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domingo, 29 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o horror do barracão 46 de Buchenwald

Publicado em 5 junho, 2012

Arthur Dietzsch
[Testemunho de Eugen Kogon, prisioneiro de Buchenwald, durante o processo médico pertencente aos julgamentos de Nuremberg]:

[…] No campo todo mundo sabia que o barracão 46 era um lugar temível. Muito poucas pessoas no campo tinham uma ideia exata do que se passava no barracão 46. O medo se apoderava de todo aquele que tinha que se relacionar de algum modo com esse barracão. Se escolhiam pessoas e as levavam do barracão 46 para a enfermaria, sabiam que a coisa era fatal. O horror indescritível que rodeava esse barracão piorava ainda mais as coisas. (…)

À parte disso, no campo se sabia que o Kapo Arthur Dietzsch impunha uma disciplina férrea no barracão 46. Ali quem mandava era o chicote. Todo o que ia para o barracão 46 como sujeito de experimentação não só esperava, portanto, a morte, e em certas circunstâncias uma morte muito demorada e penosa, senão também ser torturado e sofrer a privação completa dos últimos vestígios de sua liberdade pessoal.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/05/doctores-del-infierno-el-horror-del-barracon-46-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 241; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com fenol

Publicado em 26 junho, 2012

Foi este o terceiro grupo de experimentos que não aparecia descritos expressamente no texto de acusação, mas que ainda assim foram ajuizados devido à existência de provas que colocavam de manifesto a comissão de atos desumanos e atrocidades.

O propósito deste experimento consistia em comprovar a tolerância do soro composto de fenol em soldados afetados com gangrena gasosa. Tanto nos campos de concentração como no exército, buscava-se métodos preventivos contra a gangrena gasosa.

O fenol é um potente veneno corrosivo, e sua solução aquosa, o ácido carbólico, é utilizado como antisséptico. As injeções de fenol se converteram assim mesmo no método clínico para o assassinato em massa dentro do programa de eutanásia, sem o objetivo científico de sanar, senão o de melhor "restabelecer" a saúde do Volk alemão mediante a erradicação de todos os "elementos inferiores". Esta categoria laxa (larga) incluía a judeus, ciganos e eslavos; "vidas indignadas de serem vividas": enfermos, retardados, deficientes mentais, epiléticos, enfermos mentais, cegos e pessoas deformes; e "indesejáveis": delinquentes, homossexuais, alcoólicos e outros grupos.

(…)

O doutor Hoven, um dos acusados, testemunho em 24 de outubro de 1946 como médico chefe de Buchenwald (prova 281 da acusação):
"Em alguns casos supervisionei a morte desses reclusos imprestáveis mediante injeções de fenol, a petição dos reclusos. As mortes ocorreram no hospital de campo e vários reclusos me ajudaram. Em uma ocasião, o doutor Ding foi ao hospital assistir as mortes com fenol e disse que não estavam sendo feitas corretamente, assim que ele mesmo deu algumas injeções. Naquela ocasião foram mortas três pessoas com injeções de fenol, e os três morreram em menos de um minuto.

O número total de traidores que foram mortos fora de uns cento e cinquenta, dos quais sessenta morreram por injeções de fenol administradas por mim pessoalmente ou sob minha supervisão no hospital de campo, e os demais presos foram foram mortos de diversas maneiras; por espancamento, por exemplo"
As surras as quais se referia o doutor Hoven ocorriam porque alguns presos recebiam tratamento preferencial. Os reclusos aos quais eram dados postos-chaves no campo, normalmente eram encarcerados por motivos não "políticos", desfrutavam frequentemente de melhores condições de vida. Isso gerava inveja entre os reclusos menos favorecidos que provocavam represálias, inclusive o assassinato. Tal comportamento era comum nos campos de concentração. Hoven usa a palavra "traidor" para dar a entender que os sujeitos da experimentação eram presos políticos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/26/doctores-del-infierno-experimentos-con-fenol/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 262 a 263; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 9 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com gás

Publicado em 10 junho, 2012

Um relatório de Ferdinand Holl fechado em 31 de março de 1945 descrevia experimentos com gás mostarda no campo de concentração de Neuengamme. Holl, mineiro de profissão e preso político durante a guerra, trabalhou como Kapo de reclusos (encarregado) no hospital do campo e declarou como testemunha de acusação em 3 de janeiro de 1947. Afirmou que, em que pese que o doutor Hirt tenha prometido aos reclusos que intercederia ante Himmler para pedir por sua libertação se eles se oferecessem como voluntários, nenhum se ofereceu.

O relatório de Holl afirmava:
"O professor Hirt assistiu os primeiros experimentos. Depois foi um oficial da aviação alemã quem se encarregou de conduzi-los. Os prisioneiros eram desnudados por completo. Entravam no laboratório um a um. Logo eu tinha que lhes segurar os braços, e eles estendiam, para esfregar uma gota desse líquido no braço, dez centímetros acima do antebraço.

Depois as pessoas as quais foram lhes aplicadas o tratamento, tinham que esperar de pé com os braços estendidos. Passadas umas dez horas, talvez um pouco mais, começavam a aparecer queimaduras por todo o corpo. Ali onde os vapores do gás alcançavam, queimava o corpo deles. Além disso, alguns ficaram cegos. A dor era tão intensa que alguém apenas podia suportar estar próximo das vítimas.

Logo lhes fotografavam a cada dia; todas as partes do corpo com lesões: ou seja, as zonas queimadas. Seguindo estes fatos, a partir do quinto ou sexto dia, tivemos nossa primeira morte. E aquele então, os mortos eram mandados para Estrasburgo, porque não havia crematório no campo.

Mandaram o morto para Ahnenerbe (Instituto de investigação da SS) para dissecá-lo. Seus intestinos, pulmões etc, estavam completamente carcomidos. Depois, durante os dois ou três dias seguintes, morreram sete pessoas mais. Este tratamento durou uns dois meses, até que estivessem mais ou menos em condições para trasladá-los; então os mandaram para outro campo.

No dia seguinte, quer dizer, sete dias depois do início do experimento, morreram outros sete sujeitos da experimentação."
Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/10/doctores-del-infierno/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 178 a 179; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 23 de junho de 2013

O ícone mais idiota da negação do Holocausto: a piscina de Auschwitz

Mas o que quero dizer é, Jon Harrison já tratou disso, Pressac já tratou disso, e van Pelt já tratou disso:
Dada a dicotomia entre a muito complexa natureza e a história de Auschwitz e o hábito de muitos em considerar o campo apenas como um "centro de extermínio em massa altamente secreto", muitas pessoas, incluindo historiadores e sobreviventes de boa-fé, e gente de não 'tão' boa-fé assim como os negadores do Holocausto, muitas vezes acabam cometendo a falácia de composição: eles, em razão das características de parte de Auschwitz, que foi usado para extermínio em massa, citam isso como as características de Auschwitz como um todo. Um exemplo clássico e favorito dos negacionistas é a chamada piscina de Auschwitz I. Eles argumentam que a presença de uma piscina, com três trampolins, mostra que o campo era realmente um lugar bastante benigno e, portanto, não poderia ter sido um centro de extermínio. Eles ignoram que a piscina foi construída como um reservatório de água com a finalidade de combater incêndios (não havia hidrantes no campo), e que os trampolins foram adicionados mais tarde, e que a piscina era apenas acessível a homens da SS e alguns prisioneiros arianos privilegiados empregados como 'presos-funcionários' no campo. A presença da piscina não diz nada sobre as condições de prisioneiros judeus em Auschwitz, e não põe em cheque a existência de um programa de extermínio, com suas instalações apropriadas em Auschwitz II (Birkenau).
No entanto, isto continua retornando, retornando, e retornando, como um zumbi.

O "argumento" é tão assustadoramente ilógico que alguém fica surpreso de até mesmo com os cultuadores do negacionismo quererem repeti-lo, já que eles continuam fazendo isso mesmo havendo perdido a "graça" (o impacto inicial).

Nenhum historiador ou tribunal jamais afirmou que cada prisioneiro de Auschwitz tinha que morrer - ou que tiveram que morrer imediatamente. A presença de grupos relativamente privilegiadas de prisioneiros (como Kapos, "arianos" ou judeus) é reconhecido por todos. A presença de amenidades (como um bordel) para determinados prisioneiros privilegiados não é um segredo.

Então, por que a persistente menção da estrutura, a qual não contradiz a existência de nada, até mesmo se alguém negar sua principal função como um reservatório de água (e que nem sequer está situado na seção de extermínio, ou seja, Birkenau, e no entanto, mesmo que se se situasse lá, isto não seria um problema)?

Como completamente um estúpido, ignorante ou desonesto pode continuar pensando em usar a piscina Auschwitz como um truque/distorção em nome do "revisionismo"?

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.de/2010/01/dumbest-holocaust-denial-icon-auschwitz.html
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Auschwitz, nosso lar

Tópico:
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=295037&tid=2518492664035847399
Comentários na comunidade 'O Holocausto' no Orkut(site do Google):
interlocutor: Auschwitz - Literatura
Um excelente site em lingua inglesa sobre assuntos europeus...e muitos artigos interessantes sobre o Holocausto, entre eles:

"Auschwitz, our home
A new collection of stories by Tadeusz Borowski shows not the slightest empathy for the victims of Auschwitz. It is a milestone in Holocaust literature nonetheless."


Introdução por:
Arno Lustiger
http://www.signandsight.com/

Tradução:

Auschwitz, nosso lar
2007-02-15

"Uma nova coleção de história de Tadeusz Borowski mostra não the slightest empatia pelas vítimas de Auschwitz. Contudo é um marco na literatura do Holocausto. Por Arno Lustiger. Para mais informação clicar em "A vida de Tadeusz Borowksi", ler o esboço biográfico de Arno Lustiger aqui.

Memórias e livros escritos por sobreviventes de Auschwitz como Ruth Klüger, Simone
Veil e Wladyslaw Bartoszewski pertecem ao cânon da literatura da Shoah, mas os trabalhos de Hermann Langbein, Rudolf Vrba e Fritz Bauer também são importantes partes de qualquer intento para entender uma fenda da civilização que foi Auschwitz. Os livros dos ganhadores do prêmio Nobel Eli Wiesel e Imre Kertesz pertencem a literatura mundial, como aqueles escritos por Primo Levi. E o que mais tarde cometeu suicídio, como Jean Améry anterior a ele.

"Bei uns in Auschwitz" por Tadeusz Borowski, Schöffling Verlag 2007.

Mas o trabalho literário de Tadeusz Borowski, que em 29 também narrou sua própria vida, não pode ser comparada com qualquer outra. Ninguém é capaz de narrar toda a verdade sobre Auschwitz, mas Borowski relata a mais dolorosa parte desta verdade com a maior de todas auto-torturante honestidade.

Borowski está entre os importantes mas escritores menos conhecidos tem concedido uma dimensão quase metafísica a Auschwitz. Ainda que seu trabalho não ofereça nenhuma contribuição ao debate da "teologia após Auschwitz", ele ajuda o leitor a compreender o inacraditável e o mostruoso nas vidas e mortes do 'Homo auschwitziensis', até mesmo apenas para uma limitada extensão. As histórias de Borowski são caracterizadas pela grande precisão. Ele se absteve inteiramente de julgamentos de valor moral(juízo de valor), e não há o slightest indício de empatia, fazendo um livro brutal, com passagens terríveis que são uma tortura para se ler. Será esta a indiferença niilista, será este o vazio de empatia fingida? Estaria a literatura provocativa do autor querendo provocar o despertar de empatia no leitor?"

Seu livro "Bei uns in Auschwitz" contém seis novelas e 22 histórias curtas. Algumas delas foram filmadas, outras adaptadas para o teatro. Oito destas histórias descrevem a vida e acima tudo a morte em Auschwitz, as outras são sobre eventos em Varsóvia antes da prisão do autor, trabalho escravo em outros campos, sua libertação e seu tempo no Munich-Freimann substituindo pessoas do campo.

Na primeira história, da qual a coleção tirou o título, Borowski descreve o que ele presenciou no campo de concentração que, além de SS, era controlado principalmente por Kapos e outros internos especialmente alemães e polacos com números de prisioneiros, também conhecido como o "campo da nobreza" (conhecido no jargão eufemístico Nazi como "Funktionshäftlinge", 'prisioneiros com funções especiais'). Como um Polaco, Borowski foi treinado por médicos das SS e foi dado a ele um trabalho 'privilegiado' como um enfermeiro homem. Era permitido a ele oficialmente corresponder-se regularmente com seus familiares, freqüentemente recebia porções de comida deles, e se beneficiou de todas as vantagens apenas liberadas a estes prisioneiros disciplinados: ouvindo concertos de música clássica pela orquestra do campo e visitando o bordel onde quinze garotas eram forçadas a se prostituírem e tinham que satisfazer a centenas de Kapos todo dia. Os privilégios incluíam cuidados no caso de enfermidade, suficientes rações de comida, e acima de tudo trabalho fácil. Todo dia, um interno agia como um informante, trazendo cartas de volta e assim sucessivamente entre Tadeusz Borowski e sua noiva Maria Rundo, que foi presa brevemente antes dele e que também foi levada a Auschwitz, onde foi internada no campo de mulheres.

Todo dia, os Kapos jogavam futebol num terreno cercado por flores dentro de uma visão da rampa de descarregar onde os Judeus estavam constantemente chegando em trens. Borowski, que jogou no gol, descreve: "Andei de volta com a bola e passei pelo canto. Entre os dois cantos, três mil pessoas foram gaseadas por detrás das minhas costas

Para ver sua noiva com freqüência, ele tinha que ele mesmo se designar a unidade de telhado, cujo membros eram aprovados a circularem livremente dentro de todo o campo, incluindo a secção das mulheres. Tadeusz Borowski e Maria Rundo viam-se todo dia, com freqüência até estarem juntos sozinhos. Como um telhador, ele também trabalhou na secção do campo conhecida como "Canada" onde artigos pegos dos judeus assassinados eram guardados, incluindo roupas, joalheria, e outros objetos de valor, incluindo 7.7 toneladas de cabelo humano. Aqui ele tinha contato com os prisioneiros que pertenciam aos Sonderkommandos ou Unidades Especiais, que tinha a horrenda tarefa de inclusive remover os mortos das câmaras de gás até os fornos crematórios. Ele desfrutou de privilégios que internos normais e insignificantes jamais 'poderiam sonhar'.

Borowski escreveu "Wir waren in Auschwitz"("Nós estivemos em Auschwitz")com seus amigos Siedlecki e Olszewski no Munich-Freimann displaced persons camp em 1945. Em abril de 1946, o magazine Tworczosc em Varsóvia publicou sua história "O Transporte de Sosnowiec-Bendzin," mais tarde rebatizada para "Este é o caminho para o gás, Senhoras e Senhores".

Este texto de 20 páginas se encontra entre a maioria profundamente angustiante dos documentos literários do Holocausto e tem sido publicada em muitas línguas. Com seu estilo escasso, Borowski tinha o dom de retratar personagens e situações trágicas tão originalmente que elas se tornaram quase indelevelmente gravadas na memória dos leitores. Até o 'Inferno de Dante' empalidece na comparação com este relato.

Em meados de Agosto de 1943, os transportes começaram a chegar em Auschwitz da Alta Silésia, uma região a apenas 40 km de distância que havia sido anexada pela Alemanha em meados de 1939 e que foi um lar para mais de 100 mil judeus, incluindo 23 mil em Sosnowiec e 25 mil em Bedzin, o povoado onde nasci. Apenas um pouco mais que mil homens e mulheres foram selecionados para o trabalho escravo, até aqui os que sobreviveram até o momento;

o resto foi gaseado imediatamente, incluindo muitos de meus parentes.

Minha mão é relutante a copiar excertos desta história, mas eu forçarei a mim mesmo a descrever um detalhe. Durante o processo de seleção, uma mãe renega a sua criança e tenta fugir para o grupo declarado apto para o trabalho. A criança esperneia/grita terrivelmente por sua mãe. Sob uma saudação de terríveis obscenidades, mãe e filho são conduzidos a câmara de gás juntos. Mas milhares dentre milhares de mulheres e homens judeus não abandonam suas crianças e familiares, preferindo partir com eles para as câmaras de gás numa demonstração de solidariedade, até que ainda que alguns deles poderiam terem se salvado.

E um exemplo de teologia, não depois mas em Auschwitz: um enfermo e ferido velho judeu do transporte de Bendzin está incomodando um jovem homem das SS com suas repetidas questões para falar com o comandante do campo. "Fique calmo, homem. Em meia hora você coneguirá falar com o comandante-em-chefe. Apenas não se esqueça de fazer direito o jesto e de dizer 'Heil Hitler' para ele."

Neste exato transporte também estava incluso meu querido polaco, o comunista do pré-guerra e poeta Stanislaw Wygodzki – nossos pais tinham sentado juntos no conselho da cidade em Bedzin. Depois de 1945, ele se tornou amigo próximo e mentor de Borowski, que dedicou um quinto-verso do poema a ele, o jovem escritor escrevendo para o sábio poeta: "Lar, poeta, você está retornando para a sua terra natal / Em Bedzin ou Sosnowiec / Você andará até o mercado judeu, até as grades / no carregado acampamento no gueto / Você estará muito sozinho lá, como um pedaço de casca / descacada da árvore, por você estar retornando ao lar, do lugar / Onde sua filha navega pelos céus como cinzas / Do crematório".

Até o final da história, nós lemos: "Por poucos dias, o campo falará sobre o transporte de 'Sosnowiec-Bedzin'. Era um bom carregamento, um rico carregamento."

Por quê? Porque os Judeus que estavam lá eram mais ricos que os do resto da Polônia e porque eles não tinham tido nenhum tempo para comer suprimentos que pudessem trazer com eles, tão logo que a jornada pela ferrovia levou não mais que uma hora. Talvez os internos trabalhando na rampa pegassem(burlassem)a torta de queijo da minha avó Mindel Lustiger, talvez as roupas de baixo de seda de sua meia-filha, minha tia Gisele de Paris, fossem guardadas por Borowski como um presente para sua noiva Maria?

Nos textos de Borowski, existem muitas passagens onde os prisineiros judeus são retratados como despiedosos sádicos. Borowski reconta todos estes incidentes não como uma testemunha ocular, mas de ouvir rumores. É parte da sensação de fome, a fofoca anti-Semita no campo. Aqui, Pan Tadeusz, um mimado e estropeado Kapo com elevada expectativa de vida, retrata-se a si mesmo sem um traço de simpatia ou empatia sobre os indefesos judeus que eram condenados a morte, o morituri("aqueles que vão morrer")de nossos tempos. Ele livremente admite que mesmo não prejudicando ninguém no campo, ele também não ajudou ninguém lá.

Apenas na história "O Homem com o Pacote" somos nós que encontramos algo sobre a dignidade e heroísmo dos judeus. No fim da sentença: "... como eles foram mandados para o gás(as câmaras), os judeus cantavam uma animada música em hebraico que ninguém entendia." Era uma música sionista "Hatikvah" (Esperança)que é agora o hino nacional de Israel.

Na história "Auschwitz, nosso lar" lemos este tema: "É a esperança que faz as pessoas andarem apaticamente até as câmaras de gás, faz-lhes se encolherem por detrás da revolta ... Esperança é aquilo que rompe laços de família, faz mães rejeitarem suas crianças, faz mulheres venderem-se por um pedaço de pão e transforma homens em assassinos. A esperança os faz brigarem uns contra outros a cada dia da vida, pra talvez o próximo dia trazer a libertação... Nós não aprendemos a renunciar a esperança, e isto é o porquê de nós morrermos no gás."

Sim, Borowski estava entre os prisioneiros privilegiados corrompidos pelo tratamento preferencial concedido a eles. Os Kapos asseguravam que uma revolta – referindo-se no jargão Nazi como 'der A-Fall', "o grande U" – não poderia ocorrer. Apesar disto, entretanto, houve uma revolta aos Sonderkommandos organizado exclusivamente por internos judeus em 7 de Outubro de 1944, em que quase todos aqueles involvidos foram fuzilados depiois de explodirem um dos cinco crematórios. Ao longo de um período de meses, os judeus poloneses Rozia Robota, Regina Safirsztajn, Ester Wajcblum e Ala Gertner, uma garota de Bedzin, roubaram dinamite da "Union", fábrica de armas, para explodir o crematório. Em 6 de Janeiro de 1945, os quatro heróis foram enforcados. Houve então as últimas execuções em Auschwitz. Os textos de Borowski não contém nenhuma menção destes sensacionais e trágicos eventos.

Borowski claramente também não sabia de nada do secreto "Kampfgruppe Auschwitz" ou grupo de resistência, cujos líderes incluiam não apenas Cyrankiewicz e Langbein, mas também Mink e Kirschenbaum, oficiais judeus das Brigadas Internacionais na Guerra Civil Espanhola.

A mais longa, e mais forte(magistral)novela escrita no livro é "A Batalha de Grunwald". Por medo da anarquia e de atos de vingança na Alemanha depois do país perder a guerra, os poloneses libertados POWs – trabalhadores de trabalhos forçados e internos do campo de concentração – foram transferidos para perto dos "DP" campos guardados por Americanos. Borowski viveu num desses campos, em ex-barracões das SS em Munich-Freimann. Aqui ele testemunhou uma celebração de aniversário da Batalha de Grunwald de 1410 quando tropas polonesas triunfaram sobre os exércitos da Ordem Teutônica. Nesta novela, Borowski retrata seu querido compatriota com uma impiedosa agudeza que beirava o rancor. A vida no campo(de concentração)é dominada pela corrupção, ressentimento, egoísmo e vandalismo.

Entrando neste mundo caótico, e entrando no meio da pomposa comemoração da Batalha de Grunwald com toda sua comida, bebida e fogos de artifício, aparece a judia Nina, que sobreviveu como uma criança cristã. Devido a seu namorado ser um comunista e um anti-semita, ela fugiu da Polônia. Sua afeição por Tadeusz desperta seu senso de respeito próprio. Ela dá significado a sua vida depois de Auschwitz e deseja emigrar para a Palestina ou iniciar uma nova vida com Tadeusz no Ocidente. Mas ela é baleada por um guarda americano na cerca. Ela é apenas um positivo e moralmente personagem intacto na história, que foi filmada por Andrzej Wajda em 1970.

Os contos de Borowski ainda chamarão atenção quando outros livros de campo de concentração forem esquecidos. Eu suspeito que seus poemas e histórias – que são ainda bastante desconhecidos na Alemanha – sobreviverá como uma importante parte do mundo literário. De todas as edições do período, de 1963 a 1999, esta nova versão, congenially traduzida por Friedrich Griese, é a melhor. Para mim, é um marco na literatura sobre Auschwitz.

"Observe tudo de muito perto e não perca a coragem quando as coisas estiverem indo muito mal para você. Em algum dia, nós poderemos ser necessários para contar a vida neste campo, deste tempo de decepção, e defender os mortos." Com estas palavras, Borowski postumamente me enderessa pessoalmente, a seu Auschwitz camarada de No. A 5592. Com esta sentença, Borowski formulou um 'axioma' que se tornou uma máxima da minha vida.

*Este artigo apareceu originalmente em alemão no 'Die Welt' em 20 de janeiro de 2007.

Tradução(pro inglês): Nicholas Grindell
"Bei uns in Auschwitz": uma nova coleção de histórias por Tadeusz Borowski. Traduzido para o alemão do polonês por Friedrich Griese. Schöffling, Frankfurt/M. 422 páginas, 24.90 eur.

Outros livros de Tadeusz Borowski publicados em inglês:
"Este é o Caminho para o Gás, Senhoras e Senhores"("This Way for the Gas, Ladies and Gentlemen")de Tadeusz Borowski, trad. Barbara Vedder, Penguin Classics reedição, 1992
"Nós estávamos em Auschwitz"("We Were in Auschwitz")uma coleção de histórias de Tadeusz Borowski, Janusz Nel Siedlecki e Krystyn Olszewski. trad. Alicia Nitecki. Welcome Rain editores, 2000

Arno Lustiger nasceu na Polônia, em Bedzin em 1924. Sobreviveu a internação nos campos de concentração de Auschwitz e Buchenwald e depois da guerra fundou uma comunidade judaica em Frankfurt/Main. Ele tem tratado o tema da resistência judaica em muitos livros. Lustiger foi premiado com o Prize da Fundação Galinski(2001, junto com Wolf Biermann), e com um doutorado honorário da Universidade de Potsdam (2003). Ele é Professor Visitante no Instituto Fritz Bauer da Universidade de Frankfurt e fala oito línguas.

Fonte: http://www.signandsight.com/features/1178.html
Tradução: Roberto Lucena

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