Jornal do Brasil
Wander Lourenço
Em Lotte & Zweig, romance recém-publicado pelo escritor e professor Deonísio da Silva, nota-se que se intercalam versões distintas referentes ao fatídico episódio ocorrido no município de Petrópolis, na noite de 22 de fevereiro 1942, em pleno contexto da Segunda Guerra Mundial e do governo de Getulio Vargas.
Uma das vertentes de interpretação, decerto, impelirá o leitor a deduzir que a ficcionalização da tragédia vivenciada por Stefan Zweig servirá de palimpsesto para se desmascarar uma imposição histórica ditada por interesses políticos de questionável ordem diplomática entre Brasil e Alemanha. Por esta linha de raciocínio, a propagação oficial do suicídio seria contestada pela segunda parte do livro em questão, a partir de um suposto homicídio que abreviara a existência do escritor judeu de origem austríaca.
Por um dos diletos subterfúgios narrativos da escrita contemporânea, o enredo da obra literária Lotte & Zweigse estrutura pelo viés de uma voz narrativa em primeira pessoa; todavia, a narração se bifurcará mais adiante pelos meandros de uma onisciente perspectiva a se equilibrar pelos parâmetros de um mistério à luz do Holocausto nazista. A consoada de Zweig se instaura pelas evidências da preparação para um suicídio anunciado por inúmeras missivas endereçadas a destinatários mundo afora. Por outro ângulo, o narrador irá inserir elementos fictícios para comprovação de uma trama alemã capitaneada por Joseph, Frida, Helmut, Gustav etc. Acrescenta-se a isto que uma terceira voz narrativa, cujas menções entrelaçam os múltiplos discursos vigentes, margeará a trama por intermédio de um frágil fluxo de consciência provindo da figura que intitula o livro, Lotte, o que, aliás, pouco acrescenta à espinha dorsal da tessitura arquitetada pelas hábeis mãos de um ficcionista em pleno domínio da técnica do romance moderno.
A História sofre as investidas da ficção engendradas pelo intelectual apto a afirmar que a ferramenta do escritor é a imaginação, conquanto não se admita a intervenção do bisturi verbal do artista a interferir no amálgama nevrálgico do conflito étnico. De antemão deve-se, ao menos, se depreender que a escritura se predispõe a arraigar-se por uma tênue hermenêutica da suspeita, em diálogo com a ambiguidade que se instaura pela fresta a incutir a dúvida referente ao ato de renúncia praticado por um homem perseguido pelo antissemitismo cultuado pelo cenário europeu. Destarte, como poder-se-ia forjar a identidade criminal sem se abster da insigne inclemência de historiadores e biógrafos de Stefan Zweig, autores de teses absolutistas não refratárias ao diagnóstico oficial assinalado pela perícia dos discípulos de Getulio Vargas e Adolf Hitler?
Curiosamente, não seria desperdício de causa afiançar que estas duas personagens históricas, Hitler e Vargas, também padeceriam com o estigma de um suicídio mal prefaciado por sobrescritos apócrifos. Entretanto, em retorno ao livro, quiçá seja de bom alvitre advertir que a dialética da sensatez não se ancora em cais de aviltamento. De outra feita, se as palpáveis diretrizes da narrativa que se interpenetram, no tocante à personalidade austríaca que preludia o suicídio e ao narrador que aventa a possibilidade do assassínio, por que considerar que o autor de Lotte & Zweig se responsabilizaria pela rubrica assinalada no laudo ou testamento, que apontaria como causa mortis de cunho político do intelectual de estirpe hebreia?
Caberia enfatizar que a percepção do leitor se equilibrará por sobre um picadeiro de suposições acrobáticas, para abarcar as múltiplas expectativas de um desenlace que, no mínimo, irá se escorar na hipótese do questionamento. Muito provavelmente alguns incautos obterão a certeza de que a posição do alter ego de Deonísio da Silva se pautará pelas prédicas do homicídio contra a família Zweig. Contudo, julgo que mais condizente seria afirmar que, com a proposição do discurso que se alicerça pelo movediço espaço da dubiedade, Lotte & Zweig instigará o debate com requintes de subversão e complexidade.
*Wander Lourenço de Oliveira, doutor em letras pela UFF, é escritor e professor universitário. Seus livros mais recentes são 'O enigma Diadorim' (Nitpress) e 'Antologia teatral' (Ed. Macabéa).
Fonte: Jornal do Brasil
http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2012/05/23/requiem-para-stefan-zweig/
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quinta-feira, 24 de maio de 2012
sábado, 5 de março de 2011
Viúva de Guimarães Rosa morre aos 102 anos
Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, viúva do escritor João Guimarães Rosa , morreu na manhã desta sexta-feira de causas naturais, em São Paulo. Aos 102 anos, ela sofria de Mal de Alzheimer.
Aracy ficou imortalizada na literatura brasileira com a dedicatória que o escritor fez a ela no livro "Grande Sertão: Veredas", de 1956, onde dizia: "A Aracy, minha mulher, Ara, pertence esse livro". Aracy e Rosa se conheceram em Hamburgo, Alemanha, às vésperas da Segunda Guerra, quando ambos trabalhavam no consulado brasileiro na cidade. Ela era encarregada da seção de vistos e ajudou centenas de famílias judias a fugirem da Alemanha. Aracy, que teve apenas um filho do primeiro casamento, deixa quatro netos e oito bisnetos.
Ela tem o nome escrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Israel e também é homenageada no Museu do Holocausto de Washington (EUA).
Segundo informações de uma representante da família, Dona Aracy ficou muito próxima de uma das famílias que ajudou a resgatar da Alemanha. Quando voltaram ao Brasil ela e Maria Margareth Bertel Levy, ou Dona Margarida - como era conhecida, se tornaram quase inseparáveis. A amiga alemã ficou viúva cedo e acabou sendo ´adotada´ pelos Tess. "Quando uma ficava doente, a outra também ficava. Parecia que eles sentiam as mesmas coisas. Em 2003 as duas caíram, uma em casa, outra na rua, e acabaram ficando de cama até hoje", afirmou a fonte.
Dona Margarida faleceu no último dia 21 de falência múltipla dos órgãos e, três dias após o ocorrido, Dona Aracy começou a passar mal e foi internada novamente. De acordo com a representante da família, é evidente que ela não tinha conhecimento do falecimento da amiga, mas é curioso como elas passaram por muitos problemas semelhantes em períodos próximos.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-ministro José Gregori compareceram ao velório, no Hospital Albert Einstein. Aracy já foi cremada no Crematório Horto da Paz. Dona Aracy ia completar 103 anos no dia 20 de abril.
Fonte: Guara Notícias
http://www.guaranoticias.com.br/index.php?i=m&c=2&m=6570
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Morre em SP aos 102 anos a viúva do escritor Guimarães Rosa, Aracy
Aracy ficou imortalizada na literatura brasileira com a dedicatória que o escritor fez a ela no livro "Grande Sertão: Veredas", de 1956, onde dizia: "A Aracy, minha mulher, Ara, pertence esse livro". Aracy e Rosa se conheceram em Hamburgo, Alemanha, às vésperas da Segunda Guerra, quando ambos trabalhavam no consulado brasileiro na cidade. Ela era encarregada da seção de vistos e ajudou centenas de famílias judias a fugirem da Alemanha. Aracy, que teve apenas um filho do primeiro casamento, deixa quatro netos e oito bisnetos.
Ela tem o nome escrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Israel e também é homenageada no Museu do Holocausto de Washington (EUA).
Segundo informações de uma representante da família, Dona Aracy ficou muito próxima de uma das famílias que ajudou a resgatar da Alemanha. Quando voltaram ao Brasil ela e Maria Margareth Bertel Levy, ou Dona Margarida - como era conhecida, se tornaram quase inseparáveis. A amiga alemã ficou viúva cedo e acabou sendo ´adotada´ pelos Tess. "Quando uma ficava doente, a outra também ficava. Parecia que eles sentiam as mesmas coisas. Em 2003 as duas caíram, uma em casa, outra na rua, e acabaram ficando de cama até hoje", afirmou a fonte.
Dona Margarida faleceu no último dia 21 de falência múltipla dos órgãos e, três dias após o ocorrido, Dona Aracy começou a passar mal e foi internada novamente. De acordo com a representante da família, é evidente que ela não tinha conhecimento do falecimento da amiga, mas é curioso como elas passaram por muitos problemas semelhantes em períodos próximos.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-ministro José Gregori compareceram ao velório, no Hospital Albert Einstein. Aracy já foi cremada no Crematório Horto da Paz. Dona Aracy ia completar 103 anos no dia 20 de abril.
Fonte: Guara Notícias
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Morre em SP aos 102 anos a viúva do escritor Guimarães Rosa, Aracy
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domingo, 31 de outubro de 2010
Morre Harry Mulisch, escritor holandês
Falece Harry Mulisch, um dos escritores holandeses mais famosos do século XX
A adaptação para o cinema de seu livro 'O Atentado', ganhou em 1987 um Oscar e um Globo de Ouro de melhor filme extrangeiro.- Sua consagração chegou em 1992 com a obra 'O descobrimento do céu'.- Tinha 83 anos
ISABEL FERRER - Amsterdã - 31/10/2010
Harry Mulisch, um dos maiores escritores holandeses, e favorito também do público, faleceu aos 83 anos em seu domicílio em Amsterdã. Rodeado de sua família (tinha duas filhas e um filho) e de seus queridos e abundantes livros, padecia de um cancêr que se agravou nas últimas semanas. Era o último representante dos Três Grandes, o trio literário nacional por excelência, completado por seus colegas Willem Frederik Hermans e Gerard Reve, já desaparecidos. Agudo, erudito e coqueto, Mulisch se diferenciava deles por sua atitude vital. "Sempre tendré 17 años, minha idade favorita. Assim que sou um adolescente de 80 anos", disse, quando se tornou octagenário. Como Hermans e Reve, de todos os modos, sua obra está marcada pela II Guerra Mundial.
Filho de um banqueiro que havia emigrado do que um dia foi o Império Austro-Húngaro, e de uma dama judia de Amberes, seus pais se divorciaram ao fazer nove anos. Durante a guerra, o pequeno Harry permaneceu com seu progenitor em Haarlem, próximo à Amsterdã. Sua mãe passou a residir na capital holandesa. O pai de Mulisch trabalhava no banco holandês que custodiava os bens supostamente deixados de forma voluntária pelos judeus deportados. Nessa posição, salvou sua esposa e filho do Holocausto. A família da mãe, contudo, foi assassinada quase que em sua totalidade pelos nazis.
Além de 10 novelas, dezenas de relatos, obras de teatro e numerosos artigos, o escritor viu serem levados ao cinema com grande sucesso dois de seus livros. É o caso de O Atentado, que ganhou em 1987 o Oscar de melhor filme estrangeiro, além de um Globo de Ouro. Dirigido por seu compatriota Fons Rademaker, conta o castigo sofrido por um colaboracionista numa história com uma virada final. O holandês que havia ajudado os nazis, teve que deixar morrer um judeu perseguido para salvar outro. Em 2001, o ator Jeroen Krabbé filmou "O descobrimento do céu", sua novela mais ambiciosa. É a história do século XX contada por um anjo, onde se mesclam filosofia e genética. Ambas figuram entre as obras traduzidas para o espanhol, junto com O Procedimento e Sigfrido.
Fonte: El País(Espanha)
http://www.elpais.com/articulo/cultura/Fallece/Harry/Mulisch/escritores/holandeses/famosos/siglo/XX/elpepucul/20101031elpepucul_1/Tes
Tradução: Roberto Lucena
A adaptação para o cinema de seu livro 'O Atentado', ganhou em 1987 um Oscar e um Globo de Ouro de melhor filme extrangeiro.- Sua consagração chegou em 1992 com a obra 'O descobrimento do céu'.- Tinha 83 anos
ISABEL FERRER - Amsterdã - 31/10/2010
Harry Mulisch em imagem de arquivo- EFE |
Filho de um banqueiro que havia emigrado do que um dia foi o Império Austro-Húngaro, e de uma dama judia de Amberes, seus pais se divorciaram ao fazer nove anos. Durante a guerra, o pequeno Harry permaneceu com seu progenitor em Haarlem, próximo à Amsterdã. Sua mãe passou a residir na capital holandesa. O pai de Mulisch trabalhava no banco holandês que custodiava os bens supostamente deixados de forma voluntária pelos judeus deportados. Nessa posição, salvou sua esposa e filho do Holocausto. A família da mãe, contudo, foi assassinada quase que em sua totalidade pelos nazis.
Além de 10 novelas, dezenas de relatos, obras de teatro e numerosos artigos, o escritor viu serem levados ao cinema com grande sucesso dois de seus livros. É o caso de O Atentado, que ganhou em 1987 o Oscar de melhor filme estrangeiro, além de um Globo de Ouro. Dirigido por seu compatriota Fons Rademaker, conta o castigo sofrido por um colaboracionista numa história com uma virada final. O holandês que havia ajudado os nazis, teve que deixar morrer um judeu perseguido para salvar outro. Em 2001, o ator Jeroen Krabbé filmou "O descobrimento do céu", sua novela mais ambiciosa. É a história do século XX contada por um anjo, onde se mesclam filosofia e genética. Ambas figuram entre as obras traduzidas para o espanhol, junto com O Procedimento e Sigfrido.
Fonte: El País(Espanha)
http://www.elpais.com/articulo/cultura/Fallece/Harry/Mulisch/escritores/holandeses/famosos/siglo/XX/elpepucul/20101031elpepucul_1/Tes
Tradução: Roberto Lucena
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