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quinta-feira, 10 de março de 2016

Um dos ídolos políticos dos "revisionistas" brasileiros, o Bolsonaro, e sua "política externa" pró-Israel

Deixarei aqui um link que foi compartilhado/espalhado no Facebook, de um vídeo de alguma reunião do Jair Bolsonaro (deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro) e sua fala sobre sua "política externa" (se eleito "presidente"). Ao leitor de fora do Brasil, ele pretende sair candidato à presidência em 2018 na onda de populismo de direita que se espalhou em setores da classe média do país.

O blog é muito lido, na ordem (farei post sobre isso com uma lista melhor): nos Estados Unidos, Portugal, China e Alemanha. Inclusive o número de leitores com origem na Alemanha está próximo aos de leitores de Portugal, o dos EUA já passou os de Portugal.

Mas como dizia, e interpretando seu discurso, e sendo curto e grosso: ele, Bolsonaro, defende uma política externa 'submissa' aos Estados Unidos e Israel. E também comenta sobre sua viagem a Israel (rs) e a recusa da indicação de embaixador de Israel pro Brasil pelo governo brasileiro.

A quem não entendeu a ironia do post (pois tem sempre alguém que não "entende", e pretendo evitar explicar ironia duas vezes), o link e o post são uma "homenagem" aos "revisionistas" (negacionistas), pois o Bolsonaro era (ou é, ou deixará de ser após este post, hahaha) um dos ídolos políticos desse pessoal.

Tinha até "revi" no Orkut que dizia que era eleitor dele (pausa pro riso, rs). Tinha até uma "tchurma" em São Paulo de pretensos adoradores do "nacional-socialismo" (nazismo) fãs dele, rs. Matéria aqui:
Neonazistas ajudam a convocar "ato cívico" pró-Bolsonaro em São Paulo

Se alguém quiser chiar com o título acima, reclame pro site que distribuiu a matéria (risos).

Mas como me lembro dos vídeos desse "ato", eram hooligans pró-Bolsonaro (não existe "neonazi" propriamente no Brasil, num post falarei sobre isso, o que há no Brasil é um "hooliganismo" macaqueando o neonazismo europeu). Havia um que circulava no Orkut (e apareceu num dos vídeos) que parecia mais um sobrevivente de campo de concentração, rs (mas deixa pra lá, o comentário foi pra provocar mesmo, rs). E vamos parar com "excesso de frescura", que não é sensibilidade, em não se poder mais fazer uso de ironia pra criticar algo (havia gente no Orkut que a gente não podia fazer uso da ironia que vinha com essa censura emocional), não vou me submeter a essa mordaça do "politicamente correto" liberaloide defendido por partidos de extrema-esquerda como PSOL e PSTU.

Alguém entendeu essa zona ideológica? Isso é o fundo do poço que abriram em 2013 naquelas marchas malfadas daquele ano, a "revolução colorida" mal sucedida ainda em andamento (ainda farei um post sobre isso).

Não preciso acrescentar o quanto os "revis" (abreviação pra "revisionistas") "amam" Israel e tudo o que for ligado a Israel etc (rs). Por isso quero ver como eles irão "defender" o Bolsonaro daqui pra frente (hahahaha).

Isso é pra mostrar o "nível" de estupidez da extrema-direita brasileira ou a esculhambação da mesma.

A mixórdia ideológica da mesma (eu diria que a direita brasileira sempre foi um trambolho, um Frankenstein, cópia caricata do que há de pior na direita liberal dos Estados Unidos), onde a vertente liberal-autoritária é majoritária, mas sempre contou com aval tácito da parte que se diz "nacionalista", que posa de "nacionalista" mas faz "urro" com essa direita submissa ao Império.

De acordo com o Bolsonaro, "temos que reconhecer nosso local" (deixa eu traduzir: "temos que conhecer nosso lugar"). Deixa eu traduzir de novo o que isso significa: capataz do Império (EUA) e o Brasil o seu quintal. Soberania e autonomia do país? Danem-se. Deixa eu adiantar o vídeo com esta imagem (print):


Como ele alçou essa popularidade atual? Contribuição da lavagem cerebral que a mídia do país faz diariamente, com ódio a torto e a direito e manipulação de informação, com destaque total pra atuação golpista da Rede Globo ou "Organizações Globo", e o uso político do PSDB (o apêndice político da Globo na política brasileira) desses extremistas de direita.

Depois quando comento que essa gente não passa de um bando de iludidos, estúpidos, idealistas (da pior espécie) e tolos (trouxas), além de ignorantes (em sua maioria), há quem ache ruim, simplesmente porque não toleram opinião divergente da deles e porque não conseguem discutir, dizer porque discordam dessa opinião/visão política.

Nesse ponto sou até forçado a admitir que alguns "revis" sabiam discutir melhor que essa dita direita liberal-autoritária-olavética. Esqueci de citar acima, a grande influência dessa "malta liberal" é um astrólogo alçado à condição de "guru de seita" desse monte de gente tosca que dá sentido ao termo "olavético". É vergonha alheia atrás de vergonha alheia, um povo tosco que em vez de sentir vergonha de serem ridículos, são tão boçais e cretinos que ficam afrontando todo mundo, porque o povo não disse "basta!" a eles. Essa gente fanatizada só para quando o povo diz "basta!", no caso, é só falarem firme dizendo que não querem saber mais desse tipo de entulho extremista de ódio, uma hora se cansam, a "moda" passa.

O mais curioso é ser chamado de "alienado" por esse tipo de bitolado político de direita, que diz "não ser de direita nem de esquerda" (pausa para o riso de novo, rs).

Pra não alongar mais, vou transcrever parte da fala do vídeo, mas quem quiser ver tudo, pode clicar no link abaixo para assistir o vídeo, se não o removerem (nunca se sabe, rs):
Link do vídeo

- Política externa.- Centro de Lançamento de Alcântara.- Estados Unidos / Europa / Israel.
Publicado por Jair Messias Bolsonaro em Domingo, 28 de fevereiro de 2016
"Temos que reconhecer o nosso local. Pode ter certeza, uma política externa, meus grandes parceiros serão, além da Europa, obviamente, em primeiro lugar, Estados Unidos e Israel" (Aplausos).

"Estou com uma viagem marcada pra Israel, não é pra turismo não. Eu quero ver como israelense cria robalo (peixe) no deserto. Eu quero ver, como lá não tem água potável, eles a exportam pra Jordânia. Eu quero ver o que é o Orvalho de deus, eles só têm areia e têm uma agricultura, agora em andares, desculpe aqui, em alguns locais mais produtiva do que a nossa. E eles não se furtam a dividir isso."

"Agora, o que é que a Dilma fez? Negou as credenciais do embaixador israelense indicado por eles. Bateu no peitinho e falou "esse eu não quero" - peitinho ou peitão? Eu não sei (risadas na plateia). "Esse eu não quero"."
Como desgraça pouca é bobagem (pros "revis"), o "Bolsa" (ou "Bolsomito" como chamam os "idólatras" dele, idolatria é "pecado", viu? rs) também é chegado na maçonaria? Foto abaixo, de outra entidade que os "revisionistas" "amam de coração" (hahaha):

Atualização:
(08.03.2017) Como o vídeo acima foi removido, o mesmo se encontra no Youtube (até quando, eu não sei). Pra que fique como registro, pois a remoção do vídeo indica que a repercussão não foi das melhores (como previsto)

Entreguismo liberal de Bolsonaro, Base de Alcântara



Ah, a maçonaria (ou parte dela) andou fazendo showzinho em Brasília pedindo a cabeça do governo também, é parte do golpismo. Nunca apareceu de forma tão escancarada na política como de 2013 pra cá. O vice-presidente, que andou flertando com o golpe também, é maçom. Se alguém fosse fazer novela ou texto de ficção, a "realidade" que emergiu do país a partir de 2013, com aquelas marchas insensatas, dá de dez em qualquer texto do tipo.

Como há um golpismo branco em marcha no país protagonizado (fomentado) pela Rede Globo, é bom dar nome aos bois e dizer que colabora politicamente com o espetáculo pirotécnico dela transmitindo isso dia de domingo direto da Avenida Paulista (São Paulo), porque o resto do país não aderiu ao golpismo, mas a Globo insiste em "forçar a barra" dizendo que a "Av. Paulista é nacional" (risos). "Meu país é a Paulista" (hahahaha).

Eu nunca vi golpe, mesmo branco, vingar em um só Estado e numa avenida, por mais peso que tenha. De qualquer forma, o intento dessa emissora fazendo isso é crime contra o Estado, uma conspiração contra o Estado brasileiro e a democracia. A emissora deveria ser enquadrada pelo Estado e ter sua concessão cassada pelo governo federal. Dilma, pare de cerimônia e hesitação, também corte as verbas publicitárias estatais para este tipo de emissora que fomenta golpe contra o país. É legítimo o Estado se defender de quem fomenta golpe contra a democracia:
Colunista da Globo já pede explicitamente Golpe Militar e com ação violenta

A quem quiser se chocar com esse comentário, porque tem sempre algum hipócrita que por covardia tolera esse tipo de agressão inaceitável contra o Estado de direito e a democracia do país por sectarismo político e "comportamento de manada", meus sinceros lamentos mas é o que penso mesmo. A Globo atravessou o sinal vermelho e ninguém tem que tolerar isso. Não se trata mais de pregação política contra rivais e sim de tentativa de controle do Estado via golpe, como eu disse acima: isso é crime.

Não se deve tolerar intentos desse tipo de uma emissora que participou de outro golpe de estado (em 1964) e depois tirou o corpo fora só jogando a culpa pros militares, como se ela não tivesse feito nada durante 21 anos de ditadura e desde o fim da mesma tentando controlar culturalmente e politicamente o país.

Recentemente essa emissora andou "flertando" com censura a blogs políticos conhecidos, a quem não viu, leiam a matéria:
Hoje, às 19h, ato contra censura da Globo; transmissão ao vivo

Uma afronta à democracia e liberdade de expressão do país. Por essa razão esse tipo de TV não pode reclamar se pedirem, com razão, o fim de sua concessão de transmissão, que é pública (pertence ao Estado, não é dela).

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Paul Preston: "Franco pensava que o mundo era regido por um superestado maçônico"

O historiador e hispanista britânico (d), conversa com o reitor da Universidade de Estremadura, Segundo Píriz (i),
e com o presidente estremenho, Guillermo Fernández Vara (c), antes de ser investido Doutor Honoris Causa
num ato celebrado na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Estremadura. EFE/Esteban Martinena

CÁCERES.- O historiador e hispanista britânico Paul Preston foi investido como doctor honoris causa pela Universidade de Estremadura, onde afirmou que o ditador tinha "aspectos bastante cômicos", como o fato de que acreditava que "Paulo VI era um bolchevique".

"Pensava que o mundo era regido por um superestado maçônico, que não se sabia se estava na Lua ou debaixo do Atlântico", acrescentou em tom irônico durante sua conferência como doutor honoris causa pela Universidade estremenha (Uex).

Ante um abarrotado Paraninfo da Faculdade de Filosofia e Letras, no Campus de Cáceres, Preston recorreu a sua vinculação com a Espanha e com sua história, entre a que se situa a biografia que elaborou sob o título "Franco: Caudillo de España" ("Franco: Caudilho da Espanha").

Relatou que quando recebeu o encargo desta obra, tinha "a impressão de que a figura de Franco era tão tediosa, tão odiosa", que não lhe interessaria". Contudo, uma vez iniciada, se "enganchou", pois, entre outros motivos, "Franco era, pessoalmente falando, um enigma mas com aspectos bastante cômicos".

Seu discurso, seguido pelo reitor da UEx, Segundo Píriz, e o presidente da Junta de Estremadura, Guillermo Fernández Vara, entre outras autoridades, também serviu para conhecer sua relação com Estremadura, "uma terra" com a qual mantém "importantes laços pessoais e profissionais".
"Estremadura significa para mim a Guerra Civil e o sofrimento do povo espanhol"
De fato, sua relação com a Espanha começou nos fins dos anos 60, e "minha primeira viagem - revelou - foi a esta terra". Estremadura significa para mim a Guerra Civil e o sofrimento do povo espanhol", afirmou o historiador londrino, a quem em seu começo como historiador decidiu aproximar seus interesses pela Segunda Guerra Mundial pelo da Guerra Civil espanhola, a mercê do trabalho do professor Hugh Thomas.

"Pareceu-me mais fascinante" que qualquer outro tema que até então havia estudado, acrescentou, e que desvelou que o sentido do humor dos espanhóis e sua gastronomia foram elementos que influíram na hora de adentrar na História da Espanha.

Desde um prisma acadêmico, Presto assegurou que a UEx goza de uma "muito merecida e crescente reputação internacional, pelo qual é um privilégio poder se considerar uma pequena parte dela".

Píriz destacou a trajetória acadêmica "sólida e excelsa" de Preston, cuja obra qualificou como "extensa, profunda, influente e sugestiva". "Repassa de maneira crítica e fundada o devir de todo um século da vida na Espanha", acrescentou.

Na sua concepção, "os espanhóis de hoje estão em dúvida com seu retrato de nosso imediato passado". Também o presidente estremenho disse palavras de elogio para Preston, "um mestre dos historiadores", um conhecedor "dos sofrimentos desta terra e também os esforços que se há feito por aqui pela recuperação da memória histórica". "Estamos convencidos de que a melhor maneira de recuperar a história é contá-la", acrescentou Vara.

Fonte: Público/EFE (Espanha)
http://www.publico.es/politica/preston-franco-pensaba-mundo-regido.html
Título original: Preston: "Franco pensaba que el mundo estaba regido por un superestado masónico"
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 24 de junho de 2015

O fascista romeno "cultuado" no Brasil - Mircea Eliade e o cavalo de Troia no mundo acadêmico

Mircea Eliade e o cavalo de Troia no mundo acadêmico, por Wolfgang Karrer

A orientação fascista de Mircea Eliade (1907-1986) está bem documentada pelo menos desde a publicação de Cioran, Eliade, Ionesco: l’oubli du fascisme [Cioran, Eliade, Ionesco: o esquecimento do fascismo], um livro de Alexandra Laignel-Lavastine do ano de 2002. Foi traduzido pro italiano, e na Argentina foi resenhado em 6 de outubro do mesmo ano no Página 12. Também na Wikipedia atual concede lentamente esta orientação ideológica a Mircea Eliade, ainda que trate de diminui-la como se tratasse de um "pecadinho juvenil".

Nesse ensaio quero demonstrar (usando o livro de Laignel-Lavastine) que esta orientação sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e que de certo modo Eliade se manteve fiel a suas convicções de ultradireita até sua morte. Vou apoiar esta tese com citações de Eliade, traduzidas pro espanhol por mim. Já é tempo de enfrentar suas ideias do eterno retorno, da ordem cósmica, do sacrifício e do xamanismo com mais crítica.

O terror na história de Mircea Eliade

Um breve resumo da vida de Mircea Eliade (1907-1986) até 1945 aclarará suas posições fascistas (Laignel-Lavastine 2002, 33-328). Como estudante en Bucareste, Eliade se destaca com um manifesto "O itinerário espiritual" (1927), no qual ele ataca "o mito do progresso sem fim" da ciência e da tecnologia e proclama valores novos para sua geração. Claramente se afilia com o movimento irracionalista de Chamberlein, Spengler, Papini etc. A circulação do manifesto o converte no líder estudantil de Bucareste, onde se encontram em 1927 jovens como Tristan Tzara, Victor Brauner, Constantin Brancusi e Emil Cioran. (A afiliação de Cioran ao nazismo forma outra parte do livro de Laignel-Lavastine). No mesmo ano se constitui uma organização militante de ultradireita na Romênia, a Guarda de Ferro. Imitava as quadras fascistas da Itália, introduzindo camisas verdes e a saudação romana (108-20). Militava contra os judeus como a origem da maçonaria, o freudismo, o marxismo e o ateísmo, e lutava por uma revolução espiritual nacionalista no país. Eliade se fez assistente acadêmico de Nae Ionescu, professor e ideólogo principal da direita em Bucareste (57-63).

O círculo intelectual de Eliade compartilhava muitas posições da Guarda de Ferro, ainda que inicialmente se absteve da atividade política. Começou com uma atividade jornalística febril: 250 artigos entre 1925 e 1928, e outros 250 mais entre 1932-33 (40), em todos propagando um nacionalismo autóctone. Com a conversão de seu professor Nae Ionesco em 1933 à Guarda de Ferro, o tono de Eliade também se faz mais militante, e mais fascista (85-120). Assim como Ionescu se converte num propagandista aberto do fascismo italiano e de sua variante cristã-antissemita na Romênia. Os artigos de Eliade o mostram claramente antissemita, pró-fascista e também militante no sentido da ação direta. Entre os líderes da Guarda de Ferro tem alguns amigos íntimos, com os quais mantém um contínuo contato. Quando a Guarda de Ferro começa a assassinar políticos e a formar oficialmente "esquadrões da morte" (echipele mortii), Eliade não se distancia, pelo contrário, segue publicando propaganda e participa da campanha eleitoral da Guarda de Ferro em 1937.

Ao mesmo tempo, Eliade ensina a história das religiões na Universidade de Bucareste. Nessas ensinanças, que vão formar a base de suas obras sobre ideias religiosas, publicadas a partir de 1949, o historiador de religiões põe suas aulas a serviço da "revolução espiritual" pela qual lutavam ele e seus amigos da Guarda de Ferro (165-234). Em 1936, por exemplo, recomenda o uso de um mito central e símbolos míticos de uma nova "ordem cósmica" para fortalecer a ideologia da Guarda (177). Propõe seguir o modelo de Mussolini e sacralizar a política (179), especialmente com ritos de sacrifício e de cultos aos fascistas mortos para "um renascimento espiritual" da Romênia (202-05). Busca analogias em textos históricos para propor um totalitarismo "cristão" (205-08). Numa pré-história romena encontra traços de um cristianismo arcaico para fundar uma nova Romênia, unida como "povo eleito" numa religião cósmica (209) e lamenta os ataques dos profetas israelitas contra a religião cósmica de Canaã (213). Também afirma em 1937:
"Romênia cometeu a loucura de mostrar ao Ocidente que uma vida civil perfeita só se pode conseguir com uma vida autenticamente cristã e que o destino mais sublime de um povo é fazer história a medias de valores supra-históricos." (211)
Ou seja, ele utiliza a mitologia religiosa e a pré-história para apoiar o movimento fascista e erigir um estado totalitário cristão na Romênia. "Religião cósmica", "espiritual" e "revolução" são as palavras-chaves para disfarçar tanto o fascismo antissemita e xenófobo. Tanto Eliade como seu professor Ionescu fazem o trabalho na Romênia de Julius Évola, com o qual se encontram amistosamente em 1938, que leva isto adiante na Itália.

A simpatia de Eliade por Hitler também deixa rastros em seus textos, em suas cartas e conversações, ainda que, sem dúvida, prefira um fascismo mais cristão:
"O povo romeno pode resignar-se à mais triste decomposição que sua história jamais conheceu, admitir que tenha sido abatido pela miséria e a sífilis, invadida pelos judeus, e destroçado pedaços por estrangeiros, desmoralizado, traído, vendido por alguns milhões de lei? "Porque eu não creio no Movimento Legionário", Dezembro 1937" (226)
Elogia outro movimento cristão-fascista com as palavras: "Inclusive é melhor que Hitler". (184) Defende, ainda que de maneira ambígua, a noite contra as sinagogas na Alemanha; compara-a favoravelmente com as barbaridades anticristãs na Rússia e na Espanha (224). Nos textos de 1937 a 1945 já não restam dúvidas: Eliade é pró-Mussolini e é pró-Hitler. Fascista no mais completo sentido, mas à moda "romena". E não é tão jovem, completa 30 anos em 1937 e 38 em 1945.

As repressões e o golpes de estado que seguem às eleições de 1937 levam os membros dirigentes da Guarda de Ferro e Eliade à prisão, onde os legionários cantam "Gott mit uns!", protestando com a canção da SS (196). Eliade escapa do fuzilamento de seus amigos, mas é proibido de ensinar. Pensa em emigrar, mas em 1940 um governo (que já não crê mais na vitória dos aliados) libera os legionários e oferece a Eliade um posto na embaixada romena em Londres, como agregado cultural através do novo ministro de propaganda de Bucareste (200-01).

Na Inglaterra, o Foreign Office (Ministério de Relações Exteriores) o mantém sob vigilância, caracterizando-lhe como a pessoa mais nazificada na embaixada. Eliade se sente com as mãos atadas, impedido de propagar sua causa romena. Quando o governo inglês rompe com o governo de Bucareste (agora abertamente pró-nazi) em 1941, o traslado de Eliado para Lisboa foi a única alternativa para sair da Inglaterra (275-282).

À diferença do sucedido em Londres, na embaixada de Lisboa, Eliade encontra oportunidades para desenvolver sua propaganda fascista para o governo de Antonescu (286-324). A homenagem que realiza ao ditador Salazar mostra claramente qual era a nova ordem cósmica ou a revolução espiritual que propagava entre 1937 e 1945. O livro sobre Salazar não foi realizado por encargo, ainda que se tratasse de uma contribuição voluntária de Eliade a "uma forma cristã de totalitarismo", algo que ele definia também com a "reintegração do homem nos ritos cósmicos" (297). Como a derrota do fascismo na Segunda Guerra se fazia cada vez mais e mais evidente, Mussolini e o governo pró-nazi de Anotnescu foram substituídos, e Eliade, depois de escrever sobre o grande "sacrifício" dos soldados de Stalingrado (320), do horror do pacto "anglo-bolchevique" (275) e da iminente invasão norte-americana com a "degradação da Europa" (322), perdeu seu posto na embaixada (como um dos três mais expostos na propaganda fascista). Antes de renunciar, não deixou de lamentar a queda de Mussolini (322); ou seja, até o último momento manteve sua propaganda antissemita.

Em meio à enorme crise de 1944, Eliade retoma seu trabalho sobre história das religiões, ou seja, volta aos manuscritos de suas conferências em Bucareste. Em Portugal começa a escrever Le Mythe de l’éternel retour, o livro com o qual deve seu regresso ao mundo acadêmico depois de 49. Também seu primeiro livro pós-guerra, Traité d’histoire des religions (1949), tem suas raízes na derrota fascista de 44 e em 45.

O cavalo de Troia entre acadêmicos

A vida de Mircea Eliade depois da guerra se divide em duas fases: a de Paris (1945 até 1957) e a de Chicago (1957-1986). As duas estão estreitamente vinculadas. Aterrorizado de que se revelasse seu passado, começa a apagar sistematicamente seu rancor. Como quase ninguém lia romeno em Paris ou Chicago, encontrava bastante terreno para suas pretensões. Inclusive lhe ocultava seu passado a seus amigos mais próximos (383-416). Até sua morte nos Estados Unidos, guardou silêncio sobre os velhos tempos, ainda que não deixasse de manter relações com Julius Évola e os legionários exilados em Chicago. (O assassinato de seu aluno brilhante, Ioan Culiano, tem implicações legionárias não esclarecidas, como demonstra Laignel-Lavastine (485-89). Nos anos oitenta Eliade trabalhava com a NOVA DIREITA na França (461-62).

Do outro lado, Eliade se rodeava de um círculo de amigos, alunos deles judeus, que o protegem, às vezes ignorando seu passado: Georges Dumezil, Paul Ricoeur, Gershom Scholem e Saul Bellow, entre outros. E há gente com influência e muito dinheiro que o ajudam na recuperação de seus postos acadêmicos. Consegue acesso ao grupo Eranos de Carl Gustav Jung, a quem havia mostrado certas simpatias com Hitler nos anos 30, e através dele obtém apoio da Fundação Bollingen. O dinheiro provinha da família multimilionária dos Mellon nos EUA, e Jung tinha certa influência na fundação. Em todo caso, a beca da Fundação Bollingen lhe abriu o caminho à cátedra em Chicago. Uma quarta estratégia para acobertar seu passado foi uma extensa publicação de memórias, diários e reminiscências, tão parciais como em certos casos desonestas. A única exceção foi o diário de Portugal, que não foi redigido por Eliade, e que mostra suas ideias antes da derrota do fascismo.

Também há um vínculo forte entre as duas fases de Paris e Chicago com o passado de Bucareste e Lisboa. Não somente os dois primeiros livros de 1949, senão muito do que escreveu Eliade depois desse ano retém as posições centrais do seu passado. Laignel-Lavastine mostra em detalhe como cinco temas preferidos de Eliade repetem posições do fascismo cristão de sua época anterior:

A religião como oculta hierofania (que esconde e revela)
O culto do herói no labirinto (como modelo arquetípico)
O sacrifício sagrado como purga (o Holocausto)
O terror para história (consolado pela repetição)
O eterno retorno do pré-histórico (420-33)

Esses temas, em parte, evidenciam a posição intelectual que sustenta Eliade, de seu desejo de escapar de sua própria história - algo parecido com o caso de Paul de Man -, mas também mantém os fundamentos do fascismo espiritual de 37 a 45. Por exemplo, Eliade retém a ideia de que os judeus (depois del 45 Eliade usa a palavra "hebreus") substituíram a velha ordem cíclica do cosmos por uma concepção linear do tempo. O que diz sub-repticiamente, é que isso significa o desenvolvimento do mito do progresso, do racionalismo, da iluminação, das ciências, da tecnologia, da maçonaria, do freudianismo, do marxismo e da época moderna (212, 234, 429-51). O núcleo fascista de sua filosofia de religiões ficou intacto. É "O mito da reintegração" (um livro de 1942), "A necessidade de crer" (299), e o rechaço das ciências.

Por que então Eliade busca as universidade, os centros de ciências, da maçonaria judia, do racionalismo? Porque não se contentou com o rol de um Xamã da New Age nos EUA? Desde 1944, planificava em seu diário penetrar na Europa como um "cavalo de Troia no campo científico" (324). Já não confiava numa legião paramilitar para estabelecer seu totalitarismo espiritual. Queria destruir a cidadela das universidades desde dentro. Ou seja, continuar sua propaganda totalitária sob a camuflagem de uma história das religiões, que propagava o retorno de uma "ontologia arcaica" para deter a dissolução da "ordem cósmica" da sociedade.

Considerando essas luzes do passado, lê-se de outro modo o projeto de 1945, O mito do eterno retorno (há tradução espanhola na rede), esse livro que fez famoso entre leitores que não conheciam suas convicções subjacentes. Não contamos com o espaço para uma análise extensa, mas uma menção a umas linhas do prólogo mostra que Eliade não aceitou a derrota de suas ideias fascistas:
"O mito do eterno retorno é uma original introdução à Filosofia da História, cujo objeto de estudo são os mitos e crenças das sociedades tradicionais, movidas pela nostalgia do regresso às origens e rebeldes contra o tempo concreto. As categorias em que se expressa essa negação da história são os arquétipos e a repetição, instrumentos necessários para rechaçar as sequências lineares e a ideia de progresso. Um rechaço no que subyace, contudo, uma valorização metafísica da existência humana, uma ontologia arcaica que a antropologia filosófica deve incluir em suas reflexões em pé de igualdade com as concepções da cultural ocidental".
Eliade pretende escrever um ensaio sobre a filosofia da história (7), contudo o que oferece é um ataque ao "historicismo" racional de Hegel e Marx. Busca trocar a história pelo mito. O mito do eterno retorno é o perfeito cavalo de Troia para reintroduzis as bases ideológicas da Guarda de Ferro: a sacralização da política.

Em vez de comentá-las, convido a ler as seguintes citações tendo em conta que o livro foi começado em 1945, quando era derrotado o fascismo que propagava Eliade antes de sua demissão:
"Viver de conformidade com os arquétipos equivalia a respeitar a "lei", a lei não era senão uma hierofania primordial, a revelação in illo tempore das normas da existência, feita por uma divindade ou um ser místico". (58).

"Devemos agregar que esta concepção tradicional de uma defesa contra a história, essa matéria de suportar os acontecimentos históricos, seguiu dominando o mundo até uma época muita próxima a nós (1945); e que ainda hoje segue consolando sociedades agrícolas (tradicionais) europeias que se mantém com obstinação numa posição anti-histórica e por esse fato que se encontram expostas aos ataques violentos de todas as ideologias revolucionárias". (89)

"E, num momento (1945) no qual a história podia aniquilar a espécie humana em sua totalidade - coisa que nem o Cosmos, nem o homem, nem a causalidade conseguiram fazer até agora - não seria estranho que nos fosse dado assistir a uma tentativa desesperada para proibir 'os acontecimentos da história' mediante a reintegração das sociedades humanas no horizonte (artificial, por ser imposto) dos arquétipos e de sua repetição. Em outros termos, não está vedado conceber uma época, não muito distante, na qual a humanidade, para assegurar a sobrevivência, veja-se obrigada a deixar de 'seguir' fazendo a 'história' no sentido em ... que se conforme com repetir os feitos arquétipos pré-escritos ... " (96)
É o fascismo do eterno retorno. É deplorável que Eliade tenha escapado de uma crítica mais rigorosa de seus textos depois de 45. Em vez de considerá-lo como fundador de uma "história de religiões objetiva", seria necessário valorizá-lo numa línea com outros fascistas, como Julius Évola na Itália (Revolta contra o mundo moderno/Rivolta contro il mondo moderno, 1934) ou Alfred Rosenberg (Der Mythos des 20. Jahrhunderts, 1930) na Alemanha. O neo-paganismo de Évola e de Rosenberg ilumina obliquamente muitos aspectos do "espiritualismo" de Eliade. Os três trataram de ressacralizar a política, mas concretamente sacralizaram uma ditadura fascista no sentido de Emilio Gentile.

Wolfgang Karrer
Berlim, Alemanha, EdM, dezembro de 2012

Notas:

1. Laignel, Alexandra. Cioran, Eliade, Ionesco. L’oubli du fascisme. PARIS. Presses Universitaires de France, 2002 (Perspectives critiques).

2. Emilio Gentile. El culto del litoral. La sacralización de la política en la Italia fascista. Trad. L. Padilla López. Buenos Aires: Siglo XXI Editores, 2007.

Fonte: Site Escritores del Mundo (Argentina)
http://www.escritoresdelmundo.com/2013/01/mircea-eliade-y-el-caballo-de-troya-en.html
Título original: Mircea Eliade y el caballo de Troya en el mundo académico, por Wolfgang Karrer
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 12 de outubro de 2014

Existem conspirações?

O título do post foi provocativo e intencional (a imagem também) pois o título original seria: "O problema das Teorias da Conspiração". Pois é disto que o post trata.

E é uma questão pertinente pois em 99% das discussões com esse pessoal "revi" ou de extrema-direita, essas teorias da conspiração estão sempre presentes misturadas com meias verdades e coisas que ocorreram/ocorrem, o que acaba implicando no risco de alguém ao discutir com eles, tender a negar que conspirações políticas existem pra não concordar em algo com eles (pois em sua maioria são um bando de fanáticos e lunáticos), quando conspirações existem, só que não da forma como esse pessoal propaga ou prega, ou a que eles pregam.

As mais batidas (ridículas) são aquelas folclóricas como os Illuminati, Nova Ordem Mundial etc (o próprio termo "teoria da conspiração" já representa um forte grau de descrédito justamente por conta da birutice desse pessoal), mas tem "teoria" de todo tipo. E ia esquecendo, é recorrente também as citações sobre o papel sempre controverso da Maçonaria em questões políticas reais, pois a postura da Maçonaria é de fato dúbia, ela nunca diz a que veio, embora a ideologia reinante nela ao que tudo indica são o liberalismo e o positivismo.

Quando você pergunta a um desses crentes que vivem falando em "NOM (Nova Ordem Mundial)" o que é isso, eles não sabem te responder, porque não entendem que o objeto de crítica deles na realidade é o liberalismo radical que vem a ser justamente a Nova Ordem Mundial (no sentido certo do termo) que emergiu com o colapso da URSS, com os EUA no papel de superpotência, e que agora mostra sinais de declínio com a ascensão da China e do declínio dos Estados Unidos decorrente de suas guerras tresloucadas no Oriente Médio e crise econômica e política interna.

Os grupos mais conservadores e radicais não gostam de liberalismo e da crise cultural que ele vem provocando desde os anos 90. Ao invés de usarem os termos políticos corretos eles citam as teorias da conspiração pra atacarem aquilo que eles abominam ou discordam. E ainda chamam isso às vezes de "marxismo cultural", fora do significado original do termo, o que é engraçado pois chamar marxista de "liberal" eu acho que soaria como ofensa pro primeiro.

O ponto central da coisa é: existem conspirações políticas?

A resposta é: sim, conspirações existem. Só que não são divulgadas aos quatro ventos como esse pessoal crédulo , fanático e bitolado dissemina.

E não se dão sob forma de "magia", crendices, folclore, ou venha a ser algo aberto (muito conhecido como esse pessoal espalha e como se fossem "iluminados", descobridores da "pólvora"), como muita gente obcecada com isso dissemina pela internet.

Aliás, magia não existe (sinto 'machucar' o pessoal que crê nisso e em coisas "sobrenaturais" etc, mas não isso não existe).

O problema central de quem é obcecado com essas coisas é que a maioria deles ignora até o que significa de fato o termo conspiração. Irei colar aqui o significado pois eu sei que muita gente não lê algo que preste (infelizmente) e sai repetindo como papagaio a primeira bobagem que lê pela internet.

Conspiração política: Link1 Link2
Em política, conspiração é um entendimento secreto entre várias pessoas para organizar e realizar ações subversivas contra um poder político estabelecido.

Os objetivos de uma conspiração podem variar, assim como suas estratégias e meios. Falsos testemunhos e boatos (como no Complô Papista), sequestro (como na surpresa de Meaux, organizada em 1567 por Luís I de Bourbon-Condé, para sequestrar o rei da França, Carlos IX, e a família real), 1 atentados (como a Operação Charlotte Corday, organizada pelo CNR e pela Organisation armée secrète (OAS) visando assassinar o presidente Charles de Gaulle, em 22 de agosto de 1962),2 assassinatos (como o de David Rizzio, confidente de Maria Stuart),3 e golpes de Estado (como na Conjuração de Catilina, que visava a tomada do poder em Roma, em 63 a.C. pelo senador Lucius Sergius Catilina) estão entre os métodos mais notórios das conspirações conhecidas.

Ou seja, uma conspiração é algo concreto (uma ação visando um objetivo político por um grupo) e não uma crendice como a maioria desses bandos espalham e os governos em geral fazem vista grossa.

Vou citar o caso de uma conspiração recente que não foi vista como conspiração, mas que houve uma conspiração na execução política do caso: A queda do governo da Ucrânia e a ascensão dos neonazis por lá.

Eu já comentei isto aqui: A crise na Ucrânia, os desdobramentos (um resumo).

Resumidamente: os Estados Unidos desde o fim da Guerra Fria, com a dissolução da União Soviética, tenta cercar a Rússia em seu território por ser um potencial rival econômico, militar, ideológico etc, dando apoio desde a governos fantoches/submissos como o de Iéltsin, até cercar a Rússia para contê-la militarmente e provocar uma crise interna (enfraquecer aquele país).

Isso é real, existe. A conspiração, no sentido literal do termo, reside no fato de que líderes de vários países atuam em prol do cerco à Rússia e não falam das intenções dos ataques àquele país abertamente, mas pelas ações é possível deduzir o que se passa. É uma operação com gente graúda, pesada (governos de países militarmente fortes), com participação da mídia (de lado a lado), dependendo de sua orientação ideológica ou financeira.

Os EUA (governo) queriam derrubar o governo ucraniano pró-russo ou mais próximo da Rússia para colocar um governo fantoche e fraco pró-EUA e bases da OTAN naquele país, ou trazer a Ucrânia pra área de influência da União Europeia (que é alinhada com os EUA, refiro-me aos governos e não aos povos desses países da UE).

Derrubaram o governo ucraniano eleito pelas urnas (golpe de estado), independente do fato se ele prestava ou não, e criaram todo o confronto que rola por lá atualmente, com a reação óbvia da Rússia (algo previsível), já que a Ucrânia nessa história virou biombo ou terra em disputa por ser área de influência próxima da Rússia.

A Rússia reagiu e tomou a parte da Crimeia, de maioria russa, e infla combates em áreas pró-russas no que sobrou da Ucrânia pra provavelmente pegar essas áreas e gerar instabilidade no governo fantoche ucraniano (bancado pelos EUA e inimigo da Rússia). Os aliados dos EUA dão suporte ao governo ucraniano.

Por que fazem isso? Em linhas gerais os Estados Unidos atacam qualquer país que desenvolva uma política nacional independente ou visando soberania. Não vamos com isso chancelar a insanidade do nazismo e fascismo pois muitos "revis" visualizam o conflito da segunda guerra nesses termos e sempre inocentando os líderes nazifascistas como se fossem um bando de "anjos" e não belicistas.

Isto é uma conspiração de fato, não "magia" ou delírio de religioso maluco.

Como podem ver, não há "magia", Illuminati ou ET de Varginha participando da contenda, só humanos, bem treinados e politicamente bastante bem informados e com objetivo definido. Se você não tiver ideia do que se passa e estiver no meio da luta de lado a lado, vai pagar o pato ou fazer papel de bobo.

Ou seja, o brasileiro médio continua tratando coisas sérias como esta, que podem vir a ocorrer aqui (o Brasil não está alheio do mundo), como "brincadeira" ou "coisa de filme" por alienação.

O mesmo se passou na Venezuela recentemente, ou naquelas marchas de junho de 2013 no Brasil, que mesmo contando com um apoio popular de início, essas marchas foram manipuladas (pautadas) pela grande mídia brasileira que é alinhada com os Estados Unidos e grupos liberais internos. Por sinal, ainda farei post sobre essas marchas e a turma que apareceu moldando opinião nelas pois não foi algo "espontâneo", com o vídeo daquela garota falando pra não virem à Copa sempre mirando o governo federal. Qual a razão por trás disso? A política independente e mais nacional do Brasil.

O problema de boa parte dessas teorias da conspiração é que ninguém sabe ao certo se elas vêm de trolls (psicopatas) querendo causar tumulto na web espalhando mentiras (que adquirem ar de verdade e incitam o posicionamento a favor de um dos lados ou deixar alguém confuso), de governos (os Serviços de Inteligência também espalham "histórias" pra confundir), de grupos políticos diversos (de ideologias diversas) ou se de todos os citados ao mesmo tempo (o que é o mais provável).

Já viram a enxurrada de boatos que pipoca na web no Brasil nos últimos anos? Os "Black Blocs"? Leiam isto:
Contrainformação
Agente provocador
Método Gene Sharp (que de "não-violento" e idealista não tem nada)

Entre as teorias da conspiração mais difundidas estão obviamente as teorias da conspiração citando judeus, e há as de todo tipo, desde as mais antigas e famosas como Os Protocolos dos Sábios de Sião, até as mais recentes como a negação do Holocausto), explorando o antissemitismo histórico e religioso.

E eis o problema: essas mesmas teorias da conspiração acabam tornando imunes grupos privados e indivíduos fortes (de uma minoria rica dentro de uma minoria, povo) que agem politicamente mesmo junto com outros grupos privados (de qualquer natureza pois esses grupos privados não agem por questões "étnicas" como os "revis" sempre mencionam), quando o povo em geral não tem nada a ver com a ação desses grupos.

O George Soros é uma amostra da questão, ele é um exemplo de um crápula poderoso por trás de golpismo pelo mundo, eu o chamaria de testa de ferro ou que faz o serviço sujo dos EUA (governo), que por ele ser bem conhecido é mais fácil criticá-lo. Ele era um dos que bancava a candidatura da Marina Silva no Brasil e o projeto político por detrás dela, como também banca o outro capacho dele, o ex-presidente do Banco Central com FHC, Armínio Fraga, imposto como presidente pelos acordos do governo tucano com os Estados Unidos no segundo governo FHC e que quebrou o Brasil três vezes pro país pedir empréstimos ao FMI e ficar pagando juros da dívida a credores. Sim, isso existiu e pelo visto a maioria do povo tem memória fraca ou é bastante desinformada.

O povo judeu (pessoas comuns) não deve pagar pelo que um crápula (ou meia dúzia deles) faz se escorando num povo.

O Finkelstein e o Hilberg (este, a maior autoridade no Holocausto) criticavam isto quando o Finkelstein lançou o livro Indústria do Holocausto e o Hilberg chancelou o livro (como crítica) à instrumentalização política do fato. O livro não trata nem propriamente de narrar o Holocausto e sim do pós-segunda guerra e da questão interna nos EUA.

Os "revis" fazem uma leitura totalmente distorcida do livro (pra variar) que em nenhuma parte nega o Holocausto. Não só eles, já vi este livro citado no verbete em português do Holocausto na Wikipedia, por alguma "inteligência rara" que colocou lá por extremismo político, pois o livro não relata o Holocausto e não foi mencionado como crítica.

Vejam que toda vez que um "revi" toca nesses assuntos é só pra culpabilizar "judeus", porque a tendência muitas vezes de quem é afetado/atingido é negar ou até defender gente desse tipo ao invés de isolá-los.

Já tive que ler muito ataque como se eu "adorasse" banqueiros ("amo"... conteúdo irônico e com aspas), a mídia (a mídia do Brasil, salvo exceções, é um esterco da pior espécie e ainda tenho que ler que eu "adoro" isso, ainda vou colar noutro post a baboseira que tive que ler aqui como se eu gostasse do grandão da Globo, eu "adoro" essa emissora, por isso chega a ser ridículo o que eu li) ou que não tivesse ideia do conflito de interesses políticos e econômicos entre países e grupos privados ou como se eu ignorasse o sistema político e econômico hegemônico no mundo e quem defende isso principalmente (os EUA).

Justamente por saber e não tratar isso como racismo (como os "revis" tratam), acho importante demarcar essas questões pois não irei ficar me justificando quando algum extremista desses vier falar sobre essas besteiras "racializando" (como eles dizem) essas coisas.

A turma do extremismo causa uma mixórdia (confusão) com esses assuntos e acaba provocando pânico e inação diante de perigos reais e concretos, como no caso da vacinação do H1N1 (gripe suína) que um monte de religiosos fundamentalistas saíram espalhando e pregando na web que as pessoas não deveriam se vacinar com argumentos ridículos de que a vacina fazia mal (mas diante de um público ignorante e suscetível esse discurso se propaga) o que provocaria o aumento da pandemia pois mais gente seria contaminada, podendo atingir qualquer um de vocês ou a mim. A meu ver quem propagou isso é criminoso e o Estado brasileiro deveria tratar esses grupos com mais rigor.

Ou seja, por detrás da couraça de "coisa ingênua" (pois a maioria disso é sandice mesmo e pra confundir), esse tipo de coisa é perigosa pois desinforma e pode provocar conflitos.

Gente crédula e ignorante ao extremo provoca estragos políticos e sociais por serem vulneráveis a manipulações e por muitos serem fanáticos do tipo que provocariam um estrago de verdade motivado por alguma crença e paranoia.

*A imagem do post é essa: Annuit cœptis, Grande Selo dos Estados Unidos, O Olho da Providência/O Olho que tudo vê.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Franco e o extermínio - Parte 2 (Holocausto)

Outra das imagens do encontro de Hitler e Franco
em Hendaya três meses depois do começo
da Segunda Guerra Mundial
Talvez outra das perguntas que sugerem estes acontecimentos é a de quanto tempo Franco se mostrou tão insensível e tão antissemita? Os documentos avindos só dão uma resposta parcial a esta questão. Há dezenas de papeis que tratam deste assunto e até o analisam, e alguns deles desliza alguma explicação para esta interrogação. Por exemplo, o telegrama cifrado de 22 de fevereiro de 1943 escrito pelo embaixador Hans von Moltke, que acabava de insistir mais uma vez ante o governo espanhol e informava a Berlim: "... o governo espanhol decidiu não permitir em nenhum caso a volta à Espanha dos espanhóis de raça judia que vivem em territórios sob jurisdição alemã" e acrescenta mais adiante que "o governo espanhol abandonará os judeus de nacionalidade espanhola a seu próprio destino". E além de outras considerações escrevia o seguinte: "O diretor geral [refere-se ao diplomata espanhol José María Doussinague] comentou que esses judeus seriam provavelmente mais perigosos na Espanha que em outros países porque os agentes americanos e ingleses os captariam em seguida para utilizá-los como propagandistas contra a aliança do eixo, em especial contra a Alemanha. Além disso, o senhor Doussinague não mostrou muito interesse espanhol no assunto. Rogo por novas ordens. Assinado: Moltke”.

Ninguém pode escapar que neste breve texto se evidencia que a olhos franquistas os judeus eram muito "perigosos", em sintonia com a ideia de Eberhard von Thadden, reproduzida em umas linhas antes, nas quais considerava que um judeu, pelo fato de ser judeu, já era um antialemão. E um detalhe a mais pra sublinhar: nos comentários de Doussinague que foram recolhidos por Moltke se percebe claramente que nas altas esferas da ditadura franquista não se acreditava na declarada neutralidade espanhola durante a Segunda Guerra Mundial, pois o diplomata espanhol não duvidou em situar como inimigo a "americanos e ingleses".

O regime era sintonizado totalmente com Berlim, e apesar dos reiterados ultimatos alemães - obviamente secretos - que advertiram explicitamente ao governo espanhol das medidas extremas de que seria alvo o coletivo judaico, Franco se opôs a salvá-los, mas não esqueceu de reclamar pelas propriedades e o dinheiro dos aniquilados, considerados, portanto, cidadãos espanhóis todavia. Diria-se o o seguinte: "(...) A embaixada espanhola solicita ao Ministério de Relações Exteriores (alemão) que intervenha ante as autoridades correspondentes para lhes explicar que os bens dos judeus espanhóis deixados pra trás ao saírem da França, Bélgica e Países Baixos serão administrados pelos cônsules espanhóis ou representantes da Espanha e que têm que ficar em sua posse por se tratar de bens de súditos espanhóis e portanto sendo um bem nacional da Espanha. Berlim, 25 de fevereiro de 1943”.

Capa do livro, publicado pela Librosdevanguardia
Essa história tem outro lado trágico, mas muito honroso. Enquanto se produziam as deportações e a Espanha negava o pão e sal a milhares de seres humanos, uns horrorizados diplomatas espanhóis atuaram por sua própria conta e contra as ordens vindas de Madri. Falsificaram documentos e conseguiram salvar centenas de pessoas. Todos alertaram a Madri do genocídio em telegramas secretos, e dois deles, Ángel Sanz Briz, de Budapeste (Hungria), e Julio Palencia, da representação da Espanha em Sófia (Bulgária), foram duramente explícitos em suas mensagens. O primeiro, conhecedor do chamado "protocolo de Auschwitz", avisou sobre as matanças em câmaras de gás, e o segundo, testemunha presencial em sua embaixada, escreveu a Madri avisando sobre o desastre humano. Julio Palencia redatou, com o respeito de um funcionário em uma ditadura, várias cartas que enviou a seu ministro e cuja leitura emociona ao mais endurecido"... se por acaso VE (Vossa Excelência) considera digna de ser tomada em consideração minha sugestão... tenha por bem me conceder certa elasticidade para... conceder vistos a israelitas de qualquer nacionalidade ou condição… pois os judeus estão sendo vítimas de uma perseguição cruel e encarniçada que a pessoa mais ponderada e fria ficaria espantada em seu ânimo ao contemplar as injustiças e horrores que essas autoridade vêm cometendo…”, dizia uma carta de Palencia de 14 de setembro de 1942. O ministro não autorizou os vistos que solicitou Palencia, que, desesperado, chegou a adotar dois jovens judeus para salvá-los da morte. Três anos depois, quando a guerra mundial mudou de curso e os aliados pressionaram a Franco, este se apropriou dos atos heroicos desses diplomatas para ganhar a benevolência dos vencedores.

Passaram-se os anos, Franco morreu na cama, e um jovem Juan Carlos manobrou em segredo a favor da democracia ante o atento olhar dos serviços de inteligência europeus e estadounidense. Com suas manobras, muitas em conivência com Adolfo Suárez, consta na documentação avinda que Juan Carlos jogou até o limite do possível para deixar pra trás o passado tão obscuro do que aqui tem sido dada uma pincelada. Era a transição, a mudança.

Os serviços secretos ocidentais tomaram nota de tudo, até de como Adolfo Suárez apontou em quatro papéis que entregou ao Rei no tempo da transição, que cumpriu com todo rigor contra o vento e a maré. O livro o explica. E um pouco depois, já com uma Espanha nova, Dom Juan Carlos seria o primeiro chefe de Estado espanhol que rendia homenagem em Yad Vashem às vítimas do Holocausto se apartando do terrível legado histórico de Franco e de Isabel, a Católica, a rainha espanhola mais admirada pelos nazis, a qual lhe dedicaram vários relatórios que fariam sorrir se se por detrás deles não houvesse uma matança de proporções colossais.

Mas nem tudo foi ocultado no que se refere à Espanha. Os aliados também têm algo a explicar. Uma mensagem secreta de Sir Harold MacMichael, alto comissionado britânico para o protetorado da Palestina, enviada em 15 de junho de 1944 a Sir Anthony Eden, então Ministro de Relações Exteriores do Reino Unido e logo premier, disse outras coisas: "Os nazis têm a esperança de obter alguma graça ante os olhos aliados pelo fato de não matar agora a dois milhões de judeus, pois creem que ajudará a esquecer que já mataram seis milhões de judeus". Lido de outra forma: em plena guerra, como Franco, os aliados sabiam perfeitamente o que estava acontecendo nos campos de extermínio. A pergunta é óbvia: o que fizeram pra evitar?

Fonte: Magazine Digital, do jornal Lavanguardia.com (Espanha)
http://www.magazinedigital.com/reportajes/los_reportajes_de_la_semana/reportaje/cnt_id/8416/pageID/2
Tradução: Roberto Lucena

Franco e o extermínio - Parte 1
O inimigo judeu-maçônico na propaganda franquista (1936-1945)

domingo, 23 de setembro de 2012

Franco e o extermínio - Parte 1 (Holocausto)

Franco e o extermínio. Texto de Eduardo Martín de Pozuelo

As investigações do jornalista Eduardo Martín de Pozuelo nos arquivos dos Estados Unidos, Reino Unido e Holanda desvelaram que Franco deixou morrer a milhares de judeus que teve em sua mão condições de salvá-los. O autor avança nestas páginas a informação que detalha em seu novo livro. O franquismo, cúmplice do Holocausto, publicado pela Librosdevanguardia depois do sucesso de "Los secretos del franquismo" (Os segredos do franquismo).

O encontro de Franco com Hitler
em Hendaya em 23 de outubro de 1940
Durante toda sua vida, Francisco Franco se referiu a um abstrato perigo judeu (maçônico e comunista, também) como o maior inimigo da Espanha construída depois de sua vitória na guerra civil de 1936-1939. Obcecado com esta ideia até o fim de seus dias, o Caudilho se referiu mais de uma vez a judeus em seu último discurso de 1 de outubro de 1975, pouco antes de morrer. Tão insistente foi Franco com seu ofuscamento sobre uma “mancomunação judaico-maçônica” que a tudo destruía, que a frase ficou impressa na mente dos espanhóis como um chavão sem graça da retórica obsessiva do Generalíssimo a qual inclusive muitos franquistas nem prestavam atenção. De fato, parecia que carecia de um significado tangível. Contudo, Franco falava a sério, convencido do que dizia.

Os anos e a tergiversação da história fizeram com que seu antissemitismo se diluísse como um torrão de açúcar na patética frase referida. Contudo, é óbvio que em seus inflamados discursos Franco não deixou de se mostrar antissemita, mas nunca revelou que seu ódio-temor havia tido durante a Segunda Guerra Mundial uma repercussão criminosa somente descoberta graças ao conteúdo de dezenas de documentos secretos desclassificados, encontrados nos arquivos dos Estados Unidos, Reino Unido e Holanda.

Até agora ninguém pensava em Franco quando se falava do Holocausto, como se a Espanha pró-nazi do início dos anos quarenta, claramente desenhada pelos documentos que um dia foram secretos, houvesse assistido de longe como a Alemanha nazi deportava e assassinava milhões de judeus e outras minorias. Mas na realidade, espantosa, como aflora nos documentos citados mostra que Franco pode salvar a dezenas de milhares de sefarditas, mas preferiu deixá-los morrer apesar dos reiterados ultimatos alemães que lhe advertiam das medidas extremas (lê-se extermínio) de que eles seriam objeto se sua Espanha não aceitasse acolhe-los.

O corolário de investigação documental que se recolhe no livro que é adiantado por Magazine tem vários pontos essenciais; o primeiro dos quais é que apenas restam dúvidas de que os nazis alentaram o golpe de Estado de julho de 1936, ao que não deixariam de apoiar até a vitória em 1939. Como consequência do apoio germânico, Franco - que em essência era, a si mesmo, franquista - inclinou dramaticamente os destinos da Espanha pelo lado alemão e não do italiano, pelo que cabe afirmar que a natureza do franquismo se percebe como sendo muito mais nazi que fascista. De fato, até a vitória dos nacionais na Guerra Civil, o III Reich desembarcou com armas e bagagens na Espanha com uma proporção de meios e humanos infinitamente superior a de qualquer outro país dos que se veriam implicados na iminente contenda mundial. Como consequência disso, os alemães influenciaram toda a política e economia espanhola, imprensa incluída, e uma vez iniciada a Segunda Guerra Mundial as relações entre a cúpula do nazismo e Franco e seus ministros foi muito estreita, e a nova Alemanha, cujo império deveria durar mil anos, teve um esquisito trato de favor ante o Generalíssimo. Esta deferência se traduziu na oferta nazi de dar fim dos judeus espanhóis espalhados pela Europa dos que eram previstos serem assassinados industrialmente. Mas Franco não os salvou, sabendo do que ia lhes acontecer, muito bem informado por embaixadores espanhóis, testemunhas de exceção das deportações. Desta forma, a ditadura espanhola se converteu em cúmplice ativa do Holocausto.

As espantosas imagens que foram encontradas
por soldados britânicos no campo de concentração
de Bergen-Belsen em abril de 1945
O oferecimento nazi de enviar a Espanha os spanischer Juden (judeus espanhóis), como designam os nazis aos judeus em todos os seus documentos, não foi produzido em uma ocasião anedótica que passou rapidamente ao esquecimento. Pelo contrário. Tratou-se de um tema de grande importância que gerou centenas de documentos, telegramas, ordens e contraordens procedentes do departamento de assuntos judaicos do Ministério de Relações Exteriores alemão, da embaixada da Alemanha em Madri e do Ministério de Relações Exteriores espanhol. E, tratado como um amigo muito especial, o III Reich brindou a Franco a entrega de milhares de judeus repetidas vezes, por escrito, como comunicação diplomática verbal com reiterada insistência dos embaixadores alemães. Tanto se esmeraram com seu amigo espanhol, que os nazis mantiveram presos mas sem deportar muitos judeus na espera de uma resposta positiva de Franco que nunca chegou. Enquanto isso, os alemães aplicaram por sua própria iniciativa o prazo limite de entrega (março e abril de 1943) para dar tempo a uma resposta de Franco.

Um resumo, parcial sem dúvida, do que aconteceu se deve a Eberhard von Thadden, conexão entre Von Ribbentrop (ministro de relações exteriores) e Adolf Eichmann (responsável pelas deportações), num telegrama cifrado para sua embaixada em Madri que enviou em 27 de dezembro de 1943: "O governo espanhol insistiu durante as negociações que houve entre 1942 e fevereiro de 1943 de que não estava interessado nos judeus espanhóis. Mais tarde foi autorizada [por parte da Alemanha] a repatriação de todos os judeus espanhóis. Repetidas vezes, a Espanha não cumpriu o prazo acordado para seu regresso. (...) Apesar disso e por precaução, a expulsão dos judeus espanhóis não começou até 16 de novembro. Por favor, explique inequivocadamente a situação ao governo espanhol e enfatize que o governo do Reich fez todo o possível para resolver o problema amigavelmente e evitar dificuldades. Fizemos isso tendo em consideração a nacionalidade espanhola [dos judeus] apesar de que se pode entender que todos os judeus têm uma atitude antialemã."

A oferta nazi continha certa piedade ante os judeus sefarditas? Não. Não se tratava disso. Era a deferência ao amigo e ao mesmo tempo uma medida para baratear os custos do extermínio. Quer dizer, antes de proceder a aplicação em toda sua dimensão da solução final, o governo do Reich deu oportunidade ao amigo Franco de decidir sobre a sorte dos spanischer Juden, de tal sorte que se lhes fossem acolhidos para que se tomasse suas próprias medidas contra eles - como supunham que aconteceria - o operativo nazi de extermínio humano se veria substancialmente reduzido.

Fonte: Magazine Digital, do Lavanguardia.com (Espanha)
http://www.magazinedigital.com/reportajes/los_reportajes_de_la_semana/reportaje/cnt_id/8416
Tradução: Roberto Lucena

Franco e o extermínio - Parte 2
O inimigo judeu-maçônico na propaganda franquista (1936-1945)

sábado, 12 de novembro de 2011

A História iluminada por Umberto Eco (O Cemitério de Praga)

Pode a eloquência fascinar, formar e entreter? Sim. Umberto Eco demonstra-o com o seu novo romance, O Cemitério de Praga. E é por isso que a sua leitura é tão viciante, como comprovou Rui Lagartinho.

Num mundo perfeito, O Cemitério de Praga, o sexto romance de Umberto Eco, teria um impacto superior ao da publicação do famigerado Código da Vinci de Dan Brown. Mas, já se sabe, o mundo não é perfeito, e neste caso é pena. Mesmo assim, à medida que o livro foi sendo vertido para outros idiomas, começaram a ver-se alguns indivíduos nos aeroportos e gares da Europa a dar tanta atenção ao livro que levavam debaixo do braço como à bagagem de mão.

Não há aqui nenhuma teoria da conspiração. É apenas vício e saudades que se matam da escrita romanesca daquele que é considerado um dos maiores pensadores europeus. De hoje como de há 30 anos. A ele se pode aplicar o sofisma de Lênin: “Aprender, aprender, sempre.” Estamos em Paris, quase na dobragem do século XIX para o século XX. A cidade foi esventrada para que um monstro de ferro e aço percorra a cidade debaixo da terra. Cá em cima, na margem esquerda do Sena, não longe da Sorbonne e entre escombros, becos e sombras, Simonini avança para casa com o cérebro gourmet que comanda o estômago satisfeito.

Falsificador de documentos com créditos firmados, pode dar-se a esse luxo. Está a ponto de começar um diário, mas à cautela avisa: “…o próprio Narrador não sabe ainda quem será o misterioso escrevente, propondo-se vir a descobri-lo (a par com o Leitor) à medida que ambos espreitam, intrusivos, e seguem os signos que a pena daquele está a verter naqueles papéis.” É por isso que, quando o padre DallaPiccola se intromete na narrativa de Simonini, não nos surpreendemos. Estamos num reino de segredos, espionagem, golpes e contra-golpes. Na ficção como na realidade.

Ao princípio, o diário recua 40 anos, tempo suficiente para mergulharmos, através das raízes e origens de Simonini, nas movimentações nacionalistas que deram origem ao nascimento de um país chamado Itália. Pouco depois, através do maior feito do falsificador, tomamos conhecimento das atas e cadernos de intenções dos rabinos que um dia, reunidos no cemitério de Praga, juram tomar o mundo. Foi por causa da evocação do Priorado do Sião que nos lembramos de Dan Brown, mas essa evocação nasce e morre aqui. O Cemitério de Praga pertence a outro planeta: o da eloquência e da subsequente partilha do saber em forma de romance de capa, espada e aventuras.

A sombra dos folhetins e de Alexandre Dumas marcam, e ainda bem que assim é, a estrutura do romance, onde não faltam excelentes gravuras que sarapintam o livro com a sua galeria de heróis e vilões em cena. Mas para além do domínio dos códigos do espectáculo que um romance deve ter sempre, Umberto Eco domina os códigos da eficácia histórica ao confrontar-nos com um mundo em convulsão há cem anos, que mudou sem na realidade mudar.

A besta negra que atravessa o romance é o ódio aos judeus corporizados no protagonista e naqueles para quem vai trabalhar. À sua volta gravitam seitas mais ou menos satânicas, lojas maçônicas, conspiradores, psicanalistas em início de carreira, políticos em desespero de sobrevivência. Só um caldo destes permitiria um episódio como o “Caso Dreyfus” que, de caso de espionagem a libelo antissemita, permitiu o nascimento do intelectual moderno e conseguiu mostrar a facilidade e rapidez com que se propagam ódios e fundamentalismos. Quando recordamos o melindre que as questões judaicas suscitam na sociedade francesa atual, a eficácia de Umberto Eco fica plenamente demonstrada. É mesmo verdade que a história, tomada aqui como realidade, supera a ficção: quando alguém tem dúvidas ou está esquecido, um único personagem de ficção, como uma espécie de pavio curto e bem aceso, encarrega-se do resto. É o que acontece em O Cemitério de Praga.

Livro: O Cemitério de Praga
Autor: Umberto Eco

Fonte: Time Out Lisboa
http://timeout.sapo.pt/news.asp?id_news=6813

sábado, 13 de fevereiro de 2010

O inimigo judeu-maçônico na propaganda franquista (1936-1945)

Livro de J. Domínguez Arribas
Marcial Pons, 2009. 534 páginas. (29/01/2010)

Os espanhóis que viveram sob a ditadura franquista nunca poderão esquecer das alucinações do próprio Franco, de seus ministros e de outros altos responsáveis políticos contra a aliança judaico-maçônica-esquerdista que, supostamente, sempre a espreita, pretendia subverter ou quebrar a Espanha. Qualquer opositor ao regime sabia além disso que aquelas ameaças não ficavam em mera retórica e que constituíam normalmente o anúncio de uma repressão que se aplicava com manifesta discricionariedade, assimilando a condição semita, maçônica ou marxista a todo aquele que lutasse pelo restabelecimento das liberdades ou se atrevesse a discordar. Que essa aversão se manifestara contra as forças de esquerda em geral e contra os comunistas em particular - o adversário por antonomásia durante a guerra civil - tinha todo o seu sentido e não requer explicação alguma.

Mas, por que pintavam os outros no quadro de honra de inimigos do regime? Uma pergunta - ou uma perplexidade - que surge da constatação de que na Espanha não havia judeus como comunidade visível desde a expulsão de 1492 e que a maçonaria como organização havia tido sempre em nosso país - em que pese que se afirme com frequência desde tribunas conservadoras - uma influência bastante limitada, devido em boa parte porque as lojas não contavam com muitos membros (uns 5.000 militantes em 1936). É verdade que houve durante a República maçons proeminentes em postos-chaves, mas eles haviam sido varridos pelo furacão furacão da guerra civil e suas redes destruídas e neutralizadas.

Não obstante, deixando já à parte os comunistas, que não são objeto deste trabalho, um peculiar antissemitismo (muito distinto do nazi ou ao de outros Estados fascistas) e uma proverbial animosidade antimaçônica distingue o sistema franquista desde suas origens. A reiteração durante décadas de problemas furibindos contra esses grupos pode conduzir paradoxalmente a uma saturação que, ainda hoje, impede o entendimento cabal daquela obsessão. Começando, por exemplo, com um dado que a muitos lhes parecerá surpreendente e que se destaca neste livro desde os compassos iniciais: a expressão “mancomunagem judeu-maçônico” não aparece no período que aqui se estuda, ao correspondente chamado de primeiro franquismo. Não é a única falsa crença que há que se combater, pois ainda mais importante é desfazer o preconceito de que se trata de um tema conhecido. Muito pelo contrário, como também se sublinha desde o princípio, que há muito pouca bibliografia específica sobre as questões concretas que aqui se abordam. Por exemplo, graças sobretudo ao trabalho de Ferrer Benimeli, conhecemos muitos dados acerca da maçonaria espanhola, mas muito menos de seu contrário, o antimaçonarismo militante e doutrinal. Algo não muito distinto pode se dizer dos judeus (neste tramo histórico) e o antissemitismo hispânico, ainda que neste caso contamos com a magnífica síntese de Alvarez Chillida "El antisemitismo en España"(O antissemitismo na Espanha). (M. Pons, 2002).

Tem razão portanto o autor, Javier Domínguez (1975), quando destaca que falta um estudo sitemático e em profundidade sobre a matéria que se aborda, que é, não a esqueçamos, a amálgama e representação que se faz desses coletivos a propaganda franquista e não a atenção aos judeus e maçons reais (enfoque que, por outra parte, não daria muito de si, dada a escassa presença de ambas comunidades no âmbito espanhol). Esse paradoxo é a que ilumina o sentido dessa investigação - tese de doutorado em sua origem -, que pretende rastrear a lógica interna do discurso franquista para explicar porque se justapõem dois grupos tão minoritários e tão diversos entre si e, sobretudo, quais são as funções que desempenha sua presença insistente na propaganda franquista. Dito de outro modo, o que pretendia o regime ao assinalar enfaticamente essas coletividades como seus inimigos?

Para contestar a essas questões, Domínguez começa por examinar os “condicionamentos” em dois sentidos distintos mas convergentes: a genealogia do inimigo judeu-maçônico na tradição espanhola (destacando o papel que desempenharam na construção do mito conspiratório no ranço católico e o pensamento reacionário do século dezoito) e a posição pessoal de Franco a respeito dessas questões. Resulta especialmente reveladora a atividade de uma misteriosa rede de informação denominada cripticamente de APIS que, segundo o autor, esteve fornecendo falsos informes maçônicos ao Caudilho, e que este tomava por autênticos e que, sempre segundo o investigador, foi determinante para o rígido antimaçonismo do ditador. É um assunto de importância que leva a concluir que, enquanto esta mania “marcou seu pensamento de maneira obsessiva”, o antissemitismo “nunca foi uma face definitória das ideias do Caudilho” (p. 154).

As duas partes centrais da obra são dedicadas a estudar as características concretas do discurso franquista contra judeus e maçons durante a guerra civil e a II Guerra Mundial, respectivamente. No primeiro período (1936-1939) se destaca o trabalho de uma editora que levava ironicamente o título de Edições Antisectárias e de seu fundador, o sacerdote barcelonês Juan Tusquets; no segundo período, o protagonismo destaca o nome das Edições Toledo (1941- 1943), com outro nome próprio indiscutível, o do maiorquino Francisco Ferrari. Ainda que com matizes distintas, o resultado de ambas atividades editoriais foi uma coleção de panfletos, de elevadas tiragens, que se moviam sempre na órbita de um catolicismo muito tradicional e de acusações apocalípticas contra a hidra judeu-maçônica.

A quarta e última parte da obra reune todos os fios anteriores para contestar as grandes questões propostas desde o princípio, com duas derivações fundamentais, o uso do discurso antimaçônico como arma política e a utilização do espantalho judeu-maçônico como fator de coesão nas fileiras franquistas. Segundo Domínguez houve quatro grandes razões para que o franquismo assumisse e desenvolvesse esta hostilidade: uma função explicativa da realidade de forma mítica, muito rentável em termos propagandísticos; uma simplificação ideológica, com clara delimitação do inimigo “antiespanhol”; uma legitimação em termos nacionais e religiosos frente a uma conspiração de tintas anticristãs e internacionalistas e, por último, o esboço de um referente quase demoníaco que não só permitia, por contraste, reforçar uma reta identidade coletiva senão que justificava a existência de um poder forte (e com ele a restrição das liberdades).

Todos esses envolvidos estavam, como é óbvio, profundamente imbricados e tinham inclusive desvios surpreendentes como as veladas acusações de conivência com a maçonaria entre as diversas facções franquistas como instrumento para infrigir os competidores. Há que sublinhar neste sentido que a aversão antimaçônica sempre foi mais importante - até no próprio Franco - que a predisposição antijudaica. Ainda que o afã minucioso do autor lhe leva a assinalar ao final, algumas questões ainda pendentes de se elucidar (da dimensão internacional à recepção desse discurso na sociedade espanhola da época), o certo é que seu livro constitui um exaustivo estudo do tema que não deixa quase nenhum fio solto, tão sólido no aspecto documental como bem ordenado e belamente escrito.

Rafael NUÑEZ FLORENCIO

Maçons franquistas
O caso do general Cabanellas
Destaca Javier Domínguez no livro que, ainda que a maçonaria fosse percebida desde o início da guerra como um dos maiores adversários do chamado bando nacional, numerosos maçons se uniram a suas fileiras. “Ironicamente, até o general Miguel Cabanellas era maçon, presidente da primeira institução que dirigia em teoria os militares rebeldes, a Junta de Defensa Nacional. Contudo, como organização, a maçonaria espanhola manifestou publicamente seu apoio às autoridades republicanas legítimas, e é quase seguro que centenas de maçons foram fuzilados durante os primeiros meses da guerra nas zonas controladas pelos sublevados, ainda que, ao que parece, não só por serem maçons como por pertencerem às forças de esquerda” (p. 157)
Fonte: ElCultural.es(Espanha)
http://www.elcultural.es/version_papel/LETRAS/26539/El_enemigo_judeo-masonico_en_la_propaganda_franquista_(1936-1945)
Tradução: Roberto Lucena

Ler mais: infoEnpunto(Espanha)

sábado, 26 de julho de 2008

São os "Revisionistas" negadores do Holocausto? parte 2

Parte 2 de 3
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Intentos de se criar confusão: Desvio ante outros temas


Em um panfleto entitulado "O que é a Negação do Holocausto?", os negadores do Holocausto dizem que não o são. Como costumam fazer, apresentam perguntas sobre a "controvérsia" e depois tratam de criar confusão dando respostas que não são respostas:


Com freqüência se costuma passar ao alto desta controvérsia a pergunta crucial: O que é que constitue a "negação do Holocausto"? [...] Se é um "negador do Holocausto" sem se dizer que os nazis não usaram gordura de judeus para fazer sabão? [...] Se é um "negador do Holocausto" se não se aceita a "conferência de Wannsee" de janeiro de 1942...


Como temos visto, não há necessidade de recorrer a estas confusões. É fácil encontrar definições com as quais podem estar de acordo tanto os "revisionistas" como seus oponentes - por exemplo, as anteriores - e é fácil ver que os "revisionistas" negam todas e cada um dos pontos destas definições.

Intentos de se criar confusão: A negação é o mesmo que a revisão

Outro argumento que se costuma apresentar contra o termo "negador" é que os "revisionistas" simplesmente estão tratando de revisar o significado do termo "Holocausto".

Mas temos visto que suas própias definições do termo são completamente negadas. É como se quisessem defender que 2+2 são 3.

Não estão tratando de negar que 2+2 são 4 - isso é o que dizem - senão que simplesmente querem revisar a Aritmética para que a palavra "suma" se refira a partir de agora à nova operação que eles definam.

Deixar em evidência este jogo de palavras é tão simples como olhar o significado dos termos "negar" e "revisar" no dicionário. Qual é o que melhor se ajusta?

Greg Raven tratou de usar este argumento no passado. Ao que parece, Ernst Zündel também. Zündel disse que rechaça "o Holocausto tal e qual é apresentado pelo Lobby de Promoção do Holocausto", talvez dizendo implicitamente que "o Holocausto" simplesmente não é como o apresenta "o Lobby de Promoção do Holocausto".

O problema com este argumento é que o "Lobby de Promoção do Holocausto" parece estar formado por qualquer um que não esteja de acordo com Ernst Zündel: as pessoas que estiveram em campos, investigadores, periodistas, judeus, maçons, comunistas, anarquistas, Hollywood, os Illuminati bávaros, os Bilderbergers, e por último, mas não por isto menos importante, os historiadores.

Uma frase equivalente seria dizer "rechaço que dois mais dois são quatro, tal e qual é apresentado este fato pelo Lobby de Promoção da Aritmética". Dado que esta forma de apresentar o fato é aceita por todo mundo - seja um estudioso, um aficcionado, o qualquer observador - de novo, isto não é mais que um jogo de palavras.

Fonte: Nizkor
http://www.nizkor.org/features/revision-or-denial/rebuttals-01-sp.html#misdirection
Tradução: Roberto Lucena

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