Mostrando postagens com marcador Solução Final. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Solução Final. Mostrar todas as postagens

domingo, 2 de julho de 2017

Discurso de Himmler em Posen (Poznan), Polônia, 4 de outubro de 1943 (Extermínio)

Tradução do texto do site The Holocaust History Project que atualmente se encontra arquivado no site Phdn.org (site francês) porque o site original perdeu o servidor (ficou fora do ar) e o conteúdo se perderia ou as pessoas não teriam acesso mais ao conteúdo do site original.

Este é um dos problemas da internet, a "crença" de que esses textos ficarão pra sempre na rede sem que haja manutenção e algum fundo. A tradução do texto só foi possível justamente porque uma pessoa perguntou sobre o texto em um dos posts antigos e vendo os posts, vários links estão "mortos", incluindo o link original do THHP (The Holocaust History Project) em inglês.

O discurso completo tem 3 horas de duração, abaixo segue o trecho mais relevante (ou um dos) que consta do THHP. Na página do site (arquivado) consta o texto original em alemão e a tradução dele em inglês, abaixo segue a tradução pro português.
__________________________________________________

Texto completo do discurso de Posen (Poznan)
Abaixo segue o texto completo da apresentação do Quicktime do discurso em Posen (Poznan) de Heinrich Himmler em 4 de outubro de 1943.

4 DE OUTUBRO, 1943

POZNAN, POLÔNIA

Reichsführer-SS Heinrich Himmler, o segundo homem mais poderoso da Alemanha nazista, fala aos oficiais da SS por três horas em um encontro secreto.

As gravações de Himmler sobreviveram à guerra. Está agora no "National Archives" (Arquivo Nacional) em College Park, Maryland.

O que você está ouvindo não foi editado.

Himmler finaliza falando sobre fábricas de armas.

Ele lembra a seus oficiais da lealdade que ele espera deles no extermínio dos judeus.
===========================================
"Eu também quero mencionar um assunto muito difícil para vocês aqui, de forma totalmente aberta.

Isso deveria somente ser discutido entre nós, e, portanto, nunca falaremos sobre isso em público.

Assim como não hesitamos em conduzir nosso serviço em 30 de junho, como ordenado, contra os camaradas que falharam em pé contra o muro atirando neles.

Sobre algo o qual nunca falamos, e nunca falaremos.

Ou seja, graças a Deus, um tipo de tato natural para nós, uma conclusão inevitável desse tato, que nunca conversamos a respeito entre nós, nunca falamos sobre isso, todos tremeram, e ficou claro para todos que, da próxima vez ele faria a mesma coisa de novo, se fosse ordenado e necessário.

Estou falando sobre a "evacuação judaica": o extermínio do povo judeu.

É uma das coisas que é facilmente dita. "O povo judeu está sendo exterminado", todos os membros do Partido dirão isto a vocês "de forma perfeitamente clara, isto é parte dos nossos planos, estamos eliminando os judeus, exterminando-os, ha!", um pequeno problema".

E então, todos eles virão, todos os 80 milhões de alemães corretos, e cada um deles tem seu judeu decente. Eles dizem: todos os outros são suínos (porcos), mas aqui este aqui é um judeu de primeira classe.

E nenhum deles têm visto isso, apoiou isto. A maioria de vocês saberá o que isto significa quando 100 corpos (cadáveres) ficam juntos, quando há 500, ou quando há 1000. E ter visto isso, e - com exceção das fraquezas humanas - permanecer decente, fez de nós pessoas duras e é uma página de glória nunca mencionada e nunca será mencionada.

Porque sabemos como as coisas difíceis seriam, se hoje em todas as cidades durante os atentados com bomba, os encargos da guerra e das privações, ainda tivéssemos judeus como sabotadores secretos, agitadores e instigadores. Nós provavelmente estaríamos no mesmo estágio de 1916-17, se os judeus ainda residissem no corpo (seio) do povo alemão.

Tiramos as riquezas que eles tinham, e dei uma ordem estrita, que o Obergruppenführer Pohl realizou, entregamos essas riquezas completamente ao Reich, ao Estado. Não tomamos nada deles para nós mesmos. Alguns poucos, que se ofenderam contra isso, serão [julgados] de acordo com uma ordem que eu dei no início: aquele que carrega um marco (moeda) disso é um homem morto.

Um certo número de homens da SS se ofenderam contra esta ordem. Não muitos, mas eles serão homens mortos - SEM CLEMÊNCIA! Nós temos o direito moral, nós tivemos o dever com o nosso povo para fazê-lo, para matar essas pessoas que queriam nos matar. Mas não temos o direito de enriquecer-nos com um só pelo, com um marco (moeda), com um cigarro, com um relógio ou com qualquer coisa. Que não temos. Porque no final disso, nós não queremos, porque exterminamos o bacilo (judeus), e não para ficarmos doentes e morrermos do mesmo bacilo.

Eu nunca verei isso acontecer, mesmo que um pouco de putrefação entre em contato conosco, ou que se enraíze entre nós. Pelo contrário, onde isto tentar se enraizar, vamos queimá-lo juntos. Mas, em conjunto, podemos dizer: realizamos essa tarefa tão difícil por amor a nosso povo. E não assumimos qualquer defeito (crise de consciência) dentro de nós, em nossa alma ou em nosso caráter."
Fonte: The Holocaust History Project/PHDN.org (EUA/França)
http://www.phdn.org/archives/holocaust-history.org/himmler-poznan/speech-text.shtml
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 19 de março de 2017

Os planos de (Reinhard) Heydrich no início de outubro de 1941

Não podemos dizer com certeza se Hitler decidiu no início de outubro de 1941 exterminar os judeus da Europa em campos de extermínio. Mas podemos assegurar, entretanto, que Heydrich desejava exterminá-los em áreas controladas pela Alemanha. Veja como. Em 2 de outubro de 1941, Heydrich descartou o reassentamento para o Oriente de tchecos que eram hostis à Alemanha porque "eles formariam um grupo de liderança no Oriente, que seria dirigido contra nós [denn aussiedeln kann ich sie nicht, weil sie drüben Im Osten eine Führerschicht bilden würden, die sich gegen uns richtet]". Ele afirmou que essas pessoas deveriam ser "colocadas contra a parede [sie endgültig a die Wand zu stellen]". No entanto, dois dias depois, Heydrich encontra Meyer, Leibbrandt, Schlotterer e Ehlich e reclama que as demandas de trabalho judaico impediriam um "reassentamento total dos judeus fora dos territórios ocupados por nós" [NO-1020, VEJ 7, pág. 153.: "Dies würde aber den Plan einer totalen Aussiedlung der Juden aus den von un besetzten Gebieten zunichte machen]".

Essas afirmações só podem ser conciliadas se o "totalen Aussiedlung der Juden aus den von uns besetzten Gebieten zunichte machen" de Heydrich for um eufemismo para matar os judeus nos territórios ocupados pelos alemães, porque a declaração de dois dias antes havia descartado o reassentamento de populações hostis em colônias no Leste e os judeus eram intrinsecamente uma população hostil na cosmovisão nazista, como demonstrado pela declaração de Heydrich em Wannsee que, qualquer remanescente judeu tinha de ser "tratado em conformidade, porque é um produto da seleção natural e agiria, se solto, como uma semente de um novo avivamento judaico (ver o registro da história)". Isso também é confirmado pelo fato de que Heydrich bloqueou a emigração de judeus espanhóis residentes na França para o "Marrocos espanhol", porque, segundo Heydrich, "esses judeus também estariam fora do alcance direto das medidas para uma solução básica para a Questão Judaica a ser posta em prática depois da guerra [veja a nota 17 de Browning aqui]." O plano de Heydrich era claro; a única questão é saber se, ou não, Hitler compartilhou isso até essa data; E se não, quanto tempo levou para Hitler dar luz verde?

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2017/03/heydrichs-plans-in-early-october-1941.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Heydrich's Plans in early October, 1941
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Eichmann antes de Jerusalém (Bettina Stangneth)

Em 1957, um círculo de nazistas na Argentina gravou dezenas de horas de conversas com Adolf Eichmann, com a expectativa de que elas levariam a um livro que refutaria a história estabelecida do Holocausto. Para o desgosto deles, no entanto, Eichmann passou a fazer declarações antissemitas na fita que indicavam claramente que ele desejou exterminar todos os judeus e que a política nazista tinha sido orientada para a Solução Final. Eichmann colocou uma pedra sobre a negação. Bettina Stangneth forneceu a análise mais detalhada e corretamente contextualizada deste ato revisionista suicida que é está atualmente disponível.

Eichmann declarou na fita 17 que "ainda há um monte de judeus curtindo a vida hoje que deveriam ter sido gaseados" (Stangneth, pág. 265). Mais revelador, na fita 67, quando Eichmann erroneamente pensou que a gravação havia sido concluído, ele afirmou que "se 10,3 milhões desses inimigos tivessem sido mortos, então teríamos cumprido nosso dever" (áudio aqui). Um trecho no início daquela mesma conversa identifica estes 10,3 milhões como provenientes do Relatório Korherr e diz que "[se] tivéssemos matado 10,3 milhões, eu ficaria satisfeito, e diria, bom, nós destruímos o inimigo" (Stangneth, p.304).

Em sua análise da guerra, Eichmann põe a culpa pelo fiasco em Weizmann, a quem ele chama de "Führer" da judiaria (ver pág. 11 da apresentação do julgamento T/1393). Ele afirma que "Como as coisas estão agora, desde que o destino pérfido deixou uma grande parte desses judeus vivos, digo a mim mesmo que isto é um fato consumado. Devo me curvar ao destino e providência" (transcrição do julgamento). Eichmann também discute o uso de exaustor de gases de Warthegau, como pode ser visto na página 14 de suas correções nos manuscritos, T/1432.

É, portanto, de admirar que MGK* e outros "revisionistas" evitem essas fitas e transcrições como uma poraga. A frase "eles são forjados" ou "estamos condenados/ferrados" parece apropriada.

*MGK é a sigla pra Mattogno, Graf e T. Kues, três negacionistas de destaque (nos círculos "revis") atualmente.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2014/09/eichmann-before-jerusalem-bettina.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Eichmann Before Jerusalem (Bettina Stangneth)
Tradução: Roberto Lucena

Capa do livro
Observação: a quem não leu antes, eis minha crítica (na observação deste post) a essa postura da Hannah Arent, que sempre achei furada, sobre o conceito do que ela definiu como "banalidade do mal", que sempre achei fútil e superficial. Mas não é uma crítica recente que eu faço como podem pensar por conta da data do post de 2013. A quem quiser ler os outros posts que citam a Arendt sigam a tag. Que agora a Bettina Stangneth pôs realmente abaixo a ideia distorcida da Arendt, com base nas impressões dela sobre a aparência do Eichmann num julgamento.

E qual é o problema de se manter esse tipo de opinião confrontando nomes que são literalmente endeusados, idolatrados e citados com base em "carteirada" ("quem é você pra contestar este nome consagrado"): justamente este. As pessoas no Brasil se agarram a um nome (geralmente quando citam estados ditatoriais chamando de totalitarismo, outro conceito problemático) que ouvem falar muito e fazem disso uma procissão sem sequer questionar se a afirmação dela procede ou tem sentido.

Toda vez que eu fazia essa contestação dizendo que é no mínimo fútil alguém traçar um perfil de um sociopata com base na dissimulação (certeira) que ele fez no julgamento pra passar por "pobre homem indefeso". A Arendt caiu literalmente na lábia do Eichmann no julgamento dele em Israel que era na verdade um assassino frio como todo nazista fanático, e dissimulado. Não havia banalidade do mal alguma, apenas dissimulação que ela tolamente (por romantismo e idealização) não soube identificar.

É um perigo fazer um comentário assim pois se entra fatalmente no terreno das diferenças de comportamento entre homens e mulheres, que existem, generalizando, pois nem todo homem e mulher se comportam dentro de um padrão preestabelecido embora haja sim uma certa facilidade do lado masculino em perceber certas dissimulações de homens, por um certo ceticismo com gente dissimulada, justamente por sabermos da natureza comportamental mais agressiva e violenta masculina.

A Arendt produziu uma banalização do nazismo com a ideia distorcida dela. Ainda bem que livros como este da Bettina Stangneth, depois de tanto tempo, põe abaixo essa abobrinha de "banalidade do mal". O Eichmann não era um simples burocrata bucólico, com cara de idiota (bonachão), como a Arendt deduziu erroneamente por se ater apenas à dissimulação e aparência dele, ela foi extremamente superficial e genérica ao produzir esse conceito bem furado. Eichmann era um assassino frio, dissimulado, como todo nazista fanático. Toda a máquina de extermínio nazista tinha essa característica, a maioria não entrava na mesma só por serem burocratas, o envolvimento com a ideologia do partido nazi pesava muito.

O que eu já vi de texto em português (do Brasil) citando esses livros da Hannah Arendt como referência sobre totalitarismo, dá desgosto. A crítica deve ser feita pois não é possível que as pessoas sejam tão óbvias a só usarem certos livros batidos (porque só procuram as traduções em português, nem espanhol verificam já que é um idioma próximo e fácil de ler pra quem fala português) pra entender o nazismo sem nem questionar se o conceito está errado ou não. Eu tenho tanta aversão à coisa (a repetição por comportamento de manada provoca certa irritação), que quando vejo o nome Arendt citado com a tal "banalização do mal" eu já paro de ler.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Himmler - O pior homem de Hitler (biografia)

Sempre quando dá, geralmente em posts sobre livros, eu dou umas alfinetadas nas editoras nacionais por não lançarem ou relançarem títulos importantes sobre segunda guerra, embora entenda o motivo pra deixarem isso um pouco de lado: a ênfase do público "leitor" por livros "amenos" e coisas do gênero. Mas quando lançam algo de peso vale sempre ser destacado e elogiado. Traduziram pro português a biografia em alemão do historiador Peter Longerich sobre Himmler.

Abaixo vou colocar o texto que saiu na Isto É (Revista) divulgando o lançamento, embora o livro fora mencionado aqui antes (Biografia exaustiva revela Heinrich Himmler, post de 2008) só que uma matéria apenas sobre o livro e não sobre o lançamento dele em português.

O discurso de Himmler em Posen (ou Poznan), Polônia ocupada, sobre o extermínio de judeus se encontra aqui traduzido:
Discurso de Himmler em Posen sobre o extermínio de judeus (pra ver mais posts clique na tag Discurso de Himmler em Posen)

Links em inglês:
THHP, Nizkor, Holocaust Controversies, áudio com legenda em inglês

O pior homem de Hitler

Biografia revela em detalhes o percurso sanguinário de Heinrich Himmler, idealizador dos campos de concentração nazistas que eliminaram dois terços dos judeus da Europa
Ana Weiss

Confira o trecho de um discurso feito em 1943, na Polônia, em que Himmler fala sobre o massacre dos judeus:

Adolescente mimado, baixinho e com problemas de estômago e relacionamento – que só aumentaram durante sua vida –, Heinrich Himmler sonhava empunhar uma arma no front, o que nunca aconteceu. A biografia do braço mais mortífero de Adolf Hitler, traduzida para o português, mostra que o menino de aparência doentia, o soldado frustrado, o agrônomo subalterno sem capacidade para se tornar independente dos pais foram camadas superficiais sobre o núcleo central da personalidade do organizador do genocídio nazista: o de manipulador das fraquezas humanas.

“Heinrich Himmler – uma Biografia” (Objetiva), escrito por Peter Longerich, professor de história moderna alemã na Universidade Real de Holloway, de Londres, foi considerado pela imprensa alemã e norte-americana a melhor pesquisa sobre uma personalidade da SS, a polícia-sustentáculo do regime de Adolf Hitler. O levantamento do historiador, uma das maiores autoridades em estudos do Holocausto, chega ao País em um volume de 909 páginas, que cerca por ângulos múltiplos a história do nazista de carreira, responsável direto pelo projeto de extermínio em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

No entreguerras, funcionário de uma fábrica de adubos nas redondezas de Munique, Himmler se filiou ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), ou Partido Nazista. O “frágil e apagado” filho de um funcionário público, que era sustentado pelas marmitas enviadas pela mãe, galgou uma carreira meteórica na Schutzstaffel, a SS, segundo o autor, usando de uma técnica simpática aos olhos do Führer: agradar a superiores e aterrorizar a todos que estão embaixo.

CARREIRISMO
Heinrich Himmler, em 1943, dois anos antes de ser capturado (acima), e nos anos 30, em visita a Dachau (abaixo). O modelo de prisão e
extermínio da Alemanha hitlerista lhe valeu acúmulo de cargos

Nomeado interinamente como primeiro superintendente da polícia de Munique, Himmler acelerou sua ascensão dando início às detenções em massa de civis em 1933. Foi um dos pioneiros no uso da custódia preventiva (prisão de pessoas por tempo indeterminado sem nenhum controle judicial). Subiu por isso a assessor político do Ministério do Interior, o que colocava sob a sua alçada toda a polícia política do Estado. Nesse contexto, criou, em uma antiga fábrica de pólvora na cidade de Dachau, o campo de concentração que serviu de modelo de aprisionamento, tortura, humilhação, morte e incineração dos supostos inimigos do regime hitlerista. Em menos de um mês de funcionamento, conta o livro, a palavra Dachau dispensava qualquer apresentação em território alemão.

O sucesso do empreendimento de Himmler levou à criação dos demais campos, que passaram a ocupar também outros países europeus, concentrando atividades que ajudavam-no a ter cada vez mais o Reich em suas mãos: linhas de produção de armamentos, experiências biológicas com cobaias humanas e assassinatos coletivos em câmaras de gás. Até a prerrogativa de espancar e matar prisioneiros serviu de moeda ao líder: ganhavam o direito de bater, violar e matar por decisão própria apenas os que fossem promovidos à alta patente. Subordinados só matariam com autorização superior.

ESPECIALISTA

O livro é a primeira tradução de Peter Longerich no Brasil

Um regulamento disciplinar penal criado por ele pregava que, nos campos, qualquer conduta que fosse interpretada como tentativa de provocação ou rebelião poderia ser punida com a morte. Foram milhões delas – a incineração de cadáveres em escala industrial nunca permitiu a contagem exata das baixas. Segundo o historiador, poucos homens fizeram tanto pela Solução Final – eufemismo hitlerista para a extinção dos judeus – como o soldado frustrado Heinrich Himmler.

Quanto mais temido, mais Himmler subia no pódio nazista. O autor mostra que na procura por assessores e funcionários privilegiava “existências fracassadas”, formando assim um séquito de funcionários gratos e endividados. Um deles foi Theodor Eicke, que o chefe da SS tirou “do ponto mais baixo da sua existência” para ocupar o disputado posto de inspetor dos campos de concentração. Funcionário de patente inferio da SS, Eicke recebeu a proposta de emprego quando cumpria prisão por construir explosivos para uso pessoal no horário de trabalho. Foi necessário um atestado médico comprovando saúde mental para libertar e contratar o novo subordinado. Quem assinou a liberação foi o médico Werner
Heyde, nomeado depois chefe de laudos de descendência genética (atestados da impureza racial de judeus, ciganos, testemunhas de Jeová, homossexuais, eslavos e representantes ou simpatizantes dos partidos extintos pelo regime vigente). A promoção seguinte o levou ao posto de líder das mortes por eutanásia. Hitler chamava de eutanásia a “concessão do assassinato por misericórdia diante de doenças incuráveis”. Cabia à SS detectar e diagnosticar tais deformações que “enfraqueciam a raça humana”.

O autor tenta se eximir de conclusões psicológicas sobre o líder. Mas fala de uma moral dupla e volta sempre às técnicas desenvolvidas para a humilhação e o terror, que muitas vezes transcendiam seu projeto profissional. Uma das conclusões de Longerich é que o extermínio nazista era apenas o primeiro passo de Himmler rumo a um derramamento de sangue maior. O projeto foi interrompido em 1945. Capturado pelos aliados com seus assessores, ordenou que todos permanecessem vivos (as altas patentes viviam munidas de cápsulas de cianureto para o suicídio em caso de captura). Apresentou-se ao inimigo como líder, comeu um lanche e então se envenenou, abandonando seus subordinados.

Fonte: Isto É (Revista)
http://www.istoe.com.br/reportagens/325388_O+PIOR+HOMEM+DE+HITLER

sábado, 4 de maio de 2013

Browning e a tomada de decisão no III Reich - Raul Hilberg

Abaixo, entrevista concedida a Jennie Rothenberg por Christopher Browning, historiador do Holocausto e autor de "Origins of the Final Solution", e que atuou na defesa de Deborah Lipstadt no processo movido por David Irving contra ela.

O processo de tomada de decisão no Terceiro Reich é explicado aqui por Browning, bastante próximo da idéia de Raul Hilberg.

*Observação: Abaixo consta apenas um trecho da entrevista traduzido, a entrevista inteira - em inglês - está no link da fonte.

Tradução:
...
[Jennie Rothenberg] Sua conclusão choca-se contra uma discussão do papel de Hitler na Solução Final. Você enfatiza que o entusiasmo de Hitler unia todos os tipos de pessoas -- eugenistas que queriam alcançar pureza racial, técnicos que queriam mostrar suas habilidades, políticos carreiristas que queriam progredir. Mas você também mostrou que muitas das idéias e planos específicos não vinham de Hitler, mas de seus subordinados, que captavam sinais das vagas declarações de Hitler. Você acha que aqueles líderes nazistas de segundo escalão como Himmler deveriam ser tão responsáveis quanto Hitler pelo Holocausto?

[Christopher Browning] É verdade que Hitler não tinha que ser um micro-administrador nisto. Ele podia fazer exortações, dar discursos proféticos. Estava embutido no sistema nazista que o dever ou imperativo sobre todo nazista leal era, em seus próprios termos, "trabalhar para alcançar o Fuehrer", sempre antecipá-lo e apoiá-lo, de um jeito a devotar sua vida a ele. Quando ele fazia uma profecia, sua obrigação era fazer aquela profecia virar realidade. Quando ele reclamava para si algo em termos de um objetivo vago, seu trabalho era fazer aquilo tornar-se realidade.

Isto provocou todos os tipos de iniciativas, todos os tipos de planos. Esses eram trazidos para Hitler. A alguns ele dizia "não, você não me entendeu direito". Às vezes ele mostrava um sinal vermelho. Algumas vezes ele fazia piscar uma luz amarela -- "não pronto ainda" -- e às vezes ele mostrava luz verde e dava aprovação para continuar. A pessoa que entendia melhor Hitler nisso era Himmler. Ele era o único que podia normalmente antecipar o que Hitler queria e entender o que Hitler queria dizer. É por isto que os SS ganharam poder tão rapidamente neste período, porque enquanto Himmler os estava liderando, ele se tornou progressivamente indispensável para Hitler em termos de transformar profecias em realidades.

Para um historiador, esta forma de tomada de decisão é absurdamente imprecisa. Você não pode ir até um documento específico ou uma reunião específica e dizer "Aqui é quando a decisão foi tomada." Há um longo período para Hitler dar sinais vagos, outros para entender os sinais, eles vindo até Hitler, ele afirmando que eles tinham-no entendido bem, eles voltando e fazendo planos e então trazendo-os de volta. Então o processo de tomada de decisão pode acontecer durante meses, tempo durante o qual não há um único dia ou documento que nós podemos marcar e dizer "Aconteceu aqui."

Fonte: The Atlantic
Entrevista completa: http://www.theatlantic.com/past/docs/unbound/interviews/int2004-02-11.htm
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/4929
Tradução: Marcelo Oliveira

*A observação antes do trecho fui eu que fiz, não consta do texto original da lista holocausto-doc.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Arquivos do julgamento de Eichmann

Pra quem quiser consultar e/ou vasculhar documentos, no site Nizkor, seguem os links da transcrição (em inglês) dos páginas do julgamento de Adolf Eichmann, realizado na primeira metade dos anos sessenta. Registro dos processos no Tribunal Distrital de Jerusalém.

Página inicial: O Julgamento de Adolf Eichmann
http://www.nizkor.org/hweb/people/e/eichmann-adolf/transcripts/

Indo direto aos volumes:
http://www.nizkor.org/hweb/people/e/eichmann-adolf/transcripts/Sessions/

"Bem, então, tendo sido solicitado por Sr., Meritíssimo, para dar uma resposta bem clara aqui, devo dizer que considero este assassinato, este extermínio dos judeus, como sendo um dos crimes mais hediondos da história da humanidade."
(Adolf Eichmann, 13 de julho de 1961)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Merkel inaugura memorial para ciganos vítimas do Holocausto

BERLIM — A chanceler alemã, Angela Merkel, inaugurou nesta quarta-feira um memorial em homenagem aos cerca de meio milhão de ciganos assassinados pelo regime nazista e alertou para a enorme discriminação ainda existente contra essa minoria.

O monumento, que sofreu muitos atrasos para ficar pronto, consiste em uma piscina redonda com um monólito triangular no centro no qual repousará a cada dia uma flor recém-colhida, e se localiza em frente ao Reichstag, o edifício do Parlamento, no centro de Berlim.

Uma linha do tempo sobre o extermínio nazista fica ao lado do memorial, que após 20 anos de atrasos foi finalmente construído com um subsídio do governo federal de 2,8 milhões de euros (3,6 milhões de dólares).

"Auschwitz", do poeta e compositor italiano Santino Spinelli, está gravado na borda da piscina em inglês e alemão, contando o sofrimento e a dor causados aos Sinti e Roma, dois grupos ciganos muito presentes na Alemanha.

O monumento foi projetado pelo artista israelense Dani Karavan, de 81 anos, e está localizado próximo a outros dois memoriais para as vítimas da barbárie nazista, um campo repleto de pilares para os seis milhões de judeus assassinados e um monumento menor para os homossexuais vítimas de Hitler.

Merkel, que estava visivelmente comovida durante a cerimônia de inauguração, afirmou que este capítulo terrível da história da Alemanha a enchia "de tristeza e vergonha". Ela saudou a obra de Karavan, ao dizer que seu design "fala tanto para o coração quanto para a mente".

"Este memorial lembra um grupo de vítimas que foi ignorado por muito tempo", afirmou, lembrando que o governo da Alemanha Ocidental só reconheceu o genocídio em 1982.

"Recorda a injustiça indescritível que foi infligida a vocês", afirmou à plateia, que incluía muitos sobreviventes idosos. Organizadores forneceram cobertores azuis para protegê-los do frio do mês de outubro.

"Os Sinti e Roma ainda sofrem de ostracismo e condenação", afirmou. "Proteger as minorias é nosso dever, hoje e amanhã".

"A sociedade não aprendeu nada"

O alemão Zoni Weisz, de 75 anos, lutou para conter as lágrimas ao relembrar sua fuga angustiante da deportação com a ajuda de um corajoso policial enquanto a maior parte de sua família foi enviada para um campo de concentração.

Ele disse que a Europa não estava vivendo à altura das responsabilidades competentes a ela após o assassinato dos Sinti e Roma sete décadas atrás.

"A sociedade não aprendeu nada, quase nada", afirmou. "Do contrário eles iriam nos tratar de forma diferente".

Os pais de Weisz, as irmãs e o irmão mais novo foram mortos em Auschwitz, enquanto ele sobreviveu escondido.

Os nazistas consideravam os Roma e Sinti racialmente inferiores, como os judeus, e realizaram uma campanha sistemática de opressão contra eles.

Em 1938, o chefe nazista Heinrich Himmler ordenou a "solução final da questão cigana".

Aqueles capturados na varredura foram confinados a guetos, deportados para campos de concentração e mortos. Muitos foram utilizados em experimentos médicos grotescos e esterilização forçada.

Historiadores estimam que cerca de 500.000 homens, mulheres e crianças ciganos de toda a Europa foram mortos entre 1933 e 1945, dizimando uma população com raízes na Alemanha que datam de seis séculos.

O líder do Conselho Central de Sinti e Roma na Alemanha, Romani Rose, que lidera uma comunidade de cerca de 70 mil pessoas, contestou ferozmente a referência utilizada no memorial aos "ciganos", um termo comumente usado no passado, mas agora visto como depreciativo.

Cerca de 11 milhões de ciganos vivem na Europa, sete milhões dos quais na União Europeia, assumindo o posto da maior minoria étnica do continente. Mas eles sofrem com uma pobreza desproporcional e com enorme discriminação.

A queda da Cortina de Ferro em 1989 e a expansão do Leste Europeu provocaram a migração de alguns dos ciganos para o oeste, mais rico, e países como França e Itália implementaram medidas de segurança, que incluem a destruição de acampamentos considerados ilegais.

Recentemente, Berlim manifestou seu desejo de deter essas migrações, desejando que fosse retirada a isenção de visto para os cidadãos sérvios e macedônios, muitos dos quais são ciganos.

Após o discurso de Merkel na cerimônia, um desordeiro protestou perguntando à chanceler: "O que você diz sobre os deportados? Eles também querem ficar aqui!".

De Deborah Cole (AFP)

Vídeos: Bluchannel TV e AFP


Fonte: AFP/Google
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5iwie8AZmXk-piI7yPX13CE6XUOyg?docId=CNG.ed0cb0e81492b44ee019fd55ee283104.491

Ver mais:
Alemanha cria memorial para ciganos vítimas do Holocausto (BBC Brasil/Terra)
Merkel homenageia vítimas ciganas do Holocausto (Diário de Notícias, Portugal)

sábado, 24 de dezembro de 2011

Quick Facts: "Tratamento Especial" (Sonderbehandlung)

1) - Negadores do Holocausto alegam que “tratamento especial” não significa “matar”, mas na verdade significava algo muito mais benigno. Eles também alegam que qualquer um que admitiu que “tratamento especial” significava “matar”, foi torturado pelos Aliados.

2) – No entanto neste Quick Facts – nas palavras dos próprios nazistas – mostram que “tratamento especial” claramente queria dizer “matar”. Estas declarações foram feitas pelos nazistas muito antes do questionamento dos Aliados.

Aqui temos o que Reinhard Heydrich, Chefe do Gabinete de Segurança do Reich e responsável pela “questão judaica” disse sobre “Sonderbehandlung” em 1939. Em 20 de setembro de 1939 Heydrich enviou um telegrama às sedes regionais e sub-sedes da Gestapo sobre os “princípios básicos de segurança interna durante a guerra”. (Lembrando que Heydrich foi assassinado em 1942, muitos antes das [supostas] torturas dos russos ou americanos para que ele escrevesse isso):



Zur Beseitigung aller Mißverständnisse teile ich folgendes mit: ...ist zu unterscheiden zwischen solchen, die auf dem bisher üblichen Wege erledigt werden können, und solchen, welche einer Sonderbehandlung zugeführt werden müssen. Im letzteren Falle handelt es sich um solche Sachverhalte, die hinsichtlich ihrer Verwerflichkeit, ihrer Gefährlichkeit oder ihrer propagandistischen Auswirkung geeignet sind, ohne Ansehung der Person durch rücksichtloses Vorgehen (nämlich durch Exekution) ausgemerzt zu werden.



[Tradução]


Para esclarecer todos os mal-entendidos, informo o seguinte:
...uma diferenciação deve ser feita entre aqueles que podem ser finalizados no caminho até então usual, e aqueles a quem se aplica um tratamento especial. Neste último caso, estamos lidando com circunstâncias que por causa de sua degradação, o perigo ou suas consequências para a propaganda, é apropriado sem levar em conta a pessoa, para eliminá-los através de um procedimento cruel (nomeadamente execução).


Nuremberg Document 1944-PS

E aqui é o que Heinrich Himmler escreveu em 20 de fevereiro de 1942 em uma ordem secreta para os Agentes da Polícia de Segurança e do SD em relação aos trabalhadores do leste, mais uma vez, muito antes dos americanos e russos saberem sobre:



Bekämpfung der Diziplinwidrigkeit
(4) In besonders schweren Fällen ist beim Reichsicherheitshauptamt Sonderbehandlung unter Angabe der Personalien und des genauen Tatbestandes zu beantragen.
(5) Die Sonderbehandlung erfolgt durch den Strang.


[Tradução]

Combate para disciplinar

(4) Em casos especialmente graves, o tratamento especial deve ser solicitado ao Escritório de Segurança do Reich para a transmissão das informações e dos fatos exatos do caso.

(5) O tratamento especial acontece por enforcamento.

Nuremberg Document 3040-PS


"As execuções não devem ser realizadas no campo...Se os campos do Governo Geral estão localizados nas imediações da fronteira as medidas para os prisioneiros devem ser tomadas se possível no território da antiga União Soviética para tratamento especial.”

Nuremberg Document 502-PS

Em 1943, Himmler tinha tanta certeza de que quase todo mundo tinha entendido o significado da palavra “Sonderbehandlung”, que ele ordenou a substituição no secreto Korherr Report sobre a Solução Final para a Questão Judaica. Korherr tinha usado a palavra na página 9 do documento. Aqui está o que ele recebeu do assistente de Himmler:



Der Reichsführer-SS hat Ihren statistischen Bericht über "Die Endlösung der europäischen Judenfrage" erhalten. Er wünscht, daß an keiner Stelle von "Sonderbehandlung der Juden" gesprochen wird. Auf Seite 9 muß es folgerndermaßen heißen:



"Transportierung von Juden aus den Ostprovinzen nach dem russichen Osten:


Es wurden durchgeschleustdurch die Lager im Generalgouvernement...durch die Lager im Warthegau..."



Eine andere Formulierung darf nicht genommen werden...

[tradução]

O Reichsführer-SS recebeu o seu relatório sobre a “Solução Final para a Questão Judaica Européia”. Ele deseja que “o tratamento especial dos judeus” não seja mencionado em qualquer lugar. A página 9, deve ser reformulada da seguinte forma:

“Eles foram guiados

através dos campos no Governo Geral


através dos campos de Warthegau [uma das províncias da Polônia ocupada]

Nenhuma outra formulação deve ser empregada.


Bundesarchiv, Signatu NS (neu) 1570

Todas as citações de Eugen Kogon, Hermann Langbein et al, Nationalsozialistische Massentötungen durch Giftgas, Taschenbuch Fischer Verlag, Frankfurt am Main, 1995.

O texto completo do Relatório Korherr em Alemão e Inglês pode ser encontrado em: http://www.mazal.org/Klarsfeld/Mythomania/T165.htm

Fonte: The Holocaust History Project (THHP)
Link:
http://www.holocaust-history.org/quick-facts/special-treatment.shtml
Tradução: Leo Gott

domingo, 2 de outubro de 2011

A biografia de Heydrich, o demônio louro

Se pairam dúvidas sobre Erwin Rommel ter sido "bom" ou "mau" nazista, Reinhard Heydrich está acima de qualquer discussão. O "idealizador do mal", "o demônio louro" ou ainda o "planejador do Holocausto", o general é também conhecido por sua extrema frieza. Era ele quem ordenava ações de extermínio de judeus enquanto ouvia músicas de Richard Wagner.

A primeira biografia de Heydrich, de autoria do historiador Robert Gerwarth, acaba de ser lançada na Alemanha. O livro, de 480 páginas, conta como o chefe da polícia do serviço de segurança (SD, iniciais do nome em alemão), se tornou conhecido como a "face demoníaca do mal", entre tantos outros epítetos.

Rommel e Heydrich eram militares da mesma geração, que se aproximaram do Partido Nacional Socialista por puro carreirismo.

Nas discussões entre neonazistas na internet circula a tese de que Hitler perdeu a guerra porque Heydrich morreu cedo, quando tinha 38 anos de idade, em maio de 1942, vítima de um atentado em Praga, onde era chefe do Protetorado da Boêmia, o governo de ocupação nazista instalado na capital tcheca depois da ocupação. A tese é que se Heydrich não tivesse morrido tão cedo, Hitler teria, como planejara, conquistado quase o mundo inteiro.

Heydrich recebeu de Hermann Göring a tarefa de cuidar da "solução final da questão judaica", o extermínio. Quando passou a comandar o Protetorado da Boêmia (o governo de ocupação instalado na capital tcheca), Heydrich passou a usar os métodos mais brutais para matar judeus.

- Heydrich era a combinação do pior possível: frio, carreirista, eficiente, e, ao mesmo tempo, um fanático ideológico com disposição para o crime - diz Gerwarth.

Fonte: O Globo
http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/10/01/a-biografia-de-heydrich-demonio-louro-925486305.asp

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Hitler sabia do Holocausto. "Todas as medidas contra os judeus devem ser discutidas diretamente com o Führer"

Em 6 de dezembro de 1939 Heinrich Himmler desejava discutir na chancelaria do Führer, sob o comando de Rudolf Hess, uma série de medidas contra os judeus.

O Chefe de Gabinete da Chancelaria é Martin Bormann, que está acostumado a trabalhar diretamente com Hitler e é especialista em lhe livrar de miudezas. Um ano e meio mais tarde, quando Hess decidiu voar até a Escócia, Bormann se verá recompensado con a chefia suprema da Chancelaria.

Mas regressemos a dezembro de 1939. A segunda guerra mundial tinha três meses de andamento. Está se tentando chegar a algum tipo de acordo com o Reino Unido e a França, agora que a Polônia não mais existe. Há que renegociar com a URSS as linhas de influência. E a ocupação da Polônia. As medidas as quais Himmler deseja fazer, em concreto, são sobre o que fazer com as linhas de telefone que ainda são propiedade de judeus, e se se deve adotar algum tipo de insígnia para os identificar.

A resposta de Bormann está conservada no Bundesarchiv Berlin NS 18alt/842: “o Reichshführer SS discutirá todas as medidas contra os judeus diretamente com o Führer”.

Fonte do livro: Peter Longerich: The Unwritten Order. Hitler’s Role in the Final Solution. Tempus, Charleston 2001. pg. 45-46.
Fonte: blog antirrevisionismo(Espanha)
http://antirrevisionismo.wordpress.com/2011/07/09/todas-las-medidas-contra-los-judios-han-de-ser-discutidas-directamente-con-el-fuhrer/
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Evidências de Implantação da Solução Final por Christopher R. Browning (Einsatzgruppen)

Capítulo 2 – Einsatzgruppen

5.2.3.1 Em 16 de Maio de 1942, o Dr. August Becker apresentou um relatório secreto a Walter Rauff respeito da visita de inspeção das vans de gás a ser utilizado pelos Einsatzgruppen. Os caminhões Saurer modelo grande com Einsatzgruppen C e D, ele reportou, poderiam viajar em estradas de terra somente em tempo seco e foram inúteis após chuva. Além disso, o terreno acidentado tinha afrouxado as vedações e rebites, de modo que muitos caminhões mais herméticos. Os caminhões do Einsatzgruppen D se tornaram mais conhecidos da população civil que se referiam a eles como “caminhões da morte”.(Todeswagen) Eles disfarçavam pintando as janelas laterais, mas eles não achavam que este subterfúgio iria preservar o sigilo por muito tempo.

No entanto, os maiores problemas com as vans de gás, segundo o relatório de Becker, não eram técnicos. Os homens sofreram “enormes danos emocionais e problemas de saúde” (ungeheure seelische und gesundheitliche Schäden) e queixavam-se de dores de cabeça após cada desembarque. “O gaseamento, sem exceção é realizado corretamente. Para terminar o trabalho o mais rápido possível, os motoristas, sem exceção, abrem o acelerador ao máximo. Por esta razão, aqueles que são executados sofrem com a morte por asfixia, e não, como se pretendia, descansar em paz.” O resultado foi medonho – rostos horrivelmente distorcidos e os corpos cobertos de excremento e vômito. (verzerrte Gesichter und Ausscheidungen)(103)

Apesar desses problemas, as vans de gás ainda continuavam com demanda. O chefe da Polícia de Segurança em Riga reportou em meados de Junho de 1942, um mês após o relatório de Becker, que na Bielorússia ocupada pelos alemães “um transporte de Judeus chega semanalmente e são submetidos a tratamento especial. Os três caminhões especiais que tinham em mãos não eram suficientes para este fim!” Então ele pediu um Saurer modelo grande para ao outro Saurer e aos dois caminhões Diamante do modelo pequeno.(104)

Notas:

(103) – Documento de Nuremberg 501-PS, Becker para Rauff, 16.5.42, publicado em: IMT, vol. 26, pp.103-5. (Die Vergasung wird durchweg nicht richtig vorgenommen. Um die Aktion möglich schnell zu beenden, geben die Fahrer durchweg Vollgas. Durch diese Massnahme erleiden die zu Exekutierenden den Erstickungstod und nicht wie vorgesehen, den Einschläferungstod.)

(104) - 501-PS, BdS Ostland para RSHA, II D 3 a, 15.6.42, publicado em: IMT, vol. 26, pp.106-7. (trifft woechentlich ein Judentransport ein, der einer Sonderbehandlung zu unterziehen ist. Die 3 dort vorhandenen S-Wagen reichen fuer diesen Zweck nicht aus!)

Fonte: Holocaust Denial On Trail (Christopher Browning Report)

Link: http://www.holocaustdenialontrial.com/en/trial/defense/browning/523.0

Tradução: Leo Gott

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Evidências de Implantação da Solução Final por Christopher R. Browning (Chelmno)

Capítulo 1 – Chelmno

A partir de Dezembro de 1941, os judeus do gueto de Lodz e outras cidades de Warthegau foram deportados para o pequeno vilarejo de Chelmno. Em 1º de Maio de 1942, Arthur Greiser escreveu para Himmler: “O tratamento especial de aproximadamente 100.000 judeus em meu território, em uma ação aprovada por você de acordo com o Chefe do Escritório Central de Segurança do Reich SS-Obergruppenführer Heydrich será concluído nos próximos dois ou três meses.”(100)

A conclusão desta tarefa aconteceu sem incidentes, no entanto como pode ser visto em um relatório da seção de motores do RSHA em 5 de Junho de 1942 acerca das alterações técnicas na produção de “caminhões especiais”.

Desde Dezembro de 1941, por exemplo, 97.000 foram processados na ação por três caminhões, nenhum defeito foram encontrados nos veículos. A explosão ocorrida em Chelmno deve ser considerada um caso isolado. A causa deve ser atribuída a erro do operador.(101)

As deportações de Warthegau para Chelmno continuaram em 1942 até que as províncias estivessem livres de Judeus e a população do gueto de Lodz foi reduzida para menos de 90.000.(102)

Notas:

(100) – Documento de Nuremberg NO-246, Greiser para Himmler, 1.5.42. (Die von Ihnen im Einvernehmen mit dem Chef des Reichssicherheitshauptamtes SS-Obergruppenführer Heydrich genehmigte Aktion der Sonderbehandlung von rund 100,000 Juden in meinem Gaugebiet wird in den nächsten 2-3 Monaten abgeschlossen werden können.) Nesta carta, Greiser pergunta se o Sonderkommando emregado na ação judaica poderia ser usado para liberar Warthegau da ameaça representada pelos Poloneses com “tuberculose aberta”. Himmler posteriormente deu permissão a Greiser para submeter os Poloneses tuberculosos considerados incuráveis para o “tratamento especial”. NO-249, Greiser para Himmler, 21.11.42.

(101) - II D 3 Vermerk, 5.6.42, assinado por Just, em BA, R 58/871. (Seit Dezember 19421 wurden beispielweise mit 3 eingesetzten Wagen 97,000 verarbeitet, ohne dass Mägel an den Fahrzeugen auftraten. Die bekannte Explosion in Kulmhof ist als Einzelfall zu bewerten. Ihre Ursache ist auf einen Bedienungsfehler zurückzuführen.) O relatório propôs uma série de melhorias, incluindo: (1) A instalação de duas fendas estreitas com retalhos leves que facilitem a rápida entrada de CO, evitando sobrepressão; (2) Encurtar o modelo Saurer Grande. Eles não podiam transpor o terreno da Rússia em plena carga, e portanto muito espaço vazio existiam para ser preenchido rapidamente com monóxido de carbono, e portanto o tempo de funcionamento é bastante prolongado. Um caminhão menor em plena carga pode operar com muito mais rapidez. A redução do compartimento traseiro não seria desvantajosa ao afetar o equilíbrio do peso, sobrecarregando o eixo da frente, porque, “Na verdade, uma compensação na distribuição do peso é feita automaticamente pelo fato de que a carga pesada na porta traseira durante a operação é sempre preponderante.” (Tätsächlich findet aber ungewollt ein Ausgleich in der Gewichtsverteilung dadurch statt, dass das Ladegut beim Betrieb in dem Streben nach der hinteren Tür immer vorwiegend dort liegt.); (3) Para facilitar a limpeza, buracos de oito a doze polegadas devem ser feitas no chão e munidos de uma tampa para abrir para fora. O piso deve ser levemente inclinado e a tampa equipada com uma peneira pequena. Assim, todos os “fluidos” iriam para o meio, os “fluidos finos” iriam sair, mesmo durante a operação e a “sujeira grossa” poderia ser limpa com mangueira depois; (4) uma luz protegida fortemente que funcione durante os primeiros minutos, assim a “carga” não ficariam pressionando a tranca para abrir a porta de trás quando mergulharem na escuridão em pânico.

(102) - Yad Vashem Archives, O-/79, Report of Statistical Office of Lodz on the Jewish population em 1940. Gestapo situation report, Lodz, 3.10.41, impresso em: Faschismus-Getto-Massenmord, p. 266; The Chronicle of the Lodz Ghetto, pp. xxxix and 266.


Fonte: Holocaust Denial On Trail (Christopher R. Browning)

Link: http://www.holocaustdenialontrial.com/en/trial/defense/browning/522.0

Tradução: Leo Gott

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Evidências de Implantação da Solução Final por Christopher R. Browning (Parte 1)

A – Prova Documental do surgimento do programa para matar os Judeus da Europa:

O programa Nazista para o assassinato de todos os Judeus da Europa que estavam ao alcance da Alemanha foi chamado de “Solução Final da Questão Judaica” (Endlösung der Judenfrage). Enquanto os historiadores que fizeram pesquisas exaustivas nos arquivos Nazistas sobre a política Judaica concordam que este programa foi implementado pelo regime nazista, eles não são unânimes nas suas conclusões sobre vários aspectos importantes da interpretação histórica. Em particular, eles não concordam a respeito de quando o regime nazista decidiu a política de assassinato sistemático em massa, também não concordam sobre o papel preciso de Hitler no processo decisório. Tais divergências sobre interpretação histórica, é claro, não são de todo incomum. Pelo contrário, são ocorrências bastante comuns. O que segue, é a minha interpretação sobre o surgimento da Solução Final, e não é compartilhado em todos os aspectos por outros historiadores competentes e conhecedores do Holocausto.

Na esteira do pogrom Kristallnacht, Hitler colocou Hermann Göring responsável pela coordenação da política Judaica. Por sua vez, Göring delegou jurisdição sobre a política Judaica envolvendo policiamento e emigração para as SS, e em 24 de Janeiro de 1939, Hermann Göring autorizou Reinhard Heydrich a cuidar da emigração de Judeus do Terceiro Reich.(75) Heydrich expandiu sua jurisdição para incluir a expulsão de Judeus, Poloneses e ciganos dos territórios Poloneses incorporados ao Terceiro Reich no Outono de 1939. Na primavera de 1941, Heydrich começou a organizar os Einsatzgruppen da Polícia de Segurança e Serviço de Segurança, que liderou o ataque aos Judeus Soviéticos naquele verão. Então em 31 de Julho de 1941, Heydrich expandiu ainda mais sua jurisdição, quando ele obteve autorização novamente assinada por Göring, confiando-lhe a tarefa de fazer “todos os preparativos necessários” para uma “solução total da questão Judaica” (Gesamtlösung der Judenfrage). Dentro da esfera de influência alemã na Europa. Heydrich apresentou um “projeto abrangente” (Gesamtentwurf) das medidas preliminares para essa “Solução Final da Questão Judaica” (Endlösung der Judenfrage) prontamente.(76) Esta não era uma ordem para a Solução Final, mas Heydrich, o homem que estava atualmente no comando da campanha dos assassinatos do Einsatzgruppen em território soviético ocupado, já havia autorizado a elaborar planos a respeito do destino de todos os outros Judeus sob controle alemão.

Nenhum “projeto abrangente” para uma Solução Final foi encontrado nos documentos alemães que sobreviveram após a guerra. Mas outros documentos que sobreviveram, indicam uma série de mudanças na política Judaica Nazista no outono de 1941, que juntos, constituíram um programa para assassinato sistemático em massa dos Judeus Europeus. A primeira foi uma inversão da política anterior de Hitler de que a deportação dos Judeus Alemães não aconteceria após a guerra. Em 18 de Setembro de 1941, Himmler informou ao Gauleiter de Warthegau, Arthur Greiser: “O Führer quer que o Old Reich e o Protetorado esvaziado e livre de Judeus de leste a oeste, o mais rapidamente possível.” Assim Himmler tencionou, “como o primeiro passo” (als erste Stufe), para deportar os judeus para os territórios incorporados (especialmente o gueto de Lodz) “a fim de deportá-los mais para o leste ainda na próxima primavera”.(77) Em 10 de Outubro, Heydrich em Praga, anunciou que Riga e Minsk também seriam destinos para deportação de Judeus Alemães.(78) As deportações, primeiro em Lodz, tiveram início em 15 de Outubro.

A segunda grande mudança na política alemã foi a proibição da imigração Judaica para o exterior. Em Agosto de 1941, um número de Judeus espanhóis residentes em paris foram presos, o que levou o governo espanhol a sugerir a possibilidade de evacuar todos os judeus espanhóis (cerca de 2.000) para o Marrocos Espanhol – uma proposta foi aprovada pelo Ministério das Relações Exteriores alemão em plena sintonia com a política alemã de emigração ou expulsar judeus no exterior. Em 17 de Outubro, Heydrich bloqueou a proposta espanhola por duas razões. A primeira, os espanhóis não tinham direito de colocá-los no Marrocos. Em segundo lugar, “Além disso, estes Judeus também estariam muito fora do alcance das medidas para uma solução básica para a questão Judaica ser promulgada após a guerra”.(79) Em 23 de Outubro de 1941, o Chfe da Gestapo, Heirich Müller, despachou uma circular para todos os órgãos para anunciar a ordem de Himmler, que era para parar a emigração Judaica.(80)

O que o fim da emigração Judaica no exterior para os Judeus espanhóis, mesmo que não seria “muito fora do alcance direto das medidas para uma solução básica para a questão Judaica, a ser promulgada após a guerra” quer dizer? O que a deportação dos Judeus alemães, primiro os de Lodz e em seguida de Minsk e Riga “ainda mais a leste na próxima primavera” significa? Será que eles não significam nada mais do que a expulsão para o leste da Rússia ou Sibéria depois da derrota da União Soviética, ainda na primavera de 1942? Uma combinação de três documentos que datam do final de Outubro de 1941 sugerem o contrário.

Entre 18 e 21 de Outubro de 1941, o expert em assuntos Judaicos do Ministério das Relações Exteriores, Franz Rademacher e o segundo substituto de Eichmann, Friedrich Suhr, visitaram Belgrado. Depois da viagem de Rademacher reportou que homens judeus adultos haviam sido baleados pelo exército alemão na Sérvia. Quanto ao destino das mulheres judaicas, crianças e idosos, Rademacher relatou: “Então, assim como a possibilidade técnica existe no âmbito da solução total para a questão Judaica, os Judeus serão deportados via fluvial para o campo de recepção no leste.”(81) Em suma, os Judeus deportados da Europa não deveriam simplesmente serem expulsos para o leste da Rússia, eles deveriam ser internados em um “campo de recepção” alemão, ainda não construído. Além disso, como este campo de recepção era para as mulheres, crianças e idosos, é evidente que não era um campo de trabalho.

Um segundo documento relevante é um memorando manuscrito de 23 de Outubro de 1941, que Franz Rademacher escontrou esperando por ele do Editor Internacional do Der Stürmer, Paulo Wurm, quando ele retornou de Berlim. Wurm escreveu:

Caro camarada de partido Rademacher,

No retorno de minha viagem de Berlim, eu conheci um antigo companheiro de partido que trabalha no leste sobre a resolução da questão Judaica. Num futuro próximo muitos dos parasitas Judeus serão exterminados por meio de medidas especiais.(82)

5.1.8 O que Wurm entende por “medidas especiais” para a destruição dos Judeus no leste? Em 25 de Outubro de 1941, de contrapartida a Rademacher, o Ministro do Reich para os Territórios do Leste, Eberhard Wetzel reuniu-se com Viktor Brack da Chancelaria do Führer (onde este estava envolvido com o programa de eutanásia dos doentes mentais e físicos e portadores de deficiência em hospitais e asilosalemães) e depois com Adolf Eichmann (assessor especial de Heydrich para a política Judaica). Em seguida, Wetzel elaborou uma carta e enviou para o seu chefe, Alfred Rosenberg, dizendo que Hinrich Lohse não estava contente com a iminente deportação de Judeus alemães para Riga. De acordo com Wetzel, Brack declarou-se pronto para ajudar na construção de “aparelhos de gaseamento” (vergasungsapparate) no local, em Riga. Eichmann confirmou para Wetzel que os campos de Judeus em Ricga e Minsk estavam prestes a serem criados para receber os Judeus alemães. Aqueles capazes para o trabalho seriam enviados “para o leste” mais tarde. Nestas circunstâncias não há objeções “se os Judeus que não estão aptos para o trabalho seriam removidos pelo dispositivo de Brack”, entretanto.(83)

Em suma, os documentos que sobreviveram mostram que no final de Outubro de 1941, o regime nazista: 1) pôs fim a uma antiga política de criação de uma Europa livre de Judeus através da emigração e da expulsão para o exterior; 2) tinha começado a deportar Judeus alemães para o leste em guetos onde aguardavam deportação, mais a leste na primavera seguinte; 3) estava planejando um “campo de recepção” no leste para não-trabalhadores, mulheres Judias, crianças e idosos; 4) estava planejando a destruição dos Judeus através de “medidas especiais”; e 5) estava discutindo a construção de “aparelhos de gaseamento”, em Riga, de modo que os Judeus alemães inaptos para o trabalho poderiam ser “removidos” imediatamente.

Esses documentos sugerem que uma política de extermínio sistemático, incluindo a deportação para campos de recepção e utilização de gaseamento como método de assassinato, foi tomando forma no final de Outubro de 1941, mesmo que não estivesse implementado até a primavera seguinte (após o esperado fim da guerra). As declarações de líderes nazistas, nos meses seguinte, certamente apontam para um crescente reconhecimento de assassinato em massa, sem expulsão, agora era o objetivo do regime. Em 15 de Novembro de 1941, Himmler teve uma discussão de quatro horas com Alfred Rosenberg.(84) Três dias depois, Rosenberg fez um relatório de fundo “confidencial” para a impressa alemã. Os repórteres ainda não estavam com os detalhes impressos do que estava acontecendo no leste, mas eles precisavam de fundo suficiente para que a imprensa pudesse dar o tratamento de “cor” (Farbe) apropriada, ele explicou. Entre os temas abordados por Rosenberg um deles foi a questão Judaica.

No leste, cerca de seis milhões de judeus ainda vivem, e esta questão só pode ser resolvida com a erradicação biológica da Judiaria de toda a Europa. A questão Judaica só será resolvida para a Alemanha, quando o último Judeu tiver deixado o território alemão, e para a Europa, quando não tiver um único judeu no continente europeu até os Urais. ...por essa razão é necessário expulsá-los ao longo dos Urais ou erradicá-los de alguma outra forma.(85)

Em 28 de Novembro de 1941, Hitler se reuniu com o Grande Mufti de Jerusalém. Hitler declarou: “A Alemanha estava decidida, passo a passo, para solicitar a uma nação européia ou outra para resolver o problema Judaico, e no momento adequado, uma apelação direta a nações não Européias”. Quando a Alemanha derrotou a União Soviética e interrompeu do Cáucaso até o Oriente Médio, a Alemanha não tinha objetivos imperiais próprios e apoiará a libertação árabe, Hitler assegurou ao Grande Mufti. Mas ele tinha um objetivo: “O objetivo da Alemanha seria então, somente a destruição do elemento Judeu na esfera árabe sob proteção do poder Britânico.”(86)

Em Dezembro de 1941, após a contra-ofensiva soviética em torno de Moscou, o ataque japonês a Pearl Harbor e a declaração de guerra alemã aos Estados Unidos, não poderia haver qualquer duvida que a guerra não terminaria antes da primavera seguinte. No entanto, Hitler deixou claro em um discurso para o alto escalão do Partido Nazista em 12 de Dezembro de 1941, que este não iria alterar a emergente política alemã de assassinatos em massa.

Quanto à questão Judaica, o Führer está determinado a fazer uma limpeza. Ele profetizou que, se eles fossem mais uma vez os causadores de uma guerra mundial, o resultado seria sua própria destruição. Isso não era uma figura de linguagem. A guerra mundial está aqui, a destruição dos judeus deve ser a conseqüência inevitável.(87)

Hans Frank, que participou desta reunião, voltou para o Governo Geral e explicou o que tinha aprendido em Berlim para os seus governadores de distrito e líderes de divisão.

Temos que pôr um fim aos judeus, eu quero dizer isso abertamente. O Führer quando disse essas palavras: Se a união dos Judeus mais uma vez desencadearem uma guerra mundial, então os povos que foram incitados a esta guerra não serão apenas vítimas, porque os Judeus na Europa irão encontrar o seu fim. ...Antes de eu continual a falar, eu pediria que vocês concordassem comigo no seguinte princípio: queremos ter compaixão somente para o povo alemão, e mais ninguém no mundo inteiro. Outros não tiveram compaixão de nós. Como um velho Nacional Socialista, devo dizer também: Se a tribo Judaica sobreviver á guerra na Europa, enquanto nós tivermos sacrificado o nosso melhor sangue para a preservação da Europa, após a guerra, seria um sucesso apenas parcial. Assim vis-a-vis os judeus em princípio procederão apenas na suposição de que eles irão desaparecer. Eles devem ir. Tenho entrado em negociações com a finalidade de deportá-los para o leste. Em Janeiro uma grande reunião será convocada no Escritório Central de Segurança do Reich pelo SS Obergruppenführer Heydrich. De qualquer forma, uma grande migração de Judeus serão postas em movimento. Mas o que vai acontecer com os Judeus? Vovê acredita que eles serão apresentados nos assentamentos na Ostland? Em Berlim, nos foi dito: não podemos usá-los em Ostland, no Reichskommissariat ou em qualquer outro; iremos liquidá-los mesmo! Cavalheiros, eu devo perguntar, armem-se contra qualquer sentimento de compaixão. Temos que destruir os judeus, sempre que nos deparamos com eles e sempre que for possível, a fim de preservar toda a estrutura do Reich.

Frank ainda não sabia como uma destruição sem precedentes nesta escala poderia ser feita, mas ele garantiu aos seus ouvintes que “mesmo assim vamos tomar algum tipo de ação que irá levar a uma destruição bem sucedida, e, de fato, em conjunção com as medidas importantes a serem discutidas no Reich.”(88)

O que Frank chamou de “grande reunião” em Berlim, sob a liderança de Heydrich, onde “medidas importantes” iriam ser discutidas em Janeiro, tinha sido inicialmente agendada para 8 de Dezembro de 1941, mas foi adiada para 20 de Janeiro de 1942. Conhecida como Conferência de Wannsee, que contou com a presença de Secretários de Estado, ministérios do Interior (Stuckart), Justiça (Freisler), Governo Geral (Bühler), Territórios Ocupados do Leste (Meyer e seu substituto Leibbrandt), bem como o Gabinete do Plano de Quatro Anos (Neumann), a Chancelaria do partido (Klopfer), o subsecretário do Ministério das Relações Exteriores (Luther) e o diretor ministerial da Chancelaria do Reich (Kritzinger). Os Secretários de Estado, logo abaixo do nível de ministro, através do protocolo, eram os mais altos do ranking que Heydrich poderia convidar – como adjunto de Himmler – sobre a qual presidia. Também estavam presentes os chefes da Gestapo (Müller), Escritório Central de Raça e Reassentamento (Hofmann), da Polícia de Segurança do Governo Geral (Schöngarth), bem como Heydrich, Eichmann e Rudolf Lange, comandante do Einsatzkommando 2 na Letônia. Os convites de Heydrich para a reunião foram acompanhadas de cópias de sua autorização, assinada por Göring em 31 de Julho de 1941, para preparar uma solução definitiva para a questão Judaica em toda esfera de influência alemã na Europa. Não há registro de Heydrich ter presidido qualquer outra reunião com uma lista tão ilustre de altos funcionários do regime nazista em toda a sua carreira.

Heydrich brevemente reiterou a sua autorização para preparar uma Solução Final na escala européia e revisão da política de emigração, até sua proibição, no outono de 1941. Heydrich em seguida disse: “No lugar da emigração, a evacuação dos Judeus para o leste surgiu agora, após a aprovação adequada prévia do Führer, como a única solução possível.” Um total de 11 milhões de Judeus europeus, inclusive naqueles países neutros como a Irlanda, Suíça e Suécia estariam envolvidos, de acordo com Heydrich. As evacuações, no entanto, deveriam ser consideradas “apenas como medida temporária” (als lediglich Ausweichmöglichkeiten), para a experiência prática “praktischen Erfahrungen), já estavam sendo recolhidas do que seria de grande importância para o “eminente” (kommende) Solução Final. Heudrich em seguida passou a explicar exatamente o que ele quis dizer com isso. Os Judeus seriam utilizados para o trabalho no leste.

Separados por sexo, os Judeus aptos ao trabalho serão levados para estas áreas em grandes colunas para construir estradas, uma grande parte, sem dúvida, irá cair por diminuição natural. O restante, que sobreviver a tudo isso, é sem dúvida uma questão de maior resistência, serão tratados como tal, porque estes remanescentes, representando uma seleção natural, devem ser considerados o germe da célula da nova reconstrução Judaica se forem liberados.

Se o protocolo indica que os Judeus capazes para o trabalho, após serem submetidos ao trabalho árduo de tal forma que a maioria iria morrer, e aqueles que não seriam “tratados como tal”, não faz menção do que estava para acontecer com os Judeus que não estavam aptos ao trabalho. Bühler compreendia perfeitamente que a Solução Final significava mais do que os Judeus trabalharem até a morte, porque ele insistiu que ela começasse no Governo Geral, porque não havia nenhum problema de transporte e a maior parte dos Judeus eram inaptos para o trabalho.

O protocolo foi resumido em longas discussões sobre a política em relações aos Judeus, em casamentos mistos e os seus filhos como sem solução. Eu um ponto o protocolo foi excepcionalmente breve, que diz respeito à questão que Frank tinha levantado em Dezembro, ou seja, como os Judeus seriam destruídos. Sem qualquer explicação sobre o verdadeiro conteúdo da discussão, o protocolo se limitou a referir enigmaticamente: “Finalmente, houve uma discussão sobre os vários tipos de soluções possíveis...”

Trinta cópias do protocolo da Conferência Wannsee foram feitas, e a única cópia que sobreviveu foi a que foi enviada por Heydrich para o Ministério das Relações Exteriores em 26 de Janeiro de 1942.(89) Aparentemente, o Ministério do Interior do reich recebeu uma cópia, ao mesmo tempo em outra reunião em 29 de Janeiro de 1942, o especialista em Judeus, Bernhard Lösener, fez uma referência à Conferência de 20 de Janeiro.(90)

Um notável líder nazista não tinha enviado um representante para a Conferência de Wannsee, ao saber o rival não gostou de Heydrich e Himmler, Josef Goebbels do Ministério da propaganda. Parece que Goebbels recebeu uma versão resumida do protocolo bem mais tarde. Ele observou em seu diário em 7 de Março de 1942, sobre um relatório “da SD e da Polícia em relação à Solução Final da Questão Judaica”. Ele observou na Conferência de Wannsee o número de 11 milhões de Judeus na Europa, em seguida escreveu: “Eles terão que concentrar mais tarde, para começar no leste, possivelmente uma ilha como Madagascar pode ser atribuída a eles após a guerra.”(91) Na realidade é claro, os Judeus não foram e nem iriam ser concentrados “mais tarde” e nem enviados para Madagascar após a guerra. Os Judeus de Warthegau já estavam sendo asfixiados neste momento, e já era eminente o gaseamento dos Judeus sérvios no campo de Semlin. Além disso, a “concentração” os Judeus da Polônia, nas três aldeias de Belzec, Sobibor e Treblinka estava prestes a começar.

Notas:

(75)Documento de Nuremberg NG-2586-A: Göring para o Ministro do Interior do Reich, 24.1.39 (cópia em Political Archives of the German Foreign Office, Inland II 177).

(76) Documento de Nuremberg PS-710: Göring para Heydrich, 31.7.41, publicado em IMT, vol.. 26, pp. 266-67.

(77) Himmler para Greiser, 18.9.41, em National Archives, T-175/54/2568695. (Der Führer wünscht, dass möglichst bald das Altreich und das Protekorat vom Westen nach Osten von Juden geleert und befreit werden. ...um sie im nächsten Frühjahr noch weiter nach dem Osten abzuschieben)

(78) Notas sobre a conferência presidida por Heydrich em Praga, 10.10.41, publicado em: H.G. Adler, Theresienstadt 1941-1945 (Tübingen, 1960, 2nd edition), pp.720-722 (Document 46b).

(79) Memorando de Luther, 13 e 17.10.41, em: Political Archives of the German Foreign Office, Pol. Abt.. III 246. (Darüber hinaus wären diese Juden aber auch bei den nach Kriegsende zu ergreifended Massnahmen zur grundsätzlichen Lösung der Judenfrage unmittelbaren Zugriff allzusehr entzogen)

(80) Müller Runderlass, 23,10.41 (Documento do Julgamento de Eichmann T/1209).

(81) Relatório de Rademacher, 25.10.41, em Political Archives of the German Foreign Office, Inland II 194, publicado em: Akten zur Deutschen Aussenpolitik, D, XIII, Part 2, pp. 570-72. (Sobald dann im Rahmen der Gesamtlösung der Judenfrage die technische Möglichkeit besteht, werden die Juden auf dem wasserwege in die Auffanglager im Osten abgeschoben.)

(82) Wurm para Rademacher, 23.10.41, em: Political Archives of the German Foreign Office, Inland II A/B 59/3. (Auf meine Rückreises aus Berlin traf ich einen alten Parteigenossen, der im Osten an der Regelung der Judenfrage arbeitet. In nächster Zeit wird von dem jüdishen Ungezeifer durch besondere Massnahmen manches vernichtet werden.)

(83) Documento de Nuremberg NO-365: memorando Rosenberg para Lohse, rubricado por Wetzel, 25.110.41. (wenn diejenigen Juden die nicht arbeitsfähig sind, mit den Brackschen Hilfsmitteln beseitigt werden) De acordo com o dicionário Langenscheidts “beseitigen” tem o significado literal de “remover” e dois dos seus usos figurativos são “dispor” no contexto de lixo e “acabar com”, “liquidar” e “limpeza” no contexto de matar. Aqui está um caso em que uma tradução em inglês não pode ser capturada de forma simultânea os múltiplos significados da palavra no alemão original. Uma segunda versão do memorando de Wetzel é manuscrito, NO-996 e NO-997. Nesta versão o autor da carta afirmava que ele tinha objeção às propostas sobre a questão Judaica contidas em um relatório de Lohse de 4 de Outubro. No entanto, ele estava enviando a Lohse o registro das conversas de Wetzel com Brack e Eichmann, ele pediu Lohse “para inferir as informações relativas ao estado do assunto.”

(84) Documento de Nuremberg NO-5329: Arquivo de notas de Himmler em conversa com Rosenberg, 15.11.41; Himmler Terminkalendar, entrada de 15.11.41, em Moscow Special Archives, 1372-5-23.

(85) Discurso de Rosenberg, 18.11.41, em Political Archives of the Foreign Office, Pol. XIII, VAA Berichte. (Im Osten leben noch etwa sechs-Millionen Juden, und diese Frage nur gelöst werden in eine biologischen Ausmerzung des gesamten Judentums in Europe. Die Judenfrage ist für Deutschland erst gelöst, wenn der letzte Jude das deutsche Territoriums verlassen hat, und für Europa wenn kein Jude mehr bis zum Ural auf dem europäischen Kontinent steht. ...dazu ist es nötig, sie über den Ural zu drängen oder sonst irgendwie zur Ausmerzung zu bringen.)

(86) Documents on German Foreign Policy, D, XIII, No. 515, pp. 882-84.

87. Die Tagebücher von Joseph Goebbels, Teil II, Bd. 2, pp. 498-99 (entry of 13.12.41). (Bezüglich der Judenfrage ist der Führer entschlossen, reinen Tisch zu machen. Er hat den Juden prophezeit, dass, wenn sie noch einmal einen Weltkrieg herbeiführen würden, sie dabei ihre Vernichtung erleben würden. Das ist keine Phrase gewesen. Der Weltkrieg ist da, die Vernichtung der Judentums muss die notwendige Folge sein).

88. Frank speech at Regierungssitzung of 16.12.41, printed in Das Diensttagebuch des deutschen Generalgouverneurs in Polen 1929-1945 (Stuttgart, 1975), pp. 457-8. (Mit den Juden--dass will ich Ihnen auch ganz offen sagen--must so oder so Schluss gemacht werden. Der Führer sprach einmal das Wort aus: wenn es der vereinigten Judenschaft wieder gelingen wird, einen Weltkrieg zu entfesseln, dann werden die Blutopfer nicht nur von den in den Krieg gehetzten Völkern gebracht werden, sondern dann wird der Jude in Europa sein Ende gefunden haben. ...Ich möchte Sie bitten: einigen Sie sich mit mir zunächst, bevor ich jetzt weiterspreche, auf die Formel: Mitleid wollen wir grundsätzlich nur mit dem deutschen Volke haben, sonst mit niemandem auf der Welt. Die anderen haben auch kein Mitleid mit uns gehabt. Ich muss auch als alter Nationalsozialist sagen: wenn die Judensippschaft in Europa den Krieg überleben würde, wir aber unser bestes Blut für die Erhaltung Europas geopfert hätten, dann würde dieser Krieg doch nur einen Teilerfolg darstellen. Ich werde daher den Juden gegenüber grundsatzlich nur von der Erwartung ausgehen, dass sie verschwinden. Sie müssen weg. Ich habe Verhandlungen zu dem Zwecke angeknüpft, sie nach dem Osten abzuschieben. Im Januar findet über diese Frage eine grosse Besprechung in Berlin statt, zu der ich Herrn Staatssekretär Dr. Bühler entsenden werde. Diese Besprechung soll im Reichssicherheitshauptamt bei SS-Obergruppenführer Heydrich gehalten werden. Jedenfalls wird eine grosse jüdische Wanderung einsetzen.
Aber was soll mit den Juden geschehen? Glauben Sie, man wird sie im Ostland in Siedlungsdörfen unterbringen? Man hat uns in Berlin gesagt: weshalb macht man diese Scherereien; wir können im Ostland oder im Reichskommissariat auch nichts mit ihnen anfangen, liquidiert sie selber! Meine Herren ich muss Sie bitten, sich gegen alle Mitleidserwägungnen zu wappnen. Wir müssen die Juden vernichten, wo immer wir sie treffen und wo es irgend möglich ist, um das Gesamtgefüge des Reiches hier aufrecht zu erhalten.
...wir den aber doch Eingriffe vornehmen, die irgendwie zu einem Vernichtungserfolg führen, und zwar im Zusammenhang mit den von Reich her zu besprechenden grossen Massnahme.)

89. Protocol of the Wannsee Conference and Heydrich cover letter to Luther, 26.1.42, in Political Archives of the German Foreign Office, Inland II 177.
(An Stelle der Auswanderung ist nunmehr als weitere Lösungsmöglichkeit nach entsprechender voheriger Genehmigung durch den Führer die Evakuierung der Juden nach dem Osten. ...Der allfällig verbleibende Restbestand wird, da es sich bei diesen zweifellos um den widerstandsfähigsten Teil handelt, entsprechend behandelt müssen, da dieser, eine natürliche Auslese darstellend, bei Freislassung als Keimzelle eines neuen jüdische Aufbaues anzusprechen ist. (In grossen Arbeitskolonnen, unter Trennung der Geschlechter, werden die arbeitsfähigen Juden strassenbauend in diese Gebiete geführt, wobei zweifellos ein Grossteil durch natürliche Verminderung ausfallen wird.
...Abschliessend wurden die verschiedenen Arten dere Lösungsmöglichkeiten besprochen...) )

90. Protocol of Ostministerium conference, 29.1.42, in: Political Archives of the German Foreign Office, Inland II 179.

91. Louis Lochner, ed., The Goebbels Diaries (New York, 1948), pp. 147-48.

Fonte: Holocaust Denial On Trail (Christopher Browning Report)

Link: http://www.holocaustdenialontrial.com/en/trial/defense/browning/500

Tradução: Leo Gott

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...