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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Franjo Tudjman, o ex-presidente croata antissemita e negador do Holocausto e Jasenovac

Tradução do texto "Holocaust Deniers at the U.S. State Department" (Negadores do Holocausto e o Departamento de Estado dos Estados Unidos) sobre as afirmações racistas e negacionistas de Franjo Tudjman, ex-presidente croata, negacionista do Holocausto, racista e antissemita.

Por Srdja Trifkovic
Terça-feira, 23 de março de 2010

O relatório de direitos humanos do Departamento de Estado dos EUA sobre a Croácia, lançado em 11 de março, afirma com certa naturalidade que Jasenovac foi "o local do maior campo de concentração da Croácia durante a Segunda Guerra Mundial, onde milhares de sérvios, judeus e ciganos foram assassinados" [grifo feito; uma cena diária de Jasenovac, acima] Esta afirmação notável é o equivalente moral e factual exato de se afirmar que "dezenas de milhares" de judeus e outros povos foram mortos em Auschwitz ou Treblinka ..

O número de vítimas de Jasenovac ainda é incerto. A estimativa mais baixa sem qualquer pretensão de seriedade metodológica - de dezenas de milhares de vítimas - foi feita pelo falecido presidente croata Franjo Tudjman, famoso por ter dito "Graças a Deus, minha esposa não é nem sérvia e nem judia." A "estimativa" de Tudjman em Jasenovac encaixa-se com suas outras avaliações:
"Em seu livro: Wastelands verdades históricas, publicado em 1988, o Sr. Tudjman escreveu que o número de judeus que morreram no Holocausto foi de 900.000 - não seis milhões. Ele afirmou também que não mais que 70 mil sérvios morreram nas mãos da Ustasha - a mairoria dos historiadores dizem que cerca de 400 mil foram assassinados"(The New York Times, 20 de agosto, 1995)
Outras fontes fornecem estimativas dezenas de vezes maior que as de Dr. Tudjman, e centenas de vezes maior do que o apresentado como fato pelo Departamento de Estado dos EUA:
"Jasenovac" - entrada feita por Menachem Shelach na Enciclopédia do Holocausto, Yad Vashem, 1990, págs. 739-740: "Cerca de seiscentas mil pessoas foram assassinadas em Jasenovac, na maioria sérvios, judeus, ciganos e opositores do regime Ustasha."

Segundo o site "The Holocaust Education & Archive Research Team"**: "estima-se que perto de 600 mil pessoas ... principalmente sérvios, judeus, ciganos, foram assassinados em Jasenovac."
Se já basta de fontes judaicas, vamos olhar para o que os aliados alemães contemporâneos do regime Ustasha tinha a dizer sobre o assunto (todas as citações são de "The Crônica de Krajina: Uma História dos sérvios na Croácia, Eslavônia e Dalmácia" ("THE KRAJINA CHRONICLE: A History of Serbs in Croatia, Slavonia and Dalmatia"). Segundo Hermann Neubacher, especialista político mais importante de Hitler para os Balcãs, em seu livro Sonderauftrag Südost 1940-1945. Bericht eines Fliegenden Diplomaten (Goettingen:. Muster-Schmidt-Verlag, 1957, pág. 18)
"A receita para o problema dos sérvios ortodoxos pelo líder e Führer da Croácia, Ante Pavelic, foi lembrar das guerras religiosas de memória mais sangrenta: um terço deve ser convertido ao catolicismo, outro terço deve ser expulso e o terço final deve ser liquidado. A última parte do programa foi conduzida." [ou seja, um terço de cerca de 1,9 milhões foi chacinado]
Num relatório para Himmler, o general da SS Ernst Frick estimou que "entre 600 e 700 mil vítimas foram massacradas à moda dos Balcãs". O General Lothar Rendulic, comandando forças alemãs nos Balcãs Ocidentais em 1943-1944, estimou o número de vítimas da Ustasha em cerca de 500.000. Em suas memórias Gekaempft, gesiegt, geschlagen (Welsermühl Verlag, Wels und Heidelberg, 1952, pág.161), ele recordou a memorável discussão csobre essa questão com um dignitário croata:
"Quando eu me opus a um alto funcionário que estava perto de Pavelic, apesar do ódio acumulado, não consegui compreender o assassinato de meio milhão ortodoxos, a resposta que recebi foi característica da mentalidade que prevalecia lá: Meio milhão, isso é muito - não havia lá mais que 200 mil!"
O Departamento de Estado dos EUA pode ter em sua posse novas e incontroversas provas que os pesquisadores do Yad Vashem tenham exagerado no número de vítimas em Jasenovac em uma centena ou mais, de que testemunhas alemães estavam erradas, que até mesmo o negador do Holocausto, o Presidente Tudjman, esteja errado, e que o número de vítimas seja certamente de alguns "milhares" em vez de dezenas ou centenas de milhares.

Se isso existe, o Departamento de Estado deveria tornar tal prova pública. Em caso contrário (de não existir), ele deveria fazer uma correção detalhada e um pedido de desculpas.

Fonte: The Lord Byron Foundation for Balkans Studies (site)
http://www.balkanstudies.org/blog/holocaust-deniers-us-state-department
Título original: Holocaust Deniers at the U.S. State Department
Tradução: Roberto Lucena
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Para ler sobre os números do Holocausto na Croácia, conferir o seguinte post (e clicar em seus links): A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 4 (Observação)

Todos os posts sobre a Ustasha nesta tag.

**Sobre o site "The Holocaust Education & Archive Research Team", favor conferir os posts do Holocaust Controversies sobre os problema deste site e da má conduta de seus atuais donos. Não foi possível cortar o trecho que cita o site do texto acima, senão eu teria cortado.

Como não sei se o R. Muehlenkamp gostaria de comentar o caso pois como é algo restrito a discussões em inglês (os que mantém o site são um britânico e um norte-americano), sendo que os donos são dois paspalhos usando vários trolls/fakes para atacar o pessoal do Holocaust Controversies com cyberbullying e stalking, acho que o link dos posts do HC comentando o caso sobre a má ação do site e dos mantenedores já é suficiente. Caso alguém tenha dificuldade em ler em inglês basta pôr o link no tradutor do Google que traduz boa parte pro português sem distorções idiomáticas.

Pra quem acha que os "revis" são o ápice do que há de pior na web, eis aí um exemplo do que gente supostamente "anti-"revi"" pode fazer por conta também de extremismo político, divergência de opinião e mau comportamento.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945 - Parte 2

Continuação do texto "O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945", do historiador Dušan T. Batakovic.

OS MASSACRES

Dusan Batakovic
O historiador croata Fikreta Jelic-Butic reconstituiu, com base em materiais autênticos da Ustasha, a cronologia das perseguições de sérvios durante os primeiros meses após o estabelecimento do Estado Independente da Croácia: "Além de prisão um número crescente de sérvios em campos, rapidamente começaram os assassinatos em massa, massacres estes também realizados em vários locais. Na aldeia de Gudovac, perto Bjelovar, os utashis fuzilaram cerca de 184 camponeses sérvios entre 27 e 28 de Abril. Em Blagaj, na região de Kordun, após chamar os sérvios de Veljun e comunidades vizinhas para serem agrupados, os ustashis mataram cerca de 250 agricultores que responderam ao chamado do agrupamento. Poucos dias depois, em 11 e 12 de maio, cerca de 300 sérvios foram massacrados em Glina. No mês de junho, outros massacres ainda maiores ocorreram na Herzegovina. Nos subúrbios de Ljubinje, os ustashis iniciaram em 2 de junho um massacre em massa em que cerca de 140 camponeses sérvios foram mortos. Três dias depois, os ustashis haviam assassinado cerca de 180 agricultores da aldeia de Korita, perto Gacko. Então, em 23 de junho, quase sempre perto de Ljubinje, 160 homens foram mortos e em três aldeias próximas a Gacko, cerca de 80 homens, mulheres e crianças foram mortos. Dois dias depois, em algumas aldeias do distrito de Stolac, 260 homens foram abatidos. Em 30 de junho, em Ljubusko, cerca de 90 sérvios trazidos de Capljina foram mortos. Em junho, houve o massacre dos sérvios no território da Dalmácia do Norte. A matança começou com a prisão em massa de sérvios nos distritos de Drnis e Knin. Em primeiro lugar, cerca de 60 agricultores sérvios foram capturados em três aldeias: eles foram trancados na fortaleza de Knin e, em seguida, foram abatidos. Um grupo de cerca de 50 sérvios foram massacrados na estrada de Knin-Gračac. Na noite de 19 a 20 de junho, os ustashis prenderam 76 sérvios de Knin e Kninsko Polje foi morto em Promina. Em algumas aldeias das comunidades de Vrlika, Drnis e Promina, quase 250 camponeses sérvios foram mortos, incluindo muitas mulheres e crianças. Em quatro aldeias ao redor de Knin, 70 sérvios foram mortos antes de 12 de Julho. Na aldeia de Prosoj, perto de Sinj, cerca de 90 pessoas foram presas e depois mortas. (17)

Os assassinatos em massa continuaram ao longo dos meses seguintes: Em Julho - segundo F.Jelic-Butic - uma série de massacres organizados ocorreram, com pico no final do mês. Este é o momento da insurreição armada do povo na Croácia como também na Bósnia e Herzegovina. Em 01 de julho, na aldeia de Suvaj perto de Gracac, cerca de 300 homens, mulheres e crianças foram mortos. Na aldeia de Grahovac, perto de Petrinja, a Ustasha matou cerca de 1.200 pessoas de 24 a 25 de julho.De 20 a 27 de julho, em Prijeboj e arredores, várias centenas de homens foram mortos. Na noite de 27 para 28, em Primislje, cerca de 80 homens foram presos; eles seriam massacrados depois em Slunj. No dia seguinte, em 28 de julho, a Ustasha matou cerca de 180 sérvios perto de Vojnic. Nesse mesmo dia, cerca de 50 homens e mulheres da aldeia de Polace, perto de Knin, foram massacrados. No dia seguinte, no dia 29 de julho, ocorreu o grande massacre de centenas de sérvios na igreja Glina. Segundo fontes, no final de julho, cerca de 2.000 sérvios foram mortos em Glina. E, simultaneamente, ocorreu o massacre de cerca de 500 sérvios de Gracac e áreas circunvizinhas. Os maiores massacres em território da Bósnia ocorreram no final de julho nas regiões ocidentais. Acredita-se que nestes dias, nos distritos de Bihac, Bosanska Krupa e Cazin cerca de 20.000 sérvios foram mortos, e cerca de 6.000 no Distrito de Sanski Most e também 6000 nos distritos de Prijedor e Brod Bosanski, no entanto, a Ustasha ainda matou cerca de 250 pessoas nas aldeias sérvias de Duvno. A partir de 29 de julho começaram as matanças em massa na região de Livno, que ao longo dos próximos meses, implicaram na morte de mais de 1.000 sérvios." (18) Em Prebilovci e Surmanci, na Herzegovina, 559 sérvios foram mortos, exclusivamente velhos, mulheres e crianças. Eles foram levados para o abismo chamado Golubinka onde foram massacrados e jogados no abismo. Os massacres não pouparam nem mesmo a região de Srem. Após os massacres de 1941, em Ruma, dia 12 de agosto de 1942, 60 pessoas foram mortas e 140 sérvios foram mortos, em 25 de agosto, em Vukovar (19).

As dimensões deste massacre golpeou com espanto os representantes da Itália e da Alemanha no NDH. Em 28 de junho, Glaise von Horstenau informou que "de acordo com relatórios confiáveis ​​de um grande número de alemães observadores civis e militares, durante os últimos nas cidades e no campo, os ustashis se tornaram totalmente insanos." (20) No início de julho, o general von Horstenau assinalou com espanto que "os croatas expulsaram de Zagreb todos os intelectuais sérvios". Em 10 de julho, ele falou do "tratamento absolutamente desumano o qual são submetidos os sérvios que vivem na Croácia", referindo-se ao embaraço dos alemães "com seis batalhões de infantaria" que não podiam fazer nada a não ser observar "a fúria cega e sangrenta dos ustashis". (21)

O Coronel italiano Umberto Salvatore escreveu em 1 de Agosto de 1941 que "Gračac lembrava o Inferno de Dante, tiros foram disparados, mulheres e crianças gritando, e em toda parte os homens arrogantes e provocadores. com rostos dos carrascos, vestindo o uniforme da Ustasha". (22). Em informações detalhadas fornecidas pelas autoridades militares italianas em 1941 atestavam o grande número de vítimas. Em um memorando intitulado "Documentação das ações brutais e ilegais cometidas pela Ustasha contra a população iugoslava", falamos de 141 casos de assassinato em massa com lista muito precisa de 46.286 pessoas mortas, enquanto toda a documentação de abril-agosto de 1941 indica que o número de vítimas - a maioria sérvios, era superior a 80.000. (23)

OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO

A partir do verão de 1941, os campos de trânsito que foram estabelecidas seguindo o modelo nazista, rapidamente se tornaram campos de concentração. Os maiores dos 'campos da morte' eram o de Jasenovac, Jadovno (perto de Gospic), Stara Gradiska e o de Jastrebarsko. Fikreta Jelic-Butic relatou que dos campos "os principais e maiores no NDH eram o de Jasenovac e o de Stara Gradiska. O campo de Jasenovac surgiu no verão de 1941, quando os utashis começaram a trazer grupos de sérvios e judeus (Campo Nº 1). A chegada de outros presos levou à expansão do campo (Campo nº II). e de novembro de 1941 o campo continuou a ser expandido (Campo Nº III e Campo nº IV)." (24)

F.Jelic-Butic lembrou que foi no campo de Jasenovac, instalado na confluência do rio Una e do Rio Sava "que o maior número de seres humanos foram mortos no NDH - várias centenas de milhares de pessoas. De acordo com dados da Comissão Nacional da Croácia para levantamento dos crimes dos ocupantes e de seus colaboradores, calcula-se que este número é de cerca de 500 a 600.000 pessoas. As pesquisas em cemitérios que são feitas na área do memorial de Jasenovac estabeleceu que em terras distantes examinadas, numa área de 57.000 metros quadrados, mais de 360.000 prisioneiros foram executados e depois enterrados. Os dados correspondentes estão contidas no folheto de Jasenovac e em "Os campos de Jasenovac" (Jasenovac 1974) escrito por R . Trivuncic, o autor conclui: "Com base em marcas na superfície e em testemunhos de prisioneiros que sobreviveram, o número de 700.000 prisioneiros executados é bem realista" (25)

De acordo com dados fornecidos por Edmond Paris, cerca de 200.000 homens foram mortos em Jasenovac entre 1941-1942. Somente em 1942 sozinho, cerca de 12.000 crianças das 24.000 enviadas para Jasenovac foram mortas: "Multidões inteiras de crianças judias foram queimadas vivas nos fornos de tijolo do antigo transformado em crematório." (26). Vjekoslav Luburic, responsável pelos campos de concentração, declarou em Jasenovac no dia 9 de outubro de 1942, em uma recepção das mais altas autoridades do Estado Independente da Croácia: "Assim, durante este ano, em Jasenovac, mataram mais homens do que o Império Otomano fez durante a presença dos turcos na Europa." (27)

Segundo a pesquisa de F.Jelic-Butic, quando o campo de concentração Jadovno foi fechado em agosto de 1941, o número de mortes, em sua grande maioria de sérvios e judeus, era de 35.000. Um grande número de mulheres sérvias e cerca de 1.300 mulheres judias e seus filhos foram transferidos do campo de Lobograd para o campo de Auschwitz, antes do campo de Lobograd ser fechado em 1942. No campo de Stara Gradiska, procedeu-se "especificamente o massacre de mulheres e crianças." (28) Quase 4.500 sérvios e 2.400 judeus foram internados no campo de concentração na ilha de Pag. Na véspera da entrega daquela ilha para os italianos, os utashis massacraram cerca de 4.500 detentos. (29) No campo de concentração de Jastrebarsko, os ustashis levaram em 1942 cerca de 1.200 crianças de regiões de Banija e Kordun (norte de Krajina). Estes jovens internados foram tratados com extrema brutalidade. 486 crianças rapidamente sucumbiram à fome e apenas algumas delas escaparam do extermínio. (30)

Num relatório enviado em 20 de Fevereiro de 1942 à Berlim, Glaise von Horstenau dizia que as estimativas quando ao número de sérvios mortos no NDH oscilava entre 200.000 e 700.000 e que ele mesmo considera que o número de 300.000 era a mais correta. Os membros do governo croata argumentaram que antes do início de 1942, cerca de 250.000 croatas e 200.000 sérvios morreram, mas o General von Horstenau concluiu que o primeiro número era demasiado elevado e o segundo demasiado baixo. (31)

Os assassinatos em massa continuaram nos anos seguintes. Uma dos maiores deles foi realizado em Kozara, no noroeste da Bósnia, onde, numa ação combinada da Ustasha e de dezenas de forças alemães, milhares de sérvios foram mortos, incluindo um grande número de das crianças. (32)

Os dignitários e os clérigos da Igreja Ortodoxa Sérvia foram um alvo preferencial de ataques da Ustasha. O território do Estado Independente da Croácia tinha 9 bispados sérvios, 1.100 igrejas, 31 monastérios, 800 sacerdotes e 160 monges. Três dos principais bispos, o bispo Platon Jovanovic de Banja Luka, o bispo Petar Zimonjic de Sarajevo, o metropolitano da Bósnia e o bispo de Karlovac, Sava Trlajic, foram assassinados brutalmente e o Arcebispo Metropolitano de Zagreb, Monsenhor Dositej, foi deportado para Belgrado depois de ter sido torturado. No NDH cerca de 300 sacerdotes foram mortos, no entanto, muitos foram deportados para a Sérvia. Na diocese de Karlovac, 175 igrejas foram queimadas, destruídas ou fortemente danificadas. De um total de 189, apenas 14 igrejas permaneceram intactas. No bispado de Pakrac, de um total de 99 igrejas, 53 foram queimadas e 22 danificadas. Na Diocese da Dalmácia, 18 igrejas foram demolidas e 55 danificadas de um total de 109. Segundo a informação recebida, até o início de 1945, pelo Patriarcado em Belgrado, 7 igrejas foram destruídas e 6 outras foram muito danificadas de um total de 12, que incluia a diocese de Bosanska Dubica do bispo Banja Luka. Na diocese de Dubica, o número total de residentes sérvios caiu de 32.687 para 13.286. Em todo o território do NDH, em todo os cinco anos de poder da Ustasha, cerca de 400 igrejas sérvias e mosteiros foram demolidos, no entanto, um grande número deles, danificados, serviram como estábulos, armazéns, frigoríficos de gado ou banheiros abertos ao público. Em Jasenovac, antes de ser completamente destruído, a igreja ortodoxa local serviu como um estábulo. A destruição sistemática não poupou nem mesmo os cemitérios ortodoxos. Entre os locais de sepultamento muitos foram saqueados, aqueles que foram especialmente danificados, ou mais exatamente, demolidos, os locais foram arados: por exemplo, cemitérios perto de Banja Luka, nos cantões de Cajnice, Brcko, Travnik, Mostar, Ljubinje, Slavonski Brod, Borovo, Tenja e muitos outros. (33)

NOTAS

(17) F. Jelic-Butic, op.cit., p. 166.

(18) Ibid., p. 167. Uma documentação similar com uma lista detalhada das perseguições: E.Paris, op.cit., 59-60, 80-87, 104-107. Sobre os crimes da Ustasha na Herzegovina cf. Savo Skoko, Pokolji hercegovackih Srba 1941, Belgrado 1991. Um testemunho direto sobre os crimes ustashis é apresentado por Jean Hussard, em "Vu en Yougoslavie 1939-1944", Lausanne 1944.

(19) E.Paris, op. cit., pp. 103, 127.

(20) Johnatan Steinberg, All or Nothing. The Axis and the Holocaust 1941-1945, Ruthledge, London and New York 1990, pp. 29-30.

(21) Ibid., p. 30.

(22) Ibid., p. 38.

(23) Stato Maggiore Generale, Ufficio informazioni, Doc. Nos 00001-00129. Cf. la traduction serbe des documents: L. Malikovic (ed.), Krvavi bilans Nezavisne Hrvatske. Iz tajnih dokumenata italijanske armije, Revija 92, Beograd 1991, pp. 1-55.

(24) F. Jelic-Butic, op. cit., p. 186.

(25) Ibid., p. 187, note 214.

(26) E.Paris, op. cit., pp. 132-133.

(27) Ibid.

(28) F.Jelic-Butic, op. cit., pp. 186-187.

(29) E.Paris, op. cit., p. 129.

(30) Ibid., p. 130.

(31) Antun Miletic, Koncentracioni logor Jasenovac, Beograd 1986, vol. I, p. 161.

(32) Dragoje Lukic, Rat i djeca Kozare, Beograd 1990, 394 p. avec la liste des 11.196 enfants que les oustachis ont tués pendant la période 1941-1945.

(33) Dragoslav Stranjakovic, Najveci zlocini sadasnjice. Patnje i stradanje srpskog naroda u Nezavisnoj drzavi Hrvatskoj, Decje Novine - Jedinstvo, Gornji Milanovac et Pristina, 1991, pp. 127-185.

Fonte: Site do historiador Dusan T. Batakovic
Texto original: Le génocide dans l'état indépendant croate 1941-1945
Tradução: Roberto Lucena

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Ler também:
Ustasha (Blog avidanofront)
Ustasha (Blog holocausto-doc)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Croácia relembra as vítimas do "Auschwitz croata"

(Belga) Os dirigentes croatas estiveram presentes no domingo que marcou o 66º aniversário do desmantelamento do campo de concentração de Jasenovac, por vezes chamado de "Auschwitz croata", implementado pelo regime pró-nazi croata durante a Segunda Guerra Mundial, informou a televisão estatal.

"Nunca devemos esquecer que Jasenovac foi o local dos crimes mais terríveis" cometidos durante a Segunda Guerra Mundial, declarou o presidente croata Ivo Josipovic durante a cereminônia realizada no local do antigo campo, situado a 110 km ao sudeste de Zagreb. "Enviamos uma mensagem de paz aqui. Todos nós queremos que coisas como as que ocorreram em Jasenovac não ocorram nunca mais", disse M. Josipovic. Várias centenas de pessoas, incluindo ex-prisioneiros do campo, membros das famílias das vítimas e representantes diplomáticos assistiram a cerimônia.

O campo de concentração de Jasenovac foi um dos cerca de 80 campos criados pelo regime pró-nazi croata. Os historiadores não conseguiram chegar a um consenso sobre o número de vítimas que pereceram no campo, sobretudo sérvios, mas também judeus, ciganos e croatas antifascistas. As estimativas variam de 80.000, segundo o museu de Jasenovac, a 700.000 vítimas. O Museu Memorial do Holocausto em Washington avalia algo em torno de 100.000 vítimas. (DGO)

Fonte: Belga (17.04.2011)
http://levif.rnews.be/fr/news/belga-generique/la-croatie-commemore-les-victimes-de-l-auschwitz-croate/article-1194991891505.htm
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 24 de março de 2012

Imagens de Jasenovac (Extremamente forte)

A Ustasha documentou muitos dos seus crimes em Jasenovac. Seus métodos de assassinato eram mais violentos que a maioria daqueles empregados pelos nazis, e eram tão sádicos contra os sérvios tanto quanto os judeus. Estas imagens são, portanto, muito gráficas. Perceba que Himmler recebeu relatórios daquelas atrocidades e que isto não foi escondido dos nazis. De fato, Hitler tinha dito a Pavelic que "um nacionalismo intolerante deve ser executado por cinquenta anos." Estes foram os resultados desta ideia:

Execução

Números

Decapitação, por Hacksaw

Cortando gargantas e o massacre de Brode (na presença de soldados alemães)

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2012/01/jasenovac-images-extremely-graphic.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena

Não deixe de ler as séries:
Genocídio no Estado Independente da Croácia, 1941-1945, partes [01], [02], [03]
Texto do historiador sérvio Dusan Batakovic

A Ustasha e o silêncio do Vaticano, partes [01], [02], [03]
Tradução do capítulo 5 do livro Biografia Não-Autorizada do Vaticano, de Santiago Camacho

sábado, 18 de julho de 2009

Holocausto na Croácia - Parte 1


Extraído do Capítulo “A fuga dos Ustashis” do livro “A Verdadeira Odessa – O Contrabando de nazistas para a Argentina de Perón” de Uki Goñi.
Se os nazistas alemães, com sua ideologia sem deus e suas câmaras de gás, industrializaram o negócio do genocídio, o regime ustashi da Croácia foi encabeçado por homens profundamente católicos que usaram métodos medievais para executar o seu programa de extermínio. Fuzilamentos em massa, espancamentos e decapitação eram os métodos com que buscavam alcançar o objetivo de um estado racialmente puro e 100% católico. No fim da guerra, cerca de 700.000 pessoas tinham morrido nos campos da morte do regime ustashi em Jasenovac e em outras partes. A fúria do regime foi dirigida basicamente contra a população sérvia ortodoxa, mas judeus e ciganos também foram incluídos na lista da morte.

A criação do reino da Iugoslávia depois da Primeira Guerra Mundial reunira croatas, sérvios e eslovenos, sob o comando do Rei Alexandre. O movimento ustashi resistiu a essa integração e tornou-se porta-estandarte da causa croata, encabeçada pelo profundamente nacionalista Ante Pavelic. Em 1934 terroristas ustashis assassinaram o Rei Alexandre, um dos muitos atos sangrentos cometidos em nome de um estado croata separado, numa luta que teve o apoio da Itália fascista e da Alemanha nazista.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia foi talhada pelas potências do Eixo, e Pavelic tornou-se o Poglavnik, ou Führer, de uma Croácia independente. Os aliados denunciaram o desmembramento da Iugoslávia e recusaram-se a reconhecer o regime de Pavelic. Mas Pavelic recebeu carta branca para implantar sua política homicida durante um encontro com Hitler em junho de 1941. Hitler esboçou uma série de medidas raciais, planos que descreveu como “momentaneamente dolorosos” mas preferíveis ao “sofrimento permanente”. Se a Croácia queria ser forte, disse Hitler, “uma política nacionalmente intolerante precisa ser imposta por cinqüenta anos, pois excesso de tolerância nesses assuntos só prejudica”. (330)

Pavelic adivinhara os desejos de Hitler, e, nos primeiros dias depois da declaração da independência croata em 10 de abril de 1941, Zagreb aprovou uma série de leis raciais que incluíam a “arianização” das propriedades judaicas. Na Croácia não só os judeus eram forçados a usar uma fita no braço com a Estrela-de-Davi e a letra “Z” (Zidov: judeu); os sérvios também tinham ordem de usar fitas azuis com a letra “P” (Pravoslavni: ortodoxo).

Campos de concentração foram construídos na Croácia e na Bósnia, tendo como principal centro de matança o sistema de campos de Jasenovac. A política racial do regime foi expressa nos termos mais simples e francos em 22 de julho de 1941: “Para o resto, sérvios, judeus e ciganos, temos 3 milhões de balas. Mataremos 1/3 dos sérvios. Deportaremos outro terço e o resto será obrigado a tornar-se católico romano”, disse Mile Budak, ministro da Educação de Pavelic, num discurso amplamente divulgado.

O Vaticano pode ter deixado de condenar as políticas raciais assassinas dos nazistas, mas certamente não as endossou, ao passo que a Igreja Católica na Croácia tornou-se ardente defensora dos crimes de Pavelic. Em maio de 1941, o órgão da Igreja Hrvatska Straza recebeu calorosamente a legislação racial, considerando-a necessária para “a proteção de nossa honra e de nosso sangue”. Alguns bispos manifestaram igual entusiasmo. “Existem limites para o amor”, disse o arcebispo de Sarajevo, Ivan Saric, elogiando as novas leis e afirmando que “seria estúpido e indigno dos discípulos de Cristo pensar que a luta contra o mal pode ser travada com nobraza e mãos enluvadas”. O principal teórico racial do regime, Ivo Gaberina, era um padre católico que combinava conceitos de “purificação” religiosa e “higiene racial” com um chamado para que a Croácia seja “expurgada de elementos estrangeiros”.(331)

Diferentemente de seus mestres nazistas, os croatas puseram em prática seu Holocausto à luz do dia. O jornal Katolicki Tjednik declarou em 31 de agosto de 1941: “Agora Deus decidiu usar outros meios. Ele criará missões, missões européias, missões mundiais. Elas seriam mantidas não por padres mas por comandantes do Exército, sob a chefia de Hitler. Os sermões serão ouvidos com a ajuda de canhões, tanques e bombardeiros. A linguagem desses sermões será internacional.”

Mas as autoridades nazistas da Croácia estavam na realidade horrorizadas com a extensão e a natureza da matança. Em agosto de 1941, o escritório do general Edmund Glaise Von Horstenau, representante do Exército alemão na Croácia, informou a Berlim que 200.000 sérvios tinham “caído vitimados por instintos animais dos líderes ustashis”. (332)

Em 17 de fevereiro de 1942, Himmler recebeu um relatório pormenorizado sobre as “atrocidades praticadas por unidades ustashis na Croácia contra a população ortodoxa”. Seus agentes disseram a Himmler que os ustashis cometeram suas façanhas “de maneira bestial não só contra os homens em idade de fazer o serviço militar, mas especialmente contra indefesos velhos, mulheres e crianças. O número de ortodoxos que os croatas massacraram e torturaram sadicamente até matar é de cerca de 300.000”. (333)

O ministro do Exterior alemão Joachim Von Ribbentrop recebeu um relatório parecido, declarando que “a perseguição de sérvios não parou, e mesmo as estimativas mais conservadoras indicam que pelo menos centenas de milhares de pessoas foram mortas. Os elementos irresponsáveis cometeram atrocidades que só se poderia esperar de uma horda de bolcheviques ensandecidos.” (334)

A Alemanha exigiu que os carrascos ustashis mais brutais fossem afastados. Hà indícios de que a crise política provocada por isso entre os ustashis no meio da guerra teria levado à primeira rota de fuga da Croácia para a Argentina. Um relatório da inteligência americana de 25 de novembro de 1943 mostrou que se estavam criando vínculos entre a ditadura militar de Perón e Pavelic. “Hà informações de que o governo de Pavelic comprou sessenta passaportes argentinos para fins de evacuação” afirma o documento. “Fundos foram transferidos para a Argentina. Funcionários menos graduados, segundo se diz, irão para a Eslováquia.” (335)

Foto: Ante Pavelic e Adolf Hitler (créditos axishistory.com)

Ler a série:
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 1
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 2
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 3

Ver também:
1. A Ustasha (no blog avidanofront.blogspot.com do Daniel)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

5 milhões de vítimas não judias? (2ª Parte)

1ª Parte

Nesta segunda parte tentarei fazer uma compilação, país por país, dos não judeus que sucumbiram à violência criminal da Alemanha nazi e dos seus aliados durante a Segunda Guerra Mundial, i.e. dos não judeus que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi conforme definida na 1ª Parte .

Esta compilação, que não pretende ser científica e está aberta a qualquer crítica construtiva que possa melhorar a suas exactidão, e baseada em dados obtidos de várias fontes, bem como as minhas próprias estimativas. Onde não tenho dados de outras fontes ao meu dispor, utilizo a página detalhada da Wikipedia sobre as perdas humanas na Segunda Guerra Mundial, e outra informação fornecida pela Wikipedia.

1. União Soviética

Entre 2,53 e 3,3 milhões de prisioneiros de guerra soviéticos pereceram no cativeiro alemão devido a brutal tratamento a que foram submetidos, incluindo chacina em massa a tiro ou através da fome. Vide o meu artigo One might think that … (versão portuguesa: Até parece que ...) e o tópico do fórum RODOH The Fate of Soviet prisoners of War.

O sítio de Leninegrado, mencionado no mesmo artigo como um empreendimento criminal porque o seu objectivo era não a rendição da cidade mas sim a sua despopularização (i.e. um genocídio, em vez de um objectivo militar), cobrou cerca de um milhão de vidas civis (vide o artigo atrás referido e o tópico The Siege of Leningrad do fórum RODOH).

No que respeita aos cidadãos soviéticos abatidos a tiro, gaseados, enforcados ou queimados vivos pelas forças de ocupação alemãs e romenas, a Comissão Extraordinária soviética (vide a mensagem de Nick Terry de 26 Feb 2006 22:42 no Axis History Fórum) indicou um número de cerca de 6 milhões, dos quais cerca de 2,8 milhões de judeus e 3,2 milhões de não judeus. Enquanto o número de judeus parece mais ou menos acertado se comparado com dados mais recentes (vide a mensagem após o meu artigo acima referido), considero demasiado alto o número de não judeus. Este número provavelmente inclui também vítimas civis colaterais de operações militares, e não apenas civis deliberadamente executados a tiro, gaseados, enforcados ou queimados vivos. O número destes últimos no decurso das operações contra-guerrilha (a brutalidade das quais é descrita em detalhe, no que respeita ao território da Belorússia, no livro Kalkulierte Morde ("Assassinatos Calculados") de Christian Gerlach, vide os extractos traduzidos para inglês no tópico Major Antipartisan Operations in Belorussia do fórum RODOH) tem sido estimado em cerca de um milhão (Richard Overy, Russia’s War, página 151). Um milhão de civis mortos pela Wehrmacht na luta contra-guerrilha são referidos numa entrevista do magazine de notícias alemão SPIEGEL com o historiador alemão Rolf-Dieter Müller, feita em 1999. O USHMM fornece a seguinte informação no que respeita à luta contra as guerrilhas nos territórios soviéticos ocupados pelos nazis (minha tradução):

Algumas das chamadas operações contra-guerrilha, especialmente nos territórios ocupados da União Soviética, eram de facto esforços por despopularizar as áreas rurais soviéticas. Os alemães massacraram centenas de milhares, talvez milhões, de civis soviéticos nas suas aldeias. A vasta maioria destas vítimas tinha pouca uma nenhuma ligação com os guerrilheiros.


Quantos civis morreram de inanição, doenças relacionadas e exposição aos elementos em território ocupado pelos nazis, devido as políticas de exploração nazi incluindo a requisição sem contemplações de géneros alimentícios, expulsão/deportação e trabalho forçado? Na nota de rodapé 21 do seu artigo Soviet Deaths in the Great Patriotic War: A Note ("Mortes soviéticas na Grande Guerra Patriótica: Anotação"), Michael Ellman e S. Maksudov referem "cálculos preliminares" feitos por um deles, segundo os quais (minha tradução) "as mortes devidas à ocupação alemã (matança de judeus, mortes no sítio de Leninegrado, mortes em combate, mortes em excesso nos territórios ocupados devido à deterioração das condições de vida) foram cerca de 7 milhões. Destes, cerca de um 1 milhão morreram no sítio de Leninegrado e 3 milhões eram judeus. Dos últimos, cerca de 2 milhões eram judeus dos territórios novamente anexados e 1 milhão eram judeus do antigo território soviético". Estas "grossas estimativas preliminares sobre um tópico que ainda aguarda pesquisa séria" incluem, portanto, 3 milhões de civis não judeus em território ocupado pelos nazis que morreram como vítimas colaterais dos combates, foram massacrados em operações contra-guerrilha ou morreram devido à deterioração das condições de vida. Se for atribuída igual probabilidade a cada uma destas 3 possibilidades (perdas colaterais, vítimas de operações contra – guerrilha, mortes por deterioração das condições de vida), obtêm-se um milhão de mortes civis colaterais (não incluídas nesta compilação), um milhão de vítimas de operações contra – guerrilha e um milhão de vítimas da deterioração das condições de vida. As mortes nestas duas últimas categorias podem ser principalmente atribuídas às políticas e acções dos ocupadores nazis e dos seus aliados, incluindo a implementação do mortífero "Plano de Fome" abordado neste artigo (versão portuguesa). No entanto, estimarei conservadoramente que apenas metade das cerca de 3 milhões de mortes civis soviéticas não judias em território ocupado pelos nazis foi directamente atribuível à implementação das políticas criminais de ocupação e exploração dos nazis, sendo o resto vítimas colaterais dos combates na frente, mortes por inanição devido a política soviética de terra queimada durante as retiradas em 1941/42 (que já por razões de tempo não pode ter causados tantos estragos e tanta mortandade como as políticas de exploração nazis e a devastação de terra queimada provocada pelas forças alemãs em retirada) e vítimas civis mortas por forças irregulares que combatiam as forças de ocupação.

A soma total de não combatentes não judeus soviéticos mortos pela violência criminal dos nazis situar-se-ia, portanto, entre 5,03 milhões e 5,8 milhões, que se subdividem como segue:

2,53 milhões a 3,3 milhões de prisioneiros de guerra
1 milhão de vítimas civis do sítio de Leninegrado
1,5 milhões de vítimas civis de operações contra-guerrilha e outras brutalidades nazis em território ocupado, incluindo exploração de trabalho forçado e inanição induzida por políticas de exploração nazis.

Só o número de soviéticos não judeus vítimas de crimes nazis iguala ou excede o total de cinco milhões de vítimas não judias "inventado" por Wiesenthal. Também se aproxima do total de vítimas judias de perseguição e chacina em massa pelos nazis em toda a Europa. Relativamente aos últimos vide o tópico de referência de Nick Terry no Axis History Fórum, Number of Victims of the Holocaust.

2. Polónia

O artigo do USHMM Poles: Victims of the Nazi Era ("Polacos: Vítimas da era nazi") contém a seguinte informação sobre o número de vítimas não judias da ocupação nazi na Polónia (minha tradução):

No passado, muitas estimativas de perdas foram baseadas num relatório polaco de 1947 solicitando reparações dos alemães; este documento, frequentemente citado, computou perdas populacionais de 6 milhões para todos os "nacionais" da Polónia (polacos, judeus e outras minorias). Subtraindo 3 milhões de vítimas judias polacas, o relatório alegava 3 milhões de vítimas não judias do terror nazi, incluindo vítimas civis e militares da guerra.

A documentação continua fragmentária, mas hoje em dia estudiosos da Polónia independente acreditam que 1,8 a 1,9 milhões de civis polacos (não judeus) foram vítimas das políticas de ocupação alemãs e da guerra. Este total aproximado inclui polacos mortos em execuções ou que morreram em prisões, trabalho forçado, e campos de concentração. Inclui também cerca de 225.000 vítimas civis da Revolta de Varsóvia em 1944, mas de 50.000 civis que morreram durante a invasão em 1939 e o sítio de Varsóvia, e um número relativamente pequeno mas desconhecido de civis mortos durante a campanha militar dos aliados em 1944—45 para libertar a Polónia.


É portanto claramente incorrecta a alegação, que desafortunadamente continua sendo repetida em sites como os referidos na 1ª Parte deste artigo, de que 3 milhões de polacos não judeus foram mortos naquilo que estes sites designam como o "Holocausto".

As actuais estimativas de estudiosos polacos também incluem vítimas civis colaterais da guerra, pelo que o número de civis polacos que foram vítima das políticas de ocupação nazis deve ser algo inferior do que 1,8 a 1,9 milhões. Estimando um total de 300,000 vítimas civis da invasão nazi em 1939, da Revolta de Varsóvia e da campanha militar de 1944/45, e partindo do princípio de que dois terços destas foram vítimas colaterais dos combates e não vítimas de execuções e massacres nazis, o número de polacos não judeus que pereceram devido às políticas de ocupação nazis seria de 1,6 a 1,7 milhões, sendo o número inferior próximo de uma estimativa de 1,55 milhões pelo historiador polaco Bogdan Musial, mencionada numa mensagem de Steve Paulsson no fórum H-Holocaust. Não se indica nesta mensagem se a estimativa de Musial inclui ou não vítimas colaterais da guerra, ou se é relativa ao território da Polónia em 1939 (incluindo áreas que posteriormente passaram a ser parte da União Soviética) ou ao território polaco depois da guerra. No primeiro caso, e partindo do princípio de que Musial contou não apenas pessoas de etnia polaca mas também bielorussos e ucranianos étnicos, existe uma sobreposição parcial entre o número de Musial e as estimativas sobre vítimas civis soviéticas no ponto 1 supra. Para estar do lado seguro considerando estas incertezas, reduzo o número de Musial em um terço (o que é, desde logo, uma mera conjectura) e presumo que o número de civis polacos não judeus mortos pela ocupação nazi no território da presente República Polaca foi de cerca de um milhão.

Se acrescentarmos este milhão aos 5,03 a 5,8 milhões de não combatentes soviéticos mortos pela violência criminal nazi, temos 6,03 a 6,8 milhões de vítimas não judias desta violência só na União Soviética e na Polónia, i.e. uma ordem de grandeza que está próxima de ou até excede mesmo as estimativas mais elevadas sobre o número de vítimas judias da perseguição e chacina em massa nazis em toda a Europa.

3. Checoslováquia

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial refere 43.000 civis não judeus mortos da Checoslováquia. A nota de rodapé 11 refere 26.500 vítimas não judias da represálias nazis, 10.000 civis mortos em operações militares e 7.500 vítimas do genocídio dos romani. Estes números somam um total de 44.000. Para os efeitos da minha contagem considero 33.000 vítimas não judias de repressão ou extermínio pelos nazis na Checoslováquia.

4. Jugoslávia

O defunto economista e especialista da Nações Unidas croata, Vladimir Žerjavić, publicou um estudo detalhado sobre as perdas da Jugoslávia durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns dos seus números se encontram disponíveis neste site. Do total de 1.027.000 mortes, segundo Žerjavić, 947.000 ocorreram em território jugoslavo e 80.000 no estrangeiro (Tabela 3). O primeiro número inclui 237.000 combatentes da resistência, 209.000 "colaboracionistas e quislings" e 501.000 "vítimas", das quais 216.000 em campos e 285.000 "em locais" (Tabela 5). Presumo que a categoria "colaboracionistas e quislings" se refere a étnicos croatas, eslovenos, alemães e outros mortos em combate ou de outra forma por forças do Exército da Libertação do Povo, enquanto as 501.000 "vítimas" incluem pessoas mortas ou pelos ocupadores alemães, italianos ou húngaros, os chetniks monarquistas ou as forças do Estado Independente da Croácia (NDH), aliado da Alemanha nazi. As perdas civis sérvias no território do NDH, segundo Žerjavić, somaram 197.000; destes 45.000 foram mortos por forças alemãs, 15.000 por forças italianas, 28.000 em "prisões, valas e outros campos", e 50.000 foram mortos no campo Jasenovac-Gradina, enquanto 25.000 morreram de tifo e 34.000 foram mortos "em batalhas entre ustashas, chetniks e guerrilheiros". O total de civis sérvios vítimas de matanças criminais por forças do eixo, portanto, seria de 138.000, de um total de vítimas civis de 197.000, ou seja cerca de 70 %. Aplicando esta relação ao total acima referido de 501.000 vítimas civis em território jugoslavo, temos cerca de 350.000 vítimas de matanças criminais contra 150.000 mortes por doença ou vítimas colaterais dos combates. Chacinas em massa não as houve apenas no território do NDH, mas também em outras partes da antiga Jugoslávia. Acções de represália por forças alemãs na Sérvia até 1 de Dezembro de 1941 mataram 15.000 pessoas, das quais aproximadamente 4.500 a 5.000 eram judeus e ciganos. Na região sérvia da Vojvodina, reporta-se que as forças do eixo mataram um total de 55.285 pessoas entre 1941 e 1944. Estes números parciais, bem como o facto de que as forças do Eixo (principalmente alemães, italianos, húngaros e croatas) eram mais numerosas e melhor organizadas do que os chetniks, também no que respeita às suas operações de matança, faz com que seja razoável presumir que pelo menos três em quatro mortes criminais em território jugoslavo, i.e. cerca de 260.000 de 350.000, foram causadas pelas forças do eixo. Incluem-se neste número cerca de 33.000 judeus mortos em território jugoslavo segundo a Tabela 3 de Žerjavić, sendo os restantes 227.000 vítimas não judeus incluindo sérvios, ciganos romani e membros de outras etnias.

Žerjavić também menciona um total de 80.000 habitantes da Jugoslávia que foram mortos fora do país, dos quais 24.000 judeus, 33.000 sérvios, 14.000 croatas, 6.000 eslovenos e 3.000 muçulmanos. Os sérvios provavelmente eram prisioneiros de guerra da campanha dos Balcãs ou trabalhadores forçados civis. Segundo um artigo sobre prisioneiros de guerra no site do Museu da História alemã, que eu uma vez traduzi para inglês (vide a mensagem de "witness" de 24 Sep 2003 00:26 no Axis History Fórum), cerca de 100.000 prisioneiros sérvios capturados durante a Campanha dos Balcãs alemã, chamados "Südostgefangene" (prisioneiros do sudeste) foram utilizados como mão de obra na economia alemã sob as piores condições. O historiador alemão Hellmuth Auerbach, num artigo sobre as vítimas da violência nacional-socialista e a Segunda Guerra Mundial incluído no livro de Wolfgang Benz e outros, Legenden, Lügen, Vorurteile - "Lendas, mentiras e preconceitos" (o artigo também está disponível online), mencionou (minha tradução) "pelo menos 500.000 jugoslavos que morreram em campos de trabalho e campos de concentração alemães". Enquanto este número (incompatível com os cálculos de Žerjavić) parece-me ser demasiado alto, é provável que as condições para prisioneiros de guerra e prisioneiros civis sérvios em campos de concentração e de trabalho nazis não fossem muito melhores do que no campo de concentração de Sajmište perto de Belgrado. Considero justificado, portanto, acrescentar as 33.000 mortes sérvias fora da Jugoslávia, referidas por Žerjavić, à estimativa de 227.000 não judeus mortos por forças do Eixo em território jugoslavo, obtendo assim um total de 260.000 vítimas jugoslavas não judias dos crimes do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial.

5. Finlândia

No conheço dados sobre vítimas não combatentes devido à actuação de forças do Eixo.

6. Roménia

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 15.000 romenos que morreram em cativeiro alemão e 36.000 vítimas do genocídio do povo romani. Não conheço detalhes sobre o tratamento de prisioneiros de guerra romenos pelos alemães, i.e. se foram tratados tão brutalmente como os prisioneiros de guerra soviéticos, sérvios ou italianos (vide os pontos 1 e 4 supra e 10 em baixo), mas uma vez que estas mortes devem ter ocorrido no período entre Agosto de 1944, quando a Roménia passou para o lado dos aliados, e o fim da guerra, e dado que o número de prisioneiros de guerra capturados pelos alemães de entre os 538.000 soldados romanos que combateram contra o Eixo em 1944-45 não pode ter sido muito alto, parece justificado partir do princípio de que os prisioneiros de guerra romenos não foram tratados de forma diferente do que os soviéticos, também face aos prováveis ressentimentos alemães pelo facto de a Roménia ter mudado para o lado inimigo. Portanto, acrescento os prisioneiros de guerra romenos que pereceram em cativeiro alemão às vítimas do genocídio dos romani na Roménia, o que dá um total de 51,000 vítimas romenas não judias de crimes do Eixo.

7. Hungria

Segundo a página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial , houve 28.000 vítimas do genocídio do povo romani na Hungria.

8. Bulgária

Os dados disponíveis mencionam um "número desconhecido" de civis incluídos nas cerca de 10.000 mortes da guerrilha anti-fascista. Uma vez que desconheço as particularidades da luta contra-guerrilha do Eixo na Bulgária, abstenho-me de conjecturas sobre qual poderá ter sido o número de civis mortos em operações contra-guerrilha.

9. Grécia

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial refere (minha tradução) "60.000 civis não judeus, 20.000 deportados não judeus, e 140.000 mortes por fome durante a ocupação da Grécia pelo Eixo na Segunda Guerra Mundial". O total destes números é 220.000. No entanto, a fome não pode ser inteiramente atribuída às forças do Eixo que, segundo parece, não implementaram aqui uma política deliberada de inanição como fizeram na União Soviética (vide o ponto 1 supra). Segundo a página Wikipedia sobre a ocupação da Grécia pelo Eixo durante a Segunda Guerra Mundial (minha tradução), "requisições, junto com o bloqueio aliado da Grécia, o estado arruinado da infra-estrutura do país e o surgimento de um mercado negro poderoso e bem conectado, resultaram na Grande Fome durante o Inverno de 1941-42 (em grego: Μεγάλος Λιμός), em que cerca de 300.000 pessoas pereceram.". Tomo o número mais baixo de mortes por inanição (140.000) e considero que as políticas de requisição do Eixo causaram metade destas mortes. O número total de vítimas gregas não judias de crimes do Eixo seria, portanto, de 60.000 + 20.000 + 70.000 = 150.000.

10. Itália

No seu artigo sobre crimes de guerra alemães contra italianos, o historiador alemão Gerhard Schreiber escreve o seguinte (minha tradução):

Não existe crime de guerra ou crime contra a humanidade que não tenha sido cometido por membros da Wehrmacht, das SS e da polícia alemãs contra homens, mulheres e crianças italianos depois de a Itália ter saído da guerra em 8 de Setembro de 1943.(1) No seguinte, contudo, apenas são tidas em conta as matanças legitimadas pelo estado, i.e. ordenadas pela liderança política e militar nacional-socialista. Tais malfeitorias cobraram 16.600 vítimas civis, das quais cerca de 7.400 judeus. Juntam-se 37.000 deportados políticos e milhares de membros das forças armadas italianas abatidos enquanto depunham as armas ou depois de as terem deposto, bem como muitos do 46.000 internados militares que pereceram em campos de prisioneiros e de trabalho, durante o transporte ou o trabalho forçado. De facto estes eram soldados leais ao rei capturados depois do armistício entre a Itália e os Aliados, a quem o lado alemão negou os direitos estipulados na Convenção de Genebra sobre o tratamento de prisioneiros de guerra datado de 27 de Julho de 1929.(2)


Uma vez que Schreiber não atribui todas as mortes entre os internados militares a "malfeitorias", considero que 30.000 dos internados militares foram vítimas de comportamento criminal por parte dos seus captores. Este número condiz com o indicado na página Wikipedia sobre as perdas humanas na Segunda Guerra Mundial . Não é claro se este último número inclui os "milhares de membros das forças armadas italianas abatidos enquanto depunham as armas ou depois de as terem deposto", que são mencionados por Schreiber. Considero que estão incluídos e somo 30.000 prisioneiros de guerra, 37.000 deportados políticos e 16.600 menos 7.400 = 9.200 vítimas civis não judias de "malfeitorias" alemãs para um total de 76.200 vítimas italianas não judias de crimes do Eixo.

11. Albânia

Não conheço dados sobre vítimas não combatentes.

12. França

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 40.000 prisioneiros de guerra franceses que morreram na Alemanha. Este número deve ser visto em relação ao total de prisioneiros de guerra franceses capturados pelos alemães – 1,9 milhões só durante a campanha de 1940 (vide a minha tradução para inglês de um extracto do livro Krieg, Ernährung, Völkermord ("Guerra, alimentação, genocídio") de Christian Gerlach, em que Gerlach compara o tratamento dos prisioneiros de guerra soviéticos com o que receberam os prisioneiros franceses da campanha de 1940). Uma cifra menor de mortes é dada por Christian Streit na página 244 do seu livro Keine Kameraden. Die Wehrmacht und die sowjetischen Kriegsgefangenen 1941-1945 ("Não eram camaradas. A Wehrmacht e os prisioneiros de guerra soviéticos 1941-1945"), 2ª edição 1997, da qual traduzi o seguinte extracto:

Deduzindo do número total de prisioneiros soviéticos que caíram nas mãos dos alemães os que ainda se encontravam em cativeiro em 1 de Janeiro de 1945 – 930.287 –, o número estimado de libertados – 1.000.000 – e o número estimado de prisioneiros que voltaram para o lado soviético mediante fuga ou durante as retiradas – 500.000 –, resulta um número de cerca de 3.300.000 prisioneiros que pereceram no cativeiro alemão ou foram assassinados pelos Einsatzkommandos, i.e. 57,8 por cento do número total de prisioneiros.
O significado completo deste número resulta claro quando se lhe compara com a mortalidade de outros prisioneiros em cativeiro alemão. Até 31 de Janeiro de 1945 tinham morrido 14.147 dos prisioneiros franceses, 1.851 dos britânicos e 136 dos americanos. Em relação ao respectivo número total estas mortes montam a 1,58 % para os franceses, 1,15 % para os britânicos e 0,3 por cento para os americanos. [Nota de rodapé: Baseado no número de prisioneiros existentes em 1.11.1944, segundo uma listagem da Escritório de Informação da Wehrmacht: franceses 893.672, britânicos 161.386, americanos 45.576. O número de prisioneiros franceses tinha sido muito mais alto originalmente, mas muitos tinham sido libertos. Dos prisioneiros polacos 67.055 ainda se encontravam registados em 1.11.1944, pelo que a mortalidade (com 3.299 mortes) seria de 4,92 por cento. Deve ser tido em contra a este respeito que também no caso destes prisioneiros a grande maioria tinha sido liberta, embora tivessem sido tratados consideravelmente pior do que os prisioneiros de guerra franceses libertos. Se no caso dos franceses forem também tidos em conta os prisioneiros libertos, a distância em relação à mortalidade dos prisioneiros de guerra soviéticos seria ainda maior.]


Considerando a taxa de mortalidade comparativamente baixa (seja qual for a contagem) dos prisioneiros de guerra franceses, e o facto de que as convenções relativas ao tratamento de prisioneiros de guerra foram amplamente obedecidas pelos alemães nas frentes de guerra ocidentais (vide a mensagem de "witness" de 24 Sep 2003 00:26 no Axis History Fórum), não parece justificado contar os prisioneiros de guerra franceses que morreram no cativeiro alemão como vítimas de crimes do Eixo.

No que respeita às vítimas civis na França, a página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial refere (minha tradução) "230.000 vitimas de represálias e genocídio nazis (incluindo 83.000 judeus)". Nas 147.000 vítimas não judias incluem-se 15.000 vítimas do genocídio do povo romani e (minha tradução) "20.000 refugiados anti-fascistas espanhóis residentes em França que foram deportados para campos nazis".

13. Bélgica

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona (minha tradução) "16.900 vítimas não judias de represálias e repressão nazis". Não estão incluídas neste número 500 vítimas do genocídio do povo romani na Bélgica, que elevam o total de vítimas belgas não judias de crimes do eixo para 17.400.

14. Holanda

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 58.050 vítimas não judias de represálias e repressão nazis e 16.000 mortes na fome de 1944 na Holanda, mais 500 vítimas do genocídio nazi do povo romani não incluídas nestes números. Considero a fome de 1944 na Holanda como tendo sido inteiramente da responsabilidade dos ocupadores alemães, na medida em que foi causada por um embargo de alimentos retaliatório decretado pelos ocupadores e piorado por, entre outros factores, a destruição de barragens e pontes pelos alemães em retirada para inundar o país e impedir o avanço aliado. O total de vítimas holandesas não judias de crimes nazis seria, portanto, de 74.550.

15. Luxemburgo

As únicas vítimas não judias de crimes do Eixo mencionadas na página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial são 200 vítimas do genocídio do povo romani. Informação nesta página mostra que também houve vítimas não combatentes da ocupação entre os Luxemburgueses que não eram nem judeus nem ciganos, mas não conheço fonte que permita a sua quantificação.

16. Noruega

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 658 prisioneiros políticos e membros da resistência que morreram dentro do país e 1.433 que morreram fora, um total de 2.091 mortes. Parece que não estão incluídos neste número combatentes armados da resistência, uma vez que estes se encontram listados junto com membros das forças regulares como perdas militares (considero vítimas de crimes do Eixo os membros não violentos da resistência que foram mortos pelos alemães ou morreram em cativeiro alemão, mas não os guerrilheiros armados uma vez que é controverso se e em que condições estes eram combatentes legais. As perdas das forças guerrilheiras armadas são, portanto, tratadas como perdas militares em combate para efeitos da minha contagem, i.e. não são incluídas nesta, mesmo onde se trata de guerrilheiros executados após a sua captura.)

17. Dinamarca

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 628 vítimas civis não judias de represálias alemãs.

18. Áustria

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 10.000 vítimas de perseguição política pelos nazis entre 1939 e 1945 e 6.500 vítimas do genocídio do povo romani. O número total de vítimas austríacas não judias de crimes do Eixo seria, portanto, de 16.500.

19. Alemanha

Segundo a página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial , a repressão e o genocídio nazis na própria Alemanha cobraram 762.000 vítimas, incluindo (minha tradução) "300.000 prisioneiros políticos, vítimas do programa de eutanásia Acção T4, homens homossexuais e 160.000 judeus alemães". Enquanto a cifra para judeus alemães é correcta, o remanescente de 602.000 vítimas não judias parece ser grandemente exagerado, especialmente dado que 302.000 destes supostamente eram outros do que prisioneiros políticos, vítimas do programa de eutanásia Acção T4 e homossexuais. Refere-se que o genocídio do povo romani cobrou 15.000 vítimas na Alemanha. Ora, quem se supõe que eram os restantes 287.000?

A adição dos números de vítimas das várias categorias conduz a um total bastante inferior:

"Eutanásia": segundo o USHMM, o programa de eutanásia Acção T4 e as suas sequelas não oficiais cobraram um total de 200.000 vítimas, incluindo (minha tradução) "pacientes idosos, vítimas de bombardeamentos, e trabalhadores forçados estrangeiros". No seu artigo referido no ponto 4 supra, Hellmuth Auerbach mencionou (minha tradução) "cerca de 100.000 pacientes mentais e pessoas deficientes, principalmente de nacionalidade alemã (chamadas vítimas da eutanásia)". Opto pelo número inferior, também considerando que o superior é indicado como incluindo não alemães, os quais já teriam sido contados sob os pontos referentes aos seus países de origem.

Homossexuais: A página Wikipedia History of gay men in Nazi Germany and the Holocaust ("História dos homens homossexuais na Alemanha e o Holocausto") menciona uma estimativa de "5.000 a 15.000" que foram presos em campos de concentração, e informa que um dos principais estudiosos da matéria (minha tradução) "acredita que a taxa de mortalidade nos campos de concentração de prisioneiros homossexuais poderá ter chegado aos 60%". Tomando como base o número mais baixo de prisioneiros nos campos de concentração, esta taxa significaria 3.000 mortes.

Testemunhas de Jeová: Segundo o USHMM (minha tradução),

O número de Testemunhas de Jeová que morreram em campos de concentração e prisões durante a era nazi é estimado em 1.000 alemães e 400 de outros países, incluindo 90 austríacos e 120 holandeses. (…) Adicionalmente, cerca de 250 Testemunhas de Jeová alemães foram executados – na maior parte dos casos depois de terem sido julgados e sentenciados por tribunais militares – por terem-se recusado a prestar o serviço militar alemão.
.

Isto significa que cerca de 1.250 Testemunhas de Jeová alemães foram vítimas mortais da repressão nazi.

Prisioneiros políticos: Auerbach mencionou (minha tradução) "cerca de 130.000 pessoas não judias de nacionalidade alemã que activamente ou passivamente opuseram resistência ao regime por motivos políticos ou religiosos". Deduzindo 1.250 Testemunhas de Jeová, restam 128.750 alemães que teriam sido executados ou perecido em campos de concentração devido à sua oposição política. Este número parece-me alto, considerando que apenas uma minoria dos prisioneiros dos campos de concentração e dos mortos nestes campos eram cidadãos alemães, como salientou Richard Overy nas páginas 611 e seguintes do seu livro The Dictators (minha tradução):

Os campos de concentração alemães foram predominantemente povoados por não alemães durante mais do que metade da sua existência. Durante os anos da guerra cerca de 90-95 por cento dos prisioneiros dos campos provinham do resto da Europa. A grande maioria dos que morreram ou foram mortos em todos os campos provinha das populações não alemãs. Os sub-campos das SS em Gusen continham apenas 4,9 por cento de alemães étnicos em 1942 (metade dos prisioneiros eram espanhóis republicanos, mas do que um quarto russos). Em Natzweiler apenas 4 por cento dos prisioneiros políticos em 1944 eram alemães; em Buchenwald só 11 por cento eram alemães em Maio de 1944. Em 1944 havia mais cidadãos soviéticos em cativeiro na Alemanha do que na União Soviética.


Por outro lado, o terror nazi contra a população alemã era exercido não apenas através do aprisionamento em campos de concentração, mas também através do sistema judicial e, no que respeita às forças armadas, das cortes marciais militares. No seu estudo Furchtbare Juristen ("Juristas terríveis"), sobre o sistema judicial alemão antes, durante e depois da era nazi, o jurista alemão Ingo Müller estima um total de 80.000 vítimas da brutalidade judicial nazi, incluindo os tribunais nos territórios ocupados que emitiam sentenças de morte "de uma forma inflacionária" contra nacionais não alemães. Uma parte significativa destas vítimas da assassínio judicial eram alemães, incluindo soldados condenados à morte por cortes marciais improvisadas sob fundamento de deserção ou suspeita de deserção (cerca de 15.000 soldados alemães foram executados por deserção durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto apenas 48 sentenças de morte foram executadas pelo exército alemão entre 1914 e 1918) e civis executados por ofensas tão insignificantes como fazer comentários desfavoráveis sobre o regime nazi ou ficar com uma salsicha e uma garrafa de perfume enquanto ajudavam a remover grandes quantidades destes bens de um prédio em chamas depois de um bombardeamento (entre outros casos descritos no livro de Müller).

Tendo em conta os assassínios judiciais, e também por falta de uma alternativa suportada por fontes, aceito o número de 130.000 de Auerbach como sendo o total de todas as vítimas não judias alemãs de crimes nazis além das vítimas do genocídio dos romani e dos deficientes que foram vítimas do programa de "eutanásia", incluindo opositores por motivos políticos e religiosos bem como "associais" e criminosos detidos em campos de concentração, soldados executados por deserção e vítimas civis de assassínio judicial, e também pessoas mortas por nazis fanáticos nos últimos meses da guerra porque penduraram uma bandeira branca, desarmaram membros adolescentes da Juventude Hitleriana e lhes disseram que fossem para casa ou simplesmente não se juntaram ao Volkssturm em esforços de defesa de última instância.

O número total de vítimas não judias alemãs de repressão e genocídio nazis seria, portanto, de 245.000 (15.000 romani alemães, 100.000 deficientes e 130.000 outros).

20. Soma total

Segundo as estimativas supra (arredondadas para cima ou para baixo até ao milhar mais próximo), o número total de não judeus que pereceram devido à violência criminal da Alemanha nazi e dos seus aliados durante a Segunda Guerra Mundial, i.e. de não judeus que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi conforme definida na 1ª Parte deste artigo, é o seguinte:

União Soviética: 5.030.000 a 5.800.000
Polónia: 1.000.000
Checoslováquia: 33.000
Jugoslávia: 260.000
Roménia: 51.000
Hungria: 28.000
Grécia: 150.000
Itália: 76.000
França: 147.000
Bélgica: 17.000
Holanda 75.000
Noruega 2.000
Dinamarca 1.000
Áustria 16.000
Alemanha 245.000
Total 7.131.000 a 7.901.000

Até o mais baixo destes totais (7.131.000) excede largamente não só o número de 5 milhões de vítimas não judias "inventado" por Simon Wiesenthal, mas também as estimativas mais altas (à volta de 6 milhões) do número de judeus que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi. Se tivermos em conta a estimativa mínima de Nick Terry , de cerca de 5.364.000 vítimas judias da perseguição nazi, o número total mínimo de pessoas que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi seria de 5.364.000 + 7.131.000 = 12.495.000, dos quais 43 % judeus e 57 % não judeus.

Apenas uma minoria das vítimas não judias dos crimes do Eixo pertence às categorias incluídas nos "Five Milion Forgotten" da Sra. Schwartz (vide a 1ª Parte). Segundo o ponto 2 supra, o número por ela apresentado de 3 milhões de "cristãos e católicos polacos" tem que se dividido por dois ou por três, dependendo de se abrange ou não o território da Polónia nas suas fronteiras anteriores à guerra, i.e. incluindo áreas que posteriormente passaram a fazer parte da União Soviética. O seu número de mortos romani na secção "Who Were the Five Million Non-Jewish Holocaust Victims?" do seu site (meio milhão) corresponde à banda alta de estimativas sobre as vítimas do genocídio dos romani; estimativas mais conservadoras (incluindo, segundo este artigo, as de Donald Kendrick e Grattan Puxon, em cujo livro se baseiam os números por cada país mencionados na página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial) indicam à volta de 200.000 ciganos assassinados pelos nazis. No que respeita aos deficientes, a estimativa mais elevada referida no ponto 19 supra é a do USHMM (cerca de 200.000), que inclui vítimas não alemãs. Os números da Sra. Schwartz relativos a homossexuais mortos em campos de concentração nazis (5.000 a 15.000) referem-se de facto ao número estimado de homossexuais detidos em campos de concentração; se 60 % destes morreram, conforme um dos principais estudiosos desta matéria considera possível (vide o ponto 19 supra), o número de mortos seria entre 3.000 e 9.000. O número total de Testemunhas de Jeová alemães e não alemães que morreram às mãos dos nazis, segundo o USHMM, é de 1.650. No que respeita às outras categorias da Sra. Schwartz, "homens e mulheres corajosos de todas as nações" e "padres e pastores", o triste facto é que comparativamente poucas das vítimas civis da repressão do Eixo se tinham virado contra os nazis escondendo judeus, ajudando aos guerrilheiros, dando sermões na sua paróquia ou de qualquer outra forma não violenta (combatentes de resistência armados não são incluídos na minha contagem, vide o ponto 16 supra). A maior parte das vítimas foram apanhadas em represálias ou operações contra guerrilha independentemente de qualquer acção própria.

Conclusão

Segundo o acima exposto, o número de vítimas não judias da "maquinaria assassina nazi", conforme definida na 1ª Parte deste artigo, é consideravelmente mais elevado do que as 5 milhões de vítimas não judias "inventadas" por Simon Wiesenthal, enquanto por outro lado o número combinado de cristãos polacos, ciganos, deficientes, homossexuais, Testemunhas de Jeová e opositores dos nazis por motivos políticos ou religiosos, i.e. as categorias salientadas no site "Five Million Forgotten", perfazem apenas cerca de 20 % do meu total inferior de mais de 7 milhões de vítimas de violência criminal pelos nazis e os seus aliados (a grosso modo 1 ½ milhões).

Ora, qual é o objectivo deste exercício, que alguns poderão considerar uma rude e despropositada redução de incomensurável sofrimento humano a números frios e crus?

Penso ser importante, dada a ampla falta de conhecimento sobre as vítimas não judias dos crimes nazis, as noções falsas que a este respeito são transmitidas por sites como "Five Million Forgotten" e a incidental, embora provavelmente não intencional, ofuscação do sofrimento e morte de não judeus às mãos da "maquinaria assassina nazi", com a falta de conteúdo dos "cinco milhões" de Wiesenthal com argumento chave, que é praticada por Michael Berenbaum , Walter Reich e outros, fornecer uma ideia tão detalhada e exacta quanto possível da magnitude total das matanças criminais de não judeus pelos nazis.

O presente artigo não pretende ser mais do que uma primeira tentativa neste sentido, que espero encorajará pesquisadores com um acesso a fontes mais amplo do que o meu a estudar e desenvolver mais profundamente esta matéria.

[Tradução adaptada do meu artigo 5 million non-Jewish victims? (Part 2) no blog Holocaust Controversies.]

sexta-feira, 31 de março de 2017

Nazismo de esquerda? (Mark Mazower) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 04

Dando continuidade à série "Nazismo de esquerda? O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita" (onde irei incluir textos históricos de peso de jornalistas também, vide o do William Shirer, em alguma sequência), quem perdeu a origem (de onde saiu a ideia) da série, ler aqui.

Seguem trechos do livro do Mark Mazower mostrando a mesma coisa dos outros posts, o nazismo na extrema-direita. Eu já adianto, como já disse antes, que considero vexatório ter que fazer um texto sobre isso porque considero essa discussão batida, beirando o ridículo, só em um país dominado por um "analfabetismo político" (e funcional) fora do comum é necessário se chegar a um extremo de ter que mostrar o óbvio (porque os que panfletam bobagens só "leem" sites toscos da extrema-direita liberal que é quem panfleta essa asneira no país, como filial, já que a matriz fica nos EUA), quem afirma que nazismo é de "esquerda", "extrema-esquerda" etc está só panfletando, fora o "nível" de argumentação e discussão que esse pessoal usa pra "justificar" essa baboseira (o povo que critica o "tom" nunca deve ter visto as baboseiras que temos que ler sobre isso, fora os "elogios" recebidos, vulgo "xingamentos"), com esse pessoal rotulando até gente de direita (que chama o nazismo pelo que é, de extrema-direita) como "esquerdistas que foram doutrinados pelo gramscismo" (risos).

Estou "rindo" (aspas) pra não chorar, mas... essa cretinice militante no país preocupa, é só ver os resultados da coisa com o caos que essa gente lançou o país, com a 'anuência' (concordância velada ou não) da outra parte que ficou inerte só "assistindo" o agravamento do caos começado em 2013, na "esperança" sabe-se lá de quê (golpe de estado, perda de direitos trabalhistas, terceirização irrestrita, destruição da previdência social etc), coisas que afetam até esse pessoal que agora está 'meio perdido' sem saber o que fazer ou no que se meteram. É o velho dito, não se mete em briga de "cachorro grande" sem saber o que está por trás da 'peleja', sem saber qual o embate ideológico que atravessa décadas no país que é o implante do [neo]liberalismo e sucateamento do Estado brasileiro pra manter o caráter 'subdesenvolvido' do Brasil como "país periférico", neocolonizado e área de exploração externa, e o povo do país consequentemente "que se dane", pois é só um "detalhe" pra esses grupos de pressão e seus apoiadores (igualmente lacaios).

Mark Mazower: É professor de história da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e do Birkbeck College de Londres. Lecionou também em Sussex (Inglaterra) e Princeton (EUA). Escreve sobre assuntos internacionais para o Financial Times. Ganhou o prêmio Bentinck por Continente sombrio: a Europa no século XX. (descrição tirada do site da Cia. das Letras, quem publicou o livro em português).

Livro: O império de Hitler (A Europa sob o domínio nazista)
Título original: Hider's Empire: Nazi Rule in Occupied Europe

Pág. 80

A preocupação com o sofrimento dos “alemães no estrangeiro” não estava confinada às agrupações paramilitares extremistas ou aos teóricos de perfil nazista. Os poloneses tiveram espetacular êxito na “desgermanização” dos domínios que antes haviam sido prussianos. Assentaram dezenas de milhares perto de Gdansk e construíram um porto rival nos arredores. E a saída de muitos alemães trouxe mudanças drásticas no equilíbrio da população. Em Poznan/Posen, os alemães constituíam apenas 2% da população em 1930, em comparação com os 42% em 1910; em Bydgoszcz/Bromberg, essa proporção caíra de 77% para 8,5%. Em Weimar havia uma preocupação generalizada com os refugiados alemães e um grande apoio às instituições culturais e às associações de assistência social que tinham por objetivo fortalecer a “germanidade”. A venerável Verein fiir das Deutschtum im Ausland (v d a ) — que distribuía recursos estatais e privados para as escolas das minorias alemãs e outras organizações — tinha mais de 2 milhões de associados. A v d a era uma organização oficial, mas também se referia aos governos estrangeiros de maneira hostil, como se travassem uma guerra contínua de extermínio cultural contra os alemães no estrangeiro. Visões mais radicais prosperavam nos novos institutos de pesquisa para o estudo do' Volksdeutsche.1

Pág. 103-104

Mesmo assim, sob o governo de Tiso os políticos católicos conservadores da Eslováquia exploraram com habilidade o pouco espaço de manobra que obtiveram. Tirando vantagem da relutância de Berlim em abandonar sua postura de libertador, eles criaram um sistema político mais autoritário do que propriamente nazista e marginalizaram sua extrema direita. Obrigaram os alemães a duras negociações antes de permitir que usassem a Eslováquia para deslocamentos contra os poloneses e, embora representassem de bom grado uma legislação antissemita alinhada com o exemplo alemão, nem por isso se interessaram em implementar um cunho racial em suas leis internas. Dessa forma, a Eslováquia tornou-se um modelo da Nova Ordem de várias maneiras. Os alemães nunca se sentiram tão seguros quanto gostariam a respeito dos eslovacos. Embora a maioria visse a Eslováquia como um Estado fantoche, alguns dirigentes de Berlim consideravam o país um exemplo do que poderia acontecer quando se permitia que "pequenas nações" tivessem liberdade demais.15

Págs. 107-108

Não havia nada de especificamente nazista em enaltecer uma guerra para reparar as mágoas de Versalhes, pois a maioria dos alemães apoiava essa atitude. O que era característico do regime — e aliás dos que apoiavam os militares — era o extremismo de seus planos para transformar o conflito numa dura luta racial contra os poloneses. Manuais de treinamento apresentavam aos soldados um retrato negativo dos poloneses, e agora seus superiores confirmavam aquilo. “Soldados da 21- Divisão! Isto é pela honra e pela existência da pátria”, proclamou um general às vésperas da invasão.
A Prússia Oriental está em perigo [...] Marcharemos pela antiga terra alemã que nos foi arrancada pela traição de 1919. Nessas antigas regiões do Reich nossos irmãos de sangue sofreram uma assustadora perseguição! Este é o espaço vital do povo alemão.20
Pág. 149

Embora os nazistas tivessem planejado tratar a Noruega da mesma maneira, a invasão do país foi uma tarefa muito mais difícil, tanto militar como politicamente. Depois de um ataque de surpresa que fez Oslo cair em mãos alemãs, os noruegueses reagiram com determinação. Para complicar as coisas, Vidkun Quisling — um radical de extrema direita que tinha pouco apoio no país — aproveitou a oportunidade para declarar a formação de um governo provisório chefiado por ele mesmo. Hider simpatizava com suas ideias, mas o afastou e nomeou em seu lugar, como comissário do Reich, um antigo companheiro do partido. O homem que ele escolheu, Josef Terboven, já era governador provincial da Renânia, onde gozava merecida reputação por sua crueldade. Havia recebido a Cruz de Ferro na Primeira Guerra Mundial, antes mesmo de abandonar a universidade, de participar do Putsch da Cervejaria em 1923 e de se casar com uma ex-secretária de Goebbels. Tendo se mudado para a residência do príncipe herdeiro (onde se suicidou cinco anos mais tarde explodindo uma bomba), o rude Terboven não tinha os dotes de persuasão necessários para convencer os abalados deputados noruegueses a formar um novo governo pró-alemão. O presidente do Parlamento chegou a pedir que o rei Haakon abdicasse, mas este, irritado, recusou o pedido e fugiu para Londres, onde formou um governo no exílio. Enquanto isso, o interregno político em Oslo se arrastava. No fim de setembro Terboven perdeu a paciência: aboliu unilateralmente a monarquia, dissolveu todos os partidos, exceto o Nasjonal Samling (n s , Partido da União Nacional) de Quisling, e anunciou a formação de uma comissão estatal majoritariamente composta de membros do n s para governar o país. Foi um ruidoso tapa na cara da classe dirigente do país e desde o início condenou o novo governo à ilegitimidade. Embora a população fizesse muitas críticas ao rei por ter fugido, Quisling era muito mais detestado, e virtualmente toda a Noruega estava contra ele.

Pág. 409

A realeza italiana foi esperta em ficar de fora: o reino de terror da Ustase (Ustasha) que se impôs explicou amplamente por que em geral os alemães evitavam ceder poder para extremistas de direita. Dos 6,3 milhões de habitantes do novo Estado, apenas 3,3 milhões eram croatas: havia 1,9 milhão de sérvios, 700 mil muçulmanos, 150 mil alemães e 40 mil judeus. Mesmo assim, a Ustase empenhou-se em erradicar com violência os não croatas, em especial a influência no país dos sérvios e judeus. O governo proibiu o uso do cirílico, legalizou o confisco de propriedades de judeus e impôs uma nova lei de nacionalização. Ao mesmo tempo, esquadrões paramilitares embarcaram numa campanha de massacres contra sérvios, judeus e ciganos, e por mais de um mês, até que protestos dos alemães obrigaram uma breve desaceleração, as unidades da Ustase faziam um massacre atrás do outro, às vezes visando sérvios notáveis, mas em outras ocasiões, principalmente na Herzegóvina do Norte, chacinando comunidades inteiras com cenas grotescas de violência e sadismo. Quando as prisões ficaram superlotadas, uma série de campos de concentração foi construída ao redor de Jasenovac, perto do rio Sava, que logo se tornou um notório centro de matanças. Em junho, proeminentes servo-croatas apelaram ao governo sérvio em Belgrado para que os alemães interviessem. Eles não sabiam que Hitler já tinha se encontrado com Paveüc em seu retiro de Berchtesgaden e o havia instado a continuar sua política de "intolerância nacional” por cinquenta anos.50

Pág. 415

O uso de punições coletivas para forçar populações a obedecer foi reforçado quando comandantes de campo sentiram, tão nitidamente quando da ocupação da União Soviética e dos Bálcãs, que estavam com pouco pessoal e forçados ao limite. A essa altura, considerações de prestígio, semelhantes às presentes nas campanhas coloniais lutadas pelos italianos e outros, levaram a caminhos de represálias horríveis. O Exército italiano estava obedecendo a ordens nos massacres da Etiópia de 1937 e na "pacificação” de Montenegro em 1941. Assim como os húngaros em Novi Sad e os búlgaros em Drama. Algumas vezes os aliados dos alemães podem ter se sentido chocados com a brutalidade da Wehrmacht na Ucrânia e na Bielorrússia, mas não reagiram de maneira muito diferente ante a ameaça de seus próprios opositores. A inconfortável verdade é que a guerra de contrainsurgência era mais resultante do produto de certo estilo de luta europeu que do próprio nazismo. A tecnologia havia mudado nas décadas anteriores, mas em outros aspectos eles estavam lutando no mesmo espírito e seguindo as mesmas regras estabelecidas em suas campanhas coloniais e durante a Primeira Guerra. Claro, havia uma diferença crucial: no passado, autoridades civis às vezes conseguiram exercer uma influência moderada sobre as militares — como fizeram, por exemplo, na Sérvia ocupada em 1917. Sob os nazistas, os extremistas eram os civis, sempre instando seus soldados a perder a inibição e aumentar o nível do terror. Diante da ameaça dos partisans, a Wehrmacht em particular perdeu de vista até mesmo as poucas restrições que em outra época inibiram seus predecessores.60

Págs. 482-483

A ideia de colaboração convida a pensar na relação da França com os alemães. Mas isso só levanta a questão de quem representava a França. Pois os conflitos entre as diferentes agências alemãs em Paris — por mais intensos que fossem — empalideciam em comparação com a desunião na própria França. Se o país não estivesse tão amargamente dividido na época da invasão, a ocupação teria seguido um rumo muito diferente, como mostra o exemplo da Noruega. Na verdade, muitos integrantes da direita francesa saudaram o colapso da democracia parlamentar e viram a ocupação como a oportunidade de acertar contas de décadas com a esquerda — do tempo do caso Dreyfus e talvez mesmo da Revolução. Mas só em relação à Frente Popular é que se tratava de um grupo organizado em algum sentido. Alguns oponentes da Terceira República admiravam e adoravam os ocupantes, enquanto outros os odiavam. Muitos apoiavam Pétain, pelo menos por algum tempo, mas havia os que o detestavam e esperavam que os alemães o eliminassem em favor de uma alternativa mais radical de extrema direita. A história do colaboracionismo parece mais uma complicada briga de família que a guerra de conquista da Alemanha expôs e tornou muito pior, e explica por que a ocupação representava tamanha ameaça à unidade nacional e continua a ser assunto tão sensível até hoje.2

Pág. 489

Os ultras estavam agitados — especialmente quando Heydrich e a SS começaram a voltar sua atenção para a França — e eram muito mais extremistas que Déat. Eugène Deloncle era oficial condecorado da artilharia, um personagem sombrio, instável e violento da periferia do fascismo francês de antes da guerra cuja organização paramilitar e antirrepublicana Cagoule fora apoiada na década de 1930 pelos executivos direitistas da gigante dos cosméticos UOréal. Cauteloso, o comandante militar alemão em Paris havia “tolerado”, mas não “autorizado”, o Mouvement Social Révolutionnaire (m sr), sucessor da Cagoule, cuja bandeira era “a construção de uma nova Europa juntamente com a Alemanha nacional-socialista e todos os outros países europeus libertados do capitalismo liberal, do judaísmo, do bolchevismo e da maçonaria”. O m sr — que prezava tanto proclamações quanto as outras agrupações políticas da ocupação — queria regenerar a França “racialmente”, para evitar que judeus “contaminassem” o sangue francês, e criar uma economia socialista. Saquear as propriedades dos judeus era um estímulo adicional, como também, apesar do suposto compromisso com o socialismo, o apoio contínuo da L'Oréal. Mas quando Deloncle tentou tomar de Déat o controle sobre o RNP, os dois acabaram enfraquecidos pelo conflito interno.

Págs. 489-490

Os conflitos internos entre as agências alemãs em Paris eram igualmente ferozes. Deloncle também foi apoiado pela SiPo/SD . Equipados com os explosivos que ela lhes fornecia, seus homens tentaram dinamitar sete sinagogas em Paris na noite de 2-3 de outubro de 1941. Seis dos edifícios foram danificados, juntamente com outros ao redor; dois soldados alemães e inúmeros residentes franceses estavam entre os feridos. Quando a polida militar investigou as explosões, o SD tentou encobrir sua participação, alegando que aquilo não passava de “uma história de judeu”, e houve um choque frontal com o comandante militar da Wehrmacht, que logo descobriu a ligação quando um dos assessores de Deloncle, embriagado, alardeou os fatos numa casa noturna de Paris. O general Von Stülpnagel exigiu a retirada dos dois altos oficiais da SS em Paris e impediu que Deloncle fosse se juntar a seus homens na frente oriental. O caso abriu um fosso entre a Wehrmacht e a ss que afinal deu a Heydrich a abertura para tomar o comando do policiamento na França e nomear seu próprio HSSPF na primavera seguinte. Quanto a Deloncle, ele perdeu o controle sobre o m sr , envolveu-se em contatos com agentes secretos aliados e acabou sendo morto numa troca de tiros com a Gestapo em janeiro de 1944. Não foi um fim atípico no torturado mundo do extremismo francês.8

Págs. 492-493

Céline não foi o único escritor renomado a cultuar o fascismo. O jornalista e crítico Lucien Rebatet publicou uma diatribe violenta e antissemita chamada Les Décombres [As ruínas] contra os responsáveis pela queda da França, elogiava a cultura alemã e via um "profundo significado político” no disciplinado estilo da Orquestra de Câmara de Berlim. Na direção da prestigiosa Nouvelle Revue Française, o escritor Drieu La Rochelle imprimiu-lhe uma linha antidemocrática e pró-alemã e sonhava com uma "terceira via” europeia fascista, entre os Estados Unidos e a ameaça do bolchevismo. O mesmo fazia Robert Brasillach, outro brilhante e jovem literato extremista, que considerava os franceses "um povo absurdo e medíocre” e insistia em louvar os jovens alemães e criticar os velhos senis que ostentavam cargos em Vichy. Seu fascínio por um belo e jovem professor do Instituto Alemão teve um trágico desfecho quando este foi morto em ação na frente oriental. Visitando a floresta de Katyn como jornalista, ele se recordou do amigo e saudou sua amizade como a expressão de uma Europa rejuvenescida que derrotaria tanto a complacência burguesa como "as forças do Leste”. Para Brasillach, Pétain e Vichy tinham chegado a um beco sem saída e, à medida que a colaboração entrava em colapso, passou a confiar exclusivamente nos alemães. A queda de Mussolini o comoveu profundamente e parecia anunciar o fim de seu
ideal de uma Europa fascista: "Uma França fascista numa Europa fascista, que belo sonho!”. Mas, à diferença de muitos outros ultras, ele se recusou a abandonar suas convicções. Mesmo nos dias sombrios do fim de 1944, quando viu que os ventos sopravam na direção "do templo da paz universal, da irmandade imposta a todas as raças e credos”, Brasillach ainda acreditava que o fascismo tinha sido "a verdade mais emocionante do século XX”.10

Aquela era a perspectiva ultra, mas certamente não a de Cocteau: ele não era um extremista e valorizava mais a sociedade e a sociabilidade que a ideologia. "Eventos me entediam”, confidenciou o poeta Valéry a Gerhard Heller por volta dessa época. "Os eventos são a espuma das coisas. É o mar que me interessa.” No que dizia respeito à política, os sentimentos de Cocteau eram muito semelhantes. A situação foi ficando sombria à medida que amigos fugiam do país ou passavam à clandestinidade. Alguns escreveram cartas angustiadas antes de ser presos e deportados, e um ou dois se suicidaram. Junto com Picasso, em 1943 Cocteau foi ao enterro do pintor exilado judeu Chaim Soutine, um ato de solidariedade para com um homem que tinha morrido fugindo da Gestapo. Sua vida social, no entanto, mantinha o ritmo frenético. Encantava-se, como tantas outras vezes, com a "beleza prodigiosa” de Paris — os alemães que apareciam para lhe prestar homenagens, os visitantes da zona livre, sempre "estupefatos pela cidade”, os restaurantes "que vendem de tudo o que supostamente está proibido”; os caçadores de autógrafos perseguindo estrelas e atores de cinema nas ruas. "Como os alemães devem se espantar com esta primavera”, divertia-se ele em maio de 1942. "Essas flores, esses chapéus femininos, esses pequenos carrinhos puxados por equipes de ciclistas, pela incrível graça da resistência do ar! Paris digeretudo e não assimila nada. Um espetáculo de profunda leveza.. .”11

Págs. 494-495

O próprio Cocteau tinha muito pelo que se sentir grato. Era o patrocínio alemão que o protegia dos extremistas franceses. Não particularmente interessado na política, ele demonstrou com que facilidade um espírito independente podia se dedicar às artes sob a ocupação alemã — na verdade, com sustento alemão. Com a aprovação dos censores, sua carreira no cinema durante a guerra decolou. Quando um artigo que o atacava apareceu numa revista de extrema direita, Cocteau observou que "todos os alemães riram do texto". À parte os ultras, a carreira de Cocteau tinha um lugar para quase todos, até mesmo o maréchal, cujo regime o atormentava. Em 1942, ele deu sua contribuição para uma luxuosa
obra de idolatria de Vichy, um livro de homenagem póstuma intitulado DeJeanne D ’Arc a Philippe Pétain [De Joana d'Arc a Philippe Pétain]. Com o subtítulo Quinhentos anos de história francesa, o livro suntuosamente ilustrado apareceu no momento certo para a visita do maréchal a Paris. A ocupação se aproximava do fim, mas Pétain ainda era popular e recebeu uma calorosa recepção. Como tema de guerra, Joana d'Arc era muito conveniente — dada a ambigüidade de suas associações — para a guerra particular de Cocteau: um símbolo de sentimento antibritânico, especialmente depois do desastre de Mers-el-Kebir. Quando o livro surgiu, em 1944, a própria Joana já tinha passado para o lado gaullista como um exemplo de resistência ao invasor. Cocteau não ficava muito atrás.13

Pág. 499-500

Essa continuidade foi de certa forma bastante inesperada. Afinal, Vichy não era um país dirigido por funcionários públicos, como a Bélgica e a Holanda: na França havia um governo legítimo, com um programa político claro de ruptura com o passado. Mas Pétain (como De Gaulle quatro anos mais tarde) tinha todas as razões para preservar a existência das instituições do Estado se quisesse governar com eficácia. Por isso os expurgos produziram menos mudanças do que se poderia esperar, e os extremistas de direita se queixaram amargamente: em 1944, Mareei Déat criticou a “comuna reacionária” da capital, alegando que seus membros eram profundamente attentistes, para não dizer gaullistas. Fossem ou não gaullistas, quase 80% dos prefeitos dos subúrbios de Paris durante a guerra eram republicanos antes do conflito. Quanto às zonas rurais, foram desestimuladas mudanças por motivos puramente políticos: os alemães também temiam o impacto sobre a eficiência e a continuidade. Na Aquitânia e em Charente, por exemplo, quase metade dos funcionários governamentais locais que tinham cargos em 1939 ainda estava presente quando a ocupação terminou.19

Assim, a promessa de Vichy de uma nova revolução autoritária mascarava a realidade de sua dependência do funcionalismo público civil. Naturalmente, os burocratas podiam — e o fizeram — servir como instrumentos de repressão, notadamente nas prisões em massa de judeus e de opositores políticos. Mas em geral não se mostravam propensos a aderir ao dinamismo revolucionário exigido pela extrema direita da França. O culto a Pétain escondia o vazio político no coração de seu governo, e sua recusa em permitir a formação de um único partido político ironicamente fez com que os funcionários franceses nunca se deparassem com algo semelhante à competição radical que os Gauleiters nazistas infligiram a seus pares alemães, ou que o nsb holandês usou — com muito menos sucesso — em seu esforço para assumir o controle do funcionalismo público civil na Holanda. Dessa forma, ter o conservador Pétain no poder protegeu a França do tipo de nazificação que ameaçava outros países, pelo menos até que fosse demasiado tarde na guerra para que fizesse muita diferença. Aumentando o controle sobre as províncias, criando um novo escalão de superprefeitos, impedindo que a maioria dos novos comissariados políticos especialmente formados tivesse grande influência, os altos funcionários franceses presidiram durante a guerra uma expansão da burocracia e uma consolidação do poder estatal que Wilhelm Stuckart, no Ministério do Interior do Reich, teria invejado. Os alemães podiam ter conquistado a França, mas o Estado francês sobreviveu mais ou menos intacto.

Pág. 510

A longevidade de tais figuras oferece uma pista para compreender a dinâmica da colaboração na França durante a guerra. Os franceses não foram um país de colaboradores, embora de início muitos tenham sido atraídos pela ideia. No começo o governo de Pétain foi popular porque parecia prometer o restabelecimento da ordem depois do caos da derrota. Os mais impacientes com ele eram da extrema direita, que desconfiavam que sua Revolução Nacional era na realidade uma restauração conservadora disfarçada, e não a ruptura fascista que almejavam com o passado. Mas no fim de 1941, no máximo — a crise dos reféns foi um ponto de inflexão, mas a crise do abastecimento alimentou o conflito —, o público francês tinha se afastado de Vichy. fA opinião geral parece ser muito desfavorável ao governo”, relatou o governador de Puy de Dome em outubro daquele ano. Cada vez mais afastada da opinião pública francesa, a administração permaneceu fiel aos ideais de colaboração e respondeu de forma positiva aos alemães mesmo quando estes aumentaram muito suas exigências. Enquanto isso, um grande número de seguidores de Pétain entrou para a resistência de uma forma ou outra, garantindo assim uma passagem sem sobressaltos para a Quarta República no pós-guerra. 33

Pág. 563

Se esse foi um exemplo para levar o Exército Nacional a aumentar suas ações, havia outros fora de Varsóvia, pois a atividade da resistência agora se alastrava pelos campos do centro da Polônia. Um ano depois de Hitler ter aprovado seu Plano Geral para o Leste, as prioridades de Himmler tinham mudado drasticamente. No verão de 1943, ele declarou todo o Governo-Geral como uma "zona de guerra partisan” (Bandenkampfgebiet). Instadas por ele a "queimar aldeias inteiras se necessário”, a ss e a polícia, reagiram com as costumeiras táticas de terror, deixando milhares de mortos. Porém, dentro da SS havia sérios desacordos, e Von dem Bach--Zelewski insistia em que "nenhum país pode ser governado apenas com o uso da polícia e das tropas”, e tentou forçar uma política mais astuta (semelhante a outras levadas a cabo nos Bálcãs), que explorasse o anticomunismo dos poloneses e os trouxesse para o lado alemão. A SS esperava poder apelar para o Exército Nacional, cujo comandante, "Grot”, tinha sido capturado por eles em junho; mas sua recusa em cooperar (o que levou à própria morte) significou que eles tinham de se conformar em trabalhar — nos bastidores, e de maneira intermitente — com as Forças Armadas da Polônia (NSZ), menos expressivas e de extrema direita.

Págs. 575-576

As repercussões foram imediatas e duradouras. A violência convenceu Stálin de que poloneses e ucranianos não podiam viver juntos, e Moscou começou a planejar uma série de mudanças forçadas de população entre 1944 e 1947. Na vizinha Galícia, os poloneses agora se voltavam contra os ucranianos por vingança, e o embrionário movimento partisan polonês foi inflado por refugiados de Volínia. Esse movimento depois se espalhou não apenas para o oeste na direção da Polônia Central, mas também para o norte em direção a Vilna e para outras regiões do leste da Polônia de antes da guerra onde os poloneses eram minoria e precisavam se defender. Ao mesmo tempo, o fracasso do Exército Nacional em Volínia encorajou muitos poloneses a preferir procurar os partisans soviéticos. Assim como os ucranianos, os poloneses estavam agora entre os russos e os alemães, e era difícil evitar certos acordos. Tanto os comandantes de extrema direita das n s z como do Exército Nacional negociaram acordos temporários com oficiais da ss alemã e da Wehrmacht para evitar a “ressovietização" da região. (Embora Himmler proibisse esses acordos, eles aconteciam de qualquer forma em pequena escala.) Porém, outros comandantes do Exército Nacional cooperaram com os partisans soviéticos, reconhecendo a futilidade de se opor a eles. Tanto os poloneses como os ucranianos tinham esperança de ver um mundo no qual eles conseguissem abrir um espaço próprio, independentemente dos dois poderes igualmente totalitários. Mas esse mundo precisaria de muito mais que alguns anos para se materializar.61

Págs. 643-644

Para deixar as coisas em perspectiva, pode ser útil lembrar como era a situação aos olhos dos pequenos grupos de nazistas que se recusaram a transigir. Depois da guerra, pequenos grupos marginais, geralmente efêmeros, atacaram tanto americanos como soviéticos e reciclaram ideias tiradas dos escritos de Hitler de trinta anos antes. Também reagiram violentamente contra os movimentos europeístas que se tornavam visíveis na Europa Ocidental do pós-guerra. Karl-Heinz Priester, um antigo oficial da SS que assumiu um papel ativo na extrema direita, apareceu na primeira reunião dos neofascistas europeus em Roma em 1950 e advertiu:
Quanto mais esses homens que dizem amém a tudo nos apressarem para converter não apenas nossa pátria materna, a Alemanha, mas também nossa pátria paterna, a Europa, numa colônia [...] mediante dispositivos como o Conselho da Europa e a “União Europeia” [...] mais depressa aumentará a determinação de todos os alemães honestos e independentes de nos acompanhar em nosso caminho do nacionalismo até a Nação Europa.30
Até mesmo nazistas como Priester poderiam ver que, na era das superpotências, a Alemanha não tinha poder para recuperar sua independência sem apoio regional. Assim, a Nação Europa era a alternativa dos extremistas para Bruxelas e Estrasburgo, uma espécie de versão em tempos de paz das Waffen-ss “europeias” de Himmler. Não obstante, tais homens consideravam a democracia parlamentarista uma falsa "democratura” (Demokratur), acreditavam que o sistema multipartidário tinha de ser abolido e queriam reunificar o país com a ajuda de fascistas estrangeiros que pensavam como eles. Ignorados pelos eleitores, brigavam constantemente entre si, acusando-se mutuamente de vender-se ou transigir na questão racial. Alguns fundaram no ano seguinte o movimento Nova Ordem Europeia para lutar contra o “bolchevismo mongoloide” e o “capitalismo negroide” em nome dos homens brancos. Outros pensaram em atrair nacionalistas
africanos e forjar uma nova Euráfrica, que permitiria à Europa recuperar sua posição no centro da cena mundial.31


Págs. 659-660

Essa postura implacável com certeza estava presente entre os ingleses. Na ocasião do levante da Jamaica de 1865, por exemplo, expressões de um novo autoritarismo racial surgiram na imprensa vitoriana. Segundo o editor da publicação médica The Lancet, pequenos grupos de homens brancos só poderiam se salvaguardar em colônias pelos métodos mais coercitivos; os nativos tinham de “ser mantidos sempre de cabeça baixa com um bastão de ferro ou ser lentamente exterminados". Essas ideias expressavam a possibilidade inerente na prática do próprio império e os britânicos estavam começando a perceber que o “poder dos números" estava contra eles. O tio de Virginia Woolf Fitzjames Stephen escreveu uma famosa carta ao The Times em 1883 afirmando que “um governo absoluto, fundado não no consentimento mas na conquista" — como o dos britânicos na índia —, representava uma “civilização beligerante” que não deveria “se evadir da afirmação aberta, descomprometida e direta de sua superioridade”. Mas essa não era a linha de raciocínio costumeira na Inglaterra, e sempre foi sujeita a críticas. Em última análise, essa foi a base do império de Hitler. Por mais brutais e mortíferos que tenham sido, nenhum poder colonial, britânico ou de outro país da Europa, jamais lidou com o problema do “poder dos números” de forma tão áspera e violenta quanto os nazistas. Sua abordagem em geral era gradualista e experimental, motivada por uma imaginação política restrita pelo extremismo da variedade de fatores do nazismo, que incluía uma cultura mais legalista e uma burocracia de Estado surpreendentemente desmotivada. Se faltavam a ideologia e os recursos para sistematizar a matança em massa na escala da Nova Ordem, faltava também um fundamental sentido de urgência. Depois de conseguirem sua revolução em casa, os nazistas tinham pressa de colher os benefícios no exterior. “Nós queríamos estabelecer um império mundial quatro anos depois de termos introduzido o alistamento militar geral”, foi o resumo de um oficial alemão capturado em 1943. À medida que a própria guerra criava racionamentos, gargalos e grandes problemas novos, o culto da força e da geopolítica racial que os nazistas levavam tão a sério transformou-se num programa de extermínio numa escala sem precedentes.28

|***| Nazismo de esquerda? (Ian Kershaw) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 03

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