Mostrando postagens com marcador Bush. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bush. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pío Moa, o David Irving espanhol

Desmontando Pío Moa

FELIPE VILLEGAS/Salvo em círculos e meios especializados (na internet se trava uma batalha dialéctico-digital total), o comum de todos os mortais é seguir alheio à migalha na qual se fecham alguns historiadores ou pseudo-historiadores quando decidem dogmatizar seus livros ou conversas. Premissas como distância histórica frente ao evento, afã de objetividade (uma utopia), contraste das fontes, consulta até se esgotar as fontes, equanimidade, uso da linguagem fria... não parecem abundar no catálogo de novidades históricas que assomam as vitrines, em que pese nisso o seu puxão.

Ouvindo o historiador Francisco Espinosa Maestre (Villafranca de los Barros, 1954, mas radicado há anos em Sevilha) alguém pode ter uma ideia da complexa estrutura de interesses que rodeia ao fato histórico puro quando este se presta a ser usado como arma propagandística e/ou política. Este é o caso da Guerra Civil e seus cruentos capítulos, que seguem estando no topo e produzindo debates ácidos e manipulações, operações em grande escala de confusão e relativização que, longe de servir para contar as coisas tal como passaram, são o pretexto de alguns para legitimar causas pretéritas ainda que latentes.

Esta é a tese de partida de Espinosa em seu último livro, cujo esclarecedor título, "O fenômeno revisionista ou os fantasmas da direita espanhola (Ediciones Los Libros del Oeste), não é senão o aperitivo de umas demolidoras páginas nas quais Espinosa exerce o caráter de cirurgião para dissecar ponto a ponto do chamado "Método Moa: um livro em 15 dias".

Em tom ensaístico, claro e rotundo, Espinosa desmonta o exaltado Pío Moa, um autor de escrita fácil (de ahí sua copiosa produção editorial) convertido em bestseller (Aznar lhe declarou sua admiração) cuja credibilidade questiona o autor do ensaio de cabo a rabo, começando por sua formação: "Nem Pío Moa é historiador e nem seus livros são de história. Na realidade estamos diante de um simples propagandista e medíocre escritor a serviço do Partido Popular, que lhe encomendou a missão de melhorar sua imagem que a direita espanhola quer dar a si mesma e sujar a da esquerda. Para conseguir estes objetivos vale tudo", sustenta Espinosa.

Suas afirmações, ainda que corrosivas, não são gratuitas. Nas centenas de páginas justas de seu livro confronta a visão e sapiência de Moa partindo de um episódio concreto e dilacerante da Guerra Civil: a matança ocorrida na arena de touros de Badajoz em 14 de agosto de 1936, justamente naquilo que Espinosa é especialista, como creditou em seu livro "A Coluna da morte" (Crítica), ao que Moa desqualificou via artigos na imprensa e internet (Libertad Digital) com argumentos como o que se segue: "É fácil perceber vários pontos débeis no estudo de "A Coluna da morte". Não está em minhas possibilidades contrastar esses dados nem os métodos empregados, mas advertirei que, vistas as desvirtuações tão frequentes do autor, e seu evidente desejo de sacudir a bilis, seus dados oferecem a maior margem de desconfiança. Outros poderão fazer sobre este terreno as comprovações pertinentes".

"Onde estão os argumentos, as refutações, os dados que opõem? por que segue diminuindo uma matança total da qual houve testemunhas, como o periodista português Mário Neves, que desacreditaram o que o franquismo chamou de a lenda de Badajoz?". Pergunta-se o autor, que confessa que focou sua obra "como um desafio porque havia pesoas que desejavam ver como se punha em evidência o Método Moa, suas fontes e falsidades, sua propaganda.

Faltava instrução e aqui se oferece, assim como respostas ao porquê Moa e outros de semelhante talento seguem querendo manipular a História em benefício própio". Em efeito, a segunda parte do ensaio abre seu enfoque para desvelar as chaves do revisionismo histórico, um movimento (o autor chega a usar o termo cruzada) nascido no calor das ainda recentes vitórias eleitorais do PP com uma finalidade: "Ajustar a História do passado de modo que convenha ao que a direita atual deseja".

"Moa e companhia - quer dizer, César Vidal, Ricardo de la Cierva, Jiménez Losantos, Gonzalo Fernández de la Mora, García de Cortázar, José Luis Gutiérrez Casalá, Ángel David Martín Rubio, entre outros citados – representam a resposta da direita que tem estado no poder do outro movimento, o da recuperação da memória histórica, surgido em torno de 1996-1997".

Em sua análise, o historiador extremenho não economiza em responsabilidades na hora de explicar o porquê do êxito do revisionismo, cujos defensores (com Moa na cabeça) vendem livros como churros. "É tal o poder e respaldo midiático da direita que na esquerda não houve um contrapeso equivalente, e é nesta grande operação midiática de recuperação do espírito franquista e de reconquista da história da Espanha onde Moa julgou ter um papel primordial desde 1999. A direita podia ter escolhido opções mais moderadas, mas com a maioria absoluta de Aznar e o alinhamento deste com os planos de Bush, apostou-se pelo neofranquismo e no revisionismo mais forte", argumenta, ao tempo que encontra no "pacto político pelo esquecimento" subescrito pelo PSOE na raíz de sua vitória em 1982 boa parte da culpa para que o revisionismo coalhou como tem feito.

"O PSOE optou por não olhar para trás, em sua política de desmemória e assim, em fins dos anos 90, o terreno estava adubado com esquecimento e confusão para a colheita que se preparava".

E conclui: "O resultado é uma sociedade onde a batalha pela memória, pelo passado, está mais viva que nunca, onde o processo de exumação de fossas se exaspera para a direita, que se nega a reconhecer que os vencidos, por estranho que pareça, têm o mesmo direito que tiveram os vencedores durante décadas para localizar seus desaparecidos e lhes dar uma sepultura digna. E daqui que se levam tão mal o gotejamento de livros sobre repressão, que não tem cessado desde os anos 80, que põem em evidência as origens do franquismo e o fato de que sua única fonte de legitimidade foi a violência".

Por tudo o que foi exposto, Espinosa se pergunta porque na Espanha não há controles para evitar que se prolifere a propaganda travestida de História como o há na Inglaterra e França. "Isso não é liberdade de expressão, como tampouco é de validação que se repitam os velhos tópicos reforçando a imagem no coletivo daquilo, de que a guerra do pai ou do avô, não teve nada a ver com o que contam os historiadores".

Fonte original: Redação Diario de Sevilla(Espanha)
http://www.diariodesevilla.com/diariodesevilla/articulo.asp?idart=1269290&idcat=1182
Fonte: texto se encontra no site da ARP-Sociedad para el Avance del Pensamiento Crítico
http://digital.el-esceptico.org/leer.php?id=2080&autor=724&tema=146
Tradução(português): Roberto Lucena

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Após 60 anos, legado do Tribunal de Nuremberg permanece

Por Alan Elsner

WASHINGTON (Reuters) - Transcorridos 60 anos do início dos julgamentos de nazistas pelo Tribunal de Nuremberg, seu legado ainda reverbera em alto e bom som no direito internacional e no julgamento do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein.

O primeiro julgamento envolveu 22 nazistas -- entre eles Hermann Goering, Rudolf Hesse e Joachim von Ribbentrop -- a partir de 20 de novembro de 1945. Três dos réus foram totalmente absolvidos e 11 outros foram absolvidos de algumas das acusações. Houve 12 condenados à morte e algumas condenações a longas penas de prisão. Goering foi condenado, mas cometeu suicídio.

"Nuremberg introduziu o conceito de que indivíduos e Estados estão sujeitos à lei internacional, inclusive com limites à soberania", disse Henry King, um dos promotores de Nuremberg. Aos 86 anos, ele continua ativo como professor de Direito na Universidade Case Western Reserve, em Cleveland (EUA).

"Em certo sentido, marcou a chegada do direito internacional como uma força a ser reconhecida no nosso planeta", afirmou.

Um recente seminário na Universidade Georgetown (Washington) explorou outros legados duradouros de Nuremberg. O tribunal rejeitou de uma vez por todas os argumentos de que os réus estavam "apenas cumprindo ordens".

Estabeleceu o genocídio como um crime organizado e também definiu como crime o planejamento, preparação, início e desenrolar das guerras de agressão -- embora sem definir agressão.

"Nuremberg modernizou as leis da guerra e criou um denominador sob o qual todos os cidadãos do mundo deveriam viver e serem julgados. Ao fazê-lo, Nuremberg lançou o movimento internacional de direitos humanos", disse King.

Ben Ferencz, 85, que foi o chefe da promotoria no julgamento seguinte, em 1947, de 24 líderes dos "Einstatzgruppen" (unidades móveis de extermínio nazistas), lembra-se de ter perguntado ao réu Otto Ohlendorf, que comandou uma operação de extermínio na Criméia, como ele justificava a morte de 90 mil civis desarmados.

"Ohlendorf disse que foi em legítima defesa. Ele disse: 'Nós sabíamos que eles planejavam nos atacar e, portanto, era prudente para nós prevenir e atacá-los"', disse Ferencz, usando palavras que têm uma estranha ressonância nos dias de hoje.

E como Ohlendorf justificava a morte de bebês? "Ele disse que, um dia, eles iriam crescer e se tornariam uma ameaça. Era portanto necessário matá-los antes que o fizessem. Mas esta idéia de matar as pessoas em legítima defesa antecipada -- os juízes disseram que isso não era defesa", afirmou Ferencz.

O CASO SADDAM

Acadêmicos vêem no tribunal de Nuremberg o embrião de todos os demais julgamentos de direitos humanos, como o do ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic, dos acusados de atrocidades em Serra Leoa, Ruanda e Timor Leste ou do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, iniciado formalmente em outubro.

Na verdade, Saddam foi a primeira pessoa desde Nuremberg a ser indiciada pelo crime de agressão, segundo Michael Scharf, também da Case Western Reserve, que participou do treinamento dos juízes no caso Saddam.

"Saddam terá direitos que nenhuma das suas vítimas teve, graças ao precedente de Nuremberg", disse Scharf. Ainda assim, esse julgamento continua sendo altamente problemático, pois dois advogados que defendiam outros réus do processo foram assassinados nas últimas semanas.

Saddam, a exemplo do que fizeram os réus de Nuremberg, contestou a legitimidade do tribunal, por se tratar de uma "justiça dos vencedores". A maioria dos alemães levou décadas para se convencer da legitimidade e imparcialidade do tribunal de Nuremberg. Segundo pesquisas anuais realizadas a partir da década de 1950 pelo governo, mas só divulgadas em 2002, até 1958 cerca de 90 por cento dos alemães achavam que os julgamentos tinham sido injustos. Foi apenas na década de 1970 a opinião popular mudou de maneira decisiva.

David Crane, ex-promotor-chefe do tribunal especial para Serra Leoa, onde nove indivíduos estão sendo julgados por atrocidades na guerra civil daquele país africano na década passada, disse que estava bastante ciente do legado de Nuremberg ao iniciar seu trabalho em Freetown, a capital, em 2002.

"Como Nuremberg e Freetown eram parecidas quando cheguei", disse ele, referindo-se à destruição física das duas cidades. "O cheiro da morte estava literalmente no ar, e foi assim nos três anos em que estive lá."

O julgamento de Serra Leoa incorporou ao léxico mais dois crimes contra a humanidade: o recrutamento obrigatório de crianças menores de 13 anos no conflito e o casamento forçado de mulheres.

Talvez a consequência mais importante de Nuremberg tenha sido a criação, em 1998, do Tribunal Penal Internacional, destinado a promover a justiça internacional e punir os responsáveis pelos crimes mais graves do mundo.

"Nuremberg criou o tribunal da Iugoslávia, que criou o tribunal de Ruanda, que criou a corte especial para Serra Leoa e Timor Leste, e agora o Tribunal Penal Internacional permanente", disse Scharf.

Ironicamente, os Estados Unidos, que insistiram na criação de Nuremberg, se opuseram veementemente ao Tribunal Penal Internacional, por verem nele uma afronta à sua soberania e independência.

Apesar da oposição norte-americana, o México tornou-se em 28 de outubro a centésima nação a ratificar o tratado que criou o tribunal.

"Essa corte não vai embora. Veio para ficar", disse David Scheffer, ex-embaixador especial dos EUA para questões de crimes de guerra. Seu conselho ao governo Bush: "Acostume-se ao tratado, supere isso e conviva com ele."

Fonte: Reuters/UOL(16.11.2005)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2005/11/16/ult729u52025.jhtm

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...