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terça-feira, 31 de maio de 2011

Das Caixas-Pretas a Leuchter: demarcando a Ciência

A demarcação da Ciência sempre foi objeto de estudo de filósofos desde o século XVII. Os princípios que moveram essa distinção era trazer à tona um "fazer Ciência" de modo diferenciado a ponto de se poder distinguir conceitos científicos e não-científicos. Podemos citar alguns e discuti-los em torno do movimento que se deu à sua época de forma resumida:

John Locke e David Hume foram dois filósofos empiristas que tinham como argumento de que o processo de construção de conhecimento se dava através da experimentação. John Locke ia ainda mais longe alegando que quando o indivíduo nascia era desprovido de conhecimento como um papel em branco e ao longo da vida, e da experimentação, o conhecimento iria surgindo.

Porém, houve quem trouxesse um novo viés filosófico, refutando o empirismo de Locke e Hume: Immanuel Kant, com seu apriorismo, que trazia a idéia de que os indivíduos possuíam tipos de conhecimentos que não passavam pela experimentação e diferenciava esses tipos de conhecimento em a priori, que era o conhecimento que era inato (tal como Kant citava o exemplo da base de uma casa, se retirarmos sua fundação, a casa cai e este conhecimento não passou por experimentação) e em a posteriori, que era o conhecimento que passava pela experiência. Esses conceitos são fundamentais para se entender os termos que ainda são falados.

Anos mais tarde, Mach e Comte talvez tenham sido uns dos primeiros filósofos que tiveram uma noção da necessidade de se criar uma filosofia para a Ciência. Ambos trouxeram uma idéia positivista acerca do "fazer Ciência". Segundo Comte: "a Ciência é positiva e tudo que é positivo é testável" resumindo assim sua idéia acerca da Ciência. Ambos utilizavam, o que Bacon chamou de indutivismo que é a proposta segundo a qual uma idéia era pré-concebida e testada pelo método e que deveria confirmar a idéia já aceita a priori, ou seja, o método pelo qual a Ciência se auto-afirma era apenas um confirmativo da coisa-em-si e que além disso, o indutivismo previa uma generalização, de que quando houvesse uma teoria que fosse testada e aceita, ela deveria equivaler a teoria geral em si.

O positivismo científico teve mudanças com o atomismo lógico de Bertrand Russell, que foi base para um movimento filosófico na Áustria chamada de Círculo de Viena onde seu principal representante era Carnap, porém, importantes cientistas também faziam parte, como Einstein, e tinham interesse em discutir o melhor modus operandi que havia na proposta principal de unificar a Ciência através de um método e eliminar qualquer princípio metafísico de seus enunciados, tal qual já faziam Comte e Mach.

Em suma, o Círculo teve como idéia principal as mesmas adotadas por Mach e Comte em seu positivismo, porém, houve uma divisão entre idéias filosóficas e científicas utilizando como princípio demarcador os métodos pelos quais cada um tinha e que determinavam cada forma de conhecimento. Segundo Carnap, o único método que Ciência poderia utilizar era o método científico, método segundo o qual pensava-se no sistema linear: observação, problema, hipótese, experimento, resultado, conclusão e a filosofia não deveria ter outro método senão a lógica, dividindo a Ciência e a filosofia.

Entretando, houve quem trouxesse à tona um novo viés do modus operandi. O filósofo da Ciência Karl Popper trouxe uma visão distinta do que até então os positivistas tinham. A refutação de Popper se dava no seguinte:

- Era impossível fazer a unificação da Ciência pelo método científico proposto, já que cada Ciência possui suas particularidades;
- Era impossível haver uma mesma nomenclatura para todas as Ciências pela mesma obviedade;
- Não era possível retirar as metafísicas do enunciado, pois o enunciado em si já era metafísico, pois como dizia Popper: "não é porque é metafísica que não tenha sentido"
Desta forma, Popper via que o princípio de demarcação que trouxera o Círculo, era inadequado justamente pelas deficiências de conceito que haviam trazido, embora Popper gostasse da idéia da montagem do Círculo, pois segundo dizia em sua Autobiografia Intelectual, que o Círculo foi importante por trazer, pela primeira vez, racionalidade ao pensamento filosófico acerca da Ciência.

A demarcação de Popper se deu não apenas através da testabilidade dos enunciados, mas na refutabilidade dos enunciados, desta forma, o modo de ver do "fazer Ciência" era diferenciado não por trazer o indutivismo lógico, mas um método racional, hipotético-dedutivo, onde o método para Popper era fundamental do processo de construção de Ciência e do modo pelo qual cadateoria científica era mudada. Quando havia uma teoria que constratasse com a teoria vigente, esta deveria requerior os critérios de Popper, através da testabilidade (uma teoria científica deveria ser testável) e ser refutável (princípio pelo qual a refutação deveria ser por Modus tollens, ou seja, se negarmos uma conclusão de uma premissa, estaremos refutando a premissa) a que Popper demonstrou por analogia através dos cisnes negros e brancos. Se houver um cisne negro em um grupo de cisnes brancos, há um contrase e esse constraste deve ser verificável (empírico) e as hipóteses levantadas sobre a existência desse cisne negro deve ser refutável e testável (idéia conhecida como "Cisne Negro de Popper").

Anos mais tarde, o físico americano Thomas Kuhn, em um trabalho de doutoramento em história da Ciência, foi mais longe que o próprio Popper, discutindo o modo pelo qual uma teoria era substituída por outra, pois para Popper, o princípio que movia a mudança de conceito científico se dava pelo método essencialmente, discutindo outros fatores externos ao próprio método que influenciava nas mudanças do que Kuhn denominou de "paradigmas". Em sua principal obra "A Estrutura das Revoluções Científicas", Kuhn traz a idéia de que existem fatores externos ao meio que era também determinantes na mudança de paradigma (termo muito em moda) e não só o método em si como a questão financeira, a seleção dos artigos para publicação em revista indexada, aceitação de bolsas de pesquisa etc., eram ainda mais determinantes que o próprio método, embora Kuhn não refutasse a interferência do método como fator que determinasse uma mudança de paradigma científico, mas que este deveria ser aceito de acordo, também com os princípios morais, éticos, políticos, religiosos, em síntese, todos os fatores inatos no homem e que eram fatores que influenciavam inclusive a conclusão dos seus testes. Ou seja, o cientista não estava em uma bolha e isolado do meio, ele não só estava no meio, como também era fonte de influência na mudança de paradigma.

Assim, remete-nos a pensar em trabalhos de cunho pseudocientífico. Para Popper, uma pseudociência era aquela que embora pudesse ser testada, não era possível seu refutamento ou vice-versa. Popper citava a Astrologia: era possível saber a existência dos astros, mas não que estes tinham influência moral sobre nossas vidas e essa alegação era tautológica (numa tabela de verdade lógica, embora a premissa pudesse ser errada ou verdadeira, o resultado era SEMPRE verdade).

Pseudociências estão em moda nos dias de hoje. Parapsicologia (embora a AAAS a considere Ciência por convenção) que aceita a existência de espíritos a priori e que estes podem ser medidos por aparelhagens especiais, uma nova teoria que olhasse com outros olhos o processo evolutivo, proposto por Michael Behe e William Dembski, que propõe a existência de um ser inteligente (intelligent design) que promove e direciona o processo evolutivo, este, absolutamente tautológico.

As idéias de Behe, em seu livro "A Caixa-Preta de Darwin", sugere que o processo evolutivo não se dê gradualmente, ao contrário, ele é direcionado exatamente por não haverem evidências de um salto e os faz analogamente a um salto em um buraco. Podem haver plataformas para explicar o salto e que podem ser observadas, mas e quando não houverem plataformas para esse salto? Behe sugere que algo os tenha transportado até o fim e utiliza essa analogia com eventos bioquímicos que necessitam de intermediários para se chegara um fim, como a coagulação sanguínea. Existe um emaranhado de vias bioquímicas através de enzimas, proteínas que aceleram reações químicas ou metaboliza, e que na falha de uma enzima, o restante do processo também falha, o que Dembski chamou de "complexidade irredutível". Segundo as idéias darwinistas, cada enzima teria evoluído no processo a partir de pressões do meio, onde mutações espontâneas seriam selecionadas pelo meio e adaptadas às resistentes (este processo já foi obsrevado em laboratório pela descobera do RNA autoduplicante), porém, o meio pode ser influenciador no mecanismo genético diretamente, chamado de epigenética, que Behe faz questão de não mencionar. Ao contrário do pensamento darwinista, Behe sugere que o processo tenha sido direcionado por um agente inteligente. Este pensamento foi absorvido rapidamente pelos fundamentalistas religiosos norte-americanos e por efeito bola de neve, no Brasil com as igrejas neo-pentecostais, sempre cometendo a falácia argumentum ad verecundiam ou de apelação à autoridade (ele é cientista então ele está certo)

Existe uma série de problemas com a propostade de Behe:
- Admissão rápida da existência de um ser existente que direcione o processo evolutivo, o próprio Behe diz que isso não é testável, "mas os ancestrais também não" (esquecendo-se de que houve o genoma do Neandertal refutando a idéia de que tenha sido um ancestral, mas uma espécie paralela há 200.000 anos) remetendo à falácia "tu quoque" e de petição de princípio (admissão da tese sem testá-la);

- Leva a mais perguntas que respostas: qual a motivação do agente inteligente? quem ele é? do que é feito? (todas não podem ser testadas e Behe admite isso);

- O fato de uma estrutura irredutivelmente complexa existir, não quer dizer que tenha sido direcionada a tal fato e aliás, não se pode testar (tautologia);

- Convencionismo: o fato de que uma estrutura ser irredutivelmente complexa SÓ PODE ser por um agente inteligente (chamamos de "wishful thinking")

- Behe esquece-se da relação da ancestralidade comum, embora não a negue, infere a não-ancestralidade, visto que trabalhos posteriores demonstram o erro de Behe frente à algumas estruturas, como o flagelo bacteriano, que teria funcionado sem algumas partes e além disso, a coagulação sanguínea, tão comentada por Behe, teria algumas enzimas ausentes em macacos, mas que funcionaria perfeitamente também.
As idéias de Behe foram rejeitadas a posteriori pela comunidade científica. As ideologias trazidas por Behe não fazem parte do escopo científico por serem abolutamente tautológicas, tal como faz o revisionismo histórico.

As idéias principais acerca do revisisionismo são:
- Questionar o número de vítimas do Holocausto;
- Questionar o modus operandi de eliminação sistemática dos judeus nos campos;
- Questionar a posição dos nazistas frente ao Holocausto e dos próprios judeus como vítimas do processo, embora não neguem o Holocausto (sic);
- Questionar a solução final.
As idéias que foram amplamente difundidas na Europa e EUA por Rudolf, Leuchter, Irving, Mattogno tiveram repercursão no Brasil a partir dos anos 90, onde a liberdade de expressão começou a fluir após o fim do regime militar (1985). As idéias foram divulgados por S.E. Castan(pseudônimo de Siegfried Ellwanger) através da sua editora Revisão (que foi fechada por apologia ao nazismo).

O revisionismo, como movimento, também tem problemas sérios frente as suas propostas que são todas a priori:

- O número de vitimas AINDA é desconhecido, muito pela ausência e destruição de arquivos e documentos sobre os judeus na Alemanha;
- É impossível negar não só as câmaras de gás, que foram amplamente discutidas pelo relatório Pressac, inclusive de pedidos que remetessem às câmaras, tanto quanto o Instituto Forense da Cracóvia que encontrou vestígios de CN, íon base do ácido cianídrico (HCN), base do pesticida Zyklon-B;
- Tentar mudar a visão de que o nazismo "não foi bem assim" não é apenas uma afronta aos estudos, é desonestidade das mais baixas, visto que há autores que já inferem a idéia de que "se os judeus foram presos, a culpa é deles" ou das teorias conspiratórias de que os judeus bolaram um plano maquiavélico onde teriam forjado/mentido provas para incriminar os nazistas;
- O quarto item já está colocado no terceiro.
Observa-se, portanto, que os revisionistas não têm interesse de construir uma nova história. Eles querem construir uma "nova história" sim, mas refutando, sem provas, todas as alegações anteriores e contruir uma nova baseada em evidência nenhuma. Ainda assim, houve uma oportunidade com os trabalhos de Leuchter, dignos de um amador, que nem sequer sabia fazer uma coleta e mesmo assim utilizou, através de uma empresa terceirizada, a análise das amostras que não encontraram vestígios de CN. O problema foi o método utilizado: "azuis de prússia" ou também chamado "azuis de ferro" onde se verificava apenas o CN estável, mas não o total. O trabalho foi refutado pelo Instituto Forense da Cracóvia e pelo químico Richard Green.

Se for feito uma análise sob à luz da refutabilidade de Popper são notados problemas sérios:

- Tautologia vigente e falácia de petição de princípio: as alegações sugeridas não foram postas à prova e são admitidas a priori, e mais além, não podem ser refutadas por falta de dados existentes.
- Também são rejeitadas pela comunidade científica.
Deve-se frisar que: ideologias não fazem parte do escopo da Ciência mas TEORIAS que foram propostas e mudadas ao longo do tempo, o que não acontece nem com o criacionismo de Behe e nem com o revisionismo histórico. Fora isso, são apenas tautologia e falácia.

Referências:

Kant, Imannuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Martin Claret, 2009.
Popper, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, 1972.
--------------. Autobiografia Intelectual. São Paulo: Cultrix, 1972.
Kuhn. Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas: São Paulo: Perspectiva, 2009.
Norris, Christopher. Epistemologia: conceitos-chave em filosofia. São Paulo, ArtMed, 2009.
Mortari, Cézar A. Introdução à lógica. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
Tilghman, B. R. Introdução à filosofia da religião. São Paulo: Loyola, 1996.
Schopenhauer, Arthur. Como Vencer um Debate sem ter Razão em 38 estratagemas. Rio de janeiro: Topbooks, 2003.
Bastos, Cleverson Leite e Candiotto, Kleber B. B. Filosofia da Ciência. Rio de Janeiro, 2008.
Relatório Pressac: http://www.holocaust-history.org/auschwitz/pressac/technique-and-operation/
Greend, Richard. The Chemistry of Auschwitz. Visto em: http://www.holocaust-history.org/auschwitz/chemistry/
------------------. Leuchter, Rudolf and teh Iron Blues. Visto em http://www.holocaust-history.org/auschwitz/chemistry/blue/
sem autor. O que é revisionismo?. Visto em: http://www.vho.org/aaargh/port/vhocortada.html
Markievitz, Jan. A Study of the Cyanide Compounds Content In The Walls Of The Gas Chambers in the Former Auschwitz and Birkenau Concentration Camps. Visto em: http://www.holocaust-history.org/auschwitz/chemistry/iffr/report.shtml
Leuchter, Fred A. The Leuchter Report: the end of a myth. Visto em: http://www.ihr.org/books/leuchter/leuchter.toc.html

Autor: Ramon Diedrich

Observação: artigo sobre ciência e pseudociência
Ver mais:
Pseudociência 1
Pseudociência 2

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Morre "revisionista" S.E. Castan

Sem sair notícia em nenhum site de jornal pra confirmar, a notícia da morte de S.E. Castan, primeiro "revisionista" no Brasil e criador da Editora Revisão que distribuia esse literatura antissemita e negacionista, a notícia foi dada em sites "revisionistas"(negacionistas) do Holocausto ou na rede social do Google apinhada deles de nome Orkut, entre os dias 3 e 4 de outubro.

Sobre Castan, ver S.E. Castan e a Guerra de Inverno na Finlândia, Livro alerta sobre negacionismo do Holocausto e Castan, atentado em Sarajevo, Gravilo Princip e as velhas distorções "revisionistas".

É estranho que não noticiem sobre a morte porque a pessoa mencionada, à parte e repulsa do que pregava, ficou notório por conta da criação dessa Editora Revisão que foi quem começou a distribuição em maior escala de material negacionista no Brasil, e porque mesmo na morte de fascistas mais conhecidos fora do país, saem notícias sobre o ocorrido como no caso da morte do Haider na Áustria. Ler mais aqui, aqui, aqui e aqui.

Enfim, fica aí o registro da notícia já que o blog trata do assunto refutando as baboseiras antissemitas que os "revis" publicam e também postando textos sobre o Holocausto.

domingo, 2 de maio de 2010

S.E. Castan e a Guerra de Inverno na Finlândia

O "jogo dos sete erros"(ou mais precisamente muito mais que sete) dos "revis" parece nunca ter fim. A bíblia do "revisionismo"(negação do Holocausto) no Brasil, o livro "Holocausto: judeu ou alemão?" é uma pérola ilustrativa de como distorcer dados, fatos, etc, isso quando não os cria para compôr uma versão fictícia e "alternativa"(falsa) da História na qual a Alemanha, então sob o regime nazista(ou como os "revis" gostam de chamar, 'nacional-socialista'), foi uma vítima da guerra que encabeçou e não o oposto.

A não ser que se queira considerar que a Alemanha sim foi vítima da guerra, vítima da megalomania de um ditador que a lançou à destruição numa guerra suícida, racista e genocida.

Mas certamente essa não é a visão dos "revis"(negadores do Holocausto), que de uma forma geral costumam idolatrar o genocida megalomaníaco Adolf Hitler.

Indo à edição da bíblia do "revisionismo" brasileiro, na página 76, edição eletrônica em português de "Holocausto: judeu ou alemão" de S.E. Castan, encontramos uma pérola sobre a invasão da União Soviética à Finlândia em novembro de 1939, no episódio que ficou conhecido como a "Guerra de Inverno" em que a União Soviética foi derrotada de forma acachapante:
"A UNIÃO SOVIÉTICA ATACA A FINLÂNDIA
No dia 30 de novembro de 1939, a União Soviética bombardeou a Helsinski e,
sem declaração de guerra, atacou a Finlândia, que se havia recusado a ceder-lhe duas bases. Assinaram a paz em março de 1940, após uma guerra terrível, já que
foi disputada em pleno inverno. Atencão leitores: As duas potências, que em conjunto possuíam terras em redor de 53.000.000 de quilômetros quadrados, a Grã-Bretanha e a França, que lutavam contra a Alemanha de 800.000 quilômetros quadrados de terras, por ter entrado em guerra contra a Polônia, e cujos chefes no início de outubro haviam se declarado os DEFENSORES DA LIBERDADE DA HUMANIDADE, não entortaram nenhum dedo contra a União So-[104] viética, que em setembro invadiu a Polônia e em novembro a Finlândia. Podem ter certeza de que aí tinham coisas !... É só pensar um pouquinho."
Primeiro erro encontrado e observado, não só nesse trecho como no livro inteiro, é que o livro "revisionista" é cheios de erro de português.

Por ironia faltou uma 'revisão'(sic) pro livro "revisionista". Pode parecer preciosismo ou implicância, mas para um grupo que apresenta a postura de soltar "edições bombásticas" reveladoras da "verdade histórica" negando ou distorcendo a História, de forma pretensiosa, é no mínimo curioso que não tenham sequer feito uma revisão de português no livro.

Em português se costuma escrever nomes próprios estrangeiros(por exemplo, nomes de cidades, países) nas versões aceitas ortograficamente no país(no caso me refiro ao português do Brasil), tanto por costume ou por 'aportuguesamento' do termo. A capital da Finlândia em português(do Brasil) se escreve Helsinque e não 'Helsinki', além do próprio erro do autor do livro na grafia original da palavra, na edição eletrônica consta a palavra escrita como "Helsinski"(marcada em negrito no texto acima).

Segundo erro observado, e mais relevante, é que o autor do livro erra ao (super)dimensionar as áreas dos países citados, 'Grã-Bretanha'(que como país responde como Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, Grã-Bretanha é apenas a Ilha formada por Escócia, País de Gales e Inglaterra)e França em relação à Alemanha, para mostrar que os dois países citados possuíam uma enorme disparidade territorial em relação à Alemanha, o que é falso.

Além de que no livro mencionado há diversas afirmações que são opiniões do autor sem qualquer nota ou indicação da fonte de onde foram tiradas as mesmas(ou dados) nos quais ele se apoiou pra fazer as respectivas afirmações, como por exemplo nessa questão da disparidade territorial dos três países. Esse livro é uma verdadeira obra de como não se fazer um livro de História.

Para se ter uma ideia do erro em relação à extensão dos países, usando dados atuais, mas que não ficam muito distantes dos da época do conflito, se não me engano(citando de memória) a Alemanha na época era um pouco maior até, essas são as extensões atuais do Reino Unido, França e Alemanha:

Reino Unido(área):
total: 243.610 km²
terras: 241.930 km²
água: 1.680 km²
nota: inclui Rockall e as Ilhas Shetland

Fonte: The World Factbook Reino Unido

França(área):
total: 643.427 km²; 551.500 km² (França metropolitana)
terra: 640.053 km²; 549.970 km² (França metropolitana)
água: 3.374 km²; 1.530 km² (França metropolitana)
nota: os primeiros números incluem as regiões além-mar da Guiana Francesa, Guadeloupe, Martinica, e Reunião(Réunion)

Fonte: The World Factbook França

Alemanha(área):
total: 357.022 km²
terra: 348,672 km²
água: 8.350 km²

Fonte: The World Factbook Alemanha

O autor do livro "revisionista" "Holocausto: judeu ou alemão?" afirma que as áreas da França e Reino Unido(consideremos acima a extensão relativa ao Reino Unido, como dito antes, Grã-Bretanha corresponde apenas Inglaterra, País de Gales e Escócia) somadas têm "53 milhões de quilômetros quadrados" e que a Alemanha tinha na época "800.000 quilômetros quadrados de terras". Se somarmos as áreas da França e Reino Unido hoje e compararmos com a da Alemanha, dá algo assim:

Somatório das áreas totais do Reino Unido(243.610 km²*) e França(643.427 km²*): 887.037 km²
Área da Alemanha: 357.022 km²*

*Números referem-se à área total de cada país segundo o World Factbook

Ou seja, as áreas atuais de França e Reino Unido juntas dão um pouco mais que o dobro do tamanho da área da Alemanha atual. Nem sequer chega a 1 milhão de quilômetros quadrados. 53 milhões de km² é algo absurdo e não só demonstra a má fé do autor do livro sobre os dados lançados como a manipulação dos mesmos para fazer uso da ideia de disparidade territorial como sinônimo de disparidade bélica.

Só para se ter uma ideia, a área total da União Soviética(quando existia) era de cerca de 22 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, era uma imensidão que não chegava nem à metade do número de 53 milhões de quilômetros quadrados exposto pelo autor do livro "revisionista". O mesmo nem sequer indicar como chegou a esse número de 53 milhões.

Você pode questionar: mas ele não estava se referindo à extensão das áreas sob domínio do Império Britânico e da França na época?

Poderia ser referente a isso só que não há indicação alguma no livro que confirme isso, livros têm que mostrar a coisa claramente, não há indicação de notas de onde ele tirou os dados apresentados, quanto mais na afirmação acima transcrita do livro que se mostra completamente errada e distorcida. O trecho é um absurdo total, típica distorção cínica feita por "revisionistas" do Holocausto.
Já foi perguntado o porquê da "implicância" com esse tipo de literatura, os motivos principais são o antissemitismo(racismo) e apologia ao nazismo explícitos ou implícitos, fora que, como material informativo o livro é uma porcaria completa por apresentar uma série de distorções e manipulações, além de falta de notas e referências como o trecho apresentado acima. O livro é inteiro assim. Vejam a chatice de ler e ter catar cada distorção(várias são esdrúxulas e dá pra ver de cara que não tem fundamento) apresentada num livro desse tipo apresentado como "verdade histórica".

Destaco novamente essa parte do trecho escolhido do livro "revi":
"e cujos chefes no início de outubro haviam se declarado os DEFENSORES DA LIBERDADE DA HUMANIDADE, não entortaram nenhum dedo contra a União So-[104] viética, que em setembro invadiu a Polônia e em novembro a Finlândia. Podem ter certeza de que aí tinham coisas !... É só pensar um pouquinho"
Procurei no livro e não achei uma fonte que indicasse a procedência da informação acima apresentada pelo autor. Onde está a afirmação de que Reino Unido e França se declaravam defensores da liberdade? Ainda se levando em conta que a França logo após tombou ante a Alemanha sendo criado governo colaboracionista fascista e a República de Vichy. No Reino Unido a turbulência dos fascistas era bem grande.

Para não passar em branco, resolvi traduzir um trecho sobre a guerra citada pra mostrar a diferença de qualidade entre um texto escrito por um historiador de verdade e um "revisionista", pros leitores do blog terem uma ideia clara da distância intelectual e de informação entre um e outro.

Sobre a Guerra de Inverno na Finlândia entre União Soviética e Finlândia, segue um trecho do livro "Russia's War" do historiador Richard Overy, que mostra a derrota de Stalin e o sacrifício de centenas de vidas de soldados soviéticos na ofensiva esdrúxula dele fruto de sua tirania e porque não megalomania também(tradução minha):
"Poucas semanas depois, em 5 de outubro, um pedido similar foi feito à Finlândia: uma base naval e uma aérea na boca do Báltico em Hanko pegando o istmo da Carélia, norte de Leningrado, para fornecer uma melhor defesa àquela cidade vital. Em troca foi oferecida à Finlândia uma extensa área do território soviético na Carélia. Os finlandeses recusaram e em 13 de novembro as negociações cessaram. Stalin quase que certamente teria preferido uma solução política, mas quando os finlandeses recusaram ser intimidados ele rasgou o tratado de não-agressão Soviético-Filandês e preparou uma campanha militar para trazer a Finlândia inteira para a órbita soviética. Um governo títere comunista, a espera, foi estabelecido para Finlândia, e Stalin redigiu planos de incorporar a Finlândia à União Soviética como a República Soviética Carelo‐Finlandesa. Em 30 de novembro a artilharia soviética iniciou um bombardeio à fronteira finlandesa, e os exércitos soviéticos avançaram, experando uma rápida vitória. Mais tarde Khrushchev recordou o comentário de Stalin que "tudo o que tínhamos que fazer era abrir fogo que em poucas rodadas da artilharia os finlandeses capitulariam". Stalin confiou em prosseguir com as convicções vaidosas de Voroshilov: "Tudo está bem, tudo está em ordem, tudo está pronto." 40

A campanha na Finlândia foi um desastre para o Exército Vermelho. Expôs ao mundo como era fraca a capacidade ofensiva das forças expurgadas e enfatizaram para o exterior o valor do dano do terror que tinha ocorrido. Apesar da vantagem numérica, os exércitos designados para a Guerra de Inverno foram parados por um sólido conjunto de fortificações, a Linha Mannerheim. Soldados soviéticos lutaram obstinadamente mas sofreram baixas excepcionais, um total de 126.875 soldados morreram em quatro meses. Seus cadáveres congelados permaneceram em grotescos amontoados onde tombaram. As tropas foram mal treinadas para defesas fixas na tempestade; havia escassez de armas automáticas e roupas de inverno; o sistema de suprimento de comida rapidamente sucumbiu e o transporte era pobremente organizado. Congelamento e fome se somavam às baixas infligidas pelo rápido movimento das tropas finlandeses em esqui e por atiradores de tocaia. Os comandantes eram controlados de perto por um centro por oficiais políticos que conheciam pouco sobre o campo de batalha.

Os finlandeses apelaram por um armistício, e o Exército Vermelho estava extremamente alvejado para prosseguir na guerra de conquista do país inteiro. Em 12 de março de 1940 a paz foi assinada. A Finlândia foi forçada a ceder os territórios e bases pedidas um ano antes, mas sua independência foi assegurada. A União Soviética foi expulsa da Liga das Nações pelo ato de agressão gratuito.

A Guerra de Inverno foi o maior conflito empreendido pelo Exército Vermelho desde a guerra civil 20 anos antes, maior até que as batalhas de fronteira com os japoneses em Khalkhin‐Gol que lutaram no verão anterior onde o Exército Vermelho envergonhado foi salvo pela intervenção do General Zhukov."
Russia's War(A Guerra da Rússia), autor: Richard Overy, partes extraídas das páginas 63-4
Essa é a diferença(acima) de um texto escrito por um historiador de verdade e um "revionista", vulgo negador do Holocausto, que distorce ou nega a História para justificar seus posicionamentos políticos.

Ver também:
S. E. Castan e suas mentiras – Parte 1 – Pré-Guerra
Castan, atentado em Sarajevo, Gravilo Princip e as velhas distorções "revisionistas"

domingo, 15 de março de 2009

Castan, atentado em Sarajevo, Gravilo Princip e as velhas distorções "revisionistas"

O Leo elaborou um texto(primeira parte) com as falácias e distorções feitas no livro "Holocausto: judeu ou alemão?" do "revisionista" brasileiro S.E. Castan.

Há uma parte curiosa no primeiro texto sobre essas falácias(ou distorções), é a que comenta sobre o Gravilo Princip. Princip era um extremista nacionalista sérvio que foi o responsável pela morte do Arquiduque Ferdinando, do extinto Império Austro-Húngaro, e sua esposa num atentado em Sarajevo.

Este atentado, que resultou na morte do Arquiduque, serviu de pretexto ou estopim pro início da Primeira Guerra Mundial.

O que chama atenção é o fato de S.E. Castan afirmar que Princip era judeu, para imputar culpa a judeus, por um atentado cometido por um extremista sérvio. Esse tipo de distorção histórica é uma das várias táticas empregadas por "revisionistas" para distorcer fatos históricos e consequentemente incitar ódio contra judeus.

Trecho do texto do Leo sobre as falácias do Castan:
A nota [49] na edição em espanhol é a nota de número 15, vou transcrever aqui a alucinação de Castan sobre Gavrilo Princip (grifos meus):

"Gavrillo Princip o Gavrilo Prinkip, era judío, hijo de un cartero Bósnio, (y no servio, como se cree) Srajevo o Sarajevo, es una ciudad de la hoy Yugoeslavia. En la época era capital da la antigua República Federada de Bosnia-Herzegovina. (Francis Leary — El Tiro que Incendió a Europa; Selecciones del Reader's Digest y Enciclopedia Vergara, de Barcelona, España)."

Até mesmo em sites nazistas são negadas as afirmações de que Princip fosse judeu, como o link para o Stormfront. Essa é mais uma tentativa de atribuir culpa aos judeus, Castan tenta levar isso ao leitor durante grande parte de seu “livro”.
Isto é o que costuma ser chamado de "revisão da História" pelos "revisionistas". Distorções e manipulações para atenuação do regime nazi e um reavivamento do antissemitismo.

Ver mais em: S.E. Castan e suas mentiras - Parte 1 - Pré-Guerra

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A controversa "Wolzek"

Um dos argumentos dos revisionistas de que os testemunhos/escritos de Rudolf Höss não tem qualquer validade é o campo "Wolzek", que realmente não existe. Os revisionistas dizem que Höss "inventou" um campo chamado "Wolzek" para "mostrar ao mundo" que ele estava sendo forçado a dizer um monte de mentiras.

O que muitos revisionistas (e os leitores de SE Castan) não sabem é que "Wolzek" EXISTE. É uma localidade bem próxima do campo de concentração de Sobibor. O nome polonês é "Wolzcyn". Muitas localidade polonesas receberam nomes "germanizados". Assim, temos Kulmhof/Chelmno, Dantzig/Gdansk, Auschwitz/Oswiecin, Cracow/Krakau,
Warszwa/Warschau, etc.

Vejam nos mapas:

http://www.holocaust-history.org/auschwitz/wolzek-paradox/

http://www.mazal.org/Maps/Sobibor-03.htm

Para mostrar que o mapa não foi "forjado", aqui vai um link sobre a localidade de Wolzcyn/Wolzek:

http://www.biznet1.com/arepl035.htm

Fonte: Holocausto-doc(Lista)
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/8

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