O presidente da Romênia promulgou uma lei que penaliza a negação do Holocausto e o fomento do Movimento Legionário fascista com sentenças de até três anos de prisão.
O presidente Klaus Iohannis assinou na terça-feira emendas a uma legislação já existente, aprovadas no mês passado pelo Parlamento.
A legislação também proíbe organizações e símbolos fascistas, racistas, xenofóbicos, e promover culpados de crimes contra a humanidade. As sentenças serão de até três anos de prisão.
A negação do Holocausto se refere a negar a participação da Romênia no extermínio de judeus e Romanis (ciganos) entre 1940 e 1944. Cerca de 280.000 judeus e 11.000 Romas, ou ciganos, foram assassinados durante o regime pró-fascista do ditador Marechal Ion Antonescu.
A Romênia tem poucos grupos radicais de direita como o Noua Dreapta, que poderia se ver afetado pela lei.
AP 22.07.2015 - 08:46h PST
Fonte: 20minutos (Espanha)
http://www.20minutos.com/noticia/b85789/rumania-prohibe-simbolos-fascistas-y-negar-el-holocausto/
Tradução: Roberto Lucena
Ver mais:
Rumania prohíbe símbolos fascistas y negar el Holocausto (Pulso, México)
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quarta-feira, 22 de julho de 2015
quinta-feira, 18 de junho de 2015
As raízes ideológicas do antissemitismo fascista (III)
Os imperadores romanos decadentes e culpados fustigados pelo fascismo
No primeiro número de La Difesa della Razza de 1938, Giorgio Almirante redige um longo artigo intitulado de "O edito de Caracala. Um semibárbaro que aplanou o caminho aos Bárbaros". As ilustrações do artigo não oferecem ambiguidade alguma: um busto de Caracala é comparado a um busto de Augusto. O primeiro é comentado da seguinte maneira: "os traços grosseiros do semibárbaro Caracala ilustram o principal causa de seu edito desastroso." Do contrário, o de Augusto, "que não quis contribuir com a barbarização do Império, reflete em seu rosto a nobreza da raça itálica".
Em seu requisitório contra a política de Caracala, Almirante utiliza um parágrafo de Dion Cássio no qual Augusto desaconselha a Tibério outorgar a cidadania romana numa ampla escala. Almirante também recorre à Apocolocyntosis divi Claudii (A Apocoloquintose do divino Claudio) de Sêneca, onde se critica a política de "abertura" aos estrangeiros.
O governo do imperador Claudio foi bastante generoso em matéria de cidadania romana, como a confirma Tácito quando transcreve o discurso de Claudio ante o Senado no ano de 48 anunciando a admissão ao Senado dos notáveis galos (Anais, 11 (24)). Na lógica da política racial empreendida pelo fascismo mussoliniano em fins dos anos de 1930, a política de Claudio só podia ser considerada como um "mau exemplo" e desacreditada de todo pelo regime.
Para a propagandística fascista, o princípio da decadência romana se situa com os denominados imperadores provinciais do século II. O imperador hispânico Adriano concedeu demasiada importância à contratação regional e aos corpos militares estrangeiros no sei das forças armadas do Império.
Sem dúvida, os fascistas daqueles anos do século XX se referiam aos Numerus, que constituíam tropas especializadas, como os ginetes mouros, aos arqueiros palmirianos e as tropas germânicas. Se é certo que a contratação regional foi a regra para as legiões, que os contingentes auxiliares frequentemente constaram de bárbaros, não obstante parece que não gozaram habitualmente da cidadania romana.
Podemos apreciar a mesma crítica fascista ante o imperador Marco Aurélio, um itálico de origem mas "imbuído de espírito grego" (um "mau" imperador para os fascistas), que concedeu a cidadania romana a numerosos provincianos.
O caso é que sim, a cidadania romana foi cada vez mais difundida no Império, particularmente mediante a naturalização concedida aos soldados dos corpos auxiliares no momento de sua desmobilização. Contudo, para evitar as fraudes, o certo é que Marco Aurélio criou um verdadeiro estado civil tornando obrigatória a declaração dos nascimentos num lapso de trinta dias.
No que diz respeito ao reinado de Sétimo Severo, só houve um comandante ordinário de Viena, na Gália Narbonense, que formava parte das três legiões de Pártia, tanto que os demais eram todos oriundos de Roma ou da Península Itálica.
Para a interpretação histórica dos fascista esta nefasta política dos "maus imperadores" desembocou no Edito de Caracala do ano 212 que concedia a cidadania romana a todos os habitantes (livres) do Império.
Almirante explica a decisão de promulgar este edito por três razões essenciais: primeiro, pelo desejo de submeter mais cidadãos aos impostos, em particular o imposto sobre as heranças. Nisto, Almirante segue a análise de Dion Cássio, muito desfavorável a Caracala. Segundo, que o edito foi o meio de obter o apoio dos provinciais contra os italianos e de fazer esquecer o homicídio de seu irmão Geta, cometido em fevereiro de 212.
Terceiro: Almirante critica a Caracala por conceder seus favores aos cultos orientais de Ísis e Serápis, considerados contrários à religião romana. E sim, com efeito, Caracala faz com que figure a Serápis sobre a face de suas moedas a partir do ano 212, empreende uma peregrinação ao Serapeu de Alexandria e manda edificar um tempo a Serápis sobre o Quirinal.
Almirante conclui seu artigo com um ataque antifrancês num momento em que as relações eram tensas entre Roma e Paris: "Esta foi a obra desastrosa do imperador Caracala, nascido em Lyon e assim chamado por sua maneira ridícula de se vestir como os galos. O mau francês, como se vê, é de fatura muito antiga".
Esta crítica galófoba, por certo, compreende-se tanto melhor se se sabe que se estava a algumas semanas de uma crise franco-italiana, que se iniciou pela sessão de 30 de novembro de 1938 no palácio de Montecitorio no curso do qual os deputados fascistas gritaram, durante uma manifestação sabiamente orquestrada, reivindicações sobre Túnis, Saboia, Nice e a Córsega.
Italia restituta versus a memória histórica fascista
Se Cícero pode afirmar que Roma era a pátria comum dos italianos (De legibus, 2 (2,5)), a concessão da cidadania não criou contudo sentimentos unitários, senão somente a convergência em Roma dos interesses de grupos limitados: em ausência de uma identidade nacional italiana, as elites da península, privadas de suas antigas identidades culturais, adotaram uma identidade romana e imperial, em detrimento da Itália.
No século II, Apiano escrevia que a Itália estava sujeita à Roma. As moedas de Trajano com a legenda Itália restituta ('Itália restaurada') supõe uma forma de subordinação, de igual às de Sétimo Severo e Caracala, e evocam a indulgentia Augustorum in Italia, a 'benevolência dos imperadores para a Itália'.
Contudo, Roma foi um organismo assimilador que integrou os povos estrangeiros outorgando-lhes a cidadania romana, uma dimensão que sem dúvida distorce a revista La Difesa della Razza.
Podemos imaginar sem muito esforço que os redatores fascistas não tinham como leitura de cabeceira "Elogio a Roma" de Élio Aristides, no qual mostra que os romanos souberam assegurar a paz, a ordem e a liberdade de cada povo do Império.
Além desses debates históricos, o inequívoco é que a política de expansão da Itália fascista procurou encontrar sua justificação na Antiguidade.
Em 20 de abril de 1940, La Difesa della Razza reproduz o cartaz "Natale di Roma. Festa della razza italica", onde, frente a frente, pode-se ver a um legionário da época de César e um legionário do tempo de Mussolini.
Não obstante, as ambições imperiais do Duce se perderam nas areias do norte da África, nas montanhas balcânicas e nas planícies russas. Enquanto aos judeus italianos, o pesadelo se transformou em tragédia quando a partir de outubro de 1943, o antigo aliado alemão empreendeu batidas em toda a península itálica ocupada pelos nazis.
Em 16 de outubro de 1943, 1259 judeus romanos foram presos no antigo gueto, a alguns metros do teatro de Marcelo e do Pórtico de Otávia, monumentos que o imperador Augusto havia dedicado a seu sobrinho e a sua irmã, testemunhas de uma grandeza romana tão louvada pelo fascismo italiano.
Fonte: Blog Anatomia de la Historia
http://anatomiadelahistoria.com/2013/02/las-raices-ideologicas-del-antisemitismo-fascista-ii/
Título original: Las raíces ideológicas del antisemitismo fascista (II)
Tradução: Roberto Lucena
[Parte 1]
Observação 1: alguns links dos nomes da Antiguidade estão com verbetes em espanhol, pois ou a informação era pouca em português ou muito ruim de achar algo relevante dentro do contexto, porque o texto em espanhol contém imprecisões ou grafias erradas ou misturas. Foi chato achar os termos um a um por outra grafia e colocar em português. Termos como Pártia tem o verbete em português como Império Parta, mas não contém verbete só pra palavra Pártia. O problema se repetiu em todos os três textos, que na verdade saiu originalmente de dois posts em espanhol mas dividi em três por serem extensos e por saber que o povo dificilmente lê algo longo demais (e mesmo assim não ficaram pequenos).
Observação 2: a foto antiga que não continua informação no texto original em espanhol é do Gueto de Roma. Graças ao mecanismo de busca e de reconhecimento facial do Google foi pos´sivel localizar a imagem e informações dela.
"A POPULAÇÃO ATUAL DA ITÁLIA É EM SUA MAIORIA DE ORIGEM ARIANA E SUA CIVILIZAÇÃO ARIANA.Aos olhos do antissemitismo fascista, a Antiguidade romana proporciona também exemplos vergonhosos e depreciáveis.
Esta população de civilização ariana habita desde vários milênios nossa península; bem pouco restou da civilização dos povos "pré-arianos". A origem dos italianos atuais parte essencialmente de elementos daquelas mesmas raças que compõem o tecido perpetuamente vivo da Europa".
(Texto do Manifesto da Raça, publicado na revista La Difesa della Razza, ano I, número 1, 5 de agosto de 1938)
No primeiro número de La Difesa della Razza de 1938, Giorgio Almirante redige um longo artigo intitulado de "O edito de Caracala. Um semibárbaro que aplanou o caminho aos Bárbaros". As ilustrações do artigo não oferecem ambiguidade alguma: um busto de Caracala é comparado a um busto de Augusto. O primeiro é comentado da seguinte maneira: "os traços grosseiros do semibárbaro Caracala ilustram o principal causa de seu edito desastroso." Do contrário, o de Augusto, "que não quis contribuir com a barbarização do Império, reflete em seu rosto a nobreza da raça itálica".
Em seu requisitório contra a política de Caracala, Almirante utiliza um parágrafo de Dion Cássio no qual Augusto desaconselha a Tibério outorgar a cidadania romana numa ampla escala. Almirante também recorre à Apocolocyntosis divi Claudii (A Apocoloquintose do divino Claudio) de Sêneca, onde se critica a política de "abertura" aos estrangeiros.
O governo do imperador Claudio foi bastante generoso em matéria de cidadania romana, como a confirma Tácito quando transcreve o discurso de Claudio ante o Senado no ano de 48 anunciando a admissão ao Senado dos notáveis galos (Anais, 11 (24)). Na lógica da política racial empreendida pelo fascismo mussoliniano em fins dos anos de 1930, a política de Claudio só podia ser considerada como um "mau exemplo" e desacreditada de todo pelo regime.
Gueto de Roma |
Sem dúvida, os fascistas daqueles anos do século XX se referiam aos Numerus, que constituíam tropas especializadas, como os ginetes mouros, aos arqueiros palmirianos e as tropas germânicas. Se é certo que a contratação regional foi a regra para as legiões, que os contingentes auxiliares frequentemente constaram de bárbaros, não obstante parece que não gozaram habitualmente da cidadania romana.
Podemos apreciar a mesma crítica fascista ante o imperador Marco Aurélio, um itálico de origem mas "imbuído de espírito grego" (um "mau" imperador para os fascistas), que concedeu a cidadania romana a numerosos provincianos.
O caso é que sim, a cidadania romana foi cada vez mais difundida no Império, particularmente mediante a naturalização concedida aos soldados dos corpos auxiliares no momento de sua desmobilização. Contudo, para evitar as fraudes, o certo é que Marco Aurélio criou um verdadeiro estado civil tornando obrigatória a declaração dos nascimentos num lapso de trinta dias.
No que diz respeito ao reinado de Sétimo Severo, só houve um comandante ordinário de Viena, na Gália Narbonense, que formava parte das três legiões de Pártia, tanto que os demais eram todos oriundos de Roma ou da Península Itálica.
Para a interpretação histórica dos fascista esta nefasta política dos "maus imperadores" desembocou no Edito de Caracala do ano 212 que concedia a cidadania romana a todos os habitantes (livres) do Império.
Almirante explica a decisão de promulgar este edito por três razões essenciais: primeiro, pelo desejo de submeter mais cidadãos aos impostos, em particular o imposto sobre as heranças. Nisto, Almirante segue a análise de Dion Cássio, muito desfavorável a Caracala. Segundo, que o edito foi o meio de obter o apoio dos provinciais contra os italianos e de fazer esquecer o homicídio de seu irmão Geta, cometido em fevereiro de 212.
Terceiro: Almirante critica a Caracala por conceder seus favores aos cultos orientais de Ísis e Serápis, considerados contrários à religião romana. E sim, com efeito, Caracala faz com que figure a Serápis sobre a face de suas moedas a partir do ano 212, empreende uma peregrinação ao Serapeu de Alexandria e manda edificar um tempo a Serápis sobre o Quirinal.
Almirante conclui seu artigo com um ataque antifrancês num momento em que as relações eram tensas entre Roma e Paris: "Esta foi a obra desastrosa do imperador Caracala, nascido em Lyon e assim chamado por sua maneira ridícula de se vestir como os galos. O mau francês, como se vê, é de fatura muito antiga".
Esta crítica galófoba, por certo, compreende-se tanto melhor se se sabe que se estava a algumas semanas de uma crise franco-italiana, que se iniciou pela sessão de 30 de novembro de 1938 no palácio de Montecitorio no curso do qual os deputados fascistas gritaram, durante uma manifestação sabiamente orquestrada, reivindicações sobre Túnis, Saboia, Nice e a Córsega.
Italia restituta versus a memória histórica fascista
"É UMA LENDA A CONTRIBUIÇÃO DE MASSAS INGENTES DE HOMENS EM TEMPOS HISTÓRICOS.Os responsáveis da revista La Difesa della Razza quiseram assimilar ao fascismo a herança antiga para sustentar "com bases históricas" a política do regime, neste caso a política racial. Na análise fascista, que tendeu a italianizar a romanidade, existe sem dúvida uma utilização abusiva do conceito da romanidade estendido ao conjunto da Itália. Fez falta a cruenta guerra social de 91-88 a.C. para que progressivamente se difundisse a cidadania romana ao conjunto da península da Itália e sua concessão a todos os itálicos no ano de 49 a.C.
Depois da invasão dos lombardos, não há outros movimentos importantes de povos na Itália que pudesse influir no aspecto racial da nação. Dele se desprende que, enquanto que em outros países europeus a composição racial mudou consideravelmente até os tempos modernos, na Itália, em linhas gerais a composição racial de hoje é a mesma de mil anos atrás: os quarenta e quatro milhões de italianos de hoje, remontam em sua grande maioria às famílias que vivem na Itália durante pelo menos um milênio".
(Texto do "Manifesto da raça" publicado na revista la Difesa della Razza, 5 de agosto de 1938)
Se Cícero pode afirmar que Roma era a pátria comum dos italianos (De legibus, 2 (2,5)), a concessão da cidadania não criou contudo sentimentos unitários, senão somente a convergência em Roma dos interesses de grupos limitados: em ausência de uma identidade nacional italiana, as elites da península, privadas de suas antigas identidades culturais, adotaram uma identidade romana e imperial, em detrimento da Itália.
No século II, Apiano escrevia que a Itália estava sujeita à Roma. As moedas de Trajano com a legenda Itália restituta ('Itália restaurada') supõe uma forma de subordinação, de igual às de Sétimo Severo e Caracala, e evocam a indulgentia Augustorum in Italia, a 'benevolência dos imperadores para a Itália'.
Contudo, Roma foi um organismo assimilador que integrou os povos estrangeiros outorgando-lhes a cidadania romana, uma dimensão que sem dúvida distorce a revista La Difesa della Razza.
Podemos imaginar sem muito esforço que os redatores fascistas não tinham como leitura de cabeceira "Elogio a Roma" de Élio Aristides, no qual mostra que os romanos souberam assegurar a paz, a ordem e a liberdade de cada povo do Império.
Além desses debates históricos, o inequívoco é que a política de expansão da Itália fascista procurou encontrar sua justificação na Antiguidade.
Em 20 de abril de 1940, La Difesa della Razza reproduz o cartaz "Natale di Roma. Festa della razza italica", onde, frente a frente, pode-se ver a um legionário da época de César e um legionário do tempo de Mussolini.
Não obstante, as ambições imperiais do Duce se perderam nas areias do norte da África, nas montanhas balcânicas e nas planícies russas. Enquanto aos judeus italianos, o pesadelo se transformou em tragédia quando a partir de outubro de 1943, o antigo aliado alemão empreendeu batidas em toda a península itálica ocupada pelos nazis.
Em 16 de outubro de 1943, 1259 judeus romanos foram presos no antigo gueto, a alguns metros do teatro de Marcelo e do Pórtico de Otávia, monumentos que o imperador Augusto havia dedicado a seu sobrinho e a sua irmã, testemunhas de uma grandeza romana tão louvada pelo fascismo italiano.
Fonte: Blog Anatomia de la Historia
http://anatomiadelahistoria.com/2013/02/las-raices-ideologicas-del-antisemitismo-fascista-ii/
Título original: Las raíces ideológicas del antisemitismo fascista (II)
Tradução: Roberto Lucena
[Parte 1]
Observação 1: alguns links dos nomes da Antiguidade estão com verbetes em espanhol, pois ou a informação era pouca em português ou muito ruim de achar algo relevante dentro do contexto, porque o texto em espanhol contém imprecisões ou grafias erradas ou misturas. Foi chato achar os termos um a um por outra grafia e colocar em português. Termos como Pártia tem o verbete em português como Império Parta, mas não contém verbete só pra palavra Pártia. O problema se repetiu em todos os três textos, que na verdade saiu originalmente de dois posts em espanhol mas dividi em três por serem extensos e por saber que o povo dificilmente lê algo longo demais (e mesmo assim não ficaram pequenos).
Observação 2: a foto antiga que não continua informação no texto original em espanhol é do Gueto de Roma. Graças ao mecanismo de busca e de reconhecimento facial do Google foi pos´sivel localizar a imagem e informações dela.
sexta-feira, 5 de junho de 2015
As raízes ideológicas do antissemitismo fascista (II)
O modelo fascista da família racial italiana
Mussolini, a semelhança de Augusto, era consciente da decadência demográfica dos italianos de "pura cepa", e queria remediar o que considerava como uma decadência demográfica, já que o conceito de raça forte, tal como o fascismo o defende em fins dos anos de 1930, não pode se acomodar a uma letargia natalista.
Pois, na herança da Antiguidade romana, que a política fascista acode a memória do poeta Horácio. Em 20 de maio de 1939, Irma Marimpietri publica em La Difesa della Razza "Raça e romanidade na poesia de Horácio". Escreve Marimpietri: "Horácio e Catão foram dois romanos que sentiram a necessidade de tomar posição contra essas forças que, tanto do exterior como do interior, tentaram debilitar a força romana. Horácio se indignou contra a corrupção do tipo grega que penetrou nas famílias, corrupção cujo primeiro efeito foi a diminuição da natalidade que Augusto procurou combater com a Lex Julia de maritandis ordinibus."
A alusão a esta lei de Augusto não foi fortuita. Votada em 18 a. C. (ao mesmo tempo que a Lex Julia de adulteriis coercendis que reprime o adultério) e completada em 9 pela Lex Papia Poppaea, pretende entre todos os assuntos favorecer à carreira dos senadores pais de família, impor restrições aos direitos de herança para os solteiros e aos homens casados sem crianças e lhes conceder imunidades particulares aos pais de três crianças.
Esta legislação da Roma Imperial lutava contra a diminuição da natalidade que o imperador era sensível nas lições a dirigentes. Como se de um novo Augusto se tratasse, Mussolini impõe aos solteiros uma lei em 1927 que põe de pé recompensas pecuniárias e honoríficas para as famílias numerosas.
Por outro lado, Horácio insistia na dificuldade de "convivência conjugal entre romanos e bárbaros", argumento útil para a propaganda da revista La Difesa della Razza: "O soldado de Craso viveu em torpes laços maritais com esposas estrangeiras. Ó! cúria, quanta corrupção! O marso e o apúlio podiam envelhecer nos campos dos inimigos como seus parentes e se prosternar ante um rei Medo, esquecidos dos escudos anciles, o nome, a toga e o fogo eterno de Vesta, reinando incólume Jove e a cidade de Roma" (Horácio, Odes, Livro III).
Segundo os antissemitas fascistas, tanto na época de Augusto como no tempo da vitória da Itália fascista na Etiópia, não convinha admitir um "bastardo" da raça. Depois de Horácio, alude-se a Cátulo, Cícero e Virgílio.
Cátulo, o poeta de Verona, foi, entre outras coisas, o poeta da maternidade, do amor familiar e da procriação. Assim, em seu Carmina 61, podemos ler:
O regime fascista também "regressou" a Virgílio para legitimar sua concepção de ordem e de família. No final da Éclogas IV, os fascistas encontraram uns versos muito queridos para sua ideologia:
Começa, ó terna criança, a conhecer tua mãe pelo sorriso; dez meses te carregou em seu ventre com grave afã; Ó! terna criança! O filho que não alcançou o sorriso de seus pais não é admitido à mesa dos deuses nem no leito das deusas (Virgílio, Éclogas IV).
"A luta histórica contra os judeus"
O primeiro, "Rebeliões e sedições dos judeus no Império Romano", de Antonio Trizzino, apareceu no número de março de 1939, e o segundo, "O judaísmo e o Império Romano", de A. M. de Giglio, é de 5 de outubro do mesmo ano. Em seus respectivos textos, ambos autores plasmam os grandes momentos de conflito entre os judeus e as autoridades romanas: a rebelião dos judeus de Cirene durante a guerra de Mitrídates, rei de Ponto, em 87 a.C.; os levantes das comunidades judias de Selêucia e Alexandria em 38, sob o governo de Calígula; a grande insurreição da Judeia nos anos de 66 e 70, que acabou com a tomada de Jerusalém pelas tropas de Tito e a destruição do Templo; os distúrbios da Palestina sob Domiciano; a rebelião judia que rompe ao final do reinado de Trajano em Cirenaica, no Egito e no Chipre; a nova grande insurreição na Judeia liderada por Bar Kochba durante o império de Adriano em 132-135; os distúrbios de início do reinado do Sétimo Severo; e a rebelião dos judeus de Cesárea sob Constâncio Galo.
Evidentemente, os autores fascistas não se contentam em enumerar as lutas dos judeus contra Roma. Recorrem à "autoridade", em matéria antissemita, dos autores antigos. Assim no número de setembro de 1938 de La Difesa della Razza, o mesmo Giorgio Almirante (futuro herdeiro do fascismo mussoliniano) cita várias fontes de intelectuais da Roma Antiga: Juvenal, Sátira, 6 (543-549); Tácito, Histórias, 5 (5); e Plínio, o Velho, História Natural, 13 (9).
Por outra parte, Almirante faz menção a uma atitude antijudaica de Cícero recolhida por Plutarco. Trata-se do que relata Plutarco a propósito de Cícero no momento do julgamento contra Verres em 70 a.C. frente à intenção de um liberto de nome Caecilius (Cecílio), sem dúvida convertido ao judaísmo, de se encarregar da queixa dos sicilianos contra seu antigo pretor Verres, Cícero reage fazendo um jogo de palavras sobre as palavras de Verres ("carne de cerdo", em latim):
Por meio deste recurso de acudir à autoridade dos autores antigos, Almirante tenta dar peso a sua argumentação, mostrando que já na época romana os judeus não eram um "elemento fiável" da sociedade, e que estavam à margem desta pelo seu comportamento, seus costumes e inclusive sua "negação de sua pátria" segundo a fórmula de Tácito.
Nesta mesma linha, a política severa de Vespasiano e de Tito fazia dos judeus a consequência da rebelião de 66-70 é aprovada por Ottorino Gurrieri em seu artigo de setembro de 1941, intitulado "Destruidores de Israel".
O texto de Emilio Canevari, "Os judeus e a guerra", datado de novembro de 1938, é ilustrado pelo arco de Tito, símbolo da derrota judia do ano 70. E a portada de número de junho de 1942 de La Difesa della Razza tem como fotografia uma reprodução de uma moeda da época de Vespasiano com a menção Judea Capta.
A utilização da Antiguidade romana permite a Paolo Guidotti concluir seu artigo de dezembro de 1940, "O povo mais antissocial do Império romano", desta maneira: "os judeus, como mil outros povos do Império Romano, haviam podido viver em paz, na tranquilidade e na prosperidade sob as insígnias de Roma, mas seu sangue os empurrava para os sonhos frenéticos e áridos fanatismos de um Bar Kochba ou de um Simeon Bar-Ghior, intolerante ante a ordem hierárquica e uma colaboração social, e recai sobre eles a responsabilidade de uma história secular travada de desprezo e sofrimento".
Fonte: Blog Anatomia de la Historia
http://anatomiadelahistoria.com/2013/02/las-raices-ideologicas-del-antisemitismo-fascista/
http://anatomiadelahistoria.com/2013/02/las-raices-ideologicas-del-antisemitismo-fascista-ii/
Título original: Las raíces ideológicas del antisemitismo fascista
Tradução: Roberto Lucena
[Parte 1] :: [Parte 3]
"AS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E PSICOLÓGICAS PURAMENTE EUROPEIAS DOS ITALIANOS NÃO DEVEM SER ALTERADAS DE NENHUMA MANEIRA.Em seu discurso no dia da Ascensão da quinta-feira de 26 de maio de 1927, ante à Câmara dos Deputados, Mussolini, recorrendo ao imperador Augusto, havia afirmado a vontade natalista de seu regime, fixando como objetivo uma população italiana de 60 milhões de pessoas para 1950.
A união só é admissível dentro do âmbito das raças europeias, cujo caso não se deve falar propriamente de verdadeiro hibridismo, dado que estas raças pertencem a um tronco comum e se diferenciam só em algumas poucas características, enquanto que são iguais em muitas outras. O caráter puramente europeu dos italianos se altera a partir do cruzamento com qualquer raça extra-europeia e portadora de uma civilização diferente da milenar civilização dos arianos".
(Texto do Manifesto da raça, publicado na revista La Difesa della Razza, ano I, número 1, 5 de agosto de 1938)
Mussolini, a semelhança de Augusto, era consciente da decadência demográfica dos italianos de "pura cepa", e queria remediar o que considerava como uma decadência demográfica, já que o conceito de raça forte, tal como o fascismo o defende em fins dos anos de 1930, não pode se acomodar a uma letargia natalista.
Pois, na herança da Antiguidade romana, que a política fascista acode a memória do poeta Horácio. Em 20 de maio de 1939, Irma Marimpietri publica em La Difesa della Razza "Raça e romanidade na poesia de Horácio". Escreve Marimpietri: "Horácio e Catão foram dois romanos que sentiram a necessidade de tomar posição contra essas forças que, tanto do exterior como do interior, tentaram debilitar a força romana. Horácio se indignou contra a corrupção do tipo grega que penetrou nas famílias, corrupção cujo primeiro efeito foi a diminuição da natalidade que Augusto procurou combater com a Lex Julia de maritandis ordinibus."
A alusão a esta lei de Augusto não foi fortuita. Votada em 18 a. C. (ao mesmo tempo que a Lex Julia de adulteriis coercendis que reprime o adultério) e completada em 9 pela Lex Papia Poppaea, pretende entre todos os assuntos favorecer à carreira dos senadores pais de família, impor restrições aos direitos de herança para os solteiros e aos homens casados sem crianças e lhes conceder imunidades particulares aos pais de três crianças.
Esta legislação da Roma Imperial lutava contra a diminuição da natalidade que o imperador era sensível nas lições a dirigentes. Como se de um novo Augusto se tratasse, Mussolini impõe aos solteiros uma lei em 1927 que põe de pé recompensas pecuniárias e honoríficas para as famílias numerosas.
Por outro lado, Horácio insistia na dificuldade de "convivência conjugal entre romanos e bárbaros", argumento útil para a propaganda da revista La Difesa della Razza: "O soldado de Craso viveu em torpes laços maritais com esposas estrangeiras. Ó! cúria, quanta corrupção! O marso e o apúlio podiam envelhecer nos campos dos inimigos como seus parentes e se prosternar ante um rei Medo, esquecidos dos escudos anciles, o nome, a toga e o fogo eterno de Vesta, reinando incólume Jove e a cidade de Roma" (Horácio, Odes, Livro III).
Segundo os antissemitas fascistas, tanto na época de Augusto como no tempo da vitória da Itália fascista na Etiópia, não convinha admitir um "bastardo" da raça. Depois de Horácio, alude-se a Cátulo, Cícero e Virgílio.
Cátulo, o poeta de Verona, foi, entre outras coisas, o poeta da maternidade, do amor familiar e da procriação. Assim, em seu Carmina 61, podemos ler:
Aproxima-te já, marido:Cícero, por sua parte, será a ocasião evocada de sua última obra. De officiis (Tratado dos deveres, de l42 a.C.). Dois anos depois da perda dolorosa de sua filha Túlia, Cícero lhe envia este tratado de filosofia estoica a seu "filho Marco". No que demonstra o sentido das responsabilidades e do amor paternal que estruturam uma família, uma sociedade e um povo à imagem do que desejará o regime fascista para a Itália de seu tempo.
tua esposa está no leito nupcial
e seu rosto viçoso resplandece
como a branca camomila
ou a vermelha papoula.
Mas tu, esposo, pelos deuses
celestiais! Não és menos
bonito, nem Vênus te há
descuidado. Mas o dia se vai:
veja, não te atrases.
O regime fascista também "regressou" a Virgílio para legitimar sua concepção de ordem e de família. No final da Éclogas IV, os fascistas encontraram uns versos muito queridos para sua ideologia:
Começa, ó terna criança, a conhecer tua mãe pelo sorriso; dez meses te carregou em seu ventre com grave afã; Ó! terna criança! O filho que não alcançou o sorriso de seus pais não é admitido à mesa dos deuses nem no leito das deusas (Virgílio, Éclogas IV).
"A luta histórica contra os judeus"
"É NECESSÁRIO FAZER UMA DISTINÇÃO NETA ENTRE OS MEDITERRÂNEOS DA EUROPA (OCIDENTAIS) DE UMA PARTE E DOS ORIENTAIS E OS AFRICANOS DE OUTRA.Dois destacados artigos de La Difesa della Razza sublinham como os judeus foram frequentemente adversários da pax romana.
Pelo tanto, devem se considerar perigosas as teorias que sustentam a origem africana de alguns povos europeus e que incluem numa raça comum mediterrânea a povos camitas e semitas, estabelecendo relações e simpatias ideológicas absolutamente inaceitáveis."
(Texto do Manifesto da Raça, publicado na revista La Difesa della Razza, ano I, número 1, 5 de agosto de 1938)
O primeiro, "Rebeliões e sedições dos judeus no Império Romano", de Antonio Trizzino, apareceu no número de março de 1939, e o segundo, "O judaísmo e o Império Romano", de A. M. de Giglio, é de 5 de outubro do mesmo ano. Em seus respectivos textos, ambos autores plasmam os grandes momentos de conflito entre os judeus e as autoridades romanas: a rebelião dos judeus de Cirene durante a guerra de Mitrídates, rei de Ponto, em 87 a.C.; os levantes das comunidades judias de Selêucia e Alexandria em 38, sob o governo de Calígula; a grande insurreição da Judeia nos anos de 66 e 70, que acabou com a tomada de Jerusalém pelas tropas de Tito e a destruição do Templo; os distúrbios da Palestina sob Domiciano; a rebelião judia que rompe ao final do reinado de Trajano em Cirenaica, no Egito e no Chipre; a nova grande insurreição na Judeia liderada por Bar Kochba durante o império de Adriano em 132-135; os distúrbios de início do reinado do Sétimo Severo; e a rebelião dos judeus de Cesárea sob Constâncio Galo.
Evidentemente, os autores fascistas não se contentam em enumerar as lutas dos judeus contra Roma. Recorrem à "autoridade", em matéria antissemita, dos autores antigos. Assim no número de setembro de 1938 de La Difesa della Razza, o mesmo Giorgio Almirante (futuro herdeiro do fascismo mussoliniano) cita várias fontes de intelectuais da Roma Antiga: Juvenal, Sátira, 6 (543-549); Tácito, Histórias, 5 (5); e Plínio, o Velho, História Natural, 13 (9).
Por outra parte, Almirante faz menção a uma atitude antijudaica de Cícero recolhida por Plutarco. Trata-se do que relata Plutarco a propósito de Cícero no momento do julgamento contra Verres em 70 a.C. frente à intenção de um liberto de nome Caecilius (Cecílio), sem dúvida convertido ao judaísmo, de se encarregar da queixa dos sicilianos contra seu antigo pretor Verres, Cícero reage fazendo um jogo de palavras sobre as palavras de Verres ("carne de cerdo", em latim):
"Sendo sua fazenda não muito quantiosa, ainda que suficiente e proporcionada para seus gastos, causava admiração que não recebesse nem salário nem doações pelas defesas, o que ainda se fez mais notável quando se encarregou da acusação de Verres. Havia sido este pretor da Sicília, onde cometeu mil excessos, perseguindo os sicilianos, Cícero fez com que lhe condenassem, não por ter falado, senão de certa maneira por não ter falado; porque estando os pretores de parte de Verres, e prolongando a causa com estudadas dilações até o último dia, como estivesse bem claro que este não podia bastar para os discursos e o julgamento não chegaria a seu fim, levantando-se Cícero, expressou que não havia necessidade de que se falasse e, apresentando as testemunhas e as examinando, concluiu dizendo que os juízes pronunciaram a sentença. Contudo, neste discurso desta causa se conta muitas e muitas piadas suas. Porque os romanos chamam Verres de porco não castrado; e havendo querido um liberto chamado Cecílio, suspeito de se judaizar, exclui os sicilianos e de ser ele quem acusara a Verres, disse-lhe Cícero: "Que tem a ver o judeu com o porco?"Almirante conclui que "a voz de Cícero é a voz de Roma, ou seja, de nossa raça e da civilização que criou". Por outra parte, o escritor fascista utiliza Suetônio como fonte quando evoca a expulsão dos judeus de Roma pelo imperador Claudio no ano de 49.
(Plutarco, Vidas paralelas, Cícero, 7(6))
Por meio deste recurso de acudir à autoridade dos autores antigos, Almirante tenta dar peso a sua argumentação, mostrando que já na época romana os judeus não eram um "elemento fiável" da sociedade, e que estavam à margem desta pelo seu comportamento, seus costumes e inclusive sua "negação de sua pátria" segundo a fórmula de Tácito.
Nesta mesma linha, a política severa de Vespasiano e de Tito fazia dos judeus a consequência da rebelião de 66-70 é aprovada por Ottorino Gurrieri em seu artigo de setembro de 1941, intitulado "Destruidores de Israel".
O texto de Emilio Canevari, "Os judeus e a guerra", datado de novembro de 1938, é ilustrado pelo arco de Tito, símbolo da derrota judia do ano 70. E a portada de número de junho de 1942 de La Difesa della Razza tem como fotografia uma reprodução de uma moeda da época de Vespasiano com a menção Judea Capta.
A utilização da Antiguidade romana permite a Paolo Guidotti concluir seu artigo de dezembro de 1940, "O povo mais antissocial do Império romano", desta maneira: "os judeus, como mil outros povos do Império Romano, haviam podido viver em paz, na tranquilidade e na prosperidade sob as insígnias de Roma, mas seu sangue os empurrava para os sonhos frenéticos e áridos fanatismos de um Bar Kochba ou de um Simeon Bar-Ghior, intolerante ante a ordem hierárquica e uma colaboração social, e recai sobre eles a responsabilidade de uma história secular travada de desprezo e sofrimento".
Fonte: Blog Anatomia de la Historia
http://anatomiadelahistoria.com/2013/02/las-raices-ideologicas-del-antisemitismo-fascista/
http://anatomiadelahistoria.com/2013/02/las-raices-ideologicas-del-antisemitismo-fascista-ii/
Título original: Las raíces ideológicas del antisemitismo fascista
Tradução: Roberto Lucena
[Parte 1] :: [Parte 3]
quarta-feira, 3 de junho de 2015
As raízes ideológicas do antissemitismo fascista (I)
Este artigo é um estudo de como a antiguidade romana foi utilizada como justificativa política do racismo.
O antissemitismo do regime fascista italiano foi mais virulento do que frequentemente se pensa. Esteve legitimado e exaltado por uma imprensa servil ao Duce. Contudo, é na revista La Difesa della Razza (A Defesa da Raça) onde se estabeleceu pela primeira vez, e sem pudor algum, um paralelismo "histórico" e "científico" (bastante nauseabundo a meu entender) entre o antissemitismo da intelectualidade da Roma antiga (representada por Cícero, Tácito, Juvenal etc) e o antissemitismo fascista, com a pretensão de lutar contra a "barbarização do perigo judeu".
No ano de 1938 se fortalece a vontade totalitária do fascismo italiano já perceptível desde a vitória na Etiópia em 1936. A aproximação política com a Alemanha nazi, materializada pela viagem de Mussolini à Berlim em setembro de 1937 e de Hitler à Itália em maio de 1938, será concluída na assinatura do Pacto de Aço, em 22 de maio de 1939. O Duce se adjudicou a dignidade de primeiro marechal do Império em 20 de março de 1938, a semelhança do rei Vítor Emanuel III.
No início do fascismo, o antissemitismo não constituía um "princípio inamovível", uma condição sine qua non de sua essência, a diferença do que ocorria no nazismo. Antes de 1922, o antissemitismo era bem mais marginal e se manifestava em alguns jornais tais como L’Assalto ou Audacia. Por sua parte, Mussolini não era fundamentalmente antissemita. Durante uns vinte anos, Margherita Sarfatti, de origem judia, foi sua amante. E, inclusive, em 1926, Mussolini recebeu em audiência a Chaïm Weizmann, o pai do sionismo.
Em 1929, Mussolini argumenta com referência à presença judia durante a Antiguidade: "Os judeus estão em Roma desde a época dos reis; eram cinquenta mil sob Augusto e choraram sobre o cadáver de Júlio César. Deixemo-nos em paz".
Inclusive, o Duce condenou o racismo, assim por exemplo em 1932, durante sua entrevista com o jornalista alemão Emil Ludwig, e, dois anos depois recebeu o Grão-rabino de Roma no Palácio de Veneza.
Mas a conquista da Abissínia (Etiópia) marca sem dúvida um ponto de inflexão. A propaganda fascista insiste na superioridade da raça italiana sobre as raças africanas. E a repressão que segue ao atentado de 19 de fevereiro de 1937 contra o marechal Rodolfo Graziani, o vice-rei da Etiópia, é brutal: entre 3.000 e 6.000 mortos segundo as fontes italianas, 30.000 mortos segundo as fontes etíopes. Em abril desse ano, as autoridades italianas adotam um decreto que sanciona em cinco anos de cárcere aos italianos que vivem em concubinato com etíopes.
A mudança: o Manifesto da Raça
Em 1 de setembro, cria-se o Conselho Superior para a Demografia e a Raça. Seis dias mais tarde, promulga-se um decreto-lei contra os judeus imigrantes que vivem na Itália. Em 17 de novembro, aparecem decretos-lei cujo princípio havia sido aprovado pelo Grande Conselho Fascista de 6 de outubro, que excluem os judeus do ensino, das academias, do exército, e que proíbem os matrimônios mistos e a posse de bens imóveis.
Neste contexto é foi publicado, em 5 de agosto de 1938, o primeiro número da revista La Difesa della Razza, dirigida por Telesio Interlandi.
Mais adiante, vamos estudar um aspecto particular desta publicação, a saber, a utilização feita da Antiguidade para aprovar a política racial empreendida pelo regime fascista.
Veremos como a Idade Antiga abasteceu de modelos e justificações aos racistas. Assim, já na capa do primeiro número da revista, uma espada romana separa um busto romano de um nanico semítico do século III a.C e de uma cabeça de um jovem negro...
Os autores da antiguidade romana ao "resgate" do fascismo
Em primeiro lugar, Catão, o Velho, a quem é dedicado um artigo no número de novembro de 1938, sob a pluma de Roberto Bartolozzi, com o título de "O racismo de Catão, o Velho". Bartolozzi insiste no ódio à Cartago de Catão. Assim, a fórmula Carthago delenda est ("há que destruir Cartago"), tema dos discursos de Catão no Senado em fins de 150 a.C., havia sido a ilustração de um racismo para o defensor intratável dos interesses romanos.
Catão não pode ver a destruição de Cartago já que morreu em 149 a.C., três anos antes que a cidade Púnica fosse destruída. Contudo, é necessário sublinhar dois trechos. Em seu artigo, Roberto Bartolozzi representa Catão como filo-helênico quando se sabe, por exemplo, que durante sua viagem diplomática nas cidades gregas em 191 a.C., enquanto se anunciava a guerra contra Antíoco III, nega-se isso, embora possuísse capacidade para dirigir-se a seus interlocutores em grego, em particular em Atenas.
Assim mesmo, convém modular a insistência sobre o aspecto racial na vontade de Catão de destruir Cartago. Pois é em todas as luzes inexato e errôneo evocar a ideologia racista de Catão para explicar sua atitude acerca de Cartago.
Podemos perceber na obstinação de Catão os temores de um ex-combatente da guerra contra Aníbal, a influência dos mercadores romanos que temiam a nova prosperidade cartaginesa, a vontade de potência de um Estado romano que não queria mais rival no Mediterrâneo e inclusive a última ocasião para Catão desempenhar um papel político com mais de 80 anos.
Roberto Bartolozzi mostra um completo delírio historiográfico em seu intento de distorcer o passado de Roma a favor das teses antissemitas fascistas.
A segunda autoridade evocada é a de Tito Lívio, estudado por Mario Baccigalupi no artigo "A doutrina da raça na casa de Tito Lívio", do número de fevereiro de 1941.
Ali é dito, por exemplo: "Tito Lívio não teorizou num manual político sua doutrina, contudo está é todavia mais clara e incisiva na história. Expressou a alma da romanidade e por conseguinte da raça italiana narrando a história da grande entrada da luta dos povos que combatiam para a dominação do mundo.
Baccigalupi sintetiza os valores da romanidade que Tito Lívio pôs em destaque: o valor guerreiro, a fé, a sobriedade, a concórdia, a tenacidade, o dinamismo heroico. Encontraremos os ecos desses valores nas reflexões de Mussolini sobre o fascismo italiano: "A vida tal como a concebe o fascismo é grave, austera, religiosa. O Estado fascista é uma vontade de poder e de dominação. A tradição romana é uma ideia de força. Mas o império exige a disciplina, a coordenação dos esforços, o dever e o sacrifício."
Recorre-se também, supostamente a Tácito através de sua obra dedicada a seu sogro, Agrícola. O jornalista Osvaldo Costazi, no número de maio de 1939, intitula seu artigo como "Tácito e o problema da raça".
Para Costanzi, o retrato que compõe Tácito do defunto Agrícola corresponde certamente à "verdade romana": sua coragem militar durante sua passagem pela Bretanha como legado entre 77 e 84, sua "dignidade", sua "fisionomia cheia de agrado", sua "honra intacta". Nas arengas prestadas à Agrícola, encontram-se as virtudes que serviram de referência aos fascistas dos anos de 1930, pois esses últimos se consideravam os herdeiros da "raça romana".
Fonte: Blog Anatomia de la Historia
http://anatomiadelahistoria.com/2013/02/las-raices-ideologicas-del-antisemitismo-fascista/
Título original: Las raíces ideológicas del antisemitismo fascista (I)
Tradução: Roberto Lucena
[Parte 2]
"É hora de que os italianos se proclamem abertamente racistas. Todo o trabalho que até agora o Regime na Itália tem feito é no fundo racista. Muito frequentemente foram sempre os discursos do Caudilho a referência aos conceitos de raça. O tema do racismo na Itália deve ser tratado desde um ponto de vista puramente biológico, sem intenções filosóficas ou religiosas. O conceito de racismo na Itália deve ser essencialmente italiano e a direção ário-nórdica.""O antissemitismo fascista engatinhando"
(Texto do Manifesto da Raça, publicado na revista La Difesa della Razza, ano I, número 1, 5 de agosto de 1938)
O antissemitismo do regime fascista italiano foi mais virulento do que frequentemente se pensa. Esteve legitimado e exaltado por uma imprensa servil ao Duce. Contudo, é na revista La Difesa della Razza (A Defesa da Raça) onde se estabeleceu pela primeira vez, e sem pudor algum, um paralelismo "histórico" e "científico" (bastante nauseabundo a meu entender) entre o antissemitismo da intelectualidade da Roma antiga (representada por Cícero, Tácito, Juvenal etc) e o antissemitismo fascista, com a pretensão de lutar contra a "barbarização do perigo judeu".
No ano de 1938 se fortalece a vontade totalitária do fascismo italiano já perceptível desde a vitória na Etiópia em 1936. A aproximação política com a Alemanha nazi, materializada pela viagem de Mussolini à Berlim em setembro de 1937 e de Hitler à Itália em maio de 1938, será concluída na assinatura do Pacto de Aço, em 22 de maio de 1939. O Duce se adjudicou a dignidade de primeiro marechal do Império em 20 de março de 1938, a semelhança do rei Vítor Emanuel III.
No início do fascismo, o antissemitismo não constituía um "princípio inamovível", uma condição sine qua non de sua essência, a diferença do que ocorria no nazismo. Antes de 1922, o antissemitismo era bem mais marginal e se manifestava em alguns jornais tais como L’Assalto ou Audacia. Por sua parte, Mussolini não era fundamentalmente antissemita. Durante uns vinte anos, Margherita Sarfatti, de origem judia, foi sua amante. E, inclusive, em 1926, Mussolini recebeu em audiência a Chaïm Weizmann, o pai do sionismo.
Em 1929, Mussolini argumenta com referência à presença judia durante a Antiguidade: "Os judeus estão em Roma desde a época dos reis; eram cinquenta mil sob Augusto e choraram sobre o cadáver de Júlio César. Deixemo-nos em paz".
Inclusive, o Duce condenou o racismo, assim por exemplo em 1932, durante sua entrevista com o jornalista alemão Emil Ludwig, e, dois anos depois recebeu o Grão-rabino de Roma no Palácio de Veneza.
Mas a conquista da Abissínia (Etiópia) marca sem dúvida um ponto de inflexão. A propaganda fascista insiste na superioridade da raça italiana sobre as raças africanas. E a repressão que segue ao atentado de 19 de fevereiro de 1937 contra o marechal Rodolfo Graziani, o vice-rei da Etiópia, é brutal: entre 3.000 e 6.000 mortos segundo as fontes italianas, 30.000 mortos segundo as fontes etíopes. Em abril desse ano, as autoridades italianas adotam um decreto que sanciona em cinco anos de cárcere aos italianos que vivem em concubinato com etíopes.
A mudança: o Manifesto da Raça
"EXISTE AGORA UMA PURA «RAÇA ITALIANA».A campanha contra os judeus começa em 14 de julho de 1938 com a publicação do Manifesto da Raça no Il Giornale de Italia, afirmando que os judeus não formam parte da raça italiana. Seguem então toda uma série de prerrogativas legislativas.
Esta afirmação não se baseia na confusão do conceito biológico de raça com o conceito histórico-linguístico de povo e de nação, senão no puríssimo parentesco de sangue que une aos italianos de hoje às gerações que povoam a Itália há milênios. Esta antiga pureza de sangue é o maior título de nobreza da nação italiana."
(Texto do Manifesto da Raça, publicado na revista La Difesa della Razza, ano I, número 1, 5 de agosto de 1938)
Em 1 de setembro, cria-se o Conselho Superior para a Demografia e a Raça. Seis dias mais tarde, promulga-se um decreto-lei contra os judeus imigrantes que vivem na Itália. Em 17 de novembro, aparecem decretos-lei cujo princípio havia sido aprovado pelo Grande Conselho Fascista de 6 de outubro, que excluem os judeus do ensino, das academias, do exército, e que proíbem os matrimônios mistos e a posse de bens imóveis.
Neste contexto é foi publicado, em 5 de agosto de 1938, o primeiro número da revista La Difesa della Razza, dirigida por Telesio Interlandi.
Mais adiante, vamos estudar um aspecto particular desta publicação, a saber, a utilização feita da Antiguidade para aprovar a política racial empreendida pelo regime fascista.
Veremos como a Idade Antiga abasteceu de modelos e justificações aos racistas. Assim, já na capa do primeiro número da revista, uma espada romana separa um busto romano de um nanico semítico do século III a.C e de uma cabeça de um jovem negro...
Os autores da antiguidade romana ao "resgate" do fascismo
"OS JUDEUS NÃO PERTENCEM À RAÇA ITALIANA."Os autores da Roma Antiga vão servir de coartada perfeita aos redatores da revista La Difesa della Razza para apoiar a política do regime fascista e para demonstrar que o conceito de raça era importante na mentalidade daqueles tempos.
Dos semitas que ao longo dos séculos aterrissaram na terra sagrada de nossa Pátria, nada em geral ficou. Inclusive a ocupação árabe da Sicília não deixou nada, salvo a recordação de algum nome; e por demais, o processo de assimilação foi sempre muito rápido na Itália. Os judeus são a única população que nunca se assimilou na Itália, já que se compõe de elementos raciais não-europeus, absolutamente distintos dos elementos que deram origem aos italianos".
(Texto do Manifesto da Raça, publicado na revista La Difesa della Razza, ano I, número 1, 5 de agosto de 1938)
Em primeiro lugar, Catão, o Velho, a quem é dedicado um artigo no número de novembro de 1938, sob a pluma de Roberto Bartolozzi, com o título de "O racismo de Catão, o Velho". Bartolozzi insiste no ódio à Cartago de Catão. Assim, a fórmula Carthago delenda est ("há que destruir Cartago"), tema dos discursos de Catão no Senado em fins de 150 a.C., havia sido a ilustração de um racismo para o defensor intratável dos interesses romanos.
Catão não pode ver a destruição de Cartago já que morreu em 149 a.C., três anos antes que a cidade Púnica fosse destruída. Contudo, é necessário sublinhar dois trechos. Em seu artigo, Roberto Bartolozzi representa Catão como filo-helênico quando se sabe, por exemplo, que durante sua viagem diplomática nas cidades gregas em 191 a.C., enquanto se anunciava a guerra contra Antíoco III, nega-se isso, embora possuísse capacidade para dirigir-se a seus interlocutores em grego, em particular em Atenas.
Assim mesmo, convém modular a insistência sobre o aspecto racial na vontade de Catão de destruir Cartago. Pois é em todas as luzes inexato e errôneo evocar a ideologia racista de Catão para explicar sua atitude acerca de Cartago.
Podemos perceber na obstinação de Catão os temores de um ex-combatente da guerra contra Aníbal, a influência dos mercadores romanos que temiam a nova prosperidade cartaginesa, a vontade de potência de um Estado romano que não queria mais rival no Mediterrâneo e inclusive a última ocasião para Catão desempenhar um papel político com mais de 80 anos.
Roberto Bartolozzi mostra um completo delírio historiográfico em seu intento de distorcer o passado de Roma a favor das teses antissemitas fascistas.
A segunda autoridade evocada é a de Tito Lívio, estudado por Mario Baccigalupi no artigo "A doutrina da raça na casa de Tito Lívio", do número de fevereiro de 1941.
Ali é dito, por exemplo: "Tito Lívio não teorizou num manual político sua doutrina, contudo está é todavia mais clara e incisiva na história. Expressou a alma da romanidade e por conseguinte da raça italiana narrando a história da grande entrada da luta dos povos que combatiam para a dominação do mundo.
Baccigalupi sintetiza os valores da romanidade que Tito Lívio pôs em destaque: o valor guerreiro, a fé, a sobriedade, a concórdia, a tenacidade, o dinamismo heroico. Encontraremos os ecos desses valores nas reflexões de Mussolini sobre o fascismo italiano: "A vida tal como a concebe o fascismo é grave, austera, religiosa. O Estado fascista é uma vontade de poder e de dominação. A tradição romana é uma ideia de força. Mas o império exige a disciplina, a coordenação dos esforços, o dever e o sacrifício."
Recorre-se também, supostamente a Tácito através de sua obra dedicada a seu sogro, Agrícola. O jornalista Osvaldo Costazi, no número de maio de 1939, intitula seu artigo como "Tácito e o problema da raça".
Para Costanzi, o retrato que compõe Tácito do defunto Agrícola corresponde certamente à "verdade romana": sua coragem militar durante sua passagem pela Bretanha como legado entre 77 e 84, sua "dignidade", sua "fisionomia cheia de agrado", sua "honra intacta". Nas arengas prestadas à Agrícola, encontram-se as virtudes que serviram de referência aos fascistas dos anos de 1930, pois esses últimos se consideravam os herdeiros da "raça romana".
Fonte: Blog Anatomia de la Historia
http://anatomiadelahistoria.com/2013/02/las-raices-ideologicas-del-antisemitismo-fascista/
Título original: Las raíces ideológicas del antisemitismo fascista (I)
Tradução: Roberto Lucena
[Parte 2]
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
O triângulo negro / Nenhum povo é ilegal
Violência, propaganda e deportação.
Um manifesto de escritores, artistas e intelectuais contra a violência contra os rom*, os romenos e as mulheres.
[A faísca surgiu num grupo de escritores e intelectuais fartos de observar a tendência racista que cruza toda a Itália, por desgraça agravada com a violenta morte de Giovanna Reggiani. Desta saturação, a necessidade de compartilhar uma tomada de posição firme. Assim nasceu "O triângulo negro", chamamento elaborado por Alessandro Bertante, Gianni Biondillo, Girolamo De Michele, Valerio Evangelisti, Giuseppe Genna, Helena Janeczek, Loredana Lipperini, Monica Mazzitelli, Marco Philopat, Marco Rovelli, Stefania Scateni, Antonio Scurati, Beppe Sebaste, Lello Voce e o coletivo Wu Ming. A este grupo logo se juntaram outros importantes nomes da cultura que decidiram aderir ao mesmo. Entre eles: Gad Lerner, Erri De Luca, Bernardo Bertolucci, Massimo Carlotto, Carlo Lucarelli, Moni Ovadia, Nanni Balestrini, Franca Rame, Stefano Tassinari, Marcello Flores, Andrea Bajani, Lisa Ginzburg, Lanfranco Caminiti, Ugo Riccarelli, Enrico Brizzi, Marco Mancassola, Simona Vinci, Raul Montanari, Giulio Mozzi, Andrea Porporati, Sandro Veronesi e muitos outros que se somam a cada minuto, para ratificar que os direitos individuais não justificam castigos coletivos. Clique Aqui, a possibilidade de aderir ao chamamento. Na continuação, o texto].
A história recente deste país é uma sequência de campanhas de alarme, cada vez mais próximas entre si e envoltas no escândalo. As campanhas soam o alarme, as palavras dos demagogos geram incêndios, uma nação com os nervos a flor da pele responde a cada estímulo criando "emergências" e escolhendo bodes expiatórios.
Uma mulher foi violada e assassinada em Roma. O homicida seguramente é um homem, talvez um romeno. Romena é a mulher que, atirando-se na rua para deter um ônibus que não freava, tentou salvar aquela vida. O horrendo crime sacode toda a Itália, o gesto de altruísmo cai no silêncio/esquecimento.
No dia anterior, sempre em Roma, uma mulher romena é violada e deixada quase sem vida por um homem. Duas vítimas com igual dignidade? Não: da segunda não se sabe nada, nada publicam os diários: da primeira se tem que saber que é italiana, e que o assassino é um homem, senão um romeno um rom.
Três dias depois, sempre em Roma, membros encapuzados de um grupo fascista atacam com porretes e navalhas a alguns romenos na saída de um supermercado, ferindo quatro. Não houve jornalistas junto ao leito desses feridos, que ficam sem nome, sem história, sem humanidade. Sobre seu estado, nada mais a dizer.
A partir desses sucesos se desencadeia uma alucinante criminalização massiva. Culpado um, culpado todos. As forças da ordem desalojam o povoado favelado em que vivia o suposto assassino. Duzentas pessoas, mulheres e crianças incluídas, foram colocados na rua.
E depois? Ódio e receio alimentam as generalizações: todos os romenos são rom, todos os rom são ladrões e assassinos, todos os ladrões e assassinos têm que ser expulsos da Itália. Políticos velhos e novos, de direita ou esquerda, competem para ver quem grita mais forte, denunciando a emergência. Emergência que, de acordo com os dados do Rapporto sulla criminalità (1993-2006), não existe: homicídios e delitos estão, hoje, com as cifras mais baixas dos últimos vinte anos, enquanto que estão com forte aumento os delitos cometidos entre paredes domésticas ou por razões passionais. O relatório Eures-Ansa 2005, L'omicidio volontario in Italia e o relatório Istat 2007 dizem que um homicídio em quatro ocorre no lar; sete entre dez vítimas é uma mulher; mais de um terço das mulheres entre os 16 e 70 anos padeceu com violência física ou sexual no curso de sua vida, e o responsável da agressão física ou violação é, sete em cada dez, seu marido ou companheiro: a família mata mais que a máfia, as ruas com frequência apresentam menor risco de violação que os dormitórios.
No verão de 2006, quando Jina, jovem de vinte anos paquistanesa, foi degolada por seu pai e seus parentes, políticos e meios de comunicação se embarcaram no paralelo entre culturas. Afirmavam que a ocidental, e a italiana em particular, havia evoluído felizmente em relação aos direitos das mulheres. Falso: a violência contra as mulheres não é um legado atroz em outras culturas, senão que cresce e floresce na nossa, cada dia, na construção e na multiplicação de um modelo feminino que privilegia o aspecto físico e a disponibilidade sexual fazendo-os passar como uma conquista. Pelo contrário, como testemunha o recente relatório do World Economic Forum on Gender Gap, sobre a igualdade feminina no trabalho, na saúde, nas expectativas de vida e na influência política, a Itália está no posto 84. Última na União Europeia. A Romênia está no posto 47.
Se esses são os fatos, o que é que está se passando?
O que se passa é que é mais fácil agitar um fantasma coletivo (hoje os romenos, ontem os muçulmanos, um pouco antes os albaneses) em vez de se comprometer com as verdadeiras causas do pânico e da insegurança social causados pelos processos de globalização.
O que se passa é que é mais fácil, e pega antes e melhor como consenso incondicional, gritar "perigo" e pedir expulsões em vez de cumprir as diretrizes europeias (como a 43/2000) sobre o direito à assistência sanitária, ao trabalho e a habitação dos migrantes; que é mais fácil mandar escavadoras para privar seres humanos de suas míseras casas, em vez de ir aos lugares de trabalho para combater o emprego ilegal.
O que se passa debaixo do tapete da equação romenos-deliquência é que se esconde a poeira da feroz exploração do povo romeno.
Exploração em obras, onde cada dia um trabalhador romeno é vítima de um acidente laboral mortal.
Exploração nas ruas, onde trinta mil mulheres romenas são obrigadas a se prostituir - a metade menores de idade - são cedidas pelo crime organizado a italianíssimos clientes (a cada ano nove milhões de homens italianos compram sexo de escravas estrangeiras, forma de violência sexual que está ante os olhos de todos mas poucos "querem ver").
Exploração na Romênia, onde empresários italianos - depois de terem "deslocalizado" (transferido) e gerado desemprego na Itália - pagam soldos de fome aos trabalhadores.
O que se passa é que ministros demais, prefeitos e menestréis convertidos em caudilhos jogam para serem aprendizes de bruxo para obter seus quinze minutos de popularidade. Não se perguntam o que se passará amanhã, quando os ódios que ficam no terreno seguirão fermentando, envenenando as raízes de nossa convivência e despertando esse micro-fascismo que está dentro de nós e nos faz desejar o poder e admirar os poderosos. Um micro-fascismo que se expressa com palavras e gestos rancorosos, enquanto já se sente, não muito longe, o sapateado de botas militares e a voz das armas de fogo.
O que se passa é que se está levando a cabo a construção do inimigo absoluto, como com os judeus e ciganos no nazifascismo, como com os armênios na Turquia em 1915, como com os sérvios, croatas e bósnios, reciprocamente, na ex-Iugoslávia dos anos noventa, em nome de uma política que promete segurança em troca de renunciar aos princípios de liberdade, dignidade e civilização; que se faz indistinguíveis a responsabilidade individual e coletiva, efeitos e causas, males e remédios; que invoca homens fortes no governo e pede aos cidadãos que sejam súditos obedientes.
Só falta que alguém recupere do desvão da intolerância o triângulo negro dos antissociais, marca da infâmia que os nazis faziam coser nas roupas dos ciganos.
E não parece ser mais que a última etapa, por agora, de uma propagada guerra contra os pobres.
Frente a todo isto não podemos permanecer indiferentes. Não nos reconhecemos no silêncio, na renúncia ao direito de crítica e no abandono da inteligência e da razão.
Delitos individuais não justificam castigos coletivos.
Ser romeno ou rom não é uma forma de "cumplicidade".
Não existem as raças, e muito menos raças culpáveis ou inocentes.
Nenhum povo é ilegal.
*A palavra "rom" é a forma mais usada na Itália para designar a um membro da comunidade cigana. Na tradução ao castelhano se manteve esta denominação quando era necessário indicar o equívoco que pode se produzir com membros da nacionalidade romena. [Ninguém em particular].
15 de Novembro de 2007
Fonte: Site Wumingfoundation.com
http://www.wumingfoundation.com/italiano/outtakes/triangulonegro.htm
Título original: El triángulo negro / Ningún pueblo es ilegal
Tradução: Roberto Lucena
Observação: eu cortei do texto acima as assinaturas, quem quiser ver basta acessar o link do texto original. Este texto é de 2007 (só fui ver depois) e o pior é que continua atual.
Um manifesto de escritores, artistas e intelectuais contra a violência contra os rom*, os romenos e as mulheres.
"Negócio ariano" |
A história recente deste país é uma sequência de campanhas de alarme, cada vez mais próximas entre si e envoltas no escândalo. As campanhas soam o alarme, as palavras dos demagogos geram incêndios, uma nação com os nervos a flor da pele responde a cada estímulo criando "emergências" e escolhendo bodes expiatórios.
Uma mulher foi violada e assassinada em Roma. O homicida seguramente é um homem, talvez um romeno. Romena é a mulher que, atirando-se na rua para deter um ônibus que não freava, tentou salvar aquela vida. O horrendo crime sacode toda a Itália, o gesto de altruísmo cai no silêncio/esquecimento.
No dia anterior, sempre em Roma, uma mulher romena é violada e deixada quase sem vida por um homem. Duas vítimas com igual dignidade? Não: da segunda não se sabe nada, nada publicam os diários: da primeira se tem que saber que é italiana, e que o assassino é um homem, senão um romeno um rom.
Três dias depois, sempre em Roma, membros encapuzados de um grupo fascista atacam com porretes e navalhas a alguns romenos na saída de um supermercado, ferindo quatro. Não houve jornalistas junto ao leito desses feridos, que ficam sem nome, sem história, sem humanidade. Sobre seu estado, nada mais a dizer.
A partir desses sucesos se desencadeia uma alucinante criminalização massiva. Culpado um, culpado todos. As forças da ordem desalojam o povoado favelado em que vivia o suposto assassino. Duzentas pessoas, mulheres e crianças incluídas, foram colocados na rua.
E depois? Ódio e receio alimentam as generalizações: todos os romenos são rom, todos os rom são ladrões e assassinos, todos os ladrões e assassinos têm que ser expulsos da Itália. Políticos velhos e novos, de direita ou esquerda, competem para ver quem grita mais forte, denunciando a emergência. Emergência que, de acordo com os dados do Rapporto sulla criminalità (1993-2006), não existe: homicídios e delitos estão, hoje, com as cifras mais baixas dos últimos vinte anos, enquanto que estão com forte aumento os delitos cometidos entre paredes domésticas ou por razões passionais. O relatório Eures-Ansa 2005, L'omicidio volontario in Italia e o relatório Istat 2007 dizem que um homicídio em quatro ocorre no lar; sete entre dez vítimas é uma mulher; mais de um terço das mulheres entre os 16 e 70 anos padeceu com violência física ou sexual no curso de sua vida, e o responsável da agressão física ou violação é, sete em cada dez, seu marido ou companheiro: a família mata mais que a máfia, as ruas com frequência apresentam menor risco de violação que os dormitórios.
No verão de 2006, quando Jina, jovem de vinte anos paquistanesa, foi degolada por seu pai e seus parentes, políticos e meios de comunicação se embarcaram no paralelo entre culturas. Afirmavam que a ocidental, e a italiana em particular, havia evoluído felizmente em relação aos direitos das mulheres. Falso: a violência contra as mulheres não é um legado atroz em outras culturas, senão que cresce e floresce na nossa, cada dia, na construção e na multiplicação de um modelo feminino que privilegia o aspecto físico e a disponibilidade sexual fazendo-os passar como uma conquista. Pelo contrário, como testemunha o recente relatório do World Economic Forum on Gender Gap, sobre a igualdade feminina no trabalho, na saúde, nas expectativas de vida e na influência política, a Itália está no posto 84. Última na União Europeia. A Romênia está no posto 47.
Se esses são os fatos, o que é que está se passando?
O que se passa é que é mais fácil agitar um fantasma coletivo (hoje os romenos, ontem os muçulmanos, um pouco antes os albaneses) em vez de se comprometer com as verdadeiras causas do pânico e da insegurança social causados pelos processos de globalização.
O que se passa é que é mais fácil, e pega antes e melhor como consenso incondicional, gritar "perigo" e pedir expulsões em vez de cumprir as diretrizes europeias (como a 43/2000) sobre o direito à assistência sanitária, ao trabalho e a habitação dos migrantes; que é mais fácil mandar escavadoras para privar seres humanos de suas míseras casas, em vez de ir aos lugares de trabalho para combater o emprego ilegal.
O que se passa debaixo do tapete da equação romenos-deliquência é que se esconde a poeira da feroz exploração do povo romeno.
Exploração em obras, onde cada dia um trabalhador romeno é vítima de um acidente laboral mortal.
Exploração nas ruas, onde trinta mil mulheres romenas são obrigadas a se prostituir - a metade menores de idade - são cedidas pelo crime organizado a italianíssimos clientes (a cada ano nove milhões de homens italianos compram sexo de escravas estrangeiras, forma de violência sexual que está ante os olhos de todos mas poucos "querem ver").
Exploração na Romênia, onde empresários italianos - depois de terem "deslocalizado" (transferido) e gerado desemprego na Itália - pagam soldos de fome aos trabalhadores.
O que se passa é que ministros demais, prefeitos e menestréis convertidos em caudilhos jogam para serem aprendizes de bruxo para obter seus quinze minutos de popularidade. Não se perguntam o que se passará amanhã, quando os ódios que ficam no terreno seguirão fermentando, envenenando as raízes de nossa convivência e despertando esse micro-fascismo que está dentro de nós e nos faz desejar o poder e admirar os poderosos. Um micro-fascismo que se expressa com palavras e gestos rancorosos, enquanto já se sente, não muito longe, o sapateado de botas militares e a voz das armas de fogo.
O que se passa é que se está levando a cabo a construção do inimigo absoluto, como com os judeus e ciganos no nazifascismo, como com os armênios na Turquia em 1915, como com os sérvios, croatas e bósnios, reciprocamente, na ex-Iugoslávia dos anos noventa, em nome de uma política que promete segurança em troca de renunciar aos princípios de liberdade, dignidade e civilização; que se faz indistinguíveis a responsabilidade individual e coletiva, efeitos e causas, males e remédios; que invoca homens fortes no governo e pede aos cidadãos que sejam súditos obedientes.
Só falta que alguém recupere do desvão da intolerância o triângulo negro dos antissociais, marca da infâmia que os nazis faziam coser nas roupas dos ciganos.
E não parece ser mais que a última etapa, por agora, de uma propagada guerra contra os pobres.
Frente a todo isto não podemos permanecer indiferentes. Não nos reconhecemos no silêncio, na renúncia ao direito de crítica e no abandono da inteligência e da razão.
Delitos individuais não justificam castigos coletivos.
Ser romeno ou rom não é uma forma de "cumplicidade".
Não existem as raças, e muito menos raças culpáveis ou inocentes.
Nenhum povo é ilegal.
*A palavra "rom" é a forma mais usada na Itália para designar a um membro da comunidade cigana. Na tradução ao castelhano se manteve esta denominação quando era necessário indicar o equívoco que pode se produzir com membros da nacionalidade romena. [Ninguém em particular].
15 de Novembro de 2007
Fonte: Site Wumingfoundation.com
http://www.wumingfoundation.com/italiano/outtakes/triangulonegro.htm
Título original: El triángulo negro / Ningún pueblo es ilegal
Tradução: Roberto Lucena
Observação: eu cortei do texto acima as assinaturas, quem quiser ver basta acessar o link do texto original. Este texto é de 2007 (só fui ver depois) e o pior é que continua atual.
domingo, 30 de dezembro de 2012
Ciganos em Auschwitz - Parte 1 (Holocausto)
Para a Alemanha nazista os ciganos tornaram-se um dilema racista. Os ciganos eram arianos, mas na mente nazista havia contradições entre o que eles consideravam como superioridade da raça ariana e a imagem dos ciganos...*
Em uma conferência realizada em Berlim em 30 de janeiro de 1940, foi tomada a decisão de expulsar 30 mil ciganos da Alemanha para os territórios da Polônia ocupada ...
Os relatórios dos SS Einsatzgruppen [forças-tarefa especiais] que operavam nos territórios ocupados da União Soviética mencionam o assassinato de milhares de ciganos, juntamente com o extermínio em massa dos judeus nessas áreas.
As deportações e execuções dos ciganos veio sob autoridade de Himmler. Em 16 de dezembro de 1942, Himmler emitiu uma ordem para enviar todos os ciganos para os campos de concentração, com algumas exceções ...
Os ciganos deportados foram enviados a Auschwitz-Birkenau, onde um acampamento especial cigano foi erguido. Mais de 20.000 ciganos da Alemanha e de outras partes da Europa foram enviados para este acampamento, e a maioria deles foram gaseados lá ...
Wiernik descreveu a chegada do maior grupo cigano trazido para Treblinka, na primavera de 1943:
Extraído de. Yitzhak Arad, BELZEC, SOBIBOR, TREBLINKA - the Operation Reinhard Death Camps Indiana University Press -, 1987.,--páginas150-153--
De acordo com o Institut Fuer Zeitgeschicthe, em Munique, pelo menos 4.000 ciganos foram assassinados por gás em Auschwitz-Birkenau. (Ver contagem das vítimas em Holocaust Almanac)
Fonte: Site da Universidade Fordham/Nizkor*
http://www.fordham.edu/halsall/mod/gypsy-holo.asp
Tradução: Roberto Lucena
*Observação: este texto foi publicado originalmente em grupos de discussão da Usenet ou da Undernet (mais provável que tenha sido no da Usenet no grupo alt.revisionism), nos primórdios da internet. O site Nizkor apresenta uma cópia do texto da discussão original de 1993, ou seja, o texto tem quase 20 anos na rede:
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/camps/auschwitz/ftp.py?camps/auschwitz//gypsies.01
O interessante é ver no verbete da Wikipedia que a Undernet tombou devido as famosas Flame Wars provocadas por trolls, mesma causa do declínio do Orkut (do Google) e de várias redes/listas de discussão.
Ver também:
Ciganos em Auschwitz - Parte 2
Ciganos em Auschwitz - Parte 3
Em uma conferência realizada em Berlim em 30 de janeiro de 1940, foi tomada a decisão de expulsar 30 mil ciganos da Alemanha para os territórios da Polônia ocupada ...
Os relatórios dos SS Einsatzgruppen [forças-tarefa especiais] que operavam nos territórios ocupados da União Soviética mencionam o assassinato de milhares de ciganos, juntamente com o extermínio em massa dos judeus nessas áreas.
As deportações e execuções dos ciganos veio sob autoridade de Himmler. Em 16 de dezembro de 1942, Himmler emitiu uma ordem para enviar todos os ciganos para os campos de concentração, com algumas exceções ...
Os ciganos deportados foram enviados a Auschwitz-Birkenau, onde um acampamento especial cigano foi erguido. Mais de 20.000 ciganos da Alemanha e de outras partes da Europa foram enviados para este acampamento, e a maioria deles foram gaseados lá ...
Wiernik descreveu a chegada do maior grupo cigano trazido para Treblinka, na primavera de 1943:
"Um dia, enquanto eu estava trabalhando perto do portão, vi os alemães e ucranianos fazerem preparativos especiais ... enquanto isso, o portão se abriu e cerca de 1.000 ciganos foram trazidos (este foi o terceiro transporte de ciganos). Cerca de 200 deles eram homens, e o resto mulheres e crianças ... todos os ciganos foram levados para as câmaras de gás e depois cremados"Ciganos do Governo Geral [Polônia] que não foram enviados para Auschwitz e para os campos da Operação Reinhard foram baleados no local pela polícia local ou gendarms. Na região oriental do distrito de Cracóvia, nos municípios de Sanok, Jaslo, e Rzeszow, cerca de 1.000 ciganos foram mortos.
Extraído de. Yitzhak Arad, BELZEC, SOBIBOR, TREBLINKA - the Operation Reinhard Death Camps Indiana University Press -, 1987.,--páginas150-153--
De acordo com o Institut Fuer Zeitgeschicthe, em Munique, pelo menos 4.000 ciganos foram assassinados por gás em Auschwitz-Birkenau. (Ver contagem das vítimas em Holocaust Almanac)
Fonte: Site da Universidade Fordham/Nizkor*
http://www.fordham.edu/halsall/mod/gypsy-holo.asp
Tradução: Roberto Lucena
*Observação: este texto foi publicado originalmente em grupos de discussão da Usenet ou da Undernet (mais provável que tenha sido no da Usenet no grupo alt.revisionism), nos primórdios da internet. O site Nizkor apresenta uma cópia do texto da discussão original de 1993, ou seja, o texto tem quase 20 anos na rede:
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/camps/auschwitz/ftp.py?camps/auschwitz//gypsies.01
O interessante é ver no verbete da Wikipedia que a Undernet tombou devido as famosas Flame Wars provocadas por trolls, mesma causa do declínio do Orkut (do Google) e de várias redes/listas de discussão.
Ver também:
Ciganos em Auschwitz - Parte 2
Ciganos em Auschwitz - Parte 3
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Deputado da extrema-direita húngara pede “lista de judeus”
Marton Gyongyosi, deputado húngaro de extrema-direita, quer lista com judeus que possam ser “risco de segurança nacional”. Associações judaicas e o Governo húngaro já criticaram estas palavras. Gyongyosi já pediu desculpa.
(Foto) Membros da Guarda Húngara, grupo ligado ao Jobbik e acusados de serem uma unidade paramilitar, numa cerimónia Karoly Arvai/REUTERS
Foi durante uma sessão parlamentar que o vice-presidente da bancada parlamentar do Jobbik, o partido de extrema-direita da Hungria, afirmou ser necessária uma lista com os nomes de judeus húngaros que pudessem representar um “risco de segurança nacional”.
As declarações do vice-presidente da bancada parlamentar do Jobbik foram prontamente reprovadas por vários sectores da sociedade húngara. O Governo húngaro, de direita, lançou um comunicado em reacção às declarações de Gyongyosi, em que garantia: “O Governo quer deixar claro que todos os cidadãos vão ser protegidos de insultos como este”
O comunicado dizia também que o Governo húngaro tem tomado “a acção mais firme possível contra qualquer forma de racismo e comportamento anti-semita” e que tem feito “tudo para poder assegurar que vozes mali-intencionadas incompatíveis com as normas europeias sejam travadas”.
Em declarações à agência Reuters, o director das Congregações Judaico-Húngaras, Gusztav Zoltai, sobrevivente do Holocausto, disse: “É claro que [estas declarações] servem apenas um propósito político.” Mas acrescentou: “A pessoas como eu isto gera um medo imenso.”
Durante o Holocausto morreram entre 500.000 e 600.000 judeus húngaros, de acordo com os número do Centro de Memória do Holocausto em Budapeste.
Jobbik acusado de ter ala militar
O Jobbik é o terceiro partido com maior representação parlamentar na Hungria. O partido foi fundado em 2003, mas só se estreou nas eleições legislativas de 2010, onde recolheu uns expressivos 16,67% dos votos.
O partido liderado por Gábor Vona é frequentemente ligado a posição anti-semitas, anti-imigração e xenófobas. Um dos assuntos recorrentes deste partido é a minoria étnica roma da Hungria.
É pública a existência de um grupo chamado “Guarda Húngara” que tem ligações ao Jobbik - foi, aliás, fundada por Gábor Vona. São várias as acusações de este grupo agir como um grupo paramilitar, responsável por atacar vários imigrantes, especialmente ciganos, na Hungria. Estas acusações são refutadas pelo Jobbik, que alega que este grupo nunca teve armas e que, por isso, não pode ser olhado como uma milícia.
PÚBLICO. 27/11/2012 - 14:39
Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/deputado-da-extremadireita-hungara-pede-lista-de-judeus-1575172
Comentário: mais de uma vez teve gente negando o caráter antissemita e de reabilitação do nazismo do negacionismo do Holocausto. Será que com essas notícias recentes ainda virá gente negar o óbvio? Se deixar esses grupos fascistas repetem o que fizeram na Segunda Guerra, e o pior é que a sociedade civil em alguns países está deixando a coisa crescer. As milícias do Jobbik também são acusadas de perseguir ciganos na Húngria.
Ver mais:
Líder de direita na Hungria causa indignação ao pedir lista de judeus no país (Diário Digital, Portugal)
Hungria: judeus ameaçam a "segurança", diz deputado A Tarde/Agência Estado
Neonazi pide listas de judíos como en el Holocausto (Infobae)
Hungria: Partido de extrema-direita quer referendo sobre presença na UE TSF
(Foto) Membros da Guarda Húngara, grupo ligado ao Jobbik e acusados de serem uma unidade paramilitar, numa cerimónia Karoly Arvai/REUTERS
Foi durante uma sessão parlamentar que o vice-presidente da bancada parlamentar do Jobbik, o partido de extrema-direita da Hungria, afirmou ser necessária uma lista com os nomes de judeus húngaros que pudessem representar um “risco de segurança nacional”.
As declarações do vice-presidente da bancada parlamentar do Jobbik foram prontamente reprovadas por vários sectores da sociedade húngara. O Governo húngaro, de direita, lançou um comunicado em reacção às declarações de Gyongyosi, em que garantia: “O Governo quer deixar claro que todos os cidadãos vão ser protegidos de insultos como este”
O comunicado dizia também que o Governo húngaro tem tomado “a acção mais firme possível contra qualquer forma de racismo e comportamento anti-semita” e que tem feito “tudo para poder assegurar que vozes mali-intencionadas incompatíveis com as normas europeias sejam travadas”.
Em declarações à agência Reuters, o director das Congregações Judaico-Húngaras, Gusztav Zoltai, sobrevivente do Holocausto, disse: “É claro que [estas declarações] servem apenas um propósito político.” Mas acrescentou: “A pessoas como eu isto gera um medo imenso.”
Durante o Holocausto morreram entre 500.000 e 600.000 judeus húngaros, de acordo com os número do Centro de Memória do Holocausto em Budapeste.
Jobbik acusado de ter ala militar
Marton Gyongyosi - fascista húngaro que pediu lista de judeus daquele país |
O partido liderado por Gábor Vona é frequentemente ligado a posição anti-semitas, anti-imigração e xenófobas. Um dos assuntos recorrentes deste partido é a minoria étnica roma da Hungria.
É pública a existência de um grupo chamado “Guarda Húngara” que tem ligações ao Jobbik - foi, aliás, fundada por Gábor Vona. São várias as acusações de este grupo agir como um grupo paramilitar, responsável por atacar vários imigrantes, especialmente ciganos, na Hungria. Estas acusações são refutadas pelo Jobbik, que alega que este grupo nunca teve armas e que, por isso, não pode ser olhado como uma milícia.
PÚBLICO. 27/11/2012 - 14:39
Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/deputado-da-extremadireita-hungara-pede-lista-de-judeus-1575172
Comentário: mais de uma vez teve gente negando o caráter antissemita e de reabilitação do nazismo do negacionismo do Holocausto. Será que com essas notícias recentes ainda virá gente negar o óbvio? Se deixar esses grupos fascistas repetem o que fizeram na Segunda Guerra, e o pior é que a sociedade civil em alguns países está deixando a coisa crescer. As milícias do Jobbik também são acusadas de perseguir ciganos na Húngria.
Ver mais:
Líder de direita na Hungria causa indignação ao pedir lista de judeus no país (Diário Digital, Portugal)
Hungria: judeus ameaçam a "segurança", diz deputado A Tarde/Agência Estado
Neonazi pide listas de judíos como en el Holocausto (Infobae)
Hungria: Partido de extrema-direita quer referendo sobre presença na UE TSF
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sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Ataque a torcedores na Itália alimenta medo de violência neofascista
ROMA, 23 Nov (Reuters) - Um ataque brutal contra torcedores do clube de futebol inglês Tottenham Hotspur em Roma alimentou os temores na Itália com relação ao crescimento da violência da direita e do antissemitismo.
A capital italiana foi atingida por um aumento da militância da extrema direita desde outubro, com manifestações semanais promovidas pelo grupo de jovens neofascistas Blocco Studentesco, que em geral terminam em confrontos com a polícia.
A mídia italiana inicialmente atribuiu o ataque de quinta-feira aos torcedores linha-dura ou ‘ultras'' da Lazio, time que enfrentou o Tottenham pela Liga da Europa.
Mas dois torcedores da Roma, os principais rivais da Lazio na cidade, estavam entre os 15 detidos por suposto envolvimento no ataque contra um bar no centro da cidade, o que sugere uma possível motivação diferente.
O Tottenham tem muitos torcedores judeus, e testemunhas contaram à mídia italiana que homens mascarados armados com facas e tacos de beisebol gritavam "Judeus, judeus" ao cercar o pub onde os torcedores do Tottenham bebiam, em um distrito frequentado por turistas em um bairro antigo de Roma.
Dez pessoas foram feridas no ataque. O torcedor inglês Ashley Mills, de 25 anos, ficou em estado grave. Ele foi submetido a uma cirurgia por causa de um ferimento na perna na sexta-feira e ainda era monitorado pelos médicos, informou o hospital de Roma em que ele está sendo tratado.
A Lazio divulgou uma declaração na quinta-feira afirmando que qualquer sugestão de que os agressores seriam torcedores do time era "totalmente sem fundamento".
O embaixador de Israel na Itália, Naor Gilon, disse a jornalistas que o ataque contra torcedores do Spurs vinha de "uma nova tendência de antissemitismo na Europa".
O Congresso Judaico Mundial pediu na sexta-feira que a Lazio seja suspensa do futebol europeu, caso o clube não tome medidas contra os torcedores linha-dura antissemitas.
Notícias na imprensa informaram que os torcedores da Lazio cantaram "Juden Tottenham, Juden Tottenham" na partida de quinta-feira.
PERIGO AOS JUDEUS
O caso de violência deu início a uma discussão sobre a segurança dos judeus em Roma.
O chefe da comunidade judaica da cidade, Ricardo Pacifici, disse que o ataque mostra que os judeus não estão suficientemente protegidos.
O comissário de polícia Giuseppe Pecoraro rejeitou a acusação, classificada por ele de provocação. "A polícia faz mais para a comunidade judaica de Roma do que em qualquer outro lugar do mundo", afirmou.
O prefeito de Roma, Gianni Alemanno, anunciou o financiamento de 21 milhões de euros (27 milhões de dólares) para o Museu do Holocausto "a fim de dar uma resposta imediata aos vários sinais de antissemitismo ocorridos recentemente em nossa cidade".
O próprio Alemanno é um antigo líder da juventude neofascista que era cumprimentado com saudações fascistas e gritos de "Duce! Duce!" ao ser eleito prefeito em 2008. Duce é o termo adotado pelo ditador italiano Benito Mussolini.
Por Naomi O''Leary
23 de novembro de 2012 • 14h16
Fonte: Reuters/Terra
http://esportes.terra.com.br/noticias/0,,OI6326623-EI1137,00-Ataque+a+torcedores+na+Italia+alimenta+medo+de+violencia+neofascista.html
A capital italiana foi atingida por um aumento da militância da extrema direita desde outubro, com manifestações semanais promovidas pelo grupo de jovens neofascistas Blocco Studentesco, que em geral terminam em confrontos com a polícia.
A mídia italiana inicialmente atribuiu o ataque de quinta-feira aos torcedores linha-dura ou ‘ultras'' da Lazio, time que enfrentou o Tottenham pela Liga da Europa.
Mas dois torcedores da Roma, os principais rivais da Lazio na cidade, estavam entre os 15 detidos por suposto envolvimento no ataque contra um bar no centro da cidade, o que sugere uma possível motivação diferente.
O Tottenham tem muitos torcedores judeus, e testemunhas contaram à mídia italiana que homens mascarados armados com facas e tacos de beisebol gritavam "Judeus, judeus" ao cercar o pub onde os torcedores do Tottenham bebiam, em um distrito frequentado por turistas em um bairro antigo de Roma.
Dez pessoas foram feridas no ataque. O torcedor inglês Ashley Mills, de 25 anos, ficou em estado grave. Ele foi submetido a uma cirurgia por causa de um ferimento na perna na sexta-feira e ainda era monitorado pelos médicos, informou o hospital de Roma em que ele está sendo tratado.
A Lazio divulgou uma declaração na quinta-feira afirmando que qualquer sugestão de que os agressores seriam torcedores do time era "totalmente sem fundamento".
O embaixador de Israel na Itália, Naor Gilon, disse a jornalistas que o ataque contra torcedores do Spurs vinha de "uma nova tendência de antissemitismo na Europa".
O Congresso Judaico Mundial pediu na sexta-feira que a Lazio seja suspensa do futebol europeu, caso o clube não tome medidas contra os torcedores linha-dura antissemitas.
Notícias na imprensa informaram que os torcedores da Lazio cantaram "Juden Tottenham, Juden Tottenham" na partida de quinta-feira.
PERIGO AOS JUDEUS
O caso de violência deu início a uma discussão sobre a segurança dos judeus em Roma.
O chefe da comunidade judaica da cidade, Ricardo Pacifici, disse que o ataque mostra que os judeus não estão suficientemente protegidos.
O comissário de polícia Giuseppe Pecoraro rejeitou a acusação, classificada por ele de provocação. "A polícia faz mais para a comunidade judaica de Roma do que em qualquer outro lugar do mundo", afirmou.
O prefeito de Roma, Gianni Alemanno, anunciou o financiamento de 21 milhões de euros (27 milhões de dólares) para o Museu do Holocausto "a fim de dar uma resposta imediata aos vários sinais de antissemitismo ocorridos recentemente em nossa cidade".
O próprio Alemanno é um antigo líder da juventude neofascista que era cumprimentado com saudações fascistas e gritos de "Duce! Duce!" ao ser eleito prefeito em 2008. Duce é o termo adotado pelo ditador italiano Benito Mussolini.
Por Naomi O''Leary
23 de novembro de 2012 • 14h16
Fonte: Reuters/Terra
http://esportes.terra.com.br/noticias/0,,OI6326623-EI1137,00-Ataque+a+torcedores+na+Italia+alimenta+medo+de+violencia+neofascista.html
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Pode um memorial acabar com o preconceito contra os sinti e roma?
Durante décadas os sinti e roma alemães lutaram por um memorial, por terem sido vítimas de um genocídio e por serem discriminados até hoje em várias regiões da Europa. Agora ele foi inaugurado em Berlim.
"O trágico no fato de o memorial ser inaugurado hoje é que muitos dos sobreviventes não podem mais vivenciar esse reconhecimento", declarou Silvio Peritore, membro da direção do Conselho Central dos Sinti e Roma da Alemanha.
O Estado alemão levou muito tempo para reconhecer o genocídio dos sinti e roma – para muitos, tempo demais. Por exemplo para Franz Rosenbach. Ele foi obrigado a prestar trabalhos forçados, sobreviveu a Auschwitz e foi a escolas alemãs relatar tudo o que viveu. Ele foi um dos maiores defensores do memorial. Há poucos dias, Rosenbach faleceu, aos 85 anos.
Uma exposição em Heidelberg retrata o genocídio dos sinti e roma no período nazista. Ela foi inaugurada em 1997. Um ano depois, Peritore passou a fazer parte do grupo do centro cultural e de documentação. "Em muitos memoriais, o genocídio dos sinti e roma era apenas uma nota de rodapé na história do Holocausto judeu, porque, durante décadas, pesquisadores em parte esqueceram esse tema, em parte o ignoraram conscientemente", afirma.
Não se trata de opor o número de vítimas: seis milhões de judeus europeus contra 500 mil sinti e roma, argumenta. "O que um memorial representa? O reconhecimento das vítimas, a responsabilidade para com a história que resultou do Holocausto."
Aparentemente, os sinti e roma são, até hoje, uma minoria indesejada. Por isso, o reconhecimento de que foram vítimas, a memória do genocídio foi por muito tempo recusada para eles. Ao menos essa é a impressão que pessoas como Franz Rosenbach têm. "As pessoas se perguntam: por que eles não querem isso?" Eles são os outros, o que inclui a maioria da sociedade alemã.
Preconceito e exclusão seculares
Cerca de 15 mil pessoas por ano visitam a exposição sobre o genocídio dos sinti e roma alemães em Heidelberg: turmas de escolas, universitários e também policiais, que na sua profissão têm de lidar com os "ciganos", frequentemente tachados de criminosos. Como diz Armin Ulm, pesquisador no centro de documentação, esses clichês existem há séculos.
"Esse é um fenômeno que existe na Europa desde a chegada dos sinti e roma, nos séculos 14 e 15. Havia também atribuições positivas, como o clichê romântico representado na figura de Carmen (a 'cigana' apaixonada da ópera de Georg Bizet), mas a maioria são atribuições negativas: o 'cigano' ladrão, a 'cigana' que lê a mão."
Essas ideias se perpetuaram com o passar do tempo. A expressão 'cigano' pode ser encontrada já nas crônicas da Idade Média: "A palavra aparece, por exemplo, na crônica da cidade de Hildesheim." Em diversos documentos é possível encontrar diferentes formas de escrita, porém não é claro sobre quem se está falando, pois nem os sinti nem os roma se descreviam como ciganos. A maioria rejeita esse termo por considerá-lo discriminatório.
"Como é possível que a tradição dos clichês "ciganos" se perpetue até hoje numa sociedade esclarecida?", pergunta Peritore. A pergunta não é retórica. Há 12 milhões de sinti e roma vivendo na Europa, e em muitos países eles continuam sendo excluídos, também em países da União Europeia.
"Em países como Hungria, Romênia, República Tcheca e Eslováquia, os sinti e roma são privados de direitos humanos elementares. Eles não possuem o mesmo direito de acesso a fatores essenciais para a vida, como emprego, serviço de saúde pública e moradia digna", diz Peritore.
Membros da etnia sinti e roma são discriminados, criminalizados e estilizados com inimigos em muitos países do sul e do centro da Europa. Em vez de investimentos em infraestrutura, o que tornaria a vida dos sinti e roma mais fácil em suas terras natais, o dinheiro da União Europeia some por caminhos obscuros, denuncia Peritore.
Ele não economiza críticas aos políticos e à sociedade da Europa Ocidental. "Se ouvimos falar aqui na Alemanha sobre o 'problema dos roma', então trata-se de pessoas que vêm para cá procurando uma vida mais segura e melhores oportunidades de emprego. Essa é um desejo legítimo." Mas também aqui ele são considerados um risco para a segurança e frequentemente criminalizados, como aconteceu na França em 2010, quando o então presidente Nicolas Sarkozy afrontou a lei francesa e europeia e deportou os sinti e roma.
Peritore denuncia também a prática alemã de deportar sinti e roma de volta para o Kosovo, mesmo que lá eles corram o risco de ser perseguidos e na Alemanha já tenha há muito se integrado na sociedade. Onde os sinti e roma tiveram chances iguais, argumenta, seguiram os mesmos caminhos que seguem os outros integrantes da sociedade.
"Isso contradiz principalmente as afirmações generalizadas daqueles que são contra os sinti e roma e dizem que de nada adiantam todos os programas e projetos, pois supostamente eles são contrários à cultura desses povos. Isso mostra que essas afirmações são mentiras, pois podemos ver que é possível quando as pessoas recebem chances iguais e justas."
Um memorial em Berlim
A exposição sobre o genocídio dos sinti e roma mostra também fotos de sinti e roma alemães antes de 1933. São cenas da vida familiar, bons civis, quase caretas. Elas mostram que essas pessoas faziam parte da sociedade. Isso não as salvou da perseguição e da morte.
"Pesquisadores sérios já mostraram há muito tempo que houve um segundo Holocausto: eram as mesmas motivações político-raciais, o mesmo aparelho criminoso, os mesmos métodos de extermínio nos mesmos locais, executados de forma sistemática e eficiente." Contudo, somente o chanceler federal alemão Helmut Schmidt reconheceu esse fato, em 1982.
Após a decisão parlamentar de que não haveria um memorial único para todas as vítimas do Holocausto, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) autorizou em 1992 a construção de um memorial para os sinti e roma. O que se seguiu foi uma longa discussão: governo, historiadores e também os representantes dos sinti e roma não conseguiram chegar a um acordo sobre os detalhes.
Para o Conselho Central dos Sinti e Roma da Alemanha não se trata somente de um reconhecimento tardio, mas também de responsabilidade com o presente e o futuro, para evitar a discriminação e a exclusão. "Se for para aprender algo, então que seja isso. Mas talvez essa seja uma pretensão muito grande", diz Peritore, e na sua voz é possível reconhecer um tom de tristeza.
Autora: Birgit Görtz (cn)
Revisão: Alexandre Schossler
Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/pode-um-memorial-acabar-com-o-preconceito-contra-os-sinti-e-roma/a-16328944
"O trágico no fato de o memorial ser inaugurado hoje é que muitos dos sobreviventes não podem mais vivenciar esse reconhecimento", declarou Silvio Peritore, membro da direção do Conselho Central dos Sinti e Roma da Alemanha.
O Estado alemão levou muito tempo para reconhecer o genocídio dos sinti e roma – para muitos, tempo demais. Por exemplo para Franz Rosenbach. Ele foi obrigado a prestar trabalhos forçados, sobreviveu a Auschwitz e foi a escolas alemãs relatar tudo o que viveu. Ele foi um dos maiores defensores do memorial. Há poucos dias, Rosenbach faleceu, aos 85 anos.
Uma exposição em Heidelberg retrata o genocídio dos sinti e roma no período nazista. Ela foi inaugurada em 1997. Um ano depois, Peritore passou a fazer parte do grupo do centro cultural e de documentação. "Em muitos memoriais, o genocídio dos sinti e roma era apenas uma nota de rodapé na história do Holocausto judeu, porque, durante décadas, pesquisadores em parte esqueceram esse tema, em parte o ignoraram conscientemente", afirma.
Não se trata de opor o número de vítimas: seis milhões de judeus europeus contra 500 mil sinti e roma, argumenta. "O que um memorial representa? O reconhecimento das vítimas, a responsabilidade para com a história que resultou do Holocausto."
Aparentemente, os sinti e roma são, até hoje, uma minoria indesejada. Por isso, o reconhecimento de que foram vítimas, a memória do genocídio foi por muito tempo recusada para eles. Ao menos essa é a impressão que pessoas como Franz Rosenbach têm. "As pessoas se perguntam: por que eles não querem isso?" Eles são os outros, o que inclui a maioria da sociedade alemã.
Preconceito e exclusão seculares
Família sinti e roma alemã |
"Esse é um fenômeno que existe na Europa desde a chegada dos sinti e roma, nos séculos 14 e 15. Havia também atribuições positivas, como o clichê romântico representado na figura de Carmen (a 'cigana' apaixonada da ópera de Georg Bizet), mas a maioria são atribuições negativas: o 'cigano' ladrão, a 'cigana' que lê a mão."
Essas ideias se perpetuaram com o passar do tempo. A expressão 'cigano' pode ser encontrada já nas crônicas da Idade Média: "A palavra aparece, por exemplo, na crônica da cidade de Hildesheim." Em diversos documentos é possível encontrar diferentes formas de escrita, porém não é claro sobre quem se está falando, pois nem os sinti nem os roma se descreviam como ciganos. A maioria rejeita esse termo por considerá-lo discriminatório.
"Como é possível que a tradição dos clichês "ciganos" se perpetue até hoje numa sociedade esclarecida?", pergunta Peritore. A pergunta não é retórica. Há 12 milhões de sinti e roma vivendo na Europa, e em muitos países eles continuam sendo excluídos, também em países da União Europeia.
"Em países como Hungria, Romênia, República Tcheca e Eslováquia, os sinti e roma são privados de direitos humanos elementares. Eles não possuem o mesmo direito de acesso a fatores essenciais para a vida, como emprego, serviço de saúde pública e moradia digna", diz Peritore.
Membros da etnia sinti e roma são discriminados, criminalizados e estilizados com inimigos em muitos países do sul e do centro da Europa. Em vez de investimentos em infraestrutura, o que tornaria a vida dos sinti e roma mais fácil em suas terras natais, o dinheiro da União Europeia some por caminhos obscuros, denuncia Peritore.
Deportação de sinti e roma em Colônia na época nazista |
Peritore denuncia também a prática alemã de deportar sinti e roma de volta para o Kosovo, mesmo que lá eles corram o risco de ser perseguidos e na Alemanha já tenha há muito se integrado na sociedade. Onde os sinti e roma tiveram chances iguais, argumenta, seguiram os mesmos caminhos que seguem os outros integrantes da sociedade.
"Isso contradiz principalmente as afirmações generalizadas daqueles que são contra os sinti e roma e dizem que de nada adiantam todos os programas e projetos, pois supostamente eles são contrários à cultura desses povos. Isso mostra que essas afirmações são mentiras, pois podemos ver que é possível quando as pessoas recebem chances iguais e justas."
Um memorial em Berlim
Estas duas meninas foram deportadas para a Polônia |
"Pesquisadores sérios já mostraram há muito tempo que houve um segundo Holocausto: eram as mesmas motivações político-raciais, o mesmo aparelho criminoso, os mesmos métodos de extermínio nos mesmos locais, executados de forma sistemática e eficiente." Contudo, somente o chanceler federal alemão Helmut Schmidt reconheceu esse fato, em 1982.
Após a decisão parlamentar de que não haveria um memorial único para todas as vítimas do Holocausto, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) autorizou em 1992 a construção de um memorial para os sinti e roma. O que se seguiu foi uma longa discussão: governo, historiadores e também os representantes dos sinti e roma não conseguiram chegar a um acordo sobre os detalhes.
Para o Conselho Central dos Sinti e Roma da Alemanha não se trata somente de um reconhecimento tardio, mas também de responsabilidade com o presente e o futuro, para evitar a discriminação e a exclusão. "Se for para aprender algo, então que seja isso. Mas talvez essa seja uma pretensão muito grande", diz Peritore, e na sua voz é possível reconhecer um tom de tristeza.
Autora: Birgit Görtz (cn)
Revisão: Alexandre Schossler
Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/pode-um-memorial-acabar-com-o-preconceito-contra-os-sinti-e-roma/a-16328944
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sábado, 20 de outubro de 2012
Especialistas da ONU exortam Estados a confrontarem a violência e ódio modernos contra os Roma
Jovens Roma forçosamente deslocados do sudeste da Europa. Muitos não têm cidadania o que afeta suas vidas diárias. Foto: ACNUR / L. Taylor |
Seus comentários chegam no Dia da Lembrança do Holocausto Roma, ou ‘Pharrajimos’ (Porrajmos) na língua Romani, que é observado a cada ano em 2 de Agosto. Cerca de 3,000 Roma e Sinti foram assassinados nas noites de 2-3 de agosto de 1944, quando o campo "Cigano" no campo de concentração do complexo de Auschwitz-Birkenau foi liquidado pelo regime nazista.
A especialista independente da ONU sobre problemas das minorias, Rita Izsák, sendo ela mesma de origem húngaro-Roma, disse que não está sendo feito o suficiente para confrontar “a onda crescente de hostilidade e discriminação contra os Roma na Europa, algo que envergonha as sociedades.”
A Sra. Izsák, a quem a experiência pessoal com o racismo e discriminação motivou seu trabalho pelo direito das minorias, instou os Estados a adotar uma postura de tolerância zero contra atos de extremismo anti-Roma, ódio e violência, de acordo com o comunicado feito pelo Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (OHCHR).
Além disso, o relator especial da ONU sobre formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância, Mutuma Ruteere, pediu por aumento da conscientização e ação para resolver estas questões.
"O ensino nas escolas da história dos Roma, incluindo o genocídio que sofreram durante o regime nazista, e medidas de sensibilização para informar e sensibilizar as populações sobre a identidade Roma e sua cultura são essenciais para enfrentar os preconceitos persistentes que servem de combustível para o racismo e a intolerância contra eles," disse o Sr. Ruteere.
"Deve haver também uma mensagem mais forte de que os Roma (ciganos) são uma parte valiosa da sociedade - e não apenas em palavras, mas em ações concretas - para proteger os Roma e melhorar suas condições de vida e inclusão", acrescentou.
Os especialistas que reportam ao Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, com um trabalho independente e não pago, saudaram em 2011 os esforços e iniciativas no âmbito do Quadro da União Europeia de estratégias nacionais para integração dos Roma.
No âmbito do Quadro, os países membros da UE concordaram em preparar estratégias nacionais de inclusão dos ciganos, ou um conjunto integrado de medidas políticas mais amplas dentro de suas políticas de inclusão social para melhorar a situação dos ciganos.
As estimativas sugerem que até 12 milhões de ciganos vivem na Europa, e outras populações consideráveis de Romas vivem na América Latina e em outras regiões, a maioria deles à margem da sociedade.
Fonte: site da ONU (UN experts urge States to confront modern-day hatred, violence against Roma)
http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=42606&Cr=+Roma+&Cr1=
Tradução: Roberto Lucena
Ver mais:
Expertas de ONU piden recordar el Holocausto del pueblo gitano (mizamora)
Expertas de la ONU piden recordar el Holocausto que sufrieron los gitanos (lainformacion.com)
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Genocídio dos Roma no Holocausto (Holocausto cigano)
GENOCÍDIO DOS ROMA NO HOLOCAUSTO
por Ian Hancock
Os Roma, muito comumente, mas de forma equivocada, chamados de ciganos, foram a outra única população, ao lado dos judeus, que foram atingidos pelo extermínio racial na Solução Final. Chegaram à Europa por volta do ano 1300, vindos da Índia, região a qual eles haviam deixado cerca de três séculos antes como uma população militar de origem mestiça, não-ariana, reunidos para lutar contra os invasores muçulmanos. Sua entrada na Europa, via Império Bizantino, foi também resultado direto da expansão islâmica.
Como um povo asiático não-cristão, não-branco, e sem possuir nenhum território na Europa, os Roma eram forasteiros em todos os países. A cultura Romani também forçava - como ainda faz - que houvesse uma distância social entre os Roma e os gadjé (não-Romas), e assim sua segregação era reforçada.
O povo Romani na Alemanha chamava-se a si mesmo de Sinti, enquanto zigeuner é o equivalente alemão de "cigano". Quando os nazistas chegaram ao poder em 1933, as leis alemãs contra eles já estavam em vigor há centenas de anos. A perseguição do povo Romani começou quase tão cedo quando o primeiro Roma chegou pela primeira vez em terras de língua alemã, pois como estrangeiros, estavam quebrando muitas das leis Hanseáticas que tornava crime punível por lei alguém não ter um domicílio fixo ou emprego, e não ser cadastrado como contribuinte de impostos. Eles também foram acusados de serem espiões para os muçulmanos, a quem poucos alemães conheciam, mas de quem haviam ouvido muitas histórias assustadoras. A tez escura e o comportamento não-cristão e a aparência dos Roma simplesmente se adicionavam ao preconceito que se tornou crescente. Em 1721 o Imperador Carlos VI ordenou o extermínio de todos os Roma em qualquer lugar, não era ilegal matar um Rom, e houve algumas vezes "caçadas de ciganos", nas quais os Roma foram perseguidos e mortos como animais selvagens. Florestas foram incendiadas para expulsar qualquer Roma que poderia ter se escondido lá.
Pelo século 19, estudiosos na Alemanha e no resto da Europa estavam escrevendo sobre os Roma e os judeus como sendo seres inferiores e "o excremento da humanidade". Isto se cristalizou especificamente em atitudes racistas nos escritos de Knox, Tetzner, Gobineau e outros. Pelos anos de 1880, o chanceler von Bismarck reforçou algumas das leis discriminatórias, afirmando que os Roma fossem tratados "com especial severidade" se detidos. Por volta de 1890, uma conferência sobre "a escória cigana" foi realizada na Suábia, na qual os militares adquiriram o poder de manter os Roma em circulação. Na obra publicada em 1899 de Houston Chamberlaine, "Os Fundamentos do Século 19", ele defendia a construção de uma "recém formada ... e ... especialmente destacada raça ariana". Isto usado para justificar a promoção de ideias sobre a superioridade racial alemã e para qualquer ação opressora tomadas contra membros de populações "inferiores". Naquele mesmo ano, a "Agência de Informação Cigana" foi criado em Munique sob a direção de Alfred Dillmann, que começou a catalogação de informações sobre todos os Roma em todas as terras alemãs. Os resultados disto foram publicados em 1905 no Zigeuner-Buch de Dillmann, que lançou as bases para o que viria a acontecer com os Roma no Holocausto, 35 anos depois.
O Zigeuner-Buch, com cerca de 350 páginas, era composto de três partes: primeiro, uma introdução afirmando que os Roma eram uma "praga" e uma "ameaça" a qual a população alemã tinha que se defender contra o uso de "castigos cruéis", e que advertia sobre os perigos da mistura de genes Romani e alemães. A segunda parte foi um registro dos Romas conhecidos, dando detalhes genealógicos e registros criminais caso houvesse. E a terceira parte era uma coleção de fotografias dessas mesmas pessoas. A "Mistura de raças" de Dillmann, mais tarde, tornou-se uma parte central das Leis de Nuremberg na Alemanha nazista.
Em 1920, Karl Binding e Alfred Hoche publicaram seu livro "A erradicação das vidas dos indignos da vida", usando uma frase primeiramente cunhada por Richard Liebich com específica referência aos Roma quase 60 anos antes. Entre os grupos que eles consideravam "indignos de viver" estavam os "doentes mentais sem cura", e foi este grupo que eles consideravam que pertenciam os ciganos. A perceptível "criminalidade" Romani era vista como uma doença genética hereditária, embora não fosse levado em conta os séculos de exclusão dos ciganos da sociedade alemã, que fizeram do roubo de subsistência uma necessidade para sobrevivência. Uma lei incorporando a mesma frase foi posta em prática apenas quatro meses depois de Hitler se tornar chanceler do Terceiro Reich.
Durante a década de 1920, a opressão legal aos Roma na Alemanha intensificou-se consideravelmente, apesar dos estatutos de igualdade da República de Weimar. Em 1920 eles foram proibidos de entrar em parques e banheiros públicos; em 1925 uma conferência sobre "A Questão Cigana" foi realizado, e resultou em leis que pediam que os desempregados Roma fossem enviados para campos de trabalho "por razões de segurança pública", e que todos os Roma fossem registrados na polícia. Depois de 1927, todos os ciganos, mesmo as crianças, tinha que carregar cartões de identificação, tendo impressões digitais e fotografias. Em 1929, um Escritório Central de Luta Contra a ciganos na Alemanha foi criado em Munique, e em 1933, apenas dez dias antes dos nazistas chegarem ao poder, funcionários do governo em Burgenland pediram a retirada de todos os direitos civis do povo Romani.
Em setembro de 1935, os Roma tornaram-se sujeitos às restrições da Lei de Nuremberg para a Proteção do Sangue Alemão e Honra, que proibia o casamento entre alemães e "não-arianos", especificamente judeus, ciganos e pessoas de ascendência africana(negras). Em 1937, a Lei de Cidadania Nacional relegava os Roma e judeus à condição de cidadãos de segunda classe, privando-os de seus direitos civis. Também em 1937, Heinrich Himmler emitiu um decreto intitulado "A luta contra a praga cigana", que reiterava que os ciganos de sangue misturado eram os mais propensos a se envolver em atividades criminosas, e que solicitava que todas as informações sobre os Roma fossem enviadas, dos departamentos da polícia regional, para o Escritório Central Reich.
Entre 12 de junho e 18 de junho de 1938, a semana de "limpeza" dos ciganos ocorreu em toda a Alemanha que, como Kristallnacht(Noite dos Cristais) para o povo judeu no mesmo ano, marcou o começo do fim. Também em 1938, a primeira referência à "Solução Final da Questão Cigana" apareceu, em um documento assinado por Himmler em 08 de dezembro daquele ano.
Em janeiro de 1940, a primeira ação do genocídio em massa do Holocausto ocorreu quando 250 crianças ciganas foram assassinadas em Buchenwald, onde foram usadas como cobaias para testar a eficácia dos cristais de Zyklon-B, usado mais tarde nas câmaras de gás. Em junho de 1940, Hitler ordenou a liquidação de "todos os judeus, ciganos e comunistas funcionários políticos em toda a União Soviética."
Em julho, 31 de 1941, Heydrich, arquiteto-chefe dos detalhes da Solução Final, emitiu sua ordem para o Einsatzkommandos, para "matar todos os judeus, ciganos e doentes mentais." Poucos dias depois, Himmler emitiu seus critérios de avaliação biológica e racial, que determinavam que histórico familiar dos Roma deveriam ser investigados por três gerações. Em 16 de dezembro desse mesmo ano, Himmler emitiu uma ordem para que todos os Roma restantes Roma na Europa fossem deportados para Auschwitz-Birkenau para o extermínio. Em 24 de dezembro, Lohse deu a ordem adicional para que "aos ciganos deva ser dado o mesmo tratamento dos judeus". Em uma reunião do partido em 14 de setembro de 1942, o ministro da Justiça Otto Thierack anunciou que "judeus e ciganos devem ser incondicionalmente exterminados." Em 01 de agosto de 1944, quatro mil ciganos foram gaseados e cremados em uma única ação em Auschwitz-Birkenau, o que é lembrado como Zigeunernacht.
Determinar a percentagem ou número de Roma que morreram no Holocausto (chamado de Porrajmos, "paw-RYE-mos" em Romani, uma palavra que significa "Devorando a") não é fácil. Grande parte da documentação nazi ainda precisa ser analisada, e muitos assassinatos não foram registrados, uma vez que ocorreram nos campos e florestas onde os Roma foram apreendidos. Não há estimativa precisa nem para a população Romani pré-guerra na Europa, embora o censo oficial do Partido Nazista de 1939 estimava em cerca de dois milhões, que é sem dúvida, uma sub-representação. A estimativa mais recente (1997) a partir do Instituto de Pesquisa do Museu Memorial do Holocausto dos EUA, em Washington, coloca o número de vidas perdidas pelos Romanis em 1945, "entre meio milhão e um milhão e meio." Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o registro da Alemanha em relação ao povo Romani foi menos que exemplar. Ninguém foi chamado para testemunhar em favor das vítimas Romanis nos Julgamentos de Nuremberg, e nenhuma reparação dos crimes de guerra foi pagas aos ciganos como um povo. Hoje, a atividade neonazista na Alemanha faz dos Roma o seu principal alvo de violência racial.
Os Estados Unidos também não fez nada para ajudar os Roma durante ou após o Holocausto. Apenas dez por cento das centenas de milhões de dólares disponibilizados pela Organização das Nações Unidas(ONU) para os sobreviventes, os quais foram dadas a responsabilidade ao governo dos EUA de desembolso, foi reservada para não-judeus, e nada disto foi direcionado aos sobreviventes Romanis, cujo número hoje é de cerca de 5.000. Roma que não foram mencionados em qualquer documentação do Conselho de Refugiados de Guerra dos EUA, o qual foi capaz de salvar a vida de mais de 200.000 judeus. Quando o Conselho do Museu Memorial do Holocausto dos EUA (USHMM) foi criado em 1980, nenhum Roma foi convidado a participar, e ele tem hoje apenas um membro hoje Romani. Os Roma são apenas uma parte deste Museu até o momento, estando localizados em um canto no terceiro andar reservado para as "outras vítimas".
Leitura adicional
Hancock, Ian, 1989. "Gypsy history in Germany and neighboring lands: A chronology leading to the Holocaust and beyond," in David Crowe and John Kolsti, eds., The Gypsies of Eastern Europe , Armonk: EC Sharpe, pp. 11-30.
Kenrick, Donald, and Grattan Puxon, 1972. The Destiny of Europe's Gypsies . London: Sussex University Press.
Excerto da Encyclopedia of Genocide (1997) de Israel W. Charny (ed.)
Reproduzido por Patrin Web Journal com permissão do autor, Ian Hancock.
Publicado em 01 de março de 1997.
Fonte: The Patrin Web Journal (trecho do livro Encyclopedia of Genocide; editor: Israel Charny)
http://reocities.com/paris/5121/genocide.htm
Texto: Ian Hancock
Tradução: Roberto Lucena
por Ian Hancock
Os Roma, muito comumente, mas de forma equivocada, chamados de ciganos, foram a outra única população, ao lado dos judeus, que foram atingidos pelo extermínio racial na Solução Final. Chegaram à Europa por volta do ano 1300, vindos da Índia, região a qual eles haviam deixado cerca de três séculos antes como uma população militar de origem mestiça, não-ariana, reunidos para lutar contra os invasores muçulmanos. Sua entrada na Europa, via Império Bizantino, foi também resultado direto da expansão islâmica.
Como um povo asiático não-cristão, não-branco, e sem possuir nenhum território na Europa, os Roma eram forasteiros em todos os países. A cultura Romani também forçava - como ainda faz - que houvesse uma distância social entre os Roma e os gadjé (não-Romas), e assim sua segregação era reforçada.
O povo Romani na Alemanha chamava-se a si mesmo de Sinti, enquanto zigeuner é o equivalente alemão de "cigano". Quando os nazistas chegaram ao poder em 1933, as leis alemãs contra eles já estavam em vigor há centenas de anos. A perseguição do povo Romani começou quase tão cedo quando o primeiro Roma chegou pela primeira vez em terras de língua alemã, pois como estrangeiros, estavam quebrando muitas das leis Hanseáticas que tornava crime punível por lei alguém não ter um domicílio fixo ou emprego, e não ser cadastrado como contribuinte de impostos. Eles também foram acusados de serem espiões para os muçulmanos, a quem poucos alemães conheciam, mas de quem haviam ouvido muitas histórias assustadoras. A tez escura e o comportamento não-cristão e a aparência dos Roma simplesmente se adicionavam ao preconceito que se tornou crescente. Em 1721 o Imperador Carlos VI ordenou o extermínio de todos os Roma em qualquer lugar, não era ilegal matar um Rom, e houve algumas vezes "caçadas de ciganos", nas quais os Roma foram perseguidos e mortos como animais selvagens. Florestas foram incendiadas para expulsar qualquer Roma que poderia ter se escondido lá.
Pelo século 19, estudiosos na Alemanha e no resto da Europa estavam escrevendo sobre os Roma e os judeus como sendo seres inferiores e "o excremento da humanidade". Isto se cristalizou especificamente em atitudes racistas nos escritos de Knox, Tetzner, Gobineau e outros. Pelos anos de 1880, o chanceler von Bismarck reforçou algumas das leis discriminatórias, afirmando que os Roma fossem tratados "com especial severidade" se detidos. Por volta de 1890, uma conferência sobre "a escória cigana" foi realizada na Suábia, na qual os militares adquiriram o poder de manter os Roma em circulação. Na obra publicada em 1899 de Houston Chamberlaine, "Os Fundamentos do Século 19", ele defendia a construção de uma "recém formada ... e ... especialmente destacada raça ariana". Isto usado para justificar a promoção de ideias sobre a superioridade racial alemã e para qualquer ação opressora tomadas contra membros de populações "inferiores". Naquele mesmo ano, a "Agência de Informação Cigana" foi criado em Munique sob a direção de Alfred Dillmann, que começou a catalogação de informações sobre todos os Roma em todas as terras alemãs. Os resultados disto foram publicados em 1905 no Zigeuner-Buch de Dillmann, que lançou as bases para o que viria a acontecer com os Roma no Holocausto, 35 anos depois.
O Zigeuner-Buch, com cerca de 350 páginas, era composto de três partes: primeiro, uma introdução afirmando que os Roma eram uma "praga" e uma "ameaça" a qual a população alemã tinha que se defender contra o uso de "castigos cruéis", e que advertia sobre os perigos da mistura de genes Romani e alemães. A segunda parte foi um registro dos Romas conhecidos, dando detalhes genealógicos e registros criminais caso houvesse. E a terceira parte era uma coleção de fotografias dessas mesmas pessoas. A "Mistura de raças" de Dillmann, mais tarde, tornou-se uma parte central das Leis de Nuremberg na Alemanha nazista.
Em 1920, Karl Binding e Alfred Hoche publicaram seu livro "A erradicação das vidas dos indignos da vida", usando uma frase primeiramente cunhada por Richard Liebich com específica referência aos Roma quase 60 anos antes. Entre os grupos que eles consideravam "indignos de viver" estavam os "doentes mentais sem cura", e foi este grupo que eles consideravam que pertenciam os ciganos. A perceptível "criminalidade" Romani era vista como uma doença genética hereditária, embora não fosse levado em conta os séculos de exclusão dos ciganos da sociedade alemã, que fizeram do roubo de subsistência uma necessidade para sobrevivência. Uma lei incorporando a mesma frase foi posta em prática apenas quatro meses depois de Hitler se tornar chanceler do Terceiro Reich.
Durante a década de 1920, a opressão legal aos Roma na Alemanha intensificou-se consideravelmente, apesar dos estatutos de igualdade da República de Weimar. Em 1920 eles foram proibidos de entrar em parques e banheiros públicos; em 1925 uma conferência sobre "A Questão Cigana" foi realizado, e resultou em leis que pediam que os desempregados Roma fossem enviados para campos de trabalho "por razões de segurança pública", e que todos os Roma fossem registrados na polícia. Depois de 1927, todos os ciganos, mesmo as crianças, tinha que carregar cartões de identificação, tendo impressões digitais e fotografias. Em 1929, um Escritório Central de Luta Contra a ciganos na Alemanha foi criado em Munique, e em 1933, apenas dez dias antes dos nazistas chegarem ao poder, funcionários do governo em Burgenland pediram a retirada de todos os direitos civis do povo Romani.
Em setembro de 1935, os Roma tornaram-se sujeitos às restrições da Lei de Nuremberg para a Proteção do Sangue Alemão e Honra, que proibia o casamento entre alemães e "não-arianos", especificamente judeus, ciganos e pessoas de ascendência africana(negras). Em 1937, a Lei de Cidadania Nacional relegava os Roma e judeus à condição de cidadãos de segunda classe, privando-os de seus direitos civis. Também em 1937, Heinrich Himmler emitiu um decreto intitulado "A luta contra a praga cigana", que reiterava que os ciganos de sangue misturado eram os mais propensos a se envolver em atividades criminosas, e que solicitava que todas as informações sobre os Roma fossem enviadas, dos departamentos da polícia regional, para o Escritório Central Reich.
Entre 12 de junho e 18 de junho de 1938, a semana de "limpeza" dos ciganos ocorreu em toda a Alemanha que, como Kristallnacht(Noite dos Cristais) para o povo judeu no mesmo ano, marcou o começo do fim. Também em 1938, a primeira referência à "Solução Final da Questão Cigana" apareceu, em um documento assinado por Himmler em 08 de dezembro daquele ano.
Em janeiro de 1940, a primeira ação do genocídio em massa do Holocausto ocorreu quando 250 crianças ciganas foram assassinadas em Buchenwald, onde foram usadas como cobaias para testar a eficácia dos cristais de Zyklon-B, usado mais tarde nas câmaras de gás. Em junho de 1940, Hitler ordenou a liquidação de "todos os judeus, ciganos e comunistas funcionários políticos em toda a União Soviética."
Em julho, 31 de 1941, Heydrich, arquiteto-chefe dos detalhes da Solução Final, emitiu sua ordem para o Einsatzkommandos, para "matar todos os judeus, ciganos e doentes mentais." Poucos dias depois, Himmler emitiu seus critérios de avaliação biológica e racial, que determinavam que histórico familiar dos Roma deveriam ser investigados por três gerações. Em 16 de dezembro desse mesmo ano, Himmler emitiu uma ordem para que todos os Roma restantes Roma na Europa fossem deportados para Auschwitz-Birkenau para o extermínio. Em 24 de dezembro, Lohse deu a ordem adicional para que "aos ciganos deva ser dado o mesmo tratamento dos judeus". Em uma reunião do partido em 14 de setembro de 1942, o ministro da Justiça Otto Thierack anunciou que "judeus e ciganos devem ser incondicionalmente exterminados." Em 01 de agosto de 1944, quatro mil ciganos foram gaseados e cremados em uma única ação em Auschwitz-Birkenau, o que é lembrado como Zigeunernacht.
Determinar a percentagem ou número de Roma que morreram no Holocausto (chamado de Porrajmos, "paw-RYE-mos" em Romani, uma palavra que significa "Devorando a") não é fácil. Grande parte da documentação nazi ainda precisa ser analisada, e muitos assassinatos não foram registrados, uma vez que ocorreram nos campos e florestas onde os Roma foram apreendidos. Não há estimativa precisa nem para a população Romani pré-guerra na Europa, embora o censo oficial do Partido Nazista de 1939 estimava em cerca de dois milhões, que é sem dúvida, uma sub-representação. A estimativa mais recente (1997) a partir do Instituto de Pesquisa do Museu Memorial do Holocausto dos EUA, em Washington, coloca o número de vidas perdidas pelos Romanis em 1945, "entre meio milhão e um milhão e meio." Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o registro da Alemanha em relação ao povo Romani foi menos que exemplar. Ninguém foi chamado para testemunhar em favor das vítimas Romanis nos Julgamentos de Nuremberg, e nenhuma reparação dos crimes de guerra foi pagas aos ciganos como um povo. Hoje, a atividade neonazista na Alemanha faz dos Roma o seu principal alvo de violência racial.
Os Estados Unidos também não fez nada para ajudar os Roma durante ou após o Holocausto. Apenas dez por cento das centenas de milhões de dólares disponibilizados pela Organização das Nações Unidas(ONU) para os sobreviventes, os quais foram dadas a responsabilidade ao governo dos EUA de desembolso, foi reservada para não-judeus, e nada disto foi direcionado aos sobreviventes Romanis, cujo número hoje é de cerca de 5.000. Roma que não foram mencionados em qualquer documentação do Conselho de Refugiados de Guerra dos EUA, o qual foi capaz de salvar a vida de mais de 200.000 judeus. Quando o Conselho do Museu Memorial do Holocausto dos EUA (USHMM) foi criado em 1980, nenhum Roma foi convidado a participar, e ele tem hoje apenas um membro hoje Romani. Os Roma são apenas uma parte deste Museu até o momento, estando localizados em um canto no terceiro andar reservado para as "outras vítimas".
Leitura adicional
Hancock, Ian, 1989. "Gypsy history in Germany and neighboring lands: A chronology leading to the Holocaust and beyond," in David Crowe and John Kolsti, eds., The Gypsies of Eastern Europe , Armonk: EC Sharpe, pp. 11-30.
Kenrick, Donald, and Grattan Puxon, 1972. The Destiny of Europe's Gypsies . London: Sussex University Press.
Excerto da Encyclopedia of Genocide (1997) de Israel W. Charny (ed.)
Reproduzido por Patrin Web Journal com permissão do autor, Ian Hancock.
Publicado em 01 de março de 1997.
Fonte: The Patrin Web Journal (trecho do livro Encyclopedia of Genocide; editor: Israel Charny)
http://reocities.com/paris/5121/genocide.htm
Texto: Ian Hancock
Tradução: Roberto Lucena
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Dr. Robert Ritter: ciência racial e "ciganos" (Holocausto)
Dr. Robert Ritter: Ciência Racial e "Ciganos"
A pesquisa do cientista racial Dr. Robert Ritter e seus associados serviram ambos como instrumento e justificação para o regime Nazista isolar e eventualmente destruir a população Cigana Alemã.
Estudando os Ciganos, Ritter, que era um psiquiatra, esperava determinar as ligações entre a hereditariedade e a criminalidade. Com financiamento da 'Associação Alemã para Pesquisa Científica' e com acesso a registros da polícia, Ritter começou em 1937 a sistematicamente entrevistar todos os Ciganos residindo na Alemanha. Para fazer isso, ele viajou a acampamentos Ciganos e, depois a deportação e internamento de Ciganos começaram, para os campos de concentração.
Ritter desenvolveu genealogias detalhadas--históricos de família--para distingüir os Ciganos "puros" daqueles de "sangue misto/misturado" e desenraizar os Ciganos assimilados da população geral alemã. A polícia de estado ajudou Ritter em seu requerimento de registros genealógicos de todos os Ciganos movidos a força para campos especiais municipais depois de 1935. Acreditando que qualquer um com sangue Cigano podia ser um perigo a sociedade, Ritter classificou um "meio-Cigano" como alguém com um ou dois avós Ciganos ou dois ou mais avós meio-Ciganos, isto é, alguém com um pouco de um quarto de sangue cigano.
Aos associados a Ritter incluíam o antropólogo Dr. Adolf Wurth e, até 1942, e o zoologista e antropólogo Dr. Sophie Ehrhardt. O associado mais próximo a Ritter era Eva Justin, uma enfermeira que recebeu seu doutorado em antropologia em 1944 baseado na sua pesquisa com crianças Ciganas afastadas de suas famílias. Na conclusão de seu estudo, estas crianças eram deportadas a Auschwitz, onde todos com exceção de alguns eram mortos.
"Num relatório dos resultados de sua pesquisa em 1940, Ritter concluiu que 90 porcento dos Ciganos nativos da Alemanha eram "de sangue misto/misturado". Ele descreveu aqueles Ciganos como "os produtos de relacionamentos com criminosos anti-sociais alemães do subproletariado." Ele caracterizou os Ciganos como povos "primitivos" "incapazes de uma real adaptação social."
Do final de 1944 entrando em 1946, Ritter ensinou biologia criminal na Universidade de Turbingen; em 1947 ele entrou no Centro de Saúde de Frankfurt como um médico de crianças. Enquanto esteve lá, ele empregou Eva Justin como uma psicóloga. Seu colaborador Dra. Sophie Ehrhardt entrou na faculdade de antropologia na Universidade de Tubingen em 1942 e continuou a usar os dados de Ritter em sua pesquisa pós-guerra. Dr. Adolph Wurth serviu no Bureau de Estatística Baden-Wurttemberg até 1970.
Os esforços para trazer provas contra Ritter e seus associados como assessores nas mortes dos Ciganos Alemães foram interrompidos. O julgamento do Dr. Robert Ritter chegou ao fim com seu suicídio em 1950.
Fonte: Sinti & Roma: Victims of the Nazi Era, 1933-1945 (publicado pelo Museu do Holocausto dos EUA, USHMM. Usado com permissão.)/Site "A Teacher's Guide to the Holocaust"
http://fcit.coedu.usf.edu/holocaust/people/USHMMROM.HTM
Tradução: Roberto Lucena
Página principal: Sinti & Roma: Vítimas da Era Nazi, 1933-1945
A pesquisa do cientista racial Dr. Robert Ritter e seus associados serviram ambos como instrumento e justificação para o regime Nazista isolar e eventualmente destruir a população Cigana Alemã.
Estudando os Ciganos, Ritter, que era um psiquiatra, esperava determinar as ligações entre a hereditariedade e a criminalidade. Com financiamento da 'Associação Alemã para Pesquisa Científica' e com acesso a registros da polícia, Ritter começou em 1937 a sistematicamente entrevistar todos os Ciganos residindo na Alemanha. Para fazer isso, ele viajou a acampamentos Ciganos e, depois a deportação e internamento de Ciganos começaram, para os campos de concentração.
Ritter desenvolveu genealogias detalhadas--históricos de família--para distingüir os Ciganos "puros" daqueles de "sangue misto/misturado" e desenraizar os Ciganos assimilados da população geral alemã. A polícia de estado ajudou Ritter em seu requerimento de registros genealógicos de todos os Ciganos movidos a força para campos especiais municipais depois de 1935. Acreditando que qualquer um com sangue Cigano podia ser um perigo a sociedade, Ritter classificou um "meio-Cigano" como alguém com um ou dois avós Ciganos ou dois ou mais avós meio-Ciganos, isto é, alguém com um pouco de um quarto de sangue cigano.
Aos associados a Ritter incluíam o antropólogo Dr. Adolf Wurth e, até 1942, e o zoologista e antropólogo Dr. Sophie Ehrhardt. O associado mais próximo a Ritter era Eva Justin, uma enfermeira que recebeu seu doutorado em antropologia em 1944 baseado na sua pesquisa com crianças Ciganas afastadas de suas famílias. Na conclusão de seu estudo, estas crianças eram deportadas a Auschwitz, onde todos com exceção de alguns eram mortos.
"Num relatório dos resultados de sua pesquisa em 1940, Ritter concluiu que 90 porcento dos Ciganos nativos da Alemanha eram "de sangue misto/misturado". Ele descreveu aqueles Ciganos como "os produtos de relacionamentos com criminosos anti-sociais alemães do subproletariado." Ele caracterizou os Ciganos como povos "primitivos" "incapazes de uma real adaptação social."
Do final de 1944 entrando em 1946, Ritter ensinou biologia criminal na Universidade de Turbingen; em 1947 ele entrou no Centro de Saúde de Frankfurt como um médico de crianças. Enquanto esteve lá, ele empregou Eva Justin como uma psicóloga. Seu colaborador Dra. Sophie Ehrhardt entrou na faculdade de antropologia na Universidade de Tubingen em 1942 e continuou a usar os dados de Ritter em sua pesquisa pós-guerra. Dr. Adolph Wurth serviu no Bureau de Estatística Baden-Wurttemberg até 1970.
Os esforços para trazer provas contra Ritter e seus associados como assessores nas mortes dos Ciganos Alemães foram interrompidos. O julgamento do Dr. Robert Ritter chegou ao fim com seu suicídio em 1950.
Fonte: Sinti & Roma: Victims of the Nazi Era, 1933-1945 (publicado pelo Museu do Holocausto dos EUA, USHMM. Usado com permissão.)/Site "A Teacher's Guide to the Holocaust"
http://fcit.coedu.usf.edu/holocaust/people/USHMMROM.HTM
Tradução: Roberto Lucena
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Quem eram os "ciganos"? (Holocausto)
Primeiro quadro cinza da página(canto direito).
Quem eram os "ciganos"?
Em 1939, entre 30.000-35.000 pessoas conhecidas como "Ciganos" viviam na Alemanha e Áustria, que foi incorporada a Alemanha em Março de 1939. A população total de Ciganos vivendo na 'Grande Alemanha' e em todos os países ocupados pela Alemanha durante a guerra é desconhecido; os 'acadêmicos' Donald Kenrick e Grattan Puxon forneceram uma estimativa aproximada de 942 mil.
Acredita-se que os Ciganos tenham chegado a Europa do norte da India em meados de 1400. Eram chamados de Ciganos porque na mentalidade dos europeus eles teriam vindo do Egito. Esta minoria étnica é composta de grupos distintos chamados "tribos" ou "nações". A maior parte dos Ciganos na Europa ocupada pela Alemanha pertencia as tribos Sinti e Roma. Na Alemanha e na Europa ocidental geralmente predominavam os Sinti, e os Roma na Áustria, leste europeu, e os Balcãs. Os Sinti e os Roma falavm dialetos de uma linguagem comum chamada Romani, baseado no sânscrito, a língua clássica da Índia.
Por séculos, os Sinti e os Roma foram depreciados e perseguidos na Europa. Zigeuner, a palavra alemã para Cigano, deriva da raiz grega que significa "intocável". Nos principados balcânicos da Moldávia e da Valáquia, Ciganos eram escravos trazidos e vendidos pelos monastérios e grande latifundiários(boyars)atré 1864, quando a nova nação formada da Romênia os emancipou.
Muitos Sinti e Roma tradicionalmente trabalhavam como artesãos, também como ferreiros, sapateiros, funileiros, negociantes de cavalos, e modeladores. Outros se apresentavam como músicos, adestradores de animais de circo, e dançarinos. Por volta dos anos de 1920, havia també um pequena, classe média-baixa de comerciantes e alguns funcionários, como os Sinti empregados no serviço postal alemão. O número de verdadeiros ciganos nômades estava em declínio em muitos lugares por volta de meados de 1900, entretanto os conhecidos ciganos sedentários freqüentemente moviam-se sazonalmente, dependendo de suas ocupações.
Fonte: Sinti & Roma: Victims of the Nazi Era, 1933-1945 (publicado pelo Museu do Holocausto dos EUA, USHMM. Usado com permissão.)/Site "A Teacher's Guide to the Holocaust"
http://fcit.coedu.usf.edu/holocaust/people/USHMMROM.HTM
Tradução: Roberto Lucena
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Quem eram os "ciganos"?
Em 1939, entre 30.000-35.000 pessoas conhecidas como "Ciganos" viviam na Alemanha e Áustria, que foi incorporada a Alemanha em Março de 1939. A população total de Ciganos vivendo na 'Grande Alemanha' e em todos os países ocupados pela Alemanha durante a guerra é desconhecido; os 'acadêmicos' Donald Kenrick e Grattan Puxon forneceram uma estimativa aproximada de 942 mil.
Acredita-se que os Ciganos tenham chegado a Europa do norte da India em meados de 1400. Eram chamados de Ciganos porque na mentalidade dos europeus eles teriam vindo do Egito. Esta minoria étnica é composta de grupos distintos chamados "tribos" ou "nações". A maior parte dos Ciganos na Europa ocupada pela Alemanha pertencia as tribos Sinti e Roma. Na Alemanha e na Europa ocidental geralmente predominavam os Sinti, e os Roma na Áustria, leste europeu, e os Balcãs. Os Sinti e os Roma falavm dialetos de uma linguagem comum chamada Romani, baseado no sânscrito, a língua clássica da Índia.
Por séculos, os Sinti e os Roma foram depreciados e perseguidos na Europa. Zigeuner, a palavra alemã para Cigano, deriva da raiz grega que significa "intocável". Nos principados balcânicos da Moldávia e da Valáquia, Ciganos eram escravos trazidos e vendidos pelos monastérios e grande latifundiários(boyars)atré 1864, quando a nova nação formada da Romênia os emancipou.
Muitos Sinti e Roma tradicionalmente trabalhavam como artesãos, também como ferreiros, sapateiros, funileiros, negociantes de cavalos, e modeladores. Outros se apresentavam como músicos, adestradores de animais de circo, e dançarinos. Por volta dos anos de 1920, havia també um pequena, classe média-baixa de comerciantes e alguns funcionários, como os Sinti empregados no serviço postal alemão. O número de verdadeiros ciganos nômades estava em declínio em muitos lugares por volta de meados de 1900, entretanto os conhecidos ciganos sedentários freqüentemente moviam-se sazonalmente, dependendo de suas ocupações.
Fonte: Sinti & Roma: Victims of the Nazi Era, 1933-1945 (publicado pelo Museu do Holocausto dos EUA, USHMM. Usado com permissão.)/Site "A Teacher's Guide to the Holocaust"
http://fcit.coedu.usf.edu/holocaust/people/USHMMROM.HTM
Tradução: Roberto Lucena
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sábado, 7 de janeiro de 2012
Sinti & Roma: Vítimas da Era Nazi, 1933-1945 (ciganos, Holocausto)
Observação: Sinti & Roma: Vítimas da Era Nazi fornecem informação adicional acerca deste grupo vitimado, incluindo um fundo histórico e informação sobre Robert Ritter, um cientista racial nazista(1933-1945).
Entre 1933 e 1945 os Sinti e os Roma("Ciganos")sofreram extretamente como vítimas da perseguição nazista e genocídio. Reforçando(Construindo/Construção)um preconceito de longa data, o regime nazista via os Ciganos ambos como "anti-sociais"(fora dos padrões de uma sociedade "normal) e como "inferiores" racialmente--acreditavam que ameaçavam a pureza e a força biológica da raça "Superior Ariana". Durante a Segunda Guerra Mundial, os Nazis e seus colaboradores assassinaram dezenas de milhares de homens Sinti e Roma(romenos?), mulheres, e crianças através da ocupação alemã na Europa.
Por séculos os Europeus consideravam os Ciganos como párias sociais - pessoas de aparência estrangeira, lingua, e costumes. Na Alemanha moderna, a perseguição dos Sinti e dos Roma(romenos?) precedeu o regime nazista. Mesmo que os Ciganos possuíssem direitos completos e iguais como cidadãos sob o Artigo 109 da Constituição de Weimar, eles eram sujeitos a leis "especiais" e discriminatórias. Uma Lei bávara de 16 de Julho, de 1926, esboçou medidas para "Combater Ciganos, Vagabundos e trabalhos estranhos" e requeriu o registro sistemático de todos os Sinti e Roma. A lei proibia os Cifanos de "andar em bandos", e aqueles "(Ciganos)incapazes de provar que estavam empregados regularmente" eram arriscados a serem enviandos para trabalho forçado por até dois anos. Esta lei tornou-se uma norma nacional em 1929."
Quando Hitler chegou ao poder em 1933, leis anti-Ciganos continuaram tendo efeito. Logo que o regime introduziu outras leis afetando os Sinti e Roma alemães, como os Nazis imediatamente começaram a implementar sa visão de uma Nova Alemanha - um daquelas colocava "Arianos" no topo da hierárquia de raças e ranqueava Judeus, Ciganos, e negros como raças inferiores. Sob a "Lei para a Prevenção da Prole com Defeitos Hereditários", em Julho de 1933, médicos estelerizaram contra suas vontades um número desconhecido de Ciganos, meio-Ciganos(mestiços), e Ciganos de casamentos mistos. Similarmente, sob a "Lei contra os Criminosos Habituais Perigosos" de Novembro de 1933, a polícia prendeu muitos Ciganos junto com outros que os Nazis viam como "anti-sociais"--prostitutas, pedintes(mendigos), alcoólatras, e os desocupados desabrigados(sem casa)--e os aprisionou em campos de concentração.
As leis raciais de Nuremberg de 15 de Setembro, de 1935, ("Lei para a Proteção da Honra e do Sangue Alemão" e a "Lei dos Cidadãos do Reich)não mencionavam explicitamente os Ciganos, mas em comentários interpretando estas leis, Ciganos eram incluídos, juntos com os Judeus e "Negros", como minorias "racialmente distintas" com "sangue estrangeiro". Como resultado disto, seus casamentos com "Arianos" eram proibidos. Como os Judeus, os Ciganos também foram privados de seus direitos civis.
Em Junho de 1936, um Escritório Central para o "Combate ao Fastídio Cigano" abriu em Munique. Este escritório tornou-se o quartel-general de um bando de dados nacional sobre Ciganos. Também em Junho, parte das diretrizes do Ministério do Interior para o "Combate do Fastídio/Incômodo Cigano" autorizou a política de Berlim a conduzir batidas contra os Ciganos de modo que não estragassem a imagem da cidade, que era anfitriã dos Jogos Olímpicos de Verão(Olimpíadas). Naquele mês de Julho, a polícia prendeu 600 Ciganos e os trouxeram, em 130 caravanas, a um novo e especial campo de internamento Cigano(Zigeunerlager)estabelecido próximo a uma descarga de águas residuais(esgoto) e de um cemitério no subúrbio de Marzahan em Berlim. O campo tinha apenas três bombas d'água e dois banheiros; naquela superpopulação e falta de condições sanitárias, as infermidades contagiosas proliferaram. A polícia e seus cães de guardavam o campo. Similares campos para Ciganos apareceram também no ano de 1939, em iniciativa dos governos municipais e coordenados por um Conselho de Cidades(que reportavam ao Ministério do Interior), em Cologne, Düsseldorf, Essen, Frankfurt, Hamburgo, e outras cidades alemães.
Depois da Alemanha incorporar a Áustria ao Reich em março de 1938, o regime aplicou as leis de Nuremberg aos Ciganos da Áustria. Dois campos especiais de confinamento abriram, um para 80 a 400 ciganos, em Salzburgo, e Outubro de 1939, e um segundo, em Novembro de 1940 para 4 mil ciganos em Lackenback, no Burgerland, no estado austríaco oriental que faz fronteira com a Hungria. As condições em Lackenback, que durou até o fim da guerra, eram particularmente atrozes, e muitos indivíduos pereceram ali. Ambos os campos confinaram os ciganos austríacos para o registro policial e trabalhos forçados e serviram como campos de concentração do conjunto.
Um decreto de 1937 relativo a “prevenção de crimes” forneceu um pretexto para realização de mais detenções de ciganos. Em junho de 1938, mil ciganos alemães e austríacos foram deportados para campos de concentração em Buchenwald, Dachau, Sachsenhausen, e Lichtenburg (um campo para mulheres). Um ano mais tarde, outros milhares de ciganos da Alemanha e da Áustria foram internados nos campos de concentração de Mauthausen, Ravensbrück, Dachau, e Buchenwald. Nestes campos, os prisioneiros utilizavam identificações de várias cores e formas, que permitiam aos guardas e oficiais dos campos os classificarem por categorias. Os ciganos utilizavam um triângulo preto costurado ao uniforme, o símbolo para "associais", ou verdes, o símbolo para criminosos comuns, e algumas vezes a letra "Z".
Dr. Robert Ritter, um psiquiatra que coordenava pesquisas genéticas e genealógicas em ciganos, desempenhou um papel primordial na identificação de ciganos Sinti e Romani para serem detidos pela polícia. Em 1936, Ritter tornou-se o responsável por uma unidade de pesquisas dentro do Ministério da Saúde e mais tarde no Escritório Central da Polícia (Central Police Office). Ritter e seus assistentes, em colaboração com a Polícia Criminal (Unidade de Investigação) e a seção de “Combate à Moléstia Cigana”, mudaram-se para Berlim em maio de 1938, para localizar e classificar por grupo étnico todos os ciganos na Alemanha e Áustria.
Foi provavelmente à “pesquisa étnico-biológica” de Ritter que o líder das SS Heinrich Himmler fez referência em sua circular sobre o "Combate à Moléstia Cigana" de dezembro de 1938, recomendando "a resolução da questão cigana baseada na sua natureza essencialmente racial". Ele ordenou o registro de todos os ciganos no Reich com idade acima de seis anos e sua classificação em três grupos raciais: Ciganos, Meio-Ciganos ("Mischlinge"), e pessoas com comportamento nômade de ciganos. Himmler, que supervisionava o imenso império de segurança que incluía a Polícia Criminal (Gestapo), afirmou que “o objetivo das medidas adotadas pelo Estado é defender a homogeneidade da nação alemã”, incluindo a “separação física do grupo cigano da nação alemã”.
As crianças Sinti e Romani também eram vítimas, confinadas com suas famílias em campos municipais e examinadas e classificadas por cientistas raciais. Entre 1933 e 1939, autoridades retiraram crianças de suas famílias e levadas para casas especiais para crianças que funcionavam como internatos do Estado. Alunos ciganos que faltassem às aulas eram tidos como delinqüentes e mandados para escolas juvenis especiais; os que não conseguiam falar alemão eram considerados incapazes e enviados para “escolas especiais” para os deficientes mentais. Como as crianças judias, meninos e meninas ciganos eram vítimas de insultos e provocações de colegas de escola, até que, em março de 1941, o regime excluiu todos os ciganos das escolas públicas.
Como no caso dos judeus, o início da guerra em setembro de 1939 intensificou a política do regime nazista voltada para os ciganos. Em 21 de setembro de 1939, uma conferência sobre a política racial presidida por Reinhard Heydrich, chefe do Escritório Central de Segurança do Reich em Berlim, discutiu a remoção de trinta mil ciganos alemães e austríacos para a Polônia ocupada, junto com a deportação de judeus. A “recolonização para o Leste” seguida pelo extermínio em massa de ciganos sinti e romani foi correlata à deportação e assassinato em massa de judeus. As deportações de ciganos alemães – homens, mulheres e até crianças – começou em maio de 1940 quando 2.800 ciganos foram deportados para o gueto de Lodz e de lá para Chelmno, onde foram dentre os primeiros a serem mortos por gaseamento em unidades móveis de veículos utilitários em um período entre dezembro de 1941 e janeiro de 1942. De forma similar, no verão de 1942, ciganos alemães e poloneses do gueto de Varsóvia foram deportados para Treblinka, onde foram mortos nas câmaras de gás. Ciganos alemães também foram deportados para guetos em Bialystok, Cracóvia e Radom.
Durante a guerra, alguns pequenas diferenças de opinião surgiam dentro do alto escalão do governo em relação à “Solução Final da Questão Cigana”. Himmler acalentava a idéia de preservar um pequeno grupo de ciganos “puros” para estudos étnicos destes “inimigos do Estado” raciais, mas o regime rejeitou a idéia. Em um decreto datado de 16 de dezembro de 1942, Himmler ordenou a deportação de ciganos e meio-ciganos para Auschwitz-Birkenau. Pelo menos vinte e três mil ciganos foram mandados para lá, o primeiro grupo a chegar da Alemanha em fevereiro de 1943. A grande parte dos ciganos em Auschwitz-Birkenau eram da Alemanha e de territórios anexados ao Reich, tal como a Boêmia e Moravia. A Polícia também deportou pequenos contingentes de ciganos da Polônia, Hungria, Iugoslávia, França, Bélgica, dos Países Baixos e da Noruega.
Em Auschwitz-Birkenau, os oficiais destinaram um “Campo para Famílias Ciganas” para os ciganos da Seção B-IIe de Birkenau. Dos barracões de madeira, as câmaras de gás e os crematórios eram claramente visíveis. Durante os dezessete meses de existência do campo, a maioria dos ciganos levados a este campo morreram. Eles eram mortos nas câmaras e gás ou morriam de inanição, exaustão pelo trabalho pesado, e doenças (dentre as quais tifo, varíola e uma doença rara chamada Noma[http://www.ibemol.com.br/jaoc2003/59.asp]). Outros, inclusive muitas crianças, morreram como resultado de diversas experiências médicas cruéis feitas pelo Dr. Josef Mengele e outros médicos SS. O campo cigano foi liquidado na noite entre 02 e 03 de agosto de 1944, quando 2.897 ciganos sinti e romani foram mortos nas câmaras de gás. Os restantes 1.400 homens e mulheres foram transferidos para os campos de concentração de Buchenwald and Ravensbruck, destinados ao trabalho forçado.
Depois da Alemanha invadir a União Soviética em junho de 1941, esquadrões especiais da SS (Einsatzgruppen) e unidades regulares do Exército e Polícia começaram a fuzilar ciganos na Rússia, Polônia e nos Bálcãs, ao mesmo tempo que exterminavam judeus e líderes comunistas. Acredita-se que milhares de homens, mulheres e crianças ciganos tenham sido mortos nestas ações, geralmente executadas sob o pretexto de que as vítimas eram "espiãs".
Na Europa ocidental e do sul, o destino dos ciganos Sinti e Romani foi diferente em cada país, dependendo de circunstâncias locais. Por toda a Europa ocupada, ciganos, assim como judeus, foram detidos, mortos, deportados para campos na Alemanha e no Leste Europeu. O regime colaboracionista de Vichy, na França, internou trinta mil ciganos, muitos dos quais foram deportados posteriormente para Dachau, Ravensbruck, Buchenwald e outros campos. Na Croácia, membros locais do movimento facista Ustasha mataram milhares de ciganos, juntamente com sérvios e judeus. Na Romênia, em 1942, milhares de ciganos e judeus foram expulsos para Transnistria (oeste de Ucrânia) onde a grande parte dos deportados morreram de doença, desnutrição e tratamento cruel. Na Sérvia, no outono de 1941, destacamentos de atiradores do exército alemão exterminaram quase toda a população, ao lado de judeus predominantemente adultos, em retaliação a soldados mortos pelo movimento de resistência sérvio. Na Hungria, alemães e colaboradores húngaros começaram a deportação de ciganos em outubro de 1944.
A imprecisão quanto à quantidade pré-Holocausto de ciganos Sinti e Romani e a escassez de pesquisas, especialmente sobre o seu destino fora da Alemanha durante o holocausto, tornaram difícil estimar o número e porcentagem de mortos. Estimativas acadêmicas de mortes pelo genocídio Sinti e Romani variam entre 220.000 e 500.000.
Depois da guerra, a discriminação contra ciganos na Europa continuou. Na Alemanha Ocidental, os tribunais concordaram em indenizar o grupo Sinti e Romani pela perseguição racial apenas para deportações que ocorreram de 1943 até o fim da guerra. Eles não retroagiram a decisão para 1938 até a década de 1960. Hoje, com a ascensão de um nacionalismo estridente em muitos dos países do Leste Europeu e desemprego por toda a Europa, os ciganos Sinti e Romani continuam a enfrentar preconceito disseminado na população e discriminação oficial.
Fonte: Sinti & Roma: Victims of the Nazi Era, 1933-1945 (publicado pelo Museu do Holocausto dos EUA, USHMM. Usado com permissão.)/Site "A Teacher's Guide to the Holocaust"
http://fcit.coedu.usf.edu/holocaust/people/USHMMROM.HTM
Tradução: Marcelo H., Roberto Lucena
Com exceção dos quadros cinzas da página ("Who Were the "Gypsies?" e "Dr. Robert Ritter: Racial Science and "Gypsies"").
Quadros cinzas (canto direito da página original do texto):
Quem eram os "ciganos"?
Robert Ritter: ciência racial e "ciganos"
Entre 1933 e 1945 os Sinti e os Roma("Ciganos")sofreram extretamente como vítimas da perseguição nazista e genocídio. Reforçando(Construindo/Construção)um preconceito de longa data, o regime nazista via os Ciganos ambos como "anti-sociais"(fora dos padrões de uma sociedade "normal) e como "inferiores" racialmente--acreditavam que ameaçavam a pureza e a força biológica da raça "Superior Ariana". Durante a Segunda Guerra Mundial, os Nazis e seus colaboradores assassinaram dezenas de milhares de homens Sinti e Roma(romenos?), mulheres, e crianças através da ocupação alemã na Europa.
Por séculos os Europeus consideravam os Ciganos como párias sociais - pessoas de aparência estrangeira, lingua, e costumes. Na Alemanha moderna, a perseguição dos Sinti e dos Roma(romenos?) precedeu o regime nazista. Mesmo que os Ciganos possuíssem direitos completos e iguais como cidadãos sob o Artigo 109 da Constituição de Weimar, eles eram sujeitos a leis "especiais" e discriminatórias. Uma Lei bávara de 16 de Julho, de 1926, esboçou medidas para "Combater Ciganos, Vagabundos e trabalhos estranhos" e requeriu o registro sistemático de todos os Sinti e Roma. A lei proibia os Cifanos de "andar em bandos", e aqueles "(Ciganos)incapazes de provar que estavam empregados regularmente" eram arriscados a serem enviandos para trabalho forçado por até dois anos. Esta lei tornou-se uma norma nacional em 1929."
Quando Hitler chegou ao poder em 1933, leis anti-Ciganos continuaram tendo efeito. Logo que o regime introduziu outras leis afetando os Sinti e Roma alemães, como os Nazis imediatamente começaram a implementar sa visão de uma Nova Alemanha - um daquelas colocava "Arianos" no topo da hierárquia de raças e ranqueava Judeus, Ciganos, e negros como raças inferiores. Sob a "Lei para a Prevenção da Prole com Defeitos Hereditários", em Julho de 1933, médicos estelerizaram contra suas vontades um número desconhecido de Ciganos, meio-Ciganos(mestiços), e Ciganos de casamentos mistos. Similarmente, sob a "Lei contra os Criminosos Habituais Perigosos" de Novembro de 1933, a polícia prendeu muitos Ciganos junto com outros que os Nazis viam como "anti-sociais"--prostitutas, pedintes(mendigos), alcoólatras, e os desocupados desabrigados(sem casa)--e os aprisionou em campos de concentração.
As leis raciais de Nuremberg de 15 de Setembro, de 1935, ("Lei para a Proteção da Honra e do Sangue Alemão" e a "Lei dos Cidadãos do Reich)não mencionavam explicitamente os Ciganos, mas em comentários interpretando estas leis, Ciganos eram incluídos, juntos com os Judeus e "Negros", como minorias "racialmente distintas" com "sangue estrangeiro". Como resultado disto, seus casamentos com "Arianos" eram proibidos. Como os Judeus, os Ciganos também foram privados de seus direitos civis.
Em Junho de 1936, um Escritório Central para o "Combate ao Fastídio Cigano" abriu em Munique. Este escritório tornou-se o quartel-general de um bando de dados nacional sobre Ciganos. Também em Junho, parte das diretrizes do Ministério do Interior para o "Combate do Fastídio/Incômodo Cigano" autorizou a política de Berlim a conduzir batidas contra os Ciganos de modo que não estragassem a imagem da cidade, que era anfitriã dos Jogos Olímpicos de Verão(Olimpíadas). Naquele mês de Julho, a polícia prendeu 600 Ciganos e os trouxeram, em 130 caravanas, a um novo e especial campo de internamento Cigano(Zigeunerlager)estabelecido próximo a uma descarga de águas residuais(esgoto) e de um cemitério no subúrbio de Marzahan em Berlim. O campo tinha apenas três bombas d'água e dois banheiros; naquela superpopulação e falta de condições sanitárias, as infermidades contagiosas proliferaram. A polícia e seus cães de guardavam o campo. Similares campos para Ciganos apareceram também no ano de 1939, em iniciativa dos governos municipais e coordenados por um Conselho de Cidades(que reportavam ao Ministério do Interior), em Cologne, Düsseldorf, Essen, Frankfurt, Hamburgo, e outras cidades alemães.
Depois da Alemanha incorporar a Áustria ao Reich em março de 1938, o regime aplicou as leis de Nuremberg aos Ciganos da Áustria. Dois campos especiais de confinamento abriram, um para 80 a 400 ciganos, em Salzburgo, e Outubro de 1939, e um segundo, em Novembro de 1940 para 4 mil ciganos em Lackenback, no Burgerland, no estado austríaco oriental que faz fronteira com a Hungria. As condições em Lackenback, que durou até o fim da guerra, eram particularmente atrozes, e muitos indivíduos pereceram ali. Ambos os campos confinaram os ciganos austríacos para o registro policial e trabalhos forçados e serviram como campos de concentração do conjunto.
Um decreto de 1937 relativo a “prevenção de crimes” forneceu um pretexto para realização de mais detenções de ciganos. Em junho de 1938, mil ciganos alemães e austríacos foram deportados para campos de concentração em Buchenwald, Dachau, Sachsenhausen, e Lichtenburg (um campo para mulheres). Um ano mais tarde, outros milhares de ciganos da Alemanha e da Áustria foram internados nos campos de concentração de Mauthausen, Ravensbrück, Dachau, e Buchenwald. Nestes campos, os prisioneiros utilizavam identificações de várias cores e formas, que permitiam aos guardas e oficiais dos campos os classificarem por categorias. Os ciganos utilizavam um triângulo preto costurado ao uniforme, o símbolo para "associais", ou verdes, o símbolo para criminosos comuns, e algumas vezes a letra "Z".
Dr. Robert Ritter, um psiquiatra que coordenava pesquisas genéticas e genealógicas em ciganos, desempenhou um papel primordial na identificação de ciganos Sinti e Romani para serem detidos pela polícia. Em 1936, Ritter tornou-se o responsável por uma unidade de pesquisas dentro do Ministério da Saúde e mais tarde no Escritório Central da Polícia (Central Police Office). Ritter e seus assistentes, em colaboração com a Polícia Criminal (Unidade de Investigação) e a seção de “Combate à Moléstia Cigana”, mudaram-se para Berlim em maio de 1938, para localizar e classificar por grupo étnico todos os ciganos na Alemanha e Áustria.
Foi provavelmente à “pesquisa étnico-biológica” de Ritter que o líder das SS Heinrich Himmler fez referência em sua circular sobre o "Combate à Moléstia Cigana" de dezembro de 1938, recomendando "a resolução da questão cigana baseada na sua natureza essencialmente racial". Ele ordenou o registro de todos os ciganos no Reich com idade acima de seis anos e sua classificação em três grupos raciais: Ciganos, Meio-Ciganos ("Mischlinge"), e pessoas com comportamento nômade de ciganos. Himmler, que supervisionava o imenso império de segurança que incluía a Polícia Criminal (Gestapo), afirmou que “o objetivo das medidas adotadas pelo Estado é defender a homogeneidade da nação alemã”, incluindo a “separação física do grupo cigano da nação alemã”.
As crianças Sinti e Romani também eram vítimas, confinadas com suas famílias em campos municipais e examinadas e classificadas por cientistas raciais. Entre 1933 e 1939, autoridades retiraram crianças de suas famílias e levadas para casas especiais para crianças que funcionavam como internatos do Estado. Alunos ciganos que faltassem às aulas eram tidos como delinqüentes e mandados para escolas juvenis especiais; os que não conseguiam falar alemão eram considerados incapazes e enviados para “escolas especiais” para os deficientes mentais. Como as crianças judias, meninos e meninas ciganos eram vítimas de insultos e provocações de colegas de escola, até que, em março de 1941, o regime excluiu todos os ciganos das escolas públicas.
Como no caso dos judeus, o início da guerra em setembro de 1939 intensificou a política do regime nazista voltada para os ciganos. Em 21 de setembro de 1939, uma conferência sobre a política racial presidida por Reinhard Heydrich, chefe do Escritório Central de Segurança do Reich em Berlim, discutiu a remoção de trinta mil ciganos alemães e austríacos para a Polônia ocupada, junto com a deportação de judeus. A “recolonização para o Leste” seguida pelo extermínio em massa de ciganos sinti e romani foi correlata à deportação e assassinato em massa de judeus. As deportações de ciganos alemães – homens, mulheres e até crianças – começou em maio de 1940 quando 2.800 ciganos foram deportados para o gueto de Lodz e de lá para Chelmno, onde foram dentre os primeiros a serem mortos por gaseamento em unidades móveis de veículos utilitários em um período entre dezembro de 1941 e janeiro de 1942. De forma similar, no verão de 1942, ciganos alemães e poloneses do gueto de Varsóvia foram deportados para Treblinka, onde foram mortos nas câmaras de gás. Ciganos alemães também foram deportados para guetos em Bialystok, Cracóvia e Radom.
Durante a guerra, alguns pequenas diferenças de opinião surgiam dentro do alto escalão do governo em relação à “Solução Final da Questão Cigana”. Himmler acalentava a idéia de preservar um pequeno grupo de ciganos “puros” para estudos étnicos destes “inimigos do Estado” raciais, mas o regime rejeitou a idéia. Em um decreto datado de 16 de dezembro de 1942, Himmler ordenou a deportação de ciganos e meio-ciganos para Auschwitz-Birkenau. Pelo menos vinte e três mil ciganos foram mandados para lá, o primeiro grupo a chegar da Alemanha em fevereiro de 1943. A grande parte dos ciganos em Auschwitz-Birkenau eram da Alemanha e de territórios anexados ao Reich, tal como a Boêmia e Moravia. A Polícia também deportou pequenos contingentes de ciganos da Polônia, Hungria, Iugoslávia, França, Bélgica, dos Países Baixos e da Noruega.
Em Auschwitz-Birkenau, os oficiais destinaram um “Campo para Famílias Ciganas” para os ciganos da Seção B-IIe de Birkenau. Dos barracões de madeira, as câmaras de gás e os crematórios eram claramente visíveis. Durante os dezessete meses de existência do campo, a maioria dos ciganos levados a este campo morreram. Eles eram mortos nas câmaras e gás ou morriam de inanição, exaustão pelo trabalho pesado, e doenças (dentre as quais tifo, varíola e uma doença rara chamada Noma[http://www.ibemol.com.br/jaoc2003/59.asp]). Outros, inclusive muitas crianças, morreram como resultado de diversas experiências médicas cruéis feitas pelo Dr. Josef Mengele e outros médicos SS. O campo cigano foi liquidado na noite entre 02 e 03 de agosto de 1944, quando 2.897 ciganos sinti e romani foram mortos nas câmaras de gás. Os restantes 1.400 homens e mulheres foram transferidos para os campos de concentração de Buchenwald and Ravensbruck, destinados ao trabalho forçado.
Depois da Alemanha invadir a União Soviética em junho de 1941, esquadrões especiais da SS (Einsatzgruppen) e unidades regulares do Exército e Polícia começaram a fuzilar ciganos na Rússia, Polônia e nos Bálcãs, ao mesmo tempo que exterminavam judeus e líderes comunistas. Acredita-se que milhares de homens, mulheres e crianças ciganos tenham sido mortos nestas ações, geralmente executadas sob o pretexto de que as vítimas eram "espiãs".
Na Europa ocidental e do sul, o destino dos ciganos Sinti e Romani foi diferente em cada país, dependendo de circunstâncias locais. Por toda a Europa ocupada, ciganos, assim como judeus, foram detidos, mortos, deportados para campos na Alemanha e no Leste Europeu. O regime colaboracionista de Vichy, na França, internou trinta mil ciganos, muitos dos quais foram deportados posteriormente para Dachau, Ravensbruck, Buchenwald e outros campos. Na Croácia, membros locais do movimento facista Ustasha mataram milhares de ciganos, juntamente com sérvios e judeus. Na Romênia, em 1942, milhares de ciganos e judeus foram expulsos para Transnistria (oeste de Ucrânia) onde a grande parte dos deportados morreram de doença, desnutrição e tratamento cruel. Na Sérvia, no outono de 1941, destacamentos de atiradores do exército alemão exterminaram quase toda a população, ao lado de judeus predominantemente adultos, em retaliação a soldados mortos pelo movimento de resistência sérvio. Na Hungria, alemães e colaboradores húngaros começaram a deportação de ciganos em outubro de 1944.
A imprecisão quanto à quantidade pré-Holocausto de ciganos Sinti e Romani e a escassez de pesquisas, especialmente sobre o seu destino fora da Alemanha durante o holocausto, tornaram difícil estimar o número e porcentagem de mortos. Estimativas acadêmicas de mortes pelo genocídio Sinti e Romani variam entre 220.000 e 500.000.
Depois da guerra, a discriminação contra ciganos na Europa continuou. Na Alemanha Ocidental, os tribunais concordaram em indenizar o grupo Sinti e Romani pela perseguição racial apenas para deportações que ocorreram de 1943 até o fim da guerra. Eles não retroagiram a decisão para 1938 até a década de 1960. Hoje, com a ascensão de um nacionalismo estridente em muitos dos países do Leste Europeu e desemprego por toda a Europa, os ciganos Sinti e Romani continuam a enfrentar preconceito disseminado na população e discriminação oficial.
Fonte: Sinti & Roma: Victims of the Nazi Era, 1933-1945 (publicado pelo Museu do Holocausto dos EUA, USHMM. Usado com permissão.)/Site "A Teacher's Guide to the Holocaust"
http://fcit.coedu.usf.edu/holocaust/people/USHMMROM.HTM
Tradução: Marcelo H., Roberto Lucena
Com exceção dos quadros cinzas da página ("Who Were the "Gypsies?" e "Dr. Robert Ritter: Racial Science and "Gypsies"").
Quadros cinzas (canto direito da página original do texto):
Quem eram os "ciganos"?
Robert Ritter: ciência racial e "ciganos"
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