Sem sair notícia em nenhum site de jornal pra confirmar, a notícia da morte de S.E. Castan, primeiro "revisionista" no Brasil e criador da Editora Revisão que distribuia esse literatura antissemita e negacionista, a notícia foi dada em sites "revisionistas"(negacionistas) do Holocausto ou na rede social do Google apinhada deles de nome Orkut, entre os dias 3 e 4 de outubro.
Sobre Castan, ver S.E. Castan e a Guerra de Inverno na Finlândia, Livro alerta sobre negacionismo do Holocausto e Castan, atentado em Sarajevo, Gravilo Princip e as velhas distorções "revisionistas".
É estranho que não noticiem sobre a morte porque a pessoa mencionada, à parte e repulsa do que pregava, ficou notório por conta da criação dessa Editora Revisão que foi quem começou a distribuição em maior escala de material negacionista no Brasil, e porque mesmo na morte de fascistas mais conhecidos fora do país, saem notícias sobre o ocorrido como no caso da morte do Haider na Áustria. Ler mais aqui, aqui, aqui e aqui.
Enfim, fica aí o registro da notícia já que o blog trata do assunto refutando as baboseiras antissemitas que os "revis" publicam e também postando textos sobre o Holocausto.
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quinta-feira, 7 de outubro de 2010
domingo, 25 de abril de 2010
Ellwanger recebe nova condenação
*por Helio Newmann Sant'Anna FIRS
Em decorrência de Siegfried Ellwanger ter editado, publicado e comercializado livros com conteúdo anti-semita foram promovidos dois processos crimes contra ele, ambos no âmbito da Justiça Estadual do Rio Grande do Sul, resultando em sua condenação, inclusive, já com trânsito em julgado das respectivas sentenças.
Em que pesem as decisões já terem transitado em julgado, Ellwanger, objetivando burlar a lei que define como crime o anti-semitismo praticado através publicações de qualquer natureza, passou a comercializar os livros por ele editados e publicados através da internet com site em países estrangeiros. Em razão deste fato, no ano de 2004, como procurador da Federação Israelita do RS, enviamos e-mail, para o Ministério Público Federal, protocolando notícia-crime, dando conta de que Ellwanger estava a comercializar os livros com conteúdo anti-semita, inclusive os já proibidos por decisão judicial.
No mesmo ano, o Ex-Ministro do STJ, Waldemar Zveiter, coincidentemente, protocolou na Procuradoria Geral da República, uma notícia-crime denunciando os mesmos fatos, sendo que em razão do domicílio de Ellwanger ser Porto Alegre, o Procurador Geral de Justiça declinou a competência para esta cidade, para que o pedido do Ex-Ministro Waldemar fosse aqui julgado.No dia 22 de novembro de 2007 o Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul ofereceu denúncia contra Ellwanger, fundamentando nos fatos noticiados nas duas notícias-crime, em processo que passou a tramitar pelo Juízo da 2ª Vara Federal Criminal de Porto Alegre.
Após Ellwanger ser interrogado no processo que lhe é movido, por solicitação do Ministério Público foram ouvidos em audiência os subscritores na notícia-crime, Helio Neumann Sant'Anna, em Porto Alegre e Waldemar Zveiter, no Rio de Janeiro.
Ao final da instrução do processo judicial e após a apresentação das alegações finais pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública em nome do acusado, o Juiz Dr. Ricardo Humberto Silva Borne, no mês de março do corrente ano, lançou longa e bem fundamentada sentença condenando Ellwanger a quatro anos e um mês de reclusão, além do pagamento de multa no equivalente 20 dias-multa pela prática reiterada do crime de antissemitismo, praticado através da internet.
A sentença ainda não é uma decisão definitiva pois depende de apreciação em segunda grau de Justiça.
Ellwanger poderá recorrer da sentença em liberdade, porém, tornada definitiva sua condenação, esta deverá ser cumprida em regime fechado.
Diz mais ainda o Juiz, que por Ellwanger ser reincidente e por representar a pena privativa de liberdade superior a 4 anos, não há como o réu beneficiar-se das disposições relativas ao sursis etário, mesmo estando debilitado em sua saúde.
O fato relevante desta sentença é que pela primeira vez, no âmbito da Justiça Brasileira, estamos assistindo a uma condenação pela prática do anti-semitismo através comercialização pela internet, de livros com conteúdo anti-semita.
Fonte: FIRS
terça-feira, 10 de março de 2009
S. E. Castan e suas mentiras – Parte 1 – Pré-Guerra
Por Leo Gott
Este artigo foi baseado em uma leitura vamos dizer, “por alto” do “livro” do “revisionista” brasileiro S.E.Castan, “Holocausto: Judeu ou Alemão?”, o mesmo cidadão que foi condenado pelas leis brasileiras por racismo.
Baixei a 2ª Edição do mesmo que foi publicada em 1987 do site “revisionista” AAARGH (não se espantem com o que significa isso, provavelmente nem os autores do site saberão explicar, “Associação dos Antigos Amadores de Recitais de Guerra e Holocausto”), esta edição apresenta os números das notas de página, mas não as notas em si.
Utilizei também outra versão eletrônica em espanhol da 1ª edição baixada de um site chamado “Scriptorium NS” (será que são nazistas? rsrs), esta edição já está mais completa e as notas estão completas.
Após a leitura do “livro” e de tanto encontrar as palavras judeu/judia/judaico eu tive a curiosidade de utilizar a ferramenta de busca do Adobe Reader para saber quantas vezes o autor escreveu essas e outras palavras, resultado encontrado:
Judeu(s)/judia(s)/judaico(s): 359 vezes
Israelita(s): 22 vezes
Sionista(s): 35 vezes
Revisionismo: nenhuma vez
Revisionista: 1 vez
Parece que S.E.Castan não se importa muito com o “revisionismo”, ele se “preocupa” mesmo com os judeus.
Vamos analisar alguns trechos do “livro” deste senhor.
Vamos começar com um excerto da pág.32:
A população judaica alemã em 1939, por haverem, de certa forma, se tornado indesejados desde o final da 1a Guerra Mundial, estava reduzida a 210.000 pessoas, ou sejam 0,25% de toda Alemanha; 290.000 haviam emigrado.
Castan bem que poderia ter citado a fonte, mas como iremos ver no decorrer deste artigo, ele não é muito adepto de consultar e/ou citar fontes. De acordo com o American Jewish Yearbook (citado em diversas publicações “revisionistas” através de números do World Almanac, que utiliza o AJY como fonte primária) do ano 1938-1939 o número de judeus na Alemanha era de 499.683 (referente a um censo de 1933), e na edição de 1939-1940 o número é de 691.163 (conforme nota, incluindo os 191.481 judeus da Áustria, mas não inclui os judeus dos Sudetos, que na época ainda não tinha sido anexado pelos alemães, conforme censo de 1933.), talvez o Sr. Castan consiga explicar aos seus leitores para onde “emigraram” estes 290.000 judeus alemães.
Judeus indesejados na Alemanha ao fim da 1ª Guerra Mundial? Porque então os judeus não “declararam guerra” à Alemanha logo após o conflito? Esperaram 15 anos para “declararem guerra”? Quanta imaginação Sr. Castan.
Até 1933 a vida dos judeus na Alemanha era tranqüila, a perseguição aos judeus só começou à partir da ascensão de Hitler ao poder em 1933, o Sr.Castan quer mostrar aos leitores que a culpa da perseguição não era de Hitler, mas ele quer enganar quem com isso? Na verdade o que ele quer é inverter os papéis para tentar absolver a Alemanha, como veremos no decorrer deste artigo.
Logo adiante na página 33 do “livro” temos o sub-título: “Declarações de Guerra”, são citados trechos de jornais desconhecidos do público em geral, onde não se consegue nenhuma pesquisa a não ser em sites antissemitas, neonazistas e “revisionistas” que supostamente reproduziram estes trechos de cópias destes periódicos.
Muitos destes periódicos divergentes em alguns trechos, até em nome de jornal, como por exemplo o Mascha Rjetsch que no “livro” está grafado como Tatscha Retsch, a intenção de se publicar estas declarações de personalidades judaicas é somente para tentar desviar o foco da pergunta “Quem iniciou a Segunda Guerra Mundial?”. Portanto acho desnecessário comentar estes trechos, principalmente porque não temos acesso à fonte primária destas citações, somente as reproduções destas e em sites nada confiáveis.
A “declaração de guerra” mais famosa é a que foi noticiada no jornal sensacionalista inglês Daily Express, que foi brilhantemente desmascarada pelos pesquisadores do THHP conseguiram neste artigo que traduzi para o blog.
Mas não podemos deixar de comentar a opinião do Sr. Castan sobre estas declarações (grifos meus):
Quais seriam as deformações que o Sr. Castan está se referindo? À partir de 1933 as perseguições eram constantes e de todo tipo, este artigo da Deutsche Welle retrata bem, inclusive com fotos.
O que os líderes judaicos em todo o mundo estavam fazendo era divulgar estas perseguições, e alguns com certeza se exaltavam, por estarem vendo o que estava acontecendo com seu povo. A Lei de Cidadania do Reich veio só confirmar o que o Sr.Castan não quer mostrar a seus leitores, tanto é que ele nem cita esta Lei em seu “livro”.
E os delírios continuam...
A Noite dos Cristais, segundo S.E.Castan (grifos da edição eletrônica):
Alguém pode imaginar que Hitler “condenou totalmente este ato, como desnecessário e altamente prejudicial à política que o Governo alemão vinha dedicando à questão judaica”?
Os nazistas em 1938 já haviam excluídos os judeus através da Lei de Cidadania do Reich, a “política” já estava na segunda fase, o confinamento em campos de concentração, e muito perto de iniciar a pior de todas as fases, o extermínio.
Castan utiliza os “Diários de Hitler” como fonte para as tolas afirmações. Os “Diários de Hitler” foram provados que eram uma forja, inclusive, não se pode tirar o mérito de David Irving, que foi um dos primeiros, senão o primeiro a ir a público e dizer que os mesmos não passavam de falsificações, e grosseiras. Mas o “revisionista dos Pampas” talvez seja o único que ainda sustenta essa bobagem, pois até dedica “um capítulo especial” a isto.
A nota [49] na edição em espanhol é a nota de número 15, vou transcrever aqui a alucinação de Castan sobre Gavrilo Princip (grifos meus):
Até mesmo em sites nazistas são negadas as afirmações de que Princip fosse judeu, como o link para o Stormfront. Essa é mais uma tentativa de atribuir culpa aos judeus, Castan tenta levar isso ao leitor durante grande parte de seu “livro”.
Na página 42, Castan tenta passar ao leitor que foi a Polônia que atacou primeiro na madrugada de 01/09/1939, ou seja, segundo Castan a Alemanha respondeu ao ataque polonês, (grifos meus):
Este “teatro” organizado por Hitler, Heidrich e Goebbels (Shirer, The Rise and Fall of the Third Reich, p.533) já foi desmascarado hà muito tempo, a primeira vez foi em Nuremberg pelo General da Abwehr Erwin von Lahousen (grifos meus):
Mas pra quem acredita que os “Diários de Hitler” são autênticos, e que a “conspiração sionista” que fez o mundo crer que eles são falsos não se pode esperar mais do esse tipo de sandice, do “revisionista” brasileiro “mais cultuado de todos os tempos”, pelos “revimanés”, é claro.
Mas não podemos deixar de comentar a opinião do Sr. Castan sobre estas declarações (grifos meus):
As ameaças e instigações contra a Alemanha, bem como a deformação, sobre o tratamento que os alemães dispensavam aos judeus, infestavam os jornais no mundo inteiro.
Quais seriam as deformações que o Sr. Castan está se referindo? À partir de 1933 as perseguições eram constantes e de todo tipo, este artigo da Deutsche Welle retrata bem, inclusive com fotos.
O que os líderes judaicos em todo o mundo estavam fazendo era divulgar estas perseguições, e alguns com certeza se exaltavam, por estarem vendo o que estava acontecendo com seu povo. A Lei de Cidadania do Reich veio só confirmar o que o Sr.Castan não quer mostrar a seus leitores, tanto é que ele nem cita esta Lei em seu “livro”.
E os delírios continuam...
A Noite dos Cristais, segundo S.E.Castan (grifos da edição eletrônica):
NOVEMBRO DE 1938 - ESCALADA CONTRA ALEMANHA
No dia 7 de novembro, às 9:00 horas da manhã, um jovem judeu polonês, chamado Herschell Grinszpan, que havia entrado clandestinamente na França e que acabava de receber uma ordem de expulsão, assassinou, em Paris, o Conselheiro da Embaixada Emest von Rath, sobrinho do embaixador alemão Koerts. Houve em represália a depredação de vitrines e propriedades judaicas na Alemanha, conhecida como a "noite de cristal"; o Governo teve que intervir com toda energia para evitar maiores males. Hitler, no seu Diário (declarado falso pelas autoridades alemãs... e sobre qual dedicaremos um capitulo especial), condenou totalmente este ato, como desnecessário e altamente prejudicial à política que o Governo alemão vinha dedicando à questão judaica. No diário mostra preocupação pela má repercussão que isso deveria provocar no Exterior. Era uma espécie de repetição do drama de Sarajevo, de 28 de junho de 1914, quando assassinaram[49] o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, e que havia dado motivo para o início da primeira Guerra Mundial.
Alguém pode imaginar que Hitler “condenou totalmente este ato, como desnecessário e altamente prejudicial à política que o Governo alemão vinha dedicando à questão judaica”?
Os nazistas em 1938 já haviam excluídos os judeus através da Lei de Cidadania do Reich, a “política” já estava na segunda fase, o confinamento em campos de concentração, e muito perto de iniciar a pior de todas as fases, o extermínio.
Castan utiliza os “Diários de Hitler” como fonte para as tolas afirmações. Os “Diários de Hitler” foram provados que eram uma forja, inclusive, não se pode tirar o mérito de David Irving, que foi um dos primeiros, senão o primeiro a ir a público e dizer que os mesmos não passavam de falsificações, e grosseiras. Mas o “revisionista dos Pampas” talvez seja o único que ainda sustenta essa bobagem, pois até dedica “um capítulo especial” a isto.
A nota [49] na edição em espanhol é a nota de número 15, vou transcrever aqui a alucinação de Castan sobre Gavrilo Princip (grifos meus):
Gavrillo Princip o Gavrilo Prinkip, era judío, hijo de un cartero Bósnio, (y no servio, como se cree) Srajevo o Sarajevo, es una ciudad de la hoy Yugoeslavia. En la época era capital da la antigua República Federada de Bosnia-Herzegovina. (Francis Leary — El Tiro que Incendió a Europa; Selecciones del Reader's Digest y Enciclopedia Vergara, de Barcelona, España).
Até mesmo em sites nazistas são negadas as afirmações de que Princip fosse judeu, como o link para o Stormfront. Essa é mais uma tentativa de atribuir culpa aos judeus, Castan tenta levar isso ao leitor durante grande parte de seu “livro”.
Na página 42, Castan tenta passar ao leitor que foi a Polônia que atacou primeiro na madrugada de 01/09/1939, ou seja, segundo Castan a Alemanha respondeu ao ataque polonês, (grifos meus):
Como já havia acontecido anteriormente, em outros pontos da divisa alemã polaca, na madrugada do dia 1° de setembro houve um ataque a uma estação telegráfica em Gleiwitz, na alta Silécia, mas que desta vez foi respondida. Vejamos o que aconteceu após este ataque.
Este “teatro” organizado por Hitler, Heidrich e Goebbels (Shirer, The Rise and Fall of the Third Reich, p.533) já foi desmascarado hà muito tempo, a primeira vez foi em Nuremberg pelo General da Abwehr Erwin von Lahousen (grifos meus):
The Tribunal will recall the oral testimony of Erwin Lahousen with relation to the simulated attack on the radio station at Gleiwitz, by Germans dressed in Polish uniform-what Lahousen referred to as one of the most mysterious actions which took place in the Abwehr.
[Minha tradução]
O Tribunal irá recordar do testemunho oral de Erwin Lahousen com relação ao ataque simulado à estação de rádio de Gleiwitz, por alemães vestidos com uniformes poloneses – que Lahousen se referiu como uma das mais misteriosas ações que aconteceram na Abwehr.
Mas pra quem acredita que os “Diários de Hitler” são autênticos, e que a “conspiração sionista” que fez o mundo crer que eles são falsos não se pode esperar mais do esse tipo de sandice, do “revisionista” brasileiro “mais cultuado de todos os tempos”, pelos “revimanés”, é claro.
sábado, 29 de março de 2008
A História do "revisionismo" do Holocausto - Parte 6
6. Memória histórica e Holocausto
A manutenção da memória de vítimas e sobreviventes do Holocausto é uma das maiores formas de se manter viva a história. Com o passar dos anos, grande parte dos sobreviventes do Holocausto já faleceu pelos mais variados motivos. Em alguns anos provavelmente não haverá mais testemunhas oculares. É dever, portanto, salvaguardar esta memória, não apenas pessoal, mas coletiva.
As particularidades e horrores do Holocausto não devem ser esquecidos, é parte da função da História e dos historiadores (assim como profissionais de diversas outras áreas do saber) preservarem a memória. O genocídio choca não apenas por seus números, mas também pelos seus métodos e frieza. Para Boris Fausto (2006, p.141),
“[...] nem a discriminação genérica, nem os pogroms, nem mesmo a expulsão dos judeus da Península Ibérica, para ficar em um exemplo histórico ancestral, equivalem aos objetivos de um regime que, desde o início da Segunda Guerra Mundial, decidiu erradicar da face da terra o “bacilo judaico”, embora levasse algum tempo para encontrar a fórmula mais eficaz de extermínio.”
Métodos e concepções divergentes referentes tanto a metodologias quanto à própria historiografia sempre existirão, e isto é um indício do caráter saudável da pesquisa histórica. Porém, é necessário sempre estar atento contra falsificações que pretendem não apenas distorcer a história, mas também a sociedade. Combater preconceitos é algo inerente ao ofício do historiador. Além disso, a problematização da história ajuda-nos a lançar novos olhares sobre o passado, de forma com que a compreensão não somente do passado, mas também do presente seja afetada.
É este ato, de repensar, redescobrir e reescrever a história que deixa a memória e a disciplina vivas, desde que seja feita com compromisso social e seriedade profissional.
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Referências Bibliográficas
“A história do livro mais perseguido do Brasil”. Equipe de reportagem do RS “O jornal do Jockymann”. Porto Alegre: Revisão, 1991.
ARENDT, Hannah. “Entre o passado e o futuro”. 5ª. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
COSTA, Emilia Viotti da. “Da monarquia à república: momentos decisivos”. 7ª ed. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999.
CASTAN, S.E. “Acabou o Gás!... O fim de um mito: O Relatório Leuchter sobre as alegadas Câmaras de gás de Auschwitz Birkenau e Majdanek”. 5ª ed. Porto Alegre: Revisão, 1989.
_______. “Holocausto Judeu ou Alemão: Nos bastidores da mentira do século”. 13ª ed. Porto Alegre: Revisão, 1987.
_______. “SOS para Alemanha: Separada, Ocupada, Submissa”. Porto Alegre: Revisão, 1990.
COHN, Norman. “A conspiração mundial dos judeus: mito ou realidade? Análise dos protocolos e outros documentos”. São Paulo: IBRASA, 1969.
FAUSTO, Boris. “A interpretação do Nazismo na visão de Norbert Elias”. MANA 4(1): 141-152, 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/mana/v4n1/2429.pdf Acesso em julho de 2006.
FUHRMANN, Leonardo. “Nazistas atacam no Sul”. Disponível em: http://www.pazagora.org/impArtigo.cfm?IdArtigo=324 , Acesso em Julho de 2007.
JESUS, Carlos Gustavo Nóbrega de. “Anti-semitismo e nacionalismo, negacionismo e memória: Revisão Editora e as estratégias da intolerância”. São Paulo: Ed. UNESP, 2006.
“Lei nº. 10.639” de 09 de janeiro de 2003, disponível para consulta no site http://www.sinprosp.org.br/arquivos/especiais/LEI_No_10639.pdf ", Acesso em dezembro de 2007.
MILMAN, Luis. & VIZENTINI, Paulo Fagundes. (org.) “Neonazismo, negacionismo e extremismo político”. Porto Alegre: Editora da Universidade (UFRGS); CORAG, 2000.
OLIVEIRA, Sérgio. “Hitler: Culpado ou Inocente?” , Porto Alegre: Revisão, 1989.
_________. “Sionismo x Revisionismo: Fantasia x Realidade”. Porto Alegre: Revisão, 1993.
SCHAFF, Adam. “História e verdade”. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
VIDAL-NAQUET, Pierre. “Os assassinos da memória: O Revisionismo na História”. Campinas: Papirus, 1998.
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1 Aluno do programa de Especialização em História Social e Ensino de História da Universidade Estadual de Londrina e participante do grupo de pesquisa “Grupo de estudos sobre os movimentos autoritários do século XX”. E-mail: odi1984@gmail.com
2 Utiliza-se neste trabalho da seguinte distinção: História (grafado com a inicial maiúscula) refere-se à disciplina, enquanto história (com a inicial em letra minúscula) refere-se à memória de uma maneira geral.
3 Tal livro não é mais editado pela Editora, conforme a mesma nos comunicou. No entanto, existe uma versão da obra disponível em língua francesa e inglesa, no site “Ressources documentaires sur le génocide nazi et sa négation”, (disponível em http://www.anti-rev.org – acesso em março de 2007).
Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto
A manutenção da memória de vítimas e sobreviventes do Holocausto é uma das maiores formas de se manter viva a história. Com o passar dos anos, grande parte dos sobreviventes do Holocausto já faleceu pelos mais variados motivos. Em alguns anos provavelmente não haverá mais testemunhas oculares. É dever, portanto, salvaguardar esta memória, não apenas pessoal, mas coletiva.
As particularidades e horrores do Holocausto não devem ser esquecidos, é parte da função da História e dos historiadores (assim como profissionais de diversas outras áreas do saber) preservarem a memória. O genocídio choca não apenas por seus números, mas também pelos seus métodos e frieza. Para Boris Fausto (2006, p.141),
“[...] nem a discriminação genérica, nem os pogroms, nem mesmo a expulsão dos judeus da Península Ibérica, para ficar em um exemplo histórico ancestral, equivalem aos objetivos de um regime que, desde o início da Segunda Guerra Mundial, decidiu erradicar da face da terra o “bacilo judaico”, embora levasse algum tempo para encontrar a fórmula mais eficaz de extermínio.”
Métodos e concepções divergentes referentes tanto a metodologias quanto à própria historiografia sempre existirão, e isto é um indício do caráter saudável da pesquisa histórica. Porém, é necessário sempre estar atento contra falsificações que pretendem não apenas distorcer a história, mas também a sociedade. Combater preconceitos é algo inerente ao ofício do historiador. Além disso, a problematização da história ajuda-nos a lançar novos olhares sobre o passado, de forma com que a compreensão não somente do passado, mas também do presente seja afetada.
É este ato, de repensar, redescobrir e reescrever a história que deixa a memória e a disciplina vivas, desde que seja feita com compromisso social e seriedade profissional.
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Referências Bibliográficas
“A história do livro mais perseguido do Brasil”. Equipe de reportagem do RS “O jornal do Jockymann”. Porto Alegre: Revisão, 1991.
ARENDT, Hannah. “Entre o passado e o futuro”. 5ª. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
COSTA, Emilia Viotti da. “Da monarquia à república: momentos decisivos”. 7ª ed. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999.
CASTAN, S.E. “Acabou o Gás!... O fim de um mito: O Relatório Leuchter sobre as alegadas Câmaras de gás de Auschwitz Birkenau e Majdanek”. 5ª ed. Porto Alegre: Revisão, 1989.
_______. “Holocausto Judeu ou Alemão: Nos bastidores da mentira do século”. 13ª ed. Porto Alegre: Revisão, 1987.
_______. “SOS para Alemanha: Separada, Ocupada, Submissa”. Porto Alegre: Revisão, 1990.
COHN, Norman. “A conspiração mundial dos judeus: mito ou realidade? Análise dos protocolos e outros documentos”. São Paulo: IBRASA, 1969.
FAUSTO, Boris. “A interpretação do Nazismo na visão de Norbert Elias”. MANA 4(1): 141-152, 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/mana/v4n1/2429.pdf Acesso em julho de 2006.
FUHRMANN, Leonardo. “Nazistas atacam no Sul”. Disponível em: http://www.pazagora.org/impArtigo.cfm?IdArtigo=324 , Acesso em Julho de 2007.
JESUS, Carlos Gustavo Nóbrega de. “Anti-semitismo e nacionalismo, negacionismo e memória: Revisão Editora e as estratégias da intolerância”. São Paulo: Ed. UNESP, 2006.
“Lei nº. 10.639” de 09 de janeiro de 2003, disponível para consulta no site http://www.sinprosp.org.br/arquivos/especiais/LEI_No_10639.pdf ", Acesso em dezembro de 2007.
MILMAN, Luis. & VIZENTINI, Paulo Fagundes. (org.) “Neonazismo, negacionismo e extremismo político”. Porto Alegre: Editora da Universidade (UFRGS); CORAG, 2000.
OLIVEIRA, Sérgio. “Hitler: Culpado ou Inocente?” , Porto Alegre: Revisão, 1989.
_________. “Sionismo x Revisionismo: Fantasia x Realidade”. Porto Alegre: Revisão, 1993.
SCHAFF, Adam. “História e verdade”. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
VIDAL-NAQUET, Pierre. “Os assassinos da memória: O Revisionismo na História”. Campinas: Papirus, 1998.
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1 Aluno do programa de Especialização em História Social e Ensino de História da Universidade Estadual de Londrina e participante do grupo de pesquisa “Grupo de estudos sobre os movimentos autoritários do século XX”. E-mail: odi1984@gmail.com
2 Utiliza-se neste trabalho da seguinte distinção: História (grafado com a inicial maiúscula) refere-se à disciplina, enquanto história (com a inicial em letra minúscula) refere-se à memória de uma maneira geral.
3 Tal livro não é mais editado pela Editora, conforme a mesma nos comunicou. No entanto, existe uma versão da obra disponível em língua francesa e inglesa, no site “Ressources documentaires sur le génocide nazi et sa négation”, (disponível em http://www.anti-rev.org – acesso em março de 2007).
Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto
sexta-feira, 28 de março de 2008
A História do "revisionismo" do Holocausto - Parte 5
5. Negacionismo e mentira organizada
Os argumentos presentes no discurso negacionista passam longe do rigor e seriedade acadêmica, são elementos panfletários, extremistas. É a negação da memória. Vale novamente lembrar como um dos críticos e combatentes ao negacionismo, Pierre Vidal-Naquet, define os negadores do Holocausto: “Assassinos da Memória” (1998, p.37)3.
É justamente na motivação e nos argumentos dos negadores do Holocausto que encontramos os mais sólidos argumentos para a análise crítica desta prática. O judeu nestes é tratado constantemente como um ser conspiratório, elemento ativo de uma organização secreta diabólica. No negacionismo, o Holocausto é apresentado como uma das maiores e inúmeras formas do “judaísmo internacional” lançar suas garras sobre o mundo, controlando as finanças, os meios de comunicação, a mídia e conseqüentemente, a civilização mundial.
O perigo do negacionismo não está apenas em deformar e negar o Holocausto e diversos outros acontecimentos da história da 2ª Guerra Mundial. Ele age como uma mentira organizada, destinado a destruir tudo o que nega e aos que se opõe aos seus argumentos.
Hannah Arendt (2001, p. 285) alerta para o perigo da mentira moderna. Segundo Arendt, diferentemente da mentira tradicional - cujo maior objetivo é ocultar a verdade -, a mentira moderna busca destruir a verdade, e é neste ponto que mora o perigo do uso da mentira moderna como instrumento político. De acordo com a autora, este tipo de mentira tende a idealizar uma reconstrução da realidade, onde tudo se encaixa perfeitamente a partir da descoberta desta nova verdade, que por sua vez destronou a “antiga”.
O Negacionismo age desta maneira, ao colocar em evidência uma suposta nova realidade, em que a descoberta de um elemento (no caso, a “farsa do Holocausto”) muda toda a trama não somente da 2ª Guerra Mundial, mas também da realidade mundial. Se o Holocausto é uma invenção destinada a manipular as pessoas e governos dos países, a descoberta de sua falsidade quebraria uma teia de relações sustentada em uma grandiosa mentira. Além disto, tornaria visível a existência de um complô que supostamente subjugaria a humanidade em sua história.
Arendt sinaliza ainda que este tipo de mentira organizada tende a criar uma aura de verdade, tão perfeita em si, que tem a capacidade de substituir a realidade. Dessa forma, “uma trama factual sem remendos, falhas ou rachaduras” é bastante interessante para quem busca uma realidade supostamente auto-explicativa.
Sabemos que a história não funciona desta maneira, não segue uma linearidade lógica ou previsível, não deve ser explicada por um, dois ou mesmo três elementos, mas sim a conjunção de inúmeros destes. Para o negacionismo, que age como uma mentira organizada, a história da 2ª Guerra Mundial é explicada a partir da queda de duas supostas mentiras: o início da guerra, que seria então causado pelos próprios judeus, e o fim da mesma, em que o “judaísmo internacional” cria uma mentira com proporções gigantescas (Holocausto) para continuar seus planos de dominação mundial. A realidade política e social não apenas do período bélico, mas também atual explicar-se-ia a partir de uma dicotomia em que o mundo seria dividido entre subjugados (maioria da humanidade) e subjugantes (complô judaico de dominação mundial).
Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto
Os argumentos presentes no discurso negacionista passam longe do rigor e seriedade acadêmica, são elementos panfletários, extremistas. É a negação da memória. Vale novamente lembrar como um dos críticos e combatentes ao negacionismo, Pierre Vidal-Naquet, define os negadores do Holocausto: “Assassinos da Memória” (1998, p.37)3.
É justamente na motivação e nos argumentos dos negadores do Holocausto que encontramos os mais sólidos argumentos para a análise crítica desta prática. O judeu nestes é tratado constantemente como um ser conspiratório, elemento ativo de uma organização secreta diabólica. No negacionismo, o Holocausto é apresentado como uma das maiores e inúmeras formas do “judaísmo internacional” lançar suas garras sobre o mundo, controlando as finanças, os meios de comunicação, a mídia e conseqüentemente, a civilização mundial.
O perigo do negacionismo não está apenas em deformar e negar o Holocausto e diversos outros acontecimentos da história da 2ª Guerra Mundial. Ele age como uma mentira organizada, destinado a destruir tudo o que nega e aos que se opõe aos seus argumentos.
Hannah Arendt (2001, p. 285) alerta para o perigo da mentira moderna. Segundo Arendt, diferentemente da mentira tradicional - cujo maior objetivo é ocultar a verdade -, a mentira moderna busca destruir a verdade, e é neste ponto que mora o perigo do uso da mentira moderna como instrumento político. De acordo com a autora, este tipo de mentira tende a idealizar uma reconstrução da realidade, onde tudo se encaixa perfeitamente a partir da descoberta desta nova verdade, que por sua vez destronou a “antiga”.
O Negacionismo age desta maneira, ao colocar em evidência uma suposta nova realidade, em que a descoberta de um elemento (no caso, a “farsa do Holocausto”) muda toda a trama não somente da 2ª Guerra Mundial, mas também da realidade mundial. Se o Holocausto é uma invenção destinada a manipular as pessoas e governos dos países, a descoberta de sua falsidade quebraria uma teia de relações sustentada em uma grandiosa mentira. Além disto, tornaria visível a existência de um complô que supostamente subjugaria a humanidade em sua história.
Arendt sinaliza ainda que este tipo de mentira organizada tende a criar uma aura de verdade, tão perfeita em si, que tem a capacidade de substituir a realidade. Dessa forma, “uma trama factual sem remendos, falhas ou rachaduras” é bastante interessante para quem busca uma realidade supostamente auto-explicativa.
Sabemos que a história não funciona desta maneira, não segue uma linearidade lógica ou previsível, não deve ser explicada por um, dois ou mesmo três elementos, mas sim a conjunção de inúmeros destes. Para o negacionismo, que age como uma mentira organizada, a história da 2ª Guerra Mundial é explicada a partir da queda de duas supostas mentiras: o início da guerra, que seria então causado pelos próprios judeus, e o fim da mesma, em que o “judaísmo internacional” cria uma mentira com proporções gigantescas (Holocausto) para continuar seus planos de dominação mundial. A realidade política e social não apenas do período bélico, mas também atual explicar-se-ia a partir de uma dicotomia em que o mundo seria dividido entre subjugados (maioria da humanidade) e subjugantes (complô judaico de dominação mundial).
Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto
quinta-feira, 27 de março de 2008
A História do "revisionismo" do Holocausto - Parte 4
4. Negacionismo e Justiça Brasileira
Desde o lançamento de “Holocausto Judeu ou Alemão? Nos bastidores da mentira do século” em 1987, uma extensa batalha judicial perdurou até o ano de 2003. De um lado Siegfried Ellwanger e a Revisão Editora e do outro lado seus críticos. Os maiores adversários da Revisão Editora e do negacionismo no Brasil são grupos de defesa de direitos humanos e entidades judaicas que visam o combate ao anti-semitismo e a proteção da memória dos milhões de vitimas do Holocausto.
Em um primeiro momento, a tática utilizada para barrar tal negacionismo foi um boicote ao mesmo, pois se temia que a abertura de um processo acabasse por trazer publicidade ao negacionismo. Entretanto, ficou constatado que esta prática não era muito válida, pois não trazia resultados substanciais. Após certo tempo esta disputa passou aos tribunais gaúchos (pelo fato da editora situar-se em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul), onde uma verdadeira batalha foi travada. Ellwanger conseguiu uma série de liminares e habeas corpus, até que em determinado momento, a questão chegou ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, onde Ellwanger foi condenado pelo crime de racismo, em ultima instância, com denegação do pedido de habeas corpus nº. 82.424.
Ellwanger fora julgado pelo conteúdo de “Holocausto Judeu ou Alemão?”, além da distribuição (via Revisão Editora) dos seguintes títulos: “O Judeu Internacional”, de Henry Ford, 2ª reedição, 1989; “A História Secreta do Brasil”, de Gustavo Barroso, 1ª reedição, 1990; “Protocolos dos Sábios de Sião”, apostilado por Gustavo Barroso, 4ª reedição, 1989; “Brasil Colônia de Banqueiros”, de Gustavo Barroso, 1ª reedição; “Hitler - Culpado ou Inocente”, de Sérgio Oliveira, 2ª edição, 1990 e “Os Conquistadores do Mundo - Os Verdadeiros Criminosos de Guerra”, de Louis Marschalko, 3ª edição. As obras da editora Revisão foram proibidas de circulação.
Porém, há uma rede de apoio mútuo entre autores e leitores negacionistas, que conta com suporte de diversas organizações anti-semitas. A internet é um meio largamente utilizado para disseminação de material anti-semita e negacionista, inclusive no Brasil.
Páginas de internet neonazistas como valhalla88.com e whitepowersp.org (atualmente fora do ar) exibiam mensagens de apoio a Ellwanger e aos ideais da Revisão Editora. O controle, do ponto de vista jurídico, de sites de internet é bastante complexo, tendo em vista que muitos destes ficam hospedados em servidores estrangeiros - onde práticas como anti-semitismo e racismo não são considerados crimes - justamente por proteção (Jesus, 2006, p. 151). O próprio website da Revisão Editora ficou hospedado durante certo tempo em um conhecido servidor estrangeiro que abriga diversas páginas racistas (www.libreopinion.com).
Atualmente a Revisão Editora não conta com uma página oficial na internet, porém é fácil encontrar os livros a venda em páginas de leilão virtual, sebos e livrarias on-line.
Além do próprio discurso anti-semita e preconceituoso, certos episódios mostram a contribuição dos livros negacionistas para a formação de grupos neonazistas no Brasil. Em maio de 2005, em pleno aniversário de rendição nazista (60 anos), um grupo de cerca de oito skinheads neonazistas atacaram três estudantes judeus com idade entre dezenove e vinte e sete anos. Em investigação (mandado de busca e apreensão), nas casas dos jovens presos pelo crime, foram encontrados diversos materiais de propagandas racistas e discriminatórias, além de exemplares de livros da Revisão Editora (Fuhrmann, 2004). Deste modo, a atenção destinada ao Negacionismo não deve ser referente apenas aos conteúdos dos livros, mas também a toda teia de relações em que eles se inserem.
Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto
Desde o lançamento de “Holocausto Judeu ou Alemão? Nos bastidores da mentira do século” em 1987, uma extensa batalha judicial perdurou até o ano de 2003. De um lado Siegfried Ellwanger e a Revisão Editora e do outro lado seus críticos. Os maiores adversários da Revisão Editora e do negacionismo no Brasil são grupos de defesa de direitos humanos e entidades judaicas que visam o combate ao anti-semitismo e a proteção da memória dos milhões de vitimas do Holocausto.
Em um primeiro momento, a tática utilizada para barrar tal negacionismo foi um boicote ao mesmo, pois se temia que a abertura de um processo acabasse por trazer publicidade ao negacionismo. Entretanto, ficou constatado que esta prática não era muito válida, pois não trazia resultados substanciais. Após certo tempo esta disputa passou aos tribunais gaúchos (pelo fato da editora situar-se em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul), onde uma verdadeira batalha foi travada. Ellwanger conseguiu uma série de liminares e habeas corpus, até que em determinado momento, a questão chegou ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, onde Ellwanger foi condenado pelo crime de racismo, em ultima instância, com denegação do pedido de habeas corpus nº. 82.424.
Ellwanger fora julgado pelo conteúdo de “Holocausto Judeu ou Alemão?”, além da distribuição (via Revisão Editora) dos seguintes títulos: “O Judeu Internacional”, de Henry Ford, 2ª reedição, 1989; “A História Secreta do Brasil”, de Gustavo Barroso, 1ª reedição, 1990; “Protocolos dos Sábios de Sião”, apostilado por Gustavo Barroso, 4ª reedição, 1989; “Brasil Colônia de Banqueiros”, de Gustavo Barroso, 1ª reedição; “Hitler - Culpado ou Inocente”, de Sérgio Oliveira, 2ª edição, 1990 e “Os Conquistadores do Mundo - Os Verdadeiros Criminosos de Guerra”, de Louis Marschalko, 3ª edição. As obras da editora Revisão foram proibidas de circulação.
Porém, há uma rede de apoio mútuo entre autores e leitores negacionistas, que conta com suporte de diversas organizações anti-semitas. A internet é um meio largamente utilizado para disseminação de material anti-semita e negacionista, inclusive no Brasil.
Páginas de internet neonazistas como valhalla88.com e whitepowersp.org (atualmente fora do ar) exibiam mensagens de apoio a Ellwanger e aos ideais da Revisão Editora. O controle, do ponto de vista jurídico, de sites de internet é bastante complexo, tendo em vista que muitos destes ficam hospedados em servidores estrangeiros - onde práticas como anti-semitismo e racismo não são considerados crimes - justamente por proteção (Jesus, 2006, p. 151). O próprio website da Revisão Editora ficou hospedado durante certo tempo em um conhecido servidor estrangeiro que abriga diversas páginas racistas (www.libreopinion.com).
Atualmente a Revisão Editora não conta com uma página oficial na internet, porém é fácil encontrar os livros a venda em páginas de leilão virtual, sebos e livrarias on-line.
Além do próprio discurso anti-semita e preconceituoso, certos episódios mostram a contribuição dos livros negacionistas para a formação de grupos neonazistas no Brasil. Em maio de 2005, em pleno aniversário de rendição nazista (60 anos), um grupo de cerca de oito skinheads neonazistas atacaram três estudantes judeus com idade entre dezenove e vinte e sete anos. Em investigação (mandado de busca e apreensão), nas casas dos jovens presos pelo crime, foram encontrados diversos materiais de propagandas racistas e discriminatórias, além de exemplares de livros da Revisão Editora (Fuhrmann, 2004). Deste modo, a atenção destinada ao Negacionismo não deve ser referente apenas aos conteúdos dos livros, mas também a toda teia de relações em que eles se inserem.
Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto
terça-feira, 25 de março de 2008
A História do "revisionismo" do Holocausto - Parte 2
2. Revisionismo Histórico e a negação do Holocausto
A prática de revisão da História é constantemente aplicada, não somente sobre a própria metodologia, mas também sobre objetos e fatos em si, gerando inúmeras compreensões resultantes destas reflexões, sejam elas convergentes ou divergentes. É necessário ressaltar que esta prática de revisionismo atende aos padrões acadêmicos, que “exigem” de qualquer tipo de pesquisa, a existência de um referencial teórico e metodologia aplicada não somente para legitimar a pesquisa, mas também para qualificá-la.
É necessário abordar estas características do legítimo Revisionismo Histórico para se estabelecer contato com o auto-intitulado “Revisionismo” do Holocausto, ou Negacionismo, como é costumeiramente chamado nos meios acadêmicos e legais, distinção esta feita justamente para que haja uma diferenciação entre revisionistas e negadores do Holocausto. Segundo Pierre Vidal-Naquet (1998, p.12), notório combatente das práticas de falsificações históricas do Negacionismo, as primeiras células negacionistas surgiram na própria Alemanha sob o julgo nacional-socialista.
A partir de fortes indícios de um iminente fim de guerra, autoridades nazistas ordenaram a destruição de uma série de documentos e provas. Tal processo era nada mais que uma artimanha encontrada por estes oficiais para esconder, diminuir ou até mesmo negar os crimes cometidos durante a 2ª Guerra Mundial, dentre os quais o maior genocídio organizado e friamente sistematizado de uma série de categorias de “indesejáveis" ao governo nazista, como judeus, ciganos, homossexuais, negros, comunistas, entre outros – o Holocausto.
A passagem do negacionismo da plataforma política (como ato interno e restrito aos meios oficiais) para o meio público e acadêmico teve como principal idealizador e fundador Paul Rassinier, um ex-prisioneiro dos campos de concentração nazista de Buchenwald e Dora-Nordhaussen (Milman, 2000, p.120).
Rassinier, antigo militante da extrema-esquerda francesa era, durante a 2ª Guerra Mundial, membro da Seção Francesa da Internacional Socialista (SFIO) e redator de um jornal clandestino (“La IV. é Republique”). Devido às suas atuações, foi preso em 1944 pela Gestapo e enviado para os campos de concentração.
Livre, após o fim da guerra, retornou à França e começou uma peregrinação por diversas organizações políticas extremistas, tanto de esquerda quanto de direita. Afastou-se gradativamente das tendências esquerdistas, para se aliar a figurões da extrema-direita (Vichystas e colaboracionistas, inclusive) francesa e assumiu gradativamente um caráter fortemente anti-semita, antes mascarado como anti-sionismo ou anti-imperialismo.
O ano de 1951 marca a expulsão de Rassinier da SFIO, após a publicação de seu segundo livro, “A mentira de Ulisses”, em que o autor defende a tese de que a 2ª Guerra Mundial havia sido provocada por um complô judeu internacional de dominação mundial. Tal teoria remete facilmente aos moldes de teoria da conspiração largamente perpetuados pelo livro “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, uma espécie de bíblia do anti-semitismo, que influenciou uma gama variada de anti-semitas, desde o governo Czarista (que foi, aliás, quem encomendou esta fraude) até Adolf Hitler (Cohn, 1969, p.195), passando por brasileiros como Gustavo Barroso (chefe de milícia da Ação Integralista Brasileira, responsável por uma versão traduzida e apostilada deste) e chegando até os atuais negadores do Holocausto.
Rassinier, em um primeiro momento, empreendeu uma relativização do número de mortos nos campos de concentração para, após isto, negar a existência das câmaras de gás e de qualquer programa sistemático do governo nacional-socialista de assassinato de judeus e outros grupos “indesejáveis”.
No que diz respeito à negação da existência das Câmaras de Fás, o maior argumento usado pelos autores negacionistas é o chamado “Relatório Leuchter”. Escrito por Fred A. Leuchter Jr., um suposto engenheiro norte-americano especialista em câmaras de gás. Tal relatório afirma que não haveria indícios de gaseamento nos campos de concentração (no caso, Auschwitz-Birkenau e Majdanek). A validade desse relatório é bastante questionável e suas alegações técnicas (assim como a capacidade e legitimidade profissional de Leuchter Jr.) são constantemente refutadas. Cabe ressaltar ainda que os campos de concentração em que Rassinier esteve confinado eram “apenas” campos de prisão e trabalho forçado. Desta forma, não haveria como Rassinier presenciar alguma sequer Câmaras de Gás no período e locais em que esteve preso, por motivos óbvios.
Os ideais de Rassinier influenciaram uma variada gama de anti-semitas, sobretudo na França pós-guerra. A seu exemplo, parte de ex-militantes esquerdistas verteram suas atuações para grupos de extrema-direita. Personagens como Serge Thion, Robert Faurisson, dentre outros, militantes ativos do grupo intitulado como “A velha toupeira”, formaram um pequeno grupo em volta de Rassinier que logo se tornou um centro de irradiação de material negacionista.
Não tardou muito e os ideais negacionistas se espalharam por grande parte da Europa e mais tardiamente a outros locais da América Latina, como o Brasil. Atualmente, há uma rede de negacionistas que abrange vários países, dentre os quais alguns autores que ficaram mundialmente conhecidos, não necessariamente por suas obras, mas principalmente pelas batalhas judiciais em que são réus na maioria das vezes (e em muitas destas, condenados). David Irving, historiador britânico que dispunha de um relativo respeito nos meios acadêmicos como historiador militar e de guerras, viu sua “popularidade” desabar após escrever livros negacionistas e ser preso na Áustria – onde a negação do Holocausto é crime. Ernst Zündel, alemão, foi condenado à prisão em seu país de origem, mas acabou sendo preso primeiramente no Canadá, onde ficou detido por um período de dois anos. Após este tempo, foi transferido para a Alemanha, onde foi julgado novamente e atualmente cumpre pena de cinco anos de prisão por negar o holocausto e incitar o ódio contra judeus.
A chegada do negacionismo no Brasil data do ano de 1987. Em um período de crescente mobilização pelas eleições diretas e pelo fim da ditadura militar, surge então o mais famoso livro negacionista brasileiro: “Holocausto: Judeu ou Alemão? Nos bastidores da mentira do século” de autoria de Siegfried Ellwanger, brasileiro descendente de alemães.
Ellwanger, que assina seus livros com o pseudônimo de S.E. Castan (segundo ele para fugir da perseguição sionista), funda a Revisão Editora Ltda., com sede em Porto Alegre/RS, para promover a distribuição de seu livro inicial, além de uma série de outros títulos com forte teor anti-semita e racista, muito deles de autores negacionistas.
A participação de brasileiros, porém, é pequena na Revisão Editora. Grande parte dos livros negacionistas nacionais são de autoria de Ellwanger ou então de Sérgio Oliveira, ex-sargento do Exército brasileiro durante a ditadura militar.
Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto
A prática de revisão da História é constantemente aplicada, não somente sobre a própria metodologia, mas também sobre objetos e fatos em si, gerando inúmeras compreensões resultantes destas reflexões, sejam elas convergentes ou divergentes. É necessário ressaltar que esta prática de revisionismo atende aos padrões acadêmicos, que “exigem” de qualquer tipo de pesquisa, a existência de um referencial teórico e metodologia aplicada não somente para legitimar a pesquisa, mas também para qualificá-la.
É necessário abordar estas características do legítimo Revisionismo Histórico para se estabelecer contato com o auto-intitulado “Revisionismo” do Holocausto, ou Negacionismo, como é costumeiramente chamado nos meios acadêmicos e legais, distinção esta feita justamente para que haja uma diferenciação entre revisionistas e negadores do Holocausto. Segundo Pierre Vidal-Naquet (1998, p.12), notório combatente das práticas de falsificações históricas do Negacionismo, as primeiras células negacionistas surgiram na própria Alemanha sob o julgo nacional-socialista.
A partir de fortes indícios de um iminente fim de guerra, autoridades nazistas ordenaram a destruição de uma série de documentos e provas. Tal processo era nada mais que uma artimanha encontrada por estes oficiais para esconder, diminuir ou até mesmo negar os crimes cometidos durante a 2ª Guerra Mundial, dentre os quais o maior genocídio organizado e friamente sistematizado de uma série de categorias de “indesejáveis" ao governo nazista, como judeus, ciganos, homossexuais, negros, comunistas, entre outros – o Holocausto.
A passagem do negacionismo da plataforma política (como ato interno e restrito aos meios oficiais) para o meio público e acadêmico teve como principal idealizador e fundador Paul Rassinier, um ex-prisioneiro dos campos de concentração nazista de Buchenwald e Dora-Nordhaussen (Milman, 2000, p.120).
Rassinier, antigo militante da extrema-esquerda francesa era, durante a 2ª Guerra Mundial, membro da Seção Francesa da Internacional Socialista (SFIO) e redator de um jornal clandestino (“La IV. é Republique”). Devido às suas atuações, foi preso em 1944 pela Gestapo e enviado para os campos de concentração.
Livre, após o fim da guerra, retornou à França e começou uma peregrinação por diversas organizações políticas extremistas, tanto de esquerda quanto de direita. Afastou-se gradativamente das tendências esquerdistas, para se aliar a figurões da extrema-direita (Vichystas e colaboracionistas, inclusive) francesa e assumiu gradativamente um caráter fortemente anti-semita, antes mascarado como anti-sionismo ou anti-imperialismo.
O ano de 1951 marca a expulsão de Rassinier da SFIO, após a publicação de seu segundo livro, “A mentira de Ulisses”, em que o autor defende a tese de que a 2ª Guerra Mundial havia sido provocada por um complô judeu internacional de dominação mundial. Tal teoria remete facilmente aos moldes de teoria da conspiração largamente perpetuados pelo livro “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, uma espécie de bíblia do anti-semitismo, que influenciou uma gama variada de anti-semitas, desde o governo Czarista (que foi, aliás, quem encomendou esta fraude) até Adolf Hitler (Cohn, 1969, p.195), passando por brasileiros como Gustavo Barroso (chefe de milícia da Ação Integralista Brasileira, responsável por uma versão traduzida e apostilada deste) e chegando até os atuais negadores do Holocausto.
Rassinier, em um primeiro momento, empreendeu uma relativização do número de mortos nos campos de concentração para, após isto, negar a existência das câmaras de gás e de qualquer programa sistemático do governo nacional-socialista de assassinato de judeus e outros grupos “indesejáveis”.
No que diz respeito à negação da existência das Câmaras de Fás, o maior argumento usado pelos autores negacionistas é o chamado “Relatório Leuchter”. Escrito por Fred A. Leuchter Jr., um suposto engenheiro norte-americano especialista em câmaras de gás. Tal relatório afirma que não haveria indícios de gaseamento nos campos de concentração (no caso, Auschwitz-Birkenau e Majdanek). A validade desse relatório é bastante questionável e suas alegações técnicas (assim como a capacidade e legitimidade profissional de Leuchter Jr.) são constantemente refutadas. Cabe ressaltar ainda que os campos de concentração em que Rassinier esteve confinado eram “apenas” campos de prisão e trabalho forçado. Desta forma, não haveria como Rassinier presenciar alguma sequer Câmaras de Gás no período e locais em que esteve preso, por motivos óbvios.
Os ideais de Rassinier influenciaram uma variada gama de anti-semitas, sobretudo na França pós-guerra. A seu exemplo, parte de ex-militantes esquerdistas verteram suas atuações para grupos de extrema-direita. Personagens como Serge Thion, Robert Faurisson, dentre outros, militantes ativos do grupo intitulado como “A velha toupeira”, formaram um pequeno grupo em volta de Rassinier que logo se tornou um centro de irradiação de material negacionista.
Não tardou muito e os ideais negacionistas se espalharam por grande parte da Europa e mais tardiamente a outros locais da América Latina, como o Brasil. Atualmente, há uma rede de negacionistas que abrange vários países, dentre os quais alguns autores que ficaram mundialmente conhecidos, não necessariamente por suas obras, mas principalmente pelas batalhas judiciais em que são réus na maioria das vezes (e em muitas destas, condenados). David Irving, historiador britânico que dispunha de um relativo respeito nos meios acadêmicos como historiador militar e de guerras, viu sua “popularidade” desabar após escrever livros negacionistas e ser preso na Áustria – onde a negação do Holocausto é crime. Ernst Zündel, alemão, foi condenado à prisão em seu país de origem, mas acabou sendo preso primeiramente no Canadá, onde ficou detido por um período de dois anos. Após este tempo, foi transferido para a Alemanha, onde foi julgado novamente e atualmente cumpre pena de cinco anos de prisão por negar o holocausto e incitar o ódio contra judeus.
A chegada do negacionismo no Brasil data do ano de 1987. Em um período de crescente mobilização pelas eleições diretas e pelo fim da ditadura militar, surge então o mais famoso livro negacionista brasileiro: “Holocausto: Judeu ou Alemão? Nos bastidores da mentira do século” de autoria de Siegfried Ellwanger, brasileiro descendente de alemães.
Ellwanger, que assina seus livros com o pseudônimo de S.E. Castan (segundo ele para fugir da perseguição sionista), funda a Revisão Editora Ltda., com sede em Porto Alegre/RS, para promover a distribuição de seu livro inicial, além de uma série de outros títulos com forte teor anti-semita e racista, muito deles de autores negacionistas.
A participação de brasileiros, porém, é pequena na Revisão Editora. Grande parte dos livros negacionistas nacionais são de autoria de Ellwanger ou então de Sérgio Oliveira, ex-sargento do Exército brasileiro durante a ditadura militar.
Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto
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terça-feira, 14 de agosto de 2007
O exterminador do racismo
Artigo - Sonia Bloomfield Ramagem
Folha de S. Paulo
25/5/2004
Em artigo publicado pela Folha no dia 3/5 ("O caso Ellwanger", pág. A3), o editor e auto-intitulado historiador Siegfried Ellwanger, condenado por crime de racismo pelo Supremo Tribunal Federal em 2003, pretende rebater "uma série de informações incompletas ou distorcidas constantes do artigo "O STF e o racismo; o caso Ellwanger", de Celso Lafer, voltadas a apresentar-me, novamente, como racista".
Ellwanger segue a trilha de outro negador do Holocausto e falso historiador, o inglês David Irving, da Inglaterra. Irving processou a historiadora Deborah Lipstadt, autora do livro "Denying the Holocaust: the Growing Assault on Truth and Memory", que o acusava de falsificar a história.
Um dos pilares da defesa de Lipstadt foi Richard J. Evans, professor de história da Universidade de Cambridge, que analisou as qualificações profissionais e as obras de Irving a partir das seguintes questões: "Existe objetividade histórica? Quando podemos saber se um historiador está falando a verdade? Será que todos os historiadores estão apenas apresentando suas diferentes versões do passado?". Respondendo-as, Evans disse que sim, existe objetividade no estudo da história, e que para isso "o treino de um historiador profissional há muito tempo é dependente de um doutorado, o qual requer provas de domínio de todas as técnicas necessárias em pesquisa em arquivos e pesquisa histórica baseada em documentos originais". Evans concluiu que Irving e outros que se passam por historiadores e negam o Holocausto, como é o caso de Ellwanger, não podem usar tal título, pois lhes faltam as qualificações necessárias.
Por Ellwanger haver escolhido o caminho do falseamento da realidade, ele se sente perseguido
Deborah Lipstadt afirmou que a negação do Holocausto é, na maioria dos casos, anti-semita e está ligada a uma agenda política antijudaica. A agenda anti-semita de Ellwanger é baseada na farsa "Os Protocolos dos Sábios de Sião", em especial nos protocolos de número 1, 3, 4, 5, 9, 11, 15, 16 e 17, que tratam de leis e liberdades. Ele ataca o professor Celso Lafer e o rabino Henry Sobel como os articuladores de uma trama diabólica de controle do Supremo Tribunal Federal pelos "sionistas", isto é, judeus, e acusa o ministro Maurício Corrêa de títere dos mesmos, além de insinuar que ele plagiou Celso Lafer na redação de seu voto. Ellwanger levanta também sérias suspeitas sobre a competência e probidade profissional dos ministros Celso de Mello, Carlos Velloso, Nelson Jobim, Ellen Gracie, Cezar Peluso e Sepúlveda Pertence, a quem acusa de votarem contra seu pedido de habeas corpus "por antecipação, isto é, sem pedir vistas do processo, mas citando o estranho parecer inimigo...". Em bom português: Ellwanger insinua serem os mesmos corruptos e incompetentes.
Ainda baseado nos "Protocolos", afirma ele que "todos os sete livros que motivaram o processo contra mim foram editados antes da lei 8.081, que foi encomendada pela Federação Israelita do Rio Grande do Sul ao então deputado Ibsen Pinheiro, [que] não consegu[iu] explicar, entre muitas acusações, a origem de valioso apartamento adquirido à vista no bairro judaico". Aí está a teoria básica dos "Protocolos": a de que os judeus dominam o mundo. Segundo ele, a lei foi "encomendada" a um deputado, a quem ele acusa de ter ganhado um "valioso apartamento (...) no bairro judaico" (implicando, com isso, que o imóvel está em local onde seu proprietário possa ser controlado). No entanto, como um deputado sozinho não é suficiente para aprovar uma lei, fica implícito em suas palavras que os deputados que votaram em favor da lei 8.081 são, no mínimo, corruptos!
Com relação à data da promulgação da referida lei, afirma ele que, até o ano de 1996, "para a ciência ainda havia distinção de raças" e que isso deveria anular sua condenação, pois, "sem lei, não há crime". Fosse ele um pesquisador como se intitula, teria procurado basear suas afirmações em trabalhos de antropologia e biologia, e não teria emitido opinião tão errônea e disparatada: há muitos e muitos anos a noção de raça humana não mais existe entre cientistas sérios.
Por Ellwanger haver escolhido o caminho do falseamento da realidade, ele se sente perseguido: "do primeiro voto até o final do processo, o auditório do STF esteve quase sempre lotado de sionistas de vários Estados". Quem realmente esteve presente às votações do Supremo sabe que havia vários assentos vagos durante as mesmas, e isso não aconteceria com o auditório lotado por tantos sionistas quanto ele criou em sua imaginação. Por outro lado, ele nem sequer menciona os negros, ciganos, indígenas e outros que lá estiveram, talvez por não considerá-los dignos de serem incluídos em sua contagem.
O mesmo sentido alterado da realidade o faz afirmar que, "em nenhum momento houve [da parte dele] incitação ao racismo. Propositada e falsamente, confundem meu anti-sionismo com anti-semitismo e racismo". E, mais ainda, declarando-se "anti-sionista", diz ele que "sionismo é o racista movimento político judaico" (sic).
Lendo tais garatujas, só posso concluir que ele quer que acreditemos que, em última instância, ele luta contra o racismo! Todos os leitores de seu artigo publicado na Folha deveriam se sentir ofendidos com esse ataque à sua inteligência e bom senso.
Sonia Bloomfield Ramagem, 53, doutora em antropologia pela Universidade Católica da América (EUA), é professora de geografia humana na UNB (Universidade de Brasília).
http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=125218
Nas fotos, da esquerda pra direita: Deborah Lipstadt, David Irving, Siegfried Ellwanger(S.E. Castan).
Folha de S. Paulo
25/5/2004
Em artigo publicado pela Folha no dia 3/5 ("O caso Ellwanger", pág. A3), o editor e auto-intitulado historiador Siegfried Ellwanger, condenado por crime de racismo pelo Supremo Tribunal Federal em 2003, pretende rebater "uma série de informações incompletas ou distorcidas constantes do artigo "O STF e o racismo; o caso Ellwanger", de Celso Lafer, voltadas a apresentar-me, novamente, como racista".
Um dos pilares da defesa de Lipstadt foi Richard J. Evans, professor de história da Universidade de Cambridge, que analisou as qualificações profissionais e as obras de Irving a partir das seguintes questões: "Existe objetividade histórica? Quando podemos saber se um historiador está falando a verdade? Será que todos os historiadores estão apenas apresentando suas diferentes versões do passado?". Respondendo-as, Evans disse que sim, existe objetividade no estudo da história, e que para isso "o treino de um historiador profissional há muito tempo é dependente de um doutorado, o qual requer provas de domínio de todas as técnicas necessárias em pesquisa em arquivos e pesquisa histórica baseada em documentos originais". Evans concluiu que Irving e outros que se passam por historiadores e negam o Holocausto, como é o caso de Ellwanger, não podem usar tal título, pois lhes faltam as qualificações necessárias.
Por Ellwanger haver escolhido o caminho do falseamento da realidade, ele se sente perseguido
Deborah Lipstadt afirmou que a negação do Holocausto é, na maioria dos casos, anti-semita e está ligada a uma agenda política antijudaica. A agenda anti-semita de Ellwanger é baseada na farsa "Os Protocolos dos Sábios de Sião", em especial nos protocolos de número 1, 3, 4, 5, 9, 11, 15, 16 e 17, que tratam de leis e liberdades. Ele ataca o professor Celso Lafer e o rabino Henry Sobel como os articuladores de uma trama diabólica de controle do Supremo Tribunal Federal pelos "sionistas", isto é, judeus, e acusa o ministro Maurício Corrêa de títere dos mesmos, além de insinuar que ele plagiou Celso Lafer na redação de seu voto. Ellwanger levanta também sérias suspeitas sobre a competência e probidade profissional dos ministros Celso de Mello, Carlos Velloso, Nelson Jobim, Ellen Gracie, Cezar Peluso e Sepúlveda Pertence, a quem acusa de votarem contra seu pedido de habeas corpus "por antecipação, isto é, sem pedir vistas do processo, mas citando o estranho parecer inimigo...". Em bom português: Ellwanger insinua serem os mesmos corruptos e incompetentes.
Ainda baseado nos "Protocolos", afirma ele que "todos os sete livros que motivaram o processo contra mim foram editados antes da lei 8.081, que foi encomendada pela Federação Israelita do Rio Grande do Sul ao então deputado Ibsen Pinheiro, [que] não consegu[iu] explicar, entre muitas acusações, a origem de valioso apartamento adquirido à vista no bairro judaico". Aí está a teoria básica dos "Protocolos": a de que os judeus dominam o mundo. Segundo ele, a lei foi "encomendada" a um deputado, a quem ele acusa de ter ganhado um "valioso apartamento (...) no bairro judaico" (implicando, com isso, que o imóvel está em local onde seu proprietário possa ser controlado). No entanto, como um deputado sozinho não é suficiente para aprovar uma lei, fica implícito em suas palavras que os deputados que votaram em favor da lei 8.081 são, no mínimo, corruptos!
Com relação à data da promulgação da referida lei, afirma ele que, até o ano de 1996, "para a ciência ainda havia distinção de raças" e que isso deveria anular sua condenação, pois, "sem lei, não há crime". Fosse ele um pesquisador como se intitula, teria procurado basear suas afirmações em trabalhos de antropologia e biologia, e não teria emitido opinião tão errônea e disparatada: há muitos e muitos anos a noção de raça humana não mais existe entre cientistas sérios.
Por Ellwanger haver escolhido o caminho do falseamento da realidade, ele se sente perseguido: "do primeiro voto até o final do processo, o auditório do STF esteve quase sempre lotado de sionistas de vários Estados". Quem realmente esteve presente às votações do Supremo sabe que havia vários assentos vagos durante as mesmas, e isso não aconteceria com o auditório lotado por tantos sionistas quanto ele criou em sua imaginação. Por outro lado, ele nem sequer menciona os negros, ciganos, indígenas e outros que lá estiveram, talvez por não considerá-los dignos de serem incluídos em sua contagem.
O mesmo sentido alterado da realidade o faz afirmar que, "em nenhum momento houve [da parte dele] incitação ao racismo. Propositada e falsamente, confundem meu anti-sionismo com anti-semitismo e racismo". E, mais ainda, declarando-se "anti-sionista", diz ele que "sionismo é o racista movimento político judaico" (sic).
Lendo tais garatujas, só posso concluir que ele quer que acreditemos que, em última instância, ele luta contra o racismo! Todos os leitores de seu artigo publicado na Folha deveriam se sentir ofendidos com esse ataque à sua inteligência e bom senso.
Sonia Bloomfield Ramagem, 53, doutora em antropologia pela Universidade Católica da América (EUA), é professora de geografia humana na UNB (Universidade de Brasília).
http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=125218
Nas fotos, da esquerda pra direita: Deborah Lipstadt, David Irving, Siegfried Ellwanger(S.E. Castan).
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