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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

As marcas do nazismo no Brasil

Muitas pessoas preferem esquecer o passado, ainda mais quando ele é doloroso. Quando se trata de um fenômeno cruel como o nazismo, alguns preferem abafar a História por vergonha do mal que fizeram. Muito se fala do que foi o nazismo na Europa e das suas dolorosas consequências, mas quando se trata de discutir a influência dessa ideologia no Brasil, o assunto morre. Para resgatar a memória de quem sofreu com a expansão da ideologia nazista em terras brasileiras, a Revista de História da Biblioteca Nacional revirou documentos e descobriu a história retratada em “Entre a suástica e a palmatória“.

O vídeo é fruto de uma reportagem especial feita depois de viagens a Campina do Monte Alegre, no interior de São Paulo, e Foz do Iguaçu, no Paraná. A investigação descobriu a existência de duas fazendas no interior de São Paulo que não escondiam a sua simpatia pela ideologia nazista ao longo dos anos 30 e 40. As fazendas pertenciam aos Rocha Miranda, família de prestígio na cidade. Materiais de arquivo mostram que os Rocha Miranda implantaram no seu dia-a-dia a suástica, símbolo máximo do movimento nazista. Tijolos, gado e documentos eram marcados com o desenho. Na fazenda ao lado, a influência nazista foi além: os Rocha Miranda selecionaram 50 meninos órfãos, na sua maioria negros, e colocaram as crianças para trabalhar em regime de escravidão.

A reportagem entrou em contato com pessoas que viveram na época, incluindo dois sobreviventes do grupo de jovens que trabalhavam na fazenda dos Rocha Miranda: Aloísio Silva, que suportou a exploração até ser libertado em 1945, e Argemiro Santos, que fugiu da fazenda aos 14 anos. Veja o depoimento dos dois no vídeo abaixo:



Observação: este assunto já foi reproduzido aqui (Entre a suástica e a palmatória - Fazenda nazi), texto original aqui, só que não lembro se deixei o vídeo de fora do post pra colocar neste ou se não constava antes. Em todo caso o vídeo sobre a história da fazenda está acima.

Peço desculpas ao remetente por não ter podido responder um email que chegou na época da primeira matéria sobre fazenda creio que de alguém de lá comentando para publicar algo sobre o assunto. Várias matérias sobre o assunto foram reproduzidos no blog. Pra acessar todas as matérias sobre a fazenda basta clicar na tag fazenda nazista.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Entre a suástica e a palmatória - Fazenda nazi

Nos anos 1930, órfãos eram escravizados em fazenda no interior de São Paulo por simpatizantes do nazismo

Alice Melo
1/1/2012

Boi premiado e ficha de documentação de gado da Fazenda Cruzeiro do Sul na década de 1930.Uma briga de porcos derrubou a primeira barreira que encobria uma história existente apenas nas lembranças de velhos personagens. O obstáculo rompido nos idos da década de 1990 era a parede gasta de um chiqueiro imundo que outrora fora habitado por empregados de uma fazenda localizada no município de Paranapanema, interior de São Paulo. A Cruzeiro do Sul, que hoje beira os 72 hectares de terra. Na ocasião, quem tentava conter os suínos em sua disparada era Tatão, então proprietário das terras, e seu empregado, Aparecido. A dupla falhou ao apartar a rixa; os bichos abriram um buraco na parede e escaparam rumo ao capinzal numa corrida ensurdecedora. Aparecido seguiu os porcos para evitar prejuízo, mas Tatão permaneceu atônito no chiqueiro destruído. Os tijolos maciços caídos no chão, antes encobertos pela argamassa, revelaram ao homem a marca inconfundível, cravada no centro de um losango: a suástica nazista.

“Eu chamei: hômi, volta aqui, hômi, vem ver isso”, lembra Tatão – apelido de José Ricardo Rosa – fixando os olhos verdes no horizonte, entre uma e outra baforada no seu tradicional cigarro de palha. “Quando ele chegou, eu mostrei a marca pra ele. Ele me disse que era a marca do tijolo. Eu falei: como assim? É a marca da Alemanha! E ele disse que não, era a marca do tijolo. Por anos, eu fui ridicularizado na cidade. Ninguém desconfiava que aquele tijolo, com aquela marca, era a prova de que existiu, naquela fazenda, uma filosofia nazista no passado.”

A descoberta do tropeiro permaneceu como peça solta de um quebra-cabeça complexo até 1998, quando a enteada de Tatão, Suzane, durante uma aula sobre a Segunda Guerra Mundial, reconheceu, nas imagens do livro didático, a marca encontrada nos tijolos de sua fazenda, e avisou ao professor. O historiador Sidney Aguilar Filho, que trabalhava na cidade de São Roque, a 160 quilômetros da fazenda, não acreditou na história da menina. Foi preciso que ela levasse o material na aula seguinte para que ele iniciasse uma investigação. Esta durou dez anos e culminou na tese de doutorado “Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-1945)”, defendida na Unicamp em 2011. Com aquele objeto em mãos, o pesquisador rumou à região e se instalou no município vizinho, Campina do Monte Alegre, ou Campininha – cidade hoje com 5 mil habitantes. Lá, teceu os primeiros fios de uma teia tortuosa de significados. Em meio a polêmicas, a teia liga a simbologia nazista presente na propriedade rural a um contexto de simpatia a ideais de racismo e autoritarismo no Brasil das décadas de 1930 e 1940.

Entrevistando moradores antigos da cidade e revirando arquivos Brasil adentro, Aguilar Filho se deparou com um caso tão curioso quanto o dos tijolos marcados com a suástica: a escravização de 50 garotos órfãos, na maioria negros, numa propriedade rural vizinha. A Fazenda Santa Albertina, com extensão estimada em quase 4 mil hectares de terra. Para sua surpresa, descobriu que tanto a Santa Albertina quanto a Cruzeiro do Sul pertenciam à mesma família no passado: Rocha Miranda. Família tradicional, cujos membros viviam no Rio de Janeiro há gerações, mas mantinham quatro propriedades rurais no interior de São Paulo. Osvaldo, Otávio, Sérgio e Renato Rocha Miranda repartiram as terras do pai, Luís, depois que ele faleceu, em 1915. O caso ilustra, na prática, o ideário eugênico relacionado principalmente à educação por meio do trabalho que permeava o país naquele momento [ver artigo...página XX]. 59 alqueires

Ao que tudo indica, Osvaldo Rocha Miranda, ex-proprietário da Santa Albertina, um dos “benfeitores” do orfanato masculino carioca Romão de Mattos Duarte, que pertence até hoje à Irmandade de Misericórdia, no Rio de Janeiro, escolhia as crianças pessoalmente e as retirava para trabalhar em suas terras sob um contrato de tutelato. O documento tinha o aval tanto do juiz de menores da época quanto da madre superiora da instituição. Os meninos que não fugiram ou morreram permaneceram na localidade entre 1933 e 1945. Nunca receberam salário e, por vezes, eram submetidos a castigos corporais. Trabalhavam na lavoura junto aos adultos. Não tinham nomes, eram chamados por números, e permaneciam sob vigilância constante de um capataz. Este levava consigo instrumentos para castigar fisicamente os meninos e andava sempre acompanhado de dois cães pastores-alemães adestrados: Fiança e Veneno.

A ligação entre as fazendas Cruzeiro do Sul e Santa Albertina, além de familiar, é ideológica. Por mais que as histórias sejam distintas, elas se cruzam em determinados pontos. Os irmãos eram simpáticos à ideologia autoritária: Sérgio Rocha Miranda marcava com a suástica tijolos da estrutura de todas as construções da fazenda, o lombo do gado de exposição, a bandeira da propriedade, que era erguida no mastro, ao lado das bandeiras do Estado de São Paulo e do Brasil. Já o irmão Osvaldo era membro da Câmara dos Quarenta da Ação Integralista Brasileira, com outros dois irmãos, também proprietários de terras na mesma região. Em sua fazenda, os órfãos, mesmo sem ter sapatos, recebiam uniforme de cor verde, engomado, contendo o sigma integralista na braçadeira e no chapéu, para ir a festas nos fins de semana na cocheira da fazenda Cruzeiro do Sul. Os moradores da Santa Albertina, segundo relatos de pessoas que viveram ali, se cumprimentavam gritando “Anauê”, com a mão erguida acima da cabeça.

A história, além de aparecer em vestígios deixados em documentação da época, como o livro de entrada e saída de órfãos no educandário, está ativa na memória de seu Aloísio Silva. Durante décadas, ele foi chamado de “Vinte e Três”. Seu Aloísio tem 89 anos, mora em Campininha. Nesta cidade, morou a maior parte dos órfãos que, de um dia para o outro, foram “liberados”, de acordo com o termo usado por seu Aloísio. Com a doença e posterior morte de Osvaldo Rocha Miranda, em 1945 – período que coincide com a derrocada dos ideários autoritários no Brasil e, principalmente, na Alemanha nazista, país com o qual os Rocha Miranda mantinham relações comerciais estreitas –, o jovem herdeiro, Renato Rocha Miranda Filho (sobrinho de Osvaldo e Sérgio, que morreram solteiros, sem deixar filhos) liberou o grupo, agora já adulto. Sem rumo ou qualquer dinheiro, alguns ficaram pela região e voltaram a trabalhar para a família, como Aloísio e os falecidos José Alves de Almeida, o “Dois”, e Roque. Outros tentaram a sorte longe dali, muitos morreram no caminho.

Em um primeiro encontro, seu Aloísio pode parecer um homem de poucas palavras. As rugas profundas na face e as mãos ainda calejadas mostram o passado de muito trabalho debaixo de sol quente. Na fazenda, quando pequeno, cuidava dos animais, penteava a crina dos cavalos, capinava. Hoje em dia, seu Aloísio vai ao baile da terceira idade todo domingo. Não bebe, tampouco fuma. Nem sempre foi assim, era homem brabo, chegado à pinga – as pessoas da região o chamavam, à época, de “Nego Bêbo". Com o tempo e a curiosidade do povo, ele ganhou amigos para conversar. A memória antes soterrada pelos anos passou a ser pulsante, e hoje ele já consegue falar da infância com tranquilidade. Se no passado era “Nego Bêbo”, agora Aloísio Silva é respeitado na cidade. Ele se diz revoltado, injustiçado. Reclama que, ao ter sido tirado do Rio de Janeiro, naquele 16 de novembro de 1933, todas as chances de conhecer sua mãe foram por água abaixo. Só soube o nome dela, Maria Augusta, depois que o professor Sidney lhe mostrou a documentação encontrada no arquivo do educandário. Certidão de nascimento mesmo, os meninos não tinham. Seu Aloísio acha que foram queimadas quando eles chegaram à fazenda, já que, ao serem levados do Rio de Janeiro, cada um tinha o próprio registro de identidade.

A história contada por ele é rica em detalhes: a primeira leva de dez meninos do orfanato Romão Duarte foi escolhida a dedo por Osvaldo Rocha Miranda, com auxílio de seu motorista, André: “Ele recuou nós tudo num canto, no quintal de brincar. Aí colocou nós empilhado ali e ficou no passadiço em cima, com um saco de bala. Aí, de lá de cima, o major Osvaldo Rocha Miranda jogava um punhado de bala. E nós ia catar que nem galinha catando milho”, lembra com amargura. “Nós não sabia de nada... Então ele ia olhando e apontava com uma vara: André, põe esse pra lá, põe esse pra cá. Ele apartou dez da nossa turma. Na segunda vez que ele jogou as balas, nós já foi catar tudo com medo, assombrado, olhando pra cima. Nós não sabia o que ia fazer com nós. Depois que ele fez a escolha dele, falou: André, solta os outros”, conta. Os mais rápidos, espertos e fortes eram selecionados para o grupo da fazenda – critério muito semelhante ao utilizado para separar os prisioneiros que trabalhariam dos que morreriam nos campos de concentração nazistas, mantidos pelos alemães justamente no mesmo período.

Vestindo seu habitual chapéu de feltro preto e calçando botinas de couro branco, Aloísio Silva revela, com momentos de silêncio profundo, que, depois de serem escolhidos, os meninos com idade entre 9 e 11 anos ficaram oito dias em estado de isolamento até serem levados por carros da polícia à estação de trem D. Pedro II, a Central do Brasil. A promessa era de uma vida boa no campo. Após pegar a maria-fumaça, os meninos foram até a estação Engenheiro Hermillo, em Campininha. “Quando chegamo na fazenda, já tinha um tutor lá – um paraibano ruim, ruim mermo – para tomar conta de nós. Andava com uma vara de marmelo e uma palmatória com cinco furos na ponta, pra caso de nós desobedecesse. Era uma vida muito difícil aqui naquele tempo. A mão da gente chegava a sangra que a gente nem conseguia escreve na escola no dia seguinte”. Em dia de sol quente, ficavam com os pés escaldados, mas não eram poupados da labuta.

Os 50 meninos foram em três levas para a Santa Albertina – entre 1933 e 1934. No primeiro ano, cursaram a quarta série na escola. Tinham aula com a professora Olívia, uma senhora muito boa que, “coitada, não podia fazer nada”, segundo seu Aloísio. Documentos redigidos por funcionários da delegacia de Itapetininga, na época, mostram que as fazendas do entorno também utilizavam o trabalho no campo como aliado à educação dos filhos de empregados. Mas, no caso dos órfãos do Romão Duarte, o esquema era diferente: eles permaneciam isolados dos demais moradores e só podiam deixar a propriedade acompanhados pelo capataz. Alguns meninos jogavam bola contra times da região, mas sempre vigiados.

Seu Carmo Gomes, morador de Campininha, hoje tem 78 anos. Ele era pequeno quando tudo aconteceu. Relata que assistia às partidas de futebol dos times das fazendas, gostava de ganhar doces comprados pelo vigia das crianças, que sempre pagava tudo em boró. “Dizem que eles não tinham salário, mas eu gosto até de esclarecer isso, porque tinha esse homão, o Icho, que ia na venda, e comprava pra nós gasosa (refrigerante), bala, rosca, doce. Comprava e pagava, mas pagava com um vale que tinha nome de boró. Naquele tempo, era o dinheiro da fazenda. Era o dinheiro que valia. Só tinha uma venda na cidade. Aí eles aceitavam o boró e depois trocavam por dinheiro no escritório”. Uma forma de disfarçar a escravidão: os vales, fora da região, não valiam nada.

Considerado o historiador de Campininha, seu Carmo conta a história das fazendas de maneira muito nostálgica. Ressalta, a todo o momento, o passado de alegria e felicidade, e como tudo era bonito e movimentado. “Nossa vida era muito alegre aqui, mesmo a dos meninos que vieram lá do Rio de Janeiro... Eu não sei a vida interna deles, porque eles não saíam muito, mas eles tinham o time de futebol, a escolinha, a banda...”. E conta que as crianças da Santa Albertina, nos fins de semana, iam às festas na Cruzeiro do Sul. Tocavam, faziam barulho para que os bois de raça – com nomes e devidamente registrados com documentos e certidões de nascimento, ao contrário das crianças – se acostumassem com multidões e não dessem trabalho nas competições, em feiras agropecuárias. “A gente via aqueles animais de raça, touro, cavalo, que iam para as exposições também, tudo com a marca da suástica no lombo, que nem o tijolo... A gente achava bonito, diferente”, relata.

Seu Carmo chegou a ser amigo de Renatinho, o Renato Rocha Miranda Filho, sobrinho de Osvaldo e Sérgio, herdeiro de suas fazendas, que também não se casou. Morreu solteiro e deixou as terras para dois sobrinhos e também para os filhos de um empregado que morava com ele, Manezinho, o primeiro marido de d. Senhorinha, a atual esposa de Tatão – o homem que encontrou os tijolos com o símbolo nazista. Os sobrinhos Rocha Miranda, vivos, moradores do Rio de Janeiro, não aceitaram dar entrevista até o fechamento desta reportagem. Eles estão consultando os advogados sobre o caso, porque discordam da história pesquisada por Aguilar Filho.

Uma descoberta recente, no entanto, só reforça a tese sobre a violência vivida pelos órfãos da Santa Albertina. No interior do Paraná, à beira do Rio Iguaçu, vive Marujo, um senhor de quase 90 anos que já passou por altos e baixos na sua trajetória surpreendente. De escravo na fazenda, Argemiro dos Santos virou herói nacional: serviu à Marinha durante a Segunda Guerra Mundial, venceu o inimigo trabalhando nas caldeiras de um navio e sobreviveu para contar a história – sua história. Foi também engraxate, mendigo, jogador de futebol, boxeador. Já adulto, acompanhava o carnaval nas ruas da “saudosa” Lapa, bebia, “corria atrás de um rabo de saia”. Toca trompete, ou pistom, como costuma dizer. Já fez parte de uma banda com integrantes da terceira idade embalando boleros, valsas e marchinhas de carnaval, tocando em aniversários e outras festas. Hoje, passa as tardes “tomando uma gelada” e contemplando o jardim na varanda de sua casa, ao lado da esposa, d. Guilhermina, com quem está casado há 61 anos.

Marujo deixou o tempo soterrar as lembranças de sua estada na Santa Albertina. Usou o trauma como força motriz de uma vida sofrida, sempre se superando, sem medo do que vinha pela frente. Nunca contou a história da infância para ninguém da família, que só soube do assunto há poucos meses, após a visita de Aguilar Filho e, recentemente, da Revista de História. Seu Argemiro fugiu da fazenda quando tinha 13 anos: um belo dia, esperou a noite cair e deu no pé. Ninguém mais soube dele. “Eu falei pra mim: vou cair é fora desse negócio! Fui andando, peguei um caminhão até a estação Engenheiro Hermillo e fiquei lá escondido. Quando apareceu o trem, eu fui lá e, pum! Entrei e fui parar em Sorocaba. Aí fiquei ali engraxando. Era jornaleiro, dormia num banco na praça. Mas logo caí fora, pensando em jogar futebol. Eu era bom de bola. Fui pra São Paulo”. Na capital, ouvindo o programa de rádio “Repórter Esso”, soube que a Marinha precisava de voluntários para a guerra. “Aí eu falei: opa! Se é pra morrer, vou morrer na guerra! Morrer sendo engraxate?”. E foi assim que Argemiro Santos virou Marujo. Fixou-se pela primeira vez na vida em Foz do Iguaçu. Chegou lá como voluntário numa expedição da Marinha. Um olheiro de futebol o chamou para jogar no time local, ABC. Logo se apaixonou, casou escondido, constituiu família e teve três filhos.

Na fazenda Santa Albertina, ele cuidava dos bichos e capinava. Lembra-se dos castigos com palmatória, do uniforme com marcas do integralismo que usava nos fins de semana e das festas na Cruzeiro do Sul, sempre regadas à cachaça. Confirma boa parte das lembranças narradas por Aloísio Silva. Conta com vivacidade sobre o cumprimento comum do dia a dia: “Anauê!”, grita ele esticando o braço. E explica: “Ah, isso era como bom dia. Bom dia! Anauê! Era assim que nós falava.” Apesar dos detalhes que vêm e vão à cabeça, seu Argemiro não se lembra de ser chamado por números, tampouco sabe o nome de qualquer funcionário da fazenda, criança ou adulto. Também nunca soube o nome da mãe. Tomou conhecimento disso só recentemente, quando descobriu que é mais velho do que pensava, pois foi deixado na roda dos enjeitados com 2 anos. Pelo menos é o que consta no registro das freiras do orfanato no dia 7 de abril de 1926, data em que comemora o nascimento.

“Quando ouço gente dizendo que sofreu, é porque não sabe pelo que eu passei. Tive uma vida muito dura antes de chegar aqui em Foz (do Iguaçu)”, lembra. Mas Marujo não se sente injustiçado e muito menos denomina o período na Santa Albertina como escravidão, assim como os moradores de Campininha.

“Nunca precisamos de nada.” Essa é a forma como d. Diva, nascida e criada em Campininha, que foi governanta na fazenda Santa Albertina, descreve sua situação trabalhista no passado. Mas dinheiro, ela não recebeu por muito tempo. Só foi receber salário no fim dos anos 1970, quando a administração mudou.

D. Diva é viúva de José Alves de Almeida, o Dois, o órfão que, depois de liberado, continuou trabalhando na Santa Albertina para o herdeiro, Renatinho: “Ele tinha tudo o que precisava, mandava e desmandava na fazenda. Seu Renato era muito bom, sempre dava roupa. Dinheiro que sobrava das compras.”O Dois vivia para cima e para baixo com o patrão. Seu Aloísio conta que José Alves chegou a estudar culinária no Rio de Janeiro depois de adulto, a mando da mãe de Renatinho, que “pegou ele pra criar”. “Ela levou o Dois pro Rio, ensinou a falar direito, escrever direito. Nós chamava ele de Zé Pretinho, porque ele era bem pretinho mesmo. O apelido pegou.”

Segundo o filho de José Alves de Almeida, Reginaldo, o apelido de Zé Pretinho é mais antigo. A madre superiora do orfanato foi quem começou a chamá-lo assim. Ele o criou desde pequeno até quando o menino foi mandado para a fazenda. Dois, ao que tudo indica, não fazia parte da criteriosa escolha de Osvaldo Rocha Miranda. Foi enviado junto com os outros porque “fez malcriação” para as freiras. Era para ele “aprender a se comportar”. Ao partir, deixou no Rio a irmã Judith, que chorou dias a fio, na parte feminina do educandário, de saudade do irmão. Eles voltaram a se encontrar depois de décadas, quando Dois já se chamava José Alves de Almeida, o cozinheiro da família Rocha Miranda.

Muito simpática, d. Diva é uma senhora de quase 80 anos, irmã da falecida d. Alice, cujo endereço profissional era a fazenda Retiro Feliz, propriedade de veraneio dos alemães Arndt von Bohlen Krupp e Annelise von Bohlen Krupp, mais conhecida como Madame. Antes da década de 1950, as terras pertenciam a Otávio Rocha Miranda, também membro da Ação Integralista Brasileira e irmão de Osvaldo e Sérgio. Arndt era um jovem da alta sociedade europeia, filho renegado de Alfried Krupp, um dos donos do conglomerado de empresas Krupp – conhecidas por produzirem armas de fogo utilizadas na Segunda Guerra. Coincidentemente, os Rocha Miranda tinham relações comerciais com essas empresas. Alfried, em 1948, foi condenado por exploração de mão de obra escrava na Alemanha.

Nas idas e vindas da memória, percebe-se que Campininha até hoje é marcada por vincos de silêncio sobre um passado incômodo. A opressão e a violência ainda se escondem dentro da parede maciça do esquecimento. Uma história suja, que começou a ser revelada por porcos. Quem saiu de lá, como Marujo, consegue revisitar o passado com menos rancor. Quem ficou, como seu Aloísio, tenta esconder as lembranças. Quando perguntado a respeito do momento mais marcante na fazenda, ele pensa, repensa e solta: “Sabe que... Nem triste, nem feliz. Para mim, aquele lugar nunca existiu.”

Saiba mais - Bibliografia

AGUILAR FILHO, Sidney. “Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-1945)”. Tese de doutorado. Campinas, SP: [s.n.], 2011.

www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000807532&opt=4

AGRADECIMENTOS:

Seu Aloísio Santos, Ditinho, d. Diva, Tatão, d. Senhorinha, d. Gibinha, Sidney Aguilar Filho, seu Carmo Gomes, seu Argemiro Santos, Darley Santos, d. Guilhermina, Alexandre Palmar, Philippe Noguchi.

Fonte: Revista de História
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/entre-a-suastica-e-a-palmatoria-1

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Tese de doutorado revela práticas nazistas no Brasil

O historiador Sidney Aguilar Filho chegou ao tema da pesquisa por indicação de uma aluna, que mencionou em aula ter encontrado tijolos marcados com a suástica nazista na fazenda da família, no interior de São Paulo,
Foto: Antoninho Perri/Unicamp/Divulgação

Foi pela indicação de uma aluna, que mencionou em aula ter encontrado tijolos marcados com a suástica nazista na fazenda da família, no interior de São Paulo, que o historiador Sidney Aguilar Filho teve o primeiro contato com aquele que viria a ser seu objeto de estudo durante quatro anos e meio. "Eu não fui atrás do tema, foi realmente uma coincidência", esclarece o autor da tese Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-1945).

Na tese do historiador, é possível ter acesso à história da transferência de 50 meninos órfãos ou abandonados, considerados oficialmente pretos ou pardos (apenas dois deles eram brancos, segundo documentos oficiais). O grupo foi levado do Educandário Romão de Matos Duarte, no Rio de Janeiro, na época capital do Brasil, para a fazenda Santa Albertina, pertencente à rica família Rocha Miranda, localizada em Campina do Monte Alegre, uma área com forte presença de simpatizantes do movimento integralista, durante as décadas de 1930 e 1940, no interior do Estado de São Paulo.

Submetidos a um regime de trabalho na propriedade, os menores viveram no local até o início dos anos de 1940, quando a posição brasileira de combate ao nazismo na Segunda Guerra Mundial e o desprestígio sofrido pelos integralistas junto ao governo de Getúlio Vargas transformou o nazismo e todas as ideologias simpatizantes a ele em um mal a ser combatido. O estudo dá a oportunidade de obter mais informações sobre fatos ainda nebulosos de um período recente da história brasileira.

Quase 10 anos depois de ter entrado em contato com o tema e movido por "uma espécie de dever moral", o historiador decidiu pesquisar o assunto com maior profundidade por meio de um doutorado. "Os sobreviventes já eram velhinhos em idade avançada, e eu julguei que tinha, por causa deles, uma obrigação de realizar a pesquisa. Dessa forma, busquei apoio na Unicamp, em um grupo que trabalha com história da educação. O meu foco não era o nazismo no Brasil, mas sim a coincidência de que um grupo composto apenas por meninos tenha sido retirado de um orfanato na capital do País e levado para uma fazenda em uma região que concentrava forte presença integralista e nazista", explica Aguilar Filho, que, em busca de documentos oficiais e informações históricas e sociais da época, fez diversas viagens por cidades europeias e brasileiras.

Um dos temas de destaque da tese é o contexto social e cultural do período. Por meio de documentos oficiais e reportagens e anúncios publicitários veiculados na Revista da Semana, importante publicação do período, foi possível investigar qual era o papel das crianças na sociedade da época e como esse ambiente possibilitou que meninos sob a tutela do Estado fossem entregues aos cuidados de um único homem, Oswaldo Rocha Miranda, que os levou para a fazenda de sua família.

"Houve a tentativa de entender o imaginário das elites e da classe média carioca que deram suporte para as teorias eugenistas, além da lógica do educandário em entregar 50 meninos a uma pessoa apenas. E para isso, pesquisei através da mídia da época, de intelectuais reconhecidos pela elite brasileira, e encontrei um imaginário tremendamente preconceituoso aos olhos contemporâneos, e uma legislação eugenista, onde havia a justificação do racismo por características fenotípicas, com uma violação dos direitos étnicos", ressalta o historiador.

Aguilar Filho destaca a importância de diferenciar o movimento integralista do nazismo. O contexto histórico brasileiro de práticas higienistas possibilitou a transferência dos 50 meninos à propriedade no interior paulista. Contudo, enquanto o arianismo era central no nazismo, no integralismo ele estava restrito a alguns grupos. Dessa forma, muitos integralistas eram admiradores das ideias políticas e econômicas nazistas, mas não corroboravam com a defesa da raça ariana. "Nazismo e integralismo são coisas diferentes, mas também é importante considerar suas semelhanças nas concepções autoritárias de sociedade e na defesa dos princípios higienistas, por exemplo", destaca.

O historiador exalta o trabalho de outros pesquisadores na relação entre ideologias nazifascistas e elementos culturais e educacionais, como Ana Maria Dietrich, René Gertz e Ediógenes Aragão Santos - que foi sua orientadora na tese.

Segundo o historiador, que entrevistou três dos 50 meninos levados à fazenda no interior paulista, o contato com testemunhas de um fato histórico trouxe à tona dois aspectos principais. "Um deles é a importância de trabalhar questões históricas nas quais existem fontes vivas, o que nos leva às teorias de história oral, uma área com quase 30 anos de pesquisas, mas que ainda precisa caminhar muito. Outro aspecto é o do papel dos sobreviventes na construção da história, que foi fundamental nesta pesquisa", explica. Para ele, a presença de história oral não é um elemento legitimador por si só, mas acredita que, se existem relatos, eles devem ser reconhecidos. "Ao mesmo tempo em que nenhum documento é neutro, nenhum depoimento também é neutro, e a construção da narrativa tem que levar em conta todas essas premissas. Assim, quando há uma fartura de documentos de diversos tipos, associados à memória oral, o processo ganha uma vida especial", afirma.

Durante a relação com os três sobreviventes, o historiador enfrentou uma rejeição inicial, que exigiu que ele lidasse com as memórias de trauma das testemunhas. "O caminho que eu encontrei foi ter acesso ao máximo de documentações escritas e fotográficas possível, para que esses detentores da memória oral não tivessem a responsabilidade de provar o que estavam dizendo", destaca.

Como resultado dessa solução, ao mesmo tempo em que tomava cuidado para contatar primeiramente membros da família dos sobreviventes - que também foram grandes apoiadores da pesquisa - Aguilar Filho conseguiu estabelecer uma relação de mão dupla com os entrevistados. "Ao mesmo tempo em que eu produzia a tese e ajudava eles a lidar com suas memórias, esses relatos também acabaram fortalecendo a pesquisa, dando mais vida ao processo", relata.

Documentário

Já em processo de gravação, em parceria com uma produtora, a tese de doutorado de Aguilar Filho vai parar nas telas. Sem poder adiantar mais detalhes, o historiador apenas afirma que será o roteirista do filme e garante que muitos elementos da pesquisa estarão presentes na produção. "A proposta é de um documentário com alto grau de respeito à pesquisa científica, mas com vida própria, claro; não é uma tese. Temos uma grande preocupação de fidedignidade", diz.

10 de setembro de 2012 • 07h49

Fonte: Cartola/Terra
http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI6136519-EI8266,00-Tese+de+doutorado+revela+praticas+nazistas+no+Brasil.html

Ver mais:
Fazenda Nazista - Integralismo e Nazismo
As ligações entre os fascismos - Integralismo e Nazismo

domingo, 19 de agosto de 2012

Polícia investiga depredação contra fazenda histórica em Paranapanema

A Secretaria da Cultura de São Paulo registrou boletim de ocorrência.
O local é conhecido por ter tijolos marcados com a suástica, símbolo nazista.

Vídeo no link da matéria.

Do G1 Itapetininga e Região

A polícia de Paranapanema irá investigar possível crime contra o patrimônio na antiga fazenda Cruzeiro do Sul, propriedade que fica no limite entre os municípios de Paranapanema, Itaí e Itapeva (SP). A fazenda ficou conhecida após serem encontrados tijolos marcados com a suástica, símbolo do nazismo.

O boletim de ocorrência sobre a depredação do local foi registrado pela Secretaria de Estado da Cultura. De acordo com nota divulgada pela Secretaria, técnicos da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico constataram o fato em 9 de agosto de 2012, durante realização de vistoria. O conjunto da Fazenda encontra-se em Estudo de Tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), portanto, não poderia ter sofrido nenhuma intervenção sem a prévia aprovação do órgão.

Durante a vistoria, os especialistas detectaram destruição. Eles relataram que um antigo armazém foi totalmente destruído. Já um edifício identificado como curral, teve a estrutura do telhado e algumas paredes destruídas. O relatório indica que os danos não foram causados pelo tempo, mas provocados por ações humanas. A declaração é baseada na forma de disposição de tijolos. Segundo nota enviada à imprensa pela Secretaria de Cultura, os tijolos que exibem a inscrição da suástica nazista foram encontrados partidos ao meio, sendo que alguns deles estavam alinhados em pilha, de modo organizado. Já outros tijolos, com outras inscrições, foram encontrados na íntegra.

Tijolos com o símbolo nazista foram quebrados. (Foto: Secretaria de Estado da Cultura)Tijolos com o símbolo nazista foram quebrados. (Foto: Secretaria de Estado da Cultura)

A propriedade tem aproximadamente 144 hectares, o equivalente a mais de um milhão e quatrocentos mil metros quadrados. O lugar foi vendido para uma usina para plantio de cana de açúcar.

Durante a 2º Guerra Mundial, a fazenda pertencia a uma família muito poderosa no Rio de Janeiro, que mantinha negócios em São Paulo. Registros históricos indicam que a família era apoiadora da Ação Integralista do Brasil, uma organização que apoiava as práticas nazistas como pregação da superioridade da raça ariana, imposta pelo ditador Adolf Hitler, na Europa. A história desses propritários é marcada não só pela riqueza, mas também porque traziam crianças negras de orfanatos cariocas para viver e trabalhar na área. Esses meninos não tinham nomes, eram chamados por números. Em documentos encontrados por pesquisadores, existem fotos ainda que mostram animais marcados com o símbolo nazista.

Depois dos simpatizantes nazistas e dos outros donos do lugar, o aposentado Aparecido Refulia foi o último morador da fazenda. O homem, de 72 anos viveu na fazenda até o fim de abril deste 2012. Ele conta que ficou por cinco anos como zelador de confiança dos antigos proprietários. O antigo morador afirma que conheceu as obras em pé e viu parte ser destruída pelas máquinas da usina. “Foram quebrando, foram metendo trator... estão destruindo tudo”, afirma.

A usina que é atual dona das terras tem sede em Piracicaba. O advogado não foi encontrado para comentar sobre as constatações feitas por técnicos da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico.

Já o delegado seccional de Avaré, Jorge Cardoso Oliveira, confirmou a abertura de inquérito policial, em Paranapanema, para investigar o caso. A pena para crime contra patrimônio varia de seis meses a um ano de reclusão, se for culposo. E de um a três anos, no caso de crime doloso, quando há intenção de ser praticado.

O caso também será encaminhado à procuradoria geral do estado para providências judiciais.

Prédios estão completamente destruídos na fazenda Cruzeiro do Sul. (Foto: Divulgação / Secretaria de Estado da Cultura)

A Secretaria de Estado da Cultura abriu boletim de ocorrência e a polícia irá investigar a depredação. (Foto: Divulgação / Secretaria de Estado da Cultura)

Fonte: G1
http://g1.globo.com/sao-paulo/itapetininga-regiao/noticia/2012/08/policia-investiga-depredacao-contra-fazenda-historica-em-paranapanema.html

terça-feira, 10 de abril de 2012

Sede na fazenda de antiga colônia nazista será demolida

Pesquisador defende conservação de imóvel no interior que também abrigou órfãos escravos
08 de abril de 2012 | 3h 02

JOSÉ MARIA TOMAZELA, SOROCABA - O Estado de S.Paulo

Prédios de tijolos com suástica
darão lugar à plantação
de cana-de-açúcar - Divulgação
As construções remanescentes de uma colônia nazista que funcionou na década de 1930 na Fazenda Cruzeiro do Sul, em Paranapanema, a 260 km de São Paulo, serão destruídas. O novo proprietário decidiu limpar as terras para facilitar o cultivo de cana-de-açúcar. Está prevista a derrubada dos prédios das oficinas, da cocheira e da pequena igreja. A antiga piscina de alvenaria será soterrada.

Os tijolos usados nas construções trazem impressa a suástica, símbolo do nazismo de Adolf Hitler. O antigo proprietário da fazenda, José Ricardo Rosa Maciel, e sua mulher, Senhorinha, contaram que o comprador consultou os órgãos do patrimônio histórico antes de fechar o negócio para se certificar de que as construções não são tombadas.

Como a venda foi feita com cláusula de confidencialidade, eles não revelaram o nome do novo dono. "Ele vai arrendar as terras para o plantio de cana mecanizado, por isso precisa do terreno desimpedido", disse a mulher. A prefeitura de Paranapanema informou que as terras são particulares e o município não tem condições de desapropriá-las, apesar do interesse cultural.

A fazenda foi comprada no início do século passado por Luis Rocha de Miranda, simpatizante do movimento fascista Ação Integralista Brasileira (AIB). A propriedade tinha geradores de energia elétrica, pista de pouso cimentada, uma estação de trens particular e silos aéreos importados dos Estados Unidos.

Segundo o pesquisador Sidney Aguilar Filho, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a fazenda foi palco de um esquema escravista nos anos 1930. Os irmãos Rocha Miranda trouxeram 50 meninos do orfanato Romão Duarte, do Rio de Janeiro, poucos meses depois de Hitler ter tomado o poder na Alemanha, em 1933. Os garotos tiveram os nomes trocados por números e seriam obrigados a aderir a ritos nazistas.

Com o fim da AIB após a instalação do Estado Novo por Getúlio Vargas, em 1937, as crianças foram libertadas e as marcas do nazismo no local foram suprimidas. Nos anos 1960, a fazenda foi adquirida pelo alemão Amdt Von Bohlen und Halbach, servindo como local de férias para a família, mas acabou vendida anos depois. Os tijolos com a suástica foram descobertos anos mais tarde por Maciel, que adquiriu a propriedade, quando demolia uma granja de porcos.

Aguilar Filho transformou as pesquisas feitas no local na tese Educação, autoritarismo e eugenia - Exploração do trabalho e violência à infância no Brasil (1930-1945). Ele disse que será "uma calamidade" se a demolição ocorrer. "É um patrimônio público, seja ou não reconhecido pelo Estado. O que aconteceu ali é uma história inconveniente, mas que precisa ser contada." Segundo ele, a pesquisa sobre a célula nazista e a história dos meninos escravos não está completa. "Ainda há muito a ser contado sobre as relações do Estado brasileiro com o regime nazista."

Estudo. A tese de Aguilar Filho analisa aspectos da educação brasileira entre 1930 e 1945 a partir de relatos de vida de 50 meninos "órfãos ou abandonados" sob guarda do Juizado de Menores do Distrito Federal. Eles foram retirados do Educandário Romão de Mattos Duarte, da Irmandade de Misericórdia do Rio de Janeiro, e levados a uma propriedade no interior de São Paulo - a Fazenda Cruzeiro do Sul.

A transferência dessas crianças de 9 a 11 anos foi respaldada pelo Código do Menor de 1927. Por uma década, as crianças foram submetidas a uma educação baseada em longas jornadas de trabalho agrícola e pecuário sem remuneração. Foram submetidas a cárcere, castigos físicos e constrangimentos morais em fazendas de integrantes da cúpula da Ação Integralista Brasileira, simpatizantes do nazismo.

Fonte: O Estado de SP
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sede-de-antiga-colonia-nazista-sera-demolida-,858463,0.htm

Matéria na Record(TV) sobre a fazenda nazi, de 2008:
A Fazenda Nazista no Brasil e o emprego de trabalho escravo - rastros deixados pelos nazistas no país

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Fazenda Nazista no Brasil e o emprego de trabalho escravo - rastros deixados pelos nazistas no país

Segue abaixo link da reportagem da Rede Record(muita gente teve curiosidade em ver)sobre uma 'fazenda-modelo' usada pelos nazistas no Brasil(localizada no interior de São Paulo)na década de trinta(séc. XX), com emprego de trabalho escravo(os nazistas foram até o Rio de Janeiro adotar garotos negros para servirem como escravos na fazenda). Matéria de Roberto Cabrini. Coisas que a maioria dos brasileiros desconhecem sobre fatos que ocorreram em se próprio país:


Assistir o vídeo:
http://www.mundorecord.com.br/play/6d9fe0f0-55d6-44d0-af53-90f3b87ffd42

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