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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Alemanha endurece legislação contra crimes racistas

Beate Zschäpe, única sobrevivente do NSU, é julgada
pelo Tribunal de Munique desde maio de 2013.
REUTERS/Michael Dalder
RFI
O governo alemão aprovou nesta quarta-feira (27) um projeto de lei que pretende endurecer as leis contra crimes racistas. A decisão acontece durante o julgamento da única sobrevivente do grupo neonazista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU), acusado de dez mortes e dois atentados.

O Conselho de ministros adotou também as propostas de uma comissão parlamentar encarregada de esclarecer as falhas da investigação dos crimes cometidos pelo NSU. Todas elas alertam para as motivações racistas e xenófobas do grupo.

Entre 2000 e 2007, o grupo formado por Beate Zschäpe, Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt assassinou dez pessoas, oito deles de origem turca, cometeu dois atentados à bomba e realizou diversos assaltos a bancos. Mundlos e Böhnhardt se suicidaram em 2011. Zschäpe, de 38 anos, é julgada desde 2013 pelo Tribunal de Munique, no sul da Alemanha.

O projeto de lei, que ainda deve ser aprovado pelo Parlamento, sugere que as autoridades considerem o caráter racista de alguns crimes. O projeto de lei também repassa à Justiça federal a gestão das investigações relacionadas a grupos extremistas.

“Nós temos o dever de impedir que esses tipos de crime nunca mais se repitam”, disse hoje, em um comunicado, o ministro alemão da Justiça, Heiko Maas, referindo-se ao NSU. Para ele, o grupo pôde agir durante muito tempo sem ser punido.

O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, classificou o trio como “uma célula terrorista” e lembrou o quanto chocou a Alemanha com os assassinatos de dez pessoas em sete anos.

Falhas policiais

A comissão de investigação parlamentar sobre o NSU finalizou, em agosto de 2013, um relatório de mil páginas sobre as falhas policiais que resultaram na continuação das atividades do grupo.

O documento ressalta a falta de coordenação entre as autoridades de várias regiões onde os crimes foram registrados. O documento também aponta na demora dos investigadores em oficializar a hipótese que as ações do grupo visavam principalmente a comunidade turca na Alemanha.

Fonte: RFI
http://www.portugues.rfi.fr/geral/20140827-alemanha-endurece-legislacao-contra-crimes-racistas

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Neonazismo alemão apresenta sua nova face

As meninas do Reich. 11/05/2013 | 17h01
O julgamento de Beate Zschäpe, o mais importante das últimas décadas contra um grupo neonazista alemão, evidenciou o papel feminino nada secundário no extremismo xenófobo do século 21


Figura central da Clandestinidade Nacional Socialista, Beate morou com militantes que teriam se suicidado Foto: CHRISTOF STACHE / AFP
Léo Gerchmann

leo.gerchmann@zerohora.com.br

Professora universitária em Frankfurt, na Alemanha, Michaela Köttig, cujo nome consta na lista negra de grupos neonazistas (eles não têm a imagem dela, e ela não se deixa fotografar), vê se comprovar a tese que defende com ardor: a de que as mulheres jamais se limitaram e continuam não se limitando a papéis secundários no extremismo xenófobo. Mais do que isso: para surpresa de quem imagina a Alemanha imune ao vírus letal do nazismo por conta dos anticorpos adquiridos 70 anos atrás, na II Guerra Mundial, Michaela sustenta que skinheads e assemelhados não são meros casos de polícia. Refletem uma mentalidade ainda presente nas famílias e nas instituições alemãs.

O fato que corrobora os 20 anos de estudos acadêmicos da professora alemã é o atual julgamento, em Munique, da neonazista Beate Zschäpe, uma das fundadoras e líderes do grupo Clandestinidade Nacional Socialista (CNS). Beate e seus comparsas são acusados de terem matado 10 pessoas na Alemanha, a maioria de origem turca, entre 2000 e 2007. Beate teria participado de 15 assaltos a bancos para financiar, por exemplo, dois atentados à bomba em bairros de imigrantes. Ela só foi presa em 2011, quando se entregou à polícia após o suicídio de outros dois criadores da CNS.

Michaela, 48 anos, está em Porto Alegre para participar, às 19h30min de quarta-feira, do painel Mulheres, Violência e Criminalidade, no Instituto Goethe (com entrada franca), a convite do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS). Em entrevista a ZH da quarta-feira passada, ela disse que o próprio CNS, de Beate, é uma demonstração de o quanto o neonazismo está impregnado na sociedade alemã: há, apenas nessa unidade extremista, 129 integrantes, muitos deles mulheres.

Com o sorriso acolhedor que suaviza a sonoridade seca do idioma, Michaela perfila as linhas da sua tese sobre a participação de meninas e mulheres jovens em grupos extremistas alemães. Acredita que, se Beate não tivesse se entregado à polícia, os crimes poderiam não ter sido elucidados.

A professora também é cética quanto à possibilidade de esses crimes levarem a outras investigações.

— O serviço secreto alemão está envolvido no processo. O serviço secreto falhou. Não acredito que se empenhe em elucidar esse e outros casos. Vão tentar encobrir a participação deles no cenário neonazista, porque têm agentes infiltrados nos movimentos. Esse caso ocorreu durante tantos anos porque tinha o envolvimento do serviço secreto — analisa a especialista.

Crítica à análise sexista do caso

Michaela também critica a sociedade civil em geral e a imprensa germânica em especial pela abordagem que dão ao CNS.

— A imprensa erra por se ater ao envolvimento sexual entre a mulher que sobreviveu e outro integrante do grupo. O mais importante é entender o que ocorre, as motivações e o que fizeram. Isso mostra como a imprensa lida com o envolvimento das mulheres nos movimentos neonazistas. Acham que elas estão lá por conta dos homens e que não têm motivação política própria, como se a violência fosse uma coisa de homens, com as mulheres tendo participação subalterna — diz.

A estudiosa sustenta que a realidade em relação à mulher sempre foi bem outra. Nos anos 1940, havia grupos feministas que participavam ativamente do Partido Nazista e assumiam papéis importantes enquanto os homens iam à guerra. Atualmente, segundo ela, "as estratégias de penetração nas instituições levam mulheres neonazistas e se tornarem professoras para formar pessoas, os grupos discutem de forma deliberada como influenciar as novas gerações".

— As mulheres atuam também como advogadas e professoras de história, por exemplo. São posições estratégicas na sociedade com o objetivo de influenciar. Na universidade, não há essa reflexão, pensam que todos lá são de esquerda, que esse problema não existe. Tenho exemplos de meninas normais, que são engajadas militantes do movimento neonazista. Algumas são da direção do movimento.

A noiva nazi _ Vida no underground

— Uma suposta célula neonazista alemã vai a julgamento em Munique por ligação com assassinatos de motivação racial.

— Os crimes ocorreram ao longo de sete anos, entre 2000 e 2007. Morreram oito turcos, um imigrante grego e um policial alemão.

— Beate Zschaepe, 38 anos, é acusada de participar da Clandestinidade Nacional Socialista (CNS), que matou 10 pessoas, a maioria de origem turca. Ela nega as acusações.

— Além da cumplicidade com os assassinatos, ela é acusada de envolvimento em 15 roubos à mão armada, um incêndio criminoso, e dois ataques à bomba. Beate pode ser condenada à prisão perpétua. Quatro homens também são acusados de colaboração com a organização.

— O grupo foi descoberto em novembro de 2011. Dois comparsas de Beate, Uwe Mundlos, 38, e Uwe Boenhardt, 34, suicidaram-se após um assalto a banco frustrado. Beate

morava com os dois homens em um apartamento em Zwickau. Uma arma encontrada com eles foi usada para matar 10 pessoas.

— No local, foi encontrado um vídeo mostrando os corpos das vítimas e identificando a CNS como autora dos assassinatos. Nas imagens, aparecia um desenho da Pantera Cor-de-Rosa, que atualizava um placar de mortes.

— O caso gerou críticas à polícia, que antes de descobrir a célula de extrema-direita, havia atribuído os crimes à máfia turca. O escândalo provocou demissões na área de inteligência. Arquivos de inteligência sobre extremistas de direita teriam sido destruídos após as atividades do grupo virem à tona.

— Na segunda-feira, ao entrar no tribunal, Beate permaneceu de braços cruzados e de costas. A defesa conseguiu a prorrogação do julgamento para 14 de maio, alegando preconceito por parte do juiz.

Número de adeptos dobrou na Alemanha

Em 20 anos, o contingente de neonazistas na Alemanha subiu de 20 mil para 40 mil. São pessoas que falam em criar o IV Reich, realizam acampamentos e fazem atividades recreacionistas que remontam aos antigos germânicos, como disputas de arco e flecha. Os grupos mais visados são ainda os judeus, além de imigrantes (especialmente quando são negros), muçulmanos e, em uma menor escala, italianos e estrangeiros do Leste Europeu.

— Há até grupos de anti-antifascistas, que ameaçam sindicatos e personalidades. Fazem listas de pessoas que devem ser perseguidas. Eu estou nessas listas — diz a professora Michaela Köttig.

O protagonismo da mulher em movimentos nazistas mostra um fenômeno mais amplo, de acordo com Michaela Köttig: a penetração resiliente das ideias nacionalistas e xenófobas na sociedade alemã.

Ela cita três itens que estimulam a adesão de mulheres ao movimento nazista: a falta de reflexão dentro das famílias a respeito da participação no nazismo durante a II Guerra Mundial, o apego dos netos a avós afeitos a ideias nacionalistas (ao mesmo tempo em que mantêm conflitos geracionais com os pais) e o contexto social, genérico, refratário a discutir o nazismo. Isso, segundo ela, forma um ambiente propício.

— Não se politiza o tema (do neonazismo), trata-se dele como se fosse delinquência juvenil. Acompanhar, perseguir ou reprimir a extrema-direita é um problema, porque a sociedade não quer saber disso, por conta do passado. Atualizar o tema do nazismo significa atualizar o papel que as famílias tiveram. Atinge a todos. Melhor ignorar, virar as costas. Minha área de pesquisa é justamente sobre isso, sobre as biografias dessas famílias e sobre as mulheres que se engajam nessas organizações. São biografias de famílias, a partir de entrevistas com famílias em mais de uma geração.

Direita simpatiza com Ahmadinejad

A ideia segundo a qual a economia em crise justificaria a persistência das ideias nazistas na sociedade alemã é contestada por Michaela, que, ao ser perguntada a respeito, responde com certa ironia.

— Melhor seria se as causas fossem econômicas, vinculadas à austeridade. O fato é que, depois da reunificação, passou a vingar a ideia de uma Alemanha grande, única. Em meados dos anos 2000, os movimentos deixaram de ser marginais. Mas eles passaram a se entranhar na sociedade, nas instituições estabelecidas. Começaram a fazer contatos e contaminar as instituições dos mais diversos tipos, como associações de pais. Todas as instituições passaram a ser alvo do movimento. Fica muito mais sutil. A ideia vai se consolidando. De repente, todos estão pensando igual, e ninguém se deu conta.

E sobre a possibilidade de surgir uma figura como a de Adolf Hitler? Michaela não acredita que se chegue a tanto.

— A estrutura democrática da Alemanha não permitiria isso. O número de pessoas que simpatizam com a democracia é muito maior. Ainda assim, não se deve negligenciar a presença desses movimentos.

Quando o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, nega o Holocausto, Michaela diz que a reação geral é de choque. A direita, claro, simpatiza com as declarações dele, e esses grupos se valem dessas manifestações.

Fonte: zerohora
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2013/05/neonazismo-alemao-apresenta-sua-nova-face-4135046.html

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Tribunal alemão rejeita pedido de neonazista acusada de terrorismo

Berlim, 10 mai (EFE).- O Tribunal Regional de Munique rejeitou a reivindicação da neonazista Beate Zschäpe, que pedia a suspensão de seu jugalmento por terrorismo e assassinato múltiplo argumentando parcialidade do juiz.

A corte de Munique desprezou, por considerar infundada, a solicitação apresentada pela defesa da acusada, segundo informações da televisão pública "ARD" e do jornal "Der Tagesspiegel", por isso que o processo poderá ser retomado no dia 14.

O julgamento de Zschäpe, única sobrevivente do grupo Clandestinidade Nacionalsocialista (NSU), foi interrompido no mesmo dia de seu início, na segunda-feira passada, por esse pedido, considerado pela Justiça alemã como uma manobra.

Zschäpe, de 38 anos e há 18 meses em prisão preventiva, é acusada de colaborar com a organização terrorista e assassinato múltiplo: nove imigrantes supostamente assassinados pelo grupo, assim como uma policial, entre 2000 e 2007.

A acusada é a única sobrevivente do grupo que formou com Uwe Böhnhard e Uwe Mundlos, que se suicidaram em novembro de 2001, acossados pela polícia após assaltarem um banco.

A morte dos companheiros da processada mostrou a existência do grupos e seus assassinatos, já que durante anos atribuíram as mortes de oito imigrantes turcos e um grego a ajustes de contas entre estrangeiros.

Zschäpe é acompanhada no banco dos réus por mais quatro neonazistas, acusados de cumplicidade com a NSU, entre eles o suposto autor de um macabro vídeo divulgado após o desmantelamento do grupo que percorre a série de assassinatos cometidos pelo mesmo grupo.

A acusada se entregou quatro dias depois do suicídio de seus companheiros e até agora não se pronunciou com relação às acusações contra si.

Para o julgamento estão previstos 80 encontros até janeiro de 2014, embora estima-se que pode durar até mais. A folha de acusação contém 488 páginas e foram convocadas 606 testemunhas. EFE

Fonte: EFE
http://br.noticias.yahoo.com/tribunal-alem%C3%A3o-rejeita-pedido-neonazista-acusada-terrorismo-140041578.html

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Julgamento quer acabar com o silêncio da "noiva nazi"

Beate Zschäpe entrando no tribunal
Fotografia © Michael Dalder - Reuters
Beate Zschäpe, de 38 anos, é acusada de cumplicidade em dez homicídios xenófobos cometidos entre 2000 e 2007 pelo grupo neonazi alemão Clandestinidade Nacional Socialista. Começa hoje a ser julgada em Munique.

O julgamento de Beate Zschäpe, apelidada pela imprensa alemã de "noiva nazi", começou esta segunda-feira. A mulher, de 38 anos, é suspeita de cumplicidade na morte de oito turcos e alemães de origem turca, um grego e uma agente da polícia, bem como em dois atentados contra imigrantes e 15 assaltos a bancos, naquele que é o maior julgamento de crimes racistas na Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial.

Vestida com um casaco negro e de braços cruzados em tom de desafio, Beate Zschäpe entrou sem algemas no tribunal de Munique virando rapidamente as costas aos fotógrafos e membros da imprensa que a aguardavam, enquanto falava com os advogados, avançou o jornal alemão "Der Spiegel".

Segundo o jornal, os procuradores afirmaram que o grupo escolhia como alvos pessoas mais vulneráveis, que geriam pequenos negócios, como forma de aterrorizar os imigrantes e obrigá-los a abandonar Alemanha pelo medo. Apesar de se ter remetido ao silêncio desde que foi detida pelas autoridades alemãs e de o seu advogado assegurar que se vai manter calada em tribunal, os juízes vão tentar fazer com que Beate Zschäpe revele pormenores sobre o grupo neonazi. Não se sabe muito sobre a única mulher do trio completado por Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt, que se suicidaram em novembro de 2011. Mas segundo a Procuradoria Geral alemã, Beate Zschäpe teve um papel crucial na célula terrorista: ela era uma espécie de "centro emocional do grupo".

O jornal espanhol "La Vanguardia" adianta que a vida de Beate reúne muitos dos elementos característicos dos novos nazis alemães: uma infância sofrida, a família dividida, e uma vivência em ambiente racista e xenófobo. À primeira vista, o olhar suave sugere uma mulher pacífica e alegre no entanto, Beate Zschäpe engana. A denominada "noiva nazi" geria o dinheiro roubado nos assaltos, arranjava as casas onde o grupo vivia e tratava das refeições além de praticar uma "política de boa vizinhança" para não levantar suspeitas.

As "duas caras" de Zschäpe deixaram desconcertados os seus vizinhos de bairro em Zwickau, última morada do grupo, onde ninguém consegue acreditar que a amável mulher de 38 anos e amante da jardinagem tenha tido uma vida dupla como membro de um grupo acusado de dez homicídios racistas, atentados e assaltos a bancos, afirma o jornal.

Nascida a 2 de janeiro de 1975 na cidade de Jena, a pequena Beate ficou a cargo da avó aos dois anos de idade, quando os seus pais se separaram e a sua mãe arranjou outro companheiro e mudou de cidade. Ao deixar a escola, em 1992, tirou um curso de jardinagem, mas passou muito tempo desempregada. Durante esses anos sem perspectivas começou a aproximar-se de movimentos de extrema-direita e conheceu os outros membros do grupo neonazi que iria chocar a Alemanha: Uwe Mundlos e Uwe Bohnhardt.

Zschäpe manteve de início uma relação com Mundlos, que já pertencia a um grupo neonazi e três anos mais tarde ficou noiva de Bohnhardt mudando-se para a casa da sua família. Mas os três continuaram unidos e formaram uma espécie de "família", passando a viver juntos mais tarde num apartamento na cidade de Zwickau.

Segundo o "La Vanguardia", durante um interrogatório policial um dos amigos de Mundlos afirmou que Zschäpe dava a impressão de ser uma rapariga vulgar. "Dava-me a sensação que não tinha nada na cabeça, que era fútil", disse, acrescentando que enquanto Mundlos era filho de um professor e tinha as ideias bem formadas, ela parecia não ter ideias politicas e pouca cultura. No entanto, o inseparável trio rapidamente radicalizou as suas ações e passou a denominar-se Clandestinidade Nacional Socialista (NSU, na sigla em Alemão), chamando a atenção dos serviços secretos do país.

A 26 de janeiro de 1998 a polícia fez buscas a uma garagem alugada por Zschäpe e encontrou explosivos, detonadores e um exemplar de "Progromly", uma versão antisemita do popular jogo de mesa "Monopoly". No entanto o grupo conseguiu escapar às autoridades policiais e passou à clandestinidade. Durante 14 anos nunca mais se soube deles, tempo em que Zschäpe adotou numerosas identidades falsas e criou uma imagem de cidadã vulgar, apaixonada pelos seus gatos Lilly e Heidi e amiga dos seus vizinhos. Enquanto Mundlos e Böhnhardt praticavam homicídios e assaltavam bancos, Beate mantinha as aparências de cidadã comum. Clandestinamente, Beate mantinha a coesão da célula, mas para o exterior representava o papel de vizinha simpática. Tornou-se muito popular na vizinhança, falando com toda a gente e mantendo boas relações no bairro, enquanto os seus companheiros se mantinham na sombra, agindo sempre com grande discrição.

Os vizinhos de sempre consideraram Beate Zschäpe uma pessoa normal. Viam-na estender a roupa no varal, fazer as limpezas da casa e cozinhar e ir às compras. Enquanto isso, os dois homens saíam em rondas assassinas. Desde o princípio, os papéis eram bem definidos dentro do grupo: Mundlos era o cérebro, Böhnhardt, especialista em armamento, era o executor e Beate a dona de casa e mãe da "família".

A 4 de novembro de 2011, Mundlos e Bohnhardt apareciam mortos numa caravana. A versão oficial afirmava que se tinham suicidado quando se viram cercados pela polícia após terem assaltado um banco e dias mais tarde, Zschäpe entregava-se às autoridades, após ter pegado fogo ao apartamento em Zwickau onde viviam. Só então a Alemanha "despertou" para o trio.

Zschäpe acabou por ser a única responsável viva da mais sangrenta série de violência da extrema-direita alemã após a Segunda Guerra Mundial. Desde que foi presa, a "noiva nazi" recusou-se sempre a falar, tendo permanecido impassível e em silêncio. Agora, com o início do julgamento, espera-se que muitos dos segredos que se ocultam atrás desse silêncio sejam tornados públicos.

Fonte: Diário de Notícias (Portugal)
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3203073

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Alemanha - Adiado julgamento de neonazis após exclusão de imprensa estrangeira

O julgamento de uma neonazi acusada de envolvimento no homicídio de nove imigrantes na Alemanha foi adiado para permitir rever o processo de acreditação de jornalistas, depois da polémica exclusão de media dos países de origem das vítimas.

Adiado julgamento de neonazi após exclusão de media estrangeiros
DR. MUNDO. 16:25 - 15 de Abril de 2013 | Por Lusa

O início do julgamento de Beate Zschaepe, único membro sobrevivente de um grupo neonazi acusado de dez homicídios, estava marcado para quarta-feira num tribunal de Munique e foi adiado para 6 de Maio.

A decisão foi tomada após o Tribunal Constitucional da Alemanha ter ordenado aos juízes de Munique que aumentassem o acesso dos ‘media’, atribuindo pelo menos três lugares suplementares a jornalistas estrangeiros.

O Constitucional pronunciou-se depois de uma queixa apresentada pelo jornal turco Sabah contra a forma como o tribunal de Munique atribuiu as 50 acreditações - por ordem de entrada dos pedidos, deixando de fora os jornalistas turcos e gregos, nacionalidades da maioria das vítimas.
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Zschaepe, 38 anos, julgada juntamente com quatro presumíveis cúmplices, é acusada de participação nos assassínios, entre 2000 e 2006, de oito imigrantes turcos e um grego, e, em 2007, de uma polícia alemã.

A mulher é também acusada de envolvimento em dois atentados contra comunidades estrangeiras e 15 assaltos a bancos, segundo a ata de acusação.

Os outros dois membros do grupo Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU), Uwe Boehnhardt e Uwe Mundlos, suicidaram-se em Novembro de 2011, durante um cerco policial montado na sequência de um assalto a um banco.

Os quatro cúmplices em julgamento não pertenciam ao grupo e são acusados de ter dado ajuda logística

Fonte: Notícias ao Minuto (Portugal)
http://www.noticiasaominuto.com/mundo/63028/adiado-julgamento-de-neonazi-ap%C3%B3s-exclus%C3%A3o-de-media-estrangeiros

domingo, 10 de março de 2013

Revés judicial para partido neonazi alemão (NPD)

O partido alemão de ultradireita NPD fracassou hoje em seu intento para que a máxima corte do país ratifique sua constitucionalidade, sofrendo um precoce revés judicial ante o debate por sua possível ilegalidade.

O Tribunal Constitucional em Karlsruhe rejeitou a solicitação do partido xenófobo ao considerar que a legislação não prevê a possibilidade de declarar constitucional uma força política.

Representantes do governo e da oposição celebraram a notícia.

O NPD, cujo lema é "Trabalho, família, pátria", é um partido de ultradireita abertamente hostil com os estrangeiros e que mantém vínculos comprovados com o submundo neonazi.

Depois do rechaço da Justiça, o partido anunciou que recorrerá ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos e se mostrou "otimista" de conseguir ali o que não conseguiu na Alemanha.

A Câmara alta do Parlamento alemão decidiu em dezembro tentar novamente tornarl ilegal o NPD. O processo é polêmico, porque muitos especialistas e inclusive ministros do governo Angela Merkel creem que se fracassar isto serviria de propaganda para o partido.

Para que a iniciativa tenha êxito, os demandantes terão que provar que o NPD é inimigo da ordem constitucional, uma ameaça à democracia e uma força baseada em princípios violentos.

Há dez anos, outra tentativa de tornar ilegal o NPD fracassou quando a corte apontou que os infiltrados das forças de segurança na cúpula do partido proporcionaram as provas para sua ilegalização.

dpa

Editor: Pablo Kummetz

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/rev%C3%A9s-judicial-para-partido-neonazi-alem%C3%A1n/a-16647751
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Alemanha suspende pagamento de subsídios a partido neo-nazi (Expresso, Portugal)
Tribunal rechaça prova de "pureza democrática" do ultradireitista NPD (EFE/Terra)
Alemanha nega ao ultradireitista NPD a etiqueta de "leal à Constituição" (ABC)
La ultraderecha alemana recurrirá al Tribunal Europeo para evitar prohibición (EFE/Terra)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Clandestinidade Nacional-Socialista causa alarme na Alemanha

A ministra alemã da Justiça disse que
era hora de analizar a atuação do
serviço secreto sobre a cena neonazi.
A pior hipótese parece se confirmar: a justiça alemã crê que uma dezena de assassinatos até agora sem esclarecimento são obra de uma mesma célula neonazista.

Neste domingo (13.11.2011), durante uma visita à cidade de Leipzig, a chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu se sentir preocupada pelo que pode se esconder por detrás de dez assassinatos atribuídos a um comando neonazi, cometidos na última década em distintas partes de Alemanha. O caso deixa em evidência estruturas e procedimentos “que não podíamos imaginar. Por isso devemos prestar atenção sempre a qualquer forma de extremismo”, apontou a chefe de governo alemão.

O ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich, repetiu Merkel, qualificando os assassinatos pela primeira vez como atos de terrorismo. “Ao que parece estamos lidando com uma nova forma de terrorismo de extrema-direita”, disse Friedrich, aludindo aos resultados parciais das investigações. Elas sugerem que uma mesma célula neonazi tirou a vida de oito pequenos empresários turcos e um grego, entre os anos de 2000 e 2006, e a uma policial alemã, em 2007. Nenhum desses casos havia sido resolvido.

Os três supostos assassinos não eram de todo desconhecidos das autoridades alemãs. Na década de noventa eles se ligaram ao grupo de extrema-direita Defesa da Pátria, da Turíngia; mas a polícia perdeu o rastro deles. “Isto demonstra a tendência deste e outros governos em ignorar o extremismo de direita e o perigo que representam sua ideologia e sua estrutura”, assinalou a presidenta do Partido Verde, Claudia Roth, no sábado (12.11.2011). A se confirmar as suspeitas dos investigadores, este seria um dos piores casos de violência neonazi na Alemanha desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Se autodenominavam como Clandestinidade Nacional-Socialista

O achado dos cadáveres desses neonazis permitiu
relacionar assassinatos até então não resolvidos.
Os investigadores começaram a relacionar os assassinatos quando dois dos três suspeitos, Uwe M. e Uwe B., apareceram mortos em um automóvel que eles mesmos incendiaram, imediatamente antes de se suicidar com uma pistola. Os dois neonazis haviam acabado de roubar um banco - sua fonte de financiamiento, segundo o seminário Der Spiegel – quando perceberam que vários policiais haviam seguido a pista deles. A arma registrada da agente assassinada foi encontrada no automóvel dos homens.

A terceira integrante do grupo neonazi, Beate Z., foi presa em 8 de novembro, acusada de haver ateado fogo à casa que os três compartilhavam na cidade alemã de Zwickau, Estado federado da Saxônia, com a intenção aparente de destruir toda informação comprometedora. Der Spiegel informou que a pistola usada para matar os nove imigrantes foi encontrada na habitação comum. Outro achado importante: um vídeo de quinze minutos com testemunhos dos neonazis.

No vídeo, o trio - autodenominado Clandestinidade Nacional-Socialista - confessa ter assassinado os empresários e a agente policial, mostra fotografias de algumas das vítimas e atribuem a si outros atentados; entre eles, a explosão de uma bomba em 2004 que deixou 22 pessoas feridas numa rua de Colônia habitada sobretudo por imigrantes turcos. O grupo adverte na gravação que, “se não se produzem mudanças fundamentais na política, na imprensa e na liberdade de expressão”, realizaria novos ataques.

Forças de segurança alemãs estariam implicadas?

Uwe M., Beate Z. e Uwe B, os três membros do
grupo neonazi Clandestinidade Nacional-socialista.
Os dez assassinatos já haviam causado certo grau de comoção na Alemanha, mas a nova reviravolta que tomaram as averiguações pertinentes converteram o assunto em um delicado tema de política interna; não só porque volta a realçar a inconsistência da luta contra a violência racista e xenófoba praticada sistematicamente pela ultradireita, uma censura que se faz ao Estado, no geral, sem que ninguém dê um passo a frente para responder pelas omissões. Senão porque, neste caso, instituições concretas poderiam terminar assumindo responsabilidades.

Longe da prisão de uma quarta pessoa, suspeita de ter facilitado sua permissão para conduzir e até seu passaporte para apoiar as atividades dos neonazis em questão, o que atraiu a atenção da opinião pública alemã neste 13 de novembro foi a reportagem do diário Bild, segundo o qual novos indícios apontam inclusive que os neonazis podiam ter cúmplices nas forças de segurança, que podiam estar implicadas nos crimes cometidos pelo grupo Clandestinidade Nacional-Socialista ou, na melhor das hipóteses, ter conhecimento deles, o que explicaria como tiveram tanto sucesso atuando durante mais de dez anos sem serem descobertos.

Citando fontes governamentais - entre elas, o especialista em assuntos de política interna, Hans-Peter Uhl –, o jornal alemão reportou o confisco de documentos de identidade na casa dos neonazis, que em geral, só são obtidos por investigadores que trabalham incógnitos para o serviço de inteligência alemão. A ministra da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, disse que seria necessário esclarecer como se se deu a atuação do serviço secreto no seio das organizações de extrema-direita na última década; o PKG, Grêmio Parlamentar de Controle, que supervisiona o trabalho do executivo e dos serviços de inteligência, dedicará-se nessa tarefa nos próximos dias.

Autor: Evan Romero-Castillo
Editora: Claudia Herrera Pahl

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,15529659,00.html
Tradução: Roberto Lucena

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