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sexta-feira, 31 de março de 2017

Nazismo de esquerda? (Mark Mazower) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 04

Dando continuidade à série "Nazismo de esquerda? O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita" (onde irei incluir textos históricos de peso de jornalistas também, vide o do William Shirer, em alguma sequência), quem perdeu a origem (de onde saiu a ideia) da série, ler aqui.

Seguem trechos do livro do Mark Mazower mostrando a mesma coisa dos outros posts, o nazismo na extrema-direita. Eu já adianto, como já disse antes, que considero vexatório ter que fazer um texto sobre isso porque considero essa discussão batida, beirando o ridículo, só em um país dominado por um "analfabetismo político" (e funcional) fora do comum é necessário se chegar a um extremo de ter que mostrar o óbvio (porque os que panfletam bobagens só "leem" sites toscos da extrema-direita liberal que é quem panfleta essa asneira no país, como filial, já que a matriz fica nos EUA), quem afirma que nazismo é de "esquerda", "extrema-esquerda" etc está só panfletando, fora o "nível" de argumentação e discussão que esse pessoal usa pra "justificar" essa baboseira (o povo que critica o "tom" nunca deve ter visto as baboseiras que temos que ler sobre isso, fora os "elogios" recebidos, vulgo "xingamentos"), com esse pessoal rotulando até gente de direita (que chama o nazismo pelo que é, de extrema-direita) como "esquerdistas que foram doutrinados pelo gramscismo" (risos).

Estou "rindo" (aspas) pra não chorar, mas... essa cretinice militante no país preocupa, é só ver os resultados da coisa com o caos que essa gente lançou o país, com a 'anuência' (concordância velada ou não) da outra parte que ficou inerte só "assistindo" o agravamento do caos começado em 2013, na "esperança" sabe-se lá de quê (golpe de estado, perda de direitos trabalhistas, terceirização irrestrita, destruição da previdência social etc), coisas que afetam até esse pessoal que agora está 'meio perdido' sem saber o que fazer ou no que se meteram. É o velho dito, não se mete em briga de "cachorro grande" sem saber o que está por trás da 'peleja', sem saber qual o embate ideológico que atravessa décadas no país que é o implante do [neo]liberalismo e sucateamento do Estado brasileiro pra manter o caráter 'subdesenvolvido' do Brasil como "país periférico", neocolonizado e área de exploração externa, e o povo do país consequentemente "que se dane", pois é só um "detalhe" pra esses grupos de pressão e seus apoiadores (igualmente lacaios).

Mark Mazower: É professor de história da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e do Birkbeck College de Londres. Lecionou também em Sussex (Inglaterra) e Princeton (EUA). Escreve sobre assuntos internacionais para o Financial Times. Ganhou o prêmio Bentinck por Continente sombrio: a Europa no século XX. (descrição tirada do site da Cia. das Letras, quem publicou o livro em português).

Livro: O império de Hitler (A Europa sob o domínio nazista)
Título original: Hider's Empire: Nazi Rule in Occupied Europe

Pág. 80

A preocupação com o sofrimento dos “alemães no estrangeiro” não estava confinada às agrupações paramilitares extremistas ou aos teóricos de perfil nazista. Os poloneses tiveram espetacular êxito na “desgermanização” dos domínios que antes haviam sido prussianos. Assentaram dezenas de milhares perto de Gdansk e construíram um porto rival nos arredores. E a saída de muitos alemães trouxe mudanças drásticas no equilíbrio da população. Em Poznan/Posen, os alemães constituíam apenas 2% da população em 1930, em comparação com os 42% em 1910; em Bydgoszcz/Bromberg, essa proporção caíra de 77% para 8,5%. Em Weimar havia uma preocupação generalizada com os refugiados alemães e um grande apoio às instituições culturais e às associações de assistência social que tinham por objetivo fortalecer a “germanidade”. A venerável Verein fiir das Deutschtum im Ausland (v d a ) — que distribuía recursos estatais e privados para as escolas das minorias alemãs e outras organizações — tinha mais de 2 milhões de associados. A v d a era uma organização oficial, mas também se referia aos governos estrangeiros de maneira hostil, como se travassem uma guerra contínua de extermínio cultural contra os alemães no estrangeiro. Visões mais radicais prosperavam nos novos institutos de pesquisa para o estudo do' Volksdeutsche.1

Pág. 103-104

Mesmo assim, sob o governo de Tiso os políticos católicos conservadores da Eslováquia exploraram com habilidade o pouco espaço de manobra que obtiveram. Tirando vantagem da relutância de Berlim em abandonar sua postura de libertador, eles criaram um sistema político mais autoritário do que propriamente nazista e marginalizaram sua extrema direita. Obrigaram os alemães a duras negociações antes de permitir que usassem a Eslováquia para deslocamentos contra os poloneses e, embora representassem de bom grado uma legislação antissemita alinhada com o exemplo alemão, nem por isso se interessaram em implementar um cunho racial em suas leis internas. Dessa forma, a Eslováquia tornou-se um modelo da Nova Ordem de várias maneiras. Os alemães nunca se sentiram tão seguros quanto gostariam a respeito dos eslovacos. Embora a maioria visse a Eslováquia como um Estado fantoche, alguns dirigentes de Berlim consideravam o país um exemplo do que poderia acontecer quando se permitia que "pequenas nações" tivessem liberdade demais.15

Págs. 107-108

Não havia nada de especificamente nazista em enaltecer uma guerra para reparar as mágoas de Versalhes, pois a maioria dos alemães apoiava essa atitude. O que era característico do regime — e aliás dos que apoiavam os militares — era o extremismo de seus planos para transformar o conflito numa dura luta racial contra os poloneses. Manuais de treinamento apresentavam aos soldados um retrato negativo dos poloneses, e agora seus superiores confirmavam aquilo. “Soldados da 21- Divisão! Isto é pela honra e pela existência da pátria”, proclamou um general às vésperas da invasão.
A Prússia Oriental está em perigo [...] Marcharemos pela antiga terra alemã que nos foi arrancada pela traição de 1919. Nessas antigas regiões do Reich nossos irmãos de sangue sofreram uma assustadora perseguição! Este é o espaço vital do povo alemão.20
Pág. 149

Embora os nazistas tivessem planejado tratar a Noruega da mesma maneira, a invasão do país foi uma tarefa muito mais difícil, tanto militar como politicamente. Depois de um ataque de surpresa que fez Oslo cair em mãos alemãs, os noruegueses reagiram com determinação. Para complicar as coisas, Vidkun Quisling — um radical de extrema direita que tinha pouco apoio no país — aproveitou a oportunidade para declarar a formação de um governo provisório chefiado por ele mesmo. Hider simpatizava com suas ideias, mas o afastou e nomeou em seu lugar, como comissário do Reich, um antigo companheiro do partido. O homem que ele escolheu, Josef Terboven, já era governador provincial da Renânia, onde gozava merecida reputação por sua crueldade. Havia recebido a Cruz de Ferro na Primeira Guerra Mundial, antes mesmo de abandonar a universidade, de participar do Putsch da Cervejaria em 1923 e de se casar com uma ex-secretária de Goebbels. Tendo se mudado para a residência do príncipe herdeiro (onde se suicidou cinco anos mais tarde explodindo uma bomba), o rude Terboven não tinha os dotes de persuasão necessários para convencer os abalados deputados noruegueses a formar um novo governo pró-alemão. O presidente do Parlamento chegou a pedir que o rei Haakon abdicasse, mas este, irritado, recusou o pedido e fugiu para Londres, onde formou um governo no exílio. Enquanto isso, o interregno político em Oslo se arrastava. No fim de setembro Terboven perdeu a paciência: aboliu unilateralmente a monarquia, dissolveu todos os partidos, exceto o Nasjonal Samling (n s , Partido da União Nacional) de Quisling, e anunciou a formação de uma comissão estatal majoritariamente composta de membros do n s para governar o país. Foi um ruidoso tapa na cara da classe dirigente do país e desde o início condenou o novo governo à ilegitimidade. Embora a população fizesse muitas críticas ao rei por ter fugido, Quisling era muito mais detestado, e virtualmente toda a Noruega estava contra ele.

Pág. 409

A realeza italiana foi esperta em ficar de fora: o reino de terror da Ustase (Ustasha) que se impôs explicou amplamente por que em geral os alemães evitavam ceder poder para extremistas de direita. Dos 6,3 milhões de habitantes do novo Estado, apenas 3,3 milhões eram croatas: havia 1,9 milhão de sérvios, 700 mil muçulmanos, 150 mil alemães e 40 mil judeus. Mesmo assim, a Ustase empenhou-se em erradicar com violência os não croatas, em especial a influência no país dos sérvios e judeus. O governo proibiu o uso do cirílico, legalizou o confisco de propriedades de judeus e impôs uma nova lei de nacionalização. Ao mesmo tempo, esquadrões paramilitares embarcaram numa campanha de massacres contra sérvios, judeus e ciganos, e por mais de um mês, até que protestos dos alemães obrigaram uma breve desaceleração, as unidades da Ustase faziam um massacre atrás do outro, às vezes visando sérvios notáveis, mas em outras ocasiões, principalmente na Herzegóvina do Norte, chacinando comunidades inteiras com cenas grotescas de violência e sadismo. Quando as prisões ficaram superlotadas, uma série de campos de concentração foi construída ao redor de Jasenovac, perto do rio Sava, que logo se tornou um notório centro de matanças. Em junho, proeminentes servo-croatas apelaram ao governo sérvio em Belgrado para que os alemães interviessem. Eles não sabiam que Hitler já tinha se encontrado com Paveüc em seu retiro de Berchtesgaden e o havia instado a continuar sua política de "intolerância nacional” por cinquenta anos.50

Pág. 415

O uso de punições coletivas para forçar populações a obedecer foi reforçado quando comandantes de campo sentiram, tão nitidamente quando da ocupação da União Soviética e dos Bálcãs, que estavam com pouco pessoal e forçados ao limite. A essa altura, considerações de prestígio, semelhantes às presentes nas campanhas coloniais lutadas pelos italianos e outros, levaram a caminhos de represálias horríveis. O Exército italiano estava obedecendo a ordens nos massacres da Etiópia de 1937 e na "pacificação” de Montenegro em 1941. Assim como os húngaros em Novi Sad e os búlgaros em Drama. Algumas vezes os aliados dos alemães podem ter se sentido chocados com a brutalidade da Wehrmacht na Ucrânia e na Bielorrússia, mas não reagiram de maneira muito diferente ante a ameaça de seus próprios opositores. A inconfortável verdade é que a guerra de contrainsurgência era mais resultante do produto de certo estilo de luta europeu que do próprio nazismo. A tecnologia havia mudado nas décadas anteriores, mas em outros aspectos eles estavam lutando no mesmo espírito e seguindo as mesmas regras estabelecidas em suas campanhas coloniais e durante a Primeira Guerra. Claro, havia uma diferença crucial: no passado, autoridades civis às vezes conseguiram exercer uma influência moderada sobre as militares — como fizeram, por exemplo, na Sérvia ocupada em 1917. Sob os nazistas, os extremistas eram os civis, sempre instando seus soldados a perder a inibição e aumentar o nível do terror. Diante da ameaça dos partisans, a Wehrmacht em particular perdeu de vista até mesmo as poucas restrições que em outra época inibiram seus predecessores.60

Págs. 482-483

A ideia de colaboração convida a pensar na relação da França com os alemães. Mas isso só levanta a questão de quem representava a França. Pois os conflitos entre as diferentes agências alemãs em Paris — por mais intensos que fossem — empalideciam em comparação com a desunião na própria França. Se o país não estivesse tão amargamente dividido na época da invasão, a ocupação teria seguido um rumo muito diferente, como mostra o exemplo da Noruega. Na verdade, muitos integrantes da direita francesa saudaram o colapso da democracia parlamentar e viram a ocupação como a oportunidade de acertar contas de décadas com a esquerda — do tempo do caso Dreyfus e talvez mesmo da Revolução. Mas só em relação à Frente Popular é que se tratava de um grupo organizado em algum sentido. Alguns oponentes da Terceira República admiravam e adoravam os ocupantes, enquanto outros os odiavam. Muitos apoiavam Pétain, pelo menos por algum tempo, mas havia os que o detestavam e esperavam que os alemães o eliminassem em favor de uma alternativa mais radical de extrema direita. A história do colaboracionismo parece mais uma complicada briga de família que a guerra de conquista da Alemanha expôs e tornou muito pior, e explica por que a ocupação representava tamanha ameaça à unidade nacional e continua a ser assunto tão sensível até hoje.2

Pág. 489

Os ultras estavam agitados — especialmente quando Heydrich e a SS começaram a voltar sua atenção para a França — e eram muito mais extremistas que Déat. Eugène Deloncle era oficial condecorado da artilharia, um personagem sombrio, instável e violento da periferia do fascismo francês de antes da guerra cuja organização paramilitar e antirrepublicana Cagoule fora apoiada na década de 1930 pelos executivos direitistas da gigante dos cosméticos UOréal. Cauteloso, o comandante militar alemão em Paris havia “tolerado”, mas não “autorizado”, o Mouvement Social Révolutionnaire (m sr), sucessor da Cagoule, cuja bandeira era “a construção de uma nova Europa juntamente com a Alemanha nacional-socialista e todos os outros países europeus libertados do capitalismo liberal, do judaísmo, do bolchevismo e da maçonaria”. O m sr — que prezava tanto proclamações quanto as outras agrupações políticas da ocupação — queria regenerar a França “racialmente”, para evitar que judeus “contaminassem” o sangue francês, e criar uma economia socialista. Saquear as propriedades dos judeus era um estímulo adicional, como também, apesar do suposto compromisso com o socialismo, o apoio contínuo da L'Oréal. Mas quando Deloncle tentou tomar de Déat o controle sobre o RNP, os dois acabaram enfraquecidos pelo conflito interno.

Págs. 489-490

Os conflitos internos entre as agências alemãs em Paris eram igualmente ferozes. Deloncle também foi apoiado pela SiPo/SD . Equipados com os explosivos que ela lhes fornecia, seus homens tentaram dinamitar sete sinagogas em Paris na noite de 2-3 de outubro de 1941. Seis dos edifícios foram danificados, juntamente com outros ao redor; dois soldados alemães e inúmeros residentes franceses estavam entre os feridos. Quando a polida militar investigou as explosões, o SD tentou encobrir sua participação, alegando que aquilo não passava de “uma história de judeu”, e houve um choque frontal com o comandante militar da Wehrmacht, que logo descobriu a ligação quando um dos assessores de Deloncle, embriagado, alardeou os fatos numa casa noturna de Paris. O general Von Stülpnagel exigiu a retirada dos dois altos oficiais da SS em Paris e impediu que Deloncle fosse se juntar a seus homens na frente oriental. O caso abriu um fosso entre a Wehrmacht e a ss que afinal deu a Heydrich a abertura para tomar o comando do policiamento na França e nomear seu próprio HSSPF na primavera seguinte. Quanto a Deloncle, ele perdeu o controle sobre o m sr , envolveu-se em contatos com agentes secretos aliados e acabou sendo morto numa troca de tiros com a Gestapo em janeiro de 1944. Não foi um fim atípico no torturado mundo do extremismo francês.8

Págs. 492-493

Céline não foi o único escritor renomado a cultuar o fascismo. O jornalista e crítico Lucien Rebatet publicou uma diatribe violenta e antissemita chamada Les Décombres [As ruínas] contra os responsáveis pela queda da França, elogiava a cultura alemã e via um "profundo significado político” no disciplinado estilo da Orquestra de Câmara de Berlim. Na direção da prestigiosa Nouvelle Revue Française, o escritor Drieu La Rochelle imprimiu-lhe uma linha antidemocrática e pró-alemã e sonhava com uma "terceira via” europeia fascista, entre os Estados Unidos e a ameaça do bolchevismo. O mesmo fazia Robert Brasillach, outro brilhante e jovem literato extremista, que considerava os franceses "um povo absurdo e medíocre” e insistia em louvar os jovens alemães e criticar os velhos senis que ostentavam cargos em Vichy. Seu fascínio por um belo e jovem professor do Instituto Alemão teve um trágico desfecho quando este foi morto em ação na frente oriental. Visitando a floresta de Katyn como jornalista, ele se recordou do amigo e saudou sua amizade como a expressão de uma Europa rejuvenescida que derrotaria tanto a complacência burguesa como "as forças do Leste”. Para Brasillach, Pétain e Vichy tinham chegado a um beco sem saída e, à medida que a colaboração entrava em colapso, passou a confiar exclusivamente nos alemães. A queda de Mussolini o comoveu profundamente e parecia anunciar o fim de seu
ideal de uma Europa fascista: "Uma França fascista numa Europa fascista, que belo sonho!”. Mas, à diferença de muitos outros ultras, ele se recusou a abandonar suas convicções. Mesmo nos dias sombrios do fim de 1944, quando viu que os ventos sopravam na direção "do templo da paz universal, da irmandade imposta a todas as raças e credos”, Brasillach ainda acreditava que o fascismo tinha sido "a verdade mais emocionante do século XX”.10

Aquela era a perspectiva ultra, mas certamente não a de Cocteau: ele não era um extremista e valorizava mais a sociedade e a sociabilidade que a ideologia. "Eventos me entediam”, confidenciou o poeta Valéry a Gerhard Heller por volta dessa época. "Os eventos são a espuma das coisas. É o mar que me interessa.” No que dizia respeito à política, os sentimentos de Cocteau eram muito semelhantes. A situação foi ficando sombria à medida que amigos fugiam do país ou passavam à clandestinidade. Alguns escreveram cartas angustiadas antes de ser presos e deportados, e um ou dois se suicidaram. Junto com Picasso, em 1943 Cocteau foi ao enterro do pintor exilado judeu Chaim Soutine, um ato de solidariedade para com um homem que tinha morrido fugindo da Gestapo. Sua vida social, no entanto, mantinha o ritmo frenético. Encantava-se, como tantas outras vezes, com a "beleza prodigiosa” de Paris — os alemães que apareciam para lhe prestar homenagens, os visitantes da zona livre, sempre "estupefatos pela cidade”, os restaurantes "que vendem de tudo o que supostamente está proibido”; os caçadores de autógrafos perseguindo estrelas e atores de cinema nas ruas. "Como os alemães devem se espantar com esta primavera”, divertia-se ele em maio de 1942. "Essas flores, esses chapéus femininos, esses pequenos carrinhos puxados por equipes de ciclistas, pela incrível graça da resistência do ar! Paris digeretudo e não assimila nada. Um espetáculo de profunda leveza.. .”11

Págs. 494-495

O próprio Cocteau tinha muito pelo que se sentir grato. Era o patrocínio alemão que o protegia dos extremistas franceses. Não particularmente interessado na política, ele demonstrou com que facilidade um espírito independente podia se dedicar às artes sob a ocupação alemã — na verdade, com sustento alemão. Com a aprovação dos censores, sua carreira no cinema durante a guerra decolou. Quando um artigo que o atacava apareceu numa revista de extrema direita, Cocteau observou que "todos os alemães riram do texto". À parte os ultras, a carreira de Cocteau tinha um lugar para quase todos, até mesmo o maréchal, cujo regime o atormentava. Em 1942, ele deu sua contribuição para uma luxuosa
obra de idolatria de Vichy, um livro de homenagem póstuma intitulado DeJeanne D ’Arc a Philippe Pétain [De Joana d'Arc a Philippe Pétain]. Com o subtítulo Quinhentos anos de história francesa, o livro suntuosamente ilustrado apareceu no momento certo para a visita do maréchal a Paris. A ocupação se aproximava do fim, mas Pétain ainda era popular e recebeu uma calorosa recepção. Como tema de guerra, Joana d'Arc era muito conveniente — dada a ambigüidade de suas associações — para a guerra particular de Cocteau: um símbolo de sentimento antibritânico, especialmente depois do desastre de Mers-el-Kebir. Quando o livro surgiu, em 1944, a própria Joana já tinha passado para o lado gaullista como um exemplo de resistência ao invasor. Cocteau não ficava muito atrás.13

Pág. 499-500

Essa continuidade foi de certa forma bastante inesperada. Afinal, Vichy não era um país dirigido por funcionários públicos, como a Bélgica e a Holanda: na França havia um governo legítimo, com um programa político claro de ruptura com o passado. Mas Pétain (como De Gaulle quatro anos mais tarde) tinha todas as razões para preservar a existência das instituições do Estado se quisesse governar com eficácia. Por isso os expurgos produziram menos mudanças do que se poderia esperar, e os extremistas de direita se queixaram amargamente: em 1944, Mareei Déat criticou a “comuna reacionária” da capital, alegando que seus membros eram profundamente attentistes, para não dizer gaullistas. Fossem ou não gaullistas, quase 80% dos prefeitos dos subúrbios de Paris durante a guerra eram republicanos antes do conflito. Quanto às zonas rurais, foram desestimuladas mudanças por motivos puramente políticos: os alemães também temiam o impacto sobre a eficiência e a continuidade. Na Aquitânia e em Charente, por exemplo, quase metade dos funcionários governamentais locais que tinham cargos em 1939 ainda estava presente quando a ocupação terminou.19

Assim, a promessa de Vichy de uma nova revolução autoritária mascarava a realidade de sua dependência do funcionalismo público civil. Naturalmente, os burocratas podiam — e o fizeram — servir como instrumentos de repressão, notadamente nas prisões em massa de judeus e de opositores políticos. Mas em geral não se mostravam propensos a aderir ao dinamismo revolucionário exigido pela extrema direita da França. O culto a Pétain escondia o vazio político no coração de seu governo, e sua recusa em permitir a formação de um único partido político ironicamente fez com que os funcionários franceses nunca se deparassem com algo semelhante à competição radical que os Gauleiters nazistas infligiram a seus pares alemães, ou que o nsb holandês usou — com muito menos sucesso — em seu esforço para assumir o controle do funcionalismo público civil na Holanda. Dessa forma, ter o conservador Pétain no poder protegeu a França do tipo de nazificação que ameaçava outros países, pelo menos até que fosse demasiado tarde na guerra para que fizesse muita diferença. Aumentando o controle sobre as províncias, criando um novo escalão de superprefeitos, impedindo que a maioria dos novos comissariados políticos especialmente formados tivesse grande influência, os altos funcionários franceses presidiram durante a guerra uma expansão da burocracia e uma consolidação do poder estatal que Wilhelm Stuckart, no Ministério do Interior do Reich, teria invejado. Os alemães podiam ter conquistado a França, mas o Estado francês sobreviveu mais ou menos intacto.

Pág. 510

A longevidade de tais figuras oferece uma pista para compreender a dinâmica da colaboração na França durante a guerra. Os franceses não foram um país de colaboradores, embora de início muitos tenham sido atraídos pela ideia. No começo o governo de Pétain foi popular porque parecia prometer o restabelecimento da ordem depois do caos da derrota. Os mais impacientes com ele eram da extrema direita, que desconfiavam que sua Revolução Nacional era na realidade uma restauração conservadora disfarçada, e não a ruptura fascista que almejavam com o passado. Mas no fim de 1941, no máximo — a crise dos reféns foi um ponto de inflexão, mas a crise do abastecimento alimentou o conflito —, o público francês tinha se afastado de Vichy. fA opinião geral parece ser muito desfavorável ao governo”, relatou o governador de Puy de Dome em outubro daquele ano. Cada vez mais afastada da opinião pública francesa, a administração permaneceu fiel aos ideais de colaboração e respondeu de forma positiva aos alemães mesmo quando estes aumentaram muito suas exigências. Enquanto isso, um grande número de seguidores de Pétain entrou para a resistência de uma forma ou outra, garantindo assim uma passagem sem sobressaltos para a Quarta República no pós-guerra. 33

Pág. 563

Se esse foi um exemplo para levar o Exército Nacional a aumentar suas ações, havia outros fora de Varsóvia, pois a atividade da resistência agora se alastrava pelos campos do centro da Polônia. Um ano depois de Hitler ter aprovado seu Plano Geral para o Leste, as prioridades de Himmler tinham mudado drasticamente. No verão de 1943, ele declarou todo o Governo-Geral como uma "zona de guerra partisan” (Bandenkampfgebiet). Instadas por ele a "queimar aldeias inteiras se necessário”, a ss e a polícia, reagiram com as costumeiras táticas de terror, deixando milhares de mortos. Porém, dentro da SS havia sérios desacordos, e Von dem Bach--Zelewski insistia em que "nenhum país pode ser governado apenas com o uso da polícia e das tropas”, e tentou forçar uma política mais astuta (semelhante a outras levadas a cabo nos Bálcãs), que explorasse o anticomunismo dos poloneses e os trouxesse para o lado alemão. A SS esperava poder apelar para o Exército Nacional, cujo comandante, "Grot”, tinha sido capturado por eles em junho; mas sua recusa em cooperar (o que levou à própria morte) significou que eles tinham de se conformar em trabalhar — nos bastidores, e de maneira intermitente — com as Forças Armadas da Polônia (NSZ), menos expressivas e de extrema direita.

Págs. 575-576

As repercussões foram imediatas e duradouras. A violência convenceu Stálin de que poloneses e ucranianos não podiam viver juntos, e Moscou começou a planejar uma série de mudanças forçadas de população entre 1944 e 1947. Na vizinha Galícia, os poloneses agora se voltavam contra os ucranianos por vingança, e o embrionário movimento partisan polonês foi inflado por refugiados de Volínia. Esse movimento depois se espalhou não apenas para o oeste na direção da Polônia Central, mas também para o norte em direção a Vilna e para outras regiões do leste da Polônia de antes da guerra onde os poloneses eram minoria e precisavam se defender. Ao mesmo tempo, o fracasso do Exército Nacional em Volínia encorajou muitos poloneses a preferir procurar os partisans soviéticos. Assim como os ucranianos, os poloneses estavam agora entre os russos e os alemães, e era difícil evitar certos acordos. Tanto os comandantes de extrema direita das n s z como do Exército Nacional negociaram acordos temporários com oficiais da ss alemã e da Wehrmacht para evitar a “ressovietização" da região. (Embora Himmler proibisse esses acordos, eles aconteciam de qualquer forma em pequena escala.) Porém, outros comandantes do Exército Nacional cooperaram com os partisans soviéticos, reconhecendo a futilidade de se opor a eles. Tanto os poloneses como os ucranianos tinham esperança de ver um mundo no qual eles conseguissem abrir um espaço próprio, independentemente dos dois poderes igualmente totalitários. Mas esse mundo precisaria de muito mais que alguns anos para se materializar.61

Págs. 643-644

Para deixar as coisas em perspectiva, pode ser útil lembrar como era a situação aos olhos dos pequenos grupos de nazistas que se recusaram a transigir. Depois da guerra, pequenos grupos marginais, geralmente efêmeros, atacaram tanto americanos como soviéticos e reciclaram ideias tiradas dos escritos de Hitler de trinta anos antes. Também reagiram violentamente contra os movimentos europeístas que se tornavam visíveis na Europa Ocidental do pós-guerra. Karl-Heinz Priester, um antigo oficial da SS que assumiu um papel ativo na extrema direita, apareceu na primeira reunião dos neofascistas europeus em Roma em 1950 e advertiu:
Quanto mais esses homens que dizem amém a tudo nos apressarem para converter não apenas nossa pátria materna, a Alemanha, mas também nossa pátria paterna, a Europa, numa colônia [...] mediante dispositivos como o Conselho da Europa e a “União Europeia” [...] mais depressa aumentará a determinação de todos os alemães honestos e independentes de nos acompanhar em nosso caminho do nacionalismo até a Nação Europa.30
Até mesmo nazistas como Priester poderiam ver que, na era das superpotências, a Alemanha não tinha poder para recuperar sua independência sem apoio regional. Assim, a Nação Europa era a alternativa dos extremistas para Bruxelas e Estrasburgo, uma espécie de versão em tempos de paz das Waffen-ss “europeias” de Himmler. Não obstante, tais homens consideravam a democracia parlamentarista uma falsa "democratura” (Demokratur), acreditavam que o sistema multipartidário tinha de ser abolido e queriam reunificar o país com a ajuda de fascistas estrangeiros que pensavam como eles. Ignorados pelos eleitores, brigavam constantemente entre si, acusando-se mutuamente de vender-se ou transigir na questão racial. Alguns fundaram no ano seguinte o movimento Nova Ordem Europeia para lutar contra o “bolchevismo mongoloide” e o “capitalismo negroide” em nome dos homens brancos. Outros pensaram em atrair nacionalistas
africanos e forjar uma nova Euráfrica, que permitiria à Europa recuperar sua posição no centro da cena mundial.31


Págs. 659-660

Essa postura implacável com certeza estava presente entre os ingleses. Na ocasião do levante da Jamaica de 1865, por exemplo, expressões de um novo autoritarismo racial surgiram na imprensa vitoriana. Segundo o editor da publicação médica The Lancet, pequenos grupos de homens brancos só poderiam se salvaguardar em colônias pelos métodos mais coercitivos; os nativos tinham de “ser mantidos sempre de cabeça baixa com um bastão de ferro ou ser lentamente exterminados". Essas ideias expressavam a possibilidade inerente na prática do próprio império e os britânicos estavam começando a perceber que o “poder dos números" estava contra eles. O tio de Virginia Woolf Fitzjames Stephen escreveu uma famosa carta ao The Times em 1883 afirmando que “um governo absoluto, fundado não no consentimento mas na conquista" — como o dos britânicos na índia —, representava uma “civilização beligerante” que não deveria “se evadir da afirmação aberta, descomprometida e direta de sua superioridade”. Mas essa não era a linha de raciocínio costumeira na Inglaterra, e sempre foi sujeita a críticas. Em última análise, essa foi a base do império de Hitler. Por mais brutais e mortíferos que tenham sido, nenhum poder colonial, britânico ou de outro país da Europa, jamais lidou com o problema do “poder dos números” de forma tão áspera e violenta quanto os nazistas. Sua abordagem em geral era gradualista e experimental, motivada por uma imaginação política restrita pelo extremismo da variedade de fatores do nazismo, que incluía uma cultura mais legalista e uma burocracia de Estado surpreendentemente desmotivada. Se faltavam a ideologia e os recursos para sistematizar a matança em massa na escala da Nova Ordem, faltava também um fundamental sentido de urgência. Depois de conseguirem sua revolução em casa, os nazistas tinham pressa de colher os benefícios no exterior. “Nós queríamos estabelecer um império mundial quatro anos depois de termos introduzido o alistamento militar geral”, foi o resumo de um oficial alemão capturado em 1943. À medida que a própria guerra criava racionamentos, gargalos e grandes problemas novos, o culto da força e da geopolítica racial que os nazistas levavam tão a sério transformou-se num programa de extermínio numa escala sem precedentes.28

|***| Nazismo de esquerda? (Ian Kershaw) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 03

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Franjo Tudjman, o ex-presidente croata antissemita e negador do Holocausto e Jasenovac

Tradução do texto "Holocaust Deniers at the U.S. State Department" (Negadores do Holocausto e o Departamento de Estado dos Estados Unidos) sobre as afirmações racistas e negacionistas de Franjo Tudjman, ex-presidente croata, negacionista do Holocausto, racista e antissemita.

Por Srdja Trifkovic
Terça-feira, 23 de março de 2010

O relatório de direitos humanos do Departamento de Estado dos EUA sobre a Croácia, lançado em 11 de março, afirma com certa naturalidade que Jasenovac foi "o local do maior campo de concentração da Croácia durante a Segunda Guerra Mundial, onde milhares de sérvios, judeus e ciganos foram assassinados" [grifo feito; uma cena diária de Jasenovac, acima] Esta afirmação notável é o equivalente moral e factual exato de se afirmar que "dezenas de milhares" de judeus e outros povos foram mortos em Auschwitz ou Treblinka ..

O número de vítimas de Jasenovac ainda é incerto. A estimativa mais baixa sem qualquer pretensão de seriedade metodológica - de dezenas de milhares de vítimas - foi feita pelo falecido presidente croata Franjo Tudjman, famoso por ter dito "Graças a Deus, minha esposa não é nem sérvia e nem judia." A "estimativa" de Tudjman em Jasenovac encaixa-se com suas outras avaliações:
"Em seu livro: Wastelands verdades históricas, publicado em 1988, o Sr. Tudjman escreveu que o número de judeus que morreram no Holocausto foi de 900.000 - não seis milhões. Ele afirmou também que não mais que 70 mil sérvios morreram nas mãos da Ustasha - a mairoria dos historiadores dizem que cerca de 400 mil foram assassinados"(The New York Times, 20 de agosto, 1995)
Outras fontes fornecem estimativas dezenas de vezes maior que as de Dr. Tudjman, e centenas de vezes maior do que o apresentado como fato pelo Departamento de Estado dos EUA:
"Jasenovac" - entrada feita por Menachem Shelach na Enciclopédia do Holocausto, Yad Vashem, 1990, págs. 739-740: "Cerca de seiscentas mil pessoas foram assassinadas em Jasenovac, na maioria sérvios, judeus, ciganos e opositores do regime Ustasha."

Segundo o site "The Holocaust Education & Archive Research Team"**: "estima-se que perto de 600 mil pessoas ... principalmente sérvios, judeus, ciganos, foram assassinados em Jasenovac."
Se já basta de fontes judaicas, vamos olhar para o que os aliados alemães contemporâneos do regime Ustasha tinha a dizer sobre o assunto (todas as citações são de "The Crônica de Krajina: Uma História dos sérvios na Croácia, Eslavônia e Dalmácia" ("THE KRAJINA CHRONICLE: A History of Serbs in Croatia, Slavonia and Dalmatia"). Segundo Hermann Neubacher, especialista político mais importante de Hitler para os Balcãs, em seu livro Sonderauftrag Südost 1940-1945. Bericht eines Fliegenden Diplomaten (Goettingen:. Muster-Schmidt-Verlag, 1957, pág. 18)
"A receita para o problema dos sérvios ortodoxos pelo líder e Führer da Croácia, Ante Pavelic, foi lembrar das guerras religiosas de memória mais sangrenta: um terço deve ser convertido ao catolicismo, outro terço deve ser expulso e o terço final deve ser liquidado. A última parte do programa foi conduzida." [ou seja, um terço de cerca de 1,9 milhões foi chacinado]
Num relatório para Himmler, o general da SS Ernst Frick estimou que "entre 600 e 700 mil vítimas foram massacradas à moda dos Balcãs". O General Lothar Rendulic, comandando forças alemãs nos Balcãs Ocidentais em 1943-1944, estimou o número de vítimas da Ustasha em cerca de 500.000. Em suas memórias Gekaempft, gesiegt, geschlagen (Welsermühl Verlag, Wels und Heidelberg, 1952, pág.161), ele recordou a memorável discussão csobre essa questão com um dignitário croata:
"Quando eu me opus a um alto funcionário que estava perto de Pavelic, apesar do ódio acumulado, não consegui compreender o assassinato de meio milhão ortodoxos, a resposta que recebi foi característica da mentalidade que prevalecia lá: Meio milhão, isso é muito - não havia lá mais que 200 mil!"
O Departamento de Estado dos EUA pode ter em sua posse novas e incontroversas provas que os pesquisadores do Yad Vashem tenham exagerado no número de vítimas em Jasenovac em uma centena ou mais, de que testemunhas alemães estavam erradas, que até mesmo o negador do Holocausto, o Presidente Tudjman, esteja errado, e que o número de vítimas seja certamente de alguns "milhares" em vez de dezenas ou centenas de milhares.

Se isso existe, o Departamento de Estado deveria tornar tal prova pública. Em caso contrário (de não existir), ele deveria fazer uma correção detalhada e um pedido de desculpas.

Fonte: The Lord Byron Foundation for Balkans Studies (site)
http://www.balkanstudies.org/blog/holocaust-deniers-us-state-department
Título original: Holocaust Deniers at the U.S. State Department
Tradução: Roberto Lucena
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Para ler sobre os números do Holocausto na Croácia, conferir o seguinte post (e clicar em seus links): A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 4 (Observação)

Todos os posts sobre a Ustasha nesta tag.

**Sobre o site "The Holocaust Education & Archive Research Team", favor conferir os posts do Holocaust Controversies sobre os problema deste site e da má conduta de seus atuais donos. Não foi possível cortar o trecho que cita o site do texto acima, senão eu teria cortado.

Como não sei se o R. Muehlenkamp gostaria de comentar o caso pois como é algo restrito a discussões em inglês (os que mantém o site são um britânico e um norte-americano), sendo que os donos são dois paspalhos usando vários trolls/fakes para atacar o pessoal do Holocaust Controversies com cyberbullying e stalking, acho que o link dos posts do HC comentando o caso sobre a má ação do site e dos mantenedores já é suficiente. Caso alguém tenha dificuldade em ler em inglês basta pôr o link no tradutor do Google que traduz boa parte pro português sem distorções idiomáticas.

Pra quem acha que os "revis" são o ápice do que há de pior na web, eis aí um exemplo do que gente supostamente "anti-"revi"" pode fazer por conta também de extremismo político, divergência de opinião e mau comportamento.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Holocausto (fotos) - Valas comuns e corpos (cadáveres) - Parte 2

Esta é a continuação do post com fotos das valas comuns e cadáveres no Holocausto, texto original do Holocausto Controversies. Abaixo vou reproduzir o texto do post que no post original coloca todas as fotos de uma só vez. Decidi repartir as fotos em três partes (cada uma com 100 fotos mais ou menos) pois considerei que 300 fotos em um único post poderia saturar de informação quem fosse ver, como também pelo problema do conteúdo chocante das fotos. Segue abaixo a reprodução do texto do post do Holocaust Controversies, a segunda parte das fotos.
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Os arquivos online do site Ghetto Fighters’ House (Casa dos Combatentes do Gueto) foram reconfigurados, quebrando os links de minha antiga coleção de fotos no fórum RODOH.

Portanto, eu reproduzirei essa coleção abaixo até o limite permitido dos meus registros. As legendas das fotos são as que copiei do GFH Archives quando montei esta coleção. Onde eu acho que há imprecisões nas legendas, isto é assinalado.

As imagens podem ser ampliadas clicando sobre elas. Não é necessário dizer que muitas destas fotos são chocantes, por isso se faz necessário advertir pessoas sensíveis sobre o que irão ver.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto e fotos: Roberto Muehlenkamp
Mass Graves and Dead Bodies
http://holocaustcontroversies.blogspot.de/2010/10/mass-graves-and-dead-bodies.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver: [Parte 1], [Parte 3]

Clique abaixo (canto esquerdo) em LER TODO O TEXTO para ver as fotos e o post inteiro.

Observação: o Roberto Muehlenkamp colocou esta série de fotos em um post único com mais de 300 fotos, eu dividirei o post em 3 pra que haja uma melhor visualização das fotos (muita gente prefere ver seção a seção do que todas de uma vez só). Também não cheguei a uma conclusão sobre se as fotos devem ficar expostas, como no post original do Holocaust Controversies, ou no formato de links pra clicar, por isso (na dúvida) mantenho o formato original do Holocaust Controversies. Irei traduzindo as legendas das fotos aos poucos.

sábado, 24 de março de 2012

Imagens de Jasenovac (Extremamente forte)

A Ustasha documentou muitos dos seus crimes em Jasenovac. Seus métodos de assassinato eram mais violentos que a maioria daqueles empregados pelos nazis, e eram tão sádicos contra os sérvios tanto quanto os judeus. Estas imagens são, portanto, muito gráficas. Perceba que Himmler recebeu relatórios daquelas atrocidades e que isto não foi escondido dos nazis. De fato, Hitler tinha dito a Pavelic que "um nacionalismo intolerante deve ser executado por cinquenta anos." Estes foram os resultados desta ideia:

Execução

Números

Decapitação, por Hacksaw

Cortando gargantas e o massacre de Brode (na presença de soldados alemães)

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2012/01/jasenovac-images-extremely-graphic.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena

Não deixe de ler as séries:
Genocídio no Estado Independente da Croácia, 1941-1945, partes [01], [02], [03]
Texto do historiador sérvio Dusan Batakovic

A Ustasha e o silêncio do Vaticano, partes [01], [02], [03]
Tradução do capítulo 5 do livro Biografia Não-Autorizada do Vaticano, de Santiago Camacho

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945 - Parte 3

Continuação do texto "O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945", do historiador Dušan T. Batakovic.

AS DEPORTAÇÕES

Dusan Batakovic
A Secretaria de Estado para a Renovação dirigiu a deportação de sérvios. Sua tarefa era acolher alguns dos eslovenos das regiões da Eslovênia que estavam sob ocupação alemã e realizar todas as formalidades necessárias para "remover a população estrangeira do território do Estado Independente Croata." (34) A deportação dos sérvios fi realizada com um plano particular e em várias ondas. De acordo com documentos alemães do final de Junho, havia, na Sérvia, cerca de 137.000 sérvios que fugiram ou foram expulsos do NDH, mas se estima que muitos deles, que não foram apresentado às autoridades sérvias, chegavam a 180.000. De acordo com dados disponíveis do Comissário para os Refugiados na Sérvia, o número já havia ultrapassado 200.000. (35)

Em entrevista ao jornal alemão Neue Ordnung, Pavelic declarou: "Quanto aos sérvios, houve confusão nas próprias noções. Não há muitos sérvios de verdade na Croácia: em grande parte, trata-se de croatas de religião sérvio-ortodoxa e Vlachs. Este problema será resolvido da melhor maneira, da qual uma será a mais apropriada. De acordo com as autoridades alemãs, 250.000 sérvios serão enviados para a Sérvia, enquanto os outros podem ficar aqui." (36) Nesta entrevista, Pavelic simplesmente repetiu a teoria favorita, mas impossível de se provar, e adiantada por Starcevic Ante, de que os sérvios ortodoxos na Croácia são, em sua origem, ou croatas ou Vlachs, pastores romenos em transumância nos Alpes Dináricos e que, ao longo dos séculos, teriam se tornado sérvios ao se converterem à religião ortodoxa. A fim de que a memória dos sérvios se desvanecesse, a Ustasha, no início de 1942, criou uma Igreja Ortodoxa Croata sob o comando de um monge emigrante russo chamado Germogen.

A emigração para a Sérvia não poderia ser implementada de acordo com planos de Pavelic por causa da oposição das autoridades alemãs na Sérvia. Até 25 de agosto de 1941, 13.343 sérvios foram 'legalmente' deportados para a Sérvia. Em 22 de setembro de 1941, os alemães disseram que a emigração deveria acabar e que não aceitaria que os sérvios ficassem em alguns determinados campos de concentração, cerca de 3.200 pessoas nos campos de Bjelovar, Slavonska Pozega e Camprag. No entanto, as deportações dos "ilegais" continuou, mesmo no coração dos meses que se seguiram. Para o transporte legal e ilegal, a Ustasha transferiram 118.000 sérvios para a Sérvia antes do final de 1941. (37)

A CONVERSÃO AO CATOLICISMO

O Alto Clero da Igreja Católica havia estabelecido a mais estreita cooperação com as autoridades Ustashis. No seu comando estava o Arcebispo de Zagreb, bispo Alojzije Stepinac, que saudou a criação do novo Estado e deu sua bênção a Ante Pavelic. A maioria dos Bispos Católicos (bispo Saric de Sarajevo, bispo Bonefacic de Split, bispo Pusic de Hvar, bispo Srebrenic de Krk, bispo Buric de Senj, bispo Aksamovic de Djakovo, bispo Garic de Banja Luka, bispo Mileta de Sibenik) têm trabalhado ativamente na propagação do regime Ustasha, e um número de padres e monges vestidos com uniformes ustashis, especialmente os franciscanos da Bósnia, não escondiam o seu envolvimento em crimes. (38)

A Secretaria de Estado para a Renovação - O "Setor religioso" planejou a conversão forçada de um milhão de sérvios ao catolicismo. As disposições legais da lei quanto à fé católica proibia conversões forçadas oficialmente, mas as pressões e temores de retaliação foram os principais 'motivos' de 'pedidos' para se juntar à nova religião. O frade franciscano Dionizije Jurcev, que liderou até novembro de 1941 as ações para a conversão ao catolicismo, disse em um discurso: "Neste país, ninguém além dos croatas pode viver, porque este país é croata e aqueles que não desejam se converter sabemos para onde enviá-los. (...) Hoje, não há pecado em matar até mesmo uma criança pequena de 7 anos, que por acaso dificulte nosso movimento Ustasha (...) Esqueça que eu uso hábitos de sarcedote; sei que posso, quando necessário, pegar uma arma e matar, desde o berço, tudo o que se oponha ao Estado e autoridades croatas." (39)

O ministro ustashi Mirko Puk enfatizou que o NDH "apoia a conversão dos Greco-Orientais para a religião católica, porque essa conversão é que os retorno à religião ancestral", e concluiu dizendo que quem não quer "por qualquer motivo, reconhecer esse fato histórico, deverá sair do território desse Estado." (40) Sempre que as conversões não eram bem sucedidas, prisões e massacres continuaram. Em fevereiro de 1942, as unidades Ustashis realizaram massacres na região de Banja Luka, matando cerca de 2.300 sérvios. E até mesmo ocorreram casos em que os sérvios se tornaram católicos foram levados para os campos. No final de maio de 1942, todos os sérvios de Bosanska Dubica foram levados para um campo de concentração, mesmo aqueles que haviam se convertido ao catolicismo. De acordo com dados disponíveis, cerca de 240.000 sérvios foram objetos de conversões forçadas entre 1941 e 1942. (41)

O governo Ustasha que foi enviado ao Vaticano, Dr. Rusinovic, num relatório datado de 09 de maio de 1942 "fez saber a Zagreb que a Santa Sé estava de posse de pelo menos oito mil fotografias dos massacres de sérvios ortodoxos". O Cardeal francês Eugene Tisserant "indignou-se contra o desaparecimento de 'trezentos e cinquenta mil sérvios' e o comportamento lamentável dos franciscanos da Bósnia-Herzegovina." (42)

O NÚMERO DE VÍTIMAS

Até o momento não temos como determinar com precisão o número definitivo de sérvios que foram vítimas de terror da Ustasha no Estado Independente da Croácia, porque não foram sistematicamente realizadas pesquisas em todos os lugares onde os crimes foram cometidos. As estimativas variam entre 300.000 e 700.000. Se o montante de 35.000 judeus e 25.000 ciganos não é contestado, o número de vítimas sérvias durante várias décadas é tema da manipulação política, porque a redução do tamanho do Holocausto sérvio tende a ser completamente negado ou minimizado para colocá-lo na vingança que foi feita sobre os muçulmanos no leste da Bósnia e do massacre dos Ustashis capturados no final da guerra. Robert Fisk recentemente salientou que a limpeza étnica dos sérvios na Bósnia era de dimensões colossais, e que ele, pessoalmente, teve a oportunidade de ler arquivos em Banja Luka de dezenas de milhares de registros originais da Ustasha. (43)

NOTAS

(34) B. Krizman, op. cit., p. 127.

(35) F. Jelic-Butic, op. cit. p. 172.

(36) Neue Ordnung, Berlin, 24. août 1941.

(37) F. Jelic-Butic, op. cit., pp. 170-171; B. Krizman, op. cit., p. 127.

(38) V. Novak, op. cit., pp. 450-700; F. Jelic-Butic, op. cit., pp. 214-221.

(39) V. Novak, op. cit., p. 627.

(40) F. Jelic-Butic, op. cit., p. 175. Cf. Dokumenti o protunarodnom radu i zlocinima jednog dijela katolickog klera, Zagreb 1946, passim; La nouvelle documentation: Dragoljub R. Zivojinovic-Dejan Lucic, Varvarstvo u ime Hristovo. Prilozi za Magnum Crimen, Beograd 1988, passim.

(41) F. Jelic-Butic, op. cit., p. 175. Cf. Sima Simic, Prekrstavanje Srba u Drugom svetskom ratu, Titograd 1958, passim.

(42) X. de Montclos, op. cit., p. 178.

(43) Robert Fisk, 'Cleansing Bosnia at the Camp called Jasenovac', The Independent, August 15, 1992. Cf. Richard West, 'Convert a third, kill a third', The Guardian, August 20,1992.

Uma versão curta deste artigo foi publicado em: Hérodote, N° 67, Paris 1992, pp. 70-80.

Dusan T. Batakovic
E-mail: dtbatak@eunet.yu
Copyright © 1997 Dusan T. Batakovic

Fonte: Site do historiador Dusan T. Batakovic
Texto original: Le génocide dans l'état indépendant croate 1941-1945
Tradução: Roberto Lucena

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Ler também:
Ustasha (Blog avidanofront)
Ustasha (Blog holocausto-doc)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945 - Parte 2

Continuação do texto "O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945", do historiador Dušan T. Batakovic.

OS MASSACRES

Dusan Batakovic
O historiador croata Fikreta Jelic-Butic reconstituiu, com base em materiais autênticos da Ustasha, a cronologia das perseguições de sérvios durante os primeiros meses após o estabelecimento do Estado Independente da Croácia: "Além de prisão um número crescente de sérvios em campos, rapidamente começaram os assassinatos em massa, massacres estes também realizados em vários locais. Na aldeia de Gudovac, perto Bjelovar, os utashis fuzilaram cerca de 184 camponeses sérvios entre 27 e 28 de Abril. Em Blagaj, na região de Kordun, após chamar os sérvios de Veljun e comunidades vizinhas para serem agrupados, os ustashis mataram cerca de 250 agricultores que responderam ao chamado do agrupamento. Poucos dias depois, em 11 e 12 de maio, cerca de 300 sérvios foram massacrados em Glina. No mês de junho, outros massacres ainda maiores ocorreram na Herzegovina. Nos subúrbios de Ljubinje, os ustashis iniciaram em 2 de junho um massacre em massa em que cerca de 140 camponeses sérvios foram mortos. Três dias depois, os ustashis haviam assassinado cerca de 180 agricultores da aldeia de Korita, perto Gacko. Então, em 23 de junho, quase sempre perto de Ljubinje, 160 homens foram mortos e em três aldeias próximas a Gacko, cerca de 80 homens, mulheres e crianças foram mortos. Dois dias depois, em algumas aldeias do distrito de Stolac, 260 homens foram abatidos. Em 30 de junho, em Ljubusko, cerca de 90 sérvios trazidos de Capljina foram mortos. Em junho, houve o massacre dos sérvios no território da Dalmácia do Norte. A matança começou com a prisão em massa de sérvios nos distritos de Drnis e Knin. Em primeiro lugar, cerca de 60 agricultores sérvios foram capturados em três aldeias: eles foram trancados na fortaleza de Knin e, em seguida, foram abatidos. Um grupo de cerca de 50 sérvios foram massacrados na estrada de Knin-Gračac. Na noite de 19 a 20 de junho, os ustashis prenderam 76 sérvios de Knin e Kninsko Polje foi morto em Promina. Em algumas aldeias das comunidades de Vrlika, Drnis e Promina, quase 250 camponeses sérvios foram mortos, incluindo muitas mulheres e crianças. Em quatro aldeias ao redor de Knin, 70 sérvios foram mortos antes de 12 de Julho. Na aldeia de Prosoj, perto de Sinj, cerca de 90 pessoas foram presas e depois mortas. (17)

Os assassinatos em massa continuaram ao longo dos meses seguintes: Em Julho - segundo F.Jelic-Butic - uma série de massacres organizados ocorreram, com pico no final do mês. Este é o momento da insurreição armada do povo na Croácia como também na Bósnia e Herzegovina. Em 01 de julho, na aldeia de Suvaj perto de Gracac, cerca de 300 homens, mulheres e crianças foram mortos. Na aldeia de Grahovac, perto de Petrinja, a Ustasha matou cerca de 1.200 pessoas de 24 a 25 de julho.De 20 a 27 de julho, em Prijeboj e arredores, várias centenas de homens foram mortos. Na noite de 27 para 28, em Primislje, cerca de 80 homens foram presos; eles seriam massacrados depois em Slunj. No dia seguinte, em 28 de julho, a Ustasha matou cerca de 180 sérvios perto de Vojnic. Nesse mesmo dia, cerca de 50 homens e mulheres da aldeia de Polace, perto de Knin, foram massacrados. No dia seguinte, no dia 29 de julho, ocorreu o grande massacre de centenas de sérvios na igreja Glina. Segundo fontes, no final de julho, cerca de 2.000 sérvios foram mortos em Glina. E, simultaneamente, ocorreu o massacre de cerca de 500 sérvios de Gracac e áreas circunvizinhas. Os maiores massacres em território da Bósnia ocorreram no final de julho nas regiões ocidentais. Acredita-se que nestes dias, nos distritos de Bihac, Bosanska Krupa e Cazin cerca de 20.000 sérvios foram mortos, e cerca de 6.000 no Distrito de Sanski Most e também 6000 nos distritos de Prijedor e Brod Bosanski, no entanto, a Ustasha ainda matou cerca de 250 pessoas nas aldeias sérvias de Duvno. A partir de 29 de julho começaram as matanças em massa na região de Livno, que ao longo dos próximos meses, implicaram na morte de mais de 1.000 sérvios." (18) Em Prebilovci e Surmanci, na Herzegovina, 559 sérvios foram mortos, exclusivamente velhos, mulheres e crianças. Eles foram levados para o abismo chamado Golubinka onde foram massacrados e jogados no abismo. Os massacres não pouparam nem mesmo a região de Srem. Após os massacres de 1941, em Ruma, dia 12 de agosto de 1942, 60 pessoas foram mortas e 140 sérvios foram mortos, em 25 de agosto, em Vukovar (19).

As dimensões deste massacre golpeou com espanto os representantes da Itália e da Alemanha no NDH. Em 28 de junho, Glaise von Horstenau informou que "de acordo com relatórios confiáveis ​​de um grande número de alemães observadores civis e militares, durante os últimos nas cidades e no campo, os ustashis se tornaram totalmente insanos." (20) No início de julho, o general von Horstenau assinalou com espanto que "os croatas expulsaram de Zagreb todos os intelectuais sérvios". Em 10 de julho, ele falou do "tratamento absolutamente desumano o qual são submetidos os sérvios que vivem na Croácia", referindo-se ao embaraço dos alemães "com seis batalhões de infantaria" que não podiam fazer nada a não ser observar "a fúria cega e sangrenta dos ustashis". (21)

O Coronel italiano Umberto Salvatore escreveu em 1 de Agosto de 1941 que "Gračac lembrava o Inferno de Dante, tiros foram disparados, mulheres e crianças gritando, e em toda parte os homens arrogantes e provocadores. com rostos dos carrascos, vestindo o uniforme da Ustasha". (22). Em informações detalhadas fornecidas pelas autoridades militares italianas em 1941 atestavam o grande número de vítimas. Em um memorando intitulado "Documentação das ações brutais e ilegais cometidas pela Ustasha contra a população iugoslava", falamos de 141 casos de assassinato em massa com lista muito precisa de 46.286 pessoas mortas, enquanto toda a documentação de abril-agosto de 1941 indica que o número de vítimas - a maioria sérvios, era superior a 80.000. (23)

OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO

A partir do verão de 1941, os campos de trânsito que foram estabelecidas seguindo o modelo nazista, rapidamente se tornaram campos de concentração. Os maiores dos 'campos da morte' eram o de Jasenovac, Jadovno (perto de Gospic), Stara Gradiska e o de Jastrebarsko. Fikreta Jelic-Butic relatou que dos campos "os principais e maiores no NDH eram o de Jasenovac e o de Stara Gradiska. O campo de Jasenovac surgiu no verão de 1941, quando os utashis começaram a trazer grupos de sérvios e judeus (Campo Nº 1). A chegada de outros presos levou à expansão do campo (Campo nº II). e de novembro de 1941 o campo continuou a ser expandido (Campo Nº III e Campo nº IV)." (24)

F.Jelic-Butic lembrou que foi no campo de Jasenovac, instalado na confluência do rio Una e do Rio Sava "que o maior número de seres humanos foram mortos no NDH - várias centenas de milhares de pessoas. De acordo com dados da Comissão Nacional da Croácia para levantamento dos crimes dos ocupantes e de seus colaboradores, calcula-se que este número é de cerca de 500 a 600.000 pessoas. As pesquisas em cemitérios que são feitas na área do memorial de Jasenovac estabeleceu que em terras distantes examinadas, numa área de 57.000 metros quadrados, mais de 360.000 prisioneiros foram executados e depois enterrados. Os dados correspondentes estão contidas no folheto de Jasenovac e em "Os campos de Jasenovac" (Jasenovac 1974) escrito por R . Trivuncic, o autor conclui: "Com base em marcas na superfície e em testemunhos de prisioneiros que sobreviveram, o número de 700.000 prisioneiros executados é bem realista" (25)

De acordo com dados fornecidos por Edmond Paris, cerca de 200.000 homens foram mortos em Jasenovac entre 1941-1942. Somente em 1942 sozinho, cerca de 12.000 crianças das 24.000 enviadas para Jasenovac foram mortas: "Multidões inteiras de crianças judias foram queimadas vivas nos fornos de tijolo do antigo transformado em crematório." (26). Vjekoslav Luburic, responsável pelos campos de concentração, declarou em Jasenovac no dia 9 de outubro de 1942, em uma recepção das mais altas autoridades do Estado Independente da Croácia: "Assim, durante este ano, em Jasenovac, mataram mais homens do que o Império Otomano fez durante a presença dos turcos na Europa." (27)

Segundo a pesquisa de F.Jelic-Butic, quando o campo de concentração Jadovno foi fechado em agosto de 1941, o número de mortes, em sua grande maioria de sérvios e judeus, era de 35.000. Um grande número de mulheres sérvias e cerca de 1.300 mulheres judias e seus filhos foram transferidos do campo de Lobograd para o campo de Auschwitz, antes do campo de Lobograd ser fechado em 1942. No campo de Stara Gradiska, procedeu-se "especificamente o massacre de mulheres e crianças." (28) Quase 4.500 sérvios e 2.400 judeus foram internados no campo de concentração na ilha de Pag. Na véspera da entrega daquela ilha para os italianos, os utashis massacraram cerca de 4.500 detentos. (29) No campo de concentração de Jastrebarsko, os ustashis levaram em 1942 cerca de 1.200 crianças de regiões de Banija e Kordun (norte de Krajina). Estes jovens internados foram tratados com extrema brutalidade. 486 crianças rapidamente sucumbiram à fome e apenas algumas delas escaparam do extermínio. (30)

Num relatório enviado em 20 de Fevereiro de 1942 à Berlim, Glaise von Horstenau dizia que as estimativas quando ao número de sérvios mortos no NDH oscilava entre 200.000 e 700.000 e que ele mesmo considera que o número de 300.000 era a mais correta. Os membros do governo croata argumentaram que antes do início de 1942, cerca de 250.000 croatas e 200.000 sérvios morreram, mas o General von Horstenau concluiu que o primeiro número era demasiado elevado e o segundo demasiado baixo. (31)

Os assassinatos em massa continuaram nos anos seguintes. Uma dos maiores deles foi realizado em Kozara, no noroeste da Bósnia, onde, numa ação combinada da Ustasha e de dezenas de forças alemães, milhares de sérvios foram mortos, incluindo um grande número de das crianças. (32)

Os dignitários e os clérigos da Igreja Ortodoxa Sérvia foram um alvo preferencial de ataques da Ustasha. O território do Estado Independente da Croácia tinha 9 bispados sérvios, 1.100 igrejas, 31 monastérios, 800 sacerdotes e 160 monges. Três dos principais bispos, o bispo Platon Jovanovic de Banja Luka, o bispo Petar Zimonjic de Sarajevo, o metropolitano da Bósnia e o bispo de Karlovac, Sava Trlajic, foram assassinados brutalmente e o Arcebispo Metropolitano de Zagreb, Monsenhor Dositej, foi deportado para Belgrado depois de ter sido torturado. No NDH cerca de 300 sacerdotes foram mortos, no entanto, muitos foram deportados para a Sérvia. Na diocese de Karlovac, 175 igrejas foram queimadas, destruídas ou fortemente danificadas. De um total de 189, apenas 14 igrejas permaneceram intactas. No bispado de Pakrac, de um total de 99 igrejas, 53 foram queimadas e 22 danificadas. Na Diocese da Dalmácia, 18 igrejas foram demolidas e 55 danificadas de um total de 109. Segundo a informação recebida, até o início de 1945, pelo Patriarcado em Belgrado, 7 igrejas foram destruídas e 6 outras foram muito danificadas de um total de 12, que incluia a diocese de Bosanska Dubica do bispo Banja Luka. Na diocese de Dubica, o número total de residentes sérvios caiu de 32.687 para 13.286. Em todo o território do NDH, em todo os cinco anos de poder da Ustasha, cerca de 400 igrejas sérvias e mosteiros foram demolidos, no entanto, um grande número deles, danificados, serviram como estábulos, armazéns, frigoríficos de gado ou banheiros abertos ao público. Em Jasenovac, antes de ser completamente destruído, a igreja ortodoxa local serviu como um estábulo. A destruição sistemática não poupou nem mesmo os cemitérios ortodoxos. Entre os locais de sepultamento muitos foram saqueados, aqueles que foram especialmente danificados, ou mais exatamente, demolidos, os locais foram arados: por exemplo, cemitérios perto de Banja Luka, nos cantões de Cajnice, Brcko, Travnik, Mostar, Ljubinje, Slavonski Brod, Borovo, Tenja e muitos outros. (33)

NOTAS

(17) F. Jelic-Butic, op.cit., p. 166.

(18) Ibid., p. 167. Uma documentação similar com uma lista detalhada das perseguições: E.Paris, op.cit., 59-60, 80-87, 104-107. Sobre os crimes da Ustasha na Herzegovina cf. Savo Skoko, Pokolji hercegovackih Srba 1941, Belgrado 1991. Um testemunho direto sobre os crimes ustashis é apresentado por Jean Hussard, em "Vu en Yougoslavie 1939-1944", Lausanne 1944.

(19) E.Paris, op. cit., pp. 103, 127.

(20) Johnatan Steinberg, All or Nothing. The Axis and the Holocaust 1941-1945, Ruthledge, London and New York 1990, pp. 29-30.

(21) Ibid., p. 30.

(22) Ibid., p. 38.

(23) Stato Maggiore Generale, Ufficio informazioni, Doc. Nos 00001-00129. Cf. la traduction serbe des documents: L. Malikovic (ed.), Krvavi bilans Nezavisne Hrvatske. Iz tajnih dokumenata italijanske armije, Revija 92, Beograd 1991, pp. 1-55.

(24) F. Jelic-Butic, op. cit., p. 186.

(25) Ibid., p. 187, note 214.

(26) E.Paris, op. cit., pp. 132-133.

(27) Ibid.

(28) F.Jelic-Butic, op. cit., pp. 186-187.

(29) E.Paris, op. cit., p. 129.

(30) Ibid., p. 130.

(31) Antun Miletic, Koncentracioni logor Jasenovac, Beograd 1986, vol. I, p. 161.

(32) Dragoje Lukic, Rat i djeca Kozare, Beograd 1990, 394 p. avec la liste des 11.196 enfants que les oustachis ont tués pendant la période 1941-1945.

(33) Dragoslav Stranjakovic, Najveci zlocini sadasnjice. Patnje i stradanje srpskog naroda u Nezavisnoj drzavi Hrvatskoj, Decje Novine - Jedinstvo, Gornji Milanovac et Pristina, 1991, pp. 127-185.

Fonte: Site do historiador Dusan T. Batakovic
Texto original: Le génocide dans l'état indépendant croate 1941-1945
Tradução: Roberto Lucena

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Ler também:
Ustasha (Blog avidanofront)
Ustasha (Blog holocausto-doc)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Croácia relembra as vítimas do "Auschwitz croata"

(Belga) Os dirigentes croatas estiveram presentes no domingo que marcou o 66º aniversário do desmantelamento do campo de concentração de Jasenovac, por vezes chamado de "Auschwitz croata", implementado pelo regime pró-nazi croata durante a Segunda Guerra Mundial, informou a televisão estatal.

"Nunca devemos esquecer que Jasenovac foi o local dos crimes mais terríveis" cometidos durante a Segunda Guerra Mundial, declarou o presidente croata Ivo Josipovic durante a cereminônia realizada no local do antigo campo, situado a 110 km ao sudeste de Zagreb. "Enviamos uma mensagem de paz aqui. Todos nós queremos que coisas como as que ocorreram em Jasenovac não ocorram nunca mais", disse M. Josipovic. Várias centenas de pessoas, incluindo ex-prisioneiros do campo, membros das famílias das vítimas e representantes diplomáticos assistiram a cerimônia.

O campo de concentração de Jasenovac foi um dos cerca de 80 campos criados pelo regime pró-nazi croata. Os historiadores não conseguiram chegar a um consenso sobre o número de vítimas que pereceram no campo, sobretudo sérvios, mas também judeus, ciganos e croatas antifascistas. As estimativas variam de 80.000, segundo o museu de Jasenovac, a 700.000 vítimas. O Museu Memorial do Holocausto em Washington avalia algo em torno de 100.000 vítimas. (DGO)

Fonte: Belga (17.04.2011)
http://levif.rnews.be/fr/news/belga-generique/la-croatie-commemore-les-victimes-de-l-auschwitz-croate/article-1194991891505.htm
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 2

In English: The Ustasha and Vatican's Silence - Part 2
Ler antes o texto observação, sobre os erros desta série:
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 4 (Observação)

Os crimes dos ustashi croatas (NDH)

OS FRADES ASSASSINOS

Genocídio: soldados ustashi posam
ao lado de cinco sérvios mortos.
O mais escandaloso de todo este sórdido assunto é que não poucos sacerdotes e, sobretudo, freis franciscanos, estiveram no comando destes campos da morte.

Com poucas exceções aqui e ali, o fenômeno aqui descrito era característico dos massacres ustashi. A diferença dos extermínios em outros países durante a Segunda Guerra Mundial, é de que era quase impossível imaginar uma expedição punitiva ustashi sem a presença de um sacerdote no comando, tratando-se geralmente de um franciscano.17

17. Ibid.

O mais conhecido deles foi o frei franciscano Miroslav Filipovic, que dirigiu o campo de Jasenovac, onde se deu uma morte atroz a milhares de pessoas. Outro franciscano daquele campo, Pero Brzica, ostenta um recorde ainda mais macabro se é que é possível.

Ante à chegada de novos prisioneiros, ficou evidente a necessidade de assassinar aos já existentes para dar lugar aos recém chegados. O pessoal do campo se mostrou entusiasmado ante esta perspectiva:

O franciscano Pero Brzica, Ante Zrinusic, Sipka e eu apostamos para ver quem mataria mais prisioneiros em uma só noite. A matança começou e depois de uma hora eu matei muitos mais que eles. Sentia-me no sétimo céu. Nunca havia sentido tal éxtasis em minha vida. Depois de um par de horas havia conseguido matar a 1.100 pessoas, enquanto os outros só puderam assassinar entre 300 e 400 cada um. E depois, quando estava experimentando meu mais grandioso prazer, notei um velho campesino parado me olhando com tranquilidade enquanto matava minhas vítimas e elas morriam com o maior sofrimento.

Essa olhada me impactou; de imediato me congelei e por um tempo não pude me mover. Depois me aproximei dele e descobri que ele era do povoado de Klepci, próximo de Capijina, e que sua família havia sido assassinada, sendo enviado a Jasenovac depois de javer trabalhado no bosque. Falava-me com uma incompriensível incomprensible paz que me afetava mais que os desgarradores gritos que se sucediam ao meu redor. De imediato senti a necessidade de destruir sua paz mediante a tortura e assim, mediante seu sofrimento, poder restaurar meu estado de êxtase éxtasis para poder continuar com o prazer de infligir dor.

Apontei-lhe e lhe fiz sentar comigo num tronco. Ordenei-lhe a gritar: «Viva Poglavnik Pavelic!», ou te corto uma orelha. Vukasin não falou. Arrenquei-lhe uma orelha. Não disse uma uma palavra. Disse a ele outra vez que gritasse: «Viva Pavelic!» ou te arranco a outra orelha. Então a arranquei. Grite: «Viva Pavelic!», ou te corto o nariz, e quando lhe ordenei pela quarta vez gritar «Viva Pavelic!» e lhe ameacei arrancar o coração com meu cuchillo, olhou-me e em sua dor e agonia me disse:

«Faça seu trabalho, criatura!». Essas palavras me confundiram, congelou-me, e lhe arranquei os olhos, logo o coração, cortei-lhe a garganta de orelha a orelha e a joguei no poço. Mas algo se rompeu dentro de mim e não pude matar mais durante toda essa noite.

O franciscano Pero Brzica me ganhou a aposta, havia matado a 1.350 prisioneiros. Eu paguei sem dizer uma palavra.18
18. Bulajic, Milán, The Role of the Vanean in the Break-Up of the Yugoslav State: The Mission of the Vatican in the Independent State of Croatia: Ustashi Crímes of Genocide (Documents, facts), op. cit.

Por esta façanha o franciscano recebeu o título de «rei dos cortadores de gargantas» e um relógio de outro, possivelmente roubado de um prisioneiro antes de executá-lo.

CONVERTER-SE OU MORRER

A barbárie, longe de decrescer, aumentou e chegou a um ponto em que nem sequer a formalidade dos campos de extermínio foi considerada necessária. Povoados inteiros foram assaltados e seus habitantes passados a faca, quando não assassinados com martelos e machados, enforcados ou inclusive crucificados. Os sérvios sofreram as torturas mais atrozes que se enchiam com especial sanha os sacerdotes ortodoxos, muitos dos quais foram queimados, esfolados ou esquartejados vivos:

As execuções em massa eram comuns, as vítimas, degoladas e às vezes despedaçadas. Em muitas ocasiões era comum ver pedaços de carne penduradas em matadouros com um cartaz que dizia «carne humana». Os crimes dos alemães em campos de extermínio pareciam pequenos comparados com as atrocidades cometidas pelos católicos. Os ustashi adoravam os jogos de tortura que se convertiam em orgias noturnas, e que incluíam cravar pregos ao vermelho vivo debaixo das unhas, pôr sal nas feridas abertas, cortar todas as partes humanas concebíveis e competir pelo título de quem era o melhor degolador de suas vítimas. Queimaram igrejas ortodoxas cheias de gente, empalaram crianças en Vlasenika e Kladany, cortaram narizes, orelhas e arrancaram olhos. Os italianos fotografariam a um ustashi que tinha duas correntes de línguas e olhos ao redor do pescoço.19

Todas as propiedades da Igreja ortodoxa foram saqueadas e confiscadas. A maior parte desta pilhagem foi transferida para a Igreja católica croata, que seguia encatada com o regime. O arcebispo de Sarajevo, Saric, chegou ao extremo de publicar uma poesia enaltecendo o líder dos ustashi:

Contra os avarentos judeus com todo seu dinheiro, os que queriam vender nossas almas, atraiçoar nossos nomes, esses miseráveis.

Você é a rocha onde se edifica a pátria e a liberdade. Proteja nossas vidas do inferno, marxista e bolchevique.

Outra pilhagem, neste caso espiritual e econômica ao mesmo tempo, que recebeu a Igreja Católica foi a conversão forçada de milhares de sérvios, que, a ponta de faca, foram obrigados a renegar sua religião. Estas conversões em massa foram classificadas de grande triunfo para o catolicismo por parte da hierarquia eclesiástica.20 Por que esta pilhagem de almas era também econômica? Porque para adicionava iniquidade à infâmia, estas conversões se realizavam sob prévio pagamento de 180 dinares à Igreja por parte do converso.

19. Deschner, Kariheinz, Mit Gott una den Faschisten, Günther Verlag, Stuttgart, 1965.

20. Djilas, Aleksa, The Contested Country: Yugoslav Unity and Communist Revolution, 1919-1953, Harvard University Press, Cambridge, 1991.

Além disso, aqueles que sabiam escreve deviam enviar uma carta de agradecimento ao arcebispo Stepinac, que informava pontualmente ao Papa da boa marcha das conversões. Em qualquer caso, os únicos que tinham a opção de salvar a vida mediante conversão eram os campesinos pobres e incultos das zonas rurais. Todo sérvio educado, com capacidade de conversar ou transmitir algo parecido a uma identidade nacional sérvia era assassinado sem possibilidade de salvação.

VISITANTE APOSTÓLICO

Em 14 de maio de 1941, os sérvios da localidade de Glina foram concentrados num salão de atos por um bando ustashi comandados pelo abade do monastério de Gunic. Na continuação, ordenou-se que mostrassem seus certificados de conversão. Só dois deles dispunham do documento. O resto foi degolados enquanto o abade rezava por suas almas.

Entre a venda de certificados de conversão e o saqueio dos tesouros guardados nas igrejas ortodoxas, não resulta em exagero dizer que se houve alguém que obteve benefício econômico do genocídio cometido pelos coatras foi, precisamente, a Igreja Católica. Em contrapartida, durante toda a guerra, a Igreja católica apoiou oficialmente o regime, apesar de seus desmandos e loucuras serem públicos e notórios.

O Vaticano não podia alegar desconhecimento destes graves acontecimentos. Em 17 de março de 1942, o Congresso judaico mundial enviou à Santa Sé uma nota de auxílio, uma cópia da qual ainda se conserva em Jerusalém.

Várias milhares de famílias foram deportadas para ilhas desertas na Costa Dálmata ou internadas em campos de concentração [...]. Todos os homens judeus foram enviados a campos de trabalho onde lhes foram dados trabalhos de drenagem ou saneamento durante os quais pereceram em grande número [...]. Ao mesmo tempo, suas esposas e filhos foram transladados a outros campos onde igualmente tiveram que afrontar graves privações.

Monsenhor Giuseppe Ramiro Marcone, um beneditino da congregação de Monte Vergine e membro da academia romena de São Tomás de Aquino, era o representante pessoal do Papa no episcopado da Croácia, e mantinha o Santo Padre a par de tudo que ali sucedia. Os defensores do Vaticano alegam que Marcone era um simples «visitante apostólico». Contudo, para o Ministério de Assuntos Exteriores em Zagreb, o padre Marcene tinha status de «delegado da Santa Sé», e nas cerimônias oficiais lhe colocava a frente, inclusive, dos representantes do Eixo, sendo considerado decano do corpo diplomático. Além disso, Marcone, em sua correspondência com o governo ustashi, qualificava-se a si mesmo como Sancti seáis legatus ou Elegatus, mas nunca como «visitante apostólico».

Os meios de comunicação também faziam eco desta situação. Em 16 de fevereiro de 1942, a BBC emitia o seguinte informe sobre a Croácia:

As piores atrocidades estão sendo cometidas ao redor do arcebispo de Zagreb. O sangue de irmãos corre em rios. Os ortodoxos estão sendo obrigados a força a se converterem ao catolicismo e não escutamos a voz do arcebispo se pronunciando à rebelião. Em lugar disso, informa-se de que está tomando parte em desfiles nazis e fascistas.

Nem sequer quando a imprensa internacional começou a informar amplamente sobre as barbaridades cometidas por clérigos católicos, o Papa fez algo para deter os sanguinários franciscanos. A própria imprensa católica croata refletiu em suas páginas a perseguição, tratando-a como se fosse a coisa mais normal do mundo. Em 25 de maio de 1941, em Katolicki List, o sacerdote Franjo Kralik publicou uma reportagem entitulada «Por que os judeus estão sendo perseguidos», no que justificava o genocídio da seguinte forma:

Os descendentes daqueles que odiaram a Jesus, que o condenaram a morte, que o crucificaram e imediatamente perseguiram a seus discípulos, são culpados de excessos maiores que os seus antepassados. A cobiça cresce. Os judeus que conduziram a Europa e ao mundo inteiro ao desastre — moral, cultural e econômico — desenvolveram um apetite que somente o mundo em sua totalidade pode satisfazer. Satanás lhes ajudou a inventar o socialismo e o comunismo. O amor tem seus limites. O movimento para libertar o mundo dos judeus é um movimento para o renascimento da dignidade humana. O Todopoderoso e Sábio Deus está por trás deste movimento.
O FIM DE STEPINAC

Quando se viu com claridade que o curso da guerra ia a ser contrário ao Eixo, Stepinac realizou alguns atos de «repentino humanitarismo», atos nos quais se basearam os revisionistas croatas para pedir ao Yad Vashem israelense, a Autoridade Nacional para a Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto, a inclusão de Stepinac em sua «Lista dos Justos». A petição foi negada em duas ocasiões. Um representante da instituição declarou em respeito a isto que «pessoas que, ocasionalmente, ajudaram a um judeu e colaboraram simultaneamente com um regime fascista que foi parte do plano de extermínio nazi contra os judeus ficam desqualificadas para o título de "Justo"».

Os contatos dos ustashi com o Vaticano não terminaram com o final da Segunda Guerra Mundial. Em 25 de junho de 1945, tão só sete semanas depois de concluído o conflito, os ustashi contataram com uma missão papal em Saizburgo, na zona da Áustria que estava sob a administração estadunidense. Pediam ao Papa sua ajuda para a criação de um Estado croata, ou, ao menos, uma união danúbio-adriática na qual os croatas pudessem se estabelecer.21 A própia Igreja escondeu e ajudou Ante Pavelic a fugir — burlando as autoridades aliadas —, que conseguiu escapar para a Argentina.22 Em seu leito de morte, e sob a proteção de Franco, recebeu a bênção pessoal do Papa João XXIII. João Paulo II recusou visitar em reiteradas ocasiões os campos de concentração de Jasenovac em suas visitas à Croácia, preferindo receber o ex-líder croata e negador do Holocausto Franjo Tudjman.

Finalmente, um dos fatores que mais chama a atenção desta história é que, ao terminar a guerra, o Vaticano não fez nada para socorrer Stepinac, circunstância que conhecemos por uma carta do marechal Tito fechada em Zagreb em 31 de outubro de 1946:

Quando o representante do Papa ante nosso governo, o bispo Hurley, fez-me sua primeira visita, expus-lhe a a questão de Stepinac. «Levêm-no da Iugoslávia», disse-lhe, «porque de outra forma nos obrigarão a pô-lo na prisão». Adverti o bispo Hurley das ações que teríamos que seguir. Discuti o assunto detalhadamente com ele. Fiz-lhe saber dos muitos atos hostis de Stepinac contra nosso país. Dei-lhe um arquivo com toda classe de provas documentais dos crimes do arcebispo.
21. Aarons, Mark e Loftus, John, Unholy Trinity: The Vatican, the Nazis and the Swiss Banks, St. Martin's Griffin, Nova York, 1998.

22. Ibid.

Esperamos quatro meses sem que ocorresse nenhuma resposta, até que as autoridades prenderam Stepinac e o levaram a julgamento, de maneira semelhante a qualquer outro indivíduo que atue contra o povo.

O arcebispo ficou bastante parado, apesar da sordidez de suas andanças durante a guerra. Foi julgado e condenado a dezesseis anos de prisão num julgamento que contou com os testemunhos de dezenas de testemunhas que contaram toda classe de abusos cometidos por clérigos católicos sob o reino do terror ustashi. Sua única defesa durante no julgamento foi dizer: «Tenho a consciência tranquila». Só nesse momento Pio XII atuou, apressando-se em excomungar os participantes no julgamento, e conseguindo finalmente sua libertação um anos depois. Stepinac foi elevado à categoría de beato por João Paulo II em outubro de 1998.

Fonte(livro): Biografía no autorizada del Vaticano; capítulo 5
Autor(livro): Santiago Camacho
Tradução(do original em espanhol): Roberto Lucena

As outras partes:
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 1
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 3
Sobre os erros do texto, observação:
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 4 (Observação)

Destaque: texto mais detalhado sobre a Ustasha, do historiador Dusan Batakovic
O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945
[Parte 1] [Parte 02] [Parte 03]

Ver também:
1. A Ustasha (no blog avidanofront.blogspot.com do Daniel)
2. Holocausto na Croácia - parte 1

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