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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

As questões de Santomauro (baboseiras "revis") - Parte 1

Tentarei responder esse "questionário" (entre aspas) "revi" de 29 partes ("perguntas") do M. Santomauro ("revisionista" dos EUA), em partes, porque ficaria inviável respondê-lo todo de uma vez, uma vez que quando se coloca textos extensos pouca gente lê. Só não sei em quantas partes ele será dividido.

Em todo caso, segue abaixo o tal texto reproduzido em blog neonazista (Arquivo88, o 88 é alusivo a Heil Hitler), com grafia de Portugal, ainda no acordo ortográfico antigo (já que o novo já está em vigor):

AS QUESTÕES DE SANTOMAURO (http://arquivo88.blogspot.com.br/2014/05/as-questoes-de-santomauro.html)

Alguém poderia me ajudar a responder essas questões?

1. Por que é que Elie Wiesel e inúmeros outros Judeus sobreviveram ao Holocausto se era intenção do Terceiro Reich eliminar cada um dos Judeus que eles receberam nas suas mãos? Elie foi prisioneiro durante vários anos; outros Judeus sobreviveram ainda mais tempo. A maioria destes “sobreviventes” eram pessoas normais que não tinham qualquer perícia rara que os Alemães pudessem ter explorado para o seu esforço de guerra. Não havia nenhuma razão lógica para eles ser mantidos vivos. A existência de mais de um milhão de sobreviventes nos dias de hoje, aproximadamente sessenta anos depois, contradiz um dos componentes básicos do holocausto, isto é, que os Alemães tiveram uma política de eliminar cada Judeu que eles recebiam nas suas mãos
.


Em que uma coisa impede a outra? O problema (distorção) desse tipo de afirmação é que dá como certo o desfecho da guerra (que todo mundo sabe hoje como acabou) ignorando que o nazismo não previa que iria perder a guerra, não estabeleceu prazos pra cumprir todo o extermínio que não conseguiu realizar (apenas parcialmente), além de ignorar as outras minorias que o nazismo também perseguiu e matou.

O Santomauro novamente "ignora" como se procedeu a matança, que não ocorreu de uma só forma como por exemplo na invasão da União Soviética, a matança se deu por balas e havia remanejo de mão de obra escrava judia e de prisioneiros para mais de um campo. O erro básico dessa afirmação reside no fato de que parte do pressuposto de que o nazismo ou os nazistas sabiam como iria ocorrer o fim da guerra desde o princípio, e isso é falso. Eles não sabiam (quando começaram a perseguir) que o conflito acabaria em 1945, da forma como ocorreu. A meta dos nazis primeiro foi varrer os judeus alemães da Alemanha, depois começou a perseguição em outros países e extermínio com ajuda das forças fascistas (colaboracionistas) dos países ocupados ou alinhados com o eixo. Eles não estabeleceram um prazo fixo pra exterminar todos os judeus da Europa, como também não conseguiriam atingir os judeus que residiam em outros países não-ocupados por nazistas ou sem regimes alinhados com o eixo (ex: Reino Unido).

Portanto a afirmação feita pelo revimané Santomauro parte de um erro e prossegue em cima desse mesmo erro sem fazer qualquer correção.

Os nazis não mataram todos os judeus prisioneiros de uma vez, e não conseguiram perseguir todos os judeus da Europa, por isso obviamente há sobreviventes e há sobreviventes que circularam em vários campos servindo como mão de obra escrava ou chegando aos campos próximo do fim das atividades deles e por sorte não foram mortos. Uma parte que foi capturada foi usada como mão de obra escrava pelo nazismo, um dos motivos pra não se exterminar de uma vez todos os judeus assim que eram pegos, uma parte que foi usada morreu de exaustão. É falso afirmar, como o Santomauro faz, que os prisioneiros de uma forma geral não tinham utilidade pro nazismo, milhares foram usados em trabalho escravo/forçado. Leia mais sobre isso aqui:
Trabalho escravo no nazismo

2. Porque não há nenhuma menção ao Holocausto nos seis volumes de História escritos por Churchill sobre a Segunda Guerra Mundial nem nas memórias de guerra de De Gaulle ou de Eisenhower nem em qualquer dos outros intervenientes menores que escreveram sobre aquele conflito? Lembrem-se que todos eles foram escritos anos depois da guerra ter acabado e também depois do Holocausto ter sido supostamente provado nos Julgamentos de Nuremberga. No que diz respeito ao Holocausto, o silêncio quanto a esta questão é ensurdecedora!

O termo Holocausto só passa a ser popularmente usado depois de uma minissérie norte-americana lançada em 1978 com o mesmo nome: Holocausto. Chega a ser bizarro que um dito "revisionista" não saiba de algo tão primário como esse.

Sobre a minissérie, podem ler sobre isso no post abaixo:
Minissérie 'Holocausto' (Gerald Green, 1978). Não existe filme com nome Holocausto

Ou seja, antes, durante a após décadas da segunda guerra até a minissérie ser lançada e se tornar popular, não se costuma usar (não era comum) o termo Holocausto para se referir à perseguição e extermínio de judeus na segunda guerra ou pra se referir ao genocídio nazista, as pessoas falavam de genocídio, Auschwitz ou extermínio mas o termo Holocausto não era comum/popular, por isso não é incomum que não haja qualquer menção à palavra Holocausto por essas pessoas ou mais gente dessa época.

A afirmação idiota, mais uma, do Santomauro é falsa. Há citações de perseguição a judeus feitas por Churchill em suas memórias, por exemplo. Se o "revi" Santomauro tivesse ido atrás da informação ao invés de crivar como verdade absoluta as abobrinhas de Faurisson (negacionista francês que elaborou essa afirmação), não teria feito tal "questionamento". O que não se sabia à época da segunda guerra e no pós-segunda guerra era a extensão real do extermínio, mas a afirmação de que não há citação sobre o fato é falsa como quase tudo que o Faurisson e os "revis" escrevem.

Encontra-se com relativa facilidade os volumes na web das Memórias de De Gaulle:
Mémoires de guerre

Curioso o Santomauro não ter olhado nenhum volume e principalmente o Faurisson que é francês (se viu fez de conta que não leu).

Nos três volumes há citações dispersas sobre judeus com as palavras "juif" e "juive" (a palavra "juive" é usada pra se referir a seguidor do judaísmo, é usada mais no sentido religioso, enquanto "juif" é usada de forma mais genérica pra "judeu" independente que seja algo religioso ou não).

Quem quiser ver todas as passagens, confiram-nas no link do texto:
Charles de Gaulle et le génocide des juifs

No link acima há todos os trechos sobre Holocausto nas Memórias de De Gaulle. Só isso já põe por terra essa abobrinha clássica do Faurisson repetida pelo Santomauro. Depois o povo pergunta porque não há muita paciência em discutir com "revis", eu acho que isso mostra o motivo. São tão desonestos e distorcem (mentem) tanto que não existe de fato uma discussão e sim apontamento do que eles distorcem de forma deliberada (de caso pensado).

Só um exemplo, volume 2 das Memórias de De Gaulle:
Au cours de l'été, s'aggravait la persécution des Juifs, menée par un « commissariat » spécial de concert avec l'envahisseur. En septembre, comme le Reich exigeait de la France une main-d'œuvre sans cesse plus nombreuse et que les ouvriers volontaires n'y suffisaient pas, on procédait à une levée obligatoire de travailleurs. Le montant total des frais d'occupation atteignait 200 milliards au début de ce mois, soit le double de ce qu'il était en septembre de l'année d'avant. Enfin, la répression allemande redoublait de violence. Pendant ces quatre mêmes semaines, un millier d'hommes étaient fusillés, dont 116 au mont Valérien ; plus de 6 000 allaient en prison ou aux camps de concentration.
Tradução:
Durante o verão, agravou-se a perseguição aos judeus, conduzida por uma "polícia" especial em conjunto com o invasor. Em setembro, o Reich exigiu da França uma força de trabalho cada vez mais numerosa e que os trabalhadores voluntários não eram suficientes, então passaram a elevar a cota de trabalhadores forçados. Os custos totais de ocupação chegou a 200 bilhões no início deste mês, é o dobro do que era em setembro do ano anterior. Por fim, a repressão alemã redobrou a violência. Durante essas quatro semanas, mil homens foram baleados, incluindo 116 no Monte Valérien; mais de 6000 estavam em campos de prisioneiros ou de concentração.

Agora nas Memórias de Churchill, do volume 6 (são seis volumes ao todo as Memórias de Churchill, há um volume condensado que foi traduzido pro português e espanhol mas nunca lançaram na íntegra todos os seis volumes do original em português):
Prime Minister to Foreign Secretary
11 July 44

There is no doubt that this [persecution of Jews in Hungary and their expulsion from enemy territory] is probably the greatest and most horrible crime ever committed in the whole history of the world, and it has been done by scientific machinery by nominally civilised men in the name of a great State and one of the leading races of Europe. It is quite clear that all concerned in this crime who may fall into our hands, including the people who only obeyed orders by carrying out the butcheries, should be put to death after their association with the murders has been proved. I cannot therefore feel that this is the kind of ordinary case which is put through the Protecting Power, as, for instance, the lack of feeding or sanitary conditions in some particular prisoners’ camp. There should therefore, in my opinion, be no negotiations of any kind on this subject. Declarations should be made in public, so that everyone connected with it will be hunted down and put to death.
Minha tradução:
Do primeiro-ministro ao ministro de Relações Exteriores
11 de julho 44

Não há dúvida de que isto [a perseguição de judeus na Hungria e sua expulsão do território inimigo] é provavelmente o maior e mais horrível crime jamais cometido em toda a história do mundo, e foi feito por maquinário científico por homens nominalmente civilizados, em nome de um grande Estado e uma das principais raças da Europa. Está bastante claro que todos os envolvidos ​​neste crime podem cair em nossas mãos, incluindo as pessoas que apenas obedeceram ordens de execução nos "açougues", e devem ser condenados à morte depois que sua associação com os assassinatos for provada. Não posso, portanto, achar que isto é um caso comum como é colocado pelo Protetorado, como, por exemplo, a falta de alimentação ou das condições sanitárias no acampamento de alguns prisioneiros em particular. Portanto, não deve haver, na minha opinião, negociações de qualquer tipo sobre este assunto. As declarações devem ser feitas em público, para que todos os envolvidos sejam perseguidos e condenados à morte.
Não irei traduzir o resto abaixo, mas caso alguém tenha curiosidade, segue em destaque outras partes do volume 6:
Prime Minister to Secretary of State for War
6 July 44

I am in general agreement with your proposals [for a Jewish fighting force], but I think the brigade should be formed and sent to Italy as soon as convenient, and worked up to a brigade group there as time goes on by the attachment of the other units.
2. I like the idea of the Jews trying to get at the murderers of their fellow-countrymen in Central Europe, and I think it would give a great deal of satisfaction in the United States.
________________

I believe it is the wish of the Jews themselves to fight the Germans anywhere. It is with the Germans they have their quarrel. There is no need to put the conditions in such a form as to imply that the War Office in its infinite wisdom might wish to send the Jews to fight the Japanese and that otherwise there would be no use in having the brigade group.
_______________

This seems to be a rather doubtful business [the case of the Hungarian Jews], These unhappy families, mainly women and children, have purchased their lives with probably nine-tenths of their wealth. I should not like England to seem to be wanting to hunt them down.
By all means tell the Russians anything that is necessary, but please do not let us prevent them from escaping.
Do Volume 1:
You have these martial or pugnacious manifestations, and also this persecution of the Jews of which so many Members have spoken….
Ou seja, não há menção à palavra Holocausto mas há menções à perseguição e crimes nazistas. Um ponto a se destacar é que os autores das memórias não colocam essa questão do Holocausto como central pois não eram obcecados por judeus como algumas pessoas são ("revis"). Pra eles isto se tratava de algo menor ou de uma "guerra dentro da guerra" fruto da paranoia nazista pois eles estavam mais preocupados com seus respectivos países do que salvar minorias do nazismo, o que não quer dizer que ignoravam a questão. Mais outro erro de interpretação (distorção) pesada que o Santomauro e o Faurisson fizeram deliberadamente.

Fico devendo a parte do Eisenhower que colocarei depois.

3. O que é que uma enfermaria para os prisioneiros (e um bordel) estavam a fazer em Auschwitz se aquilo era, realmente, um campo da morte?

No campo havia os mantenedores dele (os nazis), era pra eles e pruma parte dos "prisioneiros arianos" que serviam o bordel e enfermaria. Ou o Santomauro acha que ninguém precisava de medicação e enfermaria? E que nem todos os prisioneiros foram mortos de imediato? O Santomauro "acha" tanto que não acha nada.

O bordel do campo de concentração: o trabalho forçado sexual em campos
O ícone mais idiota da negação do Holocausto: a piscina de Auschwitz

4. Porque iriam os Alemães reunir Judeus nos confins do seu império, envolvendo uma tão grande quantidade de pessoal e material, lutando uma guerra mundial em duas frentes, e entregar essas pessoas em “campos da morte”, a centenas de milhas de distância e que, supostamente, algumas eram executadas logo à chegada – uma bala logo no início não teria apelado ao lendário sentido alemão de eficiência?

Pelo teor das perguntas do Santomauro, parece que ele nunca leu nada sobre nazismo. Vários massacres foram cometidos com uso de munição, principalmente no leste europeu com os Eisantzgruppen. O método foi deixado de lado porque provocava traumas nos executores. O uso de campos de extermínio evitava o contato direto dos carrascos com suas vítimas, que era o que ocasionava esses traumas, além de ser um método rápido e em larga escala.

5. Por que é que após sessenta anos, os historiadores ainda não conseguiram encontrar um único documento alemão que aponte para o Holocausto? Devemos acreditar em pessoas como Raul Hilberg que defendem que, em vez de ordens escritas, havia um “incrível encontro de mentes” que levou a que, literalmente, dezenas de milhares de pessoas coordenassem as suas acções para desenvolver um empreendimento desta magnitude?

Nenhum documento? Dê uma lida (na parte Documents) aqui, há vários. E há algumas traduções em português aqui no blog. Sua afirmação sobre "nenhum documento" é falsa.

6. Como é possível que se insista no número de seis milhões de Judeus mortos quando o número oficial de Judeus mortos em Auschwitz, o principal gulag do Holocausto, foi reduzido do número imediato após o fim da guerra – 3 milhões – para um número que se situa abaixo de um milhão? Por que é que muitas pessoas respondem a esta observação dizendo, “qual é a diferença se são seis milhões ou se é um milhão”. A resposta é que a diferença são cinco milhões. Outra diferença é que dizendo isso, podemos apanhar três anos numa cadeia Austríaca… basta perguntarem a David Irving!

Santomauro, seis milhões é um número referente a uma estimativa ou arredondamento e não número exato como você insinua, ninguém mata exatamente seis milhões de pessoas, mas a estimativa é dessa monta, por isso dizem que seis milhões foram exterminados. Não há nenhum equívoco usar o termo. Não significa que isso é um número exato como você está insinuando. Popularmente as pessoas citam essa quantificação como número exato, mas é errado embora seja usual, você mesmo cometeu o mesmo erro ao fazer a insinuação e não tem a honestidade intelectual de se auto-criticar.

Ninguém será preso por fazer pesquisa sobre o Holocausto, os grupos que são alvos desse tipo de legislação são considerados publicamente como negacionistas e ligados a grupos neonazistas e de extrema-direita. Você novamente "ignora" os motivos pelo qual o Irving foi preso, mas faz o mesmo que todo "revi" sempre faz ao discutir: omite coisas, distorce etc.

Na Turquia quem afirma que houve genocídio armênio pode ser preso, nunca vi nenhum "revi" criticar a Turquia por conta desse tipo de legislação, mas chiam muito com a legislação sobre negacionismo do Holocausto. Pode-se questionar se esse tipo de lei presta ou é válido, mas afirmar que o Irving foi "perseguido" só por ter opinião divergente é ato de má fé.

Só que gostaria de saber quais as fontes do que você afirma, pois você fez um questionário gigante sem apontar fonte alguma, repetindo muitas afirmações feitas por negacionistas. E obviamente ficarei esperando por isso em vão pois sua claque "revi" que traduziu esse texto pro português (gramática portuguesa) não irá atrás disso.

7. Todos os códigos de guerra da Alemanha foram identificados, inclusivamente aqueles usados para enviar os relatórios diários de Auschwitz para Berlim. As cópias destas mensagens não fazem qualquer menção a execuções em massa nem mesmo remotamente sugerem qualquer programa de genocídio em progresso. Além do mais, insiste-se que os alemães usaram um tipo de código eufemista para discutir o seu programa de extermínio dos judeus, como por exemplo solução final, tratamento especial, restabelecimento, etc. Por que é que seria necessário eles usarem um tal eufemismo codificado para conversarem entre si, a menos que eles pensassem que os seus códigos tinham sido descobertos pelos Aliados?

Santomauro, a perseguição e extermínio de judeus não era assunto oficial dentro da Alemanha, era algo que ocorria paralelo à guerra com outros países. Os códigos são justamente pra isso, evitar que o extermínio seja identificado como tal pois constituem crime de guerra. Leia isto:
Quick Facts: "Tratamento Especial" (Sonderbehandlung)
Os eufemismos nazistas

8. O nível hidrostático em Auschwitz está a umas meras 18 polegadas abaixo da superfície, o que faz insustentáveis as afirmações de enormes fossas a arder para a eliminação de dezenas de milhares de vítimas.

Fonte?

9. Inicialmente, foram feitas afirmações de que tinham acontecido execuções em massa em câmaras de gás homicidas em campos localizados dentro do Antigo Reich, como por exemplo, em Dachau e em Bergen-Belsen. As “provas” para esse efeito era eram semelhantes às que nos tinham oferecido para os outros campos, localizados na Polônia ocupada. Porém, sem qualquer explicação, nos anos sessenta cedo passou a ser dito que afinal não era o caso e que todos os “campos da morte” estavam localizados a Leste, ou seja, na Polônia, fora (alguns diriam de forma conveniente) dos olhos dos investigadores ocidentais.

Fonte? Mais outra afirmação sem fonte. Curioso que ele não cita nenhum texto "revi" indicando de onde tiraram essas "conclusões". Sai atacando a esmo, requentando besteira, e não aponta fonte alguma, nem de seus gurus "revis".

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O negacionismo e o trotskismo

O Negacionismo.
(Extrato do Pequeno dicionário para lutar contra a extrema-direita, de Martin Aubry e Olivier Duhamel. Edições du Seuil).

Os partidários desta corrente preferem dizer "revisionismo", porque é mais apresentável. A audácia de revisar. Pretendem-se como historiadores e não são mais que neonazis, ou chegam a sê-lo. Pertencem à extrema-direita e vêm com frequência da extrema-esquerda. Tem uma obsessão: a negação do genocídio judeu.

O primeiro deles foi um homem curioso. Paul Rassinier, comunista em 1923, esquerdista no começo dos anos 30, socialista depois de 6 de fevereiro de 1934, secretário da federação de Belfort, próximo a Marceau Pivert e à extrema-esquerda do partido, pacifista, não partidário de Vichy diferente de outros socialistas, participante da resistência inclusive, detido pela Gestapo em 1943, torturado, deportado para Buchenwald de onde regressou inválido. Vencido nas eleições de 1946, escreverá em 1950 um livro contestando a existência das câmaras de gás. Excluído do SFIO (Partido Socialista francês), será apoiado pela extrema-direita, Maurice Bardéche, o antissemita Henry Coston e companhia.

Se evocamos aqui a este triste personagem é porque Rassinier, o primeiro negacionista, ilustra um rasgo essencial nesta seita, a paixão anticomunista. Em seu artigo de referência, "A negação do povo judeu" (L´Histoire, nº 106, dezembro de 1987), o historiador Henry Rousso recorda justamente que os negacionistas têm em comum "uma mistura híbrida de pacifismo, antissemitismo e anticomunismo". Para constranger melhor o stalinismo é preciso absolver o nazismo ou, pelo menos, reduzir o horror e negar sua especificidade. Enquanto o antissemitismo, foi também parte de uma certa esquerda trabalhista na primeira metade do século (XX), que evoluiu até uma certa extrema-esquerda pró-palestina primeiro, antissionista de imediato.

O negacionismo não mereceria nem sequer ser mencionado se não fosse a constatação do transtorno mental de algumas pessoas supostamente cultas; se não revelasse, uma vez mais, a fragilidade intelectual e moral de inteligências elevadas, como os casos do linguista norte-americano Noam Chomsky ou do filósofo Jean Beaufret, que assumiram a defesa de Robert Faurisson e de outros "revisionistas", como sempre em nome da liberdade de expressão; se não ilustrasse, de forma paroxística, a incapacidade da sociedade francesa para ajustar contas com o período da Ocupação nazista e do colaboracionismo.

Três importantes textos analisaram esta impostura: "Les redresseurs de morts", de Nadine Fresco (Les Temps Modernes, setembro de 1980), L´Avenir d´une négation, de Alain Finkielkraut (edições du Seuil, 1982) e Los asesinos de la memoria (Os assassinos da memória), de Pierre Vidal-Naquet (La Découverte, 1987).

Fonte: site clio.rediris.es (Espanha)
Título original: El Negacionismo
http://clio.rediris.es/fichas/Holocausto/negacionismo.htm
Tradução: Roberto Lucena

Observação: há alguns pontos no texto que são controversos como a citação do Chomsky que é tratada aqui. Na verdade ele não defende o conteúdo do que o Faurisson (negacionista, de mesma linha política do Rassinier) e sim o direito dele se expressar, mesmo que pra dizer besteira, e mesmo discordando dele. Adotar essa postura, por mais críticas que alguém tenha ao Chomsky, não é o mesmo que defender o conteúdo do que ele diz.

Fora que a questão acima é bem antiga. Digo isso porque vez ou outra chega gente falando de negacionismo como se a gente tivesse lido sobre isso há uma semana e não tivesse ideia do que seja ou dessa pilha de baboseiras que esses caras soltam. Sinceramente, eu não entendo essa postura de pregação que o brasileiro (generalizando) anda adotando.

Mas voltando ao assunto (ao que interessa de fato), não traduzi o texto por isso ou por outras passagens dele e sim por conta de um problema citado no texto que descreve com perfeição uma extrema-esquerda trotskista francesa, que já foi citada aqui antes (a Velha Toupeira), visivelmente alinhada com a negação do Holocausto, antissemitismo e afins por conta da briga 'religiosa' dela (uso o termo pelo comportamento religioso, dogmático e fanático desse grupo) com o que considera 'stalinismo' ou qualquer coisa que eles relacionem a isso (remonta a briga entre Stalin e Trotsky).

Há algum tempo atrás eu não conseguia entender o real motivo da ação dessa extrema-esquerda pois não associava o trotskismo a ela, era sempre obscura a razão da ação desses elementos, mas hoje dá pra entender claramente qual a razão disso (não havia lido o texto traduzido acima antes, pelo menos se li não me lembrava dele).

Os trotskistas querendo atacar o inimigo mortal deles (que por mais absurdo que pareça, não é Hitler, os caras são tão sectários que sentem mais ódio de Stalin que de Hitler, já vi trotskista dizer isso e não me tocava do sectarismo deles), tentam atenuar os crimes dos nazis.

Agora é possível entender o comportamento de seita dessa extrema-esquerda trotskista francesa e a razão desse negacionismo dela pra tirar o caráter genocida do nazismo e jogar tudo no que eles rotulam de stalinismo, e de quebra ainda dão discurso pra extrema-direita (fascistas, neonazis etc), isso quando não mudam de lado (migram pra extrema-direita) como os Horst Mahler, Faurisson, Rassinier e cia.

Tem uma parte do texto que retrata bem o problema que é o fato desses grupos trotskistas estimularem até o ódio anticomunista pra atenuar os crimes do nazismo. Não todos, mas boa parte dos que se denominam anticomunistas, ou mais precisamente os que têm uma forte obsessão com isso, possuem fortes tendências autoritárias e sectárias.

No Brasil se vê esse tipo de extrema-esquerda que segue esse alinhamento trotskista ter quase o mesmo comportamento dessa facção francesa. Por sinal, alguns dos indivíduos mais autoritários ou 'surtados' da direita atual brasileira foram trotskistas.

Quem quiser ler mais sobre essa questão, mas não está traduzido (obviamente), em inglês, confira na página:
http://www.anti-rev.org/textes/VidalNaquet92b/part-4.html

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Faurisson e a piscina de Auschwitz I

Em 2001, Faurisson publicou este artigo sobre a piscina de Auschwitz I. Ele afirmou que "a piscina era uma piscina. Que foi criada para os detentos". Entretanto, a testemunha solitária que Faurisson citou no artigo original afirmou que "deve-se notar que só os mais aptos e bem alimentados, a exceção daqueles dos trabalhos mais severos, poderiam entrar nesses jogos...".

Esta é uma uma distorção direta feita por Faurisson, contestada por seu próprio testemunho. A piscina só foi feita pruma pequena minoria de detidos: os trabalhadores administradores de Auschwitz I. Não sabemos de qualquer extrato de que estes eram judeus. Os trabalhadores de Buna (Auschwitz III) e aqueles selecionados para Birkenau nunca chegaram perto disso; nem aqueles com rações de fome, nem aqueles que faziam trabalho pesado. No entanto, como certamente era a intenção de Faurisson, os negacionistas "engolem" esta "prova" como se fosse relacionado a todo complexo de Auschwitz. Ambos, astro3 [Kollerstrom] e 'Hannover' [Hargis] alegam precisamente isto aqui. Os leitores podem decidir por si mesmos se essa leitura 'equivocada' do fato foi feita por desonestidade ou se por pura estupidez. Com Hargis e Kollerstrom, ambas opções são plausíveis

Além disso, em um adendo no mesmo link, Faurisson citou um relato de uma testemunha tardia, escrito em 1997, afirmando que "um diretor de cinejornal tinha a filmagem de alguns deportados nadando lá." Um estudioso honesto pode concluir que isto indica o propósito reral de propaganda da piscina, mas Faurisson é um estudioso desonesto e prefere chamar a testemunha de mentiroso, exceto na pequena parte em que o seu testemunho apóia a afirmação de Faurisson.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2008/05/faurisson-and-swimming-pool-at.html
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 26 de maio de 2013

"Genocídio por Telepatia, Explica Hilberg" a "trollada" de Faurisson

Esse texto foi escrito em 1988 pelo negacionista francês Faurisson alegando que o historiador do Holocausto Raul Hilberg havia dito que o genocídio dos judeus na Segunda Guerra fora feito por "telepatia". O trecho da versão em português a se destacar do texto do Faurisson "Genocídio por Telepatia" é este:
Sete meses depois Hilberg resumiu a sua nova tese perante uma audiência de perto de 2,700 pessoas na Avery Fischer Hall em Nova Iorque: a política Alemã para a destruição física dos Judeus era explicada pela leitura da mente! Nenhum documento atestando esta política criminosa poderia ser encontrado, porque não existia tal documento. Por vários anos, a inteira máquina burocrática Alemã operou por uma espécie de telepatia. Como Hilberg acrescentou:[4]
O curioso é que a suposta fonte usada como sendo origem da afirmação do Hilberg simplesmente não existe, a fonte indicada é esta:
[4] Citado em: George De Wan, "The Holocaust in Perspective," Newsday (Long Island, New York), 23 de Fevereiro de 1983, p. II/3. Também citado no Summer 1985 Journal, pp. 170-171.
O suposto historiador citado George De Wan e seu livro "The Holocaust in Perspective" provavelmente são uma criação do Faurisson, e o texto aparece com alguns acréscimos de fontes diferentes nas edições em outros idiomas com a citação do "Summer 1985 Journal" e da revista "Newsday (Long Island, NY)", ou omitindo o suposto historiador "George De Wan" como podem verificar abaixo:
Na versão em inglês: Quoted in: George De Wan, "The Holocaust in Perspective," Newsday (Long Island, New York), Feb. 23, 1983, p. II/3. Also quoted in the Summer 1985 Journal, pp. 170-171.

Na versão em francês (outro link): (George DeWan, " The Holocaust in Perspective", Newsday (Long Island, NY), 23 février 1983, p. II-3)."

Na versão em alemão: Newsday, Long Island, New York, 23.2.1983, S. II/3)
Num dos textos hospedados no VHO diz o seguinte:
This essay is an adaptation of a piece originally written on 1st September 1988, "Raul Hilberg explique maintenant le génocide par la télépathie!", in Ecrits révisionnistes, vol. II, p. 783-786.. The Journal for Historical Review (http://www.ihr.org), Volume 18 number 1, January/February 1999, p. 15. First displayed on aaargh: 17 April 2001.
Tradução:
Este ensaio é uma adaptação do pedaço originalmente escrito em 1 de setembro de 1988, "Raul Hilberg explica a execução do genocídio por telepatia!", em Ecrits révisionnistes, vol. II, p. 783-786.. The Journal for Historical Review (http://www.ihr.org), Volume 18 número 1, Janeiro/Fevereiro de 1999, pág. 15. Primeiramente exibido no Aaargh: 17 de abril de 2001.
Como se demonstra que a fonte é forjada: qualquer publicação, principalmente de referências no assunto, encontra-se listado em algum banco de dados de Universidades e outros sites (de livros) espalhados na web, é praticamente impossível não haver qualquer referência ao livro citado como fonte, como também ao suposto historiador "George De Wan", caso existissem. Além de outros erros nas versões do texto em vários idiomas.

Os únicos registros do suposto historiador "George De Wan" e do livro dele, não catalogado em qualquer base de dados de biblioteca, são de sites de negação do Holocausto ("revisionistas").

Esta citação sobre o "genocídio por telepatia" atribuída ao Raul Hilberg é bem conhecido de sites negacionistas, bem conhecida e explorada, e muita gente cai na 'trollada' sem verficar este detalhe da fonte. Ela também foi usada e repetida no livro negacionista Debating the Holocaust, do fake Thomas Dalton.

Pra quem quiser ler mais sobre a fraude do Dalton, confiram os textos publicados no Holocaust Controversies sobre o assunto. Caso queiram ler um dos textos principais do HC sobre o caso Dalton em português, confiram a tradução em português do texto do Roberto Muehlenkamp Uma boa análise de "Debatendo o Holocausto" de "Thomas Dalton".

O incrível é que nem o Nizkor, site que é especialista em textos negacionistas (primeiro grande site que combateu o negacionismo, e igualmente conhecido), não detectou a fraude intencional do Faurisson, fazendo uma discussão aqui como se fosse verdadeira a fonte inexistente ao invés de verificá-la.

sábado, 4 de maio de 2013

Browning e a tomada de decisão no III Reich - Raul Hilberg

Abaixo, entrevista concedida a Jennie Rothenberg por Christopher Browning, historiador do Holocausto e autor de "Origins of the Final Solution", e que atuou na defesa de Deborah Lipstadt no processo movido por David Irving contra ela.

O processo de tomada de decisão no Terceiro Reich é explicado aqui por Browning, bastante próximo da idéia de Raul Hilberg.

*Observação: Abaixo consta apenas um trecho da entrevista traduzido, a entrevista inteira - em inglês - está no link da fonte.

Tradução:
...
[Jennie Rothenberg] Sua conclusão choca-se contra uma discussão do papel de Hitler na Solução Final. Você enfatiza que o entusiasmo de Hitler unia todos os tipos de pessoas -- eugenistas que queriam alcançar pureza racial, técnicos que queriam mostrar suas habilidades, políticos carreiristas que queriam progredir. Mas você também mostrou que muitas das idéias e planos específicos não vinham de Hitler, mas de seus subordinados, que captavam sinais das vagas declarações de Hitler. Você acha que aqueles líderes nazistas de segundo escalão como Himmler deveriam ser tão responsáveis quanto Hitler pelo Holocausto?

[Christopher Browning] É verdade que Hitler não tinha que ser um micro-administrador nisto. Ele podia fazer exortações, dar discursos proféticos. Estava embutido no sistema nazista que o dever ou imperativo sobre todo nazista leal era, em seus próprios termos, "trabalhar para alcançar o Fuehrer", sempre antecipá-lo e apoiá-lo, de um jeito a devotar sua vida a ele. Quando ele fazia uma profecia, sua obrigação era fazer aquela profecia virar realidade. Quando ele reclamava para si algo em termos de um objetivo vago, seu trabalho era fazer aquilo tornar-se realidade.

Isto provocou todos os tipos de iniciativas, todos os tipos de planos. Esses eram trazidos para Hitler. A alguns ele dizia "não, você não me entendeu direito". Às vezes ele mostrava um sinal vermelho. Algumas vezes ele fazia piscar uma luz amarela -- "não pronto ainda" -- e às vezes ele mostrava luz verde e dava aprovação para continuar. A pessoa que entendia melhor Hitler nisso era Himmler. Ele era o único que podia normalmente antecipar o que Hitler queria e entender o que Hitler queria dizer. É por isto que os SS ganharam poder tão rapidamente neste período, porque enquanto Himmler os estava liderando, ele se tornou progressivamente indispensável para Hitler em termos de transformar profecias em realidades.

Para um historiador, esta forma de tomada de decisão é absurdamente imprecisa. Você não pode ir até um documento específico ou uma reunião específica e dizer "Aqui é quando a decisão foi tomada." Há um longo período para Hitler dar sinais vagos, outros para entender os sinais, eles vindo até Hitler, ele afirmando que eles tinham-no entendido bem, eles voltando e fazendo planos e então trazendo-os de volta. Então o processo de tomada de decisão pode acontecer durante meses, tempo durante o qual não há um único dia ou documento que nós podemos marcar e dizer "Aconteceu aqui."

Fonte: The Atlantic
Entrevista completa: http://www.theatlantic.com/past/docs/unbound/interviews/int2004-02-11.htm
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/4929
Tradução: Marcelo Oliveira

*A observação antes do trecho fui eu que fiz, não consta do texto original da lista holocausto-doc.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Discurso de Himmler no mesmo dia do massacre de Lídice

Como o Dr. Lindtner aponta [1], Himmler afirmou em 09.06.42: "Die Völkerwanderung der Juden werden wir in einem Jahr bestimmt fertig haben, dann wandert keiner mehr."(Sobre a migração dos judeus, devemos terminá-la dentro de um ano e então não haverá mais migrações). Deve ser ressaltado que isto ocorreu um dia depois do funeral de Heydrich e no mesmo dia do massacre em Lídice(em português); em 10 de junho, 1.000 judeus foram deportados de Praga para Majdanek. Assim, não há dúvidas quanto ao significado do que Himmler disse quando usou a frase "dann wandert keiner mehr"(e então não haverá mais migrações).

Fonte: Holocaust Controversies
Título original: Himmler's Speech on the same day as Lidice
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2011/12/himmlers-speech-on-same-day-as-lidice.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena

[1] Complemento: comentário do Dr. Lindtner na caixa de comentários do blog Holocaust Controversies, que consta do texto acima como link, sobre o discurso de Himmler. Comentário traduzido pro português. Link:
Holocaust Denial is Chutzpah(Dr. Lindtner) disse...

"...dann wandert keiner mehr"

A fim de defender a desesperada afirmação de que a Judenpolitik(política judaica) de Hitler/Himmler eram campos de "trânsito", e não destruição/extermínio físico(Vernichtung), Faurisson, em seu blog, em 20 de junho de 2011, cita esta sentença do discurso dado por Himmler na Haus der Flieger(Câmara dos Pilotos), em 09 de junho de 1942 (Geheimreden..., 1974, p.159): "Die Völkerwanderung der Juden werden wir in einem Jahr bestimmt fertig haben, dann wandert keiner mehr" (Sobre a migração dos judeus, devemos terminá-la dentro de um ano e então não haverá mais migrações).

Como Graf et.al.(e outros), Faurisson esquece de nos dizer onde e como esta Völkerwanderungs(migração forçada) iria acabar. O que Himmler quis dizer em suas quatro últimas palavras, "dann wandert keiner mehr"(e então não haverá mais migrações)?- A resposta foi dada pelo próprio RFSS(Reichsfuehrer SS), por exemplo, em Posen, em 06 de outubro de 1943 (ibid. pág. 169): "Es musste der schwere Entschluss gefasst werden, dieses Volk von der Erde verschwinden zu lassen" (Se faz necessário tomar uma decisão séria pra fazer este povo desaparecer da face da Terra).

Claramente, Faurisson, Graf e outros, não estão interessados em descobrir "o que realmente aconteceu". Do contrário eles não poderiam ter ignorado isto e várias outras passagens claras com o mesmo efeito.

Mortos dificilmente levantam de seus túmulos.

sábado, 29 de outubro de 2011

A "técnica" do negacionista Faurisson de "revisar" a História do Holocausto - parte 2

Em mais um texto ridículo, o 'guru' "revisionista" francês Robert Faurisson, tentando aliviar a barra do fascista Le Pen, seu compatriota, e suas declarações negacionistas na França sobre o Holocausto anos atrás, demonstra como elabora seu "método" de "revisar" a História: ele cata 'supostos' furos em livros e acusa que a não citação de câmaras de gás no Holocausto ou mesmo do próprio genocídio, por uma personalidade, equivale a uma 'admissão' de que as mesmas não existiram.

Sobre o historiador francês René Rémond, a alegação de Faurisson (ver aqui):
No terceiro volume de sua Introdução à história de nossos tempos (Introduction à l'histoire de notre temps), René Rémond, que foi então presidente da comissão sobre história da deportação dentro do Comitê de História da Segunda Guerra Mundial (Comité d'histoire de la Deuxième Guerre mondiale), não fez qualquer tipo de menção a estas câmaras de gás (Le XXe siècle de 1914 à nos jours ["The 20th Century from 1914 to the Present"], Le Seuil, 1974). Catorze anos depois, quando ele havia tornado presidente do Instituto de História Contemporânea (Institut d'histoire du temps présent), uma vez mais ele não fez nenhuma menção delas em um trabalho de 1013 páginas entitulado Notre Siècle de 1916 à 1988 ("Nosso século de 1916 a 1988"*," Paris: Fayard, 1988).[1]
Pois bem, que tal o próprio citado(o historiador René Rémond) falando sobre as declarações de Le Pen sobre câmaras de gás, em vídeo, numa entrevista dada a um jornal?

Link do vídeo: ina.fr René Rémond

Resumo do vídeo: Plateau René Rémond (15/09/1987 - 03min20s)
Convidado do jornal, o historiador René Rémond, fala sobre as palavras de Jean-Marie Le Pen no "Grande Júri RTL-Le Monde", considerando as câmaras de gás como um "detalhe técnico". René Rémond considera, por sua vez, que as palavras de Le Pen e dos próprios fascistas banalizam o que aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial: "Negar a verdade do genocídio. O que é chocante é que para ele (JM Le Pen) é apenas um detalhe." René Rémond diz que no campo revisionista não há historiadores, mas sim polemistas. "Le Pen se encaixa no campo dos revisionistas." Respondendo à "gafe" de Le Pen: "Le Pen tenta tranquilizá-los. Acho que é um relaxamento de sua vigilância, lapso, gafe." René Rémond explica o impacto sobre o primeiro turno das eleições presidenciais e seu impacto entre o primeiro e segundo turno.[2]

O "método Faurisson" de "revisar" História (que é um método comum e praticado por todos os "revisionistas") é tão bisonho que chega a ser constrangedor saber que há gente que dá crédito às cretinices de sites de extrema-direita na internet que negam o genocídio da segunda guerra com distorções e manipulações.

*Observação: no texto original no site do IHR consta no título em francês "Notre Siècle de 1918 à 1988", só que na tradução para o inglês o título aparece assim "Our Century from 1916 to 1988". Um pequeno erro de digitação, que não mereceria nem sequer uma observação exceto que por pura implicância mesmo já que os "revisionistas" adoram se "amarrar" em "erros" deste tipo.

Notas

[1] Texto "The Detail", Robert Faurisson. Texto alojado no site do IHR sobre o historiador René Rémond.
[2] Entrevista de René Remond a um telejornal francês. Vídeo alojado no site ina.fr datado de 1987.

Pra quem não viu a parte 1, confiram-na no link.

sábado, 26 de março de 2011

O problema Wiesel e os "revisionistas" - parte 1

O problema sobre o livro do Wiesel A Noite, veio à tona numa discussão com "revis", só que colocarei só o link do IHR, que é de onde eles copiam o texto pra blogs e depois traduzem sem dar o devido "crédito" aos gurus do movimento. É incrível como eles conseguem inclusive passar a perna nos gurus do bando.

De fato, o livro do Wiesel é problemático, e chamar de "problemático" é pra pegar leve nos adjetivos, pois a expressão correta seria: o livro é muito ruim. Esse livro é literalmente "alegria" pra "revisionistas".

Por isso que chega a ser impressionante que, mesmo com um livro ruim em mãos, os "revis" conseguem a proeza de distorcer em cima do que consta no livro quando seria fácil demonstrar o quanto o livro é ruim e tendo trechos escritos em uma linguagem metafórica que em nada ajuda no rigor histórico de uma narrativa.

Numa das alegações que eles fazem, ou mais precisamente o Robert Faurisson ("revi" francês e um dos gurus proeminentes do bando) faz neste texto do IHR, é mencionar que o Wiesel não citou nada sobre câmaras de gás ou gaseamentos no livro "A Noite". Trecho:
Elie Wiesel passes for one of the most celebrated eyewitnesses to the alleged Holocaust. Yet in his supposedly autobiographical book Night, he makes no mention of gas chambers. He claims instead to have witnessed Jews being burned alive, a story now dismissed by all historians. Wiesel gives credence to the most absurd stories of other "eyewitnesses."[1]
Tradução:
Elie Wiesel passa por uma das mais celebradas testemunhas oculares do alegado Holocausto. Entretanto, em seu livro supostamente autobiográfico "A Noite", ele não faz nenhuma menção a câmaras de gás. Ele afirma que ao invés disso, ele testemunhou que judeus foram queimados vivos, uma história agora rejeitada por todos historiadores. Wiesel dá credibilidade às mais absurdas histórias de outras "testemunhas".
Vistoriando o livro A Noite, ao contrário do que o Faurisson alegou, encontra-se um trecho em que o Wiesel cita gaseamentos, num "diálogo em voz alta" de Wiesel questionando Deus(um trecho pra ser entendido como uma forma de questionamento a uma entidade divina onde envolvem questionamentos de ordem espiritual dele, Wiesel):

The melody choked in his throat. And I, mystic that I bad been, I thought: Yes, man is very strong, greater than God. When You were deceived by Adam and Eve, You drove them out of Paradise. When Noah's generation displeased You, You Brought down the Flood. When Sodom no longer found favor in Your eyes, You made the sky rain down fire and sulfur. But these men here, whom You have betrayed, whom You have allowed to be tortured, butchered, gassed, burned, what do they do? They pray before You! [2]
Tradução:

A melodia sufocada em sua garganta. E eu, místico que mal havia sido, pensei: Sim, o homem é muito forte, maior que Deus. Quando você foi enganado por Adão e Eva, Você os expulsou do Paraíso. Quando a geração de Noé desagradou Você, Você trouxe o Dilúvio. Quando Sodoma não agradou mais seus olhos, Você fez o céu chover fogo e enxofre. Mas estes homens aqui, a quem Você traiu, os quais Você permitiu que fossem torturados, gaseados, queimados, o que eles faziram? Eles oram antes para Você!
O Wiesel na queixa que faz a Deus sobre as desgraças do campo de concentração, cita que pessoas estão sendo "torturadas, gaseadas, queimadas".

Ou seja, pra citar que pessoas estavam sendo gaseadas, ao contrário do que o Faurisson alega no texto porco que escreveu e que as groupies do movimento revinazi repetem, o Wiesel ouviu sim falar em gaseamentos. E sendo redundante novamente, as pessoas eram gaseadas em câmaras de gás.

O livro foi reeditado em 2006, a edição usada acima é a nova, mas eu verifiquei em uma versão anterior do livro o trecho acima pra ver se houve alguma alteração e se encontra igual.

Esta é a primeira parte da série, aguardem que vem mais.

Notas

[1] "A Prominent False Witness: Elie Wiesel", texto do "revisionista" francês Robert Faurisson no site do IHR.
[2] "Night", Elie Wiesel, edição de 2006, versão digital, página 68, em inglês.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A "técnica" do negacionista Faurisson de "revisar" a História do Holocausto

Graças a atitude intempestiva e tola de um "revisionista"(negador do Holocausto) querendo mostrar que "sabia o que estava dizendo" e de que "iria demonstrar" que o Holocausto não ocorreu, o mesmo acabou de forma indireta ajudando a descobrir mais uma picaretagem dos ditos "revisionistas" do Holocausto(negadores do Holocausto).

Ele ao citar trechos das memórias de Hoess sem checar antes os trechos no arquivo orginal, acabou por "entregar" a técnica do Faurisson("revisionista" francês) de usar textos sem citar as notas que o livro contém que são comentários explicativos em cima do texto. Com uma simples checagem no arquivo original a pessoa encontra a omissão das notas, que claro, os "revis" não citam porque sabem que a maioria das pessoas não irá verificar quando ver um texto "rebuscado" demais ou mais longo.

As notas são acréscimos excenciais ou explicações adicionais em cima do texto do livro, omitidas pra dar a impressão de "estudo sério" do dito negacionista francês Faurisson, negacionista ou picareta, como queiram.

É dessa forma que os "revis" dizem que "revisam" a História, quando não distorcem algo escrito, deliberadamente omitem fontes ou inventam.

O trecho das memórias citado por "revis":

http://www.ihr.org/jhr/v07/v07p389_Faurisson.html
Do link do IHR: "At my first interrogation, evidence was obtained by beating me. I do not know what is in the record, although I signed it. Alcohol and the whip were too much for me. The whip was my own, which by chance had got into my wife's luggage. It had hardly ever touched my horse, far less the prisoners. Nevertheless, one of my interrogators was convinced that I had perpetually used it for flogging the prisoners."
Indo ao arquivo original do livro, a gente encontra algo 'a mais': as notas. Os trechos omitigos(as notas)pelos "revis" são destacados abaixo em vermelho, e são bastante importantes para a compreensão e validação do texto:
Livro: "At my first interrogation, evidence was obtained by beating me. I do not know what is in the record, although I signed it.

A typewritten document of eight pages, which Hoess signed at 2:30 a.m. on March 14, 1946. It does not differ substantially from what he later said or wrote in Nuremberg or Cracow.

Alcohol and the whip were too much for me."
Segunda parte onde o Faurisson omitiu a nota(em vermelho também):
IHR: "After some days I was taken to Minden-on-the-Weser, the main interrogation centre in the British Zone. There I received further rough treatment at the hands of the English public prosecutor, a major."

Livro: "After some days I was taken to Minden-on-the-Weser, the main interrogation center in the British Zone. There I received further rough treatment at the hands of the English public prosecutor, a major.

See page 16 of Lord Russell's Introduction for details of this interview.
"
Ou seja, o comentário sobre as notas e da importância delas, e que justamente por essa razão foram propositalmente omitidas pelo revimané(negacionista) francês, na primeira nota diz que Hoess assinou um documento de 8 páginas em 14 de março de 1946 que não diferia substancialmente do que ele disse ou escreveu mais tarde em Cracóvia e em Nuremberg (julgamento). Na segunda nota se pede pra que leiam a página 16 da introdução do livro feita pelo Lord Russell para detalhes desta entrevista. O arquivo está em inglês.

Conclusão: se alguém conhecer um "pesquisador"(entre aspas pra indicar que se trata de um picareta) que fica omitindo notas pra "ter razão" de forma falsa naquilo que lança como "tese", favor avisar.

Fica aqui mais um registro da forma como os ditos "revisionistas" do Holocausto(e considero o termo "revisionista" equivocado pois é usado pra confundir com revisionistas, sem aspas, até porque eles são de fato negacionistas) "revisam" a História da Segunda Guerra com intuito deliberado de negar fato histórico omitindo notas.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Carta de David Cole sobre Faurisson e Roques - Parte 1 - Introdução

Introdução por Jamie McCarthy


(grifos do tradutor)


David Cole, o único conhecido “revisionista” judeu, recentemente respondeu às críticas de seus “colegas”, especificamente Robert Faurisson e Henri Roques, em uma carta de dezesseis páginas. Ele descreve uma enxurrada de críticas a Robert Faurisson e o auxílio e a cumplicidade deste com outros “revisionistas” como Bradley Smith e Mark Weber. Como o Sr.Cole descreve, ele tem respondido em privado por muitos anos, mas agora sente que é a hora de jogar ao ar suas frustrações com o movimento “revisionista”, e em particular com Faurisson, publicamente.

As primeiras sete páginas da carta são dedicadas a atacar os pontos que Faurisson fez no passado. Nas próximas seis páginas depois de Cole defender sua reputação contra os encargos de Faurisson e a confecção de roubo – um pouco confusa porque eu não tinha visto a história do roubo, e Cole argumenta sobre pormenores que não significam nada pra mim. De qualquer maneira, em toda a carta, particularmente do início ao fim, o Sr.Cole cria um Faurisson bastante desonesto. Estou contente por ver que ele de repente decidiu revelar as dúvidas que ele tinha de todos esses anos, embora eu não entenda porque ele esperou tanto tempo. Dirijo-me a ele uma carta resposta de oito páginas, que vai seguir em um artigo separado.

Para despertar a sua curiosidade, aqui estão alguns trechos da carta de Cole:

...muitos dos pontos que Faurisson fez sobre o Krema I são perigosamente fraudulentos.

...eu tinha acreditado, após uma meticulosa investigação das alegações de Faurisson, que as “garantias” de Faurisson não devem ser aceitas sem críticas, mas imediatamente bastante suspeitas.

“Revisionistas” querem os dois lados, eles querem: A) alegação que o Krema I no seu estado atual é uma criação pós-guerra e B) utilização do Krema I no seu estado atual como prova de que gaseamentos não poderiam ter ocorrido no mesmo.

Faurisson ALTEROU seu fax e MUDOU a história...substituindo a palavra “forno” por “câmara de gás”.

...como já demonstrado, Faurisson não está por cima, alterando seus próprios textos se a situação exige...

(Historiadores vêm dizendo isso acima hà anos).

Para ouvir Fritz [Berg]["revisionista"] dizer que, Faurisson foi duro com ele em manter seus artigos fora das publicações revisionistas. E o crime de Fritz? Ele se atreveu a apontar alguns erros factuais de Faurisson.

O vídeo de minha viagem de 92 nunca foi vendido, apenas dei livremente para os simpatizantes mais próximos de Bradley [Smith].

(Dan Gannon ["revisionista"]disse em outubro de 1994 que vendeu por US$ 50,00)

Cada vez que eu salientei minha oposição ao racismo e nazismo, cada vez que eu salientei que minhas visões revisionistas eram produto da curiosidade intelectual e não pró-fascistas, eu fui abraçado ainda mais pela extrema-direita, porque, afinal, quem melhor ter como aliado do que alguém do campo oposto?

...pessoas que à meses anteriores davam-me o ridículo elogio como “grande homem” estão agora a dar-me igualmente o ridículo desprezo por ser um “vira-casaca” agora que eu ousava sair do padrão do dogma.

(“Dogma”? O impulso motivador do “revisionismo” do Holocausto é a suposição de ser anti-dogma!)

Eu estou realmente perplexo pela surpresa que alguns de vocês [negadores do Holocausto] estão demonstrando sobre as minhas declarações sobre Struthof. Parem de agir com se estivessem trombando, rapazes. Um dia me deixaram claro que sou esquerdista, mestiço, judeu ateu que não tem lealdade a nenhum dogma e que iria concordar com prazer que haviam câmaras de gás, se a prova pudesse ser encontrada. Não é culpa minha se alguns de vocês pensaram que eu estava dizendo essas coisas só para enganar o público e privadamente eu era “um de vocês”.

Faurisson está...citando uma passagem, e em seguida DIZENDO-NOS aquilo que acabou de ler, na esperança de que nós não iremos notar qualquer incongruência entre a passagem e a explanação dele. Faurisson está citando uma passagem que fala em parte de extermínio – PELO MENOS em parte, e então ele nos DIZ que temos de fato, NÃO TEMOS que ler o que nós lemos...

Acho que existe uma probabilidade muito elevada com base no meu próprio e rigoroso padrão de provas documentais, que a câmara de gás de Struthof foi realmente utilizada para matar judeus...

Em uma carta para mim, Sr.Cole também atacou o seu antigo colega de trabalho, Bradley Smith, por defender Faurisson à partir de sua crítica. Mark Weber, Robert Countess e o próprio Faurisson também são atacados por Cole. Aparentemente, todos eles pensam que as críticas à Faurisson deveriam ser poupadas devido ao seu sofrimento às mãos do governo francês e assim por diante.

Estranho. Contrasta isto com a sidebar de março de 1995, item do “Relatório Smith”, em que o Sr.Smith escreve:

Aqueles que protestam que é mais importante ser “sensível” para com os “sobreviventes”[do Holocausto] do que ser verdadeiros com os registros históricos representam uma visão do mundo que é estrangeiro para uma sociedade livre.

Mas quem pensa que é mais importante ser sensível ao sofrimento de negadores do Holocausto do que verdadeiros...isso é perfeitamente correto, aparentemente, de acordo com o Sr.Smith.

Na sua carta, o Sr.Cole justamente salienta que os sobreviventes do Holocausto sofreram muito pior sofrimento do que Faurisson já conheceu.

Gostaria de postar a carta na Usenet, mas estou aguardando autorização do Sr.Cole (novamente, ver minha carta resposta). Gostaria também de incluir toda a questão do “Relatório Smith” de março aqui, o que inclui a curta nota de Faurisson assim como a longa resposta de Cole, que precedeu a disputa Cole-Faurisson que transparece abaixo. A taxa de revelação-por-palavra é inferior à carta de 16 páginas de Cole, porém, não posso por-me a escrevê-la por agora. Talvez quando eu tiver mais tempo.

Favor notarem que a publicação de minha carta aqui, sem apreciação e comentários, não é certamente pelo endosso da posição do Sr. Cole. Minha falta de comentário é devido à falta de tempo, e não à falta de parecer. Isso leva o dobro de tempo para a longa discussão da “teoria da conspiração do roubo de Cole” das páginas 8 a 13, que considero absolutamente absurdas e indignas de mencionar – mas aqui eu gostaria de apresentar a carta de Cole na sua totalidade, além do mais, isto é aparentemente o assunto que levou o Sr. Cole a escrever esta carta a todos.

Todas as observações entre colchetes (números de página e “sic”s) são meus. Quaisquer erros não assinalados com “[sic]” são meus. Dois erros assinalados com “(sic)”, são de Cole e “sic” para erros de Faurisson. E agora, a carta em si:



**Comentários: A carta está sendo traduzida e será publicada em breve, antes eu gostaria de saber o que os "revisionistas" têm a dizer sobre a carta, e também a repercussão da mesma.

Fonte: The Nizkor Project

Arquivo: http://www.nizkor.org/ftp.cgi/people/c/cole.david/cole-vs-faurisson-struthof

Tradução: Leo Gott

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O que os soviéticos sabiam sobre Auschwitz - e quando. Parte 4: "Revisionistas" e o artigo de Boris Polevoi



Artigo de Sergey Romanov traduzido à partir do link: http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/08/what-soviets-knew-about-auschwitz-and.html

Mesmo antes de estudar esses livros, vou ler uma tradução em alemão de um artigo que eu também tenho de Vogt. Ela apareceu no jornal do partido comunista soviético, Pravda, em 2 de fevereiro de 1945, uma semana depois da libertação do campo de concentração de Auschwitz pelo Exército Vermelho.(Quatro anos depois eu tenho que lembrar do russo original). O autor deste artigo é o repórter judeu-soviético Bóris Polevoi, que visitou Auschwitz imediatamente após a libertação, ele escreveu sobre: “linha de montagem instalada onde centenas de pessoas foram mortas simultaneamente com corrente elétrica”. Polevoi também mencionou câmaras de gás no setor oriental de Auschwitz. Hoje em dia, ninguém afirma que os alemães fizeram uso de corrente elétrica para matar pessoas, e segundo a versão oficial Holocausto, as câmaras de gás estavam em Auschwitz Birkenau, a oeste do acampamento principal, e não no setor oriental.

Após ter lido este artigo os “revisionistas” sabiam que eu estava certo: A história das câmaras de gás e de extermínio em massa havia sido forjada pelos propagandistas, e as primeiras versões não coincidem com as posteriores.

Nesse dia, 29 de abril de 1991, eu decidi dedicar a minha vida a lutar contra as fraudes cada vez mais monstruosas concebidas pelos cérebros humanos.

Assim foi o ponto de partida de Jurgen Graf, foi o artigo de Bóris Polevoi.

Não sei por que pede Graf chamou Polevoi de judeu (não encontrei nenhuma prova diste), e por que sua etnia deveria ser problema. Podemos analisar o significado de seu suposto artigo sobre os seus próprios "méritos".

Artigo de Polevoi no Pravda. Cortesia de Carlo Mattogno.

Nos círculos "revisionistas" o artigo foi "descoberto" por Robert Faurisson e traduzido para o inglês por "Samuel Crowell" (Alan Buel Kennady) e pode ser encontrado aqui.
"Crowell" descreve o seu significado para "revisionistas" assim:

O que é mais marcante sobre este relatório impresso é que ele está totalmente em desacordo com a versão de Auschwitz que temos vindo a conhecer, substituindo as tradicionais atrocidades gravadas por outra completamente imaginária. O primeiro observador não-anônimo do campo de Auschwitz poderia ser medido a partir da atual narrativa, não fala só da imprecisão do presente relatório inicial, mas também como artifício dos outros subseqüentes.

Este é o usual “modus operandi” dos “revisionistas”. Se algum jornalista ou até mesmo um estudioso comete um engano, eles contam como uma “estória do Holocausto”. Se a interpretação está errada, os dados adjacentes também estão errados!

Felizmente, temos documentos soviéticos suficientes para decisivamente desmerecer esta baba "revisionista". Eu já tenho muitos deles nesta série e constatei que eles geralmente correspondem à versão estabelecida (tendo em conta os inevitáveis erros e exageros e etc). O Exército Vermelho foi acurando mais ou menos as informações sobre Auschwitz. Também os serviços de inteligência soviéticos. Obviamente a descrição incorreta de Polevoi não é importante.

Ainda hà outro relatório escrito sobre Auschwitz, na mesma época – o relatório de Komsomol'skaja pravda do correspondente Sergey Krushinsky, que viajou para Auschwitz com Polevoi. [grifos do tradutor] Não tenho certeza se o relatório de Krushinsky foi publicado, mas isso não é desculpa, os negadores deveriam tê-lo encontrado, i.e. USHMM. Uma cópia do relatório que eu tenho é dirigida ao major-general Yashechkin, mas está escrito como se fosse um artigo de jornal. É impreciso, mas sabemos que a partir de outro relatório de Krushinsky para Yashechkin em 31/01/1945 que ele estava em Auschwitz em 29 e 30 de janeiro. Em um curto relatório de 31.01.1945 Krushinsky nota entre outras coisas que:

Os internos estão em estado de ignorância sobre as questões mais dolorosas – ordem para sair dos campos, retorno às suas pátrias, etc. Uma vez que quase todas essas pessoas estão mentalmente doentes, e os rumores que rondam por aqui, e até mesmo a calúnia alemã, segundo a qual os doentes internados em Majdanek, foram exterminados pelas tropas soviéticas, é lembrado por aqui.

Alguns desses rumores poderiam ter sido a fonte da descrição de Polevoi, ou então, a sua rica fantasia e/ou também algum mal entendido que alguma pessoa não esclareceu.

Em um longo (impreciso) relatório para Yashechkin Krushinsky ele cita vários depoimentos dos internos, e uma parte de sua descrição do processo de extermínio nos crematórios, em sua maioria corresponde ao que sabemos hoje sobre os gaseamentos nos crematórios II e III:

Um grupo de prisioneiros foram levados para a câmara. A porta foi hermeticamente fechada, e o gás foi introduzido. Após 8 minutos de ventilação a cremação dos corpos começou. O gás que era usado aqui tinha o nome de “Zyklon-B”. É um produto de ácido prússico. Várias latas deste veneno foram deixadas nos armazéns, e os internos que trabalharam na destruição da fábrica da morte, antes da evacuação do campo [i.e. os membros do Abbruchkommando do crematório] recordam como as câmaras eram equipadas. Latas do gás eram atiradas pelo teto e quebravam no chão. De modo que os internos aspirassem fumaça e que o gás se espalhasse, as latas não caíam livremente, mas dentro de uma coluna de malha metálica.

Embora a sua descrição das colunas de introdução do Zyklon-B não é inteiramente correta, (o Zyklon-B não era atirado diretamente no chão, mas sim despejado na parte interna [NT: da coluna], de forma que pudesse ser introspectivo) a menção de tal detalhe é notável.

Conforme observou Krushinsky, inúmeros boatos estavam flutuando por lá, e ele próprio relatou alguns fatos, (e.g. ele descreveu sucintamente uma câmara de gás construída acima do crematório, em que os corpos eram jogados para baixo depois do gaseamento através de aberturas nos fornos). A precisão da informação dependeria do “grau de separação” da pessoa que está relatando o rumor e a da fonte primária. Obviamente, quanto maior a “distância” entre os dois, mais a informação tenderá a ser distorcida. Estes rumores incorretos não desacreditam o relatório de Krushinsky – partes de relatos de testemunhas oculares (testemunhas imediatas), como a informação sobre as colunas e dos membros do Abbruchkommando têm mais credibilidade do que um boato absurdo sobre uma câmara de gás à partir de uma fonte sem nome.

A partir dos relatórios de Krushinsky e Polevoi podemos ver que estes correspondentes soviéticos foram confrontados com uma massa de informações de diferentes credibilidades à sua chegada em Auschwitz. Eles "ordenaram" e relataram de acordo com suas próprias parcialidades, intuição, o senso comum, e sim, propósitos de propaganda. O relatório de Krushinsky com todos os defeitos é várias vezes mais credível que o de Polevoi, mas o último foi publicado no principal jornal soviético, e atraiu a atenção dos “negadores”, que não deixaram de criar uma grande propaganda [sensacionalista] em torno dos erros gritantes, ignorando (ou melhor, sendo ignorantes) os mais credíveis, os relatórios internos do Exército Vermelho e da NKGB.

Na verdades, se eles se familiarizassem com os documentos publicados nesta série, Crowell não teria escrito o seguinte:

Existe uma grande surpresa para esta narrativa: em primeiro lugar, é completamente diferente do relatório da Comissão Especial sobre Auschwitz. Esse relatório por sua vez iria mostrar a influência do relatório da Diretoria de Refugiados de Guerra (WRB) de 26 de Novembro de 1945 [sic!]. Uma conclusão óbvia é que a narrativa soviética de Auschwitz subseqüente a este relatório, criou uma harmonia com as várias mensagens anônimas que incluía o relatório da WRB. No entando, o relatório de Polevoi mostra outras influências e conexões.

É claro que a “narrativa soviética de Auschwitz” foi revisada, e o relatório da Comissão do Departamento Político do 1º Front Ucraniano que investigou Auschwitz de 1º a 5 de Fevereiro de 1945, geralmente corresponde ao último relatório da Comissão Extraordinária.

O pomposo disparate pós-modernista não esconde o fato que os “revisionistas” simplesmente não fazem uma boa pesquisa sobre o tema.

Como de costume.

[Eu gostaria de agradecer ao Dr. Joachim Neander por me fornecer os documentos usados neste capítulo.]

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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Doha, Goebbels e o "Revisionismo"

A Profa. Ania Cavalcante analisa em seu artigo a total inadequação da citação do chanceler brasileiro, Celso Amorim na Rodada Doha, onde o ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels foi mencionado. Ania ainda analisa como isto pode ser fruto de uma sociedade que talvez esteja tolerando o anti-semitismo e as manifestações revisionistas.

Ania Cavalcante é doutoranda com tese sobre Holocausto em História na USP, pesquisadora e professora do módulo "Holocausto e Anti-Semitismo" do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância (LEI) da USP, estagiária do Curso "Holocausto e Literatura" da Literatura Hebraica da USP e professora nativa de Lingua Alemã. Foi bolsista em Seminário e Conferência sobre Holocausto pelo Yad Vashem de Israel.

Foi com indignação que li as notícias a respeito da lastimável declaração do atual ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, feita no dia 19 de julho, ao citar uma frase do chefe da propaganda no governo nazista, Joseph Goebbels. Fez-me pensar que, enquanto a realidade da fome assola partes do mundo, um fantasma ronda as políticas nacional e internacional brasileiras. Enquanto a fome mata 6 milhões de crianças por ano no mundo, outras 6 milhões de vítimas - judias - do Holocausto são reiteradamente desrespeitadas, além das outras vítimas do nazismo.

Durante uma entrevista coletiva à imprensa concedida na sede da OMC (Organização Mundial de Comércio) em Genebra, o ministro brasileiro Celso Amorim afirmou que "Goebbels sempre dizia que quando se repete uma mentira muitas vezes, ela se torna verdade" („wenn man eine Lüge oft genug wiederholt, wird eine Wahrheit daraus”). A infeliz citação ocorreu, em Genebra, às vésperas do começo de uma semana da Rodada Doha de negociações da OMC destinada a alcançar um acordo sobre a liberalização do comércio, e foi feita em resposta ao comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, que acusara o Brasil de "estar sempre por trás" das dificuldades de negociação da OMC, de afirmar que o Brasil e outros “países emergentes”, deveriam assumir responsabilidades e não só exigir concessões dos países ricos. Foi então que Celso Amorim buscou em Goebbels um argumento para criticar a atitude dos Estados Unidos e da União Européia, países que afirmam ter feito ofertas generosas no comércio de produtos agrícolas, enquanto os demais países fizeram muito pouco para abrir seus mercados aos produtos manufaturados. Ou seja, de que os EUA e UE estão oferecendo pouco em termos de liberalização agrícola e cobrando muito em concessões no setor industrial.

A declaração do ministro brasileiro, comparando a tática de negociação de UE e EUA na OMC com a do chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels, sugerindo que os EUA e a Europa se portam como os nazistas em termos comerciais é preocupante e inaceitável. A primeira reação à imprudente declaração de Celso Amorim, na qual compara a negociação dos países ricos sobre a Rodada Doha com a propaganda nazista, foi a da representante comercial dos Estados Unidos, Susan Schwab, judia e descendente de sobreviventes do Holocausto, que no dia seguinte (20 de julho), através de porta-voz Sean Spicer, afirmou que, “para alguém que é ministro de Relações Exteriores, ele deveria estar mais atento para alguns pontos sensíveis”. Afirmou também que a fala de Amorim era “inacreditavelmente errada, além de qualquer imaginação, elas {as declarações} são insultuosas". Classificou ainda o ataque de “pessoal e baixo” e afirmou: "Estamos todos aqui para negociar de forma efetiva e esse tipo de comentário maldoso não tem lugar nessas negociações".

Segundo o porta-voz de Celso Amorim, Ricardo Neiva, citado pela Reuters, o ministro lamenta que Schwab ou qualquer outra pessoa tenha se ofendido com os seus comentários. O ministro brasileiro pediu desculpas pela declaração, porém manteve sua postura de citar o nazista. "Se ofendi alguém, eu lamento, não foi minha intenção. Mas mantenho: repetir uma distorção faz com que as pessoas acreditem que ela é a verdade", disse.

O lamentável comentário teve repercussão na imprensa mundial. O The Wall Street Journal disse em um artigo que a declaração de Amorim é “absurda e realmente preocupante, vinda de um diplomata moderado”, enquanto o jornal The New Zealand Herald afirma que a declaração de Amorim é “potencialmente um incidente diplomático”, acrescentando que “o comentário motivou uma pronta resposta dos EUA, cuja representante comercial, Susan Schwab, é filha de sobreviventes do Holocausto”. Mas é claro que a menção irresponsável de um nazista, ainda mais na Europa, além de imprudente, vergonhoso e inaceitável, feriu não só a Susan Schwab, os descentes de judeus do Holocausto, mas toda a comunidade judaica mundial e todos com um mínimo de bom-senso.

Em 21 de julho, Susan Schwab pôs de lado o comentário de Amorim e disse que "esta não é a hora nem a semana para cair de novo em retórica ultrapassada - destinada a perpetuar velhas divisões e criar outras novas”. Durante entrevista no primeiro dia da retomada das negociações da Rodada Doha de liberalização do comércio mundial. "Estamos esperando para ver contribuições de outros, inclusive dos mercados emergentes mais significativos", para que se chegue a uma conclusão bem sucedida da rodada, afirmou. O principal problema da Rodada Doha, ou seja, do comércio mundial, é a preocupação de cada país nos efeitos de uma política liberalizante que supostamente trariam desemprego em países que não estão aptos a concorrer de forma igual. A Rodada Doha durou sete anos e fracassou de novo, a 29 de julho, quando a Índia e a China abandonaram novamente a sala de negociações, e esse reiterado fracasso pode representar o colapso definitivo da Rodada de Doha. Certo é que atualmente a fome assola vidas humanas com a inflação dos produtos agrícolas, enquanto a manipulação histórica ronda o mundo.

"Revisionismo", desrespeito e os veículos de massa

O século XX foi marcado por formas de opressão e violência que custaram a vida de milhões de pessoas, sendo o regime nazista e o Holocausto o paradigma e expressão máxima da barbárie humana, que arrasaram do mapa parte de uma geração, parte de uma História. Por outro lado, também representou máxima expressão de resistência e solidariedade humanas por parte de suas vítimas, representando a fé na humanidade. O século XXI, por sua vez, se inicia com uma tentativa de apagar a memória, com o reiterado desrespeito à memória e à dignidade humanas, e de jogar a História na lata do lixo, manipulando “aquilo que aconteceu” – “was geschehen ist”, como definiria o poeta judeu-alemão Paul Celan, sobrevivente do Holocausto. E o ministro brasileiro se une àqueles que desrespeitam a memória e a História.

Foi justamente em um ministro da Alemanha nazista que o ministro brasileiro se inspirou. A ofensa não foi à Susan Swab somente. Mais do que uma ofensa, uma declaração inadequada, um reflexo do desrespeito às vitimas do Holocausto – os judeus foram as maiores, mas houve outras vítimas, que não devem ser esquecidas. Nem a memória apagada, nem a História desconsiderada ou manipulada. O Holocausto foi o fenômeno histórico da discriminação, exclusão sócio-econômica, expropriação, da perseguição, tortura e extermínio de 6 milhões de judeus entre 1933 e 1945 pelo regime nazista na Alemanha e Europa ocupada, o que representava 66% dos judeus da Europa, 1/3 dos judeus do mundo. O regime nazista também vitimou 1,5 milhão de inimigos políticos, 3 milhões de prisioneiros de guerra, 20 milhões de russos (centenas desses incluídos na categoria de inimigos políticos e prisioneiros de guerra), 600 mil sérvios, 500 mil ciganos, 200 mil poloneses, 200 mil maçons, 15 mil homossexuais, 5 mil testemunhas de jeová, e muitas outras vítimas.

O Ministro brasileiro citou um dos maiores ideólogos nazistas, Joseph Goebbels, que foi Ministro de Propaganda e Informação Pública da Alemanha nazista durante a existência do regime nazista, de 1933 a 1945. Tanto Goebbels, como Adolf Hitler reconheciam o enorme potencial oferecido pela propaganda na veiculação da ideologia nazista e para a conquista das massas. O poder da propaganda nazista tornou-se maior, em decorrência da censura e do monopólio da violência e dos meios de comunicação.
O ministro Goebbel, citado pelo ministro brasileiro, manipulou a rádio e os filmes de propaganda, onde buscou disseminar as idéias anti-semitas e racistas, para angariar o apoio popular ao infame regime nazista, de cunho anti-semita, nacionalista, expansionista, xenófobo, explorador e assassino. E é na idéia central, o pilar desse ministro – a farsa composta de mentiras contadas e recontadas – que o ministro brasileiro se inspirou.

Mais do que um desrespeito às vítimas do Holocausto e do nazismo, aos sobreviventes e, por que não dizer, ao bom-senso. Se fosse ministro em outro país, poderia ser destituído justificadamente, por isso (na Alemanha, o seria com certeza). Basear-se em idéias-chave de um regime como o nazista e repeti-las é vergonhoso. Joseph Goebbels foi um dos defensores do nazismo, um dos maiores propagandistas do nazismo e manipuladores da História, um criminoso. Foi ele quem, a 10 de maio de 1933, ordenou uma “queima pública de textos judeus nocivos” em frente a Universidade Humbolt de Berlim, com o objetivo de “nazificar” a arte e a cultura da Alemanha. Aproximadamente 20 mil livros foram queimados, incluindo livros de autores não-judeus como Heinrich Mann, Betold Brecht, Erich Kastner e muito autores judeus como Albert Einstein, Karl Marx, Sigmund Freud, Franz Kafka, Stefan Zweig, e Heinrich Heine. Este último, tinha escrito um século antes: “Onde se queimam livros, alguém dia também serão queimados seres humanos”. E na Alemanha nazista e Europa por ela ocupada, lamentavelmente, foi o que ocorreu.

O primeiro pogrom do século XX foi uma elaboração de Goebbels, que teve a idéia de utilizar o atentado contra o diplomata alemão Von Rath em Paris cometido pelo jovem judeu Herschel Grynszpan para realizar um violento pogrom contra os judeus da Alemanha na noite de 9 de novembro de 1938 denominado de “A Noite dos Cristais Quebrados” (Kristallnacht). Herschel Grynszpan cometeu o atentado como forma de expressar sua indignação ao saber, no início de novembro de 1938, que sua família e outras centenas de judeus com cidadania polaca haviam sido deportados a 27 de outubro da Alemanha para a Polônia, para uma região na fronteira, uma terra de ninguém, porque nenhum dos dois países queria ficar com eles. Se por um lado essa deportação representou a primeira deportação massiva de judeus pelo regime nazista, efetuada pela SS (SS é a abreviação de Schutzstaffel, Tropas de Proteção, as tropas de choque da polícia política do regime nazista), a Noite dos Cristais Quebrados constituiu um episódio de finalização de um período de exclusão social, expropriação econômica e de incentivo à imigração judaica, representando o início da violência física em massa contra os judeus e a deportação para os campos de concentração.

A extensão e gravidade da Noite dos Cristais Quebrados foi clara: 91 judeus morreram nesta noite e nenhum assassino foi julgado. As 400 sinagogas ainda existentes na Alemanha foram queimadas e destruídas. 7500 lojas de judeus foram quebradas ou saqueadas, com um prejuízo de muitas centenas de milhões de marcos. 26 mil judeus foram presos e levados a campos de concentração. Foi imputada uma multa coletiva de um bilhão de marcos aos judeus para pagarem os seus próprios prejuízos, que posteriormente foi aumentada. E esse episódio foi divulgado em jornais do mundo inteiro. E foi a partir desse momento, que os judeus foram completamente banidos da vida econômica na Alemanha. As propriedades judaicas foram colocadas em contas e confiscadas pelo Estado.

Além disso, relembremos, durante a Segunda guerra Mundial, Goebbels foi o responsável pela campanha de propaganda, espalhando ódio, disseminando mentiras contra os supostos “inimigos dos alemães”, afirmando serem os judeus os maiores desses inimigos e caracterizando-os como sub-humanos. E foram as principais mentiras que ele reiteradas vezes buscou disseminar, para buscar fazer com que acreditassem nelas. E foi a essa prática, desse ministro nazista, que o ministro brasileiro citou. Algo grave, gravíssimo, vergonhoso. Não chega a ser um crime. Mas sem dúvida uma agressão.

O combate ao negacionismo, manipulação atual da História

Vivemos um tempo em que a agressão é reiterada e a História, manipulada. Um grande exemplo disso é o negacionismo do Holocausto. Entre os iranianos e palestinos, e em movimentos pró-palestinos, o negacionismo é, lamentavelmente, comum. Aqui no Brasil, há vários exemplos. Citarei um mais recente. A 26 de janeiro desse ano, foi formado em São Paulo um movimento que pretende abranger os comitês pró-palestinos no Brasil, denominado "Palestina Livre - Movimento Palestina para Tod@s". No site publicado como o primeiro artigo da seção de História, um artigo de Robert Faurisson, um francês negacionista histórico, atuante desde 1960. O artigo era encontrado no site http://www.palestinalivre.org/node/231. Eu enviei uma nota de repúdio ao site do Mopat, a representantes da comunidade judaica e palestina e a várias outras pessoas. Depois dessa campanha de denúncia, passada cerca de uma semana, o artigo foi retirado do site. Mas repudie e esclareci aos mesmos destinatários, de que havia artigos de outros negacionistas no site do movimento, como o caso de Alfredo Braga, que em um dos vários artigos disponibilizados no site, repletos de falsificações históricas, afirmava, por exemplo, que o Diário de Anne Frank era uma farsa histórica. Só recentemente, os artigos de Alfredo Braga foram substituídos por outros.

Na Argentina, em Buenos Aires, entidades pró-palestinas chamaram um ato no dia 28 de janeiro em frente à Embaixada de Israel. O ato era contra o Estado de Israel e em defesa dos palestinos, que preconizava atividades culturais, nas quais estava incluído um programa fartamente negacionista, com destaque para Faurisson (parece que está na moda dentre estes comitês), de uma virulência e manipulação histórica inaceitáveis.

O evento, felizmente, foi um fracasso, sendo cancelado por seus organizadores por falta de palestinos e simpatizantes dispostos a protestar. Mesmo assim, o programa divulgado reflete o conteúdo defendido por esses movimentos. Sem desconsiderar os movimentos de palestinos pela paz e de convivência com o Estado de Israel, há se levar em conta que governos árabes, em especial o Irã, vem investindo uma fortuna nos últimos 26 anos em incitamento ao ódio. Em recente esclarecimento a esse respeito, o jornalista da FIERJ (Federação Israelita do Rio de Janeiro), José Roitberg, explicou, por email, que “o Irã é o único financiador da universidade MAUP na Ucrânia onde fica a gráfica que produz livros revisionistas [negacionistas] em pelo menos 40 línguas. A MAUP espalhou pela Europa vários quiosques de venda desse material e há países da América Latina, como a Argentina, onde podem ser adquiridos estes materiais em qualquer livraria, sebo ou barracas de livros nas ruas. Constando desde “Mein Kampf” aos “Protocolos dos Sábios do Sião”.

O negacionismo não é crime, tampouco aqui no Brasil, como em qualquer outro país da América Latina, ao contrário da Alemanha, por exemplo, o país com a legislação mais severa nesse sentido. Não se brinca em serviço lá. Atualmente, a Alemanha é o país onde mais memoriais e museus do Holocausto há. E negacionismo, assim como reprodução de qualquer livro ou idéia de teor nazista, assim como símbolos e gestos nazistas dão cadeia. E sem atenuantes.

O uso da negação do Holocausto tem um objetivo muito claro, que deve ser combatido: ao definir que Israel é uma compensação aos judeus pelo Holocausto, se não houver Holocausto, essa compensação se torna indevida. O negacionismo causa um risco real para as comunidades judaicas, mas não causa risco para Israel. A Carta do Hamas define que todos os judeus que chegaram à Palestina após 1947 devem ser expulsos de volta aos seus países de origem e os demais, devem ser mortos. E essa retórica se ouve em outros discursos anti-sionistas.

No Brasil, a condenação de dois anos de prisão de Silfried Ellwanger Castan, fundador da Editora Revisão, que nega o Holocausto e publica livros nazistas e negacionistas, foi uma vitória, embora, por sua idade avançada, não tenha cumprido a pena na prisão.

Mas não deixou de ser uma vitória, um avanço na luta contra o negacionismo, anti-semitismo e pela dignidade humana. Dentro da legislação brasileira, o racismo é um crime, a apologia ao anti-semitismo não o é, e o revisionismo é discutível. Há que se defender a liberdade de expressão, mas deve-se combater os perigos concretos de repetições da catástrofe e de regimes como o nazista.

Em um país que ainda não criminalizada a negação do Holocausto, e onde seus ministros citam nazistas, nos faz notar a ainda vigência de anti-semitismo, e a necessidade de lutar para esclarecer sobre a completa inadequação de tais citações. Há ainda muito que se combater o anti-semitismo, o racismo, os preconceitos. Por isso, devemos ficar De Olho Na Mídia, de ouvidos bem atentos, e nunca silenciar.

Para quem considera que o nazismo e o Holocausto são assuntos ultrapassados e superados, os fatos demonstram que ainda há muito a ser debatido a respeito desse capítulo infame da História e muito ainda a combater.

Vivenciamos um período em que revisionistas tentam negar o Holocausto e até mesmo estadistas o fazem. Em que movimentos disseminam o negacionismo como justificativa de suas causas, ministros se baseiam na retórica nazista, período em que a intolerância e discriminação ainda permanecem e são um dos combustíveis, juntamente com interesses econômicos espúrios, da violência generalizada – seja física, seja verbal - a expressão da barbárie atual, que atinge a todos nós.

Nem sequer aos mortos deixam descansar em paz, tampouco descansaremos no combate ao negacionismo, anti-semitismo e anti-sionismo, e as suas diversas manifestações infames e inaceitáveis. Afinal, acreditamos na humanidade.

Fonte: deOlhonaMídia.org.br
http://www.deolhonamidia.org.br/Comentarios/mostraComentario.asp?tID=368

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