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domingo, 29 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o horror do barracão 46 de Buchenwald

Publicado em 5 junho, 2012

Arthur Dietzsch
[Testemunho de Eugen Kogon, prisioneiro de Buchenwald, durante o processo médico pertencente aos julgamentos de Nuremberg]:

[…] No campo todo mundo sabia que o barracão 46 era um lugar temível. Muito poucas pessoas no campo tinham uma ideia exata do que se passava no barracão 46. O medo se apoderava de todo aquele que tinha que se relacionar de algum modo com esse barracão. Se escolhiam pessoas e as levavam do barracão 46 para a enfermaria, sabiam que a coisa era fatal. O horror indescritível que rodeava esse barracão piorava ainda mais as coisas. (…)

À parte disso, no campo se sabia que o Kapo Arthur Dietzsch impunha uma disciplina férrea no barracão 46. Ali quem mandava era o chicote. Todo o que ia para o barracão 46 como sujeito de experimentação não só esperava, portanto, a morte, e em certas circunstâncias uma morte muito demorada e penosa, senão também ser torturado e sofrer a privação completa dos últimos vestígios de sua liberdade pessoal.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/05/doctores-del-infierno-el-horror-del-barracon-46-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 241; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 28 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: eutanásia com fenol em Buchenwald

Dr. Schuler-Ding
Publicado em 7 junho, 2012

A prova 283 de acusação é uma declaração jurada do doutor Erwin Schuler: o célebre "doutor Ding". Como testemunha de aplicação da eutanásia mediante fenol puro sem diluir em Buchenwald, declarou:
"Um a um foram entrando quatro ou cinco prisioneiros. Entravam com a parte superior do tronco nua para que não se distinguisse a insígnia de sua nacionalidade (na roupa). Eram de idade avançada e estavam em más condições físicas. Não recordo do diagnóstico pelo qual iriam lhes aplicar a eutanásia, mas seguramente tampouco o perguntei.

Sentaram-se tranquilamente em uma cadeira, ou seja, sem nenhum nervosismo, próximos a uma luz. Um enfermeiro pressionava a veia do braço, e o doutor Hoven (Waldemar Hoven, médico chefe de Buchenwald) injetava rapidamente o fenol. Morriam com uma convulsão imediata e total, durante a aplicação da injeção, sem nenhum outro sinal de dor. Calculo que o tempo transcorrido entre o início da injeção e a morte era de meio segundo. O resto da dose se injetava como medida de precaução, ainda que para provocar a morte bastasse apenas uma dose da injeção. (Calculo que cerca de 5 cc.)

Os enfermeiros levavam o morto a uma habitação antiga. Eu calculo que estive ali uns dez minutos".

[…]
Durante a realização do programa de eutanásia, descrito mais adiante, foram assassinados milhares de pessoas mediante injeções de fenol. A cifra dos assassinados por este método ascendeu a mais de vinte mil pessoas.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/07/doctores-del-infierno-eutanasia-con-fenol-en-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 264-265; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com tifo

Publicado em 12 junho, 2012

O tifo se converteu num problema médico de primeira magnitude no outono de 1941, depois que a Alemanha atacou a Rússia. Como naquele momento escasseavam as vacinas, só se imunizavam contra o tifo o pessoal de saúde sanitária que ocupava postos de risco.

Entre dezembro de 1941 e março de 1942, iniciou-se um perverso e mortífero programa de experimentação médica usando reclusos dos campos de concentração de Buchenwald e Natzweiler. Seu propósito era avaliar diversas vacinas contra o tifo, a febre amarela, a varíola, a febre paratifoide A e B, o cólera e a difteria. Esperava-se com ele produzir um soro de convalescente para combater o tifo.

Durante o processo foi demonstrado que 729 presos foram submetidos a experimentos com tifo, dos quais 154 morreram. (…)

Ainda que os imputados Handloser, Schroeder, Genzken, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Sievers, Rose e Hoven fossem condenados por experimentos com tifo que constituíam delito criminoso, a maioria dos experimentos realizados em Buchenwald foi conduzido por um médico de sinistra fama, conhecido como o doutor Ding (Schuler), que se suicidou ao término da guerra e, portanto, não pode ser conduzido à justiça. O diário profissional do doutor Ding sobreviveu e, passado um tempo, foi entregue ao magistrado chefe para crimes de guerra, o general norte-americano Telford Taylor, e passou a ser uma das 1471 provas documentais preparadas pelos alemães. Desempenhou papel essencial na hora de condenar os médicos depravados.

Doutor Eugen Haagen
O doutor Eugen Haagen, oficial do Serviço Médico da Força Aérea e professor da universidade de Estrasburgo (França) durante a ocupação alemã, dirigiu experimentos com tifo em Natzweiler.

(…)

O melhor modo de descrever esses experimentos é recorrer ao testemunho do doutor Eugen Kogon, prisioneiro de um campo de concentração e testemunha de acusação, que foi interrogado pelo promotor McHaney:

Promotor McHaney: – O Sr. poderia, por favor, explicar ao tribunal, com suas próprias palavras, como foram efetuados esses experimentos com tifo?

Testemunho de Kogon: – Depois que se destinou para uma série de experimentos entre quarenta e sessenta pessoas (às vezes até cento e vinte), separava-se a um terço delas, e os dois terços restantes lhes vacinavam com um tratamento protetor ou lhes administravam de outro modo, se era um tratamento químico. (…) O contágio se efetuava de diversas maneiras. Transferia-se o tifo mediante o sangue injetado por via intravenosa ou intramuscular. No princípio também se fazia arranhando a pele, ou praticando uma pequena incisão no braço. (…)

Para manter os cultivos de tifo, utilizavam uma terceira categoria de sujeitos de experimentação. Eram as chamadas "pessoas de trânsito", entre três e cinco pessoas por mês. Elas eram contaminadas unicamente com o fim de assegurar um fornecimento constante de sangue infectado de tifo. Quase todas essas pessoas morreram. Não creio exagerar se digo que 95 por cento delas morreram.

Promotor: – A testemunha quer alegar que contaminavam premeditadamente com tifo entre três e cinco pessoas ao mês só para terem vírus vivos e disponíveis no sangue?

Testemunha: – Só com essa finalidade concreta.

[…]

Promotor: – Pode dizer ao tribunal se esses sujeitos de experimentação sofreram de forma apreciável no transcurso dos experimentos com tifo?

Testemunha: – […] os sujeitos de experimentação esperavam na enfermaria dia ou noite que lhes fizessem algo; não sabiam o que seria, mas adivinhavam que seria uma morte espantosa.

Se lhes vacinavam, às vezes ocorriam as cenas mais horrendas, porque os pacientes temiam que as injeções fossem letais. O Kapo tinha que restabelecer a ordem com mão de ferro.

Passado certo tempo depois da infecção, quando a enfermidade havia se manifestado, apareciam os sintomas normais do tifo, que, como é bem conhecido, é uma das enfermidades mais graves que existem. A infecção, como já foi descrito, havia se fortalecido muito durante anos e mais uma metade de ano anteriores na qual o tifo começou a aparecer em sua forma mais terrível. Havia casos de loucura furiosa, delírios, pessoas que se negavam a comer e uma grande porcentagem delas morria.

Os que sofriam a enfermidade em uma forma mais benigna, talvez porque fossem mais fortes de constituição ou porque a vacina surtia efeito, tinham que assistir constantemente a agonia dos outros. E isto ocorria em um ambiente que dificilmente poderia se imaginar. Durante o período da convalescência, os que sobreviviam ao tifo não sabiam o que seria deles. Seguiram no barracão 46 para serem utilizados para outros fins? Os utilizariam como ajudantes? Temeriam que eles como testemunhas sobreviventes dos experimentos com seres humanos e os matariam, portanto? Eles não sabiam, e ele agravava as condições desses experimentos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/12/doctores-del-infierno-experimentos-con-tifus/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 239-242; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o "campo pequeno" de Buchenwald

Publicado em 6 junho, 2012

O doutor Eugen Kogon, ex-recluso de Buchenwald e testemunha de acusação, declarou que o doutor Mrugowsky, um dos acusados, "selecionava sistematicamente a inválidos e pessoas mais velhas, especialmente franceses, que estavam no chamado "campo pequeno" de Buchenwald a fim de lhes extrair sangue para usá-lo na preparação de plasma sanguíneo.

Quando lhe foi perguntado se algum desses doadores de sangue do "campo pequeno" morreram por consequência disso, Kogon contestou: "O caso é que fica muito difícil formar uma ideia clara do "campo pequeno" de Buchenwald. Ali as pessoas morriam em massa. Pela noite havia
cadáveres nus estendidos pelos barracões porque os demais prisioneiros os arrancavam das camas para se ter um pouco mais de espaço. Os que queriam sobreviver lhes arrancavam até a menor peça de roupa. É impossível determinar se morreu alguém como consequência direta e imediata dessas extrações de sangue, porque muita gente caia e morria enquanto andava pelo "campo pequeno".

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/06/doctores-del-infierno-el-campo-pequeno-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 245; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com veneno

Publicado em 23 junho, 2012

Os experimentos com veneno praticados nos campos de concentração de Buchenwald e Sachsenhausen no tinham o propósito científico de sanar, sino que se utilizaram para cronometrar quanto tardavam para sobreviver à morte e observar a dor e o sofrimento que o veneno provocava até o último momento. Os médicos alemães estavam estudando diversos métodos para matar seres humanos e o tempo que estes métodos requeriam.

(…)

O argumento da defesa em sua argumentação final na acusação de Mrugowsky foi que o uso de balas envenenadas por parte dos russos "havia feito aumentar o temor de que logo se utilizassem na frente (…) e de quanto tempo tardariam para estar disponíveis os antídotos para sua administração caso fossem necessários".

Em dezembro de 1943 se realizou a primeira série de experimentos para determinar a dose fatal de veneno do grupo dos alcaloides (substâncias orgânicas básicas contidas nas plantas). Administrou-se o veneno na comida de quatro prisioneiros russos, sem seu conhecimento. Os médicos alemães se colocaram atrás de uma cortina para observar suas reações. Os quatro sobreviveram, mas foram estrangulados lhes colocando em ganchos de parede de um crematório do campo de concentração para poder fazer a autopsia...

(…)

A prova 290 da acusação é um relatório de Mrugowsky, datado de 12 de setembro de 1944, no qual ele descreve os experimentos levados a cabo com cinco presos aos quais lhes foram disparados balas que continham veneno cristalizado:
"Aos sujeitos da experimentação, colocados na horizontal, foi-lhes disparado na parte superior do músculo esquerdo. Em dois deles as balas atravessaram limpamente o músculo. Depois não se observou efeito algum do veneno. Esses dois sujeitos da experimentação foram portanto liberados (…). Os sintomas dos três condenados mostraram um parecer surpreendente. A princípio não se manifestou nenhum traço peculiar. Transcorridos entre vinte e vinte e cinco minutos se manifestou certa agitação motora e um ligeiro ptialismo [secreção de saliva], que acabou novamente. Passados entre quarenta e quarenta e cinco minutos se manifestou uma salivação maior. As pessoas envenenadas tragavam saliva repetidamente, mas posteriormente o fluxo de saliva aumentou até o ponto que não se remediar tragando. Saia saliva espumosa da boca. Depois começaram as náuseas e o afogamento.

Passados quarenta e oito minutos, já não se sentia o pulso de dois deles (…). Uma das pessoas envenenadas tentou vomitar. (…)

Os outros dois sujeitos da experimentação já tinham a cara pálida. Os demais sintomas eram iguais. A agitação motora aumentou tanto que as pessoas saltavam, moviam os olhos em círculos e faziam movimentos sem sentido com braços e mãos. Finalmente, a agitação diminuiu, as pupilas se dilataram ao máximo e os condenados ficaram imóveis (…) A morte veio passados 121, 123 e 129 minutos depois da entrada do projétil".
Demorou até duas horas e nove minutos para assassinar essas pessoas.

Ainda que oss imputados Genzken, Gebhardt, Mrugowsky e Poppendick tenham sido acusados por conduta criminosa relativa a este experimento, só Mrugowsky foi condenado.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/23/doctores-del-infierno-experimentos-con-veneno/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 247-250; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com bombas incendiárias

Publicado em 24 junho, 2012

O doutor Ding-Schuler dirigiu os experimentos com bombas incendiárias em Buchenwald. O propósito desses experimentos era comprovar a eficácia de um preparado com dissolvente líquido de tetracloreto de carbono, denominado R-17, e outros líquidos ou pomadas dermatológicas para combater as feridas e queimaduras de guerra causadas pelas bombas incendiárias arrojadas no campo de batalha. Se tivessem sucesso, essas pomadas seriam distribuídas em ambulatórios de socorro contra ataques aéreos a todas as vítimas potenciais dessas bombas.

Entre 19 e 25 de novembro de 1943, o doutor Ding selecionou "cinco sujeitos para experimentação [os quais] foram queimados premeditadamente com fósforo prendido extraído de uma bomba incendiária. As queimaduras resultantes foram muito severas, as vítimas sofreram dores atrozes e lesões permanentes". [Nuremberg Military Tribunals: The Medical Case, vol. 1 pág. 640].

(…)

Em seu testemunho, o doutor Mrugowsky afirmou:
- Depois de um tempo considerável sem notícias do oficial médico, e a propósito dar a conhecer o remédio R-17 aos ambulatórios de socorro contra ataques aéreos, perguntei-lhe a respeito em uma reunião. Ele me disse então que não podia introduzir o remédio porque só possuía propriedades de dissolução do fósforo, mas não contribuía diretamente para a cura das queimaduras.

Ainda que os imputados Genzken, Gebhardt, Mrugowsky e Poppendick fossem acusados de responsabilidade destacada e participação em experimentos com bombas incendiárias constitutivos de delito criminoso, todos eles foram absolvidos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/24/655/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno"
(livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 251-254; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com fenol

Publicado em 26 junho, 2012

Foi este o terceiro grupo de experimentos que não aparecia descritos expressamente no texto de acusação, mas que ainda assim foram ajuizados devido à existência de provas que colocavam de manifesto a comissão de atos desumanos e atrocidades.

O propósito deste experimento consistia em comprovar a tolerância do soro composto de fenol em soldados afetados com gangrena gasosa. Tanto nos campos de concentração como no exército, buscava-se métodos preventivos contra a gangrena gasosa.

O fenol é um potente veneno corrosivo, e sua solução aquosa, o ácido carbólico, é utilizado como antisséptico. As injeções de fenol se converteram assim mesmo no método clínico para o assassinato em massa dentro do programa de eutanásia, sem o objetivo científico de sanar, senão o de melhor "restabelecer" a saúde do Volk alemão mediante a erradicação de todos os "elementos inferiores". Esta categoria laxa (larga) incluía a judeus, ciganos e eslavos; "vidas indignadas de serem vividas": enfermos, retardados, deficientes mentais, epiléticos, enfermos mentais, cegos e pessoas deformes; e "indesejáveis": delinquentes, homossexuais, alcoólicos e outros grupos.

(…)

O doutor Hoven, um dos acusados, testemunho em 24 de outubro de 1946 como médico chefe de Buchenwald (prova 281 da acusação):
"Em alguns casos supervisionei a morte desses reclusos imprestáveis mediante injeções de fenol, a petição dos reclusos. As mortes ocorreram no hospital de campo e vários reclusos me ajudaram. Em uma ocasião, o doutor Ding foi ao hospital assistir as mortes com fenol e disse que não estavam sendo feitas corretamente, assim que ele mesmo deu algumas injeções. Naquela ocasião foram mortas três pessoas com injeções de fenol, e os três morreram em menos de um minuto.

O número total de traidores que foram mortos fora de uns cento e cinquenta, dos quais sessenta morreram por injeções de fenol administradas por mim pessoalmente ou sob minha supervisão no hospital de campo, e os demais presos foram foram mortos de diversas maneiras; por espancamento, por exemplo"
As surras as quais se referia o doutor Hoven ocorriam porque alguns presos recebiam tratamento preferencial. Os reclusos aos quais eram dados postos-chaves no campo, normalmente eram encarcerados por motivos não "políticos", desfrutavam frequentemente de melhores condições de vida. Isso gerava inveja entre os reclusos menos favorecidos que provocavam represálias, inclusive o assassinato. Tal comportamento era comum nos campos de concentração. Hoven usa a palavra "traidor" para dar a entender que os sujeitos da experimentação eram presos políticos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/26/doctores-del-infierno-experimentos-con-fenol/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 262 a 263; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Estônia ri dos crimes dos nazistas

Artiom Kobzev. 6.09.2012, 19:24

Auschwitz-Birkenau. Alemanha Nazismo
RIA novosti
Parece que a Estônia consolida a fama de Estado onde os crimes dos nazistas são motivo de piadas. Mal cessou o escândalo com o uso da foto dos portões do campo de concentração de Auschwitz, no comercial de firma de gás, quando veio a tona novo fato. Desta vez em jornal local surgiu um anuncio de comprimidos para emagrecer, impresso tendo por fundo uma fotografia de prisioneiros de Buchenwald.

O primeiro que chamou a atenção para o anúncio provocador foi o vice-prefeito de Tallin, Mikhail Kilvart. Em sua página na rede social Facebook ele publicou a fotografia da página de jornal com o anúncio impresso sobre a imagem dos prisioneiros famintos do campo de concentração. A foto no jornal estava acompanhada da inscrição: “Os comprimidos do doutor Mengele fazem milagres”. E embaixo da foto mais um lema: “Em Buchenwald não havia nenhum gordo”. Tudo isto causou a indignação de Kilvart. “Como é possível brincar com o extermínio em massa de pessoas” – escreveu ele no Facebook.

A pergunta: por que na Estônia são possíveis tais publicações, deve ser endereçada às autoridades da república – diz o diretor da Fundação “Memória Histórica”, Alexander Diukov.

“Aqui tem lugar uma incompreensão exata do que foi o nazismo, o que foi Auschwitz e quem foi o doutor Mengele. Na verdade isto não é surpreendente, porque é difícil esperar conhecimentos sobre o nazismo de habitantes de um país em que são considerados heróis os legionários das SS. Isto é, aqueles que combateram ao lado dos nazistas. Nós vemos que na Estônia o nazismo não foi condenado como tal”.

Poder-se-ia prevenir semelhantes escândalos se fossem introduzidas normas jurídicas correspondentes. Em uma série de países da Europa vigoram leis voltadas contra as pessoas que negam, justificam ou diminuem os crimes dos nazistas. É verdade que nenhuma lei ajuda se as pessoas não tiverem educação elementar – lamenta o advogado israelense Eli Hervitz.

“É impossível com métodos jurídicos incutir nas pessoas senso de humor e a compreensão do que não se relaciona, e não pode se relacionar com nenhum senso de humor. A jurisprudência é parecida com um machado, mas existem muitos problemas que devem ser resolvidos com bisturi – com a educação. Como obrigar as companhias a não brincar desse modo. Em qualquer país que se preze não é preciso decretar leis para isto. Qualquer companhia que, na América, Israel, ou na Alemanha, se permitisse tal campanha publicitária, simplesmente estaria se condenando à morte econômica.”

“Os comprimidos do doutor Mengele” não é o primeiro anúncio estoniano que explora o tema do Holocausto. Há umas duas semanas uma companhia que vende equipamentos de gás alemães, publicou em seu site uma foto dos portões do campo de concentração de Auschwitz. Como explicou o diretor executivo da firma, o aquecimento a gás é associado com o Holocausto. “Nós ouvimos com frequência a anedota de que Hitler suicidou-se porque recebeu a conta de gás” – acrescentou ele.

Deve-se assinalar que os publicitários também de outros países às vezes usam imagens relacionadas com o nazismo. Mas estas são mostradas exclusivamente como algo terrível. E somente as firmas estonianas recorrem a elas para promover suas mercadorias e serviços.

Fonte: Voz da Rússia
http://portuguese.ruvr.ru/2012_09_06/87438097/

Ler mais:
Estonia: fotos de prisioneros de Buchenwald para promocionar píldoras para adelgazar (RT)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Buchenwald (campo de concentração)

Um dos maiores campos de concentração da Alemanha, ubicado a 8 km ao norte da cidade de Weimar. Começou a funcionar em 16 de julho de 1937 e foi libertado em 11 de abril de 1945.
Dos 238.980 prisioneiros provenientes de 30 países que passaram por ele, 43.045 foram assassinados, incluindo os prisioneiros de guerra soviéticos.

Buchenwald estava dividido em três seções: o “campo grande”, que albergava prisioneiros com maiores privilégios; o "campo pequeno", para prisioneiros comuns, e o "campo de tendas", estabelecido em 1939 para prisioneiros poloneses. Também incluía uma área administrativa, as barracas das SS, as fábricas e os 130 campos satélites. Dois comandantes estiveram no comando do campo: o coronel das SS Karl Koch, de 1937 a 1941; e de 1942 a 1945, o tenente-coronel das SS Hermann Pister.

O primeiro grupo de 149 prisioneiros chegou a Buchenwald em julho de 1937, em sua maioria presos políticos e delinquentes comuns. Pouco depois começaram a chegar grandes transportes, e em fins de 1937 já havia 2.561 prisioneiros, em sua maior parte políticos. Na primavera de 1938 juntaram-se ao campo pessoas rotuladas como "antissociais". Para essa mesma época chegaram os primeiros transportes de judeus alemães. Em julho o número de presos era de 7.723. Em 23 de setembro de
1938 chegaram 2.200 judeus da Áustria, e outros 10.000 depois do pogrom de 9-10 de novembro de 1938 (Kristallnacht- Noite dos Cristais).

Os judeus eram tratados com extrema crueldade. eram obrigados a trabalhar 14-15 horas por dia, e viviam sob terríveis condições. Nessa etapa, o objetivo dos alemães era pressionar os judeus para que abandonassem o país. Em fins de 1938 liberaram 9.370 judeus de Buchenwald, depois que suas famílias e organizações judaicas e internacionais conseguiram fazer arreglos para que
emigrassem. Durante o breve lapso em que esses prisioneros estiveram em Buchenwald, 600 foram assassinados, suicidaram-se ou morreram por diversas causas.

Iniciada a guerra, milhares de opositores políticos foram presos e levados a Buchenwald. O número de prisioneiros aumentou novamente quando judeus da Alemanha e do Protetorado da Boêmia e Morávia foram deportados para o campo; em setembro de 1939 havia 2.700.

Posteriormente, milhares de poloneses foram confinados no campo das tendas.

Em 17 de outubro de 1942 os nazis ordenaram que todos os prisioneiros judeus no Reich fossem transferidos para Auschwitz, com exceção de 204 trabalhadores. Em 1944, judeus húngaros foram transportados em direção contrária, de Auschwitz a Buchenwald. Esses permaneceram pouco tempo no campo principal, para logo serem repassados para campos satélites. Os judeus recebiam um tratamento muito pior que os demais prisioneiros, e foram vítimas de experimentos médicos.

Em 1943 os alemães terminaram a construção de fábricas de armamentos no lugar. Isto acarretou num incremento de população: em fins de 1944 havia 63.048 prisioneiros, e 86.232 em fevereiro de 1945.

Em 18 de janeiro de 1945 os alemães começaram a evacuar Auschwitz e outros campos na Europa
oriental. Isto provocou o traslado de milhares de prisioneiros judeus para Buchenwald, entre eles centenas de crianças para as quais foram montadas barracas especiais no campo de tendas, denominadas de "Bloco das c rianças 66"; a maioria delas sobreviveu.

Em 1943 se organizou no campo um movimento de resistência denominado Comitê Clandestino Internacional, no qual também participavam judeus. O movimento conseguiu sabotar parte do trabalho que se realizava na fábrica de armamentos, e introduziu como contrabando ao campo, armas e munições.

Os alemães começaram a evacuar os prisioneiros judeus em 6 de abril de 1945. No dia seguinte foram evacuados outros milhares de prisioneiros. Cerca de 25.500 morreram durante a evacuação. Nos últimos dias de Buchenwald, os membros da resistência conseguiram demorar as evacuações. Em 11 de abril a maioria dos efetivos das SS havia fugido. Os membros da resistência tomaram o controle do campo e capturaram os SS que ficaram. Nesse dia, 21.000 prisioneiros foram libertados em Buchenwald, incluindo 4.000 judeus e 1.000 crianças. Em 1947, 31 funcionários do campo foram julgados nos Julgamentos de Nuremberg. Dois foram condenados a morte e quatro a prisão perpétua.

Notas

Zadoff, Efraim (Ed.), SHOA - Enciclopedia del Holocausto, Yad Vashem y E.D.Z. Nativ Ediciones,
Jerusalém 2004. Baseado em: Rozett, Robert & Shmuel Spector (Ed.), Encyclopedia of the Holocaust,
Yad Vashem and Facts On File, Inc., Jerusalem Publishing House Ltd, 2000

Fonte: Yad Vashem
http://www1.yadvashem.org/yv/es/holocaust/about/pdf/buchenwald.pdf
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Morre Jorge Semprún - O preso 44.904 de Buchenwald

A cultura e a política se despidem de Jorge Semprún elogiando sua lucidez e compromiso.

O grande memorialista do século XX necessitou de duas décadas de amnésia deliberada para escriver suas recordações.


Ao centro, Jorge Semprún.
Todo o espectro político louvou seu compromisso intelectual e sua lucidez para denunciar os totalitarismos e a barbárie do século XX que sentiu na própria carne e que deu início a uma das grandes obras memorialísticas contemporâneas. Tanto na França como na Espanha políticos e intelectuais comentaram sua incorruptível independência e seus sucessos literários que sobreviverão em seu legado. Tanto o presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero como seu colega Nicolas Sarkozy elogiaram a figura e a obra da testemunha privilegiada de um século terrível. Um resistente que sobreviveu à barbárie para nos vacinar contra ela numa obra de singular estatura.

Com vinte anos Jorge Semprún (Madrid 1923) foi preso pela Gestapo e enviado ao campo de extermínio de Buchenwald. Foi marcado com o número 44.904, uma marca indelével e princípio de uma experiencia terrível que marcaria sua vida e sua obra. Sobreviveu àquele inferno e foi libertado em 1945. Necessitou de duas décadas de «amnésia deliberada» para abordar aquela pavorosa experiência. Nunca deixou de se perguntar como poderia explicar a si e explicar aquele intenso «cheiro de carne queimada» que emanava dos crematórios.

A enfermidade o dobrou nesta terça-feira, com 87 anos, a lúcida testemunha de um século terrível. Ao sobrevivente e resistente antinazi, ao desconforme militante comunista, ao clandestino e múltiplo Federico Sánchez, ao rebelde que abominou o stalinismo, ao roteirista que construiu o armazém do cinema político e comprometido, ao intelectual modesto, ao europeísta de primeira fornada, ao político que reclamou pela democracia com Felipe González e que marchou decepcionado e aos pontapés, ao republicano que quis se despedir do rei, e ao escritor que brilhou nas línguas de Molière e Cervantes. Um Semprún que teve como pátria primeiro o horror e depois a linguagem, «a necessidade de comunicação que está na natureza humana».

Resistente nato, guardou «mais lembranças do que se tivesse mil anos» segundo afirmou ele mesmo em 'Adiós, luz de veranos'(Adeus, luz de verões) apropriando-se de um verso de Baudelaire. Umas recordações que repassamos através de sua palavra e que para conseguir emergir necessitaram daquela «amnésia» autoimposta enquanto trabalhou como tradutor para a UNESCO. Com eles reconstruiu na literatura uma vida de compromisso, resistência e militância contada em 'Adiós, luz de veranos'(Adeus, luz de verões), 'Viviré con su nombre, morirá con el mío'(Viverei com seu nome, morrerei com o meu), 'Aquel domingo'(Aquele domingo), 'La escritura o la vida'(A escritura ou a vida), 'Autobiografía de Federico Sánchez'(Autobiografia de Frederico Sánchez) ou 'Federico Sánchez se despide de ustedes'(Frederico Sánchez se despede de vocês).

Buchenwald: «Sabe o que é mais importante em ter passado por um campo? Sabe o que é isso, o que é o mais importante e o mais terrível, e a única coisa que não se pode explicar? O cheiro da carne queimada. Que fazes com a recordação do odor da carne queimada? Para essas circunstâncias há a literatura. Mas como falas disso? Como comparas? A obscenidade da comparação? Dizes, por exemplo, que cheira como frango queimado?...Eu tenho dentro de minha cabeça, vivo, o odor mais importante de um campo de concentração. E não posso explicá-lo. E esse cheiro irá comigo como já não se foi com outros», dizia.

Literatura e vida: «A escritura e os escritores são os únicos capazes de manter vivo a recordação da morte. Se não, se os escritores não se apoderarem dessa memória dos campos de concentração, se não a fazem reviver e sobreviver mediante sua imaginação criadora, será apagada com as últimas testemunhas, deixará de ser uma recordação em carne e osso da experiência da morte».

Holocausto: «Estão desaparecendo as testemunhas do extermínio. Cada geração tem um crepúsculo dessas características. As testemunhas desaparecem. Mas agora me está tocando viver para mim. Ainda há mais velhos que eu que passaram pela experiência nos campos. Mas nem todos são escritores, claro. No crepúsculo a memória se faz mais tensa, mas também está mais sujeita às deformações».

Detenção, tortura e resistência: «Mentalizei para mim: tinha que resistir, não devia falar. Optei por um conto que não pusesse em perigo a nenhum dos companheiros. Uma novelinha leve que nesses dias era possível se ler na própria imprensa dos colaboracionistas: eu era o pobre estudante que não tinha dinheiro, que ouvia uma conversa e que é encarregado de levar umas maletas cujo conteúdo desconhecia. Acredito que estavam metidas com o mercado negro e um dia descubri que estava metida com o transporte de armas, que não pude deixar porque te ameaçam».

Militância e expulsão do PC: «Fui o bode expiatório. Talvez fui imprudente; quando começou tudo, tinha que ter cortado para sarar. Em todo caso, isso acelerou meu desgosto, minha náusea e minha disposição em ir à Espanha clandestinamente», disse sobre seu abandono do PC francês. «Grande parte da minha vida consistiu em destruir tudo isso. Não em trai-lo, senão em destrui-lo no sentido de deixar de ser um bom comunista para ser um bom democrata. Disto meu interesse pela Europa, porque é uma das coisas que me ajudou a me distanciar do comunismo e do leninismo e a compreender as virtudes da razão democrática. Quando fui comunista de verdade durante 20 anos não é de se gabar haver estado nos salões com Louis Aragon».

Stalinismo: «arrependo-me ou renego de haver sido militante do comunismo stalinista? Não. Creio que naquele momento havia uma justificativa para isto. Arrependo-me de não haver saído do PC em 1956, o ano dos movimentos antissoviéticos na Polônia e Hungria? Não. Porque sou espanhol; se fosse francês, haveria sido o momento de romper. Mas na Espanha, quaisquer que fossem os crimes de Stalin, lutar com o PC contra Franco valia a pena».

Ministro: «Não sei o que pinto nesta fotografia, mas tentarei pintar algo» disse ao assumir a pasta da Cultura e topar com Alfonso Guerra «uma pessoa que crê ter opiniões culturais».

Memória e identidade: «Minhas memórias são um pouco vitorianas. Não há nada íntimo. São tão pouco íntimas que não falo jamais de Colette (sua esposa), por exemplo, e passei 55 anos com ela de companheirismo e matrimônio».

Os restos mortais de Semprún serão sepultados neste domingo numa cerimônia laica, em Garentreville, onde a família de sua esposa possui um sepulcro. Ao enterro comparecerá como representante do governo espanhol a ministra da Cultura, Ángeles González-Sinde.

09.06.2011

Fonte: elnortedecastilla.es(Espanha)
http://www.elnortedecastilla.es/v/20110609/cultura/preso-buchenwald-20110609.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Jorge Semprun: la sociedad no puede cambiarse, pero el hombre, sí.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Hackers põem mensagens neonazistas no site de Buchenwald

BERLIM - Hackers substituíram nesta quarta-feira um "Livro dos Mortos" por slogans e símbolos neonazistas no site do antigo campo de concentração de Buchenwald (www.buchenwald.de), além de apagarem completamente o site do campo de Mittelbau Dora.

"Marrom é bonito", dizia um slogan, em inglês, referindo-se à cor das camisas da SA (tropas de assalto nazistas). "Voltaremos", ameaçava outra mensagem, essa em alemão.

"Ao danificar os serviços e a documentação que oferecemos, como o Livro dos Mortos do campo de concentração de Buchenwald, os autores estavam tentando apagar a memória das vítimas dos crimes dos nazistas", disse em nota Volkhard Knigge, diretor da fundação memorial de Buchenwald.

O caso foi submetido à polícia.

Quase 250 mil pessoas, a maioria judias, passaram pelo campo de Buchenwald, onde eram forçadas a trabalhar em fábricas de armas. Estima-se que 56 mil delas tenham morrido de exaustão, fome ou doenças, ou tenham sido executadas.

Perto dali, Mittelbau Dora também fornecia mão de obra à indústria bélica nazista, e se estima que um terço dos 60 mil prisioneiros dali tenha morrido.

Fonte: Reuters
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2010/07/28/hackers-poem-mensagens-neonazistas-no-site-de-buchenwald-917263035.asp

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Obama critica negação 'ignorante e odiosa' do holocausto

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, aproveitou nesta sexta-feira uma visita ao antigo campo de concentração nazista de Buchenwald, na Alemanha, para criticar aqueles que negam o holocausto.

Obama, que passou pelo país em seu giro de volta do Oriente Médio, disse que os que defendem esta visão o fazem "sem base" e de forma "ignorante e odiosa".

Acompanhado da chanceler alemã, Angela Merkel, Obama caminhou por Buchenwald, onde cerca 250 mil prisioneiros foram mantidos entre 1937 e 1945. O campo foi liberado em 1945 pelas tropas americanas.

"Até hoje existem os que insistem em que o holocausto nunca aconteceu, uma negação de fato e verdade feita sem base, ignorante e odiosa. Esse lugar desmente essas idéias, é um lembrete de nossa tarefa de confrontar aqueles que contam mentiras sobre nossa história", criticou o presidente.

"Até hoje existem também aqueles que perpetuam todas as formas de intolerância, racismo, antissemitismo, homofobia, xenofobia, discriminação sexual e mais. Ódio que humilha as vítimas e nos diminui a todos."

Lição

Obama já havia tocado no tema do holocausto no dia anterior, quando falou em um discurso na Universidade do Cairo, no Egito, sobre o Irã, país cujo presidente nega o holocausto.

Antes da visita ao campo, Obama havia sugerido que Ahmadinejad - que nesta semana repetiu suas alegações de que o holocausto foi "uma grande fraude" - deveria visitar Buchenwald.

O presidente americano e a chanceler alemã carregaram cada um uma longa rosa branca enquanto caminhavam por Buchenwald acompanhados pelo sobrevivente do holocausto e vencedor do prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel.

Eles depositaram as rosas sobre uma placa memorial para as mais de 56 mil pessoas que morreram no campo. Depois eles visitaram as celas e o crematório.

"Não esquecerei o que vi aqui", disse Obama. Em seguida ele lembrou a história de um de seus tios-avôs, Charles Payne, que ajudou a liberar Ohrdruf, um campo satélite de Buchenwald.

Oriente Médio

Obama e Angela Merkel anunciaram ter discutido, na cidade alemã de Dresden, um plano para promover a paz entre israelenses e palestinos, prometendo "redobrar" os esforços para alcançar este objetivo.

"Agora é o momento de agir no que ambos os lados sabem ser verdade", disse Obama.

Mas o presidente americano não entrou em detalhes sobre os passos concretos de seu governo neste sentido.

Afirmou apenas que enviaria o representante americano para a região, George Mitchell, de volta à mesa de negociações com os principais envolvidos na questão.

Fonte: BBC/O Globo
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/06/05/obama-critica-negacao-ignorante-odiosa-do-holocausto-756212876.asp

Ver mais:
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/06/05/obama-sobre-ahmadinejad-nao-tenho-paciencia-com-pessoas-que-negam-historia-756212111.asp

terça-feira, 7 de abril de 2009

Buchenwald - Enciclopédia do Holocausto

Buchenwald, juntamente com seus muitos campos satélites, foi um dos maiores campos de concentração criados pelos nazistas. Foi construído em 1937 em uma área arborizada na encosta setentrional da floresta de Ettersberg, a cerca de 8 quilômetros a noroeste da cidade de Weimar, situada na área centro-leste da Alemanha. Antes do domínio nazista, Weimar era famosa por ser a residência do mundialmente conhecido e admirado escritor e poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe, uma das maiores expressões da tradição liberal alemã do século dezoito e início do dezenove, e também por ter sido o berço da democracia constitucional alemã, a República de Weimar instituída em 1911. Durante e após o regime nazista "Weimar" passou a ser associada ao campo de concentração de Buchenwald.

Em julho de 1937 Buchenwald foi aberto para a acomodação masculina, e até o final de 1943 ou início de 1944 mulheres não eram detidas naquele sistema de campos de concentração. Os detentos eram confinados na seção norte do campo, em uma área conhecida como o “campo principal”, e as barracas dos guardas das SS e o complexo administrativo ocupavam a parte sul. O campo principal era rodeado por cercas de arame eletrificado e farpado, torres de vigilância, e uma rede de sentinelas armadas com metralhadoras automáticas. A área de detenção, também conhecida como Bunker, ficava na entrada do campo principal. Os agentes das SS freqüentemente fuzilavam prisioneiros nos estábulos ou os enforcavam na área do crematório.

A maioria dos primeiros detentos de Buchenwald era formada por prisioneiros políticos. Contudo, em 1938, após o massacre da Kristallnacht, os agentes das SS e da polícia alemã enviaram cerca de 10.000 judeus para Buchenwald, onde foram submetidos a tratamentos extraordinariamente cruéis. Duzentos e cinqüenta e cinco deles morreram por causa dos maus tratos iniciais infligidos naquele campo.

Judeus e prisioneiros políticos não foram os únicos grupos a fazerem parte da população de detentos em Buchenwald, embora os "políticos", devido à sua longa permanência no local, desempenhassem um papel importante na infra-estrutura carcerária do campo. Criminosos reincidentes, Testemunhas de Jeová, ciganos roma e sinti, e desertores militares alemães também eram mantidos em detenção em Buchenwald. Este foi um dos únicos campos de concentração a manter como prisioneiros pessoas acusadas de “preguiça”, indivíduos que o regime encarcerou sob a acusação de serem "anti-sociais" porque não podiam, ou não queriam, conseguir uma ocupação lucrativa. Em seus últimos dias, o campo também teve prisioneiros de guerra de diversas nacionalidades, combatentes da resistência, ex-dirigentes importantes dos países ocupados pelos alemães, e operários estrangeiros realizando trabalhos forçados.


A partir de 1941, médicos e cientistas empreenderam um programa diversificado de experiências “médicas” com os prisioneiros de Buchenwald, realizadas em barracas especiais montadas na parte norte do campo principal. O objetivo dessas experiências era testar a eficácia de vacinas e tratamentos contra doenças contagiosas como o tifo, a febre tifóide, a cólera e a difteria, experiências estas que resultaram em centenas de mortes. Em 1944, o médico dinamarquês Dr. Carl Vaernet iniciou uma série de experiências de transplantes hormonais que, segundo ele, trariam a "cura" para detentos homossexuais.

Ainda naquele mesmo ano, os oficiais do campo montaram, próximo ao prédio da administração de Buchenwaldum, um "complexo especial" para receber prisioneiros políticos alemães famosos. Ernst Thaelmann, presidente do conselho do Partido Comunista Alemão antes que Hitler ascendesse ao poder em 1933, lá foi assassinado em agosto de 1944.

Buchenwald: trabalho forçado e sub-campos

Durante a Segunda Guerra Mundial, o sistema do campo de concentração de Buchenwald tornou-se uma fonte importante de trabalho forçado. A população de prisioneiros cresceu rapidamente, chegando a 112.000 em fevereiro de 1945. As autoridades do campo de Buchenwald utilizavam esses trabalhadores escravos em oficinas, na pedreira situada no campo, e também na Deutsche- Ausrüstungs-Werk – DAW, a Fábricas de Equipamentos Alemães, uma empresa de propriedade das SS e por elas administrada. Em fevereiro de 1942, a empresa de armamentos “Wilhelm Gustloff Werke” montou uma pequena fábrica de apoio em um sub-campo de Buchenwald e, em março de 1943, abriu uma grande fábrica de munições ao lado do campo. Um ramal ferroviário, concluído em 1943, ligava o campo às áreas de embarque em Weimar, facilitando o transporte de materiais de guerra.

De Buchenwald eram administrados pelo menos 88 sub-campos espalhados pelos território alemão: de Düsseldorf, na Renânia, à fronteira com o Protetorado da Boêmia e da Moravia, a leste (anteriormente parte da República Checa). Os prisioneiros dos campos satélites eram colocados para trabalhar principalmente nas fábricas de armamentos, em pedreiras, e em projetos de construção. Os prisioneiros de Buchenwald periodicamente passavam por uma seleção, e os oficiais das SS enviavam aqueles que estavam incapacitados para trabalhar, seja por estarem extremamente debilitados ou por serem portadores de alguma deficiência física, para instalações de extermínio, como a de Bernburg. Lá eles eram mortos nas câmaras de gás como parte da Operação 14f13, que era uma extensão das operações de eutanásia contra os prisioneiros doentes e exauridos de outros campos de concentração. Os demais prisioneiros considerados fracos eram mortos por injeções de fenol aplicadas pelo médico do campo.

A liberação de Buchenwald

À medida que as tropas soviéticas se espalhavam rapidamente pela Polônia, os alemães evacuavam milhares de prisioneiros dos campos de concentração das áreas ocupadas que estavam sob ameaça. Após longas e brutais caminhadas, mais de 10.000 prisioneiros debilitados e exaustos, a maioria judeus, vindos de Auschwitz e Gross-Rosen chegaram a Buchenwald em janeiro de 1945.

No início de abril de 1945, com a aproximação das tropas americanas, os alemães começaram a evacuar cerca de 28.000 prisioneiros do campo principal e milhares de outros dos sub-campos de Buchenwald. Aproximadamente um terço destes prisioneiros morreu de exaustão no caminho e logo após a chegada, ou foram fuzilados pelas SS. Muitas vidas foram salvas por membros da resistência em Buchenwald. Devido às posições administrativas fundamentais que executavam no campo eles conseguiram dificultar a execução das ordens dos nazistas e atrasaram a evacuação.

Em 11 de abril de 1945, na iminência de sua libertação, prisioneiros famintos e extenuados lançaram-se de assalto aos vigias, assumindo o controle do campo. Naquela mesma tarde, as tropas americanas ocuparam Buchenwald, e os soldados da Terceira Divisão do Exército Americano lá encontraram mais de 21.000 pessoas. Entre julho de 1937 e abril de 1945, cerca de 250.000 pessoas de todos os países europeus ficaram aprisionados em Buchenwald. O número de mortes no campo de Buchenwald não pode ser dado com precisão pois uma quantidade significativa de prisioneiros nunca foi registrada: sabe-se que pelo menos 56.000 detentos do sexo masculino foram assassinados no sistema de concentração de Buchenwald, dos quais 11.000 eram judeus.

Fonte: USHMM (U.S. Holocaust Memorial Museum)

Foto: isurvived.org

sábado, 28 de março de 2009

Memorial Buchenwald foi criado há 50 anos por líderes comunistas

Buchenwald, criado em 1958, na então Alemanha Oriental, foi o primeiro memorial criado num antigo campo de concentração dentro do território alemão.

(Foto) Cartão de prisioneiro do campo de concentração de Buchenwald

A cidade de Weimar é conhecida, acima de tudo, por seus monumentos, como a Casa Goethe ou a Biblioteca Anna Amalia. No entanto, a poucos quilômetros do centro, o capítulo mais negro da história alemã é simbolizado por uma enorme torre e por um sino: trata-se do Memorial Buchenwald, inaugurado em 1958, sob o governo da então Alemanha Oriental, de regime comunista.

Há 50 anos, no dia 14/09/1958, pontualmente às 11 horas da manhã, soava, pela primeira vez, o sino no alto da torre de 50 metros, que pode ser vista à distância. Não longe dali fica a escultura do artista Fritz Cremer, de onde se pode avistar Weimar como de quase nenhum outro lugar a região.

A inaguração ali do Memorial Buchenwald pelo então governo da Alemanha Oriental foi uma conseqüência das exigências dos sobreviventes, que entrou para a história como o primeiro memorial do pós-guerra no país de regime comunista. A idéia, na época, era legitimar a posição da Alemanha Oriental como uma nação "diferente e melhor" do que a Alemanha Ocidental.

Alojamento e penitenciária

Instalação da artista Rebecca Horn reflete sobre história de Buchenwald

Hoje, do diretor do Memorial, Volkhard Knigge, observa que, em 1958, "Buchenwald era o maior Memorial do Holocausto situado num ex-campo de concentração em território alemão. Na Alemanha Ocidental, no mesmo ano, as instalações do ex-campo de concentração de Dachau, por exemplo, serviam de alojamento para refugiados do Leste do país, enquanto Neuengamme, perto de Hamburgo, era uma penitenciária juvenil. Ou seja, é possível compreender porque muitos sobreviventes, mesmo não sendo ligados ao comunismo, também se identificaram muito com esse Memorial".

Enquanto a Alemanha Ocidental, capitalista, ainda tratava de temas relacionados aos crimes cometidos durante o passado nazista de forma superficial e atenuante, os governantes da República Democrática Alemã (RDA) se apropriaram rapidamente da história dos campos de concentração em proveito próprio.

Memória seletiva

Prisioneiros de Buchenwald, em abril de 1945

Embora os membros da resistência comunista durante o período nazista tenham formado apenas um pequeno grupo entre as vítimas do nazismo, as celebrações e homenagens na Alemanha Oriental se voltavam quase que exclusivamente para eles.

"Simplesmente ignoradas eram as medidas violentas e de exclusão dos perseguidos em função das teorias raciais do regime nazista. Nada lembrava os judeus, os sintos e rom, os homossexuais, os excluídos da sociedade em geral", analisa Knigge.

A disposição física do Memorial de Buchenwald também obedecia aos objetivos ideológicos e políticos do governo da Alemanha Oriental. Knigge salienta, por exemplo, que antes mesmo da inaguração do Memorial foram destruídas várias barracas, que poderiam conter rastros dos desatinos registrados pela história oficial, acredita Knigge.

Três exposições

Cerca reconstruída: memorial aberto ao público

O escultor Fritz Cremer, por exemplo, foi obrigado várias vezes a modificar sua obra, até que ela ficasse ao gosto do então presidente do partido único SED. Mesmo assim, observa Knigge, à sombra de tamanha monumentalidade e de tantas deficiências, havia no Memorial Buchenwald também rupturas, que faziam com que valesse a pena visitar o local. "Nas esculturas, é possível, ainda hoje, para além desse lado estatal-oficial, ver figuras de refugiados como não eram encontradas em toda a RDA".

Hoje, três exposições tratam de informar ao visitante a respeito do ex-campo de concentração e sua história. A maior delas documenta os destinos dos prisioneiros, a segunda informa sobre o campo especial soviético após o fim da Segunda Guerra, e a terceira fala da apropriação política do Memorial pelo SED, então partido único da Alemanha de regime comunista.

Peter Sommer (sv)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,3644111,00.html

sexta-feira, 13 de março de 2009

Eliminação de Corpos em Auschwitz - O fim da negação - Parte 7 - Capacidade de Cremação

A utilização de fornos crematórios parece ter começado em algum momento de 1870. É conhecido à partir de cremações realizadas em 1874 que uma criança de 47 libras poderia ser cremada em 25 minutos, uma mulher de 144 libras em 50 minutos e um homem de 227 libras em 55 minutos[104]. Em 1875 foi relatado que um corpo poderia ser cremado em 50 minutos[105].

Mattogno cita um participante de uma conferência britânica de cremação em 1975 que afirmou que a “barreira térmica”para uma cremação foi de 60 minutos[106]. Ele ignorou o comentário de outro participante da conferência que sugeriu que a maior parte da cremação ocorreu nos primeiros 30 minutos:
Após cerca de meia hora, se o forno tiver chegado até uma temperatura de 1.100°C, ou se é 900°C, existe uma rápida queda de distância, e eu penso que as investigações devam estar envolvidas com os últimos vinte minutos ou então o ciclo de cremação. Neste instante você tem no crematório uma quantidade muito pequena de material do corpo...aproximadamente do tamanho de uma bola de rugby, a cerca de vinte minutos do fim da cremação, e isto é o mais difícil para remover[107].

As instruções do forno duplo da Topf previam que um corpo poderia ser adicionado ao forno durante os últimos vinte minutos e que tinham plena capacidade de cremar os corpos que tinham sido previamente introduzidos:
Assim que os restos dos corpos caíram do chamotte da grelha para a coleta das cinzas abaixo do canal, eles devem ser puxados para frente no sentido da porta de remoção das cinzas, usando o raspador. Aqui eles podem ser deixados por mais vinte minutos para serem totalmente consumidos...Neste meio tempo, outros corpos podem ser introduzidos após outros pelas câmaras[108 ]. (ênfases do autor)
Como veremos posteriormente, existe agora uma forte evidência que que os corpos foram adicionados antes do cadáver ser totalmente incinerado, resultando em um ciclo de 25 minutos para a cremação de cada corpo. (ver discussão na nota de rodapé 136).

Na Alemanha dos anos 1880 era possível cremar um corpo e o caixão que o abrigava em 60 e 75 minutos[109]. O processo de cremação se tornou muito popular na Alemanha nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Em 1926, os jornais de Berlim relataram que 1/5 de todos aqueles que morreram naquela cidade foram cremados[110]. Em 1931 a Alemanha liderava as cremações na Europa. Das 94.978 cremações na Europa neste ano, 59.119 foram na Alemanha. A Alemanha tinha 107 dos 226 crematórios da Europa. Associados de sociedades de cremação alamãs ultrapassaram os de outros países. A Alemanha também teve mais revistas/diários de cremação do que qualquer outro país. Das sete revistas/diárias de cremação na conferência britânica de cremação em 1932, quatro eram alemãs[111]. Nos anos 1930 havia dois principais construtores de fornos na Alemanha. Um destes era a Topf and Sons, anteriormente identificados como os construtores dos fornos de Auschwitz. (grifos dos tradutor)

Um dos problemas quando se discutem questões dos crematórios de Auschwitz é que a taxa de utilização destes fornos para eliminação de corpos é sem precedentes na história da humanidade. Para colocar isto em algum tipo de perspectiva, no estado da Califórnia, com 20 milhões de pessoas, em 1982 teve 58.000 cremações[112]. No entanto, em Auschwitz, que nunca tinha registrado mais de 92.000 prisioneiros registrados, muitas vezes este número foi o número de cremados durante um período de quatro anos.

Os meios tradicionais de eliminação de corpos em tempos de guerra, eram as cremações ao ar livre. Em Leningrado, hoje São Petersburgo, durante a Segunda Guerra Mundial, pelo menos, um milhão de pessoas morreram. Elas foram cremadas a céu aberto[113]. Como veremos mais adiante neste estudo, cremações ao ar livre foram extensamente utilizadas em Auschwitz.

O problema específico com Auschwitz é que devido à natureza única que estava acontecendo ali e na ausência de dados de quaisquer registros que documentam uma cremação ou como estes fornos trabalhavam, nós estamos necessariamente forçando certa especulação. Nós realmente não sabemos quantos corpos poderiam ser queimados nos crematórios diariamente, a quantidade de combustível que era necessário para cremar um corpo, o tempo de vida de um forno, ou o efeito de qualquer destas considerações quando mais de um corpo estava sendo cremado em um forno. Além disso, a natureza do que aconteceu torna cientificamente impossível a repetição. Por exemplo, é improvável que haverá uma oportunidade para que 52 fornos, todos no mesmo local, eliminar corpos sob as mesmas condições que existiam em Auschwitz. Além disso, cremações modernas estão sujeitas a uma série de regras e regulamentos que não se aplicavam aos campos de concentração alemães. Nas cremações modernas, as cinzas das pessoas não podem se misturar com as cinzas de outras pessoas. Nenhum dos campos de concentração alemães tinha esta obrigação.

Mattogno computou em sua alegação qual foi o número máximo de corpos que poderiam eventualmente ser cremados nos quatro crematórios de Birkenau desde que tornaram-se operacionais até 30 de outubro de 1944, data em que o historiador do campo, Danuta Czech identificou o último gaseamento. Ele encontrou documentos que mostram que em dois dias foram feitos reparos nos fornos. À partir destes documentos de reparos, ele alegou que ele foi capaz de determinar quantos dias cada um dos crematórios poderia funcionar. Ele alegou que o Krema II entrou em operação em meados de Março de 1943 e saiu de serviço rapidamente, cerca de 115 dias, até julho. Em seguida funcionou até 30 de outubro de 1944. Ele também alegou que o Krema III entrou em funcionamento em 25 de junho de 1943 e ficou fora de serviço por 60 dias em 1944[114]. Ele está correto quanto às datas que estes crematórios entraram em serviço. No entanto, as fontes que ele citou não suportam suas alegações sobre os crematórios estarem fora de serviço durante o período reclamado. Sua fonte para o Krema II estabelecendo os 115 dias foi uma carta do Bauleitung para a Topf, data de 17 de julho de 1943, que discute problemas com blueprints para a chaminé, porque não tinham tido em conta temperaturas causadas pelo aumento do calor. Entretanto, a carta não diz nada sobre o Krema estar fora de serviço[115]. A investigação mais atual sobre esta questão afirma que o Krema II saiu de serviço por um mês, com início em 22 de maio de 1943, porque o revestimento interno da chaminé e o tubo ligado ao incinerador começaram a desmoronar[116].

Do mesmo modo, a fonte de Mattogno para o Krema III estabelecendo 60 dias em 1944, apenas menciona que as portas dos fornos estavam sendo reparadas no dia 1º de junho. Menciona igualmente que haviam continuidade de reparos em todos os crematórios de 8 de junho a 20 de julho, porém, não é indicado se estes reparos estavam nos fornos[117]. No entanto, estes documentos não apresentam provas de que qualquer um dos crematórios foram desligados ou que os fornos dos crematórios II, III e V não estavam trabalhando durante este período de tempo (Lembrar que os fornos do Krema IV foram desligados permanentemente em maio de 1943.) É conhecido, à partir de informações dos fornos da Topf de Gusen, que estes poderiam funcionar até mesmo nos dias que aconteceram reparos[118].

Baseado na sua errônea baixa estimativa de tempo nos fornos dos crematórios II e III, Mattogno calculou que, se cada forno pode queimar 24 corpos por dia e, em seguida, um máximo de 368.000 corpos poderiam ter sido cremados à partir do primeiro período que esses fornos iniciaram suas operações até 31 de outubro de 1944[119]. Mattogno não aborda a questão do Krema I, no campo principal, que foi encerrado em 19 de julho de 1943[120]. Como iremos ver, no entanto, na parte deste estudo que tratam de cremação ao ar livre, Mattogno também identificou um método de eliminação que não depende do funcionamento dos fornos. Isto significa que mesmo que o seus números da capacidade dos Kremas estejam corretas, são irrelevantes.

A questão do excesso de uso do forno que emergiu recentemente com os interrogatórios do pós-guerra de três engenheiros pelos soviéticos. Kurt Prüfer, construtor dos fornos, foi perguntado porque os revestimentos dos tijolos dos fornos danificavam tão rapidamente. Ele respondeu que o dano resultante após seis meses foi “porque a pressão sobre os fornos foi enorme”. Ele recontou como ele tinha dito ao Engenheiro-Chefe da Topf no Crematório, Fritz Sanders, sobre a pressão nos fornos porque tinham muitos cadáveres à espera para serem incinerados como resultado dos gaseamentos[121]. Sanders afirmou que ele havia sido informado por Prüfer e outro engenheiro da Topf que “a capacidade dos fornos era tão grande que três corpos [gaseados] foram incinerados [em um forno] simultaneamente”[122]. Um Sonderkommando, que trabalhava nos crematórios durante este tempo, escreveu que rachaduras na alvenaria dos fornos foram preenchidas com uma pasta especial à prova de fogo, a fim de manter os fornos funcionando[123].

No julgamento de “discurso de ódio” do canadense Ernst Zündel[124] em 1988, um suposto especialista em cremações chamado Ivan Legace testemunhou que o número máximo de corpos que poderiam ser eliminados em cada um dos 46 fornos de Birkenau era três por forno, totalizando 138[125]. Este valor é encontrado no Relatório Leuchter[126]. Este é mais um exemplo da incompetência de Leuchter nestes assuntos. Até mesmo Mattogno afirmou que “este número é, na realidade, muito abaixo da capacidade real”[127]. Contrariamente a Leage e Leuchter, sabe-se que os fornos da Topf poderiam trabalhar diariamente de forma contínua. Esta informação vem diretamente de notas mantidas pelos prisioneiros que trabalharam diariamente na operação do forno com mufla dupla em Gusen, de 31 de outubro a 12 de novembro de 1941. Essas notas mostram uma média diária de 26 incinerações por mufla em um período de 13 dias[128]. No entanto, os fornos de Gusen não trabalhavam sempre em full time. Portanto, os registros mostram que na maioria dos dias eles foram operados em tempo parcial[129]. As instruções da Topf para essas muflas à partir de junho de 1941 citam:
No incinerador com mufla duplo-T aquecido a coque, 10 a 35 corpos podem ser incinerados em cerca de 10 horas.A quantidade acima mencionada pode ser incinerada diariamente sem qualquer problema, sem sobrecarga ao forno. E não é prejudicial ao forno operar o incinerador dia e noite, se necessário, desde que a fireclay [parede resistente] duram mesmo quando a temperatura é mantida[130].
Estas observações também se aplicam às três muflas duplas dos fornos do Krema I de Auschwitz, que tinham a mesma construção. Instruções similares foram emitidas pela Topf para os fornos de Auschwitz em Setembro de 1941. (grifos do tradutor) Estas instruções afirmam que “uma vez a câmara de cremação[mufla] tem sido levada a um bom calor[aproximadamente 800° ], os cadáveres podem ser introduzidos um após o outro nas câmaras de cremação”. As instruções também indicam que no final da operação, as válvulas de ar, as portas, amortecedores devem ser mantidas fechadas “para que o forno não esfrie”.[131] Essas instruções contradizem diretamente a afirmação de Legace que os fornos precisavam ser resfriados.[132]

É interessante notar que as instruções para ambos os fornos, de Gusen e Auschwitz sugerem o uso continuado, usando a temperatura para prolongar a vida útil dos fornos. (grifos do tradutor) No mesmo dia em que as instruções de Gusen foram emitidas, dois engenheiros da Topf afirmaram que o forno com mufla dupla poderia incinerar 60-72 corpos [30 a 36 por mufla] em um período de 20 horas sendo requeridas 3 horas de manutenção[133].

Kurt Prüfer, o engenheiro da Topf que construiu os 46 fornos de Birkenau, afirmou numa carta enviada em 15 de novembro de 1942 que os fornos que ele instalou no campo de concentração de Buchenwald tiveram uma produção maior que previamente haviam pensado[134]. Infelizmente, ele não afirma que o número seja superior a um terceiro. No entanto, no mesmo dia, ele informou ao Bauleitung que os cinco fornos com muflas triplas, 15 fornos, poderiam incinerar 800 corpos em 24 horas[135]. Isso significa que uma mufla poderia queimar cerca de 53 corpos em um período de 24 horas. Reduzindo o tempo em quatro horas significa que 44 corpos por mufla poderiam ser cremados em um período de 20 horas. Tal como referido duas vezes antes, nesse estudo, a melhor informação que temos sobre o resultado destes fornos é o período entre 31 de outubro e 12 de novembro de 1941 em Gusen, após terem sido vistoriados. Enquanto os 677 corpos cremados durantes estes 13 dias em média, 26 por mufla, em uma análise dos dados latentes da Topf revelam que um forno pode queimar muito além desse montante. Em 7 de novembro de 1941 estas duas muflas incineraram 94 corpos em um período de 19 horas e 45 minutos, ou 47 por mufla. Isso significa que cada forno poderia incinerar um corpo em 25,2 minutos. Esta foi provavelmente atingida pela adição de novos organismos no forno antes que o outro corpo tivesse sido totalmente incinerado, um método que parece ter sido previsto nas instruções da Topf debatidas anteriormente. (veja discussão na nota 108.) Este método não deve ser confundido com cremação de múltiplos corpos, que devem ser discutidos na próxima parte deste estudo. Este número de 25 minutos não é muito longe das estimativas de Prüfer citados no parágrafo anterior. Mattogno ignorou esta informação totalmente. Ele preferiu focar nas informações de 8 de novembro que mostram 72 corpos cremados. Ele citou erroneamente que gastaram 24 ½ horas para cremar estes corpos. Ele interpretou mal estas folhas. O tempo real de cremação destes corpos foi entre 16 e 17 horas[136].

A informação mais controversa vem do Bauleitung em 28 de junho de 1943. Foi reportado que, em um período de 24 horas os seis fornos do Krema I poderiam incinerar 340 corpos; os cinco fornos com muflas triplas em cada Krema II e III poderiam incinerar 1440 cadáveres, ou 2880 combinadas; Kremas IV e V, poderiam incinerar cada, 768 cadáveres ou 1536 combinados. O total os cinco [Kremas] foi de 4.756 e o total para os quatro de Birkenau foi 4.416. Para efeito de comparação com Gusen, haviam muitas mulheres leves e crianças para incinerar nos fornos de Auschwitz. Em contrapartida, não havia mulheres e crianças em Gusen em 1941, apenas homens[137].

Negadores[do Holocausto] rejeitam os números do Bauleitung completamente. Críticos dos negadores ainda não aceitam totalmente estes números. No entanto, os dados de Gusen sugerem que os números do Bauleitung podem ter sido mais credíveis do que previamente suspeitado. O número do Bauleitung de 340 para 24 horas para os seis fornos do Krema I, são cerca de 25 minutos por corpo cremado, o mesmo resultado alcançado em Gusen em 7 de novembro de 1941.

E quanto aos quatro crematórios de Birkenau? Na época que o Bauleitung forneceu estes números, todos os crematórios estavam funcionando no mesmo período de tempo. Assim, é razoável supor que o Bauleitung pelo menos tinha alguma informação básica sobre esses valores. Tanto negadores[do Holocausto] quanto os seus críticos concordam que um forno não poderia incinerar um corpo em 15 minutos, que é o que seria exigido para os 46 fornos para cremarem 4.416 corpos em 24 horas. As informações disponíveis à partir de Gusen sugerem que o valor máximo atingido foi de 25 minutos, e adicionando um corpo antes de o outro corpo que foi previamente introduzido estivesse totalmente consumido. É igualmente certo que os fornos não podiam operar em uma base indefinida de 24 horas por dia.

Mas poderia um forno cremar um corpo em 15 minutos? Não com o método tradicional de cremação de um corpo hoje. No entanto, a questão torna-se mais problemática se as cremações de múltiplos corpos são consideradas. Isso significa que um forno poderia queimar mais de um corpo no momento. A prática não era usual nos campos de concentração alemães. Por exemplo, uma das primeiras histórias de Dachau dizia que gastaram de 10 a 15 minutos para queimar um corpo[138]. A fonte não nos diz como isso foi feito. No entanto, o padrão histórico de Dachau, escrito alguns anos mais tarde, afirma que um forno poderia queimar 7-9 corpos em duas horas, quando fossem introduzidos todos simultaneamente.[139] Visto a esta luz, 15 minutos se torna viável. A questão da cremação de múltiplos corpos será analisada mais exaustivamente na próxima parte deste estudo em que lideramos com consumo de combustível.

Fonte: The Holocaust History Project - http://www.holocaust-history.org/auschwitz/body-disposal/
Tradução: Leo Gott

Continuação - Partes: (1);(2);(3);(4);(5);(6);(7);(8);(9);(10);(11)

domingo, 7 de dezembro de 2008

Central de esclarecimento investiga crimes do regime nazista

Processo em Ludwigsburg: identidade do criminoso é desconhecida

Em 1958, foi criada na Alemanha uma central de esclarecimento de crimes nazistas. O departamento já investigou mais de 7 mil casos até hoje.

Num momento em que a então Alemanha Ocidental vivia o chamado "milagre econômico" e que a sociedade do pós-guerra pretendia passar uma borracha no passado nazista do país, a investigação do assassinato de judeus na Lituânia redespertou o interesse público pelo genocídio cometido pelo regime de Hitler.

No dia 1° de dezembro de 1958, era fundada a Central do Judiciário para Esclarecimento de Crimes do Regime Nazista (Zentrale Stelle der Landesjustizverwaltungen zur Aufklärung von NS-Verbrechen), em Ludwigsburg. Somente em seus 12 primeiros meses de existência, o departamento conduziu 400 investigações. Hoje, 50 anos depois, estão registrados 7.367 casos.

Os processos de esclarecimento dos assassinatos cometidos nos campos de concentração de Auschwitz, Treblinka ou Buchenwald não teriam sido possíveis sem a participação da Central de Ludwigsburg, onde estão arquivados meio milhão de documentos, bem como 1,6 milhão de fichas.

Caso Demjanjuk

John Demjanjuk, em 2005: crimes de guerra em campos nazistas de extermínio na Ucrânia

A maior parte das investigações foi realizada há mais de 30 anos. Entre 1967 e 1971, foram conduzidos mais de 600 processos simultaneamente. Mas mesmo hoje, 50 anos após sua fundação, a Central ainda é uma valiosa fonte de informação sobre o período nazista, como mostra o caso de Iwan (John) Demjanjuk, um ucraniano que pertenceu à força de segurança do campo de extermínio de Sobibor.

Demjanjuk emigrou depois do fim da Segunda Guerra para os EUA. Quando sua verdadeira identidade foi desmascarada, ele foi deportado para Israel, onde foi julgado e condenado à morte por seus crimes sob o regime nazista. O veredicto teve que ser anulado por falta de provas e Demjanjuk acabou retornando aos EUA.

Enquanto isso, em Ludwigsburg, na central de esclarecimento, o promotor e diretor da instituição, Kurt Schrimm, deu continuidade às suas investigações: "Estamos hoje convencidos de que podemos provar que Demjanjuk esteve envolvido na morte de pelo menos 29 mil pessoas", diz Schrimm.

Cooperação com a América Latina

Procurador Kurt Schrimm, diretor da Central do Judiciário para Esclarecimento de Crimes do Regime Nazista

A Central de Ludwigsburg não conduz ela própria os processos, mas repassa-os às devidas procuradorias. É pouco provável que Demjanjuk venha, hoje com 88 anos, a ser deportado dos EUA para ser julgado na Alemanha. Para Schrimm, as chances de que o criminoso de guerra seja julgado na Alemanha diminuem a cada ano.

"Isso não significa que não possamos mais esclarecer o que acontecia, que não possamos mais encontrar os suspeitos. Mas nosso grande problema é provar a culpa destes. Acabamos quase sempre sem provas, porque não só os acusados estão envelhecendo, como também as testemunhas, quando ainda podem ser encontradas", explica o promotor.

Schrimm e seus colegas contam hoje com as vantagens da tecnologia, podendo fazer uso da internet e de material digital em suas buscas. A cooperação internacional, porém, continua sendo um fator essencial: "Procuramos, por exemplo, documentos em arquivos russos, em arquivos da antiga União Soviética. Procuramos lá atas de processos dos anos 1945/46, a fim de obter dados sobre os envolvimentos em assassinatos em massa e carnificinas. Ou procuramos, por exemplo, na América do Sul, nos departamentos de imigração locais, por pessoas que poderiam estar envolvidas com crimes cometidos durante o nazismo. Há também uma cooperação estreita com os EUA e com as autoridades canadenses, polonesas e principalmente tchecas", diz Schrimm.

Interesse do Estado

Funcionária do arquivo em Ludwigsburg: cooperação com outros países é primordial

Como a busca, separação e avaliação de material costuma ser muito demorada, foram levantadas na Alemanha várias discussões sobre a prescrição de determinados crimes. Protestos dos juristas ligados à Central de Ludwigsburg fizeram com que, no país, crimes como homicídio e auxílio a homicídio não prescrevam. Ou seja, mesmo anos mais tarde, os culpados ainda podem ser julgados pelos crimes cometidos durante o nazismo.

"Até o dia de hoje, devemos às vítimas uma prova de que não somos indiferentes ao que aconteceu no passado, que não passamos simplesmente uma borracha em cima do que aconteceu. Em conversas com diversas vítimas do regime nazista, ouvi delas que nem tanto importa que os culpados sejam hoje realmente punidos, mas sim que os representantes do Estado alemão se interessem pelo que aconteceu no passado e por aquilo que sucedeu a elas", declara Schrimm.

Cornelia Rabitz (sv)

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 01.12.2008)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3836418,00.html

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Os que não foram heróis - parte 2

Os que não foram heróis - continuação
Por Renato Mezan

ensaio
HISTÓRIA

Arendt narra um fato que deixa isto absolutamente claro: em Amsterdã, em 1941, alguns judeus ousaram atacar um destacamento da Gestapo. A represália foi fulminante: 430 judeus foram presos e torturados, depois deportados para Buchenwald e Mauthausen. O mesmo aconteceu em outros lugares, com judeus e não-judeus que ousavam se rebelar ou sabotar instalações alemãs; a retaliação vinha logo, sobre centenas de inocentes, e com uma brutalidade aterradora. Não era viável resistir individualmente: esta é a verdade.

A Resistência francesa e os guerrilheiros que na Iugoslávia infernizavam a vida dos ocupantes foram constituídos a partir de bases preexistentes, especificamente o Partido Comunista, organizado já para a vida clandestina segundo as diretrizes de Lênin no famoso opúsculo Que Fazer?. Ora, os judeus como grupo eram bem organizados -as coletividades dispunham de escolas, orfanatos, órgãos assistenciais e, obviamente, sinagogas-, mas não se tratava de estruturas que pudessem ser convertidas do dia para a noite em entidades combatentes, sem falar no fato de que a maioria dos judeus não teria aderido a elas se por milagre pudessem escolher. Foi nas fileiras dos movimentos juvenis sionistas que finalmente se recrutaram os que podiam lutar, mas isto ainda estava longe, no horizonte distante, quando no verão de 1940 a Europa inteira se cobria de suásticas e o Terceiro Reich parecia mesmo poder durar mil anos.

Este poder se abate sobre os judeus com uma velocidade e com uma eficácia que os deixou completamente sem opção. No que se refere à Polônia, o processo Eichmann revelou que já em 21 de setembro de 1939, quando as ruínas de Varsóvia ainda fumegavam, Reinhard Heydrich -o “engenheiro da Solução Final”- convocou uma reunião em Berlim para tratar do destino dos três milhões de judeus que ali viviam. Os nazistas jamais esconderam seu anti-semitismo, mas agora ele não se limitava à discriminação legal ou a ocasionais episódios de brutalidade. Tratava-se de passar, como diz Heine na frase que tomei como epígrafe, das palavras aos atos. As diretivas do Führer eram: concentração imediata dos judeus poloneses em guetos, estabelecimento de Conselhos Judaicos (“Judenräte”) e deportação de todos os que viviam na parte ocidental do país para a área do Governo Geral da Polônia. Isto porque os territórios que faziam fronteira com a Alemanha haviam sido pura e simplesmente anexados ao Reich, com o nome de Warthegau (continham importantes reservas de minérios e petróleo); a parte oriental, até a fronteira do território anexado pela União Soviética, era conhecida como “Governo Geral”, e seria o palco do extermínio nos anos seguintes.

As ordens foram seguidas escrupulosamente, e a máquina pôs-se em marcha. O território do Reich deveria ser tomado “judenrein” o quanto antes: e isto significava deportar 400 mil judeus da Alemanha, da Áustria e dos Sudetos checos, além de 600 mil da nova província formada com a anexação da Polônia ocidental. Ainda não se falava em extermínio físico, mas é evidente que movimentar estas centenas de milhares de pessoas rumo a guetos na Polônia central, em trens de carga hermeticamente fechados, só podia acarretar conseqüências pavorosas. A concentração em guetos era uma etapa essencial neste esquema, e havia a diretriz bastante lógica de que eles fossem estabelecidos perto das estações ferroviárias, a fim de facilitar o transporte. Desta forma, em poucos meses se conduziram à Polônia e se trancaram em bairros superpovoados todos os judeus que tinham permanecido nos territórios do Reich.

Uma operação desta envergadura colocava problemas logísticos de extrema complexidade, e diversos departamentos do governo e das SS tiveram de trabalhar em conjunto -o Ministério dos Transportes, por exemplo, devia cuidar para que os horários dos trens de deportados não colidissem com o funcionamento dos trens normais, a polícia precisava garantir que os embarques se dessem em ordem etc. Mas tudo dependia, antes ainda, da boa vontade dos judeus em “cooperar”, como disse com convicção Eichmann em seus depoimentos. Ora, além dos motivos que já mencionei -a inércia natural a quem vive num país e obedece as suas leis, a dificuldade de opor resistência ativa à força inacreditável e à aparente invencibilidade dos alemães, mito que só foi abalado quando os russos impediram a conquista de Stalingrado e a maré da guerra começou a virar- há ainda um outro fator a ser considerado.

Trata-se do seguinte: a concentração -não em campos de prisioneiros, mas em guetos onde a vida prosseguia tão normalmente quanto possível- era ainda uma situação tolerável. Havia recursos para a iniciativa individual, desde a astúcia para conseguir alimentos ou remédios até a possibilidade de fugir, esconder-se com amigos ou no campo etc. A maioria dos judeus era de homens e mulheres com família, e julgavam, não sem razão, que seria melhor obedecer aos éditos do ocupante até que aquele pesadelo terminasse: não podiam suspeitar que a cúpula nazista já havia decidido seu extermínio.

Um outro elemento de enorme importância é o que chamei atrás de inércia. Não uso este termo num sentido moral: penso no fato de que as pessoas tendem naturalmente a se acomodar às circunstâncias da vida quando lhes parece que não há alternativa viável a elas. Em termos sociais, é preciso levar em conta que existiam governos nestes lugares, mesmo que títeres dos nazistas; havia leis a serem obedecidas, ainda que iníquas, uma polícia que vigiava as pessoas -infelizmente, uma polícia judaica que se somava às SS- e, sobretudo, o conhecimento de que na maior parte dos países a população apoiava, passiva ou ativamente, as medidas anti-semitas(1). Fugir em massa? Impossível. Resistir individualmente, só através da fuga ou do ocultamento por cristãos -foi o que aconteceu com a família de Anne Frank e com tantos outros. Indefesos, desarmados, tendo a perder o pouco que haviam conseguido salvar, e ordeiros por séculos de obediência à Lei, os judeus, nos primeiros dois anos da guerra, simplesmente não tinham outra opção exceto a de seguir vivendo.

A invasão da Rússia, em 22 de junho de 1941, marcou outro ponto de virada nessa história sinistra. Hitler, agora inteiramente tomado por sua megalomania, ordenou o extermínio físico de todos os judeus da Europa, como Heydrich contou a Eichmann numa reunião em novembro daquele ano. E, no Terceiro Reich, “Führerworte haben Gesetzkraft”, as palavras do Führer tinham força de lei. Por extraordinário que pareça, este era um dos princípios fundamentais da legalidade nazista –“l’Etat c’est moi”, literalmente e num sentido que nem mesmo Luís XIV podia suspeitar. Diversos textos jurídicos da época, citados por Hannah Arendt, não deixam qualquer dúvida a respeito.

Até então, havia na verdade dois métodos para lidar com a “Judenfrage”. A política de concentração atingia os judeus trazidos do Reich e os poloneses, assim como, nos diversos países ocidentais, as respectivas comunidades. Com a ocupação dos territórios da União Soviética, que incluíam os países bálticos com sua grande população judaica, entraram em cena os “Einsatzgruppen”, ou unidades de assalto, encarregadas de realizar fuzilamentos em massa. Havia quatro destes batalhões de assassinos, e seus alvos eram todos os funcionários soviéticos, além dos profissionais liberais, jornalistas, intelectuais e de modo geral a intelligentsia destas regiões, que, no radioso futuro traçado pelos nazistas, teriam a missão de fornecer trabalhadores escravos para a raça dominante. A estas categorias logo se somaram os judeus, os ciganos, os “rebeldes” de todo tipo, que pudessem representar alguma “ameaça” à “segurança do Reich”. Cerca de 300 mil pessoas foram assim fuziladas, não sem antes cavarem seus próprios túmulos coletivos, que em seguida eram cobertos de terra, às vezes com os corpos ainda se retorcendo nos últimos estertores da agonia.

Mas um método tão lento de matança não permitiria liqüidar com rapidez toda a população judaica do continente. A Solução Final veio para resolver este problema, e começou a ser delineada no outono de 1941, quando se decidiu ampliar o programa de eutanásia até então aplicado somente aos doentes mentais da própria Alemanha. Um decreto de Hitler datado de 1º de setembro de 1939 -o primeiro dia da guerra- ordenava dar a estes infelizes “uma morte misericordiosa”. O envenenamento por gás foi a fórmula encontrada, e até meados de 1941 foram mortos 50 mil internos em asilos alemães, austríacos e dos Sudetos.

Este foi o ensaio geral da “Endlösung”. Em janeiro de 1942, no subúrbio berlinense de Wannsee, Heydrich convocou uma reunião com os principais executivos do serviço público alemão e com os encarregados de todos os departamentos da SS. O objetivo era avaliar até que ponto a burocracia estatal de carreira estaria disposta a cooperar com o projeto de genocídio, a manter o segredo necessário para que as medidas fossem eficazes e de modo geral a considerar a ordem de extermínio como mais uma tarefa a ser executada. Não houve qualquer oposição da parte destes honrados funcionários, de quem dependia, na verdade, o bom funcionamento da máquina estatal; quanto às SS, era sua tarefa cumprir as ordens de Hitler.

Eichmann assistiu a esta reunião, assim como Oswald Pohl, encarregado do Wirtschafts und Verwaltungshauptamt -o WVHA, ou Escritório Central para a Economia e Administração da SS-, do qual passaria a depender a operação concreta dos campos. Matar pessoas em escala industrial tornava-se assim um assunto “econômico” e “administrativo”, pois havia problemas a serem resolvidos racionalmente -a capacidade de absorção dos campos, por exemplo, tinha de ser calculada em conjunto com as possibilidades de transporte de gente de toda a Europa, as “cargas” deviam lotar os trens para não desperdiçar combustível, havia questões de logística, produção do gás etc. O departamento de Eichmann foi encarregado de organizar o transporte, e durante os anos seguintes ele cumpriu com horrenda eficácia e infinita escrupulosidade essa tarefa.

Hannah Arendt reconstitui os procedimentos que conduziram à instalação dos campos de extermínio na região do Governo Geral da Polônia -Auschwitz, Treblinka, Sobibor, Maidanek, Belzek e outros. Todos conhecemos, depois de tantos livros e filmes, a seqüência macabra deste processo: como os deportados eram conduzidos no meio da noite em trens lacrados, como eram selecionados os mais aptos para os trabalhos necessários ao bom funcionamento dos campos, da cozinha dos oficiais às mulheres que deveriam servir de prostitutas e aos “Sonderkommandos”, encarregados de retirar os cadáveres dos galpões e de cuidar dos fornos crematórios; como os outros prisioneiros eram levados a crer que iriam tomar um banho, despindo-se e arrumando caprichosamente seus pertences; como eram trancadas as portas, ligado o gás e asfixiados os condenados; como eram em seguida queimados os seus corpos, produzindo colunas de fumaça que se podiam ver a quilômetros de distância; e, por fim, como eram arrancados os dentes de ouro, que, fundidos depois, viriam acabar nos cofres do Reichsbank. Estes horrores são por demais conhecidos para que nos demoremos neles, mas é preciso lembrá-los -o dever da memória- para que se tenha a medida da frieza e da naturalidade com que operava a indústria da morte.

3. Ilusão

Agora podemos tentar responder à pergunta que não cala: por que os judeus aceitaram morrer assim? Por que não se revoltaram nos trens, ou antes, ou depois, ao desembarcar no destino final?

A resposta é complexa. Em primeiro lugar, porque não sabiam o que ia lhes acontecer, ao menos nos primeiros tempos. Não havia informação precisa sobre nada na época da guerra, pois o rádio era censurado, a imprensa idem, e quem fosse apanhado ouvindo a BBC podia ter certeza de uma morte rápida como traidor. Para nós, que vivemos no tempo da internet e do mundo que cabe na palma da mão, é difícil imaginar o que anos de ocupação brutal, de propaganda mentirosa e de pavor constante podem provocar em matéria de ilusões ou de simples desconhecimento da realidade. Mesmo quando começaram a surgir os primeiros boatos do que se passava no Leste, poucos acreditaram que aquilo fosse mesmo possível -e o tamanho do seu engano só lhes era revelado quando o galpão se trancava e o Zyklon B começava a fazer efeito.
__________________________________________________
Notas:

1 - Nos países em que o governo ou a população boicotaram as medidas exigidas pelos nazistas, como a Dinamarca e a Bulgária, os judeus sofreram muitíssimo menos. Da Dinamarca, quase todos foram evacuados para a Suécia numa única noite, com a ajuda de barcos pesqueiros e muita audácia por parte da população local; da Bulgária, quase todos puderam emigrar para Israel depois de acabada a guerra. A própria França, onde o vergonhoso regime de Vichy endossava a política anti-semita, recusou-se a entregar os que eram cidadãos franceses para serem deportados, em virtude do que 250 mil dos 300 mil que ali viviam no início de 1940 puderam sobreviver.

Fonte: Revista Trópico(UOL)
http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/1619,2.shl
Início:
Os que não foram heróis - parte 1

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