Mostrando postagens com marcador pseudociência. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador pseudociência. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 7 de maio de 2013

Racismo: Uma Visão Geral

Ilustração anti-semita de um curta-metragem nazista.
A legenda, traduzida do alemão, declara: "Por serem
de uma raça estrangeira, os judeus não tinham direitos
civis na idade média. Eles tinham de morar em áreas
restritas da cidade, em um gueto."
Local e data incertos.
— US Holocaust Memorial Museum (Fotografia)
Racismo é a crença que as pessoas possuem características inatas, biologicamente herdadas, que determinam seu comportamento. A doutrina do racismo afirma que o “sangue” é o marcador da identidade étnica-nacional, ou seja, dentro de um sistema racista o valor do ser humano não é determinado por suas qualidades e defeitos individuais, mas sim pela sua pertinência a uma "nação racial coletiva". Neste modo de ver o mundo, as “raças” são hierárquizadas como “melhores” ou “piores”, “acima" ou “abaixo”. Muitos intelectuais do final do século 19, incluindo alguns cientistas, contribuíram com apoio pseudocientífico ao desenvolvimento desta falsificação teórica, tais como o inglês Houston Stewart Chamberlain, e exerceram grande influência em muitas pessoas da geração de Adolf Hitler.

Atualmente sabe-se que "raça" não existe em termos biológicos, apenas sociais. O ódio nazista contra a "raça judaica" desconsiderava o fato de que existiam judeus brancos, negros, orientais, e assim por diante. O "racismo" contra os judeus é denominado anti-semitismo, que é o preconceito contra ou ódio contra os judeus baseados em falsas teorias biológicas, uma parte essencial do Nacional Socialismo alemão, i.e. o nazismo. Em 1935, após chegarem ao poder, os nazistas criaram as Leis de Nuremberg, criando uma definição biológica errônea do que é ser judeu. Para os nazistas, movimentos políticos como o marxismo, comunismo, pacifismo e internacionalismo soavam como anti-nacionalistas e, para eles, eram consequência da "degeneração" causada pelo "perigoso" intelectualismo judáico.
Tabela de 1939 mostrando a quantidade
de judeus e "miscigenados" (Mischlinge)
dentro do total da população alemã.
— US Holocaust Memorial Museum

Os nazistas acreditavam que a história humana era a de uma luta biologicamente determinada entre povos de diferentes raças, dentre as quais eles eram a mais elevada, destinada a comandar todas as outras, a "raça superior". Em 1931, as SS, Schutzstaffel, guarda de elite do estado nazista, estabeleceram uma Secretaria de Povoamento e Raça para conduzir "pesquisas" raciais e para determinar a compatibilidade racial de possíveis parceiras para os membros das SS.

Os nazistas consideravam os alemães portadores de deficiências físicas ou mentais como resultado de falhas na estrutura genética da chamada “raça superior”, e achavam que tais pessoas não deveriam se reproduzir por serem um "perigo" biológico para a pureza da “raça ariana”. Após seis meses de uma minuciosa coleta de dados, durante os últimos seis meses de 1939 ,e de um planejamento cuidadoso, os médicos nazistas começaram a assassinar os deficientes que encontravam-se em instituições médicas por toda a Alemanha, em uma operação que eles denominaram eufemismisticamente de "eutanásia" (que quer dizer "morte tranquila"), que podia ser tudo, menos isto.

Segundo as teorias raciais nazistas, os alemães e outros povos do norte europeus eram "arianos" (que na realidade haviam sido um povo pré-histórico da Ásia central que havia migrado para a Europa e a Índia), e que eram uma raça superior às demais. Durante a Segunda Guerra Mundial, médicos nazistas conduziram “experiências médicas” que procuravam identificar provas físicas da superioridade ariana e da inferioridade não-ariana. Apesar de haverem conseguido assassinar milhões de prisioneiros não-arianos durante tais “experiências” de sadismo, os nazistas não foram capazes de encontrar quaisquer provas de suas teorias de diferenças raciais biológicas entre os seres humanos, e de que eram os mais capazes.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a liderança nazista iniciou o que eles chamaram de "limpeza étnica" nos territórios por eles ocupados na Polônia e na União Soviética. Esta política incluía o assassinato e extermínio das chamadas "raças inimigas”, entre elas os judeus, e também a destruição das lideranças dos povos eslavos, que eles planejavam tornar seus escravos por considerá-los inferiores. O racismo nazista foi responsável por assassinatos horrendos , em uma escala sem precedentes na história humana.

Fonte: site do USHMM
http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005184#related

Observação: acho que uma vez apareceu um questionário nesse site do USHMM que respondi comentando que deveriam pôr fontes nos textos que não possuem pois isso credencia o texto e fornece indicações a quem queira ler mais sobre o assunto do texto. A "ideia de raça" é uma construção social baseada na maioria dos casos em teorias pseudo-científicas do século XIX que separavam pessoas por características principalmente físicas (biotipo), algo disseminado até hoje mesmo que quem dissemine a ideia saiba que a mesma é totalmente furada. No Brasil (mas também em outros países) muitos grupos contrários a qualquer reparo histórico do racismo usam a formulação correta de que não existe raças pra dizer que tais reparações são sem sentido ignorando que o racismo não ocorre com base em algo preciso e exato e sim em preconceito e ideias distorcidas sobre povos e principalmente, no Brasil, com a cor da pele e a origem, o racismo majoritário no Brasil ocorre mais dessa forma.

Há outros textos sobre o assunto mas infelizmente não será possível traduzir agora, ficando pruma próxima ocasião. Sugestão que procurem infos sobre Michael Banton e os livros The Idea of Race e Racial Theories. Quem quiser dar uma olhada por conta própria (54 páginas), em inglês, PDF da Unesco com participação do Michael Banton: Four statements on the race question.

domingo, 11 de setembro de 2011

Será que existem raças humanas? Investigadores do Instituto Gulbenkian respondem

Grupo de investigadores do Instituto Gulbenkian da Ciência publicam crónica que questiona a validade do conceito de raças humanas. “São tantas as nossas características genéticas e tão variadas que é impossível agrupar-nos em raças.”, lê-se no documento publicado no jornal Público.

SERÁ QUE EXISTEM RAÇAS HUMANAS?
(texto integral)

James Watson, prémio Nobel da Medicina, agitou recentemente o mundo ao afirmar que os negros teriam inteligência inferior. A intensidade do debate que se seguiu, com diferentes entidades e personalidades a tomar posição sobre estas afirmações, terá impedido os esclarecimentos necessários sobre o principal conceito subjacente às suas palavras, o de grupos humanos distintos e facilmente identificáveis, em linguagem leiga, o conceito de raças humanas.

Sabemos que há grupos distintos de cães. Um doberman, por exemplo, tem características diferentes das de um caniche. Estas características morfológicas são definidas por informação genética diferente, que é mantida porque cães de um grupo só são cruzados com cães desse mesmo grupo. Estes grupos resultaram de uma vontade humana de separar conjuntos de cães diferentes por várias gerações, impedindo assim o cruzamento entre esses indivíduos, o que levou a uma diferenciação das características de cada grupo, tornada mais óbvia ao longo do tempo. Um outro exemplo de grupos ainda mais distintos é o da couve-de-bruxelas e da couve-flor. Neste caso, como a diferenciação genética é maior, feita ao longo de mais gerações, alguns geneticistas até aceitariam que se trata de “raças diferentes” da mesma espécie de couve.

Mas nenhum grupo humano foi sujeito a estas condições de isolamento. De facto, todos os dados científicos mostram que temos um ancestral comum em África e que desde sempre o constante movimento e a consequente troca de bens, informação cultural e genética impedem que se gerem grupos humanos isolados.

É sabido que basta haver migração de poucos indivíduos em cada geração para homogeneizar potenciais diferenças genéticas entre grupos.

A cor da pele é das características mais fáceis de reconhecer nas pessoas e provavelmente por essa razão foi erroneamente utilizada para tentar organizar os humanos por grupos, raças. No entanto, não é por uma característica ser fácil de visualizar, como é o caso da cor da pele, que isso a torna representativa de todo o património genético dessa pessoa, reflectindo todo um leque de outras características com uma componente genética, como, por exemplo, a cor dos olhos. Dependendo da característica genética em questão, um português poderia ser agrupado mais facilmente com um chinês ou um etíope do que com o seu vizinho do lado. Por exemplo, poderá ser melhor para si receber sangue de um etíope que partilha consigo o mesmo grupo sanguíneo, do que receber sangue do seu vizinho do lado pertencente a outro grupo sanguíneo. São tantas as nossas características genéticas e tão variadas que é impossível agrupar-nos em raças.

O conceito de raças humanas ainda faz menos sentido desde que, de há uns 40 anos para cá, os dados mostram que no continente africano está representada quase toda a informação genética dos humanos do nosso planeta. Dado este facto, faz pouco sentido dizer que os negros são um grupo geneticamente diferente de qualquer outro. Assim, se hoje houvesse uma doença que devastasse todos os continentes, a sobrevivência dos africanos garantiria a preservação de quase todo o património genético da nossa espécie. Todos os outros continentes têm uma menor representação daquilo que nós, seres humanos, somos geneticamente. Assim, antropólogos e geneticistas juntam-se hoje em dia para dizer que o conceito de raças humanas não faz sentido.

Francisco Dionísio, Isabel Gordo, Lounés Chikhi, Mónica Bettencourt Dias, Rui Martinho e Sara Magalhães
(Doutorados em Biologia e investigadores no Instituto Gulbenkian de Ciência)

Texto Publicado no Jornal “Público”(Portugal) a 3 de Novembro de 2007.
Reproduzido na rede social Orkut em 22/04/09 na antiga comunidade anti-"revisionismo.

Fonte: Comunicar Ciência (comunicar-ciencia.org)
Link original(fora do ar): http://www.comunicar-ciencia.org/website/index.php?option=com_content&task=view&id=72

Observação: o site comunicar-ciencia.org, do qual o texto acima foi reproduzido, encontra-se fora do ar. O site é mencionado no site da Universidade de Évora (Portugal). Link com a citação do comunicar-ciencia.org no site da Universidade.

Ver também:
Humanidade Sem Raças? - Libelo contra o racismo (geneticista Sergio Pena)

terça-feira, 31 de maio de 2011

Das Caixas-Pretas a Leuchter: demarcando a Ciência

A demarcação da Ciência sempre foi objeto de estudo de filósofos desde o século XVII. Os princípios que moveram essa distinção era trazer à tona um "fazer Ciência" de modo diferenciado a ponto de se poder distinguir conceitos científicos e não-científicos. Podemos citar alguns e discuti-los em torno do movimento que se deu à sua época de forma resumida:

John Locke e David Hume foram dois filósofos empiristas que tinham como argumento de que o processo de construção de conhecimento se dava através da experimentação. John Locke ia ainda mais longe alegando que quando o indivíduo nascia era desprovido de conhecimento como um papel em branco e ao longo da vida, e da experimentação, o conhecimento iria surgindo.

Porém, houve quem trouxesse um novo viés filosófico, refutando o empirismo de Locke e Hume: Immanuel Kant, com seu apriorismo, que trazia a idéia de que os indivíduos possuíam tipos de conhecimentos que não passavam pela experimentação e diferenciava esses tipos de conhecimento em a priori, que era o conhecimento que era inato (tal como Kant citava o exemplo da base de uma casa, se retirarmos sua fundação, a casa cai e este conhecimento não passou por experimentação) e em a posteriori, que era o conhecimento que passava pela experiência. Esses conceitos são fundamentais para se entender os termos que ainda são falados.

Anos mais tarde, Mach e Comte talvez tenham sido uns dos primeiros filósofos que tiveram uma noção da necessidade de se criar uma filosofia para a Ciência. Ambos trouxeram uma idéia positivista acerca do "fazer Ciência". Segundo Comte: "a Ciência é positiva e tudo que é positivo é testável" resumindo assim sua idéia acerca da Ciência. Ambos utilizavam, o que Bacon chamou de indutivismo que é a proposta segundo a qual uma idéia era pré-concebida e testada pelo método e que deveria confirmar a idéia já aceita a priori, ou seja, o método pelo qual a Ciência se auto-afirma era apenas um confirmativo da coisa-em-si e que além disso, o indutivismo previa uma generalização, de que quando houvesse uma teoria que fosse testada e aceita, ela deveria equivaler a teoria geral em si.

O positivismo científico teve mudanças com o atomismo lógico de Bertrand Russell, que foi base para um movimento filosófico na Áustria chamada de Círculo de Viena onde seu principal representante era Carnap, porém, importantes cientistas também faziam parte, como Einstein, e tinham interesse em discutir o melhor modus operandi que havia na proposta principal de unificar a Ciência através de um método e eliminar qualquer princípio metafísico de seus enunciados, tal qual já faziam Comte e Mach.

Em suma, o Círculo teve como idéia principal as mesmas adotadas por Mach e Comte em seu positivismo, porém, houve uma divisão entre idéias filosóficas e científicas utilizando como princípio demarcador os métodos pelos quais cada um tinha e que determinavam cada forma de conhecimento. Segundo Carnap, o único método que Ciência poderia utilizar era o método científico, método segundo o qual pensava-se no sistema linear: observação, problema, hipótese, experimento, resultado, conclusão e a filosofia não deveria ter outro método senão a lógica, dividindo a Ciência e a filosofia.

Entretando, houve quem trouxesse à tona um novo viés do modus operandi. O filósofo da Ciência Karl Popper trouxe uma visão distinta do que até então os positivistas tinham. A refutação de Popper se dava no seguinte:

- Era impossível fazer a unificação da Ciência pelo método científico proposto, já que cada Ciência possui suas particularidades;
- Era impossível haver uma mesma nomenclatura para todas as Ciências pela mesma obviedade;
- Não era possível retirar as metafísicas do enunciado, pois o enunciado em si já era metafísico, pois como dizia Popper: "não é porque é metafísica que não tenha sentido"
Desta forma, Popper via que o princípio de demarcação que trouxera o Círculo, era inadequado justamente pelas deficiências de conceito que haviam trazido, embora Popper gostasse da idéia da montagem do Círculo, pois segundo dizia em sua Autobiografia Intelectual, que o Círculo foi importante por trazer, pela primeira vez, racionalidade ao pensamento filosófico acerca da Ciência.

A demarcação de Popper se deu não apenas através da testabilidade dos enunciados, mas na refutabilidade dos enunciados, desta forma, o modo de ver do "fazer Ciência" era diferenciado não por trazer o indutivismo lógico, mas um método racional, hipotético-dedutivo, onde o método para Popper era fundamental do processo de construção de Ciência e do modo pelo qual cadateoria científica era mudada. Quando havia uma teoria que constratasse com a teoria vigente, esta deveria requerior os critérios de Popper, através da testabilidade (uma teoria científica deveria ser testável) e ser refutável (princípio pelo qual a refutação deveria ser por Modus tollens, ou seja, se negarmos uma conclusão de uma premissa, estaremos refutando a premissa) a que Popper demonstrou por analogia através dos cisnes negros e brancos. Se houver um cisne negro em um grupo de cisnes brancos, há um contrase e esse constraste deve ser verificável (empírico) e as hipóteses levantadas sobre a existência desse cisne negro deve ser refutável e testável (idéia conhecida como "Cisne Negro de Popper").

Anos mais tarde, o físico americano Thomas Kuhn, em um trabalho de doutoramento em história da Ciência, foi mais longe que o próprio Popper, discutindo o modo pelo qual uma teoria era substituída por outra, pois para Popper, o princípio que movia a mudança de conceito científico se dava pelo método essencialmente, discutindo outros fatores externos ao próprio método que influenciava nas mudanças do que Kuhn denominou de "paradigmas". Em sua principal obra "A Estrutura das Revoluções Científicas", Kuhn traz a idéia de que existem fatores externos ao meio que era também determinantes na mudança de paradigma (termo muito em moda) e não só o método em si como a questão financeira, a seleção dos artigos para publicação em revista indexada, aceitação de bolsas de pesquisa etc., eram ainda mais determinantes que o próprio método, embora Kuhn não refutasse a interferência do método como fator que determinasse uma mudança de paradigma científico, mas que este deveria ser aceito de acordo, também com os princípios morais, éticos, políticos, religiosos, em síntese, todos os fatores inatos no homem e que eram fatores que influenciavam inclusive a conclusão dos seus testes. Ou seja, o cientista não estava em uma bolha e isolado do meio, ele não só estava no meio, como também era fonte de influência na mudança de paradigma.

Assim, remete-nos a pensar em trabalhos de cunho pseudocientífico. Para Popper, uma pseudociência era aquela que embora pudesse ser testada, não era possível seu refutamento ou vice-versa. Popper citava a Astrologia: era possível saber a existência dos astros, mas não que estes tinham influência moral sobre nossas vidas e essa alegação era tautológica (numa tabela de verdade lógica, embora a premissa pudesse ser errada ou verdadeira, o resultado era SEMPRE verdade).

Pseudociências estão em moda nos dias de hoje. Parapsicologia (embora a AAAS a considere Ciência por convenção) que aceita a existência de espíritos a priori e que estes podem ser medidos por aparelhagens especiais, uma nova teoria que olhasse com outros olhos o processo evolutivo, proposto por Michael Behe e William Dembski, que propõe a existência de um ser inteligente (intelligent design) que promove e direciona o processo evolutivo, este, absolutamente tautológico.

As idéias de Behe, em seu livro "A Caixa-Preta de Darwin", sugere que o processo evolutivo não se dê gradualmente, ao contrário, ele é direcionado exatamente por não haverem evidências de um salto e os faz analogamente a um salto em um buraco. Podem haver plataformas para explicar o salto e que podem ser observadas, mas e quando não houverem plataformas para esse salto? Behe sugere que algo os tenha transportado até o fim e utiliza essa analogia com eventos bioquímicos que necessitam de intermediários para se chegara um fim, como a coagulação sanguínea. Existe um emaranhado de vias bioquímicas através de enzimas, proteínas que aceleram reações químicas ou metaboliza, e que na falha de uma enzima, o restante do processo também falha, o que Dembski chamou de "complexidade irredutível". Segundo as idéias darwinistas, cada enzima teria evoluído no processo a partir de pressões do meio, onde mutações espontâneas seriam selecionadas pelo meio e adaptadas às resistentes (este processo já foi obsrevado em laboratório pela descobera do RNA autoduplicante), porém, o meio pode ser influenciador no mecanismo genético diretamente, chamado de epigenética, que Behe faz questão de não mencionar. Ao contrário do pensamento darwinista, Behe sugere que o processo tenha sido direcionado por um agente inteligente. Este pensamento foi absorvido rapidamente pelos fundamentalistas religiosos norte-americanos e por efeito bola de neve, no Brasil com as igrejas neo-pentecostais, sempre cometendo a falácia argumentum ad verecundiam ou de apelação à autoridade (ele é cientista então ele está certo)

Existe uma série de problemas com a propostade de Behe:
- Admissão rápida da existência de um ser existente que direcione o processo evolutivo, o próprio Behe diz que isso não é testável, "mas os ancestrais também não" (esquecendo-se de que houve o genoma do Neandertal refutando a idéia de que tenha sido um ancestral, mas uma espécie paralela há 200.000 anos) remetendo à falácia "tu quoque" e de petição de princípio (admissão da tese sem testá-la);

- Leva a mais perguntas que respostas: qual a motivação do agente inteligente? quem ele é? do que é feito? (todas não podem ser testadas e Behe admite isso);

- O fato de uma estrutura irredutivelmente complexa existir, não quer dizer que tenha sido direcionada a tal fato e aliás, não se pode testar (tautologia);

- Convencionismo: o fato de que uma estrutura ser irredutivelmente complexa SÓ PODE ser por um agente inteligente (chamamos de "wishful thinking")

- Behe esquece-se da relação da ancestralidade comum, embora não a negue, infere a não-ancestralidade, visto que trabalhos posteriores demonstram o erro de Behe frente à algumas estruturas, como o flagelo bacteriano, que teria funcionado sem algumas partes e além disso, a coagulação sanguínea, tão comentada por Behe, teria algumas enzimas ausentes em macacos, mas que funcionaria perfeitamente também.
As idéias de Behe foram rejeitadas a posteriori pela comunidade científica. As ideologias trazidas por Behe não fazem parte do escopo científico por serem abolutamente tautológicas, tal como faz o revisionismo histórico.

As idéias principais acerca do revisisionismo são:
- Questionar o número de vítimas do Holocausto;
- Questionar o modus operandi de eliminação sistemática dos judeus nos campos;
- Questionar a posição dos nazistas frente ao Holocausto e dos próprios judeus como vítimas do processo, embora não neguem o Holocausto (sic);
- Questionar a solução final.
As idéias que foram amplamente difundidas na Europa e EUA por Rudolf, Leuchter, Irving, Mattogno tiveram repercursão no Brasil a partir dos anos 90, onde a liberdade de expressão começou a fluir após o fim do regime militar (1985). As idéias foram divulgados por S.E. Castan(pseudônimo de Siegfried Ellwanger) através da sua editora Revisão (que foi fechada por apologia ao nazismo).

O revisionismo, como movimento, também tem problemas sérios frente as suas propostas que são todas a priori:

- O número de vitimas AINDA é desconhecido, muito pela ausência e destruição de arquivos e documentos sobre os judeus na Alemanha;
- É impossível negar não só as câmaras de gás, que foram amplamente discutidas pelo relatório Pressac, inclusive de pedidos que remetessem às câmaras, tanto quanto o Instituto Forense da Cracóvia que encontrou vestígios de CN, íon base do ácido cianídrico (HCN), base do pesticida Zyklon-B;
- Tentar mudar a visão de que o nazismo "não foi bem assim" não é apenas uma afronta aos estudos, é desonestidade das mais baixas, visto que há autores que já inferem a idéia de que "se os judeus foram presos, a culpa é deles" ou das teorias conspiratórias de que os judeus bolaram um plano maquiavélico onde teriam forjado/mentido provas para incriminar os nazistas;
- O quarto item já está colocado no terceiro.
Observa-se, portanto, que os revisionistas não têm interesse de construir uma nova história. Eles querem construir uma "nova história" sim, mas refutando, sem provas, todas as alegações anteriores e contruir uma nova baseada em evidência nenhuma. Ainda assim, houve uma oportunidade com os trabalhos de Leuchter, dignos de um amador, que nem sequer sabia fazer uma coleta e mesmo assim utilizou, através de uma empresa terceirizada, a análise das amostras que não encontraram vestígios de CN. O problema foi o método utilizado: "azuis de prússia" ou também chamado "azuis de ferro" onde se verificava apenas o CN estável, mas não o total. O trabalho foi refutado pelo Instituto Forense da Cracóvia e pelo químico Richard Green.

Se for feito uma análise sob à luz da refutabilidade de Popper são notados problemas sérios:

- Tautologia vigente e falácia de petição de princípio: as alegações sugeridas não foram postas à prova e são admitidas a priori, e mais além, não podem ser refutadas por falta de dados existentes.
- Também são rejeitadas pela comunidade científica.
Deve-se frisar que: ideologias não fazem parte do escopo da Ciência mas TEORIAS que foram propostas e mudadas ao longo do tempo, o que não acontece nem com o criacionismo de Behe e nem com o revisionismo histórico. Fora isso, são apenas tautologia e falácia.

Referências:

Kant, Imannuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Martin Claret, 2009.
Popper, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, 1972.
--------------. Autobiografia Intelectual. São Paulo: Cultrix, 1972.
Kuhn. Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas: São Paulo: Perspectiva, 2009.
Norris, Christopher. Epistemologia: conceitos-chave em filosofia. São Paulo, ArtMed, 2009.
Mortari, Cézar A. Introdução à lógica. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
Tilghman, B. R. Introdução à filosofia da religião. São Paulo: Loyola, 1996.
Schopenhauer, Arthur. Como Vencer um Debate sem ter Razão em 38 estratagemas. Rio de janeiro: Topbooks, 2003.
Bastos, Cleverson Leite e Candiotto, Kleber B. B. Filosofia da Ciência. Rio de Janeiro, 2008.
Relatório Pressac: http://www.holocaust-history.org/auschwitz/pressac/technique-and-operation/
Greend, Richard. The Chemistry of Auschwitz. Visto em: http://www.holocaust-history.org/auschwitz/chemistry/
------------------. Leuchter, Rudolf and teh Iron Blues. Visto em http://www.holocaust-history.org/auschwitz/chemistry/blue/
sem autor. O que é revisionismo?. Visto em: http://www.vho.org/aaargh/port/vhocortada.html
Markievitz, Jan. A Study of the Cyanide Compounds Content In The Walls Of The Gas Chambers in the Former Auschwitz and Birkenau Concentration Camps. Visto em: http://www.holocaust-history.org/auschwitz/chemistry/iffr/report.shtml
Leuchter, Fred A. The Leuchter Report: the end of a myth. Visto em: http://www.ihr.org/books/leuchter/leuchter.toc.html

Autor: Ramon Diedrich

Observação: artigo sobre ciência e pseudociência
Ver mais:
Pseudociência 1
Pseudociência 2

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A cultura obsessiva de massas das teorias "mágicas" de conspiração nos EUA

Tendo em vista que boa parte do "público" revimané(e simpatizantes desse tipo de charlatanismo) é composta por gente que crê em coisas obscuras ou fantasiosas, teorias esdrúxulas como "o Homem nunca foi à Lua" ou "Obama é muçulmano"(rsrs), crendices, textos pseudocientíficos, pensamento persecutório, obsessivo, crenças em conspirações invisíveis e ocultas e sendo pessoas que frequentemente confundem pensamento ou "interpretação" de cunho inteiramente crente(que crê em algo mesmo sem provas por preconceito contra grupos étnicos ou crenças em conspirações destrutivas ocultas, pra que algo possua significado ou validade por incapacidade de entender o mundo de forma crítica e analítica) com intepretação analítica e histórica, a minisinopse do livro abaixo dá um clarão sobre esse tipo de mentalidade deletéria e medieval, que toma conta principalmente dos Estados Unidos, e de quebra é disseminado por websites de extrema-direita na internet além do alcance dos próprios Estados Unidos, como se fossem "verdades alternativas" ou falsamente "contestadoras do status quo".

Não chequei se há versão do livro em português, mas se houver citarei aqui. O autor é professor de História da Universidade de Utah, nos Estados Unidos.

Autor: Robert Alan Goldberg
Livro: "Enemies Within: The Culture of Conspiracy in Modern America"
(Inimigos internos: A Cultura da Conspiração nos Estados Unidos contemporâneo)
Editora: Yale University Press, 2001 edition
Páginas: 368

Sinopse do livro:
"Há uma ânsia por notícias conspiratórias nos EUA. Centenas de websites na Internet, magazines, publicações, até editoras inteiras que disseminam informação sobre inimigos invisíveis e suas atividades secretas, subversões, e armações. Aqueles que suspeitam de conspirações por trás de eventos nas notícias -- a colisão do voo 800 da TWA, a morte de Marilyn Monroe -- integra gerações de norte-americanos, do período colonial até o presente dia, que acalentam visões de vastos complôs. Neste cativante livro Robert Goldberg, ele se centra sobre as cinco maiores teorias de conspiração da metade do século passado, examinando como elas se tornaram populares nos EUA e porque elas são lembradas assim. Nas décadas seguintes, no pós-Segunda Guerra, as teorias de conspiração tornaram-se mais numerosas, mais comumente "acreditáveis", e mais profundamente incrustradas em nossa cultura, Goldberg afirma. Ele investiga as teorias de conspiração a respeito do incidente do UFO Roswell, a ameaça comunista, a ascensão do Anticristo, o assassinato do Presidente J. Kennedy, e o complô judaico contra a américa negra, em cada caso pega a situação histórica, social e política dentro do contexto. Teorias de conspiração não são meramente produtos de um bando de lunáticos, o autor demonstra. Ao contrário, a retórica paranoica e este tipo de pensamento estão de uma forma perturbadora no centro dos EUA atual. Com a validação da mídia e a disseminação de ideias de conspiração, e o comportamento do governo federal que prejudica a confiança pública e fé, o chão é fértil para o pensamento conspiratório."
Fica dado o aviso(já que é um tema que fere e muito a crença dos revimanés) que não há espaço pra pregação antissemita/racista na parte de comentários, aqui não é "casa da mãe Joana" ou "reduto pra lamúria "revisionista"", os avisos anteriores sobre corte de comentários racistas e imbecis continua válido e serão seguidos à risca, pra evitar que venham mentir com "choro" dizendo que estão "censurando" ou se está cortando espaço pra esse tipo de estupidez racista(antissemita), cretinice antissemita não é bem-vinda, quem simpatiza em cultuar ignorância e antissemitismo é só se dirigir diretamente as pocilgas antissemitas "revisionistas" pra extravasar esse tipo de ódio. Tolerâcia zero com baderna.

sábado, 25 de julho de 2009

Para entender: Ciência vs. Pseudociências - parte 4

Parte 3: Para entender: Ciência vs. Pseudociências

4. O ceticismo científico

No último parágrafo do tópico anterior abordamos o segundo paradoxo do mundo das pseudociências: nem sequer os cientistas (em geral) vêem interesse nesses temas, nem os consideram adequados para estabelecer uma crítica. É compreensível: o fato é que um psicólogo especialista pode ficar completamente desconhecedor do que se “vende” atualmente no mundo da parapsicologia, ou um astrônomo ignorar por completo as afirmações dos astrólogos. Simplesmente, a própria especialização do mundo da pesquisa científica provoca um completo desinteresse por temas tão menores, de escasso conteúdo científico.

No entanto, é uma abordagem errônea, porquanto trata-se de assuntos que têm capacidade de chegar facilmente ao cidadão, de maneira que a ausência (por vontade própria) dos cientistas nestas arenas deixa os proponentes, os mais descabelados e os mais comedidos, com todo o cenário só para eles.

Este é o grande problema, e o grande desafio que as pseudociências colocam: afinal, são populares, e continuarão sendo se não houver uma crítica racional a elas. Esta ausência permite ademais uma certa impunidade por parte dos proponentes das pseudociências, que ficam como únicos interlocutores no panorama. Lembro-me a esse respeito de um programa de televisão, anos atrás, que apresentava um caso de poltergeist: uma casa onde as coisas se moviam sozinhas – supostamente – e em cujas paredes tinham aparecido manchas de sangue. Um dos “especialistas” que estava nesse programa propunha como explicação que um espírito de uma pessoa morta provocava a fenomenologia. Outra pessoa, que se auto-intitulava “cientista”, dizia que não era necessário: era energia da mente de um dos moradores da casa, que se transformava em matéria, neste caso, em manchas de sangue. Este pesquisador insólito aduzia como prova de suas afirmações que, como todo mundo sabe, através da equação de Einstein, a matéria e a energia podem transformar-se, e que neste caso isso é o que havia acontecido. Obviamente, fazia falta alguém que explicasse que se a primeira hipótese não era científica (por não ser falsificável), a segunda era diretamente anticientífica, isto é, uma pura estupidez. Receio, entretanto, que se os produtores do programa tivessem convidado um cientista, este não teria podido senão balbuciar alguma explicação: é difícil que tivesse um conhecimento da realidade do fenômeno dos poltergeists...

É aí que entram em cena os céticos. Esta palavra tem uma conotação negativa, proveniente da própria origem filosófica da doutrina da suspensão de juízo. Por isso, vamos tentar esclarecer o termo. Em geral podemos diferenciar vários tipos de ceticismo:

Um ceticismo niilista, extremo, afirma que é impossível alcançar qualquer conhecimento de maneira veraz. Levado ao extremo, tudo é válido porque nada é certo. É a dúvida absoluta e o passivismo completo. Este tipo de céticos admitiriam o mesmo corra que pare, pelo que é óbvio que não nos referimos a eles.

Um ceticismo menos extremo, como o do próprio Hume, no qual se formula a impossibilidade da certeza, mas que estabelece mecanismos de acordo para aceitar as coisas. Uma espécie de consenso para funcionar num mundo onde não existe uma confiabilidade completa.

Um ceticismo científico, nascido já neste século, impulsionado no início por filósofos pragmáticos, segundo o qual uma das bases do método científico é uma dúvida cética, que se supera quando se fornecem provas suficientes que justifiquem a tomada de decisão. Frente ao primeiro tipo de ceticismo, este permite chegar a conclusões e evitar a abstenção de juízo. Frente ao segundo, este ceticismo não chega a um consenso por maioria, mas sim por acumulação de provas, que se devem realizar conforme os postulados do próprio método científico.

Tenhamos em conta que definitivamente, no próprio processo da investigação científica, este tipo de ceticismo é básico. Um dos princípios do método é a conhecida navalha de Occam, que advoga por uma simplicidade nas causas, por não andar buscando mais além do que o que temos na mão, se não for estritamente necessário. Este princípio é um dos fundamentais do ceticismo também, como o é a afirmação antes mencionada de Hume sobre as afirmações e o peso da prova.

O ceticismo moderno difere, entretanto, da corrente principal da ciência, quando opina que é interessante analisar científica e racionalmente as afirmações que se fazem sobre o paranormal. Esta vocação de não deixar de examinar nada rompe com o atual costume da especialização, mas ao mesmo tempo entronca diretamente com o trabalho daqueles que se dedicam à comunicação social da ciência. Isso é assim porque se reconhece o poderoso atrativo do oculto para a gente da rua, e o perigo da sua aceitação acrítica. E toma posição a respeito, estabelecendo como necessidade ou conveniência que a ciência dê a conhecer o que realmente sabe sobre esses temas, e que não fique calada ante as afirmações irracionais.

Não é uma postura negativista, como se costuma afirmar dos céticos, mas uma tarefa elementar do cidadão, que reconhece que em nossa sociedade o rótulo de “cientista” tem um valor muito importante, e portanto não é conveniente que qualquer um possa usá-lo sem mais aquela. Os céticos não são “contra” os ovnis, os astrólogos ou os homeopatas. Simplesmente, advertem publicamente que as afirmações deste tipo estão mal fundamentadas, não têm comprovações adequadas e que além disso há suspeitas suficientes de que estejam funcionando mecanismos “normais” que podem explicá-los (a navalha de Occam antes mencionada).

Além disso, o ceticismo aposta na divulgação e comunicação social da ciência, porquanto sabe que conforme a sociedade compreenda melhor o papel (o valor e o método) da ciência, e desenvolva uma capacidade de crítica ante as afirmações de todo o tipo, as irracionalidades terão mais dificuldades para expandir-se.

De umas décadas para cá, pessoas interessadas em divulgar estas posturas (cientistas, filósofos, comunicadores ou jornalistas, e mais gente) foram-se estabelecendo como pequenos grupos céticos, tentando facilitar a informação científica sobre estes temas, e tentando promover um pensamento crítico na sociedade {2}. É um trabalho árduo, que não poderia ser levado a cabo sem a colaboração dos interlocutores mais dispostos, precisamente os que estão estabelecendo os vínculos entre a ciência e a sociedade: cientistas e educadores, comunicadores, divulgadores e jornalistas...

Como comentávamos anteriormente ao analisar a situação dos meios de comunicação com respeito às pseudociências, é claro que os jornalistas científicos não “caem” tão facilmente nas afirmações destas falsas ciências, porque normalmente dispõem de um critério científico para discernir entre afirmações fundadas e saltos no ar. Embora nem sempre: o jornalista científico (de fato, qualquer jornalista) possui as ferramentas básicas para exercer uma crítica ante qualquer tipo de informação que recebe. Talvez deveríamos intervir para que estes critérios da profissão de comunicador sejam levados às suas verdadeiras conseqüências, inclusive com temas que parecem menores como os horóscopos ou os discos voadores.

Como final deste artigo, quero mencionar que nos últimos anos em nosso país (mas não só aqui), esta reivindicação por parte dos setores implicados na comunicação social da ciência está ocorrendo cada vez com mais força. Algo que é interessante. Por exemplo, a Asociación Española de Periodismo Científico, com o impulso de seu fundador Manuel Calvo Hernando, está incluindo o tema das pseudociências entre suas principais atuações.

Notas:

{1} Normalmente em parapsicologia se discriminam diferentes faculdades: percepção extrasensorial, que inclui a telepatia (leitura de outra mente), a clarividência (“ver” à distancia, isto é, sem usar os sentidos) ou a precognição (antecipação de acontecimentos futuros); e psicocinese, ou faculdade de executar ações físicas sem fazer nada “físico”, apenas “mental”. O fato de que se achem tão caracterizadas não impede duvidar da sua existência, especialmente à falta de experimentação suficiente e suficientemente repetida por investigadores independentes.

{2} Na Espanha existe a ARP-Sociedad para el Avance del Pensamiento Crítico, Apdo 310, 08860 Castelldefels, que edita a revista El Escéptico. E-mail: arp_sapc@yahoo.com.

Referências:

[1] Ramonet, Ignacio. “Un mundo sin rumbo: crisis de fin de siglo”. Concretamente o capítulo intitulado “Ascenso de lo irracional”, reproduzido na revista El Escéptico, nº2 Outono 1998, pp 43-50.

[2] Sokal, Alan; Bricmont, Jean: “Impostures Intellectueles”, 1997, Ed. Odile Jacob; versão norteamericana intitulada “Fashionable Nonsense: postmodern intellectuals”, 1998, Ed. Picador.

[3] Grey, William, “Ciencia y Psi-encia: la ciencia y lo paranormal (I)”, La Alternativa Racional, primavera 1994, nº32, pp. 23-27; “La búsqueda de la verdad: la filosofía y lo paranormal (II)”, LAR, verão 1994, nº33, pp. 11-17; “El proceso de explicación (III)”, LAR, especial X Aniversario, nº34-35, pp. 41-46; y “Escepticismo y conocimiento (y IV)”, LAR, primavera 1995, nº36, pp. 25-31.

[4] Kurtz, Paul, “Is parapsychology a science?”, 1978/1981, The Skeptical Inquirer, Vol 3. nº.2, pp. 14-23; reimpresso em Paranormal Borderlands of Science, ed. Kendrik Frazier, Prometheus Books, pp-5-23.

[5] Angulo, Luis, “Evidencias sobre videntes”, LAR, nº 11.

[6] MacDougall, Curtis, “Superstition and the Press”, 1983, Prometheus Books.

[7] Menéndez, Oscar. Comunicação realizada no curso “La América Irracional”, organizado pelo Instituto de América em Santa Fé (Granada), 13-14 nov 1998. (publicação pendente)

[8] Almodovar, Miguel Ángel. Comunicação sobre meios de comunicação no II Congreso Nacional sobre Pseudociencias. Alternativa Racional a las Pseudociencias, novembro 1994.

Autor: Javier Armentia
Fonte: Paranormal e Pseudociência em exame
Original: Euskonews & Media #30
Fonte: ateus.net

Para baixar ou ler no site, texto inteiro em PDF: Ciência vs. Pseudociências; Autor: Javier Armentia

Javier Armentia, Diretor do Planetário de Pamplona(Espanha) e
membro da ARP-Sociedad para el Avance del Pensamiento Crítico

Parte 2<< Para entender: Ciência vs. Pseudociências
Parte 1<< Para entender: Ciência vs. Pseudociências

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Para entender: Ciência vs. Pseudociências - parte 3

Parte 2: Para entender: Ciência vs. Pseudociências

3. O mercado do paranormal: oferta e procura

Comentávamos ao final do tópico anterior a existência de interesses econômicos e de poder, algo que caracteriza toda a atividade humana, mais especialmente as pseudociências. Parece que nós humanos temos necessidade de conhecer o que nos depara o futuro, aliviar nossas penas e angústias, tentar melhorar... da maneira que seja. As pseudociências normalmente proporcionam este tipo de alívio, análise ou solução de maneira simples e a troco de um simples “donativo” econômico. Esta procura é que permite a aparição do mercado do paranormal, que move cifras dificilmente calculáveis, mas sempre astronômicas. Fala-se que somente o assunto da futurologia supõe uma cifra superior aos 40 bilhões de pesetas anuais (470 milhões de reais) em nosso país. Os medicamentos homeopáticos começam a envolver cerca de um terço do volume de negócios das empresas farmacêuticas européias...

Quando se debatem assuntos pseudocientíficos às vezes se tende a recorrer à refutação das hipóteses, ou à exigência de provas suficientemente sólidas que lhes sirvam de suporte. Mas devemos reconhecer que, em muitos casos, as pessoas comuns não apelam a estes poderosos métodos de crítica. Damos mais peso à autoritas: quem faz a afirmação, quem a relata. Isto nos remete ao papel dos meios de comunicação, que “supomos” ter credibilidade, e nos quais às vezes aparece este tipo de afirmações extraordinárias.

Comentava o professor emérito de jornalismo norte-americano Curtis MacDougall [6] que levando em conta que grande parte do povo “conhece o que lê nos jornais” (por extensão nos meios de comunicação audiovisual), estes têm um papel fundamental na propagação e instalação das superstições modernas: “O que é que uma pessoa saberia se durante o último quarto de século se baseasse somente nos jornais norte-americanos para obter informação sobre percepção extra-sensorial, astrologia, predições do fim do mundo, espiritismo, fantasmas, poltergeists, exorcismos, o homem das neves, serpentes marinhas, cura psíquica, clarividência, ovnis e fenômenos similares? Teria essa pessoa os fatos?”. A resposta é negativa na opinião de MacDougall: estes temas se apresentam no geral (numa avassaladora maioria dos casos) de maneira acrítica e torcida a favor do sobrenatural.

Mas conviria examinar em detalhe: um recente acompanhamento realizado a quatro dos principais jornais de nosso país pelo jornalista Oscar Menéndez [7] durante o mês de outubro de 1998, mostra que as notícias com forma pseudocientífica aparecem normalmente em seções não relacionadas com a ciência e sim com meios de comunicação (televisão), recolhendo o aparecido em programas televisivos. Em geral o tratamento dado pelas seções de ciência (ciência, sociedade, ou futuro) era bastante sóbrio. Faz falta um estudo mais completo sobre este tema, que – em minha opinião – encontraria certas lacunas dentro das próprias seções de ciência, especialmente relacionadas com pseudociências no mundo da saúde.

É certo que a imprensa escrita é bastante sóbria na acolhida destas temáticas, que aparecem normalmente em amplos artigos de suplementos específicos ou de fins de semana, normalmente, mais do que como notícias “propagandísticas”. No entanto, a situação muda se consideramos globalmente os meios de comunicação.

Por um lado temos um setor de publicações especificamente dedicadas à promoção das pseudociências: como Más Allá, Enigmas, Año Cero, Karma 7... Nelas, os critérios de veracidade e verificação mínimos do trabalho jornalístico são esquecidos: a única coisa que vale é o espetacular, os mistérios, um conglomerado de filosofias Nova Era e expedientes X que têm em qualquer caso um importante público em nosso país. Têm uma tiragem menor que as revistas de divulgação científica (como Muy Interesante ou Quo), mas ao dedicar-se de maneira monotemática a estes assuntos quase chegam a exclusivizá-los. Por fim, as revistas de divulgação se dedicam principalmente à ciência e normalmente não dedicam demasiado espaço aos temas paranormais.

A imprensa periódica de modo geral, como dizíamos, apenas trata esses temas. Certamente, aparecem de vez em quando afirmações do paranormal sem suficiente conteúdo crítico; certamente, também, não é nas seções onde a notícia científica tem cabimento nesta mídia. A pergunta que podemos fazer é por que os critérios básicos da atividade jornalística de comprovação da notícia soem ser suspensos ao tratar desses temas. Quando se trabalha corretamente, o certo é que a maravilha pseudocientífica cai por seu próprio peso, e fica na anedota.

O problema mais premente está na mídia audiovisual, na rádio e televisão. A própria dinâmica dos mesmos permite mais facilmente apresentar o lado humano da pseudociência (os videntes, os contatados...) mais nada. Mais todavia quando o que se busca é o espetáculo, como sucede no que se sói catalogar como televisão lixo. É difícil pensar que estes pseudodebates ou programas de testemunhas podem fazer outra coisa que não seja apoiar esses mistérios aparentes. Em contrário, a presença da divulgação científica nesta mídia é realmente escassa... Comentava a esse respeito Miguel Ángel Almodovar [8] que estes programas se mantêm pelos mesmos critérios que regem o resto da mixórdia: o índice de audiência, o que significa benefícios através da publicidade. Mas que, como já aconteceu na França, ao investigar sobre o tipo de público destes programas, sobre as preferências de compra deste público, as próprias agências de publicidade acabam deixando de apoiá-los, porquanto não lhes interessa esse perfil para suas promoções. Um fenômeno que está chegando já ao nosso país: este ano os “teledebates” que fizeram sucesso nas temporadas passadas foram desaparecendo, dando lugar à formula dos ordinary-people-shows, que poderia no futuro seguir igual caminho. Em qualquer circunstância, fica claro que numa fórmula competitiva em termos de público e publicidade, os programas de divulgação científica, ou aqueles nos quais se exponha um debate sério, com argumentos, estão completamente “fora de moda”.

Porque, no fundo, a permanência e transmissão das pseudociências através dos meios de comunicação pertence ao mesmo tipo de fenômeno que enfrenta a própria comunicação social da ciência. Um tema sobre o qual não podemos nos estender neste artigo, mas sobre o qual paira a própria agonia e renascimento do jornalismo científico. Possivelmente, também, no caso das falsas ciências, vive-se uma situação todavia mais exagerada, quando no mesmo lado da classe científica (a pesquisa), estes temas são considerados de escasso interesse, ou inclusive diretamente perniciosos. Isto é, se costumamos comentar que um dos principais problemas que têm a comunicação social das ciências e o jornalismo científico é o escasso interesse por parte dos próprios cientistas (obviamente estamos generalizando) pelo tema, no caso das pseudociências temos dose dupla: estes temas são mal vistos.

Autor: Javier Armentia
Fonte: Paranormal e Pseudociência em exame
Original: Euskonews & Media #30
Fonte: ateus.net

Javier Armentia, Diretor do Planetário de Pamplona(Espanha) e
membro da ARP-Sociedad para el Avance del Pensamiento Crítico

Próximo>> Para entender: Ciência vs. Pseudociências - parte 4

domingo, 5 de julho de 2009

Para entender: Ciência vs. Pseudociências - parte 2

Parte 1: Para entender: Ciência vs. Pseudociências

Pensemos, finalmente, na homeopatia, doutrina médica segundo a qual diluições extremas de um princípio ativo são capazes de ter os mesmos (ou superiores) efeitos que o princípio sem diluir. As diluições homeopáticas são tão extremas que nem sequer tomando o equivalente à água de todos os oceanos de medicamento homeopático existe uma possibilidade real de encontrar uma só molécula de tal princípio. Uma diluição homeopática CH14, típica por exemplo em alguns dos medicamentos que se vendem atualmente em nossas farmácias contém 10-28 partes de soluto (princípio) para cada parte de solvente (água normalmente). Se recordarmos da química que o número de Avogadro nos dá o número de moléculas presentes em um mol, 6.233 x 1023, em um mol de medicamento deste tipo haveria tipicamente 6 x 10-5 moléculas: seriam necessários ao menos 10.000 mols (vários metros cúbicos) para encontrar uma molécula. E isto com um CH14, mas normalmente se encontram nestas farmácias diluições até CH18 ou CH20. É possível realizar um teste sobre a homeopatia? Dificilmente: se dá negativo, os homeopatas vão afirmar que isso se deve a que sua “Medicina” não fala de enfermidades, mas sim de enfermos, com o que as provas epidemiológicas não se revelam adequadas. As provas químicas tampouco valem: eles não renegam (agora, não certamente há dois séculos) a química, só que invocam uma entelequia informacional, algo chamado “memória da água”, completamente indetectável, e não refutável, portanto.

Por outro lado, é certo que os proponentes das pseudociências são normalmente muito resistentes à avaliação ou escrutínio público de seus experimentos. Isto vem sucedendo, por exemplo, à parapsicologia durante o último século. Amiúde, um sensitivo presumido (pessoa da qual se afirma que tem poderes mentais não convencionais {1}) perde suas faculdades quando se delineia o experimento de maneira que se evitem as possibilidades de fraude, isto é, de conseguir os resultados mediante truques, como fazem os ilusionistas e mentalistas. Costuma aduzir-se então a existência de uma espécie de força mental negativa que surge normalmente dos céticos, e que bloqueia estas pessoas “sensitivas”.

Algo similar sucede no caso dos videntes e astrólogos. Apesar de ganharem a vida, amiúde, com suas atividades, muito poucas vezes permitem fazer provas sobre seus poderes. De fato, eles próprios costumam superestimar suas capacidades quando se pode contrastar sua habilidade, como mostrou Luis Angulo [5], estudando predições publicadas de mais de uma dezena de videntes espanhóis. Apesar de que afirmavam ser capazes de adivinhar corretamente acima de 90%, o certo é que nenhum superava os 20% de acertos, incluindo como tais obviedades do estilo “no verão haverá incêndios”, etc.

Tem-se o costume de esquecer um princípio fundamental do método científico, expresso na máxima de Hume: “o peso da prova reside em quem faz a afirmação”, e completado com “afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias”. Mais adiante falaremos do papel do ceticismo científico, mas atendo-nos a estas máximas vemos como sistematicamente as pseudociências se furtam à análise para evitar ter que demonstrar suas afirmações. A gente não tem que demonstrar que não existem discos voadores: mas deve exigir aos que afirmam que são naves extraterrestres que forneçam as provas suficientes para suportar tal teoria. E que ademais essas provas sejam “extraordinárias”: ou seja, que não sejam circunstanciais ou um conjunto de casos curiosos. Podemos entender isto com uma analogia: se eu afirmasse que na sala de minha casa tenho uma vaca, a afirmação poderia parecer curiosa ou extravagante a qualquer um. Mas poderiam acreditar em mim sem mais aquela (por outro lado, bastaria visitar a sala da minha casa para comprovar a veracidade da minha afirmação). Porém, se o que afirmo ter em casa é um unicórnio, as coisas mudam: a ciência nunca encontrou um unicórnio, e por isso minha afirmação é extraordinária. Neste caso não bastaria que eu mostrasse minha casa a uma pessoa (ou várias), e sim estaria obrigado a permitir que especialistas – zoólogos neste caso – comprovassem que o que há em minha sala realmente é um unicórnio, e não um cavalo com um chifre colado na testa...

Evidentemente, o mundo das pseudociências é tão amplo como o são as fronteiras da ciência, onde elas ficam, adquirindo uma marca de “alternativo” bem a gosto desta época de pensamentos tolerantes e Novas Eras. Mas podemos distinguir dois tipos fundamentais, atendendo ao grau de “alarme social” que podem criar. É claro que ler horóscopos, ou freqüentar as mesas de adivinhos não vai provocar maiores males além de uma perda econômica. Talvez, certos sujeitos sem escrúpulos que aproveitam sua consulta de vidência para roubar às vítimas todo o seu dinheiro e posses seriam o mais grave neste tipo de pseudociências. Igualmente, algumas pessoas especialmente suscetíveis podem chegar a hipotecar sua vida pelo que lhes digam ou deixem de dizer essas pessoas. Neste grau, próximo ao mundo dos estelionatários, estão os produtos milagre, como a água imantada que faz alguns anos encheu os lares espanhóis de ímãs em volta das torneiras de água corrente. As maravilhas que prometiam estes inventos do TBO eram tão inexistentes como a possibilidade de imantar a água... Jogando com a incultura científica, estas companhias “matavam o boi” vendendo ímãs de quinhentas a quinze mil pesetas.

O mesmo acontece com o assunto dos discos voadores: são crenças em princípio não nocivas para o conjunto da sociedade. Uma vez mais, com a ressalva de fenômenos sectários como o sucedido na esteira da passagem do cometa Hale-Bopp com a seita “Heaven´s Gate”, cujos adeptos se auto-imolaram buscando a salvação com seus amigos extraterrestres. Numa escala superior de periculosidade está precisamente o mundo das seitas, que amiúde utiliza o atrativo do paranormal ou pseudocientífico para conseguir novos adeptos. No fundo, entretanto, a periculosidade destas seitas é um assunto difícil de definir, porquanto o limite entre o que se conhece como seita e uma religião estabelecida poderia não ser muito mais que demográfico.

Possivelmente, o grau mais alto da escala é ocupado pelas pseudociências associadas aos temas sanitários. As mal chamadas medicinas alternativas supõem em muitos casos um perigo real. Um exemplo é o caso divulgado há alguns anos em Barcelona em torno do “método Hamer” de cura do câncer. Segundo este austríaco e seus seguidores em vários países (médicos diplomados, por certo), o câncer tem uma origem exclusivamente psicossomática: no fundo é produzido por uma atitude negativa e autodestrutiva do paciente. A terapia que vai curá-lo é conseguir que elimine tal negatividade, mediante terapias de grupo, esquecendo-se os tratamentos “convencionais”. Mas estes pacientes com câncer estão normalmente perdendo a possibilidade de que um desses tratamentos os cure realmente, e está perdendo na maior parte dos casos um tempo precioso para atacar o câncer antes que seja irreversível.

É especialmente penoso constatar que em nosso país (também em nosso entorno europeu) a ciência médica preste tão pouca atenção a estes fenômenos pseudomédicos. Em especial, as organizações médicas colegiadas só lutam contra a intrusão: ou seja, denunciam os que praticam pseudomedicinas se e somente se não forem médicos diplomados ou não estiverem colegiados. Pelo contrário, em numerosas organizações provinciais já se criaram seções oficiais de homeopatia, naturopatia e outras pseudomedicinas. Pensemos na gravidade do tema quando nos encontramos com enfermidades como o câncer ou a AIDS (outro dos campos em que as pseudoterapias estão literalmente matando pessoas com completa imunidade).

Finalmente, dentro desta caracterização difusa ou tipologia das pseudociências, não deveríamos deixar de lado outras correntes de pensamento irracionalista dentro do âmbito das ciências humanas. Devemos mencionar que fenômenos similares aos comentados, e em alguns casos com grande capacidade de danificar nossa sociedade, se produzem em outras áreas de conhecimento onde normalmente não falamos de pseudociências. Nos referimos por exemplo a fenômenos relacionados com a xenofobia e o racismo, amiúde (recordemos as teorias nazistas do III Reich sobre pureza étnica ariana) sustentados com profusão de dados aparentemente científicos. Numa escala similar se situam as colocações sexistas ou racistas que se vêem freqüentemente em nossa sociedade. Às vezes, por falta outras vezes por excesso, ainda que esses temas nos levariam mais longe do que dá para ir neste artigo. Igualmente, mencionaremos nesta linha certas tendências extremistas que acontecem na temática do meio ambiente, onde se estão criando quase sistemas de crença e se estão utilizando as piores artes das falsas ciências para defender ideologias irracionais ou interesses econômicos. Um tema amplo, onde no momento todavia há pouco debate crítico.

Autor: Javier Armentia
Fonte: Paranormal e Pseudociência em exame
Original: Euskonews & Media #30
Fonte: ateus.net

Javier Armentia, Diretor do Planetário de Pamplona(Espanha) e
membro da ARP-Sociedad para el Avance del Pensamiento Crítico

Próximo>> Para entender: Ciência vs. Pseudociências - parte 3

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Para entender: Ciência vs. Pseudociências - parte 1

Faz-se necessário a postagem de textos que desmitificam o caráter pseudocientífico de grupos que dizem praticar algum tipo de método científico de análise mas que valem sempre do uso de falseamento e distorção de dados históricos com o fim de apresentarem alguma "teoria" de forma "coerente" e crível perante o público menos atento a este tipo de questão. A seguir segue um texto de Javier Armentia(Diretor do Planetário de Pamplona, Espanha) fazendo uma análise entre a forma de se manifestar das pseudociências em relação às ciências, o "revisionismo"(ou negação do Holocausto) se encaixa de forma plena no quesito pseudociência, daí a importância deste tipo de texto para esclarecer(distinguir) o que venha a ser uma e outra. O texto será dividido em quatro partes(conectadas por links umas com as outras) para melhor leitura de quem visitar o blog.

Ciência vs. Pseudociências

1. Introdução: o paradoxo atual

Comenta Ignacio Ramonet em seu livro “Um mundo sem rumo: crise de fim de século” [1]

“Em sociedades presididas em princípio pela racionalidade, quando esta se dilui ou se desloca, os cidadãos se vêem tentados a recorrer a formas de pensamento pré-racionalistas. Voltam-se para a superstição, o esotérico, o ilógico, e estão dispostos a crer em varinhas mágicas capazes de transformar o chumbo em ouro e os sapos em príncipes. Cada vez são mais os cidadãos que se sentem ameaçados por uma modernidade tecnológica brutal e se vêem impelidos a adotar posturas receosas antimodernistas.”

É certo que enfrentamos uma situação paradoxal: por um lado podemos coletar numerosos indicadores da crescente importância (e necessidade) da ciência e suas tecnologias na sociedade atual, da cada vez maior relevância da chamada comunicação social da ciência (jornalismo, divulgação, museus ou centros de ciência, mundo educativo... que constituem as ligações atuais entre a pesquisa científica e os cidadãos); por outro, a avaliação ou apreciação social desta mesma ciência não se ajusta ao papel que ela tem na sociedade. Mas, além disso, podemos perceber um crescente irracionalismo, associado normalmente com o que neste trabalho denominaremos globalmente pseudociências (que definiremos por extensão e por exclusão no tópico seguinte).

O paradoxo consiste em que se agora mesmo removêssemos os produtos da tecnociência, a civilização humana entraria em colapso. Apesar de a desconhecermos ou subestimarmos, a ciência – atenção! também culpável de cumplicidade com os sistemas econômicos e de poder, não se creia em uma espécie de torre de marfim acima do bem e do mal –, a ciência, dizíamos, é o substrato base do nosso presente e a única via factível de futuro. O problema deriva para uma percepção da ciência como uma espécie de igreja com seus rituais e seus oficiantes: nós cidadãos chegamos, em geral, a desfrutar dos dons da ciência, mas sem chegar a compreendê-los nem a analisá-los. Que isto seja errôneo e equívoco não impede que algo assim suceda. Quando por uma razão ou outra se furta ou evita o debate, a livre crítica que está no fundo do método científico, fica a liturgia. E as pseudociências aproveitam este abismo entre ciência e sociedade para aparecer como ciências quando realmente não o são.

2. Pseudociências: para uma definição

Não podemos aprofundar mais a análise presente sem realizar algum tipo de definição das pseudociências. Certamente, não é um tema simples, ainda quando etimologicamente equivalha a “falsas ciências”: disciplinas, portanto, que se aparentemente se revestem do manto da ciência, não o são na realidade. O termo “falso” parece indicar, sendo ademais no geral correto, uma certa intenção de engano consciente: amiúde se tenta tal disfarce com o interesse de dar uma respeitabilidade que possuem os produtos da ciência, e abusar da marca científica na hora de silenciar as possíveis críticas.

Em outros casos, se usa o prefixo para como identificador de algumas destas disciplinas, como é o caso da parapsicologia, ou no genérico de “fenômenos paranormais”: se põe assim evidente o próprio interesse dos promotores de tais disciplinas em situar-se à margem da corrente principal da ciência. É muito normal nesses setores se caracterizar o conhecimento científico como “ciência oficial”, com o claro interesse de desprestígio que supõe adscrever a ciência a um certo establishment dogmático. Algo que encontrou certo eco no que se denomina pensamento pós-moderno ou relativismo cultural, segundo cujos postulados o conhecimento científico não é senão um dentre os possíveis, sujeito aos mesmos vaivéns e influências irracionais das outras atividades humanas. Levar-nos-ia fora do objetivo deste trabalho realizar uma crítica do pós-modernismo. Recomendamos, em qualquer caso, o trabalho de Sokal e Bricmont “Imposturas Intelectuais”.[2]

Epistemologicamente, não obstante, fica complicada a definição de pseudociências, por ser uma definição negativa: “o que não é, ainda que pareça, ciência”. Coloca imediatamente a questão sobre quem decide o que seja ou não ciência. Ou seja, nos submerge no tormentoso assunto da definição de ciência, e seus critérios de demarcação, um tema que ocupou uma boa parte da discussão filosófica do nosso século. Para uma análise desse tema em profundidade, recomendamos a leitura dos artigos de William Grey intitulados “Ciência e psi-encia: a ciência e o paranormal” [3]. O também filósofo Paul Kurtz [4] comenta que as pseudociências são matérias que:

a) não utilizam métodos experimentais rigorosos em suas investigações;

b) carecem de uma armação conceitual contrastável;

c) afirmam ter alcançado resultados positivos, embora suas provas sejam altamente questionáveis, e suas generalizações não tenham sido corroboradas por investigadores imparciais.

Podemos nos valer desta caracterização porquanto aponta traços que com suficiente informação se pode tentar avaliar. Assim, temos o assunto da armação conceitual, que poderíamos redefinir como “a existência de hipóteses não refutáveis ou não falsificáveis” (no sentido popperiano). Sem entrar em detalhe na questão da falsificabilidade, esta característica está presente em muitas pseudociências. Apresentemos uns exemplos:

A psicanálise é uma teoria da mente que impede a realização de experimentos que possam ser falseados. Uma afirmação clássica (e básica para o desenvolvimento de sua teoria psicopatológica) da psicanálise é que todos os homens têm tendências homossexuais reprimidas. Tentemos realizar uma prova que permita descobrir se esta hipótese é científica: um teste de conduta e tendência que elucide se o sujeito tem tais tendências. Se o teste falha, o psicanalista dirá que isto é assim porque as tendências estão reprimidas, e não saem à luz; se o teste resulta correto, o psicanalista o interpretará como uma comprovação de sua hipótese. Não há maneira, portanto, de saber se a hipótese pode ser falsa, e, portanto, não é científica.

Outro caso extremo é dado por uma teoria solipsista. Seja: “Eu, Javier Armentia, acabo de criar o mundo faz 25 minutos e meio, com tudo o que se pode ver nele agora, incluindo o leitor deste artigo”. Não há maneira de refutar esta tresnoitada teoria: se alguém diz que possui lembranças da sua infância, ou provas de que lá esteve, seus familiares, fotos, etc.... sempre lhe poderei contestar que eu acabo de criar tudo isso, inclusive a memória desse passado inexistente. Bem, algo similar afirmam os chamados criacionistas evangélicos, para quem a Bíblia está literalmente correta. Se alguém tenta explicar que é impossível que o mundo se criou há somente 6.000 anos, como afirmam, porque há fósseis e rochas mais antigos, porque agora nos chega a luz de galáxias mais distantes que 6.000 anos-luz, eles respondem que Deus, em sua infinita providência, criou tais provas falsas: criou a luz a caminhar para a Terra, e plantou os fósseis e rochas antigas...

Autor: Javier Armentia
Fonte: Paranormal e Pseudociência em exame
Original: Euskonews & Media #30
Fonte: ateus.net

Javier Armentia, Diretor deo Planetário de Pamplona(Espanha) e
membro da ARP-Sociedad para el Avance del Pensamiento Crítico

Próximo>> Para entender: Ciência vs. Pseudociências - parte 2

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...