O presidente da Romênia promulgou uma lei que penaliza a negação do Holocausto e o fomento do Movimento Legionário fascista com sentenças de até três anos de prisão.
O presidente Klaus Iohannis assinou na terça-feira emendas a uma legislação já existente, aprovadas no mês passado pelo Parlamento.
A legislação também proíbe organizações e símbolos fascistas, racistas, xenofóbicos, e promover culpados de crimes contra a humanidade. As sentenças serão de até três anos de prisão.
A negação do Holocausto se refere a negar a participação da Romênia no extermínio de judeus e Romanis (ciganos) entre 1940 e 1944. Cerca de 280.000 judeus e 11.000 Romas, ou ciganos, foram assassinados durante o regime pró-fascista do ditador Marechal Ion Antonescu.
A Romênia tem poucos grupos radicais de direita como o Noua Dreapta, que poderia se ver afetado pela lei.
AP 22.07.2015 - 08:46h PST
Fonte: 20minutos (Espanha)
http://www.20minutos.com/noticia/b85789/rumania-prohibe-simbolos-fascistas-y-negar-el-holocausto/
Tradução: Roberto Lucena
Ver mais:
Rumania prohíbe símbolos fascistas y negar el Holocausto (Pulso, México)
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quarta-feira, 22 de julho de 2015
sábado, 27 de junho de 2015
Os incompatíveis. À luz do passado fascista de Mircea Eliade através de Mihail Sebastian
Mihail Sebastian // Mircea Eliade |
Por Juan Forn
Como Heidegger, Mircea Eliade também tinha um esqueleto no armário. Como Heidegger, os pecados políticos de Eliade implicaram numa traição a um ser querido. No caso de Heidegger, sua amante, a jovem Hannah Arendt. No caso de Eliade, seu melhor amigo de juventude, o escritor Mihail Sebastian. Diferentemente de Heidegger, Eliade nunca voltou a ver sua vítima: Mihail Sebastian morreu um ano depois do término da Segunda Guerra. Mas tal como Heidegger foi (para muitos incompreensivelmente) perdoado por Arendt, Mihail Sebastian terminou condenado sem resolver a questão com Eliade na tumba, e quando seu cadáver estava há mais de quatro décadas enterrado, Eliade passou este mesmo tempo desfrutando sua glória acadêmica nos Estados Unidos.
Talvez seja imprescindível ser judeu e romeno para entender em sua justa proporção a trágica história de Eliade e Sebastian. Ou talvez o alcance em ler a formidável novela autobiográfica "El regreso del húligan" (O regresso do hooligan), de Norman Manea (e seu livro de contos "Felicidad obligatoria" e seus ensaios como "Payasos. El dictador y el artista"), para entender que uma história não termina até que alguém a conte, alguém para quem essa história contém cifrada sua identidade como escritor.
Vamos por partes. Norman Manea é judeu e romeno ("um judeu do Danúbio" como prefere dizer ele), nascido trinta anos mais tarde de Eliade e Sebastian na Bucovina, no confim do Império Austro-Húngaro, que depois da Primeira Guerra se converteu em território romeno. Ao contrário de seus vizinhos, a Romênia (o mais latino dos países mitteleuropeus, ou Europa Central) pelejou aquela guerra no grupo oposto ao Kaiser e, no reparto posterior à vitória, o Tratado de Versalhes a premiou com os territórios da Bucovina e da Bessarábia. Nunca foi tão grande e próspero o território romeno (Bucovina, por exemplo, hoje pertence à Ucrânia); nunca foi mais mentiroso o comportamento dos romenos: na encruzilhada, a que vai do ano '30 até a entrada na Segunda Guerra ao lado dos nazis, Norman Manea situa o começo da quebra moral de seu país, com a escalada nacionalista antissemita, que não só havia de arrasar com a amizade entre Eliade e Sebastian, como que, décadas depois, terminaria convertendo a Romênia de Ceaucescu no único regime totalitário do mundo que praticava o comunismo e o fascismo ao mesmo tempo.
Eliade e Sebastian se conheceram em meados dos anos '20 ao ingressar na Universidade de Bucareste. Os dois queriam ser escritores, os dois mostravam um talento igualmente promissor, os dois eram (como os também jovens Emil Cioran e Eugene Ionesco) discípulos do famoso professor de lógica e metafísica Nae Ionesco. Eliade era, como seu mestre, cristão ortodoxo. Sebastian, cujo verdadeiro nome era Iosef Hechter (já veremos porque adotou em seus documentos esse pseudônimo em 1935), havia nascido no mesmo povoado do seu mestre, Braila, mas era judeu. A amizade entre ambos os jovens se desenvolveu sob a tutela de Ionescu e de uma jovem chamada Nina Mares, que seria primeiro namorada platônica de Sebastian e depois se casaria com Eliade. Nina passava à máquina os primeiros textos de Eliade e Sebastian enquanto eles percorriam o país dando conferências como membros da Associação Cultural Criterion, pregando o advento de uma nova literatura romena (eram anos de fervente curiosidade intelectual naquele país: para entendê-lo cabalmente, pode-se mencionar o fato de que os editores franceses, italianos e alemães vendiam quase uma décima parte de sua produção a livrarias romenas).
Sebastian adquiriu logo renome como jornalista ao se graduar, Eliade preferiu ensinar na universidade (uma viagem pela Índia que fez em fins dos anos '20 definiu a orientação intelectual de sua carreira), mas os dois jovens seguiam apostando em segredo pelas novelas que estavam escrevendo e que o professor Ionescu havia prometido prefaciar. Assim chegamos ao ano de 1934. Sebastian termina sua novela e a entrega a Ionescu para que ele escreva o prólogo. Entretanto, chamuscado pelos novos ares que sopravam da Itália e Alemanha, Nae Ionescu começou a se distanciar do cosmopolitismo pan-europeu e a predicar as bondades do fascismo mussoliniano e do programa de depuração nacionalista que pregava Adolf Hitler direto das páginas de Mein Kampf. Ionescu não havia se juntado ao movimento ultranacionalista Guarda de Ferro (fato que produziria a falência da Criterion), mas o texto que escreve para a novela de Sebastian (uma saga sobre os judeus do Danúbio intitulada "Desde hace dos mil años") é de uma virulência estremecedora. Em todo o prólogo se refere a Sebastian não pelo pseudônimo escolhido mas por seu sobrenome judeu, sustenta que a identidade romena se baseia de forma "inalienável" no cristianismo ortodoxo e diz coisas tão incendiárias como: "Iosef Hechter, tu estás enfermo porque só podes sofrer. Iosef Hechter, não sentes como se apoderam de ti o frio e as trevas?"
Ainda que Sebastian comentara perturbado a Eliade quando lhe mostrou o prólogo: "É uma autêntica condenação à morte", não se atreveu a retirá-lo antes da publicação. O livro produziu o previsível escândalo. Acusado pela esquerda e pela direita (de "inimigo" pelos judeus e de "pária" pelos nacionalistas), Sebastian não só adotou em seus documentos seu pseudônimo literário senão que escreveu uma resposta a todos aqueles ataques, um livro tão breve como potente que intitulou: "Cómo me hice húligan" ["Como me tornaram um vândalo"] (nesse mesmo ano Eliade havia publicado finalmente sua novela, chamada "Los jóvenes bárbaros"- título em romeno Huliganii -; é sugestivo assinalar que, nos anos comunistas na Romênia, aquele termo se usaria para assinalar a todo o inimigo do regime). O certo é que Eliade foi um dos poucos integrantes da Criterion que saiu em defesa de Sebastian, mas lentamente ele também adotou o rumo ideológico de seu mentor Ionescu, para então alcunhar "o Sócrates legionário". Em 1936 Eliade escreveu: "Sem delongas, sim, Mussolini é um tirano. Mas me interessa uma só coisa: que ele transformou um Estado de terceira ordem em uma das potências do mundo" (este sugestivo olhar internacional não se limitava à Itália; também disse o seguinte sobre a Hungria e Bulgária em 1937: "Dos chefes políticos da Transilvânia heroica, castigados e humilhados durante séculos pelos húngaros, o povo mais imbecil que existe na História depois dos búlgaros, esperamos nós uma Romênia nacionalista, armada, vigorosa, implacável e vingadora").
Muito já discutiram os intelectuais romenos que ficaram e os que se exilaram se Eliade pertenceu ou não à Guarda de Ferro. O certo é que, quando em 1938 a cúpula legionária (incluindo Ionescu) foi presa, Eliade se trasladou de apuro a Londres, onde logo se somou à delegação diplomática do governo militar de Antonescu na Inglaterra, até que a entrada da Romênia na guerra do lado nazi o obrigou a se trasladar para a embaixada de seu país em Lisboa (em Portugal Eliade passou toda a guerra; ali escreveu fervorosos elogios ao tirano Salazar e aos "mártires" franquistas da Guerra Civil espanhola). Sebastian permaneceu na Romênia, sobreviveu por milagre às purgas antissemitas e, em determinado momento de 1942, quando Eliade voltou à Bucareste incógnito (levando uma mensagem de Salazar para Antonescu), tentou contatá-lo para lhe pedir ajuda, mas Eliade evitou vê-lo. Até então, Sebastian outorgava o benefício da dúvida a seu amigo, mas esse episódio decretou o fim da amizade.
Em agosto de 1944, caiu o regime pró-nazi de Antonescu, os russos entraram em Bucareste e a Romênia se juntou aos Aliados na arremetida final contra a Alemanha. Em dezembro de 1944, Sebastian se inteirou da morte de Nina Eliade e escreveu em seu diário: "Uma onda de recordações se levanta do passado. Seu quartinho na pensão: a máquina de escrever na qual copiou as novelas de Mircea e minha, seu inesperado amor, sua boda civil em segredo, nossos anos de amizade fraternal e depois os anos de confusão e desintegração até a ruptura, a inimizade e o esquecimento. Tudo está morto, desaparecido, perdido para sempre". Menos de três meses depois, reabilitado pelo novo governo com uma cátedra na recém fundada Universidade Livre e Democrática, Mihail Sebastian esperava o bonde para dar sua primeira aula quando um caminhão o atropelou e o matou na hora. Eliade escreve a respeito em seu Diário português: "Tenho me inteirado pela Rádio Romênia de que Mihail Sebastian morreu ontem. A notícia me transtorna. Em meus sonhos era uma das poucas pessoas que me haviam feito Bucareste ser suportável. Inclusive durante meu clímax legionário o senti perto de mim. Contava com essa amizade para voltar à vida e à cultura romenas. E agora se foi atropelado por um caminhão! Com ele se vai também minha juventude. A maioria da gente que quis está mais além. Sinto-me mais só que nunca. Adeus, Mihail".
Terminada a guerra, Eliade se trasladou para Paris, onde foi professor da Ecole des Hautes-Etudes. Nos anos '50 emigrou para os Estados Unidos, onde alcançou a celebridade mundial como estudioso das religiões e onde morreu, em Chicago, em 1986. Diferentemente de Cioran, que na velhice confessou com escárnio suas simpatias legionárias da juventude (em seus diários evoca várias conversas com Ionescu nas quais, corado, pergunta-se: "Como pode ser tão insensato?"), Eliade deixou escritos quatro tomos de memórias mas nunca fez a menor luz sobre seu passado legionário (o médico de cabeceira que assinou seu atestado de óbito era outro romeno exilado de nome Alexandru Ronett, fervoroso legionário que havia dado asilo em seu hogar norte-americano à sobrinha do sanguinário chefe da Guarda de Ferro, Corneliu Codreanu).
Pouco depois, Beno Sebastian, o irmão mais novo de Mihail, morreu em Paris em 1990, sua filha entregou para sua publicação o diário que escreveu Mihail entre 1935 e 1944, um texto que havia sido tirado clandestinamente da Romênia e que Beno se negou a dar a conhecer em vida. Eliade já havia morrido há dez anos quando o texto por fim foi publicado, em 1996, e desatou a polêmica. Sob a pressão da adversidade e do horror, Mihail Sebastian conserva nas páginas de seu Diário a graça da inteligência. O tom intimista, a mistura de afeto e horror com a qual retrata a evolução de suas amizades (em particular as de Eliade, Cioran e Nae Ionescu) e os infortúnios que lhe tocam viver é demolidora. Sebastian nunca acreditou que sobreviveria à guerra. Mas escrevia essas páginas não para a posteridade senão unicamente para si, para manter secretamente sua relação com a escritura (como judeu, era proibido de publicar e ser jornalista).
O texto mais explosivo que se escreveu sobre a relação de Eliade e Sebastian o fez Norman Manea. Exilado ele mesmo do regime de Ceaucescu, e antes sobrevivente do campo de concentração durante a Segunda Guerra, Manea sofreu na própria carne o antissemitismo romeno e essa bizarra combinação de stalinismo e fascismo que asfixiou durante décadas seu país. O texto no qual compara o Diário de Sebastian com as Memórias e o Diário português de Eliade foi publicado na prestigiosa revista The New Republic (com o título "Felix culpa") e lhe valeu ameaças de morte provenientes tanto da Romênia pós-comunista como dos grupos de exilados romenos nos Estados Unidos. Manea se converteu para os romenos no que Orhan Pamuk representa para os turcos. Isso não evitou que Manea duplicasse a aposta alguns anos depois com sua novela "El regreso del húligan", um tipo de summa autobiográfica que funciona por sua vez como novela picaresca, ensaio político e afresco histórico do século XX romeno, e que lhe valeu desde sua aparição a candidatura ao Nobel.
Celebrado por autores como Claudio Magris, Philip Roth, Milan Kundera, Saul Bellow, Imre Kertesz e Antonio Tabucchi, o formidável livro de Manea propõe um contraponto entre a primeira viagem a sua terra natal depois de exilado (comparável ao que Tzvetan Todorov fez à Bulgária no "El hombre desplazado", em português "O homem desenraizado") e a história de sua vida na Romênia desde o momento em que seus pais o engendraram em Bucovina, no mesmo ano em que Eliade publicou sua novela hooligan e Sebastian seu manifesto anti-hooligan (a referência não é gratuita: os pais de Manea o conceberam nos altos de uma livraria onde ambos os livros, recém publicados, são o centro de um prolongado e febril debate sobre o futuro entre os mais jovens membros do clã Manea e seus amigos, que ignoram que pouco depois seriam arreados em conjunto para campos de concentração da Transnístria).
Manea relata com o mesmo desembaraço a episódios completamente incompatíveis. Vale a pena mencionar dois deles, arrepiantes: num conta como a polícia secreta romena convenceu a seu melhor amigo para que o espiasse, em troca de uma cama de hospital para seu pai moribundo (o amigo confessa isso a Manea e entre ambos redigem os relatórios de delação, assim creem haver burlado à Segurança até que o amigo consegue escapar da Romênia, e Manea passa anos observando paranoico a cada um de seus amigos, perguntando-lhes quem será o novo delator); o outro episódio é o misterioso assassinato do catedrático Ioan Culianu, em pleno dia, nos banhos da Universidade de Chicago. Culianu havia sido um colaborador de Eliade (graças a este havia chegado ao Estados Unidos) que, depois da morte de seu mentor, estava escrevendo um livro sobre o passado político de Eliade. Quando o FBI investigou o caso, apresentou a Manea para que os ajudassem a determinar se o assassino foi enviado pelo ex-rei romeno no exílio, ou uma seita parapsicológica inimiga das investigações religiosas de Culianu, ou pela "máfia acadêmica" (sic) ou os legionários sobreviventes no exílio, ou o novo governo romeno pós-comunista, ou por um/ou mero amante despeitado/a.
A assombrosa naturalidade com que Manea vem e vai ao longo do tempo por situações e registros inconcebíveis tem sua explicação numa frase de Mihail Sebastian que o autor de "El regreso del húligan" cita e completa. "Não há nada mais sério, nada mais grave, nada mais certo e nada mais falso nesta cultura de panfletários sorridentes. Sobretudo, nada é incompatível. Há aí uma noção que lhe falta completamente a nossa vida pública em todos seus planos: o incompatível", escreveu Sebastian em seu Diário em 1943. Manea vê nesta frase uma explicação antecipada tanto do inverossímil sistema político da Romênia de Ceaucescu, assim como do culto a um estudioso das religiões como Eliade que praticou uma ditadura supostamente ateu-materialista: "Em nenhuma parte se dá tão estranha, incompreensível compatibilidade entre incompatibilidades, entre os que poderíamos chamar convencionalmente de bons e maus. As evasivas e desconcertantes certezas morais, e não só morais, de nosso país. Muitas vezes ofereceram surpresas terríveis mas, é justo dizê-lo, houve também alguma surpresa benéfica de vez em quando. Só assim pode se explicar que um país onde se cometeram tais atrocidades contra a população judaica, tenha se conseguido sobreviver boa parte dela".
Correndo o risco de que a Manea arrepie os cabelos, para a exígua lista de surpresas benéficas produzidas por essa característica romena, deve-se agregar ao pequeno milagre de diversidade tonal que é "El regreso del húligan" ("O regresso do hooligan"). E outra mais: que a tradução de três livros de Manea ao castelhano, como a do Diário de Sebastian, como as do Diário português e a novela "Los jóvenes bárbaros" de Eliade, tenham sido lançadas ao longo dos últimos cinco anos, pela mesma pessoa: o espanhol residente em Bucareste Joaquín Garrigós. Só a Romênia pode fazer com que se sucedam coisas assim.
"El regreso del húligan" ("O regresso do hooligan"), "Felicidad obligatoria" e "Payasos", de Norman Manea, foram publicados pela Tusquets (Editora). "Diario 1935-1944", de Mihail Sebastian, e "Los jóvenes bárbaros" de Mircea Eliade, foram publicados pela Destino. O "Diário português", de Eliade, foi publicado pela Kairós.
Fonte: Página 12 (Argentina)
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/libros/10-2661-2007-08-12.html
Título original: Los incompatibles
Tradução: Roberto Lucena
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Notas:
1. O termo "húligan" no texto se refere a "hooligan" (em português se mantém a grafia inglesa, pro espanhol eles "espanholizaram" a palavra). Caso alguém ache estranho a palavra, significa isso mesmo, que num sentido amplo, ou no aplicado ao texto, "hooligan" é referente a vandalismo ou gangue de rua. Provavelmente é uma referência à Guarda de Ferro romena que também recebia a alcunha de Legião de São Miguel Arcanjo, por isso o termo "legionários" aparece com certa frequência no texto.
2. Eu não fiz uma observação no texto anterior sobre o Eliade que era a de comentar a origem da difusão desse tipo de autor fascista no país. Pensei em colocar num post à parte (é uma possibilidade), mas se for o caso vai ficar nesse post ou no anterior mesmo.
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quarta-feira, 24 de junho de 2015
O fascista romeno "cultuado" no Brasil - Mircea Eliade e o cavalo de Troia no mundo acadêmico
Mircea Eliade e o cavalo de Troia no mundo acadêmico, por Wolfgang Karrer
A orientação fascista de Mircea Eliade (1907-1986) está bem documentada pelo menos desde a publicação de Cioran, Eliade, Ionesco: l’oubli du fascisme [Cioran, Eliade, Ionesco: o esquecimento do fascismo], um livro de Alexandra Laignel-Lavastine do ano de 2002. Foi traduzido pro italiano, e na Argentina foi resenhado em 6 de outubro do mesmo ano no Página 12. Também na Wikipedia atual concede lentamente esta orientação ideológica a Mircea Eliade, ainda que trate de diminui-la como se tratasse de um "pecadinho juvenil".
Nesse ensaio quero demonstrar (usando o livro de Laignel-Lavastine) que esta orientação sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e que de certo modo Eliade se manteve fiel a suas convicções de ultradireita até sua morte. Vou apoiar esta tese com citações de Eliade, traduzidas pro espanhol por mim. Já é tempo de enfrentar suas ideias do eterno retorno, da ordem cósmica, do sacrifício e do xamanismo com mais crítica.
O terror na história de Mircea Eliade
Um breve resumo da vida de Mircea Eliade (1907-1986) até 1945 aclarará suas posições fascistas (Laignel-Lavastine 2002, 33-328). Como estudante en Bucareste, Eliade se destaca com um manifesto "O itinerário espiritual" (1927), no qual ele ataca "o mito do progresso sem fim" da ciência e da tecnologia e proclama valores novos para sua geração. Claramente se afilia com o movimento irracionalista de Chamberlein, Spengler, Papini etc. A circulação do manifesto o converte no líder estudantil de Bucareste, onde se encontram em 1927 jovens como Tristan Tzara, Victor Brauner, Constantin Brancusi e Emil Cioran. (A afiliação de Cioran ao nazismo forma outra parte do livro de Laignel-Lavastine). No mesmo ano se constitui uma organização militante de ultradireita na Romênia, a Guarda de Ferro. Imitava as quadras fascistas da Itália, introduzindo camisas verdes e a saudação romana (108-20). Militava contra os judeus como a origem da maçonaria, o freudismo, o marxismo e o ateísmo, e lutava por uma revolução espiritual nacionalista no país. Eliade se fez assistente acadêmico de Nae Ionescu, professor e ideólogo principal da direita em Bucareste (57-63).
O círculo intelectual de Eliade compartilhava muitas posições da Guarda de Ferro, ainda que inicialmente se absteve da atividade política. Começou com uma atividade jornalística febril: 250 artigos entre 1925 e 1928, e outros 250 mais entre 1932-33 (40), em todos propagando um nacionalismo autóctone. Com a conversão de seu professor Nae Ionesco em 1933 à Guarda de Ferro, o tono de Eliade também se faz mais militante, e mais fascista (85-120). Assim como Ionescu se converte num propagandista aberto do fascismo italiano e de sua variante cristã-antissemita na Romênia. Os artigos de Eliade o mostram claramente antissemita, pró-fascista e também militante no sentido da ação direta. Entre os líderes da Guarda de Ferro tem alguns amigos íntimos, com os quais mantém um contínuo contato. Quando a Guarda de Ferro começa a assassinar políticos e a formar oficialmente "esquadrões da morte" (echipele mortii), Eliade não se distancia, pelo contrário, segue publicando propaganda e participa da campanha eleitoral da Guarda de Ferro em 1937.
Ao mesmo tempo, Eliade ensina a história das religiões na Universidade de Bucareste. Nessas ensinanças, que vão formar a base de suas obras sobre ideias religiosas, publicadas a partir de 1949, o historiador de religiões põe suas aulas a serviço da "revolução espiritual" pela qual lutavam ele e seus amigos da Guarda de Ferro (165-234). Em 1936, por exemplo, recomenda o uso de um mito central e símbolos míticos de uma nova "ordem cósmica" para fortalecer a ideologia da Guarda (177). Propõe seguir o modelo de Mussolini e sacralizar a política (179), especialmente com ritos de sacrifício e de cultos aos fascistas mortos para "um renascimento espiritual" da Romênia (202-05). Busca analogias em textos históricos para propor um totalitarismo "cristão" (205-08). Numa pré-história romena encontra traços de um cristianismo arcaico para fundar uma nova Romênia, unida como "povo eleito" numa religião cósmica (209) e lamenta os ataques dos profetas israelitas contra a religião cósmica de Canaã (213). Também afirma em 1937:
A simpatia de Eliade por Hitler também deixa rastros em seus textos, em suas cartas e conversações, ainda que, sem dúvida, prefira um fascismo mais cristão:
As repressões e o golpes de estado que seguem às eleições de 1937 levam os membros dirigentes da Guarda de Ferro e Eliade à prisão, onde os legionários cantam "Gott mit uns!", protestando com a canção da SS (196). Eliade escapa do fuzilamento de seus amigos, mas é proibido de ensinar. Pensa em emigrar, mas em 1940 um governo (que já não crê mais na vitória dos aliados) libera os legionários e oferece a Eliade um posto na embaixada romena em Londres, como agregado cultural através do novo ministro de propaganda de Bucareste (200-01).
Na Inglaterra, o Foreign Office (Ministério de Relações Exteriores) o mantém sob vigilância, caracterizando-lhe como a pessoa mais nazificada na embaixada. Eliade se sente com as mãos atadas, impedido de propagar sua causa romena. Quando o governo inglês rompe com o governo de Bucareste (agora abertamente pró-nazi) em 1941, o traslado de Eliado para Lisboa foi a única alternativa para sair da Inglaterra (275-282).
À diferença do sucedido em Londres, na embaixada de Lisboa, Eliade encontra oportunidades para desenvolver sua propaganda fascista para o governo de Antonescu (286-324). A homenagem que realiza ao ditador Salazar mostra claramente qual era a nova ordem cósmica ou a revolução espiritual que propagava entre 1937 e 1945. O livro sobre Salazar não foi realizado por encargo, ainda que se tratasse de uma contribuição voluntária de Eliade a "uma forma cristã de totalitarismo", algo que ele definia também com a "reintegração do homem nos ritos cósmicos" (297). Como a derrota do fascismo na Segunda Guerra se fazia cada vez mais e mais evidente, Mussolini e o governo pró-nazi de Anotnescu foram substituídos, e Eliade, depois de escrever sobre o grande "sacrifício" dos soldados de Stalingrado (320), do horror do pacto "anglo-bolchevique" (275) e da iminente invasão norte-americana com a "degradação da Europa" (322), perdeu seu posto na embaixada (como um dos três mais expostos na propaganda fascista). Antes de renunciar, não deixou de lamentar a queda de Mussolini (322); ou seja, até o último momento manteve sua propaganda antissemita.
Em meio à enorme crise de 1944, Eliade retoma seu trabalho sobre história das religiões, ou seja, volta aos manuscritos de suas conferências em Bucareste. Em Portugal começa a escrever Le Mythe de l’éternel retour, o livro com o qual deve seu regresso ao mundo acadêmico depois de 49. Também seu primeiro livro pós-guerra, Traité d’histoire des religions (1949), tem suas raízes na derrota fascista de 44 e em 45.
O cavalo de Troia entre acadêmicos
A vida de Mircea Eliade depois da guerra se divide em duas fases: a de Paris (1945 até 1957) e a de Chicago (1957-1986). As duas estão estreitamente vinculadas. Aterrorizado de que se revelasse seu passado, começa a apagar sistematicamente seu rancor. Como quase ninguém lia romeno em Paris ou Chicago, encontrava bastante terreno para suas pretensões. Inclusive lhe ocultava seu passado a seus amigos mais próximos (383-416). Até sua morte nos Estados Unidos, guardou silêncio sobre os velhos tempos, ainda que não deixasse de manter relações com Julius Évola e os legionários exilados em Chicago. (O assassinato de seu aluno brilhante, Ioan Culiano, tem implicações legionárias não esclarecidas, como demonstra Laignel-Lavastine (485-89). Nos anos oitenta Eliade trabalhava com a NOVA DIREITA na França (461-62).
Do outro lado, Eliade se rodeava de um círculo de amigos, alunos deles judeus, que o protegem, às vezes ignorando seu passado: Georges Dumezil, Paul Ricoeur, Gershom Scholem e Saul Bellow, entre outros. E há gente com influência e muito dinheiro que o ajudam na recuperação de seus postos acadêmicos. Consegue acesso ao grupo Eranos de Carl Gustav Jung, a quem havia mostrado certas simpatias com Hitler nos anos 30, e através dele obtém apoio da Fundação Bollingen. O dinheiro provinha da família multimilionária dos Mellon nos EUA, e Jung tinha certa influência na fundação. Em todo caso, a beca da Fundação Bollingen lhe abriu o caminho à cátedra em Chicago. Uma quarta estratégia para acobertar seu passado foi uma extensa publicação de memórias, diários e reminiscências, tão parciais como em certos casos desonestas. A única exceção foi o diário de Portugal, que não foi redigido por Eliade, e que mostra suas ideias antes da derrota do fascismo.
Também há um vínculo forte entre as duas fases de Paris e Chicago com o passado de Bucareste e Lisboa. Não somente os dois primeiros livros de 1949, senão muito do que escreveu Eliade depois desse ano retém as posições centrais do seu passado. Laignel-Lavastine mostra em detalhe como cinco temas preferidos de Eliade repetem posições do fascismo cristão de sua época anterior:
A religião como oculta hierofania (que esconde e revela)
O culto do herói no labirinto (como modelo arquetípico)
O sacrifício sagrado como purga (o Holocausto)
O terror para história (consolado pela repetição)
O eterno retorno do pré-histórico (420-33)
Esses temas, em parte, evidenciam a posição intelectual que sustenta Eliade, de seu desejo de escapar de sua própria história - algo parecido com o caso de Paul de Man -, mas também mantém os fundamentos do fascismo espiritual de 37 a 45. Por exemplo, Eliade retém a ideia de que os judeus (depois del 45 Eliade usa a palavra "hebreus") substituíram a velha ordem cíclica do cosmos por uma concepção linear do tempo. O que diz sub-repticiamente, é que isso significa o desenvolvimento do mito do progresso, do racionalismo, da iluminação, das ciências, da tecnologia, da maçonaria, do freudianismo, do marxismo e da época moderna (212, 234, 429-51). O núcleo fascista de sua filosofia de religiões ficou intacto. É "O mito da reintegração" (um livro de 1942), "A necessidade de crer" (299), e o rechaço das ciências.
Por que então Eliade busca as universidade, os centros de ciências, da maçonaria judia, do racionalismo? Porque não se contentou com o rol de um Xamã da New Age nos EUA? Desde 1944, planificava em seu diário penetrar na Europa como um "cavalo de Troia no campo científico" (324). Já não confiava numa legião paramilitar para estabelecer seu totalitarismo espiritual. Queria destruir a cidadela das universidades desde dentro. Ou seja, continuar sua propaganda totalitária sob a camuflagem de uma história das religiões, que propagava o retorno de uma "ontologia arcaica" para deter a dissolução da "ordem cósmica" da sociedade.
Considerando essas luzes do passado, lê-se de outro modo o projeto de 1945, O mito do eterno retorno (há tradução espanhola na rede), esse livro que fez famoso entre leitores que não conheciam suas convicções subjacentes. Não contamos com o espaço para uma análise extensa, mas uma menção a umas linhas do prólogo mostra que Eliade não aceitou a derrota de suas ideias fascistas:
Em vez de comentá-las, convido a ler as seguintes citações tendo em conta que o livro foi começado em 1945, quando era derrotado o fascismo que propagava Eliade antes de sua demissão:
Wolfgang Karrer
Berlim, Alemanha, EdM, dezembro de 2012
Notas:
1. Laignel, Alexandra. Cioran, Eliade, Ionesco. L’oubli du fascisme. PARIS. Presses Universitaires de France, 2002 (Perspectives critiques).
2. Emilio Gentile. El culto del litoral. La sacralización de la política en la Italia fascista. Trad. L. Padilla López. Buenos Aires: Siglo XXI Editores, 2007.
Fonte: Site Escritores del Mundo (Argentina)
http://www.escritoresdelmundo.com/2013/01/mircea-eliade-y-el-caballo-de-troya-en.html
Título original: Mircea Eliade y el caballo de Troya en el mundo académico, por Wolfgang Karrer
Tradução: Roberto Lucena
A orientação fascista de Mircea Eliade (1907-1986) está bem documentada pelo menos desde a publicação de Cioran, Eliade, Ionesco: l’oubli du fascisme [Cioran, Eliade, Ionesco: o esquecimento do fascismo], um livro de Alexandra Laignel-Lavastine do ano de 2002. Foi traduzido pro italiano, e na Argentina foi resenhado em 6 de outubro do mesmo ano no Página 12. Também na Wikipedia atual concede lentamente esta orientação ideológica a Mircea Eliade, ainda que trate de diminui-la como se tratasse de um "pecadinho juvenil".
Nesse ensaio quero demonstrar (usando o livro de Laignel-Lavastine) que esta orientação sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e que de certo modo Eliade se manteve fiel a suas convicções de ultradireita até sua morte. Vou apoiar esta tese com citações de Eliade, traduzidas pro espanhol por mim. Já é tempo de enfrentar suas ideias do eterno retorno, da ordem cósmica, do sacrifício e do xamanismo com mais crítica.
O terror na história de Mircea Eliade
Um breve resumo da vida de Mircea Eliade (1907-1986) até 1945 aclarará suas posições fascistas (Laignel-Lavastine 2002, 33-328). Como estudante en Bucareste, Eliade se destaca com um manifesto "O itinerário espiritual" (1927), no qual ele ataca "o mito do progresso sem fim" da ciência e da tecnologia e proclama valores novos para sua geração. Claramente se afilia com o movimento irracionalista de Chamberlein, Spengler, Papini etc. A circulação do manifesto o converte no líder estudantil de Bucareste, onde se encontram em 1927 jovens como Tristan Tzara, Victor Brauner, Constantin Brancusi e Emil Cioran. (A afiliação de Cioran ao nazismo forma outra parte do livro de Laignel-Lavastine). No mesmo ano se constitui uma organização militante de ultradireita na Romênia, a Guarda de Ferro. Imitava as quadras fascistas da Itália, introduzindo camisas verdes e a saudação romana (108-20). Militava contra os judeus como a origem da maçonaria, o freudismo, o marxismo e o ateísmo, e lutava por uma revolução espiritual nacionalista no país. Eliade se fez assistente acadêmico de Nae Ionescu, professor e ideólogo principal da direita em Bucareste (57-63).
O círculo intelectual de Eliade compartilhava muitas posições da Guarda de Ferro, ainda que inicialmente se absteve da atividade política. Começou com uma atividade jornalística febril: 250 artigos entre 1925 e 1928, e outros 250 mais entre 1932-33 (40), em todos propagando um nacionalismo autóctone. Com a conversão de seu professor Nae Ionesco em 1933 à Guarda de Ferro, o tono de Eliade também se faz mais militante, e mais fascista (85-120). Assim como Ionescu se converte num propagandista aberto do fascismo italiano e de sua variante cristã-antissemita na Romênia. Os artigos de Eliade o mostram claramente antissemita, pró-fascista e também militante no sentido da ação direta. Entre os líderes da Guarda de Ferro tem alguns amigos íntimos, com os quais mantém um contínuo contato. Quando a Guarda de Ferro começa a assassinar políticos e a formar oficialmente "esquadrões da morte" (echipele mortii), Eliade não se distancia, pelo contrário, segue publicando propaganda e participa da campanha eleitoral da Guarda de Ferro em 1937.
Ao mesmo tempo, Eliade ensina a história das religiões na Universidade de Bucareste. Nessas ensinanças, que vão formar a base de suas obras sobre ideias religiosas, publicadas a partir de 1949, o historiador de religiões põe suas aulas a serviço da "revolução espiritual" pela qual lutavam ele e seus amigos da Guarda de Ferro (165-234). Em 1936, por exemplo, recomenda o uso de um mito central e símbolos míticos de uma nova "ordem cósmica" para fortalecer a ideologia da Guarda (177). Propõe seguir o modelo de Mussolini e sacralizar a política (179), especialmente com ritos de sacrifício e de cultos aos fascistas mortos para "um renascimento espiritual" da Romênia (202-05). Busca analogias em textos históricos para propor um totalitarismo "cristão" (205-08). Numa pré-história romena encontra traços de um cristianismo arcaico para fundar uma nova Romênia, unida como "povo eleito" numa religião cósmica (209) e lamenta os ataques dos profetas israelitas contra a religião cósmica de Canaã (213). Também afirma em 1937:
"Romênia cometeu a loucura de mostrar ao Ocidente que uma vida civil perfeita só se pode conseguir com uma vida autenticamente cristã e que o destino mais sublime de um povo é fazer história a medias de valores supra-históricos." (211)Ou seja, ele utiliza a mitologia religiosa e a pré-história para apoiar o movimento fascista e erigir um estado totalitário cristão na Romênia. "Religião cósmica", "espiritual" e "revolução" são as palavras-chaves para disfarçar tanto o fascismo antissemita e xenófobo. Tanto Eliade como seu professor Ionescu fazem o trabalho na Romênia de Julius Évola, com o qual se encontram amistosamente em 1938, que leva isto adiante na Itália.
A simpatia de Eliade por Hitler também deixa rastros em seus textos, em suas cartas e conversações, ainda que, sem dúvida, prefira um fascismo mais cristão:
"O povo romeno pode resignar-se à mais triste decomposição que sua história jamais conheceu, admitir que tenha sido abatido pela miséria e a sífilis, invadida pelos judeus, e destroçado pedaços por estrangeiros, desmoralizado, traído, vendido por alguns milhões de lei? "Porque eu não creio no Movimento Legionário", Dezembro 1937" (226)Elogia outro movimento cristão-fascista com as palavras: "Inclusive é melhor que Hitler". (184) Defende, ainda que de maneira ambígua, a noite contra as sinagogas na Alemanha; compara-a favoravelmente com as barbaridades anticristãs na Rússia e na Espanha (224). Nos textos de 1937 a 1945 já não restam dúvidas: Eliade é pró-Mussolini e é pró-Hitler. Fascista no mais completo sentido, mas à moda "romena". E não é tão jovem, completa 30 anos em 1937 e 38 em 1945.
As repressões e o golpes de estado que seguem às eleições de 1937 levam os membros dirigentes da Guarda de Ferro e Eliade à prisão, onde os legionários cantam "Gott mit uns!", protestando com a canção da SS (196). Eliade escapa do fuzilamento de seus amigos, mas é proibido de ensinar. Pensa em emigrar, mas em 1940 um governo (que já não crê mais na vitória dos aliados) libera os legionários e oferece a Eliade um posto na embaixada romena em Londres, como agregado cultural através do novo ministro de propaganda de Bucareste (200-01).
Na Inglaterra, o Foreign Office (Ministério de Relações Exteriores) o mantém sob vigilância, caracterizando-lhe como a pessoa mais nazificada na embaixada. Eliade se sente com as mãos atadas, impedido de propagar sua causa romena. Quando o governo inglês rompe com o governo de Bucareste (agora abertamente pró-nazi) em 1941, o traslado de Eliado para Lisboa foi a única alternativa para sair da Inglaterra (275-282).
À diferença do sucedido em Londres, na embaixada de Lisboa, Eliade encontra oportunidades para desenvolver sua propaganda fascista para o governo de Antonescu (286-324). A homenagem que realiza ao ditador Salazar mostra claramente qual era a nova ordem cósmica ou a revolução espiritual que propagava entre 1937 e 1945. O livro sobre Salazar não foi realizado por encargo, ainda que se tratasse de uma contribuição voluntária de Eliade a "uma forma cristã de totalitarismo", algo que ele definia também com a "reintegração do homem nos ritos cósmicos" (297). Como a derrota do fascismo na Segunda Guerra se fazia cada vez mais e mais evidente, Mussolini e o governo pró-nazi de Anotnescu foram substituídos, e Eliade, depois de escrever sobre o grande "sacrifício" dos soldados de Stalingrado (320), do horror do pacto "anglo-bolchevique" (275) e da iminente invasão norte-americana com a "degradação da Europa" (322), perdeu seu posto na embaixada (como um dos três mais expostos na propaganda fascista). Antes de renunciar, não deixou de lamentar a queda de Mussolini (322); ou seja, até o último momento manteve sua propaganda antissemita.
Em meio à enorme crise de 1944, Eliade retoma seu trabalho sobre história das religiões, ou seja, volta aos manuscritos de suas conferências em Bucareste. Em Portugal começa a escrever Le Mythe de l’éternel retour, o livro com o qual deve seu regresso ao mundo acadêmico depois de 49. Também seu primeiro livro pós-guerra, Traité d’histoire des religions (1949), tem suas raízes na derrota fascista de 44 e em 45.
O cavalo de Troia entre acadêmicos
A vida de Mircea Eliade depois da guerra se divide em duas fases: a de Paris (1945 até 1957) e a de Chicago (1957-1986). As duas estão estreitamente vinculadas. Aterrorizado de que se revelasse seu passado, começa a apagar sistematicamente seu rancor. Como quase ninguém lia romeno em Paris ou Chicago, encontrava bastante terreno para suas pretensões. Inclusive lhe ocultava seu passado a seus amigos mais próximos (383-416). Até sua morte nos Estados Unidos, guardou silêncio sobre os velhos tempos, ainda que não deixasse de manter relações com Julius Évola e os legionários exilados em Chicago. (O assassinato de seu aluno brilhante, Ioan Culiano, tem implicações legionárias não esclarecidas, como demonstra Laignel-Lavastine (485-89). Nos anos oitenta Eliade trabalhava com a NOVA DIREITA na França (461-62).
Do outro lado, Eliade se rodeava de um círculo de amigos, alunos deles judeus, que o protegem, às vezes ignorando seu passado: Georges Dumezil, Paul Ricoeur, Gershom Scholem e Saul Bellow, entre outros. E há gente com influência e muito dinheiro que o ajudam na recuperação de seus postos acadêmicos. Consegue acesso ao grupo Eranos de Carl Gustav Jung, a quem havia mostrado certas simpatias com Hitler nos anos 30, e através dele obtém apoio da Fundação Bollingen. O dinheiro provinha da família multimilionária dos Mellon nos EUA, e Jung tinha certa influência na fundação. Em todo caso, a beca da Fundação Bollingen lhe abriu o caminho à cátedra em Chicago. Uma quarta estratégia para acobertar seu passado foi uma extensa publicação de memórias, diários e reminiscências, tão parciais como em certos casos desonestas. A única exceção foi o diário de Portugal, que não foi redigido por Eliade, e que mostra suas ideias antes da derrota do fascismo.
Também há um vínculo forte entre as duas fases de Paris e Chicago com o passado de Bucareste e Lisboa. Não somente os dois primeiros livros de 1949, senão muito do que escreveu Eliade depois desse ano retém as posições centrais do seu passado. Laignel-Lavastine mostra em detalhe como cinco temas preferidos de Eliade repetem posições do fascismo cristão de sua época anterior:
A religião como oculta hierofania (que esconde e revela)
O culto do herói no labirinto (como modelo arquetípico)
O sacrifício sagrado como purga (o Holocausto)
O terror para história (consolado pela repetição)
O eterno retorno do pré-histórico (420-33)
Esses temas, em parte, evidenciam a posição intelectual que sustenta Eliade, de seu desejo de escapar de sua própria história - algo parecido com o caso de Paul de Man -, mas também mantém os fundamentos do fascismo espiritual de 37 a 45. Por exemplo, Eliade retém a ideia de que os judeus (depois del 45 Eliade usa a palavra "hebreus") substituíram a velha ordem cíclica do cosmos por uma concepção linear do tempo. O que diz sub-repticiamente, é que isso significa o desenvolvimento do mito do progresso, do racionalismo, da iluminação, das ciências, da tecnologia, da maçonaria, do freudianismo, do marxismo e da época moderna (212, 234, 429-51). O núcleo fascista de sua filosofia de religiões ficou intacto. É "O mito da reintegração" (um livro de 1942), "A necessidade de crer" (299), e o rechaço das ciências.
Por que então Eliade busca as universidade, os centros de ciências, da maçonaria judia, do racionalismo? Porque não se contentou com o rol de um Xamã da New Age nos EUA? Desde 1944, planificava em seu diário penetrar na Europa como um "cavalo de Troia no campo científico" (324). Já não confiava numa legião paramilitar para estabelecer seu totalitarismo espiritual. Queria destruir a cidadela das universidades desde dentro. Ou seja, continuar sua propaganda totalitária sob a camuflagem de uma história das religiões, que propagava o retorno de uma "ontologia arcaica" para deter a dissolução da "ordem cósmica" da sociedade.
Considerando essas luzes do passado, lê-se de outro modo o projeto de 1945, O mito do eterno retorno (há tradução espanhola na rede), esse livro que fez famoso entre leitores que não conheciam suas convicções subjacentes. Não contamos com o espaço para uma análise extensa, mas uma menção a umas linhas do prólogo mostra que Eliade não aceitou a derrota de suas ideias fascistas:
"O mito do eterno retorno é uma original introdução à Filosofia da História, cujo objeto de estudo são os mitos e crenças das sociedades tradicionais, movidas pela nostalgia do regresso às origens e rebeldes contra o tempo concreto. As categorias em que se expressa essa negação da história são os arquétipos e a repetição, instrumentos necessários para rechaçar as sequências lineares e a ideia de progresso. Um rechaço no que subyace, contudo, uma valorização metafísica da existência humana, uma ontologia arcaica que a antropologia filosófica deve incluir em suas reflexões em pé de igualdade com as concepções da cultural ocidental".Eliade pretende escrever um ensaio sobre a filosofia da história (7), contudo o que oferece é um ataque ao "historicismo" racional de Hegel e Marx. Busca trocar a história pelo mito. O mito do eterno retorno é o perfeito cavalo de Troia para reintroduzis as bases ideológicas da Guarda de Ferro: a sacralização da política.
Em vez de comentá-las, convido a ler as seguintes citações tendo em conta que o livro foi começado em 1945, quando era derrotado o fascismo que propagava Eliade antes de sua demissão:
"Viver de conformidade com os arquétipos equivalia a respeitar a "lei", a lei não era senão uma hierofania primordial, a revelação in illo tempore das normas da existência, feita por uma divindade ou um ser místico". (58).É o fascismo do eterno retorno. É deplorável que Eliade tenha escapado de uma crítica mais rigorosa de seus textos depois de 45. Em vez de considerá-lo como fundador de uma "história de religiões objetiva", seria necessário valorizá-lo numa línea com outros fascistas, como Julius Évola na Itália (Revolta contra o mundo moderno/Rivolta contro il mondo moderno, 1934) ou Alfred Rosenberg (Der Mythos des 20. Jahrhunderts, 1930) na Alemanha. O neo-paganismo de Évola e de Rosenberg ilumina obliquamente muitos aspectos do "espiritualismo" de Eliade. Os três trataram de ressacralizar a política, mas concretamente sacralizaram uma ditadura fascista no sentido de Emilio Gentile.
"Devemos agregar que esta concepção tradicional de uma defesa contra a história, essa matéria de suportar os acontecimentos históricos, seguiu dominando o mundo até uma época muita próxima a nós (1945); e que ainda hoje segue consolando sociedades agrícolas (tradicionais) europeias que se mantém com obstinação numa posição anti-histórica e por esse fato que se encontram expostas aos ataques violentos de todas as ideologias revolucionárias". (89)
"E, num momento (1945) no qual a história podia aniquilar a espécie humana em sua totalidade - coisa que nem o Cosmos, nem o homem, nem a causalidade conseguiram fazer até agora - não seria estranho que nos fosse dado assistir a uma tentativa desesperada para proibir 'os acontecimentos da história' mediante a reintegração das sociedades humanas no horizonte (artificial, por ser imposto) dos arquétipos e de sua repetição. Em outros termos, não está vedado conceber uma época, não muito distante, na qual a humanidade, para assegurar a sobrevivência, veja-se obrigada a deixar de 'seguir' fazendo a 'história' no sentido em ... que se conforme com repetir os feitos arquétipos pré-escritos ... " (96)
Wolfgang Karrer
Berlim, Alemanha, EdM, dezembro de 2012
Notas:
1. Laignel, Alexandra. Cioran, Eliade, Ionesco. L’oubli du fascisme. PARIS. Presses Universitaires de France, 2002 (Perspectives critiques).
2. Emilio Gentile. El culto del litoral. La sacralización de la política en la Italia fascista. Trad. L. Padilla López. Buenos Aires: Siglo XXI Editores, 2007.
Fonte: Site Escritores del Mundo (Argentina)
http://www.escritoresdelmundo.com/2013/01/mircea-eliade-y-el-caballo-de-troya-en.html
Título original: Mircea Eliade y el caballo de Troya en el mundo académico, por Wolfgang Karrer
Tradução: Roberto Lucena
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quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Neonazismo na Ucrânia, notas
A quem quiser ler o link original (em inglês), segue abaixo:
Neo-Nazi Organizations in the Ukraine
http://www.globalresearch.ca/neo-nazi-organizations-in-the-ukraine/318
De Liudmila Dymerskaya-Tsigelman e Leonid Finberg
Global Research, December 17, 2004
The Vidal Sassoon International Center for the Study of Antisemitism: 1 April 1999
Antisemitism of the Ukrainian Radical Nationalists
Com um adendo de alerta pesado sobre este site: este site canadense Global Research, apesar do nome "pomposo", é enviesado ao extremo, o que compromete as informações no mesmo. Sites de informação muito enviesados costumam distorcer informação propositalmente, que é algo que se critica constantemente na mídia brasileira por adotar esta postura (manipulação com informações).
Se alguém for procurar este mesmo link acima colocando as palavras "neo-nazi" e "Ukraine" no Google, vai achar pilhas de links com matérias recentes sobre o golpe na Ucrânia e não este texto. O link deste texto estava salvo por isso foi possível encontrá-lo com o fim do Orkut.
Só estou repassando o link acima pois este texto foi colocado no ar muito antes (anos antes) do golpe de Estado na Ucrânia este ano (dado por forças de extrema-direita aparentemente antagônicas mas não tanto, neoliberais alinhados com a UE e neonazis), ou seja, este texto não foi influenciado pelos acontecimentos mais recentes na Ucrânia. Mas principalmente em razão da bibliografia citada no texto caso alguém queira checar. É essa uma das partes mais positivas do texto.
Foi através dela que deu pra chegar a esse livro:
Inventing the Jew. Antisemitic Stereotypes in Romanian and Other Central-East European Cultures
De Andrei Osteanu, sobre o antissemitismo na Romênia e outros países do Leste europeu. Resenha (em inglês) aqui.
A quem quiser mais infos sobre antissemitismo e neonazismo (extrema-direita) na Ucrânia, confiram o link:
http://www.nebraskapress.unl.edu/product/Inventing-the-Jew,674083.aspx
E em sua busca por "Ukraine": Link2, que também mostra resultados mostrando textos sobre a extrema-direita na Rússia e em outros países.
Como o blog tem recebido visitas de gente da Romênia com um forte "amor" a 'judeus', "comunistas" e quem essas figuras bizarras fascistas visualizam como inimigos ou rotulam tudo contrário a eles, é bom mostrar o papel podre dos fascistas romenos perseguindo minorias e suas psicoses já que adoram posar de vítimas depois desses fascistas terem sido repelidos e reprimidos na Romênia. Fascistas não foram vítimas na Romênia e sim algozes, por isso, menos choro ao chiar.
Esse pessoal podia se juntar às manifestações com as "Bolsonaretes" pedindo "volta da ditadura" pra máscara de "democratas" (se é que tinham) cair de uma vez. O PSDB, os liberais de araque do país (que são um bando de autoritários defendendo liberalismo radical econômico pra beneficiar corporações e bancos e arrocho), junto com a mídia oligopolizada, já que abriram a fossa da extrema-direita no Brasil e o mal cheiro tá chegando pra todo mundo.
Atos pró-ditadura geram constrangimento à oposição
Enquanto em 1984 o povo, mais esclarecido que esse bando de bestas do link acima, ia em massa às ruas pra pedir o fim da ditadura, abafado por esta mesma mídia que adora falar em "liberdade" sendo que a mesma surgiu na ditadura (sugando as tetas da mesma):
Insatisfação com a ditadura eclode nas manifestações das Diretas Já!
A tal extrema-direita mais organizada (não é a que o pessoal aqui costuma discutir, no caso os "revis"), defende um liberalismo econômico radical e um alinhamento do Brasil como capacho dos Estados Unidos, que é a posição defendida desde o término da segunda guerra por esses "liberais".
Para a turma "revoltando" que vai na "onda" da mídia, a mídia no Brasil não quer implementar "regime nacionalista" algum como alguns mais à direita (minoria) acabam achando. A mídia (do oligopólio) utiliza esse pessoal como bucha de canhão pra desestabilizar governos com políticas nacionais, mesmo que moderadas (a avaliação disso, políticas nacionais, varia obviamente de pessoa pra pessoa). Por que acham que a mídia opera pra tirar determinados partidos de cena? Pensem nisto antes de dar apoio a Bolsonaros e cia, os capachinhos do governo dos EUA, já que parte de vocês "amam" as políticas do Tio Sam (governo dos EUA).
Neo-Nazi Organizations in the Ukraine
http://www.globalresearch.ca/neo-nazi-organizations-in-the-ukraine/318
De Liudmila Dymerskaya-Tsigelman e Leonid Finberg
Global Research, December 17, 2004
The Vidal Sassoon International Center for the Study of Antisemitism: 1 April 1999
Antisemitism of the Ukrainian Radical Nationalists
Com um adendo de alerta pesado sobre este site: este site canadense Global Research, apesar do nome "pomposo", é enviesado ao extremo, o que compromete as informações no mesmo. Sites de informação muito enviesados costumam distorcer informação propositalmente, que é algo que se critica constantemente na mídia brasileira por adotar esta postura (manipulação com informações).
Se alguém for procurar este mesmo link acima colocando as palavras "neo-nazi" e "Ukraine" no Google, vai achar pilhas de links com matérias recentes sobre o golpe na Ucrânia e não este texto. O link deste texto estava salvo por isso foi possível encontrá-lo com o fim do Orkut.
Só estou repassando o link acima pois este texto foi colocado no ar muito antes (anos antes) do golpe de Estado na Ucrânia este ano (dado por forças de extrema-direita aparentemente antagônicas mas não tanto, neoliberais alinhados com a UE e neonazis), ou seja, este texto não foi influenciado pelos acontecimentos mais recentes na Ucrânia. Mas principalmente em razão da bibliografia citada no texto caso alguém queira checar. É essa uma das partes mais positivas do texto.
Foi através dela que deu pra chegar a esse livro:
Inventing the Jew. Antisemitic Stereotypes in Romanian and Other Central-East European Cultures
De Andrei Osteanu, sobre o antissemitismo na Romênia e outros países do Leste europeu. Resenha (em inglês) aqui.
A quem quiser mais infos sobre antissemitismo e neonazismo (extrema-direita) na Ucrânia, confiram o link:
http://www.nebraskapress.unl.edu/product/Inventing-the-Jew,674083.aspx
E em sua busca por "Ukraine": Link2, que também mostra resultados mostrando textos sobre a extrema-direita na Rússia e em outros países.
Como o blog tem recebido visitas de gente da Romênia com um forte "amor" a 'judeus', "comunistas" e quem essas figuras bizarras fascistas visualizam como inimigos ou rotulam tudo contrário a eles, é bom mostrar o papel podre dos fascistas romenos perseguindo minorias e suas psicoses já que adoram posar de vítimas depois desses fascistas terem sido repelidos e reprimidos na Romênia. Fascistas não foram vítimas na Romênia e sim algozes, por isso, menos choro ao chiar.
Esse pessoal podia se juntar às manifestações com as "Bolsonaretes" pedindo "volta da ditadura" pra máscara de "democratas" (se é que tinham) cair de uma vez. O PSDB, os liberais de araque do país (que são um bando de autoritários defendendo liberalismo radical econômico pra beneficiar corporações e bancos e arrocho), junto com a mídia oligopolizada, já que abriram a fossa da extrema-direita no Brasil e o mal cheiro tá chegando pra todo mundo.
Atos pró-ditadura geram constrangimento à oposição
Enquanto em 1984 o povo, mais esclarecido que esse bando de bestas do link acima, ia em massa às ruas pra pedir o fim da ditadura, abafado por esta mesma mídia que adora falar em "liberdade" sendo que a mesma surgiu na ditadura (sugando as tetas da mesma):
Insatisfação com a ditadura eclode nas manifestações das Diretas Já!
A tal extrema-direita mais organizada (não é a que o pessoal aqui costuma discutir, no caso os "revis"), defende um liberalismo econômico radical e um alinhamento do Brasil como capacho dos Estados Unidos, que é a posição defendida desde o término da segunda guerra por esses "liberais".
Para a turma "revoltando" que vai na "onda" da mídia, a mídia no Brasil não quer implementar "regime nacionalista" algum como alguns mais à direita (minoria) acabam achando. A mídia (do oligopólio) utiliza esse pessoal como bucha de canhão pra desestabilizar governos com políticas nacionais, mesmo que moderadas (a avaliação disso, políticas nacionais, varia obviamente de pessoa pra pessoa). Por que acham que a mídia opera pra tirar determinados partidos de cena? Pensem nisto antes de dar apoio a Bolsonaros e cia, os capachinhos do governo dos EUA, já que parte de vocês "amam" as políticas do Tio Sam (governo dos EUA).
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quarta-feira, 4 de junho de 2014
O Holocausto na Transnístria: excertos de Ioanid (Romênia)
Policiais romenos deportando judeus para Transnístria, 1941 |
Berezovka foi o ponto de chegada de quase vinte mil judeus de Odessa que sobreviveram aos massacres do exército romeno, em Outubro de 1941. A estação ferroviária da cidade de Berezovka, umas sessenta milhas a nordeste de Odessa, estava situada no meio de assentamentos de um grupo de ucranianos e alemães étnicos. Os judeus, trazidos no trem, foram levados para o campo e baleados por alemães étnicos do Selbstschutz [membros dos corpos de auto-defesa]... O número de mortos... foi inchado por vítimas de pequenas cidades e aldeias. Uma estimativa cumulativa foi indicada por um membro do Ministério do Exterior alemão em maio. Cerca de 28.000 judeus foram levados para as aldeias alemãs na Transnístria, ele [Popescu] escreveu. "Inzwischen wurden sie liquidiert" (Enquanto isso, eles foram liquidados).
Um relatório da polícia romena (Gendarmaria) de Berezovka afirmou que em abril de 1942, 85 por cento dos judeus do distrito de Berezovka haviam sido liquidados por formações da SS. Um relatório similar de maio 1942 indicou que todos os judeus de Odessa, que haviam sido detidos no castelo Mostovoi, haviam sido executados em um campo pela SS, que, em seguida, queimou os cadáveres. No início de junho as tropas da SS de Lichtenfeld executaram 1.200 judeus em Suha Verba; a política de inspeção da Transnístria informou do assassinato em massa ao governo da Transnístria. Em 3 de julho de 1942, as autoridades romenas entregaram cerca de 247 judeus em Brailov (Bratslav), 10 km a nordeste de Smerinka, depois deles terem procurado refúgio em território romeno; os alemães os mataram. Policiais romenos executaram trezentos judeus deslocados de Vapniarka para Berezovka durante a primavera de 1942.
Em 19 de agosto de 1942, a pedido da Organização Todt e com o consentimento do prefeito do distrito de Tulcin, coronel Loghin, três mil judeus que haviam sido deportados em junho de Cernauti e levados além do rio Bug, agora foram entregues aos alemães. Desses três mil judeus quase ninguém retornou. Os idosos, [bem como] algumas das mulheres, crianças e os mais fracos foram executados nos primeiros dias. Os outros foram mortos gradualmente, uma vez que não poderiam mais trabalhar. Em seguida, no dia 6 de junho de 1943, mais uma vez, a pedido da Organização Todt, outro transporte de 829 judeus foi enviado de Moghilev para Trihati para a construção de uma ponte sobre o rio Bug. O destino desses judeus é desconhecido.
Durante as execuções em massa da SS dos judeus que haviam sido deportados para o Distrito Berezovka na primavera de 1942, policiais romenos também conduziram sua própria carnificina.
Quantos judeus morreram nos massacres na Transnístria? Pelo menos 123 mil judeus romenos haviam cruzaram o rio Dniester, entre 1941 e 1942; apenas 50.741 permaneceram vivos a partir de 1943. Cerca de 25.000 judeus foram mortos em Odessa, no mínimo, 28 mil judeus foram mortos pelos alemães em Berezovka, e 75.000 foram mortos em Golta, para não falar nos 19.000 ciganos romenos mortos na Transnístria. Julius Fisher estima que 87.000 judeus romenos morreram na Transnístria, juntamente com 130.000 judeus indígenas (nativos). Os alemães têm responsabilidade direta pela morte de cerca de cinquenta mil, principalmente nos distritos de Berezovka e Bar. A maioria deles foi entregue aos nazistas pelos romenos. O resultado final de todos os esforços dos romenos, dos alemães e seus colaboradores foi a chacina de mais que um quarto de milhão de pessoas inocentes.
Embora, como vimos, os assassinatos tenham continuado depois de 1942, o zelo do funcionalismo romeno começou a diminuir no mesmo ano com o curso mutável da guerra, sugerindo a eles substituir o fanatismo pelo oportunismo nas questões judaicas. Se o assassinato em massa ocorreu com menor frequência, no entanto, o entorpecimento e número de perseguição de almas e a opressão moendo o dia a dia continuaria, com resultados fatais extensos.
Foto: Gendarmaria(polícia) Romena e colaboracionistas locais durante a deportação dos judeus de Briceva para a Transnístria. Encabeçando o combio de deportados está o rabino Dov-Berl Yechiel. (Bessarábia, Romênia, 1941)
Fonte da foto: Yad Vashem
Fonte: Holocaust Controversies
Título original: The Holocaust in Transnistria: Extracts from Ioanid
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2012/02/holocaust-in-transnistria-extracts-from.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena
quinta-feira, 6 de março de 2014
"O cigano deverá ser esterilizado em casa"
"O cigano deve ser esterilizado em casa"
Com base nas idéias eugênicas/racistas de Robert Ritter, o mentor intelectual da tragédia ciganos na Alemanha nazista, "pesquisadores" romenos consideravam os Roma uma praga:
http://romafacts.uni-graz.at/index.php/history/persecution-internment-genocide-holocaust/deportations-from-romania
Ill. 3 (traduzido pro inglês de Fãcãoaru, Gheorghe (1941) Câteva date în jurul familiei si statului biopolitic, Bucureşti)
Tradução: Roberto Lucena
Observação: pelo site ser um pouco confuso só deu pra traduzir esta parte, mas tem mais coisas interessantes neste site austríaco (a quem quiser checar mais coisas sobre a deportação e extermínio de ciganos no Holocausto).
Com base nas idéias eugênicas/racistas de Robert Ritter, o mentor intelectual da tragédia ciganos na Alemanha nazista, "pesquisadores" romenos consideravam os Roma uma praga:
"Ciganos nômades e semi-nômades devem ser internados em campos de trabalho forçado. Lá, as roupas devem ser trocadas, suas barbas e cabelo cortados, seus corpos esterilizados [...]. Suas despesas para sobrevivência deverão ser pagas com seu próprio trabalho. Após uma geração, poderemos nos livrar deles. Em seu lugar, podemos colocar os romenos étnicos da Romênia ou do exterior, capazes de fazer trabalho ordenado e criativo. O cigano sedentário deve ser esterilizado em casa [...]. Desta forma, as periferias das nossas vilas e cidades deixarão de ser locais repletos de doenças, e se transformarão num paredão étnico útil para nossa nação."Fonte: site FACTSHEETS ON ROMA (Áustria)
http://romafacts.uni-graz.at/index.php/history/persecution-internment-genocide-holocaust/deportations-from-romania
Ill. 3 (traduzido pro inglês de Fãcãoaru, Gheorghe (1941) Câteva date în jurul familiei si statului biopolitic, Bucureşti)
Tradução: Roberto Lucena
Observação: pelo site ser um pouco confuso só deu pra traduzir esta parte, mas tem mais coisas interessantes neste site austríaco (a quem quiser checar mais coisas sobre a deportação e extermínio de ciganos no Holocausto).
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Crise diplomática entre Romênia e Hungria pela minoria magiar romena
Gábor Vona, extremista do Jobbik |
Cerca de um milhão e meio de húngaros étnicos vivem na Romênia, sobretudo em três condados no centro da Transilvânia, um território que foi administrado por Budapeste até 1918, quando ela o perdeu depois do fim da Primeira Guerra Mundial.
A comunidade húngara na Transilvânia tem sido frequente motivo de discórdia entre ambos países, e a tensão já aumentou em fevereiro em uma disputa sobre o uso oficial da bandeira da minoria húngara na Romênia, de cor azul claro com a uma franja amarela.
Com esta conjuntura, as declarações do líder do partido ultranacionalista Jobbik, Gábor Vona, no sábado passado na Transilvânia a favor de uma maior autonomia geraram mal-estar em Bucareste.
"Não renunciaremos nossa meta de que um dia todos os húngaros vivam em uma pátria", declarou Vona, e acrescentou que se os interesses magiares só podem ser resolvidos "assumindo os conflitos, este será assumido".
Essas declarações irritaram o presidente romeno, Traian Basescu, que afirmou na segunda-feira que "a agressiva política de Budapeste" com respeito as minorias húngaras que vivem nos países vizinhos, sobretudo na Eslováquia e Romênia, perturba seus governos.
"Este ano será o último em que os políticos húngaros poderão atuar como querem na Romênia", sustentou o chefe de Estado, que avaliou que se havia "passado dos limites".
O Ministério de Relações Exteriores húngaro procurou abaixar a tensão esta semana com um comunicado ao recordar que o "Jobbik é um partido de oposição, e que não participa da composição do Governo húngaro", que não compartilha sua responsabilidade.
"O governo húngaro está comprometido com as bases e metas da associação estratégica húngaro-romena", acrescentou.
O ditador comunista romeno Nicolae Ceausescu tratou de diluir o peso dos húngaros na Transilvânia fomentando o traslado de romenos para este território, mas desde a chegada da democracia em 1989 a minoria magiar ganhou direitos, como um sistema escolar em sua língua materna.
Contudo, as formações que representam os húngaros na Romênia pedem mais direitos e influência sobre a administração e a educação.
Alguns analistas consideram que os ultranacionalistas húngaros utilizam os magiares que vivem na Romênia para enaltecer seus potenciais votantes.
"Sem dúvida, Vona quer fazer barulho para que se lhe ouçam bem em Budapeste. Aterriza na Romênia, bate com o punho no peito como um grande nacionalista e assim recebe os votos", explicou hoje à EFE o historiador romeno Stelian Tanase.
"Estamos falando de um extremista e um antissemita que explora os sentimentos de uma periferia frustrada", avalia Tanase.
As declarações do líder ultra húngaro também afetaram a difícil coabitação entre a coalizão governamental de centro-esquerda, encabeçada pelo primeiro-ministro social-democrata, Victor Ponta, e o presidente de centro-direita Basescu.
O Executivo repreendeu a Basescu por sua política de mão tendida ante a Hungria, pela amizade que este mantém com o chefe do governo húngaro, Viktor Orbán, criticado pela Comissão Europeia por algumas leis que consideram que debilitam a democracia.
A nova Constituição húngara promovida por Orbán e que entrou em vigor em 2012 afirma que o Estado deve assumir a responsabilidade pelos milhões de húngaros que vivem no exterior, sobretudo na Romênia, e em menor medida na Eslováquia e Sérvia.
Além disso, especifica que já não se requer a residência na Hungria para poder votar nas eleições húngaras nem para que os húngaros que vivem em outros Estados adquiram a nacionalidade, uma decisão que levantou críticas em Bucareste e em Bratislava.
EFE. 14/08/2013 (19:04)
Fonte: EFE/El Confidencial (Espanha)
http://www.elconfidencial.com/ultima-hora-en-vivo/2013-08-14/rifirrafe-diplomatico-entre-rumania-y-hungria-por-la-minoria-magiar-rumana_17672/
Tradução: Roberto Lucena
Ver mais:
Basescu muda de atitude nas relações romeno-húngaras (Presseurop)
Observação: não saiu nenhuma notícia no Brasil sobre o caso, pelo menos não achei e não vi. Como também não tenho visto nenhuma menção ao caso de Gibraltar (entre Espanha e Reino Unido).
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sexta-feira, 17 de maio de 2013
A extrema direita na Europa (parte 4): Jobbik aproveita a onda da desilusão (Hungria)
Jobbik aproveita a onda da desilusão (Texto de 1 abril 2010, de uma série de 7 textos sobre a extrema-direita na Europa, no presseurop.eu)
Komment.hu Budapeste
Um ano após a sua participação nas eleições europeias, o partido Jobbik talvez continue a seduzir inúmeros eleitores nas próximas legislativas húngaras (11 e 25 de Abril). É muito provável que a formação populista, xenófoba, anticigana e nacionalista de Gábor Vona pese na formação do futuro Governo.
Balázs Ablonczy
As forças políticas que detiveram o poder na Hungria, nos últimos 20 anos, defraudaram cruelmente as esperanças dos eleitores. Os inúmeros filiados no partido Jobbik [nacionalista, cujo nome significa, ao mesmo tempo, "o mais à direita" e "o melhor"] são o resultado dessa decepção. Qual será o programa e a retórica deste partido?
Quando o vemos no YouTube, as expressões que os simpatizantes mais utilizam são "decepção" e "confio nele". Perante as câmaras, o adepto da extrema-direita afirma, de modo corajoso, que apoia este partido porque conhece bem o programa, que é inovador e muito bom. Retoma, assim, a deixa de um velho diálogo: o que é original não é bom e o que é bom não é original?
Em nome de um Estado forte
O alarmismo a propósito de fascistas e nazis, tão do gosto dos intelectuais de esquerda, já não se usa. O Jobbik não é um partido nazi. Porque o movimento de Gábor Vona não é um partido. São três partidos juntos.
Segundo as últimas sondagens, o partido obtém fortes apoios nas regiões do Leste da Hungria, cujos eleitores desejam um Estado forte, que resolva os problemas de ordem pública e as questões existenciais que se lhes colocam todos os dias, criando uma guarda que os defenda dos ciganos. Ainda assim, nenhum dirigente da Guarda Magiar [organização paramilitar do partido, proibida no final de 2009] nem do Jobbik explicou como é que os seus desfiles marciais, seguidos por gente corajosa, conseguiram solucionar fosse o que fosse relativamente à integração dos ciganos na Húngria. Também está por provar a necessidade de gente fardada: as missões da Guarda Magiar limitam-se, ao que parece, ao voluntariado e à defesa da população durante as cheias.
Fartos do capitalismo e da UE
Os simpatizantes do Jobbik incluem eleitores de base da direita radical, que abandonaram outros partidos de direita. Estes últimos são visivelmente influenciados pelo mito da invasão da Hungria pelos promotores imobiliários israelitas e estão fartos do capitalismo, da UE e dos governos em geral. Possuem uma força limitada.
Uma parte do grupo limita-se a dizer que os demais partidos radicais europeus são capazes de influenciar as políticas governamentais. Atribuem ao Jobbik uma tarefa pedagógica: quando estiverem no Parlamento, poderão pressionar o Fidesz [artido conservador, na oposição, a que as sondagens dão a vitória nas legislativas de 11 e 25 de Abril] e colocá-lo na "direcção certa". Mas nenhum dos seus modelos estrangeiros, nem o polaco PiS nem o austríaco FPÖ, se refere aos ciganos e aos judeus num tom tão violento, nem ao Holocausto de forma tão aberta como os fóruns oficiais e semi-oficiais do Jobbik. Nem Ján Slota, do Partido Nacional Eslovaco, se atreve a fazê-lo, apesar de ter ali à mão, para acicatar o ódio contra os estrangeiros, a minoria húngara do seu país.
Afinidades com o nacional-socialismo
A verdade é que há no Jobbik uma terceira facção, que não disfarça a simpatia pelo nazismo. A seus olhos, o partido é demasiado brando, mas eles são realistas. Até à data, o Jobbik conseguiu conciliar a admiração incompreensível pelo primeiro-ministro russo Vladimir Putin, cuja actuação é muitas vezes contrária aos interesses nacionais húngaros, e o desejo de que seja demolido o memorial aos soldados russos, na Praça Szabadság [Praça da Liberdade] de Budapeste.
Os simpatizantes do Jobbik, em suma, estão desiludidos com tudo, excepto com o Estado – apesar de o Estado, sobretudo ele, não ter brilhado nestes últimos anos. Mas como poderá funcionar bem nas mãos de um partido cujo objectivo é o confronto permanente? No fundo, o Jobbik não passa de um partido político. Enquanto tal, o mais certo é que seja permeável a casos de corrupção. Acabará por ser uma grande decepção, mais uma, para a maioria dos seus eleitores.
O roubo, a insegurança, a precariedade ou a impotência podem legitimar a raiva e a decepção. Será possível, no entanto, que consigam fundar uma estratégia política?
Links exteriores
Artigo original do Komment (húngaro)
Romênia
O extremismo húngaro não tem limites
Treinos intensos, aspecto guerreiro, reuniões clandestinas em sítios secretos, uniformes com dragonas, bandeiras húngaras, slogans revisionistas: com o Pelotão Sicula, é mesmo a sério. Depois da proibição da Guarda Magiar, milícia paramilitar da extrema-direita húngara, em 2009, um grupo de jovens siculas, a minoria de origem húngara na Transilvânia, decidiu pegar no testemunho. "O Pelotão Sicula é a falange romena da Guarda Magiar", aponta o Adevărul. "Somos siculas, não somos magiares nem romenos. Em comparação com a Guarda Magiar, somos uma espécie de associação amiga”, afirma Csibi Barna, 30 anos, líder do grupo. Para ele, “a independência dos siculas” é um objectivo pessoal e não um fim em si. Contudo, o grupo, composto essencialmente por jovens, não esconde a admiração pela Grande Hungria e quer fazer perdurar as tradições do seu povo. “Aqui, como na Hungria, perdem-se cada vez mais perante os novos hábitos ocidentais. Se desaparecerem, deixaremos de poder falar em nação húngara”, proclama um dos seus membros.
Fonte: Presseurop.eu (série A extrema direita na Europa, parte 4)
http://www.presseurop.eu/pt/content/article/223261-jobbik-aproveita-onda-da-desilusao
Komment.hu Budapeste
Membros do Jobbik e da Guarda Magiar em Budapeste , a 23 de Outubro de 2009, no aniversário da revolta de 1956 contra a invasão soviética. AFP |
Balázs Ablonczy
As forças políticas que detiveram o poder na Hungria, nos últimos 20 anos, defraudaram cruelmente as esperanças dos eleitores. Os inúmeros filiados no partido Jobbik [nacionalista, cujo nome significa, ao mesmo tempo, "o mais à direita" e "o melhor"] são o resultado dessa decepção. Qual será o programa e a retórica deste partido?
Quando o vemos no YouTube, as expressões que os simpatizantes mais utilizam são "decepção" e "confio nele". Perante as câmaras, o adepto da extrema-direita afirma, de modo corajoso, que apoia este partido porque conhece bem o programa, que é inovador e muito bom. Retoma, assim, a deixa de um velho diálogo: o que é original não é bom e o que é bom não é original?
Em nome de um Estado forte
O alarmismo a propósito de fascistas e nazis, tão do gosto dos intelectuais de esquerda, já não se usa. O Jobbik não é um partido nazi. Porque o movimento de Gábor Vona não é um partido. São três partidos juntos.
Segundo as últimas sondagens, o partido obtém fortes apoios nas regiões do Leste da Hungria, cujos eleitores desejam um Estado forte, que resolva os problemas de ordem pública e as questões existenciais que se lhes colocam todos os dias, criando uma guarda que os defenda dos ciganos. Ainda assim, nenhum dirigente da Guarda Magiar [organização paramilitar do partido, proibida no final de 2009] nem do Jobbik explicou como é que os seus desfiles marciais, seguidos por gente corajosa, conseguiram solucionar fosse o que fosse relativamente à integração dos ciganos na Húngria. Também está por provar a necessidade de gente fardada: as missões da Guarda Magiar limitam-se, ao que parece, ao voluntariado e à defesa da população durante as cheias.
Fartos do capitalismo e da UE
Os simpatizantes do Jobbik incluem eleitores de base da direita radical, que abandonaram outros partidos de direita. Estes últimos são visivelmente influenciados pelo mito da invasão da Hungria pelos promotores imobiliários israelitas e estão fartos do capitalismo, da UE e dos governos em geral. Possuem uma força limitada.
Uma parte do grupo limita-se a dizer que os demais partidos radicais europeus são capazes de influenciar as políticas governamentais. Atribuem ao Jobbik uma tarefa pedagógica: quando estiverem no Parlamento, poderão pressionar o Fidesz [artido conservador, na oposição, a que as sondagens dão a vitória nas legislativas de 11 e 25 de Abril] e colocá-lo na "direcção certa". Mas nenhum dos seus modelos estrangeiros, nem o polaco PiS nem o austríaco FPÖ, se refere aos ciganos e aos judeus num tom tão violento, nem ao Holocausto de forma tão aberta como os fóruns oficiais e semi-oficiais do Jobbik. Nem Ján Slota, do Partido Nacional Eslovaco, se atreve a fazê-lo, apesar de ter ali à mão, para acicatar o ódio contra os estrangeiros, a minoria húngara do seu país.
Afinidades com o nacional-socialismo
A verdade é que há no Jobbik uma terceira facção, que não disfarça a simpatia pelo nazismo. A seus olhos, o partido é demasiado brando, mas eles são realistas. Até à data, o Jobbik conseguiu conciliar a admiração incompreensível pelo primeiro-ministro russo Vladimir Putin, cuja actuação é muitas vezes contrária aos interesses nacionais húngaros, e o desejo de que seja demolido o memorial aos soldados russos, na Praça Szabadság [Praça da Liberdade] de Budapeste.
Os simpatizantes do Jobbik, em suma, estão desiludidos com tudo, excepto com o Estado – apesar de o Estado, sobretudo ele, não ter brilhado nestes últimos anos. Mas como poderá funcionar bem nas mãos de um partido cujo objectivo é o confronto permanente? No fundo, o Jobbik não passa de um partido político. Enquanto tal, o mais certo é que seja permeável a casos de corrupção. Acabará por ser uma grande decepção, mais uma, para a maioria dos seus eleitores.
O roubo, a insegurança, a precariedade ou a impotência podem legitimar a raiva e a decepção. Será possível, no entanto, que consigam fundar uma estratégia política?
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Artigo original do Komment (húngaro)
Romênia
O extremismo húngaro não tem limites
Treinos intensos, aspecto guerreiro, reuniões clandestinas em sítios secretos, uniformes com dragonas, bandeiras húngaras, slogans revisionistas: com o Pelotão Sicula, é mesmo a sério. Depois da proibição da Guarda Magiar, milícia paramilitar da extrema-direita húngara, em 2009, um grupo de jovens siculas, a minoria de origem húngara na Transilvânia, decidiu pegar no testemunho. "O Pelotão Sicula é a falange romena da Guarda Magiar", aponta o Adevărul. "Somos siculas, não somos magiares nem romenos. Em comparação com a Guarda Magiar, somos uma espécie de associação amiga”, afirma Csibi Barna, 30 anos, líder do grupo. Para ele, “a independência dos siculas” é um objectivo pessoal e não um fim em si. Contudo, o grupo, composto essencialmente por jovens, não esconde a admiração pela Grande Hungria e quer fazer perdurar as tradições do seu povo. “Aqui, como na Hungria, perdem-se cada vez mais perante os novos hábitos ocidentais. Se desaparecerem, deixaremos de poder falar em nação húngara”, proclama um dos seus membros.
Fonte: Presseurop.eu (série A extrema direita na Europa, parte 4)
http://www.presseurop.eu/pt/content/article/223261-jobbik-aproveita-onda-da-desilusao
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
Grupo de extrema-direita quer pagar a ciganas romenas para serem esterilizadas
Grupo extremista quer pagar a ciganas romenas para serem esterilizadas
PÚBLICO; 10/01/2013 - 16:05
O grupo acusa a comunidade cigana de ser um "fardo para a sociedade romena" e ofereceu-se para pagar a esterilização de mulheres da etnia cigana.
(Foto) A comunidade rom tem oficialmente 620 mil elementos na Roménia Paulo Pimenta
Um grupo nacionalista e extremista romeno ofereceu-se para pagar a esterilização de mulheres de etnia cigana. O NAT88, um grupo de Timisoara, oeste da Roménia, divulgou no seu blogue que estaria disposto a pagar 300 lei (68 euros) a ciganas romenas que provassem terem já sido esterilizadas este ano. Às que não tivessem capacidade financeira para o fazer, o grupo garantiu que avançaria com a quantia.
A iniciativa foi condenada pelo Instituto Elie Wiesel e duas organizações não-governamentais (ONG) romenas, que se manifestam preocupadas como a “recrudescência do fenómeno extremista”.
A oferta esteve disponível no blogue do NAT88, mas depois de surgirem críticas à iniciativa o endereço do grupo ficou indisponível, o que se verificava ainda esta quinta-feira. De acordo com as três organizações, enquanto esteve activo, o blogue deixava uma proposta que se afirmava “muito séria”: “Oferecemos uma recompensa de 300 lei a cada mulher cigana, na área de Banat, que apresente um documento médico que prove que tenha sido esterilizada voluntariamente em 2013. Se não conseguem educar o seu povo para que não sejam um fardo para a sociedade romena, garantimos 300 lei para uma esterilização voluntária.”
A proposta foi condenada num comunicado divulgado na quarta-feira assinado pelo Instituto Elie Wiesel, instituto nacional romeno para os estudos do Holocausto; pela Romani CRISS, uma organização não-governamental que defende os direitos da comunidade rom (expressão utilizada para designar a comunidade cigana); e pelo MCA, centro para o combate ao anti-semitismo. “Condenamos a recrudescência do fenômeno extremista que é incompatível com os valores fundamentais que criam uma sociedade democrática”, defendem, acrescentando que a esterilização de mulheres que pertencem a um determinado grupo étnico “representa uma série ameaça tanto para os membros desse grupo em particular, como para toda a sociedade”.
As organizações sublinham que, em 2011, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou a Eslováquia pela esterilização de mulheres ciganas. Às autoridades da Roménia pedem agora que “ponham em prática todas as medidas legais para garantir que afirmações extremistas e discriminatórias [como as do NAT88] sejam impossíveis de publicar”, sob pena de “serem uma séria ameaça ao princípios e valores democráticos”.
Em resposta à iniciativa do grupo, as três organizações vão avançar com uma queixa junto do Ministério Público romeno.
Estima-se que a comunidade rom, uma minoria étnica na Romênia (com uma população de mais de 21 milhões de habitantes), tenha oficialmente 620 mil elementos no país. Contudo, esse número é elevado para entre 1,5 e dois milhões de pessoas por organizações de defesa dos direitos dos ciganos. Na sua maioria vive em condições de pobreza e é alvo de discriminação no acesso ao trabalho e aos serviços de saúde.
Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/grupo-extremista-quer-pagar-a-mulheres-ciganas-para-serem-esterilizadas-1580207
PÚBLICO; 10/01/2013 - 16:05
O grupo acusa a comunidade cigana de ser um "fardo para a sociedade romena" e ofereceu-se para pagar a esterilização de mulheres da etnia cigana.
(Foto) A comunidade rom tem oficialmente 620 mil elementos na Roménia Paulo Pimenta
Um grupo nacionalista e extremista romeno ofereceu-se para pagar a esterilização de mulheres de etnia cigana. O NAT88, um grupo de Timisoara, oeste da Roménia, divulgou no seu blogue que estaria disposto a pagar 300 lei (68 euros) a ciganas romenas que provassem terem já sido esterilizadas este ano. Às que não tivessem capacidade financeira para o fazer, o grupo garantiu que avançaria com a quantia.
A iniciativa foi condenada pelo Instituto Elie Wiesel e duas organizações não-governamentais (ONG) romenas, que se manifestam preocupadas como a “recrudescência do fenómeno extremista”.
A oferta esteve disponível no blogue do NAT88, mas depois de surgirem críticas à iniciativa o endereço do grupo ficou indisponível, o que se verificava ainda esta quinta-feira. De acordo com as três organizações, enquanto esteve activo, o blogue deixava uma proposta que se afirmava “muito séria”: “Oferecemos uma recompensa de 300 lei a cada mulher cigana, na área de Banat, que apresente um documento médico que prove que tenha sido esterilizada voluntariamente em 2013. Se não conseguem educar o seu povo para que não sejam um fardo para a sociedade romena, garantimos 300 lei para uma esterilização voluntária.”
A proposta foi condenada num comunicado divulgado na quarta-feira assinado pelo Instituto Elie Wiesel, instituto nacional romeno para os estudos do Holocausto; pela Romani CRISS, uma organização não-governamental que defende os direitos da comunidade rom (expressão utilizada para designar a comunidade cigana); e pelo MCA, centro para o combate ao anti-semitismo. “Condenamos a recrudescência do fenômeno extremista que é incompatível com os valores fundamentais que criam uma sociedade democrática”, defendem, acrescentando que a esterilização de mulheres que pertencem a um determinado grupo étnico “representa uma série ameaça tanto para os membros desse grupo em particular, como para toda a sociedade”.
As organizações sublinham que, em 2011, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou a Eslováquia pela esterilização de mulheres ciganas. Às autoridades da Roménia pedem agora que “ponham em prática todas as medidas legais para garantir que afirmações extremistas e discriminatórias [como as do NAT88] sejam impossíveis de publicar”, sob pena de “serem uma séria ameaça ao princípios e valores democráticos”.
Em resposta à iniciativa do grupo, as três organizações vão avançar com uma queixa junto do Ministério Público romeno.
Estima-se que a comunidade rom, uma minoria étnica na Romênia (com uma população de mais de 21 milhões de habitantes), tenha oficialmente 620 mil elementos no país. Contudo, esse número é elevado para entre 1,5 e dois milhões de pessoas por organizações de defesa dos direitos dos ciganos. Na sua maioria vive em condições de pobreza e é alvo de discriminação no acesso ao trabalho e aos serviços de saúde.
Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/grupo-extremista-quer-pagar-a-mulheres-ciganas-para-serem-esterilizadas-1580207
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Memorial aos ciganos vítimas do Holocausto será inaugurado em Berlim
De Céline LE PRIOUX (AFP) – Há 6 horas
BERLIM — Mais de 65 anos depois do Holocausto, a chanceler alemã, Angela Merkel, irá inaugurar nesta quarta-feira, em Berlim, um memorial aos ciganos vítimas do nazismo, no momento em que esta comunidade ainda enfrenta casos de racismo e discriminação na Europa.
Quase 500 mil sinti e roms da Europa, dois grupos ciganos muito presentes na Alemanha e considerados "racialmente inferiores", foram assassinados pelo III Reich, segundo estimativas oficiais.
Situado em frente ao Parlamento alemão, o memorial aos sinti e roms, criado pela artista israelense Dani Karavan, consiste em um eixo com um pilar central no qual repousará a cada dia uma flor recém-colhida. Ele está localizado perto de um outro dedicado às vítimas do Holocausto e um dedicado aos homossexuais mortos pelos nazistas.
"O Holocausto contra os ciganos - ou "Porajmos", que significa literalmente devorar - tem sido por muito tempo negado e não tem sido objeto de pesquisas históricas, não só na Alemanha, mas também em outros países como a França de Vichy ou países do Leste Europeu que participaram da perseguição", considerou o historiador Wolfgang Wippermann, da Universidade Livre de Berlim.
"Ao contrário dos judeus, que os nazistas perseguiam pela sua religião, os ciganos, católicos em sua maioria, não eram necessariamente identificáveis entre outros cidadãos", explica Romani Rose, presidente do Conselho Central alemão dos sinti e roms.
Para remediar esta situação, os "pesquisadores raciais" da Alemanha nazista gravaram uma série de características e estabeleceram genealogias que às vezes remontavam ao século XVI, para detectar um "ancestral cigano", a fim de enviar para os campos de extermínio os "de sangue misturado". Em Auschwitz e em Ravensbrück, eles serviram como cobaias para experiências médicas.
A RFA reconheceu oficialmente este genocídio em 1982, com um gesto do chanceler Helmut Schmidt. E em 1997, o presidente Roman Herzog ressaltou pela primeira vez que ele teve a mesma motivação racista e que havia sido praticado pelos nazistas com a mesma resolução e o mesmo desejo que o extermínio dos judeus.
Atualmente, 11 milhões de ciganos vivem no continente europeu, entre eles sete milhões na União Europeia, principalmente na Europa Central e do Sudeste, na Romênia, Bulgária, Hungria e Eslováquia.
A maior minoria étnica na Europa é também a mais pobre, que sofre com a discriminação e o racismo. Rose denuncia principalmente a situação na Romênia, onde foram libertados da escravidão em 1856, na Bulgária, Hungria, Eslováquia, mas também na França e Itália.
A queda da Cortina de Ferro em 1989 e a expansão do Leste Europeu provocou a migração de alguns para o oeste mais rico, e países como França e Itália implementaram medidas de segurança, que incluem a destruição de acampamentos considerados ilegais.
Atualmente vivem na Alemanha cerca de 70 mil ciganos de nacionalidade alemã. "Eles não são nômades e suas famílias estão, por vezes, instaladas há 600 anos em nosso país", indica Wippermann.
Eles fazem parte desde 1997 das quatro minorias protegidas na Alemanha, como os dinamarqueses e os frísios instalados no norte, e os sorbs que vivem no leste.
Nas últimas duas décadas, várias dezenas de milhares de ciganos originários do Leste Europeu também tentaram uma chance na Alemanha. Mas não existem campos selvagens, com dizia o presidente Nicolas Sarkozy há dois anos, afirmando que Angela Merkel procederia com evacuações.
Recentemente, Berlim manifestou seu desejo de fazer parar essas migrações, desejando que fosse retirada a isenção de visto para os cidadãos sérvios e macedônios, muitos dos quais são ciganos.
Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5jcaxA9djip7D5zxIC3LV5EhX9knw?docId=CNG.33a5fe2e73c231d7d6abac75c4abd70b.41
Ver mais:
El Holocausto gitano, por fin reconocido (Deutsche Welle, Alemanha)
Berlín inaugura su monumento en memoria de los gitanos víctimas del Holocausto (AFP, em espanhol)
BERLIM — Mais de 65 anos depois do Holocausto, a chanceler alemã, Angela Merkel, irá inaugurar nesta quarta-feira, em Berlim, um memorial aos ciganos vítimas do nazismo, no momento em que esta comunidade ainda enfrenta casos de racismo e discriminação na Europa.
Quase 500 mil sinti e roms da Europa, dois grupos ciganos muito presentes na Alemanha e considerados "racialmente inferiores", foram assassinados pelo III Reich, segundo estimativas oficiais.
Situado em frente ao Parlamento alemão, o memorial aos sinti e roms, criado pela artista israelense Dani Karavan, consiste em um eixo com um pilar central no qual repousará a cada dia uma flor recém-colhida. Ele está localizado perto de um outro dedicado às vítimas do Holocausto e um dedicado aos homossexuais mortos pelos nazistas.
"O Holocausto contra os ciganos - ou "Porajmos", que significa literalmente devorar - tem sido por muito tempo negado e não tem sido objeto de pesquisas históricas, não só na Alemanha, mas também em outros países como a França de Vichy ou países do Leste Europeu que participaram da perseguição", considerou o historiador Wolfgang Wippermann, da Universidade Livre de Berlim.
"Ao contrário dos judeus, que os nazistas perseguiam pela sua religião, os ciganos, católicos em sua maioria, não eram necessariamente identificáveis entre outros cidadãos", explica Romani Rose, presidente do Conselho Central alemão dos sinti e roms.
Para remediar esta situação, os "pesquisadores raciais" da Alemanha nazista gravaram uma série de características e estabeleceram genealogias que às vezes remontavam ao século XVI, para detectar um "ancestral cigano", a fim de enviar para os campos de extermínio os "de sangue misturado". Em Auschwitz e em Ravensbrück, eles serviram como cobaias para experiências médicas.
A RFA reconheceu oficialmente este genocídio em 1982, com um gesto do chanceler Helmut Schmidt. E em 1997, o presidente Roman Herzog ressaltou pela primeira vez que ele teve a mesma motivação racista e que havia sido praticado pelos nazistas com a mesma resolução e o mesmo desejo que o extermínio dos judeus.
Atualmente, 11 milhões de ciganos vivem no continente europeu, entre eles sete milhões na União Europeia, principalmente na Europa Central e do Sudeste, na Romênia, Bulgária, Hungria e Eslováquia.
A maior minoria étnica na Europa é também a mais pobre, que sofre com a discriminação e o racismo. Rose denuncia principalmente a situação na Romênia, onde foram libertados da escravidão em 1856, na Bulgária, Hungria, Eslováquia, mas também na França e Itália.
A queda da Cortina de Ferro em 1989 e a expansão do Leste Europeu provocou a migração de alguns para o oeste mais rico, e países como França e Itália implementaram medidas de segurança, que incluem a destruição de acampamentos considerados ilegais.
Atualmente vivem na Alemanha cerca de 70 mil ciganos de nacionalidade alemã. "Eles não são nômades e suas famílias estão, por vezes, instaladas há 600 anos em nosso país", indica Wippermann.
Eles fazem parte desde 1997 das quatro minorias protegidas na Alemanha, como os dinamarqueses e os frísios instalados no norte, e os sorbs que vivem no leste.
Nas últimas duas décadas, várias dezenas de milhares de ciganos originários do Leste Europeu também tentaram uma chance na Alemanha. Mas não existem campos selvagens, com dizia o presidente Nicolas Sarkozy há dois anos, afirmando que Angela Merkel procederia com evacuações.
Recentemente, Berlim manifestou seu desejo de fazer parar essas migrações, desejando que fosse retirada a isenção de visto para os cidadãos sérvios e macedônios, muitos dos quais são ciganos.
Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5jcaxA9djip7D5zxIC3LV5EhX9knw?docId=CNG.33a5fe2e73c231d7d6abac75c4abd70b.41
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El Holocausto gitano, por fin reconocido (Deutsche Welle, Alemanha)
Berlín inaugura su monumento en memoria de los gitanos víctimas del Holocausto (AFP, em espanhol)
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Romênia: deportação de ciganos em 1942, uma tragédia esquecida
Em maio de 1942, o marechal romeno Ion Antonescu ordenou a deportação para a Transnistria dos ciganos "nômades, sem ocupação ou delinquentes": quase 70 anos depois, os poucos sobreviventes evocam essa tragédia esquecida, um estigma indelével para tanta gente.
"Eles nos detiveram numa rua de Bucareste, colocando-nos numa carroça puxada por cavalos e nos diziam que seríamos levados a um lugar onde receberíamos terras", conta à AFP Marin Safta, de 89 anos de idade, que perdeu a mãe e um irmão durante os dois anos passados na Transnistria, uma região controlada, então, pelo regime pró-nazista de Antonescu.
"Deportaram-nos para nos matar, mas, como podem ver, eu não morri", diz o velho homem, que vive numa pequena casa escura, sem nunca ter sido indenizado.
A tragédia ainda está bem viva, e será também recordada nesta sexta-feira, Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto.
Dos 208 mil ciganos que viviam no país em 1942 25.000, isto é 12%, foram deportados, segundo o informe sobre o Holocausto na Romênia, redigido por uma comissão internacional de historiadores liderada pelo Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel. Onze mil morreram.
Entre 280 mil e 380 mil judeus romenos e ucranianos também vieram a falecer nos territórios administrados por Bucareste.
"A deportação de ciganos gerou vários abusos. Também tiveram o mesmo destino famílias de romenos pobres, de húngaros e turcos, e pessoas que tinham mesmo um trabalho ou terras", segundo a comissão.
Gheorghe Stana tinha 7 anos quando chegou a ordem de deportação. "Tínhamos uma casa, meu pai trabalhava como jornaleiro, mas nada adiantou. Fomos todos levados, minha mãe, minha irmã...", conta Stana à AFP. Ele nasceu em Vedea (sul).
A falta de alimentos, as enfermidades e o trabalho forçado dizimaram os deportados. "Milhares de pessoas morreram ali. Os corpos eram jogados numa fossa, como animais. Ainda tenho diante de meus olhos essas imagens", diz.
"Quando a guerra acabou, nos deixaram ir embora", conta Safta, narrando como voltou de trem até a fronteira atual entre a Moldávia e a Romênia, seguindo, depois, a pé, até Bucareste.
Os dois homens dizem que "falaram muito pouco" a seus filhos sobre essa tragédia, porque tentavam eles próprios não pensar mais nela.
O fato de a ordem oficial de deportação só dizer respeito a algumas categorias de ciganos "tem implicações profundas na mentalidade" da comunidade, explica o sociólogo Nicolae Furtuna.
Muitas vítimas sentem "vergonha de dizer que foram deportadas, é um estigma", explica o sociólogo, que compara a situação deles com a das mulheres estupradas.
Furtuna, que ouviu dezenas de sobreviventes, conta depoimentos terríveis. "Me disseram que alguns chegaram a comer carne humana, outros esconderam em casa o corpo de um parente morto para continuar recebendo sua ração de comida", diz, lamentando a falta de documentos escritos sobre esses acontecimentos.
"São esses detalhes, mais que os números, que nos fazem viver esse período triste", diz, destacando ser "um dever moral transmitir essas experiências" aos jovens, sejam ciganos ou não.
Fonte: AFP
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5579241-EI8142,00-Romenia+deportacao+de+ciganos+em+uma+tragedia+esquecida.html
"Eles nos detiveram numa rua de Bucareste, colocando-nos numa carroça puxada por cavalos e nos diziam que seríamos levados a um lugar onde receberíamos terras", conta à AFP Marin Safta, de 89 anos de idade, que perdeu a mãe e um irmão durante os dois anos passados na Transnistria, uma região controlada, então, pelo regime pró-nazista de Antonescu.
"Deportaram-nos para nos matar, mas, como podem ver, eu não morri", diz o velho homem, que vive numa pequena casa escura, sem nunca ter sido indenizado.
A tragédia ainda está bem viva, e será também recordada nesta sexta-feira, Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto.
Dos 208 mil ciganos que viviam no país em 1942 25.000, isto é 12%, foram deportados, segundo o informe sobre o Holocausto na Romênia, redigido por uma comissão internacional de historiadores liderada pelo Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel. Onze mil morreram.
Entre 280 mil e 380 mil judeus romenos e ucranianos também vieram a falecer nos territórios administrados por Bucareste.
"A deportação de ciganos gerou vários abusos. Também tiveram o mesmo destino famílias de romenos pobres, de húngaros e turcos, e pessoas que tinham mesmo um trabalho ou terras", segundo a comissão.
Gheorghe Stana tinha 7 anos quando chegou a ordem de deportação. "Tínhamos uma casa, meu pai trabalhava como jornaleiro, mas nada adiantou. Fomos todos levados, minha mãe, minha irmã...", conta Stana à AFP. Ele nasceu em Vedea (sul).
A falta de alimentos, as enfermidades e o trabalho forçado dizimaram os deportados. "Milhares de pessoas morreram ali. Os corpos eram jogados numa fossa, como animais. Ainda tenho diante de meus olhos essas imagens", diz.
"Quando a guerra acabou, nos deixaram ir embora", conta Safta, narrando como voltou de trem até a fronteira atual entre a Moldávia e a Romênia, seguindo, depois, a pé, até Bucareste.
Os dois homens dizem que "falaram muito pouco" a seus filhos sobre essa tragédia, porque tentavam eles próprios não pensar mais nela.
O fato de a ordem oficial de deportação só dizer respeito a algumas categorias de ciganos "tem implicações profundas na mentalidade" da comunidade, explica o sociólogo Nicolae Furtuna.
Muitas vítimas sentem "vergonha de dizer que foram deportadas, é um estigma", explica o sociólogo, que compara a situação deles com a das mulheres estupradas.
Furtuna, que ouviu dezenas de sobreviventes, conta depoimentos terríveis. "Me disseram que alguns chegaram a comer carne humana, outros esconderam em casa o corpo de um parente morto para continuar recebendo sua ração de comida", diz, lamentando a falta de documentos escritos sobre esses acontecimentos.
"São esses detalhes, mais que os números, que nos fazem viver esse período triste", diz, destacando ser "um dever moral transmitir essas experiências" aos jovens, sejam ciganos ou não.
Fonte: AFP
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terça-feira, 28 de junho de 2011
Massacre de judeus em 1941 assinalado na cidade romena de Iasi
Centenas de pessoas assinalaram hoje o massacre de Iasi, uma cidade do leste da Romênia onde 13.000 a 15.000 judeus foram mortos em junho de 1941, pelo regime pró-nazi romeno.
"Estamos junto à sinagoga de Iasi, a mais antiga da Romênia. O obelisco que inauguramos hoje é em memória dos milhares de judeus que foram massacrados aqui no fim do mês de junho de 1941", declarou o presidente da comunidade judaica local, Abraham Ghiltan, segundo a agência France-Press.
O monumento, frisou, "deve lembrar a todos onde é que pode levar o ódio e a intolerância", independentemente da "origem, etnia ou religião".
Assistiram à cerimónia diversos sobreviventes, israelitas descendentes de judeus mortos durante o massacre, dirigentes do Museu do Holocausto de Washington e responsáveis romenos, bem como o embaixador dos Estados Unidos em Bucareste, Mark Gitenstein.
Na segunda-feira, os participantes na homenagem deslocaram-se aos cemitérios próximos de Targu Frumos e de Podu Iloaiei, onde estão enterrados em valas comuns os judeus que morreram nos "comboios da morte" que saíram de Iasi após a ofensiva das forças de segurança romenas.
O diretor do Instituto Elie Wiesel sobre o Holocausto na Roménia, Alexandru Florian, salientou que nas valas comuns estão enterradas "vítimas sem nome", que "durante décadas estiveram sem identidade", porque no país apenas se falava "a meia voz sobre os acontecimentos trágicos de Iasi".
O massacre de Iasi, a segunda maior cidade romena depois da capital Bucareste, foi levado a cabo pelas forças de segurança romenas, com o apoio de populares, após rumores de que os judeus locais apoiavam as forças soviéticas. Entre 1939 e 1944, a Roménia foi aliada do regime nazi.
A perseguição foi lançada na noite de 28 para 29 de junho de 1941, tendo sido inicialmente mortos mais de 8.000 judeus. Outros 5.000 foram presos e embarcados posteriormente em comboios, mas apenas pouco mais de um milhar chegaram ao destino, tendo os restantes sucumbido à fome e à sede dentro das composições sobrelotadas.
Segundo um relatório de uma comissão de historiadores presidida pelo Nobel da Paz Elie Wiesel, entre 280.000 e 380.000 judeus romenos e ucranianos foram mortos durante o holocausto na Romênia e nos territórios então sob o controlo do país.
Fonte: Lusa/SIC Notícias(Portugal)
http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2011/06/28/massacre-de-judeus-em-1941-assinalado-na-cidade-romena-de-iasi-
Ver mais:
Romênia enterra judeus encontrados em vala comum do Holocausto
Holocausto na Romênia
Holocausto por Robert Jan Van Pelt e Deborah Dwork - Parte 1 - Preparativos
"Estamos junto à sinagoga de Iasi, a mais antiga da Romênia. O obelisco que inauguramos hoje é em memória dos milhares de judeus que foram massacrados aqui no fim do mês de junho de 1941", declarou o presidente da comunidade judaica local, Abraham Ghiltan, segundo a agência France-Press.
O monumento, frisou, "deve lembrar a todos onde é que pode levar o ódio e a intolerância", independentemente da "origem, etnia ou religião".
Assistiram à cerimónia diversos sobreviventes, israelitas descendentes de judeus mortos durante o massacre, dirigentes do Museu do Holocausto de Washington e responsáveis romenos, bem como o embaixador dos Estados Unidos em Bucareste, Mark Gitenstein.
Na segunda-feira, os participantes na homenagem deslocaram-se aos cemitérios próximos de Targu Frumos e de Podu Iloaiei, onde estão enterrados em valas comuns os judeus que morreram nos "comboios da morte" que saíram de Iasi após a ofensiva das forças de segurança romenas.
O diretor do Instituto Elie Wiesel sobre o Holocausto na Roménia, Alexandru Florian, salientou que nas valas comuns estão enterradas "vítimas sem nome", que "durante décadas estiveram sem identidade", porque no país apenas se falava "a meia voz sobre os acontecimentos trágicos de Iasi".
O massacre de Iasi, a segunda maior cidade romena depois da capital Bucareste, foi levado a cabo pelas forças de segurança romenas, com o apoio de populares, após rumores de que os judeus locais apoiavam as forças soviéticas. Entre 1939 e 1944, a Roménia foi aliada do regime nazi.
A perseguição foi lançada na noite de 28 para 29 de junho de 1941, tendo sido inicialmente mortos mais de 8.000 judeus. Outros 5.000 foram presos e embarcados posteriormente em comboios, mas apenas pouco mais de um milhar chegaram ao destino, tendo os restantes sucumbido à fome e à sede dentro das composições sobrelotadas.
Segundo um relatório de uma comissão de historiadores presidida pelo Nobel da Paz Elie Wiesel, entre 280.000 e 380.000 judeus romenos e ucranianos foram mortos durante o holocausto na Romênia e nos territórios então sob o controlo do país.
Fonte: Lusa/SIC Notícias(Portugal)
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segunda-feira, 4 de abril de 2011
Romênia enterra judeus encontrados em vala comum do Holocausto
Rabinos enterram os 40 judeus |
O enterro foi realizado para íntimos por cinco rabinos, quatro deles vindos da Grã-Bretanha para a ocasião e um dos Estados Unidos.
Os restos mortais das vítimas, cuja identidade exata não pôde ser estabelecida, foram enterrados em um túmulo comum do cemitério, localizado em uma das colinas que dominam Iasi.
A vala comum que continha os restos de várias dezenas de civis judeus assassinados pelo exército romeno durante o Holocausto foi descoberta em 2010 pelo historiador Adrian Cioflanca, que pôde encontrá-la graças aos depoimentos de habitantes do local que assistiram à matança.
Segundo o Instituto Nacional do Holocausto Elie Wiesel de Bucareste, esses civis foram vítimas provavelmente dos programas da Iasi, nos quais morreram mais de 15.000 judeus romenos em 1941.
Os restos mortais foram entregues à comunidade judaica depois de serem analisados pelo Instituto de Medicina Forense.
Os rabinos consideram que, segundo a lei judaica, os restos das vítimas não deveriam ter sido retirados das fossas onde estavam.
Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5hakmccvGjJQOz9j0muy3569gsRaQ?docId=CNG.b784413f83000616dda24915663acf14.11
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
No Parlamento alemão, cigano lembra o "Holocausto esquecido"
O cigano holandês Zoni Weisz, sobrevivente do Holocausto, discursa no Parlamento alemão. Foto: AFP |
Seu discurso foi dedicado antes de tudo a lembrar o que ele classificou como "o Holocausto esquecido", em alusão ao cerca de 500 mil de Sinti e Roma, as grandes famílias de ciganos centro-europeus, vítimas da máquina nazista.
O Holocausto dos ciganos só começou a ser alvo de pesquisa histórica há pouco, lembrou Weisz, quem sobreviveu à perseguição nazista devido a uma série de casualidades.
Em 16 de maio de 1944, em uma série de batida policial, seus pais e irmãos, que viviam na pequena cidade holandesa de Zutphen, foram detidos pelas forças de ocupação nazistas.
Zoni Weisz, com sete anos, não foi detido porque estava de visita na casa de uma tia fora da cidade, mas posteriormente os nazistas o encontraram, e com outras nove pessoas.
No caminho a Auschwitz, em uma estação onde deviam mudar de trem, um policial holandês ajudou-o a ele e a seus companheiros a fugir.
Weisz sobreviveu no último ano da ocupação escondido e no final da guerra soube que seus pais e seus irmãos haviam morrido no campo de concentração.
Apesar de Weisz garantir que sua família foi normal e feliz até 1944, ressaltou que a perseguição dos ciganos havia começado muito antes da chegada ao poder dos nazistas e que em muitos países europeus ainda não terminou.
"Apesar dos 500 mil provenientes de Sinti e Roma assassinados pelo nazismo, a sociedade não aprendeu nada disso. Caso contrário, agora teria um comportamento mais responsável em direção a nós", disse Weisz.
"Somos europeus e devemos ter os mesmos direitos que os outros", acrescentou o sobrevivente do Holocausto.
Ressaltou que resulta especialmente preocupante que em países como na Bulgária e Romênia os Sinti e Roma tenham que seguir levando uma existência indigna.
Na Hungria, segundo Weisz, a minoria cigana é perseguida abertamente por ultradireitistas com uniformes negros e em outros países da Europa Oriental existem restaurantes com letreiros que dizem "Proibida entrada de ciganos".
O presidente do Bundestag, Norbert Lammert, ressaltou que os ciganos seguem sendo "a minoria maior e mais discriminada na Europa".
Fonte: EFE
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4913989-EI8142,00-No+Parlamento+alemao+cigano+lembra+o+Holocausto+esquecido.html
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domingo, 22 de agosto de 2010
Paris entra no clube dos “ultras”
(Foto) Durante a evacuação do acampamento cigano de Anglet (sudoeste), a 13 agosto 2010. AFP
A viragem de Nicolas Sarkozy em matéria de segurança coloca a França entre os Estados membros que aplicam as políticas mais duras relativamente à imigração. Outros países, como a Espanha e a Alemanha, adotaram abordagens mais flexíveis.
Olivier Schmitt
Ao decidir, a menos de dois anos das eleições presidenciais, colocar a segurança no centro do debate político e atacar a imigração clandestina e a presença dos ciganos no nosso país, Nicolas Sarkozy está a incluir a França naquilo a que se poderia chamar "o clube dos ultras": os países cujas políticas de segurança são fortemente influenciadas pela extrema-direita.
O "clube dos ultras"
Em Itália, segurança rima com luta contra a imigração clandestina. Mais do que de radicalização, pode falar-se de banalização. A Liga do Norte, partido xenófobo e populista, pilar da coligação liderada por Silvio Berlusconi e partido do ministro do Interior, Roberto Maroni, fez dessa luta uma prioridade do Governo. O ministro considera ter praticamente posto termo (menos 88%, entre 1 de agosto de 2009 e 31 de julho de 2010) aos desembarques de clandestinos ao longo das costas italianas, depois do acordo assinado com a Líbia, e não se preocupa com as críticas relativas ao não respeito pelo direito de asilo e pelo destino dos clandestinos enviados para a Líbia.
Vangloria-se igualmente do reforço da legislação, defendido pelo seu partido, através da introdução do conceito de "delito de clandestinidade", criado em agosto de 2009, e ainda da autorização de residência com pontos, lançada em fevereiro.
Nos Países Baixos, Geert Wilders conseguiu criar um clima em que se misturam as questões de insegurança, de integração dos estrangeiros e da posição do Islão. O futuro Governo – sem dúvida uma coligação minoritária de liberais e cristãos democratas, apoiados a partir de fora pelo partido de Wilders – inscreveu a luta contra a insegurança no seu programa. Wilders pretende que os delinquentes estrangeiros sejam expulsos para os seus países de origem e que o lenço islâmico seja penalizado.
Na Suíça, desde 1999, ano da sua subida eleitoral, a União Democrática do Centro (UCD) tem contribuído para tornar mais ousado o discurso em matéria de segurança. O primeiro partido do país vê no "estrangeiro", seja ele refugiado, trabalhador fronteiriço, islamista radical ou cigano, o inimigo que ameaça os valores helvéticos. Mais de um quarto do eleitorado suíço aprova estas ideias xenófobas, levando os partidos da direita tradicional a pescar nas mesmas águas.
O "clube dos moderados"
Na Alemanha, a política de segurança centra-se no essencial na luta contra o terrorismo islamista e contra os neonazis. O arsenal legislativo tem sido continuamente reforçado desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Em 2009, o Bundestag aprovou um texto muito polémico, que permite condenar uma pessoa por um delito "em preparação". Mas, por razões históricas, os ataques dirigidos contra grupos étnicos específicos são globalmente condenados pela opinião pública. Só o NPD, partido neonazi ultra minoritário (menos de 2% dos votos, a nível federal), faz do ataque aos estrangeiros o seu cavalo de batalha. Esta formação é considerada como não tendo credibilidade política e como um perigo para a democracia. Contudo, o défice de integração da comunidade de origem turca é periodicamente tema de debate na Alemanha.
Em Espanha, o discurso em matéria de segurança centra-se tradicionalmente na luta contra o terrorismo da ETA. O Governo socialista de José Luis Zapatero acrescentou-lhe uma segunda prioridade, muito mediatizada: a violência contra as mulheres. A política de segurança também se centra na imigração ilegal. Em fins de 2008, foi criada, no seio da polícia nacional, uma "brigada de expulsão dos delinquentes estrangeiros". Em 2009, foram expulsos 7 600 delinquentes estrangeiros. A entrada em vigor, em fins de 2009, da reforma da lei dos estrangeiros aumentou, nomeadamente, de 40 para 60 dias, a duração máxima da detenção de imigrantes clandestinos em centros de trânsito. Mas, com exceção do partido xenófobo catalão Plataforma per Catalunya, criado em 2003, de um modo geral, as políticas não confundem imigração com delinquência.
A especificidade britânica
O primeiro-ministro conservador David Cameron deseja alterar o "Estado de vigilância" que os trabalhistas contribuíram para criar, na sequência dos atentados terroristas de julho de 2005, em Londres. Pretende regulamentar a utilização das câmeras de vigilância – as cerca de 4,2 milhões de CCTV (circuito fechado de televisão) instaladas nas ruas do Reino Unido e reforçar o direito à manifestação, um pouco maltratado nos últimos anos. E a "Great Repeal Bill" deverá alterar as regras de conservação das impressões do registo de ADN do país.
Visto de Bucareste e de Sófia
Os rapatriamentos de ciganos são inúteis e hipócritas
No momento em que, em 19 de agosto, 93 ciganos romenos a viver em França eram objeto de um "repatriamento humanitário voluntário" para a Roménia, o Evenimentul Zilei previa que "a maior parte irá regressar a França tão depressa quanto possível". Como a Roménia não dispõe de "programas concretos de reintegração" dessas populações, "o problema continuará a ser o mesmo e a não estar resolvido", quando "as equipas de jornalistas franceses, chegadas a Bucareste para fazerem reportagens no local", tiverem partido. Do lado búlgaro, o diário Novinar critica os políticos europeus por aplicarem "padrões ambíguos no que se refere aos ciganos", recorda que a tentativa das autoridades de Sofia de desmantelar um acampamento de ciganos no centro da cidade foi posto de lado, devido a pressões da UE, e pergunta por que motivo aqueles que, na altura, protestaram não reagem agora contra Nicolas Sarkozy.
Fonte: Le Monde(França)/presseurop
http://www.presseurop.eu/pt/content/article/319081-paris-entra-no-clube-dos-ultras
A viragem de Nicolas Sarkozy em matéria de segurança coloca a França entre os Estados membros que aplicam as políticas mais duras relativamente à imigração. Outros países, como a Espanha e a Alemanha, adotaram abordagens mais flexíveis.
Olivier Schmitt
Ao decidir, a menos de dois anos das eleições presidenciais, colocar a segurança no centro do debate político e atacar a imigração clandestina e a presença dos ciganos no nosso país, Nicolas Sarkozy está a incluir a França naquilo a que se poderia chamar "o clube dos ultras": os países cujas políticas de segurança são fortemente influenciadas pela extrema-direita.
O "clube dos ultras"
Em Itália, segurança rima com luta contra a imigração clandestina. Mais do que de radicalização, pode falar-se de banalização. A Liga do Norte, partido xenófobo e populista, pilar da coligação liderada por Silvio Berlusconi e partido do ministro do Interior, Roberto Maroni, fez dessa luta uma prioridade do Governo. O ministro considera ter praticamente posto termo (menos 88%, entre 1 de agosto de 2009 e 31 de julho de 2010) aos desembarques de clandestinos ao longo das costas italianas, depois do acordo assinado com a Líbia, e não se preocupa com as críticas relativas ao não respeito pelo direito de asilo e pelo destino dos clandestinos enviados para a Líbia.
Vangloria-se igualmente do reforço da legislação, defendido pelo seu partido, através da introdução do conceito de "delito de clandestinidade", criado em agosto de 2009, e ainda da autorização de residência com pontos, lançada em fevereiro.
Nos Países Baixos, Geert Wilders conseguiu criar um clima em que se misturam as questões de insegurança, de integração dos estrangeiros e da posição do Islão. O futuro Governo – sem dúvida uma coligação minoritária de liberais e cristãos democratas, apoiados a partir de fora pelo partido de Wilders – inscreveu a luta contra a insegurança no seu programa. Wilders pretende que os delinquentes estrangeiros sejam expulsos para os seus países de origem e que o lenço islâmico seja penalizado.
Na Suíça, desde 1999, ano da sua subida eleitoral, a União Democrática do Centro (UCD) tem contribuído para tornar mais ousado o discurso em matéria de segurança. O primeiro partido do país vê no "estrangeiro", seja ele refugiado, trabalhador fronteiriço, islamista radical ou cigano, o inimigo que ameaça os valores helvéticos. Mais de um quarto do eleitorado suíço aprova estas ideias xenófobas, levando os partidos da direita tradicional a pescar nas mesmas águas.
O "clube dos moderados"
Na Alemanha, a política de segurança centra-se no essencial na luta contra o terrorismo islamista e contra os neonazis. O arsenal legislativo tem sido continuamente reforçado desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Em 2009, o Bundestag aprovou um texto muito polémico, que permite condenar uma pessoa por um delito "em preparação". Mas, por razões históricas, os ataques dirigidos contra grupos étnicos específicos são globalmente condenados pela opinião pública. Só o NPD, partido neonazi ultra minoritário (menos de 2% dos votos, a nível federal), faz do ataque aos estrangeiros o seu cavalo de batalha. Esta formação é considerada como não tendo credibilidade política e como um perigo para a democracia. Contudo, o défice de integração da comunidade de origem turca é periodicamente tema de debate na Alemanha.
Em Espanha, o discurso em matéria de segurança centra-se tradicionalmente na luta contra o terrorismo da ETA. O Governo socialista de José Luis Zapatero acrescentou-lhe uma segunda prioridade, muito mediatizada: a violência contra as mulheres. A política de segurança também se centra na imigração ilegal. Em fins de 2008, foi criada, no seio da polícia nacional, uma "brigada de expulsão dos delinquentes estrangeiros". Em 2009, foram expulsos 7 600 delinquentes estrangeiros. A entrada em vigor, em fins de 2009, da reforma da lei dos estrangeiros aumentou, nomeadamente, de 40 para 60 dias, a duração máxima da detenção de imigrantes clandestinos em centros de trânsito. Mas, com exceção do partido xenófobo catalão Plataforma per Catalunya, criado em 2003, de um modo geral, as políticas não confundem imigração com delinquência.
A especificidade britânica
O primeiro-ministro conservador David Cameron deseja alterar o "Estado de vigilância" que os trabalhistas contribuíram para criar, na sequência dos atentados terroristas de julho de 2005, em Londres. Pretende regulamentar a utilização das câmeras de vigilância – as cerca de 4,2 milhões de CCTV (circuito fechado de televisão) instaladas nas ruas do Reino Unido e reforçar o direito à manifestação, um pouco maltratado nos últimos anos. E a "Great Repeal Bill" deverá alterar as regras de conservação das impressões do registo de ADN do país.
Visto de Bucareste e de Sófia
Os rapatriamentos de ciganos são inúteis e hipócritas
No momento em que, em 19 de agosto, 93 ciganos romenos a viver em França eram objeto de um "repatriamento humanitário voluntário" para a Roménia, o Evenimentul Zilei previa que "a maior parte irá regressar a França tão depressa quanto possível". Como a Roménia não dispõe de "programas concretos de reintegração" dessas populações, "o problema continuará a ser o mesmo e a não estar resolvido", quando "as equipas de jornalistas franceses, chegadas a Bucareste para fazerem reportagens no local", tiverem partido. Do lado búlgaro, o diário Novinar critica os políticos europeus por aplicarem "padrões ambíguos no que se refere aos ciganos", recorda que a tentativa das autoridades de Sofia de desmantelar um acampamento de ciganos no centro da cidade foi posto de lado, devido a pressões da UE, e pergunta por que motivo aqueles que, na altura, protestaram não reagem agora contra Nicolas Sarkozy.
Fonte: Le Monde(França)/presseurop
http://www.presseurop.eu/pt/content/article/319081-paris-entra-no-clube-dos-ultras
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quinta-feira, 30 de abril de 2009
Holocausto por Robert Jan Van Pelt e Deborah Dwork - Parte 1 - Preparativos
Enquanto a liderança alemã resolvia os detalhes burocráticos da “Solução Final”, o jornalista italiano Curzio Malaparte visitava Varsóvia, percorria o gueto e almoçava com o Governador Geral e a Sra. Hans Frank e outras altas autoridades alemãs. Ainda perplexo com o massacre de Iasi, descreveu esse assassinato em massa de 7 mil judeus.
- Um número bastante respeitável – disse Frank - , mas não foi uma maneira decente de fazer isso; não é necessário fazê-lo desse jeito.
- Não, não é a maneira de fazê-lo – disse Fischer, o Governador de Varsóvia, balançando a cabeça em desaprovação.
- Não é uma maneira civilizada – disse em tom repugnado Wächter, o Governador de Cracóvia e um dos assassinos de Dölfuss.
- Os romenos não são um povo civilizado – disse Frank com desprezo.
- Já, es hat keine Kultur (Sim, eles não têm cultura) – disse Fischer, balançando a cabeça.
- Embora eu não tenha o coração tão mole quanto o seu – disse Frank -, partilho e compreendo seu horror com os massacres de Iasi. Como homem, como alemão e como Governador Geral da Polônia, eu desaprovo pogroms.
- Muita bondade dua – eu respondi com uma mesura.
- A Alemanha é um país que tem uma civilização superior e abomina métodos bárbaros – disse Frank, olhando em volta com uma expressão de sincera indignação.
- Natürlich – disseram outros em coro.
- A Alemanha – disse Wächter – é chamada a cumprir uma grande missão
civilizadora no Leste.[1]
Os alemães tinham um jeito muito diferente de fazer as coisas. Não eram romenos e não se comportavam como os romenos.
- Nós alemães somos guiados pela razão e pelo método, e não por instintos bestiais; sempre agimos cientificamente. Quando necessário, mas só quando absolutamente necessário – repetiu Frank, acentuando cada sílaba e olhando-me intensamente, como para gravar suas palavras em minha testa. – Usamos os cirurgiões como nossos modelos, jamais açougueiros. O senhor por acaso já viu um massacre de judeus nas ruas de uma cidade alemã? – prosseguiu – Nunca, viu? Pode ter testemunhado algumas manifestações de estudantes, algumas brincadeiras juvenis inofensivas. Contudo, dentro de um curto tempo, não restará nenhum judeu na Alemanha.- Todo um método de organização – disse Fischer.[2]
E, realmente, poucos judeus restaram na Alemanha, um triunfo de “organização”. Como “resolver” o “Problema Judeu” de maneira civilizada, essa era a questão; como matar em estilo cirúrgico? Como ser assassinos “decentes”?
A liderança da SS, muito cônscia de que devia guiar o judeicídio, temia que seus homens matassem por prazer, e não por ordens. “Eu falei com o Reichsführer-SS [Himmler] sobre essa importante questão”, escreveu um juiz da SS ao escritório principal do sistema de tribunais da SS em 26 de outubro de 1942. “Para decidir se e como punir homens por fuzilarem judeus sem serem ordenados ou autorizados a fazê-lo”, o tribunal deve considerar “o motivo dessa ação”.
(1) Execução por motivos puramente políticos não resultará em punição, a menos que seja necessária a punição para manter a ordem. (...)
(2) Homens agindo por motivos pessoais, sádicos ou sexuais devem ser punidos por um tribunal e, onde aplicável, sob acusações de assassinato ou homicídio culposo.[3]
O SS-Untersturmführer Max Täubner não pertencia a um Einsatzgruppen criado especificamente para matar judeus. Apesar disso, ele e sua unidade organizaram uma cruzada privada. Täubner fotografou esses atos e mostrou as fotos à esposa e amigos. Julgado e condenado, o tribunal da SS descobriu que os assassinatos que ele iniciara haviam “degenerado em perversos excessos”.[4] Suas ações tinham criado “conflitos morais extremamente difíceis” para seus homens. Um destes, um certo Heinrich Hesse, depôs que “ficou satisfeito” por ter “podido atirar” numa “bela mulher [judia] (...) para que ela não caísse nas mãos do Untersturmführer”. E acrescentou: “Mas, por favor, não entendam que isso signifique que eu gostei.”[5]
Casos como o de Täubner confortavam os líderes da SS: permitiam-lhes ver-se como sujeitos decentes. Assassinar pessoas em massa impunha um fardo enorme, lembrou Himmler a líderes da SS em Poznan (4 de outubro de 1943):
- A maioria dos senhores deve saber o que significa ver uma centena de cadáveres deitados lado a lado, ou quinhentos, ou mil. Aguentar isso e – a não ser em casos de fraqueza humana – e manter nossa integridade, é isso que nos torna duros. Em nossa história, esta é uma página de glória não escrita e que jamais será escrita. – Um trabalho muito difícil, mas eles deram um jeito. – Nós executamos esta mais pesada de nossas tarefas num espírito de amor pelo nosso povo. E nosso ser interior, nossa alma, nosso caráter não sofreram feridas com isso. [6]
COMO HIMMLER CONSEGUIRA? Seu gênio mau inspirou um programa centralizado de administração e desenvolveu a estrutura de extermínio de Chelmno num sofisticado campo de aniquilação. A subseção IV (Gestapo)-B (Seçs.)-4 (Judeus) de Eichmann no Departamento Central de Segurança do Reich em Berlim assumiu. Nada mais de iniciativas locais. A maquinaria de assassinato operaria com a eficiência de uma linha de montagem de que ele tanto se orgulhava. [7] Muitos braços do Estado nazista participaram desse processo – e isso levou a uma nova entidade na história do mundo moderno: o campo de extermínio. Isolados da curiosidade do público e de jornalistas enxeridos, esses campos ofereciam várias vantagens. Poupavam os Einsatzgruppen a provação de fuzilar pessoas em massa a curto alcance. A incineração em massa cuidou do problema dos cadáveres. E também esses campos ofereciam uma oportunidade ideal para recolher; selecionar e mandar as posses das vítimas para o Reich. Não houve vale-tudo como em Iasi. Nem corrupção da SS por roubo.
Himmler encarregou seu velho amigo em Lublin, o Líder da SS e da Polícia, Odilo Globocnik, de construir esses campos. Viktor Brack, ex-diretor do T4, ficou muito feliz em ajudar. Ele treinara pessoal e experimentara um verdadeiro método para oferecer. Aceitou com alvoroço. “Pus alguns dos meus homens à disposição do Brigadeführer Globocnik”, escreveu Brack a Himmler. “Após outro pedido dele, transferi mais pessoal. O Brigadeführer Globocnik aproveitou a oportunidade para expressar a opinião de que toda a ação judia seja executada o mais rápido possível, para evitar perigo de um dia vermos atolados no meio dela, no caso de dificuldades nos obrigarem a para a ação.” [8]
“Toda a ação judia” foi de fato “executada o mais rápido possível”. Belzec foi o primeiro dos três locais de aniquilação que passaram a ser chamados de campos da Operação Reinhard, em memória de Reinhard Heydrich, assassinado pelo movimento clandestino checo em junho de 1942. Todos três – Belzec, Sobibór e Treblinka – foram projetados com a ajuda do pessoal do T4, situados perto de linhas ferroviárias, construídos mais ou menos às pressas e muito baratos. [9] Os alemães aprendiam no caminho. Empregaram trabalhadores poloneses para construir Belzec; escravos judeus foram usados para Sobibór e Treblinka com mão-de-obra do gueto de Varsóvia, próximo. Pregos, cabos e até mesmo papel de parede vieram também do gueto saqueado.
Primeiro campo a usar instalações de gás estacionárias, Belzec entrou em funcionamento em março de 1942. O sistema era sordidamente simples. Um trem de “trabalhadores reassentados” chegava, e os deportados eram arrastados para fora e obrigados a entregar suas posses de forma ordeira. Diziam-lhes que haviam chegado a um campo de trânsito a caminho do Leste. Tiravam suas roupas num posto criado para isso e faziam-nos andar nus por um caminho em forma de S, ladeado por altas cercas de arame farpado cobertas de hera. Entrando nas câmaras de gás disfarçadas de chuveiros, eram mortos em 15 a 30 minutos por envenenamento com monóxido de carbono. Os cadáveres eram queimados em valas de fogo abertas. [10]
Fonte: Holocausto, uma História. Deborah Dwork e Robert Jan Van Pelt, Ed.Imago, 2004, págs.345-348
Notas:
[1] Curzio Malaparte, Kaputt, trad. Cesare Foligno (Nova York: E.P.Dutton, 1946), 144s.
[2] Ibid.
[3] Citado em Ernst Klee, Willi Dressen e Volker Riess. “The Good Old Days”:The Holocaust as seen by its Perpetrators ans Bystanders (Nova York: Konecky & Konecky, 1991), 205.
[4] Ibid.,196ss
[5]Ibid.,201
[6] Lucy S.Dawidowicz, ed.,A Holocaust Reader (Nova York: Behrman House, 1976), 133.
[7] Ver Raul Hilberg, The Destruction of the European Jews, 3 vols. (Nova York e Londres: Holmes & Meier, 1985), vol. 2, 407ss.
[8] Citado in Jeremy Noakes e Geoffrey Pridham, Nazism 1919-1945, 3 vols. (Exeter: Exeter University Publications, 1983-88), vol.3, 1147s.; sobre a relação entre a T4 e os campos da Operação Reinhard, ver Henry Friedländer, The Origins of Nazi Genocide: From Euthanasia to Final Solution (Chapel Hill e Londres: University of North Carolina Press, 1995), 284ss.
[9] Ver Yitzhak Arad, Belzec, Sobibor, Treblinka: The Operation Reinhard Death Camps (Bloomington: Indiana University Press, 1987): também Hilberg, The Destruction of the European Jews, vol.3, 875ss.
[10] Arad, Belzec, Sobibor, Treblinka, 68ss.
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