judeu polaco que durante a 2ª Guerra teve como missão de um grupo de resistência aos nazis um périplo por diversos países para alertar seus governos de que o holocausto estava a acontecer na Alemanha.

Fonte: c7nema.net (site)
http://www.c7nema.net/artigos/item/41263-judaica-a-aventura-de-josef-mengele-na-america-do-sul.html

*telemóvel: é como chamam telefone celular em Portugal

Observação: coloquei mais este texto por conta da citação do documentário do Lewis Cohen "Os judeus e o dinheiro" que desconhecia até ler o texto acima. Gosto de documentários que abordam a origem dos preconceitos mostrando como se formam os estereótipos e o que há de "verdades" nos mesmos, o rapaz morto era um vendedor de celular na França e foi sequestrado e morto porque a gangue que o fez achava que ele seria rico por ser judeu, seguindo à risca um estereótipo sem nem se questionarem que o mesmo poderia ser falso.

Esse tipo de documentário também geraria uma discussão de como combater o preconceito, via repressão simplesmente, como muitos defendem ignorando que não se desacredita uma ideia errada simplesmente por caneta, ou se desconstruindo o preconceito mostrando as falácias e erros neste tipo de discurso, que é o que eu acho que funciona de fato embora no país o combate a preconceitos praticamente inexiste como prática do Estado brasileiro, unidades da federação e instituições, principalmente Universidades.

Ver mais:
Resenha Crítica: "Os Judeus e o Dinheiro" (Jews & Money)
Os Judeus e o Dinheiro: Investigação de um Mito

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Arquivos do julgamento de Eichmann

Pra quem quiser consultar e/ou vasculhar documentos, no site Nizkor, seguem os links da transcrição (em inglês) dos páginas do julgamento de Adolf Eichmann, realizado na primeira metade dos anos sessenta. Registro dos processos no Tribunal Distrital de Jerusalém.

Página inicial: O Julgamento de Adolf Eichmann
http://www.nizkor.org/hweb/people/e/eichmann-adolf/transcripts/

Indo direto aos volumes:
http://www.nizkor.org/hweb/people/e/eichmann-adolf/transcripts/Sessions/

"Bem, então, tendo sido solicitado por Sr., Meritíssimo, para dar uma resposta bem clara aqui, devo dizer que considero este assassinato, este extermínio dos judeus, como sendo um dos crimes mais hediondos da história da humanidade."
(Adolf Eichmann, 13 de julho de 1961)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Rudy de Mérode, um colaboracionista fascista francês

Rudy de Mérode, nome real Frédéric Martin (1905, Silly-sur-Nied, Moselle - ?, provavelmente na Espanha) foi um colaboracionista francês durante a ocupação alemã da França na Segunda Guerra Mundial.

Vida

Originário de Luxemburgo, sua família emigrou para França e foram naturalizados como cidadãos franceses nos anos de 1920. Estudou engenharia em Estrasburgo e então na Alemanha, onde ele foi recrutado pela Abwehr em 1928. Em 1934 participou dos trabalhos de construção da Linha Maginot e repassou os planos (aos quais teve acesso) para os serviços da Inteligência alemã. Desmascarado como um espião em 1935, foi condenado em 1936 a 10 anos de cadeia (os quais serviu numa prisão de Clairvaux) e 20 anos de exílio da França.

Durante a queda da Batalha da França, centenas de milhares de prisioneiros fugiram pelas estradas da França. em 14 de junho, em Bar-sur-Aube, um grupo de prisioneiros foi evacuado da prisão central em Claivaux, incluindo Rudy de Mérode e outros espiões, que se aproveitaram da anarquia instalada para escapar e pedir ajuda aos alemães.

Em julho de 1940, ele retornou para Paris e organizou sozinho um centro de Inteligência militar alemão no Hotel Lutetia. Anexo a uma fonte do escritório no número 18 da rua Pétrarque em Paris como um disfarce, ele espionou para Abwehr ao lado de outro agente da SD, o holandês Gédéon van Houten (chamado de barão d'Humières).

Primeiramente ele reuniu a inteligência através de uma equipe de trinta pessoas sob suas ordens, que ele treinou por conta própria. A maioria deles eram foragidos da Justiça e ele os usou para conseguir equipamentos e para construções. Sua equipe requisitou varios apartamentos e hoteis particulares sob o pretexto de serem franceses ou (mais frequentemente) policiais alemães.

Sua especialidade era comboios bancários, de dinheiro vindo de diversas fontes ou na forma de objetos de ouro, jóias, arte ou lingotes. Em 1941, estabeleceu-se no boulevard 70 Maurice Barrès em Neuilly-sur-Seine, mas van Houten e de Mérode separaram-se após um desentendimento em 1942.

Com a ajuda do DSK (Devisenschutzkommando) abriu cofres de bancos, comprando objetos de ouro e prata de seus proprietários a um preço subvalorizado ou, no caso deles se recusassem a cooperar, ele os deportaria. Se a propriedade pertencesse a judeus, era totalmente confiscada e da Gestapo levava o proprietário preso e, muitas vezes deportava. A equipe da "gestapo de Neuilly" confiscou mais de 4 toneladas de ouro, e a rede de 'de Mérode' acumulou enormes somas de prata e prendeu e deporou mais de 500 pessoas.

Fuga pra Espanha

No início de 1944, a Abwehr o acusou de secretamente ter montado um escritório na Espanha. Primeiramente se alojou em Saint-Jean-de-Luz, em meados de 1945, inicialmente era para ficar em San Sebastián antes de chegar a Madrid, onde ele se autoproclamou como "o príncipe de Mérode". Em 1953, ele ainda vivia na Espanha, agora a 60 km ao norte de Madrid em uma fábrica de tijolos. Ele nunca voi levado à justiça e a data da sua morte permanece desconhecida até hoje.

Referências
  • Magazine Historia Hors Série n°26 1972 por Jacques Delarue
  • Les comtesses de la Gestapo ed. Grasset, 2007 by Cyril Eder, ISBN 978-2-246-67401-6
  • Baptiste Roux, Figures de l'Occupation dans l'œuvre de Patrick Modiano, Paris, L'Harmattan, 1999, 334 p. (ISBN 2-7384-8486-7)
Fonte: Extraído do verbete da Wikipedia (em inglês e francês).
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais em:
BS Encyclopédie (em francês)

Seção sobre nazismo e Holocausto:
Les grandes idéologies. Le nazisme et la shoah

terça-feira, 27 de março de 2012

Experimentos Médicos - Oberhauser e Schumann

Oberhauser

A Dra. Herta Oberhauser assassinava prisioneiros com injeções de óleo e outras substâncias, amputava-lhes extremidades ou lhes extraia órgãos vitais, ou lançava vidro moído e serragem em feridas. Recebeu uma condenação de vinte anos como criminosa de guerra, mas saiu da prisão em 1952 e obteve uma vaga de clínico geral em Stocksee, Alemanha. Sua licença para praticar medicina foi anulada em 1960. (Laska, Vera. ed. Women in the Resistance and in the Holocaust: The Voices of Eyewitnesses. CT: Greenwood Press, 1983, p. 223).

Schumann

Himmler, em uma carta ao Oberführer da SS, Brack, em 11 de agosto de 1942, manifestou seu interesse nos experimentos de esterelização realizados com raios-X (Verauschwitz sterilization). Em abril de 1944 recebeu um relatório sobre o trabalho do Dr. Horst Schumann "sobre a influência dos raios-X nas genitais humanas" em Auschwitz. O relatório incluia o seguinte parágrafo:

Previamente você pediu ao Oberführer Brack que leve a cabo este trabalho, e o apoiou proporcionando o material adequado no campo de concentração de Auschwitz. Destaco especialmente a segunda parte deste trabalho, que demonstra que por este sistema a castração de homens é quase impossível ou requer um esforço que não compensa. Visto isto, estou convencido de que a castração cirúrgica não necessita mais do que 6 ou 7 minutos, e portanto é mais confiável e rápida que a castração por raios-X.

Schumann montou uma estação de raios-X em Auschwitz em 1942, no campo de mulheres de Bla. Ali se esterilizou à força homens e mulheres lhes colocando repetidamente durante vários minutos entre duas máquinas de raios-X, apontando os raios para os órgãos sexuais. A maioria das vítimas morreram depois desses grandes sofrimentos, ou foram gaseadas imediatamente porque as queimaduras produzidas pela radiação fizeram com que não pudesem mais trabalhar. Os testículos dos homens eram extirpados e enviados a Breslau para realizar estudos histopatológicos.

As frequentes ovariectomias que eram feitas, foras realizadas pelo prisioneiro polonês, o Dr. Wladyslav Dering. Dering apostou uma vez com um homem da SS que era capaz de fazer dez ovariectomias em uma tarde, e ganhou a aposta. Algumas de suas vítimas sobreviveram. Dering foi declarado criminoso de guerra, mas esquivou-se da ação da justiça e praticou a medicina durante um tempo na Somalilândia Britânica. (Laska, Vera. ed. Women in the Resistance and in the Holocaust: The Voices of Eyewitnesses. CT: Greenwood Press, 1983, p. 223; Encyclopedia of the Holocaust, Vol. 3, p. 965).

Fonte: Site Nizkor; livro: Women in the Resistance and in the Holocaust: The Voices of Eyewitnesses; Autor: Vera Laska; Encyclopedia of the Holocaust, Vol. 3 (Editor: Israel Gutman)
http://www.nizkor.org/faqs/auschwitz/auschwitz-faq-17-sp.html#Oberhauser
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Holocaust/auschwitz_faq_17.html
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ministério alemão do Exterior construiu imagem para esconder passado nazista, diz historiador

Relatório de gastos onde diplomata
justifica viagem para 'liquidação de judeus'
Historiador Peter Hayes, coautor do relatório sobre a participação do Ministério alemão do Exterior em crimes do nazismo, diz que diplomatas se engajaram para construir imagem positiva no pós-Guerra.

Alguém poderia pensar que, 65 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, tudo já fora dito sobre o envolvimento do Ministério alemão do Exterior na era nazista. Mas o fato de, em 2005, o então ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, ter encarregado quatro historiadores da elaboração de um relatório esclarecedor sobre o tema mostra que nem tudo se sabia sobre o envolvimento de diplomatas alemães com o regime de Hitler.

O historiador Peter Hayes, da Universidade Northwestern, dos Estados Unidos, é um dos autores do relatório Das Amt und die Vergangenheit (O Ministério e o Passado), divulgado em forma de livro nesta semana em Berlim. Em entrevista à Deutsche Welle, Hayes comenta a participação do ministério alemão no extermínio de judeus pelos nazistas.

Deutsche Welle: Por que somente agora é lançada uma visão detalhada sobre esse envolvimento?

Peter Hayes: O motivo imediato foi a constatação, por parte de Joschka Fischer, de que o Ministério alemão do Exterior continuava a publicar internamente obituários laudatórios de pessoas com passado duvidoso. Ele queria pôr um fim nisso.

Em resposta ao barulho contra a sua decisão, ele apontou uma comissão para estudar o passado do ministério e elaborar um relatório sobre o que realmente acontecera e não acontecera, como também por que o exame sobre o que tinha acontecido não foi minucioso no pós-Guerra. Foi quando nós entramos em ação.
Peter Hayes (e), ministro Guido Westerwelle (c)
e membros da comissão em Berlim
DW: Agora que sua pesquisa está encerrada, que revelações o senhor apontaria como sendo completamente novas?

Há uma série de coisas que foram novas para mim. Eu não estava ciente de quão conscientemente algumas pessoas se engajaram em construir uma imagem que servisse de álibi para o Ministério do Exterior no final dos anos 1940.

A noção generalizada dos acontecimentos da era nazista, que chamou particularmente a atenção da mídia, já era todavia conhecida pelos especialistas, sobretudo o envolvimento do ministério no Holocausto e, especialmente, suas transações com países parceiros, com os quais a Alemanha nazista tinha que negociar para obter judeus para deportação. O envolvimento de diplomatas alemães nesse processo não era tão bem conhecido, principalmente para o público em geral.

DW: O chefe da comissão que elaborou o estudo, o historiador alemão Eckart Conze, disse à mídia que considera o Ministério alemão do Exterior daquela época como uma organização criminosa. Outros acadêmicos acham que isso é um exagero. Qual sua opinião?

Eu não teria feito a colocação da mesma forma que o professor Conze. Em vez de chamá-lo de organização criminosa, eu teria preferido dizer que o Ministério do Exterior fazia parte de um regime criminoso. Mas se você avaliar isso cuidadosamente parece uma distinção sem diferença. Se a organização em questão faz parte de uma operação criminosa, se participa ativamente na promoção da agenda dessa operação, então, acaba sendo uma organização criminosa.

DW: No passado, dizia-se que pesquisadores tinham enorme dificuldade ao tentar obter documentos que esclarecessem as atividades de diplomatas alemães sob o regime nazista. Quão difícil – ou quão fácil – foi para o senhor obter o material necessário para o livro?

Um dos aspectos mais curiosos no caso do Ministério alemão do Exterior é que ele possuiu arquivos próprios, que são mantidos separados dos arquivos federais. Como resultado, as pessoas que tomam contam dos arquivos estão em conflito de interesses, por assim dizer. Elas têm obrigações duplas. Por um lado, são funcionários do serviço diplomático e, por outro, são arquivistas.

Isso leva a tensões muito complicadas. Nós tivemos uma série de dificuldades para obter certos registros. Não fomos informados da existência de alguns arquivos. Tínhamos que descobrir por nós mesmos e então perguntar diretamente por eles.

Houve momentos de discussões bastante acirradas com o pessoal do arquivo. Mas acho que, apesar de não podermos ter certeza absoluta de ter visto tudo, estamos razoavelmente confiáveis de que obtemos uma visão ampla dos acontecimentos.

Autor: Hardy Graupner (ca)
Revisão: Alexandre Schossler

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6166379,00.html
http://www.dw.com/pt/minist%C3%A9rio-alem%C3%A3o-do-exterior-construiu-imagem-para-esconder-passado-nazista-diz-historiador/a-6166379

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Historiador britânico Tony Judt morre nos EUA aos 62 anos

NOVA YORK — O historiador Tony Judt, que ironizava o rótulo recebido de esquerdista e comunista que renegava a origem judia, morreu em sua casa de Manhattan, aos 62 anos, anunciou neste domingo o jornal The New York Times.

O historiador, que ensinava na New York University, faleceu na sexta-feira, com a notícia só sendo divulgada agora, vítima de complicações de uma enfermiade degenerativa que tem o nome do jogador de beisebol Lou Gehrig.

Nascido e educado na Grã-Bretanha, Judt vivia nos Estados Unidos, tendo ensinado em universidades americanas durante a maior parte da carreira, como especialista em história francesa do pós-guerra.

Sua tese sobre a reconstituição do Partido Socialista francês depois da primeira guerra mundial foi publicada na França como "La Reconstruction du Parti Socialiste: 1921-1926" (1976).

Em 1979 publicou um ensaio sobre a esquerda francesa: "Socialism in Provence, 1871-1914: A Study in the Origins of the Modern French Left," e em 1986 "Marxism and the French Left: Studies on Labour and Politics in France, 1830-1981" sobre as relações entre o poder político e o movimento operário na França.

"Hoje, fora da Universidade de Nova York, sou visto como uma caricatura de esquerdista, como um comunista que renega suas origens. Dentro da universidade, consideram-me um típico elitista liberal branco, fora de moda", declarou ao jornal The Guardian de Londres, em janeiro passado. "Gosto disso. Estou nos limites de ambos".

Embora filho de judeus e de seu apoio a Israel no princípio, Judt deixou de acreditar no sionismo mais tarde e começou a ver Israel como um poder ocupante nefasto, cuja autodefinição como Estado judeu - argumentou depois - era um anacronismo, afirmou ao Times.

Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5g-tH_XlcOOlhYeHZnorBP3dwBWNA

Mais:
Morreu o historiador Tony Judt Destak(Portugal)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Bibliografia da Segunda Guerra - Primeira Guerra - Guerra Civil Espanhola e outros

Explicação sobre as divisões bibliográficas: o tema Segunda Guerra, que engloba muita coisa, foi dividido em temas específicos, como por exemplo na parte sobre ideologia nazista e fascista, que trata somente da bibliografia da história da ideologia, da ascensão do partido nazi na Alemanha, das figuras proeminentes do partido etc e foi colocada no post só sobre Holocausto, fascismo e nazismo.
Link abaixo:
Bibliografia sobre Holocausto - Nazismo - Fascismo
Ver também:
Bibliografia sobre Racismo - Neonazismo - Neofascismo - Negação do Holocausto

Os temas mais gerais sobre Segunda Guerra(batalhas, história da guerra), Primeira Guerra, República de Weimar, Stalinismo, Teatro de Operações Asiático e outros foram colocados neste post. Foi trazido para este post a bibliografia de outras vertentes(países) do fascismo naquele período.

Mais obras poderão ser adicionadas futuramente quando o post for atualizado e ele ficará como link fixo no quadro à esquerda do blog, na parte dos links.

LIVROS SOBRE REPÚBLICA DE WEIMAR (ENTREGUERRAS)


Livros em inglês:


Livro: The German Revolution 1917-1923 (Historical Materialism Book Series)
Autores: Pierre Broue, Ian H. Birchall, Brian Pearce

Livro: Weimar Germany: Promise and Tragedy
Autor: Eric D. Weitz

Livro: Paper and Iron: Hamburg Business and German Politics in the Era of Inflation, 1897-1927
Autor: Niall Ferguson

Livro: Britain, Soviet Russia and the Collapse of the Versailles Order, 1919-1939
Autor: Keith Neilson
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LIVROS SOBRE O PÓS-GUERRA - REUNIFICAÇÃO DA ALEMANHA (PERÍODO DE 1945-1990)


Livros em inglês:


Livro: Germany 1945-1949: A Sourcebook
Autor: Manfred Malzahn

Livro: Understanding Contemporary Germany
Autor: Stuart Parkes

Livro: In a Cold Crater: Cultural and Intellectual Life in Berlin, 1945-1948
Autor: Wolfgang Schivelbusch

Livro: After the Nazi Racial State: Difference and Democracy in Germany and Europe
Autores: Rita Chin, Heide Fehrenbach, Geoff Eley, Atina Grossmann

Livro: A Nation in Barracks: Modern Germany, Military Conscription and Civil Society
Autor: Ute Frevert
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LIVROS SOBRE O TEATRO DE GUERRA ASIÁTICO E O FASCISMO NO JAPÃO


Livros em inglês:


Livro: Japan in the Fascist Era
Editor: E. Bruce Reynolds

Livro: Factories of Death: Japanese Biological Warfare, 1932-1945, and the American Cover-Up
Autor: Sheldon Harris

Livro: The Nanjing Massacre in History and Historiography (Asia: Local Studies / Global Themes)
Autor: Joshua A. Fogel

Livro: The Bloody White Baron: The Extraordinary Story of the Russian Nobleman Who Became the Last Khan of Mongolia
Autor: James Palmer

Livro: The Pacific Campaign in World War II: From Pearl Harbor to Guadalcanal (Naval Policy and History)
Autor: William Bruce Johnson

Livro: Russian Politics in Exile: The Northeast Asian Balance of Power, 1924-1931
Autor: Felix Patrikeeff

Livro: The Manchurian Myth: Nationalism, Resistance, and Collaboration in Modern China
Autor: Rana Mitter

Livro: Prompt and Utter Destruction: President Truman and the Use of Atomic Bombs Against Japan
Autor: J. Samuel Walker

Livro: Japan 1945: From Operation Downfall to Hiroshima and Nagasaki (Campaign)
Autor: Clayton Chun
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LIVROS SOBRE GUERRA CIVIL ESPANHOLA


Livros em português:


Livro: A Guerra Civil Espanhola(2 volumes)
Autor: Hugh Thomas

Livro: A Guerra Civil Espanhola(Edição de Portugal)
Autor: Stanley G. Payne

Livro: A Batalha pela Espanha
Autor: Antony Beevor


Livros em espanhol:


Livro: La Guerra Civil Española
Autor: Hugh Thomas

Livro: El corto verano de la anarquía
Autor: Hans Magnus Enzensberger

Livro: Franco, el perfil de la historia
Autor: Stanley G. Payne

Livro: Una Historia De La Guerra Civil Que No Va A Gustar A Nadie
Autor: Juan Eslava Galan

Livro: Guernica Y La Guerra Total
em inglês: Guernica and Total War
Autor: Ian Patterson

Livro: El enemigo judeo-masónico en la propaganda franquista (1936-1945)
Autor: Javier Domínguez Arribas

Livro: El Franquismo, cómplice del Holocausto
Autor: Eduardo Martín de Pozuelo

Livro: Los secretos del franquismo
Autor: Eduardo Martín de Pozuelo


Livros em inglês:


Livro: We Saw Spain Die
Autor: Paul Preston

Livro: The Spanish Civil War, The Soviet Union, and Communism
Autor: Stanley G. Payne

Livro: The Collapse of the Spanish Republic, 1933-1936: Origins of the Civil War
Autor: Stanley G. Payne

Livro: Spain: From Dictatorship to Democracy, 1939 to the Present (A History of Spain)
Autor: Javier Tusell

Livro: CONDOR LEGION: The Wehrmacht's Training Ground (Spearhead)
Autor: Ian Westwell
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LIVROS SOBRE STALINISMO E UNIÃO SOVIÉTICA - URSS(até 1945)


Livros em português:



Livro: Stalin: A corte do Czar Vermelho
título em inglês: Stalin: The Court of the Red Tsar
Autor: Simon Sebag Montefiore


Livros em inglês:


Livro: Political Thought of Joseph Stalin: A Study in 20th Century Revolutionary Patriotism
Autor: Erik van Ree

Livro: Bolshevism, Stalinism and the Comintern: Perspectives on Stalinization, 1917-53
Autor: Matthew Worley, Kevin Morgan, Norman LaPorte

Livro: A History of the Soviet Union from the Beginning to the End, 2nd Edition
Autor: Peter Kenez

Livro: Stalin's Secret Pogrom: The Postwar Inquisition of the Jewish Anti-Fascist Committee (Annals of Communism)
Autor: Laura E. Wolfson

Livro: Stalinism: Russian and Western Views at the Turn of the Millenium (Totalitarian Movements and Political Religions)
Autor: John L. H. Keep

Livro: Terror by Quota: State Security from Lenin to Stalin (an Archival Study) (The Yale-Hoover Series on Stalin, Stalinism, and the Cold War)
Autor: Paul R. Gregory
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LIVROS SOBRE SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


Livros em português:


Livro: O Incêndio - Como os Aliados destruíram as cidades alemãs 1940-1945
Autor: Jorg Friedrich

Livro: As Origens da Segunda Guerra Mundial(1933-1939)
Autor: Ruth Henig

Livro: Berlim 1945 - A Queda
Autor: Antony Beevor

Livro: Stalingrado
Autor: Antony Beevor

Livor: Memórias da Segunda Guerra Mundial(2 Volumes)
Autor: Winston Churchill

Livro: Churchill
Autor: Roy Jenkins

Livro: Roosevelt
Autor: Roy Jenkins

Livro: Roosevelt E Hopkins
Subtítulo: Uma História da Segunda Guerra MundialAutor: Robert E. Sherwood

Livro: Franklin e Winston
Subtítulo: A intimidade de uma amizade histórica
Autor: Jon Meacham

Livro: Brasil, um refúgio nos trópicos
Subtítulo: A trajetória dos refugiados do Nazi-fascismo
Autor: Maria Luiza Tucci Carneiro

Livro: O anti-semitismo na Era Vargas
Autor: Maria Luiza Tucci Carneiro

Livro: História da Segunda Guerra Mundial
Autor: Marc Ferro

Livro: Versalhes e Ialta. Os dois grandes erros do século
Autor: Guilherme Hermsdorff

Livro: Um mundo em chamas: uma breve história da Segunda Guerra Mundial na Europa e na Ásia, 1939
Autor: Martin Kitchen

Livro: Cinco Dias em Londres
subtítulo: Negociações que Mudaram o Rumo da II Guerra
Autor: John Lukacs

Livro: Uma História da Segunda Guerra Mundial
Autor: Robert Sherwood

Livro: A Queda da França
Autor: William Shirer

Livro: A Segunda Guerra Mundial
Autor: A.J.P. Taylor


Livros em espanhol:


Livro: Una guerra de exterminio - Hitler contra Stalin
Autor: Laurence Rees

Livro: Un mundo en guerra - Historia de la segunda guerra mundial
Autor: Richard Holmes


Livros em inglês:


Livro: Five Armies in Normandy
Autor: John Keegan

Livro: Conditions of Peace
Autor: E.H. Carr

Livro: The Origins of the Second World War
Autor: A. J. P. Taylor

Livro: Dresden - Tuesday, February 13, 1945
Autor: Frederick Taylor

Livro: The Second World War
Autor: John Keegan

Livro: The Storm of War - A New History of the Second World War
Autor: Andrew Roberts

Livro: The Politics of War, the War and United States Foreign Policy, 1913/1945
Autor: Gabriel Kolko

Livro: War in the Wild East: The German Army and Soviet Partisans
Autor: Ben Shepherd

Livro: An Ilustrated History of the Second World War
Autor: A.J.P. Taylor

Livro: The Road to War: Revised Edition
Autor(es): Richard Overy, Andrew Wheatcroft

Livro: History of World War Two
Autor: Basil Liddell Hart

Livro: The Fall of France
Autor: Julian Jackson

Livro: Russia's War
Autor: Richard Overy

Livro: The Rocket and the Reich: Peenemünde and the Coming of the Ballistic Missle Era
Autor: Michael Neufeld

Livro: The War of Our Childhood: Memories of World War II
Autor: Wolfgang W. E. Samuel

Livro: Through the Eyes of Innocents: Children Witness World War II
Autor: Emmy E Werner, Emmy E. Werner

Livro: Battle in the East: The German Army in Russia (Concord 6519)
Autor: Gordon Rottman, Stephen Andrew

Livro: Britain, America and Rearmament in the 1930s: The Cost of Failure
Autor: Christopher Price

Livro: The Persian Corridor and Aid to Russia (United States Army in World War II: The Middle East Theater)
Autor: T. H. Vail Motter

Livros em francês:

Livro: Pie XII et la Seconde Guerre Mondiale
Autores: Pierre Blet, Pierre Blet (S.J.)
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LIVROS SOBRE PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL


Livros em português:


Livro: O Último Verão Europeu
Autor: David Fromkin


Livros em inglês:


Livro: Origins of the First World War (Lancaster Pamphlets)
Autor: Ruth Henig

Livro: London 1914-17: The Zeppelin Menace (Campaign 193)
Autor: Ian Castle

Livro: The Spirit of 1914: Militarism, Myth, and Mobilization in Germany (Studies in the Social and Cultural History of Modern Warfare)
Autor: Jeffrey Verhey

Livro: The First World War: The Eastern Front 1914-1918 (Essential Histories)
Autor: Geoffrey Jukes

Livro: Worldly Provincialism: German Anthropology in the Age of Empire (Social History, Popular Culture, and Politics in Germany)
Autor: H. Glenn Penny, Matti Bunzl

Livro: Balkan Wars 1912-1913: Prelude to the First World War (Warfare and History)
Autor: Richard C. Hall

Livro: The Origins of the First World War: Controversies and Consensus
Autora: Annika Mombauer

sábado, 28 de março de 2009

Memorial Buchenwald foi criado há 50 anos por líderes comunistas

Buchenwald, criado em 1958, na então Alemanha Oriental, foi o primeiro memorial criado num antigo campo de concentração dentro do território alemão.

(Foto) Cartão de prisioneiro do campo de concentração de Buchenwald

A cidade de Weimar é conhecida, acima de tudo, por seus monumentos, como a Casa Goethe ou a Biblioteca Anna Amalia. No entanto, a poucos quilômetros do centro, o capítulo mais negro da história alemã é simbolizado por uma enorme torre e por um sino: trata-se do Memorial Buchenwald, inaugurado em 1958, sob o governo da então Alemanha Oriental, de regime comunista.

Há 50 anos, no dia 14/09/1958, pontualmente às 11 horas da manhã, soava, pela primeira vez, o sino no alto da torre de 50 metros, que pode ser vista à distância. Não longe dali fica a escultura do artista Fritz Cremer, de onde se pode avistar Weimar como de quase nenhum outro lugar a região.

A inaguração ali do Memorial Buchenwald pelo então governo da Alemanha Oriental foi uma conseqüência das exigências dos sobreviventes, que entrou para a história como o primeiro memorial do pós-guerra no país de regime comunista. A idéia, na época, era legitimar a posição da Alemanha Oriental como uma nação "diferente e melhor" do que a Alemanha Ocidental.

Alojamento e penitenciária

Instalação da artista Rebecca Horn reflete sobre história de Buchenwald

Hoje, do diretor do Memorial, Volkhard Knigge, observa que, em 1958, "Buchenwald era o maior Memorial do Holocausto situado num ex-campo de concentração em território alemão. Na Alemanha Ocidental, no mesmo ano, as instalações do ex-campo de concentração de Dachau, por exemplo, serviam de alojamento para refugiados do Leste do país, enquanto Neuengamme, perto de Hamburgo, era uma penitenciária juvenil. Ou seja, é possível compreender porque muitos sobreviventes, mesmo não sendo ligados ao comunismo, também se identificaram muito com esse Memorial".

Enquanto a Alemanha Ocidental, capitalista, ainda tratava de temas relacionados aos crimes cometidos durante o passado nazista de forma superficial e atenuante, os governantes da República Democrática Alemã (RDA) se apropriaram rapidamente da história dos campos de concentração em proveito próprio.

Memória seletiva

Prisioneiros de Buchenwald, em abril de 1945

Embora os membros da resistência comunista durante o período nazista tenham formado apenas um pequeno grupo entre as vítimas do nazismo, as celebrações e homenagens na Alemanha Oriental se voltavam quase que exclusivamente para eles.

"Simplesmente ignoradas eram as medidas violentas e de exclusão dos perseguidos em função das teorias raciais do regime nazista. Nada lembrava os judeus, os sintos e rom, os homossexuais, os excluídos da sociedade em geral", analisa Knigge.

A disposição física do Memorial de Buchenwald também obedecia aos objetivos ideológicos e políticos do governo da Alemanha Oriental. Knigge salienta, por exemplo, que antes mesmo da inaguração do Memorial foram destruídas várias barracas, que poderiam conter rastros dos desatinos registrados pela história oficial, acredita Knigge.

Três exposições

Cerca reconstruída: memorial aberto ao público

O escultor Fritz Cremer, por exemplo, foi obrigado várias vezes a modificar sua obra, até que ela ficasse ao gosto do então presidente do partido único SED. Mesmo assim, observa Knigge, à sombra de tamanha monumentalidade e de tantas deficiências, havia no Memorial Buchenwald também rupturas, que faziam com que valesse a pena visitar o local. "Nas esculturas, é possível, ainda hoje, para além desse lado estatal-oficial, ver figuras de refugiados como não eram encontradas em toda a RDA".

Hoje, três exposições tratam de informar ao visitante a respeito do ex-campo de concentração e sua história. A maior delas documenta os destinos dos prisioneiros, a segunda informa sobre o campo especial soviético após o fim da Segunda Guerra, e a terceira fala da apropriação política do Memorial pelo SED, então partido único da Alemanha de regime comunista.

Peter Sommer (sv)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,3644111,00.html

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Xenofobia é mais difundida na Alemanha do que se pensa

Ideologia radical de direita não nasce só nas periferias

Fase dois de uma pesquisa iniciada há dois anos revela a tendência de a xenofobia se tornar cada vez mais "mainstream". Contrariando crença generalizada, a tendência parte do centro da sociedade alemã.

"Sempre que a obturação do bem-estar se esfacela, tradições antidemocráticas voltam a se manifestar no vazio resultante." Assim o psicólogo Oliver Decker avaliou o resultado de uma pesquisa da Fundação Friedrich Ebert (ligada ao Partido Social-Democrata – SPD). Segundo esta, noções xenófobas são bem mais difundidas na Alemanha do que se acreditava.

O relatório apresentado em Berlim na última semana compõe a segunda parte de um estudo iniciado em 2006. Na primeira fase, 5 mil alemães acima dos 14 anos foram interrogados sobre suas opiniões a respeito do extremismo de direita. Concluiu-se que um entre cada quatro alemães defendia pontos de vista xenófobos.

Nesta segunda fase, os pesquisadores procuraram estabelecer as raízes dos preconceitos. Para tal, convidaram uma seleção de 150 dos participantes para discussões em grupo. "Queríamos examinar as opiniões dos entrevistados no contexto de suas vidas", explica Decker.

Trivialidade alarmante

A conclusão foi surpreendente: a xenofobia está se tornando cada vez mais mainstream na Alemanha. Os participantes do debate expressaram rejeição em relação a estrangeiros "com uma trivialidade preocupante, inclusive pessoas que na primeira enquete não haviam chamado a atenção por atitudes de extrema direita", comentou o psicólogo.

No pós-guerra, em ambas as metades da Alemanha, a ideologia radical de direita foi apenas recalcada no centro da sociedade, prossegue Decker. Com o milagre econômico, a prosperidade se estabeleceu de forma relativamente veloz na Alemanha Ocidental, não deixando espaço para a reflexão ou para a vergonha.

Os alemães do Leste esperavam um desenvolvimento semelhante, após a queda do Muro. E reagiram com desencanto político e democrático à frustração dessa expectativa.

Democracia em troca da ordem

Turcos e russos são vistos como principais ameaças

"Foi assustadora para nós a facilidade com que os entrevistados estavam dispostos a trocar a democracia mais modesta em favor de estruturas autoritárias, nas quais supostamente reinassem ordem, tranqüilidade e igualdade de chances", comenta Oliver Decker.

Diversos jovens declararam desejar "algum tipo de líder". Para os participantes de meia idade, a política é, de qualquer modo, mentira e engano. E os mais velhos evocam os modelos de sua juventude: no Leste, as represálias da RDA; no Oeste, o regime nazista.

Outra revelação chocante é que o problema se encontra no próprio centro da sociedade alemã, contradizendo a teoria de que os celeiros do extremismo de direita se encontrariam nas partes do país afetadas pelo desemprego e a decadência social.

Velhos clichês

Segundo 37% da população, os imigrantes viriam para a Alemanha "para explorar o Estado de bem-estar"; 39% consideram o país "perigosamente superpovoado de estrangeiros". E 26% gostariam que houvesse "um único partido forte para representar a comunidade alemã".

Os principais alvos de preconceito são os turcos e os russos, considerados parasitas e gananciosos. Entretanto, os pesquisadores também identificaram a emergência do que denominaram "racismo cultural": preconceitos contra grupos marginais, tais como os desempregados e os socialmente desprivilegiados. Tal fato revelaria uma forte pressão para corresponder à norma social percebida, e a conseqüente condenação dos que fracassam neste processo.

Ficou ainda claro que a maioria dos participantes só apóia a democracia na medida em que garante a prosperidade pessoal. Caso contrário, passam imediatamente à intolerância. Uma atitude semelhante marcou também a década de 1950 na Alemanha, observaram os pesquisadores da Fundação Friedrich Ebert. Na época, o milagre econômico provou-se um obstáculo à reelaboração do passado nazista.

Agências (av)

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 22.06.2008)
http://www.dw-world.org/dw/article/0,,3430238,00.html

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Primeira visita a Israel da sobrinha neta de Goering

Trauma. Holocausto levou-a a ser operada para não ter filhos

Primeira visita a Israel da sobrinha neta de Goering

"Não queria trazer monstros ao mundo. Temia ter em mim a maldita semente da dinastia Goering", disse Bettina Goering. Em entrevista ao diário israelita Yediot Aharonot, acrescentou: "Ser uma Goering é uma herança muito pesada."

Bettina, de 52 anos, é neta do irmão de Hermann Goering e prepara-se para realizar a sua primeira visita a Israel, onde irá participar no Festival de Cinema Judaico. Entre os vários filmes está um documentário de Cynthia Connop, que segue os encontros entre Bettina e a artista judia Ruth Rich, cuja família desapareceu nos campos de extermínio nazi.

A sobrinha-neta do homem que, em 1939, foi indicado como legítimo sucessor de Adolf Hitler, conta como sentiu "vergonha e culpa" ao descobrir que o nome da sua família estava associado ao Holocausto - um sentimento que a levou, aos 13 anos, a consumir drogas e aos 30 a ser operada para não ter filhos. Surpreende-a que os judeus que encontra na América Latina não a odeiem por ser uma Goering, mas sente-se muito mal quando descobre que o judeu com quem acaba de "fazer amor" é um sobrevivente do Holocausto, com um "número tatuado no braço".

Hoje, Bettina vive em Santa Fé, entre duas famílias judias que se odeiam e que ela tenta aproximar; trabalha com Ruth sobre o trauma do silêncio. Das vítimas e algozes.

Lumena Raposo

Fonte: Diário de Notícias(Portugal)
http://dn.sapo.pt/2008/10/24/internacional/primeira_visita_a_israel_sobrinha_ne.html

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Polícia política espionava comunidade judaica na ex-Tchecoslováquia

Primavera de Praga em 1968: 'conspiração judaica' segundo teoria do serviço secreto

Pesquisas mostram como a espionagem dos serviços secretos comunistas agia. Na antiga Tchecoslováquia, os judeus estavam entre os principais alvos dos espiões a serviço do regime.

Através de um instituto de pesquisa histórica sobre a polícia política da então comunista Tchecoslováquia, vieram à tona este ano várias informações sobre os métodos e alvos do serviço secreto do país. Uma das descobertas feitas pelos pesquisadores nos acervos da polícia política foi o montante de pessoas ligadas à comunidade judaica do país que eram espionadas regularmente.

Segundo Jiri Danicek, presidente da Federação das Comunidades Judaicas no país e e ex-dissidente do regime, havia entre os judeus em Praga, durante o comunismo, uma lei informal: na dúvida, manter o sigilo. "Cada pessoa mantinha um círculo de amigos com os quais falava abertamente. E havia os outros, com que, de preferência, não se podia conversar de maneira honesta", descreve Danicek.

Na mira do serviço secreto

Os pesquisadores hoje partem do princípio de que, em quase todas as instituições judaicas do país, havia tentáculos da polícia política. Embora houvesse, teoricamente, liberdade religiosa no país, no dia-a-dia os membros da comunidade judaica permaneciam com freqüência isolados.

"Pelo menos inconscientemente, as teorias que foram decisivas para o anti-semitismo continuaram sendo disseminadas, ou seja, o pensamento de que os judeus tentavam ocupar todos os postos importantes para, através de redes obscuras, influenciar a sociedade em proveito próprio", observa Ondrej Koutek, funcionário do ministério tcheco do Interior e pesquisador do assunto.

Primavera de Praga como conspiração judaica

Comunidade judaica de Praga: alvo da polícia política do regime comunista

A polícia política do país construiu a idéia de uma "conspiração judaica", conta Koutek, para, a partir deste pressuposto, penetrar em várias instituições judaicas do país. O alvo declarado era uma listagem exata dos nomes de todos os judeus tchecoslovacos, contendo uma série de dados privados a respeito dos mesmos.

O detalhismo com que o serviço secreto se dedicava a rastrear a comunidade judaica era assustador, até mesmo se tratando das artimanhas do regime comunista. "Eles procuravam sistematicamente judeus no movimento de oposição e, obviamente, encontraram alguns. A partir daí, desenvolveram a lenda do perigo judeu. A situação se agravou de tal forma que surgiu até mesmo uma versão da Primavera de Praga como sendo uma conspiração sionista", aponta Koutek.

Instituições contaminadas por espiões

As represálias que se seguiram acabaram por minar a comunidade judaica no país. Praticamente nenhum grêmio de uma instituição judaica tinha liberdade para trabalhar de forma independente, pois em todas as instituições estavam infiltrados espiões.

Após a derrocada da Cortina de Ferro, a comunidade judaica da República Tcheca se viu frente a uma questão primordial: saber quem se havia mantido ileso às artimanhas da polícia política, estando apto, portanto, a assumir os cargos de liderança. "De todo candidato era exigida uma declaração de que não havia cooperado com o regime, ou pelo menos não de forma consciente", lembra Frantisek Banyai, que está à frente da comunidade judaica de Praga há quatro anos.

Os critérios que determinam quem cooperou ou não com o regime comunista são, no entanto, ambivalentes, assinala Banyai. "Lembro-me do caso de uma pessoa que foi obrigada a assinar uma declaração de colaboração com o regime, mas que estava sempre à disposição para ajudar a quem fosse necessário. Ao mesmo tempo, havia aqueles que nunca assinaram qualquer documento de colaboração, mas que, por puro fanatismo, causaram muitos danos por onde andaram."

Também durante os anos de regime comunista, completa Banyai, nada era preto no branco. E por isso as revelações sobre o passado do país são tão importantes.

Kilian Kirchgessner (sv)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,3876295,00.html

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Diretor de 'The reader' é apontado como candidato ao Oscar

NOVA YORK - Os dois primeiros filmes de Stephen Daldry lhe valeram indicações ao Oscar de melhor direção, e seu trabalho mais recente, "The Reader", estréia esta semana nos Estados Unidos já acompanhado de uma dose de especulações envolvendo os prêmios da Academia.

Baseado no romance "O Leitor", de Bernhard Schlink, "The Reader" conta a história de um garoto alemão de 15 anos que se envolve num caso amoroso com uma mulher que tem duas vezes sua idade e que esconde um segredo sombrio - seu envolvimento no Holocausto.

"Este não é um filme sobre o Holocausto - é sobre a segunda geração, sobre como se conciliar com o passado e como se pode abordar a vida e o amor numa sociedade que se envolveu com o genocídio", disse Daldry em entrevista.

Estrelado por Kate Winslet e Ralph Fiennes, o filme - que estréia na quarta-feira nas maiores cidades americanas e em janeiro em outras - vem recebendo críticas divididas, mas de modo geral positivas, e vários críticos prevêem que fará parte dos candidatos a Oscar.

Todd McCarthy, do Variety, disse que "The Reader" "foi feito com sensibilidade e é dramaticamente convincente, mas passa a impressão de uma experiência essencialmente cerebral".

O crítico Rex Reed, do New York Observer, descreveu o filme como "obra-prima", e Tom O'Neil, do Los Angeles Times, o considerou "candidato sério em todas as categorias principais do Oscar".

Ralph Fiennes representa o garoto Michael depois de adulto. Ele comentou que Daldry "não tem uma idéia fixa prévia, mas tem noções e instintos fortes em relação a como cada cena deve ser representada".

Daldry disse que passou muito tempo na Alemanha quando jovem e adulto e que se sentiu atraído por "O Leitor" e as questões que o livro suscita.

Para o papel do garoto, Daldry escolheu o estudante alemão David Kross, que tinha 16 anos quando fez um teste para o papel e completou 18 anos durante as filmagens, quando foram rodadas as cenas amorosas entre ele e Kate Winslet. Ele também precisou aprender a falar inglês.

"The Reader" é o primeiro filme de Daldry depois de "As Horas", que mostra como um romance de Virginia Woolf afeta três gerações de mulheres e que deu um Oscar a Nicole Kidman.

Seu primeiro filme foi "Billy Elliot", sobre um menino que quer ser bailarino numa cidade mineira do norte da Inglaterra.

Nos últimos anos Daldry vem dirigindo "Billy Elliot the Musical", para o qual Elton John compôs a música. O musical já foi encenado em Londres, onde recebeu vários prêmios Lawrence Olivier, em Sydney, e, mais recentemente, estreou na Broadway, em Nova York, onde foi aclamado pela crítica.

Fonte: Reuters(08.12.2008)
http://br.noticias.yahoo.com/s/reuters/cultura_filme_reader_oscar

Foto: http://www.awardsdaily.com/?tag=the-reader

domingo, 7 de dezembro de 2008

Central de esclarecimento investiga crimes do regime nazista

Processo em Ludwigsburg: identidade do criminoso é desconhecida

Em 1958, foi criada na Alemanha uma central de esclarecimento de crimes nazistas. O departamento já investigou mais de 7 mil casos até hoje.

Num momento em que a então Alemanha Ocidental vivia o chamado "milagre econômico" e que a sociedade do pós-guerra pretendia passar uma borracha no passado nazista do país, a investigação do assassinato de judeus na Lituânia redespertou o interesse público pelo genocídio cometido pelo regime de Hitler.

No dia 1° de dezembro de 1958, era fundada a Central do Judiciário para Esclarecimento de Crimes do Regime Nazista (Zentrale Stelle der Landesjustizverwaltungen zur Aufklärung von NS-Verbrechen), em Ludwigsburg. Somente em seus 12 primeiros meses de existência, o departamento conduziu 400 investigações. Hoje, 50 anos depois, estão registrados 7.367 casos.

Os processos de esclarecimento dos assassinatos cometidos nos campos de concentração de Auschwitz, Treblinka ou Buchenwald não teriam sido possíveis sem a participação da Central de Ludwigsburg, onde estão arquivados meio milhão de documentos, bem como 1,6 milhão de fichas.

Caso Demjanjuk

John Demjanjuk, em 2005: crimes de guerra em campos nazistas de extermínio na Ucrânia

A maior parte das investigações foi realizada há mais de 30 anos. Entre 1967 e 1971, foram conduzidos mais de 600 processos simultaneamente. Mas mesmo hoje, 50 anos após sua fundação, a Central ainda é uma valiosa fonte de informação sobre o período nazista, como mostra o caso de Iwan (John) Demjanjuk, um ucraniano que pertenceu à força de segurança do campo de extermínio de Sobibor.

Demjanjuk emigrou depois do fim da Segunda Guerra para os EUA. Quando sua verdadeira identidade foi desmascarada, ele foi deportado para Israel, onde foi julgado e condenado à morte por seus crimes sob o regime nazista. O veredicto teve que ser anulado por falta de provas e Demjanjuk acabou retornando aos EUA.

Enquanto isso, em Ludwigsburg, na central de esclarecimento, o promotor e diretor da instituição, Kurt Schrimm, deu continuidade às suas investigações: "Estamos hoje convencidos de que podemos provar que Demjanjuk esteve envolvido na morte de pelo menos 29 mil pessoas", diz Schrimm.

Cooperação com a América Latina

Procurador Kurt Schrimm, diretor da Central do Judiciário para Esclarecimento de Crimes do Regime Nazista

A Central de Ludwigsburg não conduz ela própria os processos, mas repassa-os às devidas procuradorias. É pouco provável que Demjanjuk venha, hoje com 88 anos, a ser deportado dos EUA para ser julgado na Alemanha. Para Schrimm, as chances de que o criminoso de guerra seja julgado na Alemanha diminuem a cada ano.

"Isso não significa que não possamos mais esclarecer o que acontecia, que não possamos mais encontrar os suspeitos. Mas nosso grande problema é provar a culpa destes. Acabamos quase sempre sem provas, porque não só os acusados estão envelhecendo, como também as testemunhas, quando ainda podem ser encontradas", explica o promotor.

Schrimm e seus colegas contam hoje com as vantagens da tecnologia, podendo fazer uso da internet e de material digital em suas buscas. A cooperação internacional, porém, continua sendo um fator essencial: "Procuramos, por exemplo, documentos em arquivos russos, em arquivos da antiga União Soviética. Procuramos lá atas de processos dos anos 1945/46, a fim de obter dados sobre os envolvimentos em assassinatos em massa e carnificinas. Ou procuramos, por exemplo, na América do Sul, nos departamentos de imigração locais, por pessoas que poderiam estar envolvidas com crimes cometidos durante o nazismo. Há também uma cooperação estreita com os EUA e com as autoridades canadenses, polonesas e principalmente tchecas", diz Schrimm.

Interesse do Estado

Funcionária do arquivo em Ludwigsburg: cooperação com outros países é primordial

Como a busca, separação e avaliação de material costuma ser muito demorada, foram levantadas na Alemanha várias discussões sobre a prescrição de determinados crimes. Protestos dos juristas ligados à Central de Ludwigsburg fizeram com que, no país, crimes como homicídio e auxílio a homicídio não prescrevam. Ou seja, mesmo anos mais tarde, os culpados ainda podem ser julgados pelos crimes cometidos durante o nazismo.

"Até o dia de hoje, devemos às vítimas uma prova de que não somos indiferentes ao que aconteceu no passado, que não passamos simplesmente uma borracha em cima do que aconteceu. Em conversas com diversas vítimas do regime nazista, ouvi delas que nem tanto importa que os culpados sejam hoje realmente punidos, mas sim que os representantes do Estado alemão se interessem pelo que aconteceu no passado e por aquilo que sucedeu a elas", declara Schrimm.

Cornelia Rabitz (sv)

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 01.12.2008)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3836418,00.html

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