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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Crise diplomática entre Romênia e Hungria pela minoria magiar romena

Gábor Vona, extremista do Jobbik
Bucareste/Budapeste, 14 ago (EFE).- As declarações de um líder ultranacionalista húngaro na Romênia a favor de uma maior autonomia da minoria magiar nesse país voltou a elevar a tensão diplomática entre os países vizinhos.

Cerca de um milhão e meio de húngaros étnicos vivem na Romênia, sobretudo em três condados no centro da Transilvânia, um território que foi administrado por Budapeste até 1918, quando ela o perdeu depois do fim da Primeira Guerra Mundial.

A comunidade húngara na Transilvânia tem sido frequente motivo de discórdia entre ambos países, e a tensão já aumentou em fevereiro em uma disputa sobre o uso oficial da bandeira da minoria húngara na Romênia, de cor azul claro com a uma franja amarela.

Com esta conjuntura, as declarações do líder do partido ultranacionalista Jobbik, Gábor Vona, no sábado passado na Transilvânia a favor de uma maior autonomia geraram mal-estar em Bucareste.

"Não renunciaremos nossa meta de que um dia todos os húngaros vivam em uma pátria", declarou Vona, e acrescentou que se os interesses magiares só podem ser resolvidos "assumindo os conflitos, este será assumido".

Essas declarações irritaram o presidente romeno, Traian Basescu, que afirmou na segunda-feira que "a agressiva política de Budapeste" com respeito as minorias húngaras que vivem nos países vizinhos, sobretudo na Eslováquia e Romênia, perturba seus governos.

"Este ano será o último em que os políticos húngaros poderão atuar como querem na Romênia", sustentou o chefe de Estado, que avaliou que se havia "passado dos limites".

O Ministério de Relações Exteriores húngaro procurou abaixar a tensão esta semana com um comunicado ao recordar que o "Jobbik é um partido de oposição, e que não participa da composição do Governo húngaro", que não compartilha sua responsabilidade.

"O governo húngaro está comprometido com as bases e metas da associação estratégica húngaro-romena", acrescentou.

O ditador comunista romeno Nicolae Ceausescu tratou de diluir o peso dos húngaros na Transilvânia fomentando o traslado de romenos para este território, mas desde a chegada da democracia em 1989 a minoria magiar ganhou direitos, como um sistema escolar em sua língua materna.

Contudo, as formações que representam os húngaros na Romênia pedem mais direitos e influência sobre a administração e a educação.

Alguns analistas consideram que os ultranacionalistas húngaros utilizam os magiares que vivem na Romênia para enaltecer seus potenciais votantes.

"Sem dúvida, Vona quer fazer barulho para que se lhe ouçam bem em Budapeste. Aterriza na Romênia, bate com o punho no peito como um grande nacionalista e assim recebe os votos", explicou hoje à EFE o historiador romeno Stelian Tanase.

"Estamos falando de um extremista e um antissemita que explora os sentimentos de uma periferia frustrada", avalia Tanase.

As declarações do líder ultra húngaro também afetaram a difícil coabitação entre a coalizão governamental de centro-esquerda, encabeçada pelo primeiro-ministro social-democrata, Victor Ponta, e o presidente de centro-direita Basescu.

O Executivo repreendeu a Basescu por sua política de mão tendida ante a Hungria, pela amizade que este mantém com o chefe do governo húngaro, Viktor Orbán, criticado pela Comissão Europeia por algumas leis que consideram que debilitam a democracia.

A nova Constituição húngara promovida por Orbán e que entrou em vigor em 2012 afirma que o Estado deve assumir a responsabilidade pelos milhões de húngaros que vivem no exterior, sobretudo na Romênia, e em menor medida na Eslováquia e Sérvia.

Além disso, especifica que já não se requer a residência na Hungria para poder votar nas eleições húngaras nem para que os húngaros que vivem em outros Estados adquiram a nacionalidade, uma decisão que levantou críticas em Bucareste e em Bratislava.
EFE. 14/08/2013 (19:04)

Fonte: EFE/El Confidencial (Espanha)
http://www.elconfidencial.com/ultima-hora-en-vivo/2013-08-14/rifirrafe-diplomatico-entre-rumania-y-hungria-por-la-minoria-magiar-rumana_17672/
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Basescu muda de atitude nas relações romeno-húngaras (Presseurop)

Observação: não saiu nenhuma notícia no Brasil sobre o caso, pelo menos não achei e não vi. Como também não tenho visto nenhuma menção ao caso de Gibraltar (entre Espanha e Reino Unido).

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Holocausto na Eslováquia - Monsenhor Josef Tiso

Um padre enviou 52.000 judeus aos nazis.
Em três meses o presidente da Eslováquia, Monsenhor Tiso enviou 60% dos judeus do país à morte na Alemanha.

Este artigo faz parte de uma série que segue o título: A Shoá em perspectiva.

Texto de Marc-André Charguéraud
Idées reçues, paradoxes, polémiques, pages oubliées
Cordialmente, Marc-André Charguéraud

Encontre também no meu blog os artigos recentemente publicados.
A Shoah revisitada (http://la.shoah.revisitee.org/)

Hitler e Monsenhor Tiso
De março a junho de 1942, a Eslováquia mandou para para os alemães 60% dos judeus que viviam ao sul de seu território, ou seja 52.000 de 87.000. [1] « o primeiro país depois do Reich a deportar os judeus » ver os campos da morte na Polônia.[2] Tão numerosos, tão cedo, durante as primeiras semanas da Shoá, tão rapidamente em três meses, um triplo recorde que condena os dirigentes políticos do país e seu presidente a estarem na vanguarda, um padre católico, Mons. Josef Tiso.

As testemunhas não tinham nenhuma ilusão sobre o destino dos judeus. Mgr. Guiseppe Burzio, o agente diplomático do Vaticano na Bratislava, telegrafou à Roma em 9 de março de 1942, o primeiro-ministro Vojtekh Tuka confirmou-lhe « a deportação de 80.000 pessoas na Polônia a mercê dos alemães e uma condenação de grande parte a uma morte certa ».[3] Simultaneamente Mgr. Angelo Rotta, núncio em Budapeste, escreveu a Pio XII : (os deportados) estão condenados « a uma destruição certa e à morte. Eles colocam suas esperanças e confiança em Sua Santidade. »[4] Logo após o início das deportações, o Vaticano reagiu. Ele não se comprometeu e só enviou duas notas de âmbito limitado para Tuka. Roma explicou que é um erro pensar que os judeus foram enviados ao governo central para o Departamento de trabalho: eles estão sendo exterminados.[5]

O governo eslovaco não pode alegar ignorância. Os alemães lhe pediram 20.000 trabalhadores robustos e ele ofereceu 20.000 judeus e insistiram para que suas famílias os acompanhassem. E os trabalhadores, as crianças e os idosos que parem? As autoridades eslovacas querem ter certeza de que esses judeus jamais retornem à Eslováquia. Para obter o acordo com os alemães, eles vão pagar 500 Reichsmark por cada judeu deportado.[6] É a única vez na Europa que um país paga aos nazis para que eles se livrem permanentemente de seus judeus.

A Eslováquia era profundamente antissemita. Em 9 de setembro de 1941, seu Parlamento adota um « Código judaico » que incorporava todas as medidas antijudaicas alemãs. Ele excluia a maioria dos judeus da vida econômica, política e social do país. Os alemães aplaudiram, sublinhando que este código foi publicado por « um Estado dirigido por um padre católico ».[7]

Em 26 de abril de 1942, uma carta pastoral publicada por bispos da Eslováquia repetia as velhas acusações: « A influência judia é perniciosa (…) não somente economicamente mas também nas esferas culturais e morais, eles prejudicam nossos fiéis. »[8] Em consequência os bispos não se opõem « aos atos legais do governo na tomada de medidas visando eliminar a influência nefasta dos judeus »[9] Isso encorajou o governo a avançar.

O primeiro-ministro Tuka é a imagem do país. Suas declarações antissemitas rivalizavam com a dos nazis. « Minha missão é de livrar a Eslováquia desta praga... os judeus são uma raça insociável, inassimilável; são elementos perniciosos e nocivos que devem ser eliminados sem serem levados em conta... para liberar a Eslováquia da peste hebraica, Pour libérer la Slovaquie de la peste hébraïque, não existem outros meios que não a deportação forçada em massa ».[10]

Monsenhor Tiso está na mesma onda. Em um discurso, em 15 de agosto de 1942, ele acrescenta uma referência cristã aberrante: « que o elemento judeu tem prejudicado a vida dos eslovacos, acho que ninguém mais precisa ser convencido disso... e as coisas seriam bem piores se não fôssemos nos livrar deles. E fazemos isso de acordo com uma ordem de Deus: Eslováquia, vá, livre-se de seu parasita...»[11]

« O problema é que o presidente da Eslováquia é um sacerdote. Que a Santa Sé não pôde colocar Hitler, todos entendem. Mas manter um padre, que lhe inclui? » escreveu Mons. Domenico Tardini num memorando interno do Vaticano. Ele acrescentou: « Há dois tolos: Tuka que atua sobre Tiso, um padre que deixa fazer! »[12] Na verdade o presidente Tiso está encantado que o outro fará o « trabalho sujo ».

Em junho de 1942 Mons. Tiso decide pôr fim às deportações sem que os alemães reagissem. Assim ele poderia, portanto, resistir às pressões de seus próprios ministros e evitar deportações em massa na primavera de 1942.[13] Especialmente desde que, conforme descrito por um historiador, « a deportação não foi um fruto de pressões alemães mas uma demanda dos eslovacos ».[14]

Em 26 de junho de 1942, desapontado com esta decisão sobre as deportações, o embaixador alemão na Bratislava, Hans Ludin, elaborou feliz uma nota com a descoberta para Berlim: « A evacuação dos judeus da Eslováquia está sob um impasse. Devido a influência do clero e a corrupção de alguns funcionários, 35.000 judeus Juifs se beneficiaram de uma consideração especial com base na qual eles não devem ser evacuados... »[15]

O Vaticano protestou sem estardalhaço, e a população não reagiu antes à brutalidade das milícias eslovacas durante as detenções e embarque dos judeus nos vagões. Para o governo, deve-se manter alguns « bons judeus » e suas famílias. Os funcionários, os empresários, os financiadores que são essenciais à vida econômica e administrativa do país.

Durante dois anos, o Presidente Tiso resistiu às ofensivas de seus ministros e dos alemães para que a « solução final » fosse retomada. « Este é o primeiro país satélite onde os alemães enfrentam uma resistência suficientemente forte para que eles interrompam seus planos para uma solução final », escreveu um historiador.[16]

Quando o exército vermelho se aproximava, a resistência eslovaca se levantou em 29 de agosto de 1942. A Wehrmacht ocupou o país e reprimiu a insurreição. A Gestapo chegou, e de 13 a 14.000 judeus são deportados sob o pretexto de que eles estariam ajudando os insurgentes. Em 29 de outubro de 1944, Mons. Burzio recebeu uma mensagem urgente de Pio XII : « Encontre-se imediatamente com o presidente Tiso e lhe informe que Sua Santidade sente uma profunda tristeza de que tantas pessoas, em contrário aos princípios de justiça e de humanidade, sofram neste país devido à sua nacionalidade e raça. » Mensagem que o Papa reitera de forma análoga em 21 de novembro.[17]

Sem resultado. Tiso não é capaz mais de agir. Ele, no entanto, continua a repetir seu ódio aos judeus. Em 8 de novembro de 1944, ele escreveu a Pio XII : « O governo da República eslovaca que é acusado sobre as ações que executou contra os ciganos e judeus, não as fez por razão de nacionalidade ou de origem étnica, mas em nome do dever de defender a nação contra os inimigos que trabalham a vários séculos para a sua destruição. »[18]

Cerca de 70.000 judeus foram deportados da Eslováquia, 65.000 não retornaram.[19] O pior é que não estamos falando insuficientemente, são 52.000 judeus que foram entregues voluntariamente aos alemães pelo Presidente Tiso e seu Primeiro-Ministro Tuka. Tiso é um padre. Pio XII, portanto, poderia tê-lo convocado em Roma, e porque não destitui-lo, ameaçar-lhe de excomunhão e de tomar outras medidas, se necessário.[20] O Papa se contentou apenas em lhe chamar à ordem para lhe retirar o título de Monsenhor.[21]

Copyrigth Marc-André Charguéraud. Genebra. 2010
Encontre em meu blog: A Shoah revisitada (http://la.shoah.revisitee.org/) outros artigos recentemente publicados.
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[1] MORLEY John, Vatican Diplomacy and the Jews during the Holocaust, 1939-1943, New York, 1980, p. 84.

[2] FRIEDLANDER, Saul, Les années d’extermination, l’Allemagne nazie et les Juifs, 1939-1945, Seuil, Paris, 2008, p. 301.

[3] BLET Pierre, Pie XII et la Seconde Guerre Mondiale, Perrin, Paris, 1997, p. 193.

[4] FABRE Henri, L’Eglise catholique face au fascisme et au nazisme, Editions Espaces de Liberté, Bruxelles, 1994, p. 330.

[5] HILBERG Raul, La destruction des Juifs d’Europe, Fayard, Paris, 1988, p. 637.

[6] GUTMAN Ysrael, ed. Encyclopedia of the Holocaust. Macmillan Publishing, New York-London, 1990, p. 1365.

[7] FABRE, op. cit. p. 327. PHAYER John Michael, The Catholic Church and the Holocaust, 1930-1965, Indiana University Press, Bloomington, Indiana, 2000, p. 87

[8] Morley, op. cit. p. 85.

[9] VAGO, Bela et MOSSE, George, Ed. Jews and non Jews in Eastern Europe, 1918-1945, John Wiley, New York, 1974, p. 226.

[10] FABRE, op. cit. p. 336.

[11] MICCOLI Giovanni, Les dilemmes et les silences de Pie XII, Editions Complexes, Bruxelles, 2000, p. 361.

[12] FABRE, op. cit. p. 332. Mgr. Tardini est Secrétaire de la Congrégation des Affaires ecclésiastiques.

[13] 4 000 Juifs seront encore déportés entre juin et novembre 1942.

[14] FRIEDLANDER, op. cit. p. 468.

[15] FRIEDLANDER, op. cit. p. 469.

[16] VAGO et MOSSE, op. cit. p. 237. Citant Léon Poliakov.

[17] GRAHAM Robert, Pius XII and the Holocaust, Catholic League for Religious Civil Rights, Milwaukee, Wisconsin, 1988, p. 65 et 67.

[18] MICCOLI, op. cit. p. 336.

[19] FRIEDLANDER, op. cit. p. 642.

[20] FABRE, op. cit. p. 353.

[21] PHAYER, op. cit. p. 14.

Categorias: Tags: allemagne, bratislava, budapest, camps de la mort, destruction, gouvernement central, Juif, juifs, juin 1942, nazis, Premier Ministre Tuka, reich, reichsmark, slovaque, Slovaquie, tiso, Vatican, Wehrmacht

Fonte: La Shoah Revitée/Sefarad.org (Suíça/França)
http://www.revisitee.org/art-13.html
http://sefarad.org/?p=2262
Tradução: Roberto Lucena

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