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sábado, 7 de junho de 2014

Moscou-Paris-Viena: as reuniões de Aymeric Chauprade, o conselheiro de Marine Le Pen

Aleksandr Dugin
O novo eurodeputado do Rassemblement Bleu Marine (RBM)*, Aymeric Chauprade, sabe escolher seus aliados. Ele foi convidado, no último sábado, 31 de maio, a uma estranha reunião em Viena (Áustria) - onde vive e trabalha como consultor - com a presença de autoridades russas menos relevantes. O tema desta reunião, que foi realizada no Palácio Liechtenstein, foi: os 200 anos da Santa Aliança liderada pelo Império Russo, o Império Austríaco e o Reino da Prússia.

Na origem deste evento, está o oligarca e patrono russo ortodoxo Konstantin Malofeev, cujo nome foi mencionado várias vezes no caso dos separatistas pró-russos em Donetsk na Ucrânia (Le Monde em 28 e 31 de maio).

De acordo com o jornal suíço de Zurique, o Tages Anzeiger, que revelou a existência do encontro, o encontro também foi uma oportunidade para discutir a forma de salvar a Europa do liberalismo e do "lobby homossexual".

De acordo com este jornal, disse o Sr. Chauprade, entre os convidados estava notavelmente Heinz-Christian Strache, líder do FPÖ (Partido da Liberdade da Áustria) (aliado Marine Le Pen), e Volen Siderov do partido de extrema-direita búlgaro Ataka (com quem a Sra. Le Pen recusa a tratar). Mas o convidado de honra foi Aleksandr Dugin, eminência parda de Putin, propagador do eurasianismo. O Sr. Dugin é uma referência para a extrema-direita radical, e verdadeira coqueluche dos revolucionários nacionalistas de todo o mundo.

"A Terceira Roma, o Terceiro Reich e a Terceira Internacional"

Místico ortodoxo, tradicionalista esotérico, muito influente em alguns círculos do poder em Moscou, Aleksandr Dugin é o papa do eurasianismo, uma doutrina que promove a formação de uma grande bloco continental da Eurásia para lutar contra o poder anglo-saxão. Dugin diz: "a ordem marítima (Cartago, Atenas, Reino Unido) está em oposição à ordem terrestre (Roma, Esparta, Rússia)."

Uma das frases do teórico russo que melhor resume seu pensamento político, segundo o pesquisador Nicolas Lebourg, é a seguinte: "A Terceira Roma, o Terceiro Reich e a Terceira Internacional são elementos que devem ser conectados em uma revolta contra o mundo moderno."

Tudo isto não é lá muito uma "demonização", mesmo vinda de um russófilo pró-Putin assumido como Aymeric Chauprade. Além disso, um de seus membros próximos minimiza a reunião: "Eles apenas dizem "olá", temos um pouco a discutir, e isso é tudo. Eles não possuem um projeto político em comum a seguir pela frente.".

Marion Maréchal-Le Pen no parlamento francês
A deputada de Vaucluse, Marion Maréchal-Le Pen**, passou alguns instantes no jantar, fechando o dia. Sua comitiva diz que ela não se encontrou com o Sr. Dugin. "Foi um fim de semana em Viena, por motivos pessoais, Heinz-Christian Strache sugeriu a Aymeric Chauprade que o convidasse para vir à noite, isso é tudo. Ela não participou de nada durante o dia", assegura-nos a FN (Frente Nacional).

Esta não é a primeira vez que o Sr. Chauprade aceita o convite do movimento pró-Putin mais radical. Sendo assim, em 16 de março, durante o referendo sobre a anexação da Crimeia pela Rússia. Ele foi um dos "observadores ocidentais" convidados por uma misteriosa ONG que reivindica - não por acaso - também o eurasianismo: o Observatório da Eurásia para Democracia e Eleições (o EODE). Esta ONG é dirigida por Luc Michel, chefe do Partido da Comunidade Europeia Nacional (NCP), metade porta dos fundos (elaborando complôs), metade um grupelho marrom-avermelhado que continua a obra do neofascista Jean Thiriart.

Os observadores convidados pela EODE são bastante diversificados, variando entre um membro do Partido Comunista Grego (KKE) ou um membro do Die Linke (Partido de Esquerda alemão), um eleito da Forza Italia (que havia convidado o neofascista Gabriele Adinolfi para apresentar seu livro para o Parlamento Europeu), até um membro do Vlaams Belang (partido de extrema-direita belga) ou ainda Enrique Ravello da Plataforma pela Catalunha. Este último é um veterano da CEDADE, onde se reuniram por muito tempo os espanhóis neonazistas.

Mais uma vez, o Sr. Chauprade jura que não sabia nada sobre o "pedigree" dos outros observadores. "Eu não conheço o Sr. Luc Michel que está na entrada do hotel. Por definição, o areópago de observadores é bem extenso. Sou apenas responsável pela sensibilidade da minha parte", disse-nos Chauprade sobre isso.

*Rassemblement Bleu Marine (RBM): Agrupamento Azul-Marinho (facção da Frente Nacional) que usa o trocadilho com o nome de Marine Le Pen. Marine (Marinho) como emblema.
** Marion Maréchal-Le Pen: fascista, neta e sobrinha dos também fascistas Jean-Marie Le Pen e Marine Le Pen (pai e filha)

Fonte: Droites Extremes (França, Le Monde)
Título original: Moscou-Paris-Vienne : les rencontres d’Aymeric Chauprade, conseiller de Marine Le Pen
http://droites-extremes.blog.lemonde.fr/2014/06/04/moscou-paris-vienne-les-rencontres-daymeric-chaupradeconseiller-de-marine-le-pen/#xtor=RSS-32280322
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: esse blog 'Droite(s) Extreme(s)', obviamente sobre extrema-direita, do Le Monde (jornal francês) é um dos melhores sobre extrema-direita na Europa, principalmente sobre a extrema-direita francesa. Faço o destaque (pra distinguir) porque a edição do Le Monde Diplomatique (a edição brasileira), salvo exceções, é carregada de chavões da extrema-esquerda trotskista francesa e certas avaliações rasas nos textos, principalmente quando o assunto é o Brasil.

O assunto Dugin pode ter ficado mais evidente com o conflito Ucrânia-Rússia-UE-EUA, mas já circula há algum tempo em parte da extrema-direita europeia que tenta se "desvencilhar" da imagem do nazismo (exemplo: o próprio Front National francês) e busca uma "renovação" do fascismo ou do tipo de fascismo que seguem. Ele tem 'adeptos' no Brasil (rs), embora, politicamente falando, o que mais tem no país são posers, gente que repete discurso sem nem saber o que está dizendo, ou porque se identificou com alguma ideia radical banalizada (do sentido adquirido no "senso comum"), pra "posar" de rebelde etc (pra aparecer mesmo, chamar atenção). O termo "poser" que me refiro não chega a ser exatamente o do sentido literal do link acima que coloquei, mas a ideia original do termo vem disso e pode ser adaptada.

Exemplo típico de "poser", citando um caso musical (matéria): "Modinha", camisetas do Ramones são banalizadas no Rock in Rio (Terra)

Destaco o trecho:

""Eu já escutava a banda antes de comprar essa camiseta", garantiu a estudante A. G., 19 anos, óculos escuros, batom vermelho, camiseta branca da banda, short e cinto de couro. Questionada pela reportagem sobre o seu álbum preferido dos Ramones, respondeu: "não sou fanática". Ao ser indagada, então, sobre uma canção predileta, confessou: "você me pegou"."

Ou seja, segundo a matéria podemos concluir com o trecho acima que a pessoa estava usando a camisa por modismo e não por gostar da banda, pois nunca ouviu nada da banda e nem tem ideia do que tocam. Ou seja, num exemplo hipotético radical: se alguém cismar de achar bonito uma camiseta com alguma coisa esdrúxula escrita em outro idioma (como merda), vai usar sem ligar pra isso, por futilidade e outros adjetivos não muito bons.

O mesmo ocorre com os Beatles (que é uma banda muito mais popular e conhecida), o que tem de "poser" dessa banda chega a dar agonia, além de ser um agrupamento bastante antipático. Um adendo, eu não gosto de Ramones, eu diria mais que desconheço a banda, tirando uma música ou outra.

Parece algo banal aparentemente essa postura, mas não é, é sintoma da alienação de uma época. Como alguém veste algo, um símbolo etc, e não sabe o significado do mesmo? E pior, não teve nem a curiosidade de saber o que é com o acesso à informação que se tem hoje. "Ah, a pessoa achou o símbolo bonito e tal...", pode ser, mas quando é algo com forte conotação política ou de movimento, é bem complicada essa postura de "achei bonito" ignorando o fator simbólico da coisa, porque é uma banalização por modismo e futilidade.

Eu usei um exemplo da música por ser mais fácil caracterizar a questão e não vir algum "radical" mala encher o saco discutindo o espectro político disso, mas o problema descrito acima também ocorre na política. Os "revis" mesmo são um exemplo claro disso (grande parte dos grupos que se denominam "revis" são bastante excêntricos e ideologicamente dispersos, exóticos). Tem muito poser "politizado" no país (atenção pras aspas), panfletários do senso comum raivoso e irracional apesar de achar que não são. São uma salada ideológica ou manifestação de uma postura meramente excêntrica/exótica, sem relevância política, sem identificação com o país e geralmente rasos (sem conteúdo ou mera cópia de panfletos extremistas de outros países).

Os grupos mais organizados de extrema-direita se proliferam culturalmente justamente neste ambiente de forte alienação, anomia, radicalização e niilismo, à parte a questão das crises econômicas e culturais/identitárias que podem escancarar pra valer esse problema. Esses grupos neofascistas abordam constantemente essa questão da identidade nacional para excluir quem eles julgam como "algo à parte", e por notarem que existe uma crise em torno dessa questão, acentuada por crises econômicas.

As pessoas imersas nessa alienação e vazio, com perda de identidade ou sentido, vivem em busca de "gurus" ou seguindo "gurus", gente que se apresenta como "iluminado" ou "sábio" e tendem a se comportar como seguidores de seita. Tive que procurar outro site-dicionário pro termo "seita" pra pôr como link pois alteraram de forma ridícula o verbete da Wikipedia (em português), algum fanático religioso adulterou.

Curiosamente, os grupos "revis" brasileiros (e em geral, o pessoal conservador raivoso), salvo exceções, costumam manifestar abertamente um certo ódio do Brasil e em ser brasileiros, fora os regionalismos obtusos (mitológicos, construídos com base em preconceitos e distorções), usam simbologias de outros países mesmo não tendo ligação alguma com os mesmos, o que torna a coisa mais esdrúxula (e ridícula) ainda (em comparação ao caso "revi" externo). Embora este fenômeno também ocorra nos EUA.

sábado, 10 de maio de 2014

Putin promulga lei que penaliza a reabilitação do nazismo (negação do Holocausto)

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou hoje uma lei aprovada anteriormente pelo Parlamento que estipula penalizar em até cinco anos de prisão a reabilitação do nazismo e a divulgação de informação falsa sobre a atividade da União Soviética durante a II Guerra Mundial.

"A nova lei federal penaliza a negação dos fatos provados nos Julgamentos de Nuremberg, o rechaço ao castigo imposto aos principais criminosos de guerra dos países europeus, a aceitação dos crimes especificados em suas falhas, assim como a divulgação de informação falsa sobre a atividade da URSS durante a II Guerra Mundial", informou o Kremlin.

Além disso, a lei especifica multas a serem aplicadas pela profanação dos monumentos de glória militar e das efemérides/celebrações da Rússia.

As legislações dos países como a Áustria, Bélgica e França desde muito tempo penalizam a negação e a justificação das malfeitorias dos nazis.

Moscou, 5 de maio (Novosti)

Fonte: Ria Novosti (Rússia, ed. espanhola)
http://sp.ria.ru/neighbor_relations/20140505/159957106.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Russia's Putin outlaws denial of Nazi crimes Link2 (Reuters/Yahoo!)

Observação: o Putin consegue dar um nó na cabeça daquele pessoal com pensamento binário que divide o mundo em "preto e branco" e quer entender tudo a base de "esquemões" e simplismos. Quero ver o posicionamento dos "revis" daqui pra frente com a Rússia e o governo russo depois dessa (hahahahaha).

Meu comentário anterior, obviamente acima, foi mais referente ao cenário interno brasileiro. Mas esse "nó" mental/ideológico não ocorre somente aqui.

Acho curioso essa admiração de alguns deles com a Rússia, sendo que há um outro espectro da direita brasileira (pelo menos na que circula na rede, que eu evito de citar porque o nível de discussão é terrível), também extremista, que é uma ultradireita neoliberal ou ultraconservadora-liberal (é como se definem) que fala da Rússia como se ainda estivéssemos naquela divisão/polarização da Guerra Fria. São duas faces da mesma moeda (ou da mesma burrice), mas a última consegue ser ainda mais tosca que os "revis", por incrível que pareça.

Há também setores bizarros na esquerda que estavam tratando a questão dos neos na Ucrânia (ascensão deles, dos "banderistas", seguidores deste fascista ucraniano aqui) como "revolução popular" e adjetivos ridículos do tipo (um certo partido minúsculo com base mais forte no Rio, que andou tendo acusações de envolvimento com os Black Blocs, que coincidentemente desapareceram das ruas depois da palhaçada que culminou na morte de um cinegrafista, até hoje sem as devidas explicações que confirmam ou não envolvimento de políticos com eles), outra bizarrice sem tamanho, mas que mostra como está nivelada (nivelamento por baixo) hoje a discussão política no país.

Depois chega um desavisado ou outro torrando o saco nos comentários perguntando porque a gente se irrita com alguns comentários. Será que ainda é preciso explicar o motivo?...

Ainda sobre essa questão, não esqueci dessa discussão aqui que abordou questões interessantes sobre essa nova extrema-direita europeia, que já iria citar mas que não foi possível fazer nenhum post. Farei ainda um post sobre esses assuntos (só não sei quando, rs), Terceira Posição (Third Position, um 'tipo' de fascismo só que por "outro nome"), Dugin, Nova Direita (Nouvelle Droite) (link) e cia. São pontos interessantes, apesar deu discordar deles. Mas pelo menos não estão num nível tão baixo (intelectual) quanto o dessa direita vejista brasileira. Mas isso que comentei também não é um elogio (caso comecem a se "entusiasmar").

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