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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Como converteram Hitler numa celebridade com a ajuda do New York Times (e imprensa dos EUA)

Muito se falou do poder de propaganda nazi e muito pouco de seu maior êxito: converter um homem feio, rancoroso, homicida e baixinho num carismático sedutor de massas.
Marta Peirano

Adolf Hitler nos abre as portas de sua casa nos Alpes
Capa do livro
"Hitler at Home"
Quem nos conta é Despina Stratigakos, historiadora da Universidade de Buffalo, em seu recente livro Hitler at Home, (Yale University Press), a devastadora história como converteram um sociopata gafotas de pelo raro e ambições artísticas num irresistível homem de Estado que deslumbrou metade das belas irmãs Mitford e a uma geração de Miss Brodires, antes de desencadear o capítulo mais negro de nossa história moderna.

"Os anos 30 marcam o princípio da cultura das celebridades (celebrities), quando chega o cinema com som, o rádio e as revistas aspiracionais" (de "Novos Ricos"), explica a acadêmica. E o gabinete de propaganda nazi aproveitou a oportunidade para transformá-lo no que não era, um homem interessante e refinado com uma grande categoria moral e gosto pela arquitetura. "Conseguiram isto enfatizando sua vida privada, mostrando-lhe como um homem que brinca com seus cachorros e o qual as crianças gostam, fazendo coisas domésticas em entorno desenhados para evocar uma sensação de calidez. Em fins dos anos 30, a mídia de todo o mundo descrevia-o como um indivíduo delicado e carinhoso, com bom gosto para a decoração de interiores".

Adolf Hitler nos abre as portas de sua casa

"Depois de ler aquelas histórias - continua Stratigakos - a gente começou a pensar que conhecia o 'verdadeiro' Hitler, o homem por trás da máscara do Führer, e que esta pessoa pudesse não ser tão diabólica como as notícias que vinham da Europa pareciam sugerir".

Em 20 de agosto de 1939, o New York Times sacava um fotogênico reportagem em seu bonito chalé de madeira nos Alpes Bávaros próximo à Berchtesgaden que foi comprado em 1927 com fundos do partido e que o chamavam de Haus Wachenfeld. Hitler, seu próprio arquiteto, dizia o titular. As fotos lhe mostram desfrutando de momentos de intimidade, lendo o jornal numa mesa adornada com flores, 12 dias antes de invadir a Polônia.

A casa, "adornada com harmonia, segundo a melhor tradição alemã" e carregada com cortinas limpas e almofadas feitas à mão para "criar uma atmosfera de silenciosa alegria", havia sido decorada por seua desenhadora favorita, Gerdy Troosts, que lhe foi fiel até o último minuto. Literalmente: poucas semanas antes de Adolf Hitler descer ao bunker pela última vez, Troost lhe propôs refrescar o Grand Hall da chancelaria com uma capa de pintura para animar o ambiente, "um trabalho pequeno que só duraria um par de dias".

O seguimento do Times das andanças do nervoso austríaco começou uma década antes. Nos anos do auge e do estabelecimento do regime nazi, o jornal publicou notas frequentes sobre o líder nazi, incluindo entrevistas para seu barbeiro ("escreveu ao Führer sobre sua mecha rebelde e se tomaram medidas"), comparações com Jesus Cristo (ou simplesmente "um enviado divino") e outras estampas como sua assistência ao funeral da irmã de Nietszche (cujas obras completas ele presenteou a seu amigo, o Duce, por seus 60 anos), ou suas declarações contra a violência contra os judeus.

Hitler, o anfitrião encantador

Não foram os únicos nem tampouco os primeiros. O número de novembro de 1938 da edição britânica de Casa & Jardim coincidiu com a Noite dos Cristais Rotos, quando a SA queimou mil sinagogas, destruíram mais de 7.000 negócios judeus e mataram a uma centena de pessoas, além de prender outras 30.000 e as mandar para Buchenwald, Dachau e Sachsenhausen. A revista, contudo, oferecia um passeio pela casa Wachenfeld, assinado por um tal de William George Fitzgerald, pseudônimo de Ignatius Phayre. Isto é o que diz de seu cômodo mas modesto retiro:

"Originalmente uma cabana de caça, "Haus Wachenfeld" cresceu até se converter no atrativo chalé bávaro que é hoje, a 2.000 pés no Obersalzburg, rodeado de bosques de pinheiros e árvores frutíferas.

O lugar tem a melhor vista de toda a Europa. Isto é dizer, eu sei. Mas nesses Alpes bávaros há uma classe especial de suave folhagem, com cascatas de branco da neve e cumes cobertos do bosque. O efeito da luz e do ar na casa se vê intensificado pelo canto e o trino dos canários Harzer que há na maioria das habitações, pendurados em jaulas douradas.

E não vão pensar que seus convidados de fim de semana são todos, ou a maioria, de altos cargos do Estado. Para Hitler, agrada-lhe a companhia de brilhantes estrangeiros, especialmente pintores, cantores e músicos. Como anfitrião, é um divertido contador de histórias.

Um chefe bávaro, Herr Dannenberg, prepara um impressionante banquete de pratos vegetarianos, salgados e saborosos, tão agradáveis à vista como o são ao paladar, tudo de acordo com o padrão alimentício que Hitler exige. Mas na casa Wachenfeld também há uma generosa mesa para convidados de outros gostos. Aqui os 'bons viveurs' como o marechal de campo Goering e Joachim von Ribbentrop se reúnem para cear.

Menos de um ano depois, a Alemanha invadiu a Polônia. Inglaterra e França lhe declararam a guerra.

Digitalização da matéria original:



Fonte: El Diario (Espanha)
http://www.eldiario.es/cultura/historia/Hitler-asesor-imagen-genio_0_426257675.html
Título original: Cómo convirtieron a Hitler en una celebrity con ayuda del New York Times
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 19 de dezembro de 2010

Nixon, Kissinger e o antissemitismo

Nixon e Kissinger - Casa Branca,
1972. Arquivo do NYT
Já havia saído durante a semana matérias sobre gravações de Richard Nixon onde fica claro o racismo e antissemitismo do mesmo em relação a judeus e negros, texto do Diário de Notícias(Portugal):
Gravações de comentários racistas do antigo presidente americano foram divulgadas pela Biblioteca Presidencial Nixon

Só que em matéria do dia 16 último do NYT (New York Times) vem com um destaque pro ultraje causado por comentários de Henry Kissinger na época de como seria a reação dos EUA ante a um ataque contra judeus na então União Soviética. Tradução minha do trecho:
Mas o inato antissemitismo de Nixon é uma velha história. O que faz muitas cabeças girarem é uma gravação de Henry A. Kissinger, seu conselheiro de segurança nacional. Escuta-se o Sr. Kissinger dizer a Nixon em 1973 que ajudar os judeus soviéticos a emigrarem e então escapar da opresssão de um regime totalitário - uma enorme questão da época — não “era um objetivo da política externa norte-americana.”

“E se eles pusessem judeus em câmaras de gás na União Soviética,” ele adicionou, “não é uma preocupação norte-americana. Talvez uma preocupação humanitária.”

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