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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Os primeiros números (estimativas) do Holocausto

A historiografia, ou seja, a história da história, pode vir a ser fascinante, mas é pouco apreciada pelo grande público. É muito mais interessante para os leitores, por exemplo, uma história da guerra civil dos Estados Unidos, e não um estudo sobre como evoluiu o conhecimento sobre esta guerra nos últimos 150 anos.

Mas parece que há uma exceção à regra, na internet do século XXI: a historiografia do Holocausto.

O primeiro estudo sobre o Holocausto, em inglês, publicado em Londres em 1953, em Nova Iorque em 1954, e traduzido para o alemão em 1956, é este de Gerald Reitlinger: "A solução final. A tentativa de exterminar os judeus da Europa, 1939-1945", que se seguiu reeditando até 1982, que eu saiba. O autor foi se preocupando em ir atualizando o livro em sucessivas reedições até sua morte em 1979, refletindo a aparição de outros estudos e o descobrimento de nova documentação (por exemplo, ainda não haviam descoberto os relatórios de Koherr), mas mantendo o essencial de suas linhas mestras.

Sou o afortunado proprietário de um exemplar da segunda impressão do livro de Reitlinger, "The Final Solution", lançada no mesmo ano de 1953. Ou seja, é idêntica à primeira edição, que pelo visto se esgotou em pouco tempo, sendo assim imprimiram uma nova tiragem nesse mesmo ano.

Na continuação fotografo a páginas com o dado que o autor calculou para Auschwitz. Como se pode ver, e como já foi repetido tantas vezes, dois anos antes que o governo polonês abrisse ao público o Memorial de Auschwitz, Reitlinger estava muito longe da estimativa de "quatro milhões":

Observe-se além disso que, na citação superior do relatório soviético, não mencionam que as vítimas sejam majoritariamente judias, só cidadãos da URSS, Polônia, França....

E quanto ao número total... é usada a estimativa "mágica" de seis milhões? Não. Ainda que um comitê anglo-americano de 1946 houvesse calculado esses seis milhões, do que depois se restou cerca de uns 308 mil refugiados, os cálculos de Reitlinger situam suas estimativas entre 4.194.200 e 4.581.200:

A grande diferença de números está nos mais dificilmente comprováveis (em 1952), da Polônia, Romênia, ou da URSS, que além disso mudaram e muito suas fronteiras entre 1939 e 1953. Por exemplo, nas fronteiras da Bulgária, anterior a 1939, não foram deportados judeus para a Alemanha, mas sim de diversas zonas que ocuparam da Iugoslávia e Grécia, por isso que Reitlinger não soma os 5.000 do Comitê de 1946.

Contracapa desta primeira reimpressão. Seu sucesso, para um livro deste tipo, atrasou a publicação do estudo de Hilberg em seis anos. Os editores acreditavam que não houvesse mercado para outro livro sobre o mesmo tema.

Fonte: blog antirrevisionismo (El III Reich y la Wehrmacht), Espanha
https://antirrevisionismo.wordpress.com/2017/09/15/primeras-cifras-holocausto-mito-seis-millones/
Título original: Las primeras cifras del holocausto
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

E se o Holocausto foi pior do que pensamos? (Enciclopédia USHMM)

Auschwitz, Treblinka e o gueto de Varsóvia simbolizam o Holocausto na memória coletiva. Mas estes lugares não contam toda a história da perseguição nazi aos judeus. Por mais brutais que tenham sido, eles representam apenas uma fração minúscula do sistema de detenção, tortura e morte

Roupas e sapatos de campos de concentração no Museu do Holocausto em Washington, cujo projecto
de investigação ainda vai a meio. Nem todos os 42.500 locais tinham como objectivo o extermínio
de pessoas: o projecto contabilizou mais de 30 mil campos de trabalhos forçados, 1150 guetos judeus,
980 campos de concentração, mil campos de prisioneiros de guerra, 500 bordéis
Jim Young / Reuters
Há 13 anos, quando investigadores do Museu do Holocausto em Washington iniciaram o projeto de documentar exaustivamente todos os campos de concentração, prisões, guetos e centros de trabalhos forçados estabelecidos pelos nazis entre 1933 e 1945, foi-lhes dado uma estimativa de que teriam existido entre cinco e sete mil desses lugares. Os números não pararam de aumentar ao longo dos anos, à medida que avançaram a sua pesquisa. Até agora, os investigadores conseguiram identificar 42.500 desses lugares, um número que chocou até académicos ligados ao estudo do Holocausto quando foi anunciado no Instituto Histórico Alemão em Washington, em Janeiro.

"Se alguém me perguntasse quantos destes lugares existiram, eu teria dito 7000, 8000, 10 mil - 15 mil, no máximo. 42.500 é um número que nunca me teria passado pela cabeça", diz ao PÚBLICO Deborah Lipstadt, historiadora do Holocausto e professora na Emory University em Atlanta.

Geoffrey Megargee, o coordenador da investigação do Museu do Holocausto, admite que o número possa vir a aumentar porque o projeto ainda vai a meio. A data prevista de conclusão é 2025.

A descoberta mostra até que ponto a história do Holocausto ainda está a ser escrita, 68 anos depois do fim da II Guerra, que revelou ao resto do mundo a existência dos campos de concentração. O novo número oferece um retrato mais complexo e disseminado do horror nazi, um sistema por onde terão passado entre 15 e 20 milhões de pessoas, segundo as estimativas dos investigadores, e não apenas judeus, mas também outros grupos étnicos, homossexuais e prisioneiros de guerra. E, sublinha Megargee, o número de vítimas - seis milhões de judeus mortos - permanece inalterado.

"O Holocausto acaba de tornar-se mais chocante", escreveu o New York Times no início deste mês, quando publicou uma notícia sobre a nova contagem dos investigadores do Museu do Holocausto. "Quando uma pessoa lê isso, pensa: "O quê??? Isso é impossível!", diz Deborah Lipstadt. "Isto não muda as coisas, mas vem reforçar o que nós, que trabalhamos nesta área, já tínhamos constatado: que quando existem 42.500 diferentes campos, instalações, o que lhes quiser chamar, é virtualmente impossível que as pessoas na Alemanha e nos países alinhados não soubessem o que se estava a passar."

Essa também é a conclusão de Geoffrey Megargee. "Quando chegamos a um número como este, as pessoas podiam não saber os detalhes do que estava a acontecer nalguns destes lugares, podiam não estar cientes da sua escala, podiam não saber quantos judeus é que estavam a ser mortos na Europa de Leste, mas literalmente era impossível dobrar uma esquina na Alemanha sem encontrar centros de detenção de prisioneiros de guerra ou campos de concentração com trabalhadores forçados. As pessoas sabiam que os direitos humanos estavam a ser violados, se quisessem pensar no assunto. Podem ter preferido não ver os piores aspectos do sistema. Mas até certo ponto, o sistema estava à frente dos olhos de toda a gente."

Só em Berlim, os investigadores identificaram três mil campos de concentração e casas de reclusão para judeus. Nem todos os 42.500 lugares tinham como objetivo o extermínio de pessoas. Eles variavam em termos de função, organização e tamanho, conforme as necessidades dos nazis. Megargee e o seu colega Martin Dean contabilizaram mais de 30 mil campos de trabalhos forçados, 1150 guetos judeus, 980 campos de concentração, mil campos de prisioneiros de guerra, 500 bordéis onde as mulheres eram obrigadas a ter relações sexuais com militares alemães. Megargee nota que havia campos "especiais" de trabalhos forçados para judeus e campos de trabalhos forçados especificamente para não-judeus destinados a ajudar a economia alemã durante a guerra. As experiências podiam variar imenso. "Um prisioneiro de guerra americano ou um britânico tinha condições relativamente aceitáveis - e quero sublinhar a palavra "relativamente"", diz Megargee, porque, por regra, os campos onde se encontravam eram fiscalizadas pela Cruz Vermelha Internacional que, entre outras coisas, fazia chegar remessas alimentares.

"Mas no outro extremo dos prisioneiros de guerra estavam os soviéticos: 60% dos soldados soviéticos capturados pelos alemães morreram ou de fome, ou devido a abusos ou porque foram mortos."

Os investigadores também identificaram 100 clínicas, dirigidas por pessoal médico: quando uma trabalhadora forçada engravidava, era enviada para um destes estabelecimentos, onde era obrigada a abortar. Nos casos em que as mulheres davam à luz, os bebês eram mortos, normalmente por um lento processo de subnutrição. Em qualquer dos casos, a mulher regressava para o campo de trabalhos forçados.

"As pessoas perguntam-me: "Por que é que os alemães estavam a fazer isto quando tinham uma guerra para combater?" E a resposta é que isto fazia parte da guerra que estavam a combater. Eliminar os judeus era um objetivo de guerra para eles, não era uma distração", diz Geoffrey Megargee.

Levantamento exaustivo

Muitos dos lugares documentados pelos investigadores eram previamente conhecidos, mas apenas a nível local. Mas este é o primeiro levantamento exaustivo, que procura reunir toda essa informação num mesmo projeto.

O objetivo é catalogar tudo numa enciclopédia de sete volumes, dois dos quais já foram publicados e contêm cerca de duas mil páginas cada. O segundo volume, sobre guetos na Europa de Leste, contém cerca de 320 lugares cuja existência nunca tinha sido documentada em nenhuma publicação.

Sam Dubbin, um advogado da Florida que representa a maior organização de sobreviventes do Holocausto nos Estados Unidos, a Holocaust Survivors Foundation USA, nota ao PÚBLICO que há casos de sobreviventes a quem foram negadas compensações por não haver qualquer registro do lugar onde dizem ter sido encarcerados ou sujeitos a trabalhos forçados. Dubbin acredita que o trabalho dos investigadores do Museu do Holocausto pode ajudar a reparar essa lacuna. Segundo este advogado, muitos destes lugares permaneceram longe do conhecimento público durante tanto tempo porque havia entidades interessadas em manter essa informação secreta - companhias de seguros que protegiam os bens e propriedades que foram confiscados aos judeus, os Governos alemão e de países colaboracionistas - para não terem de pagar indenizações às vítimas do nazismo.

É uma tese que Deborah Lipstadt não rejeita inteiramente, mas considera algo exagerada. "Detesto teorias da conspiração. Passei grande parte da minha vida a lutar contra pessoas que difundem teorias da conspiração", diz, referindo-se aos revisionistas que negam o Holocausto. "Eu diria que é muito provável que tenha havido instituições, organizações, até mesmo organismos governamentais que não viram qualquer benefício em ter essa informação cá fora. Agora, quer isso dizer que havia pessoas sentadas sobre essa informação, a tentar escondê-la? Não me parece."

Geoffrey Megargee diz que começou por pensar no projeto como qualquer acadêmico pensaria. "Achei que a enciclopédia seria muito valiosa enquanto obra de referência, ponto. Mas quando saiu o primeiro volume, fiz uma apresentação no museu a um grupo de sobreviventes e houve um deles que se levantou, pôs a mão sobre o livro e disse: "Este é um livro sagrado." Para os sobreviventes, é muito importante que alguém esteja finalmente a documentar todos estes milhares de lugares que, de outra forma, estariam condenados ao esquecimento."

Kathleen Gomes, Washington
17/03/2013 - 00:00

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/e-se-o-holocausto-foi-pior-do-que-pensamos-26233035#/0

Ver mais:
O Holocausto ainda mais chocante: catalogaram 42.500 campos nazis na Europa (Matéria do New York Times)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sobre as perdas soviéticas da Segunda Guerra Mundial

Nosso leitor Marko Marjanović de Liubliana (Eslovênia) publicou uma versão atualizada de seu levantamento de perdas humanas da União Soviética na Segunda Guerra Mundial, que podemos ler e baixar a partir deste link.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2014/08/breaking-down-soviet-world-war-ii-losses.html
Dados adicionais do blog: Crappy Town
Texto: Roberto Muehlenkamp
Título original: Breaking Down Soviet World War II Losses
Tradução: Roberto Lucena
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Complemento: eu ia fazer um post com os dados deste blog Crappy Town cujo autor esloveno comentou no blog Holocaust Controversies, só que acabou não dando pra organizar os textos e links pois poderia ficar confuso se colocar os dados aleatoriamente. Ainda tentarei fazer um post com as tabelas (futuramente), pois há também uma página excelente (não lembro decorado o nome dela) com estimativas de mortos em vários conflitos, incluindo a segunda guerra mundial que cita vários livros e suas estimativas. Eu achei e coloquei esta página com as estimativas ainda no Orkut, na comunidade Segunda Guerra Mundial (a maior), mas como o Orkut chegará ao fim no próximo dia 30 de setembro, o que foi publicado lá virará pó a não ser que o Google libere a consulta ao que foi publicado posteriormente ao fechamento do site, mas eu salvei o link desta página em algum canto.

O Roberto Muehlenkamp colocou as informações no post do HC (blog), e a quem quiser acessar acima, consta a tradução do post original do HC com os links.

O problema das perdas soviéticas (observação do Roberto Muehlenkamp) é o de apurar quais mortes foram ocasionadas pela política genocida nazi, as mortes causadas pela repressão política soviética interna, as por acidentes, a perda de civis, perdas militares etc. É algo colossal, tanto que não existe um consenso fechado (cravado) sobre os mortos na União Soviética até hoje, mas a pesquisa do Marjanović merece ser vista.
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Quem quiser ler o adendo deste post, conferir no link:
Sobre a polarização e radicalização política no Brasil. Adendo do post de perdas soviéticas na Segunda Guerra

domingo, 3 de março de 2013

O Holocausto ainda mais chocante: catalogaram 42.500 campos nazis na Europa (Matéria do New York Times)

Matéria original saiu no NY Times com duas páginas The Holocaust Just Got More Shocking (http://www.nytimes.com/2013/03/03/sunday-review/the-holocaust-just-got-more-shocking.html). Segue abaixo uma tradução de uma matéria menor em outro jornal destacando o mesmo assunto.

O Holocausto ainda mais "chocante": catalogaram 42.500 campos nazis na Europa
Publicado: 2 mar 2013 | 22:33 GMT Última atualização: 2 mar 2013 | 22:33 GMT. ushmm.org

Um estudo dos pesquisadores do Museu Memorial do Holocausto dos EUA revela que a escala de extensão do Holocausto vai muito mais além dos marcos que os historiadores haviam traçado.

No total os autores do projeto documentaram e assinalaram no mapa 42.500 locais de tortura nazi onde, segundo estimativas, de 15 a 20 milhões de pessoas morreram ou foram presas.

Durante os últimos treze anos os pesquisadores, segundo escreve o jornal 'The New York Times', dedicaram-se à tarefa de contar e catalogar todos os guetos, campos de concentração, campos de trabalhos forçados e campos de prisioneiros de guerra que os nazis estabeleceram na Europa desde 1933 até 1945. Também na lista foram incluídos prostíbulos para militares alemães e centros de "cuidado" onde se realizavam abortos forçados e matavam as crianças recém-nascidas.
ushmm.org

"O número é muito mais alto do que se pensava originalmente", disse o diretor do Instituto de História Alemã em Washington, Hartmut Berghoff, em uma entrevista ao jornal. “Antes sabíamos o quão horrível que eram os campos e guetos", disse Berghoff, “mas esta cifra é incrível”.
ushmm.org

Geoffrey Megargee e Martin Dean, principais redatores do projeto, fizeram inventário de milhares de locais em uma enciclopédia de vários volumes cujas páginas se apresenta a história detalhada "das condições de trabalho e vida, a atitude dos conselhos judeus, a resposta judaica à perseguição, as mudanças demográficas e os detalhes da liquidação dos guetos".

O estudo do Museu Memorial do Holocausto além de ter grande valor histórico pode ajudar as pessoas que sobreviveram e agora lutam pela recompensa. "Quantas demandas foram rechaçadas tão somente porque as vítimas se encontravam em um acampamento que nem sequer conhecemos?", disse ao jornal estadunidense Sam Dubbin, advogado que representa os interesses dos sobreviventes.

Fonte: RT.com (Rússia)
http://actualidad.rt.com/actualidad/view/87987-holocausto-escala-increible-campos-nazi-europa
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 24 de abril de 2011

Seis milhões

Em 1905, a população judaica do Império Russo (incluindo a Polônia) foi contada em cerca de 6,060,415. E esta estimativa acabou ainda sendo usada por fontes judaico-americanas em 1917 (AJC Yearbook, 1916-1917, p. 276). Portanto, e logicamente, essas organizações judaico-americanas seguindo na busca por ajuda para seus irmãos naquela região citariam uma estimativa de 6 milhões.

Entretanto, o Arquivo de Jornais do Google nos retorna esses resultados para o período de 1905-1939:

"Cinco milhões de judeus": 42
"Seis milhões de judeus": 44
"Três milhões de judeus": 57
"Milhões de judeus": 1,520

Além disso, histórias relatando a iminente fome, deportação ou aniquilação de 5 milhões (não seis) podem ser encontradas aqui, aqui, aqui e aqui. Histórias similares referindo-se a "três milhões de judeus" encontram-se aqui e aqui. O segundo artigo pede por ajuda "para que três milhões de judeus não desapareçam da face da Terra."

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2011/04/six-million.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: para quem não entendeu o contexto e o conteúdo do post, favor ler o complemento abaixo com os comentários do Jonathan Harrison (na parte de comentários do blog Holocaust Controversies), sobre o post, refutando mais uma(de tantas) baboseira "revi".

Complemento: comentários do Holocaust Controversies "Six Million"

Ben diz...
Então, você está dizendo que o número de vítimas do Holocausto é menor que seis milhões?

Jonathan Harrison diz...
Não, eu estou refutando a afirmação feita por negadores do Holocausto de que 6 milhões foi um número fabricado baseado em previsões pré-1939. Negacionistas dizem que 6 milhões era a estimativa dominante na cultura judaica antes do Holocausto. Este artigo mostra que, nem de longe, este era o caso em questão, o das citações da imprensa.

Ler mais:
A Teoria do "Holocausto" da Primeira Guerra Mundial (por Jamie McCarthy e Ken McVay)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

5 milhões de vítimas não judias? (1ª Parte)

Quem faz uma pesquisa Google buscando informação sobre vítimas não judias de chacina em massa nazi, encontra entre as primeiras páginas esta, titulada "Five Million Forgotten" ("Cinco milhões esquecidos") e que liga para um site chamado "Non-Jewish Victims of the Holocaust • Five Milion Forgotten" ("Vítimas não judias do Holocausto • Cinco milhões esquecidos"), mantido por Terese Pencak Schwartz. A este site também liga The Holocaust History Project (ligação # 22), que o refere como "A site focusing on the 5 million non-Jewish victims of the Holocaust"("Um site focado nas cinco milhões de vítimas não judias do Holocausto").

Segundo a Sra. Schwartz (minha tradução),

Onze milhões de vidas humanas preciosas perderam-se durante o Holocausto. Cinco milhões eram não judeus. Três milhões eram cristãos e católicos polacos.


Sob o subtítulo "Who Were the Five Million Non-Jewish Holocaust Victims?" ("Quem eram as cinco milhões de vítimas não judias do Holocausto?"), a Sra. Schwartz escreve sobre polacos, Testemunhas de Jeová ("For Their Religious Belief, They Stood Firm", "Mantiveram-se firmes pela sua fé religiosa"), ciganos romani ("For Their Race They Were Executed", "Pela sua raça foram executados"), opositores dos nazis por motivos políticos, humanitários e religiosos ("Men and Women of Courage From All Nations" - "Homens e mulheres corajosos de todas as nações"; "Priests and Pastors Died for their Beliefs" - "Padres e pastores morreram pela sua fé"), homossexuais, deficientes, crianças de raça negra esterilizadas, e conjugues de vítimas de perseguição que preferiram a morte ao divórcio. Não se apresenta um desdobramento das duas milhões de vítimas que, segundo a afirmação introdutória acima citada, pertenciam às outras categorias além de "cristãos e católicos polacos", mas são mencionadas algumas cifras parciais ("Half a million Gypsies, almost the entire Eastern European Gypsy population, was wiped out during the Holocaust" - "Meio milhão de ciganos, quase a totalidade da população cigana da Europa, foram eliminados durante o Holocausto"; "Between 5,000 to 15,000 homosexuals died in concentration camps during the Holocaust" - "Entre 5.000 e 15.000 homossexuais morreram em campos de concentração durante o Holocausto".) No que respeita aos deficientes, refere-se que "Durante o 'programa de limpeza' de Hitler, milhares de pessoas com várias deficiências foram consideradas inúteis e simplesmente mortas como cães e gatos". No que respeita aos polacos não judeus, há uma ligação para um artigo de Edward Lucaire, um escritor freelance, que menciona (minha tradução) "três milhões de cristãos polacos mortos que, por acaso, excederam largamente em número o conjunto de mortos entre os Testemunhas de Jeová (2.000), os ciganos (400.000), os homossexuais (10.000 no máximo, segundo Peter Novick em The Holocaust in American Life), deficientes, etc., habitualmente mencionados na literatura do Holocausto". Esta afirmação, bem como as cifras parciais referidas pela própria Sra. Schwartz, sugerem que o número agregado de vítimas das categorias da Sra. Schwartz para além dos "cristãos e católicos polacos" é bastante inferior aos dois milhões implícitos na sua afirmação supra citada. De facto é, como será pormenorizado na Parte 2 deste artigo, onde também mencionarei fontes que mostram que os "três milhões de cristãos polacos mortos" referidos por Lucaire e Schwartz são um exagero, resultante de um método de cálculo inadequado.

Portanto, onde é que a Sra. Schwartz obteve o total de cinco milhões de não judeus cujas "vidas se perderam durante o Holocausto"?

Esta cifra, ao que parece, remonta a Simon Wiesenthal, quem a "inventou" para "fazer com que os não judeus se sentissem como se fossem parte de nós" – ao menos isto foi o que Wiesenthal, segundo um discurso de Walter Reich sobre "The Use and Abuse of Holocaust Memory" – "O uso e abuso da memória do Holocausto" – , disse ao historiador do Holocausto Yehuda Bauer. A afirmação de Wiesenthal também é referida no óbito a Simon Wiesenthal de Michael Berenbaum, publicado em Forward em Setembro de 2005 (minha tradução):

De facto, a batalha filosófica melhor conhecida de Wiesenthal foi contra Wiesel. Os dois confrontaram-se indirectamente em fins da década de 1970 sobe a questão de quem eram as verdadeiras vítimas do Holocausto, isto é, se o Holocausto era um evento judaico ou um evento universal. Wiesel argumentou que o Holocausto era uma experiência unicamente judaica, arrumando o papel dos não judeus no Holocausto com o virar de uma frase: "Embora não todas as vítimas foram judeus, todos os judeus foram vítimas."
Wiesenthal, por outro lado, argumentou que o Holocausto foi a morte de 11 milhões de pessoas, 6 milhões de judeus e 5 milhões de não judeus. A cifra era inventada: Se considerarmos todas as mortes civis não judias, é demasiado baixa; se considerarmos apenas aqueles que morreram às mãos da maquinaria assassina nazi, é demasiado alta.[ênfase meu – RM]. Mas o aspecto central era a convicção de Wiesenthal de que a inclusão de não judeus era essencial ao seu compromisso pós-guerra. As nações deviam sentir que perderam a sua própria gente para que levassem os criminosos de guerra perante a justiça.


Qual é o significado do termo "maquinaria assassina nazi", conforme utilizado pelo autor da citação supra?

O termo evoca a imagem de chacina em massa sistemática executada por assassinos especializados, tal como foi praticada nos campos de extermínio nazis e nas operações móveis de matança das Einsatzgruppen e outras formações alemãs. Os anteriores, segundo Raul Hilberg em The Destruction of the European Jews, cobraram "até 2.700.000" vítimas judias, enquanto cerca de 1.300.000 judeus foram abatidos a tiro em campo livre. Hilberg estimou mais 150.000 judeus mortos pelos aliados romenos e croatas da Alemanha, 150.000 que morreram em "campos com mortandade de poucas dezenas de milhares ou inferior" (incluindo "campos com operações de matança" e campos de concentração tais como Bergen-Belsen, Buchenwald, Mauthausen, Dachau, Stutthof) e 800.000 vítimas judias de "guetização e ocupação em geral", somando as suas cifras um total da 5,1 milhões de vítimas da destruição pelos nazis da população judaica da Europa.

Quais destas vítimas judias da perseguição e chacina em massa nazis podem ser consideradas como tendo morrido "às mãos da maquinaria assassina nazi" no sentido da afirmação do Sr. Berenbaum, acima citada?

Todas elas, uma vez que o Sr. Berenbaum, enquanto afirma que a cifra de 5 milhões de não judeus de Wiesenthal é demasiado alta "se considerarmos apenas aqueles que morreram às mãos da maquinaria assassina nazi", não faz a mesma restrição no que respeita aos 6 milhões de judeus que também menciona, implicando desta forma que considera a totalidade dos 6 milhões como tendo morrido "às mãos da maquinaria assassina nazi".

Uma parte significativa das vítimas judias daquilo que Hilberg chama "guetização e ocupação em geral" morreu antes de os nazis terem começado com o extermínio sistemático dos judeus da Europa, conhecido como a "solução final" da "questão judaica". A matança com carácter de genocídio dos judeus começou, o mais cedo, em Agosto de 1941, altura em que, conforme salientado pelo historiador alemão Christian Gerlach na página 63 do seu livro Krieg, Ernährung, Völkermord ("Guerra, alimentação, genocídio"), as unidades das SS e da polícia alemãs nos territórios soviéticos ocupadas começaram a matar também mulheres e crianças judias em grandes números e logo avançaram para o extermínio de comunidades judias inteiras. Christopher Browning (minha tradução) "acredita que Hitler tomou a sua decisão em Julho de 1941, no pináculo das grandes vitórias militares na Rússia", enquanto Gerlach mantém que a autorização de Hitler para avançar com o genocídio a nível europeu foi dada em 12 de Dezembro de 1941 , e Peter Longerich afirma que (minha tradução) "Um escalamento adicional da política de extermínio pode ser observado no período entre Maio e Junho de 1942" e que (minha tradução) "em Julho de 1942 um programa abrangente de assassinar sistematicamente os judeus nas áreas sob controlo alemão tinha sido implementado". No entanto, muito antes da primeira destas datas, e ainda mais tempo antes de as deportações para o campo de extermínio de Treblinka terem começado em fins de Julho de 1942, a mortalidade por fome e doença já tinha sido elevada no Gueto de Varsóvia (minha tradução):

Em Novembro de 1940 o gueto foi selado. Já havia 445 mortes no gueto. Depois a mortalidade subiu rapidamente: em Janeiro de 1941 para 898, em Abril para 2.061, em Junho para 4.290 e em Agosto para 5.560. Depois a cifra mensal passou a flutuar entre 4.000 e 5.000 enquanto o gueto existiu.


Em outros guetos ghettos a situação era similar (minha tradução):

A intolerável densidade populacional, facilidades higiénicas e sanitárias inadequadas – no gueto de Lodz 95% dos apartamentos não tinham saneamento, água em condutas ou esgotos – a falta quase total de medicamentos, a falta de combustível para aquecer, e rações de fome, juntaram-se para produzir condições em que doença e epidemias eram inevitáveis. No gueto de Kutno, que os alemães alcunharam de Krepierlager ("Campo para bater as botas"), entre Março e Dezembro de 1941 42 % de todas as mortes foram pacientes de tifo. A taxa de mortalidade geral durante este período em Kutno foi quase dez vezes superior à taxa antes da guerra, uma vez que outras doenças contagiosas também eram comuns.


Na página 96 de The Destruction of the European Jews, edição para estudantes de 1985 (citada neste tópico do fórum RODOH), Raul Hilberg escreveu o seguinte (minha tradução):

A comunidade judaica da Polónia estava moribunda. No último ano anterior à guerra, 1938, à taxa de mortalidade média mensal em Lodz era de 0,09 por cento. Em 1941, a taxa aumentou para 0,63, e durante os primeiros seis meses de 1942 foi de 1,49. O mesmo fenómeno, comprimido num único ano, pode ser notado no gueto de Varsóvia, onde a taxa mensal de morte foi de 0,63 na primeira metade de 1941 e 1,47 na segunda. Na sua ascensão para este patamar, as duas cidades eram quase idênticas, embora Lodz fosse um gueto hermeticamente fechado, que tinha a sua própria moeda e onde o mercado negro era essencialmente o produto de trocas internas, enquanto o queto de Varsóvia estava envolvido em contrabando extensivo, "silenciosamente tolerado" pelos alemães. As taxas de natalidade em ambas cidades eram extremamente baixas: em Lodz havia um nascimento por cada vinte mortes, enquanto em Varsóvia, no início de 1942, o rácio era de 1:45. A implicação destas cifras é bastante clara. Uma população com uma perda neta de um por cento por mês diminui para cinco por cento do seu tamanho original em apenas vinte e quatro anos.


Podem os judeus que morreram a este passo de fome e doença considerar-se como tendo morrido "às mãos da maquinaria assassina nazi", independentemente de se (como Hilberg, que no parágrafo que se segue ao acima citado refere que o passo da mortandade judia não era "suficientemente rápido" para os decisores alemães, parece ter acreditado) ou não (como corresponde às teorias de Browning, Gerlach e Longerich, que na minha opinião têm a evidência em seu favor) os nazis já tinham a intenção de eliminar todos os judeus da Europa muito antes de soltar os seus esquadrões da morte móveis contra todos os judeus soviéticos e construir campos de extermínio para os quais eram deportados judeus de todas as partes da Europa dominada pelos nazis, em vez de as políticas nazis se terem tornado gradualmente mais radicais até atingirem a fase do genocídio, o mais cedo em Agosto de 1941?

Podem, se o termo "maquinaria assassina" do Sr. Berenbaum é interpretado num sentido mais amplo do que aquele que é sugerido pela sua redacção, de modo a incluir não apenas matanças directas sistemáticas mas também mortes devido a condições de vida deliberadamente impostas a uma população sabendo que iriam conduzir a um grande aumento da mortalidade, independentemente de o objectivo desta imposição ter sido ou não o extermínio ou a redução da população em questão.

Além de os submeter a mortíferas condições de vida, os nazis estavam activamente matando judeus já antes da que considero a data mais antecipada do início do programa de genocídio a nível europeu, ou seja, a que corresponde à teoria Browning. Na página 10 de Krieg, Ernährung, Völkermord, traduzida no meu artigo One might think that ... (versão portuguesa: Até parece que ...), Gerlach refere "de várias dezenas de milhares de polacos judeus e não judeus" assassinados pelos nazis até Maio de 1941. Uma recente exposição tem mostrado documentação sobre crimes cometidos pela Wehrmacht na Polónia em Setembro/Outubro de 1939, incluindo os seguintes (minha tradução):

Judeus polacos com as suas vestimentas e cortes de cabelo e barba tradicionais converteram-se em caça livre para os soldados alemães. Violentações e fuzilamentos arbitrários de judeus eram o pão de cada dia.


Um destes casos se encontra registado na acta oficial de uma reunião entre o comandante em chefe do exército e Reinhard Heydrich em 22 e Setembro de 1939, citada na página 63 do livro de Helmut Krausnick book Hitler’s Einsatzgruppen. Die Truppen des Weltanschauungskrieges 1938-1942 ("As Einsatzgruppen de Hitler. As tropas da guerra ideológica 1938-1942"), 1985 Frankfurt am Main: em Pulutsk, 80 judeus foram "abatidos a tiro pelas tropas de forma animal" ("niedergeknallt in viehischer Weise"). Em outro incidente perto de Rozan no rio Narew, 50 judeus, que durante o dia tinham sido empregues na reparação de uma ponte, foram à noite empurrados para dentro de uma sinagoga e abatidos a tiro "sem razão" (Krausnick, página 66). Um relatório do comandante de um Einsatzkommando referiu que a cidade de Bromberg estava "completamente livre de judeus" porque durante uma "acção de limpeza" em 11 de Novembro de 1939 todos os judeus que não tinham anteriormente fugido tinham sido "removidos", i.e. "eliminados" (Krausnick, página 73).

Tal como as vítimas das privações impostas pelos nazis nos guetos, as vítimas judias de estes e outros massacres iniciais, que não eram ainda parte de um programa de aniquilação sistemática, são obviamente consideradas pelo Sr. Berenbaum como tendo morrido "às mãos da maquinaria assassina nazi", o que se pode considerar correcto se o termo "maquinaria assassina" for entendido como incluindo também uma mortífera "limpeza étnica" e/ou massacres aleatórios resultantes de ódio racial inculcado nos seus executores por uma maquinaria de propaganda controlada pelo estado. A responsabilidade do estado por chacinas em massa resultantes de tal doutrinação é salientada no livro de Matthew Cooper The Phantom War ("A guerra fantasma"), como segue (minha tradução, ênfases acrescentadas por mim):

A história do regime alemão na Rússia ocupada em geral, e das suas medidas de segurança em particular, também revela muito sobre a responsabilidade de Hitler pelas incomensuráveis atrocidades que tiveram lugar durante a guerra. Certamente, embora tenha dado ordens de grande crueldade quanto às políticas a serem seguidas em relação à população russa, estão não incluíram a menção de qualquer desejo de cometer genocídio. Talvez, portanto, se possa argumentar que Hitler não tinha a intenção de permitir aos seus funcionários políticos e soldados dedicar-se à destruição de vinte milhões de russos, dos quais pelo menos 750,000 eram judeus – a enormidade destas cifras se torna clara quando se tem em conta de que o número de soldados e guerrilheiros soviéticos mortos em combate perfaz cerca de um terço do total. Talvez até se possa dizer que o Führer não tinha conhecimento de que semelhante matança, iniciada apenas por subordinados tais como Heinrich Himmler, estava acontecendo. Talvez. Mas o que pode ser estabelecido sem lugar a dúvida é que foi Hitler, e apenas ele, quem criou as condições devido às quais este mal pode ser feito. Foi ele quem formou a mentalidade dos invasores. Sem as suas arengas contra os eslavos e os judeus – os sub-humanos – e sem as suas ordens, ou as que emanaram à sua instância e com a sua aprovação dos seus mandos militares, os altos mandos da Wehrmacht e do exército, as atrocidades perpetradas pelos seus SS e os seus soldados não teriam tido lugar. Como Erich von dem Bach-Zelewski, chefe das formações contra-guerrilha das SS, iria dizer ao Tribunal Militar Internacional em Nuremberga depois da guerra: Se durante décadas se predica a doutrina de que a raça eslava é uma raça inferior, e que os judeus não são humanos de todo, uma explosão destas é inevitável. A responsabilidade por isto é de Hitler.


Quando em fins de 1941 as forças de ocupação alemãs na Sérvia lançaram uma campanha de mortíferas represálias contra a população civil, visando esmagar o emergente movimento de resistência, judeus e ciganos foram vítimas frequentes, e em certa altura até preferenciais, das matanças de represália. O texto seguinte é um extracto do artigo de Christopher Browning Germans and Serbs: The Emergence of Nazi Antipartisan Policies in 1941 (minha tradução, ênfases acrescentados por mim):

Enquanto os sérvios receberam uma folga parcial do terror alemão, isto não ajudou aos judeus e aos ciganos. Embora os alemães conseguissem perceber que nem todos os sérvios eram comunistas e que o fuzilamento indiscriminado de sérvios inocentes prejudicaria os interesses alemães, não tinham dúvida de que todos os judeus eram anti – alemães e que os ciganos não eram diferentes dos judeus. E quanto maior o cuidado a exercer na selecção de reféns sérvios, tanto maior a pressão de encontrar em outro sítio reféns para preencher a quota de 100:1. A nova política alemã estipulou de forma sucinta o seguinte: em princípio pode-se afirmar que os judeus e ciganos em geral representam um elemento de insegurança, e portanto um perigo para a ordem e segurança públicas. É, portanto, uma questão de princípio que em qualquer caso todos os homens judeus e todos os ciganos de sexo masculino estão à disposição das tropas como reféns. O destino dos homens judeus e ciganos na Sérvia estava assim selado, e a sua execução por pelotões de fuzilamento do exército foi completada até inícios de Novembro.
Ao mesmo tempo o rumo da batalha na Sérvia virou a favor dos alemães, e até Dezembro os guerrilheiros se tinham retirado às regiões montanhosas da Bósnia e da Croácia para além da fronteira sérvia. Continuariam a sua luta contra os alemães em outros sítios, mas não regressariam em força à Sérvia até 1944. Concluída a primeira fase da guerra de guerrilha na Sérvia, a conta dos mortos em represália se situava em cerca de 15.000, does quais aproximadamente 4.500 a 5.000 eram judeus e ciganos.


Também na União Soviética depois de 22 de Junho de 1941, os judeus foram alvo de retaliações por ataques contra tropas alemãs, antes de a sua matança sistemática pelas Einsatzgruppen e outras formações os tornar indisponíveis para estes efeitos. Seguem-se as minhas traduções de anotações em diários de soldados alemães, citadas em Hannes Heer, Tote Zonen. Die Deutsche Wehrmacht an der Ostfront. ("Zonas mortas. A Wehrmacht alemã na frente leste"), página 101:

Do diário do cabo Werner Bergholz:

(…)2.7.[1941] Esta noite dois guardas foram abatidos. Cem pessoas foram executadas por isto. Provavelmente eram todos judeus.


Do diário do Major Reich:

2.7.1941. Judeus abatidos. 3.7. Pomo-nos a caminho. 22 soldados russos, alguns deles feridos, são abatidos na quinta de um camponês.(…) 9.7. Comissário liquidado por destacamento de metralhadora. (…) 12.7. Casas limpas, ordenadas. O meu capacete é roçado por um tiro de trás. Três aldeões morrem por isto. (…) 13.7. Um soldado alemão da força aérea morto, 50 judeus abatidos a tiro.
.

Tal como as vítimas anteriormente mencionadas de privações em guetos e brutalidade aleatória na Polónia, as vítimas judias de matanças de represália na Sérvia e na União Soviética foram alvo de violência nazi contra não combatentes que não visava (ainda) o extermínio, não era parte da "solução final" da questão judaica. No entanto, todas estas vítimas são obviamente consideradas pelo Sr. Berenbaum como tendo morrido "às mãos da maquinaria assassina nazi", tal como os judeus mortos em campos de extermínio ou nas operações de matança móveis sistemáticas das Einsatzgruppen e outras formações das SS e da polícia. Este entendimento é correcto ao abrigo de uma definição alargada do termo "maquinaria assassina" que inclui não apenas vítimas de um programa de extermínio, mas também outros não – combatentes mortos deliberadamente (no sentido de que as suas mortes foram intencionadas ou pelo menos previstas e aceites) por violência que não era parte de acções militares, não visava atingir objectivos militares ou não estava justificada por necessidades militares, i.e. por actos ou omissões consideradas como criminais ao abrigo das legislações nacionais e do direito internacional em vigor na altura em que foram cometidos.

Ora, quantos não judeus morreram de facto às mãos da "maquinaria assassina nazi", conforme acima definida? Embora um número mais ou menos exacto seja difícil se não impossível de estabelecer, é demonstrável que a ordem de grandeza excede os cinco milhões "inventados" por Simon Wiesenthal. Na próxima parte deste artigo tentarei tabular, país a país, os não judeus que perecerem devido a violência criminal por parte de Alemanha nazi e dos seus aliados, abrangendo todos os países que ou fizeram parte dos poderes do Eixo ou foram ao menos parcialmente ocupados por estes.

[Tradução adaptada do meu artigo 5 million non-Jewish victims? (Part 1) no blog Holocaust Controversies.]

2ª Parte

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