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quinta-feira, 23 de maio de 2013

O fim da história para Claude Lanzmann (Documentário)

Vasco Câmara, em Cannes. 18/05/2013 - 15:20

Com Le Dernier des Injustes, um dos filmes mais aguardados em Cannes, o realizador do Shoah regressa aos campos nazis e ao debate sobre o papel que os judeus tiveram no seu próprio extermínio. Fora de competição.

Vídeo. O fim da história para Claude Lanzmann

O novo documentário inclui a entrevista ao
rabino Benjamin Murmelstein, feita em 1975 DR
O “climax da crueldade” da Solução Final chamou-se Theresienstadt, campo de concentração que o regime nazi vendia aos americanos, à Cruz Vermelha e aos judeus alemães como um “campo modelo”, cidade que o führer lhes doava. Na panóplia de instrumentos de crueldade, a mentira era uma forma de esconder o crime e de os próprios criminosos aceitarem, através da camuflagem da linguagem, o crime que iam cometer.

Dentro de Theresienstadt desenrolou-se uma “história louca”, a que o cineasta Claude Lanzmann, 87 anos, regressa com Le Dernier des Injustes, um “documentário magistral” que faz a capa da edição deste sábado do diário francês Libération, na véspera da sua apresentação no Festival de Cannes. Com o documentário de mais de três horas e meia o cineasta regressa a uma personagem que filmara em 1975 para o seu monumento de nove horas chamado Shoah: Benjamin Murmelstein, Grande Rabino de Viena durante a ocupação, que Adolf Eichmann, o chefe da logística de extermínio, nomeou em 1944 para liderar o Conselho Judeu do campo e executar os seus planos. Tudo numa invenção perversa do regime que obrigava os responsáveis de um gueto a executarem as ordens alemãs e, concretamente, a fazerem a lista dos deportados para o extermínio.

Muitos foram mortos nos campos, houve os que se suicidaram e os que, como Murmesltein, foram acusados no final da Guerra de colaboração, de terem negociado com o Diabo – antigos prisioneiros de Theresienstadt apontaram o dedo ao rabino. Julgado em 1946, considerado inocente, Murmesltein retirou-se para Roma, onde Lanzmann o entrevistou. Esse material, que não ficou na versão final de Shoah e foi entregue ao Museu do Holocausto em Washington, é a base de Le Dernier des Injustes (era a designação que Murmesltein dava a si próprio).

“Estive muito consciente das contradições selvagens em que se encontravam estas pessoas que não se tinham voluntariado para este trabalho, que tinham sido escolhidas pelos alemães que, quando não encontravam gente suficiente, as apanhavam na rua”, diz Lanzmann na longa entrevista ao jornal francês, que anuncia na capa “Lanzmann – um filme testamento”. “Quis mostrar que estes supostos colaboradores judeus não eram colaboradores. Eles nunca quiseram matar judeus, não partilhavam a ideologia dos nazis, eram uns infelizes sem esperança.”

Com Claude Lanzmann – e, tal como ele, contra o que escreveu a filósofa Hannah Arendt sobre a responsabilidade e colaboração dos judeus na sua própria morte – está Annete Wieviorka, especialista na história dos judeus no século XX. Diz ela no dossier do Libération: “A grande perversidade do nazismo foi confiar a administração de uma população aos que estavam destinados a ser assassinados.”

Le Dernier des Injustesé, concorda Lanzmann, uma forma de encerrar a sua história com o Holocausto, depois de Shoah, Sobibor, 14 Octobre 1943 (já um filme contra a ideia da passividade dos judeus perante a máquina de extermínio) ou Le Rapport Karski.

O dispositivo do novo documentário que o realizador leva a Cannes inclui a entrevista a Benjamin Murmelstein, feita em 1975, e imagens do cineasta hoje, nos lugares que já fizeram parte da sua odisseia, como Theresienstadt, cidade checa a uma hora de Praga. Para o Libération, o filme termina com um gesto simbólico de reabilitação: Lanzmann, ainda em 1975, nas ruas de Roma com Murmesltein, um abraço de afecto. É o fim da sua história.

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/cultura/noticia/o-fim-da-historia-para-claude-lanzmann-1594809

domingo, 7 de abril de 2013

Prestam homenagem na República Tcheca às vítimas do Holocausto cigano (Samudaripen - Porrajmos)

Praga, 5 abr (PL) - O ministro de Relações Exteriores da República Tcheca, Karel Schwarzenberg, prestou homenagem hoje às vítimas do Holocausto cigano junto com várias organizações e dezenas de cidadãos dessa etnia.

Os participantes na cerimônia acenderam uma grande quantidade de velas no pátio do Palacio Lichtenstein na capital, por razão do Dia Internacional do Povo Cigano, que se celebra em 8 de abril, disse a Radio Praga.

Segundo a fonte, dos milhares de ciganos que viviam na antiga Tchecoslováquia na primeira metade do século XX, só uma décima parte sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, e atualmente vivem na República Tcheca uns 250 mil.

A decisão de dedicar o 8 de abril aos ciganos se deve ao fato de que nesse dia, em 1971, foi instituído em Londres a bandeira e o hino que os identifica, durante a celebração do Primeiro Congresso Mundial dessa comunidade.

O principal objetivo daquele evento era manter vivo a recordação das vítimas de Samudaripen, o holocausto contra los gitanos executado pelo regime nazi, no qual perderam a vida mais de 500 mil pessoas.

rc/mar

Fonte: Prensa Latina
http://www.prensa-latina.cu/index.php?option=com_content&task=view&idioma=1&id=1281131&Itemid=1
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Holocausto tcheco chega ao leitor espanhol pela mão de Arnošt Lustig

05-06-2012 14:17 | Daniel Ordóñez

Arnošt Lustig (Arnost Lustig) refletiu em 'Uma Oração por Kateřina Horovitzová’ a ânsia de sobrevivência do ser humano ante uma situação extrema como os campos de concentração nazis, que o próprio autor sofreu. O livro, recém publicado em espanhol, também mostra os sentimentos de culpa que acompanharam àqueles que viveram para contá-lo, além de como transcorreu na Tchecoslováquia o extermínio da população judaica.

Download da mp3 (podcast) (em espanhol)

Arnošt Lustig
Durante o recente festival fechado Nueve Puertas, das culturas tcheca, alemã e judaica, que este ano pela primeira vez foi celebrado além de Praga também em cidades espanholas, foi apresentada em Madrid uma das obras mais conhecidas de Arnošt Lustig, falecido em 2011.

‘Una Oración por Kateřina Horovitzová’ é lançada em espanhol quase 50 anos depois de ser lançada em tcheco. A tradutora para o espanhol do livro, Patricia Gonzalo de Jesús, nos apresenta a trama.

Num grupo de homens de negócios judeus-americanos que estavam na Itália a negócios, o chefe deles, em troca de dinheiro, salva a vida de uma das judias que estavam nas estações dos trens que iam para os campos de concentração, aquela que se chama Kateřina Horovitzová. Aqui surge um dilema moral porque Kateřina obviamente não quer morrer e decide aceitar esta oferta de ser resgatada, mas por sua vez pesa em sua consciência o fato de ter deixado pra trás sua família. Ela tenta justificar esta decisão mas adiante como mera questão de sobrevivência, como uma forma de ter mais possibilidades de resgatar sua família mais pra frente”.

Arnošt Lustig assegurava que esboçou todo o livro em uma só noite a luz de vela. A complexidade da realidade dos personagens está presente em uma obra que não permite visões simplistas com as quais se retrata com frequência capítulos trágicos da Segunda Guerra Mundial.

Ao longo de todo o livro há uma ambiguidade moral. Nunca sabemosse o que fazem os personagens, e sobretudo a protagonista, é correto ou incorreto, branco no preto. Sempre ao longo do livro nos movemos melhor pelas grises, e só ao final podemos fazer nosso juízo. Planta um dilema moral interesante, ou seja, o que um considera que é correto ou incorreto desde a ética individual de cada um, e o que se vê obrigado fazer para sobreviver em uma circunstância determinada que um consegue superá-la".

Patricia Gonzalo de Jesús

Patricia Gonzalo
de Jesús
Patricia Gonzalo de Jesús destaca também o que levou a Lustig escrever o livro. Uma história que contou e o próprio autor em uma de suas últimas viagens, a que ele fez à Madrid para falar com seus leitores, meses antes de morrer.

Eu creio que o mais interessante do livro, à parte do livro em si, é como ele surgiu. É uma história que Arnost Lustig nos contou em sua visita à Madrid, tanto ao editor Enrique Redel como para mim, e creio que foi um pouco o que motivou a Enrique publicar o livro. Quando lhe perguntavam como pode alguém seguir vivendo depois de uma experiência nos campos de concentração, ele sempre dizia que para continuar vivendo com certa normalidade tinha várias motivações. Uma era que ao contrário de seus companheiros, sua mãe também havia regressado dos campos de concentração”.

‘Una Oración por Kateřina Horovitzová’ foi uma espécie de regalo a sua mãe, prossegue a tradutora.

O filme ‘Una Oración por Kateřina Horovitzová’

Em relação a sua mãe precisamente surge o livro. Ao que parece, uma vez estabelicido o regime da Alemanha do pós-guerra começaram a levar a cabo questões para devolver aos judeus parte de seus objetos pessoais, tanto os confiscados em geral, mas também os requisados nos campos de concentração. Uma das coisas que se pretendia devolver eram as alianças de matrimônio. O caso é que para que isso fosse devolvido havia que apresentar não só a certidão de casamento, como também o cerificado de defunción ou a garantia de que essa pessoa havia morrido nesse campo de concentração e esse objeto lhe pertencia, algo que pelo sistema que havia nos nos campos de concentração era absolutamente impossível demonstrar."

Depois da alegria inicial de pensar que ia recuperar estes objetos de tanto valor sentimental, sua mãe estava desconsoloda, contava Lustig.

Arnošt Lustig llhe disse que aquilo era o que esperava por parte das pessoas que haviam sido capazes de fazer o que haviam feito. Mas por respeito a sua mãe e a outras mulheres fortes que haviam sobrevivido aos campos de concentração, e que com seu comportamento haviam sido um exemplo para os demais, decidiu escrever um livro no qual a protagonista era uma mulher, uma mulher justa".

Retornando à obra, Patricia Gonzalo de Jesús acrescenta também seu valor histórico, ao abordar uma nova visão sobre o Holocausto. Um termo, por certo, que o próprio Lustig detestava para se referir à Solução Final nazi, já que considerava que isso havia sido sencillamente um genocídio, em contraposição ao sacrifício religioso que aparece na Bíblia como 'holocausto'.

Talvez o tema do Holocausto de outros países seja mais conhecido, mas o que aconteceu na Tchecoslováquia não é um tema de algo que tenha sido traduzido muito para o castelhano, no que é bom que comecem a serem lançados autores na Espanha sobre a questão judaica da República Tcheca."

Outro atrativo do livro é a estrutura não cronológica da história, assim como os múltiplos personagens nos quais sucessivamente se vai centrando a novela. Um prazer para o leitor, e mais que um quebra-cabeças para a tradutora, conta Patricia Gonzalo.

O livro tem um estilo muito complicado, porque há contínuos flashforward e flashback (avanços e retornos ao passado). Ou seja, continuamente nos movimentos de frente para trás e de trás para frente. Ainda que siga uma estrutura de narração linear, de certo modo estamos recordando coisas que ocorreram antes e também se adiantam algumas coisas que ocorrerão depois. Com o qual encontrar uma forma de unir tudo isso e que o leitor não se perca resulta em algo um pouco complicado. Também porque essas recordações e impressões que adiantamos que acontecerão depois, não são adiantadas pelo narrador senão a partir das recordações dos personagens individuais, da forma que é como se fôssemos saltando da mente de um personagem até a mente de outro continuamente, tanto dos prisioneiros, como dos soldados e os oficiais da SS. E bem, o estilo do próprio Lustig em si é muito elaborado, com o qual se requer tempo."

‘Una Oración por Kateřina Horovitzová’, lançada pela Editora Impedimenta, é a terceira obra publicada em espanhol de Arnošt Lustig, depois de ‘Ojos Verdes’(Olhos Verdes) e ‘Sueños Impúdicos’(Sonhos Impúdicos).

Fonte: Radio Praha
http://www.radio.cz/es/rubrica/cultura/el-holocausto-checo-llega-al-lector-espanol-de-la-mano-de-arnost-lustig
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 17 de dezembro de 2011

Discurso de Himmler no mesmo dia do massacre de Lídice

Como o Dr. Lindtner aponta [1], Himmler afirmou em 09.06.42: "Die Völkerwanderung der Juden werden wir in einem Jahr bestimmt fertig haben, dann wandert keiner mehr."(Sobre a migração dos judeus, devemos terminá-la dentro de um ano e então não haverá mais migrações). Deve ser ressaltado que isto ocorreu um dia depois do funeral de Heydrich e no mesmo dia do massacre em Lídice(em português); em 10 de junho, 1.000 judeus foram deportados de Praga para Majdanek. Assim, não há dúvidas quanto ao significado do que Himmler disse quando usou a frase "dann wandert keiner mehr"(e então não haverá mais migrações).

Fonte: Holocaust Controversies
Título original: Himmler's Speech on the same day as Lidice
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2011/12/himmlers-speech-on-same-day-as-lidice.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena

[1] Complemento: comentário do Dr. Lindtner na caixa de comentários do blog Holocaust Controversies, que consta do texto acima como link, sobre o discurso de Himmler. Comentário traduzido pro português. Link:
Holocaust Denial is Chutzpah(Dr. Lindtner) disse...

"...dann wandert keiner mehr"

A fim de defender a desesperada afirmação de que a Judenpolitik(política judaica) de Hitler/Himmler eram campos de "trânsito", e não destruição/extermínio físico(Vernichtung), Faurisson, em seu blog, em 20 de junho de 2011, cita esta sentença do discurso dado por Himmler na Haus der Flieger(Câmara dos Pilotos), em 09 de junho de 1942 (Geheimreden..., 1974, p.159): "Die Völkerwanderung der Juden werden wir in einem Jahr bestimmt fertig haben, dann wandert keiner mehr" (Sobre a migração dos judeus, devemos terminá-la dentro de um ano e então não haverá mais migrações).

Como Graf et.al.(e outros), Faurisson esquece de nos dizer onde e como esta Völkerwanderungs(migração forçada) iria acabar. O que Himmler quis dizer em suas quatro últimas palavras, "dann wandert keiner mehr"(e então não haverá mais migrações)?- A resposta foi dada pelo próprio RFSS(Reichsfuehrer SS), por exemplo, em Posen, em 06 de outubro de 1943 (ibid. pág. 169): "Es musste der schwere Entschluss gefasst werden, dieses Volk von der Erde verschwinden zu lassen" (Se faz necessário tomar uma decisão séria pra fazer este povo desaparecer da face da Terra).

Claramente, Faurisson, Graf e outros, não estão interessados em descobrir "o que realmente aconteceu". Do contrário eles não poderiam ter ignorado isto e várias outras passagens claras com o mesmo efeito.

Mortos dificilmente levantam de seus túmulos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Polícia política espionava comunidade judaica na ex-Tchecoslováquia

Primavera de Praga em 1968: 'conspiração judaica' segundo teoria do serviço secreto

Pesquisas mostram como a espionagem dos serviços secretos comunistas agia. Na antiga Tchecoslováquia, os judeus estavam entre os principais alvos dos espiões a serviço do regime.

Através de um instituto de pesquisa histórica sobre a polícia política da então comunista Tchecoslováquia, vieram à tona este ano várias informações sobre os métodos e alvos do serviço secreto do país. Uma das descobertas feitas pelos pesquisadores nos acervos da polícia política foi o montante de pessoas ligadas à comunidade judaica do país que eram espionadas regularmente.

Segundo Jiri Danicek, presidente da Federação das Comunidades Judaicas no país e e ex-dissidente do regime, havia entre os judeus em Praga, durante o comunismo, uma lei informal: na dúvida, manter o sigilo. "Cada pessoa mantinha um círculo de amigos com os quais falava abertamente. E havia os outros, com que, de preferência, não se podia conversar de maneira honesta", descreve Danicek.

Na mira do serviço secreto

Os pesquisadores hoje partem do princípio de que, em quase todas as instituições judaicas do país, havia tentáculos da polícia política. Embora houvesse, teoricamente, liberdade religiosa no país, no dia-a-dia os membros da comunidade judaica permaneciam com freqüência isolados.

"Pelo menos inconscientemente, as teorias que foram decisivas para o anti-semitismo continuaram sendo disseminadas, ou seja, o pensamento de que os judeus tentavam ocupar todos os postos importantes para, através de redes obscuras, influenciar a sociedade em proveito próprio", observa Ondrej Koutek, funcionário do ministério tcheco do Interior e pesquisador do assunto.

Primavera de Praga como conspiração judaica

Comunidade judaica de Praga: alvo da polícia política do regime comunista

A polícia política do país construiu a idéia de uma "conspiração judaica", conta Koutek, para, a partir deste pressuposto, penetrar em várias instituições judaicas do país. O alvo declarado era uma listagem exata dos nomes de todos os judeus tchecoslovacos, contendo uma série de dados privados a respeito dos mesmos.

O detalhismo com que o serviço secreto se dedicava a rastrear a comunidade judaica era assustador, até mesmo se tratando das artimanhas do regime comunista. "Eles procuravam sistematicamente judeus no movimento de oposição e, obviamente, encontraram alguns. A partir daí, desenvolveram a lenda do perigo judeu. A situação se agravou de tal forma que surgiu até mesmo uma versão da Primavera de Praga como sendo uma conspiração sionista", aponta Koutek.

Instituições contaminadas por espiões

As represálias que se seguiram acabaram por minar a comunidade judaica no país. Praticamente nenhum grêmio de uma instituição judaica tinha liberdade para trabalhar de forma independente, pois em todas as instituições estavam infiltrados espiões.

Após a derrocada da Cortina de Ferro, a comunidade judaica da República Tcheca se viu frente a uma questão primordial: saber quem se havia mantido ileso às artimanhas da polícia política, estando apto, portanto, a assumir os cargos de liderança. "De todo candidato era exigida uma declaração de que não havia cooperado com o regime, ou pelo menos não de forma consciente", lembra Frantisek Banyai, que está à frente da comunidade judaica de Praga há quatro anos.

Os critérios que determinam quem cooperou ou não com o regime comunista são, no entanto, ambivalentes, assinala Banyai. "Lembro-me do caso de uma pessoa que foi obrigada a assinar uma declaração de colaboração com o regime, mas que estava sempre à disposição para ajudar a quem fosse necessário. Ao mesmo tempo, havia aqueles que nunca assinaram qualquer documento de colaboração, mas que, por puro fanatismo, causaram muitos danos por onde andaram."

Também durante os anos de regime comunista, completa Banyai, nada era preto no branco. E por isso as revelações sobre o passado do país são tão importantes.

Kilian Kirchgessner (sv)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,3876295,00.html

domingo, 16 de novembro de 2008

Theresienstadt

O Lager(Campo de Concentração)do horror encoberto

O campo de Terezin, que não escondia menos horrores que os outros, era apresentado ao mundo como uma comunidade judia autoadministrada. Os motivos desta fachada e da liberação de 1200 prisioneiros, na autobiografia de Fritzi Spitzer.

(Foto)Entre os prisioneros havia músicos e artistas de grande fama.
Desenho de Federica Spitzer.

Na grande literatura sobre o genocídio judeu, as memórias autobiográficas representam em conjunto uma modesta porcentagem. Muitos não tiveram a coragem de pôr por escrito suas recordações. Outros devem ter pensado que todo livro de memórias se transforma em literatura, e corre, portanto, o risco de ofender aos mortos, diminuindo ou apequenando a trágica enormidade do fato. Finalmente alguns que observam os preceitos religiososo sustentam que o mal é necessariamente inenarrável. Não basta. Para recordar o horror faz-se a condição de conseguir se impedir que desapareça a memória, protegê-la com uma sorte de couraça e assumir, frente a certos acontecimentos, uma atitude não só de distanciada imperturbabilidade, senão inclusive de ironia. Só assim as recordações assumem a credibilidade de um documento histórico.

Federica Spitzer, autora de um livro breve lançado em Berlim em 1997 e mais recentemente na editorial Dadò de Locarno (Anos perdidos. Do Lager à liberdade) se encontra entre aqueles que melhor tiveram êxito em contar a própria tragédia com o menor número possível de lágrimas e invectivas. Devemos lhe ser duas vezes agradecidos: pela extraordinária qualidade do livro e pela importância de um testemunho histórico que permite compreender melhor alguns dos aspectos menos conhecidos do genocídio judeu.

O primeiro deles é o campo de Terezin ou Theresienstadt, uma pequena cidade fortificada a 50 km de Praga, edificada em 1780 por José II e chamada assim em memória de sua mãe, Maria Teresa. Fritzi Spitzer foi recolhida ali com seus pais durante dois anos e meio, até início de fevereiro de 1945. Quando desde Viena chegou ali, no verão de 1942, fazia um ano que a fortaleza era campo de concentração. Mas não foi um campo como os outros.

Por razões muito discutidas mas até agora não totalmente aclaradas, o regime nazi decidiu fazer dele, aos olhos do mundo, uma “comunidade judia autoadministrada”. Theresienstadt teve um local de vendas, uma moeda, um serviço postal, um cabaré, uma orquestra, um hospital, uma padaria, uma grande manufatura artesanal, um conselho judeu presidido por Jacob Edelstein, uma espécie de centro cultural no que alguns rabinos traduziam e comentavam o Talmud; e até foi reacondicionado e pintado na ocasião de uma visita dos inspectores da Cruz Vermelha em janeiro de 1944. Por trás desta atraente fachada os prisioneros viviam em condições humilhantes, trabalhavam como escravos, sobreviviam com 800 calorias ao dia, eram duramente castigados pelas SS pela mínima transgressão, morriam de Tifo exantemático e finalmente eram enviados aos fornos crematórios de Auschwitz ou Treblinka.

Mas a ficção deixou aos internados pequenas margens de liberdade que haviam sido impossíveis em outros campos de concentração, e permitiu a Fritzi Spitzer exercitar o engenho, a fantasia e a iniciativa de que era dotada. Os pequenos furtos, o tráfego cotidiano, as astúcias e as aventuras picarescas da protagonista são outras tantas revanches da natureza humana contra a vida inumana do Lager.

Falta compreender porque o regime nazi havia montado uma ficção tão colossal. Para enganar, com uma operação de propaganda, a opinião pública mundial? Para “hospedar” as figuras principais da comunidade judia e os intelectuais que gozavam de notoriedade internacional? Para satisfazer àquele setor do regime que buscava talvez mitigar o furor persecutório de Hitler? Para dispôr de um bom número de reféns para trocar num momento oportuno?

O livro não responde a esta pergunta, mas a aventura de Fritz Spitzer sugere algumas hipóteses. Em 2 de fevereiro Fritzi supôs que 1200 prisioneiros partiriam à Suíça nos dias seguintes e compreendeu que poderia fazer parte do grupo com seu pai e sua mãe. Temeu que o comboio, como os que o haviam precedido, estivesse destinado a um campo de extermínio e duvidou. Mas apenas consultou aos pais e tomou uma decisão, lançou-se de cabeça à jornada e conseguiu se inscrever com eles na lista dos escolhidos. A partir desse momento começou um dos episódios mais singulares da segunda guerra mundial. Três dias depois cada um dos que iam partir receberam, com grande surpresa, um vaso de marmelada, um pacote de vitaminas, dois pãezinhos e a foi feito sentar em um trem que era composto por vagões-leitos e não por vagões de gado. A bordo daquele trem os 1200 atravessaram a Boêmia, dobraram ao sudoeste, face à Karlsbad, passaram a fronteira alemã em direção à Bayreuth, viram pela janela as ruínas de Ausgburgo, Friedrichshafen, Nürnberg e finalmente, do outro lado do lago de Constanza, às costas iluminadas da Suíça. Quando o trem entrou freiando e rangendo na estação de Kreuzlingen, o andar estava cheio de gente que observava em silêncio e cada tanto esboçava algum sorriso. Eram os habitantes da pequena cidade que havia acudido com presentes de todo tipo. Era o rosto hospitaleiro de um país que hoje se senta, a miúde injustamente, no banco dos acusados.

Por trás da liberação dos 1200 prisioneiros de Theresienstadt estava um político suíço que tinha boas relações com alguns representantes alemães. Chamava-se Jean-Marie Musy, havia sido conselheiro federal e havia fundado em 1936 uma associação nacional suíça contra o bolchevismo.

Quando alguns rabinos ortodoxos norte-americanos lhe pediram qe intercedesse para a liberação de um grupo de judeus, Musy esperou talvez que uma iniciativa humanitária havia allanado o caminho a seu projeto, acariciado desde há muito tempo: um pacto entre os aliados e a Alemanha contra a União Soviética. Pôs-se a trabalhar e se acercou de das pessoas que o ajudaram com motivações diversas: Heinrich Himmler, chefe das SS e da Gestapo, Walter Schellenberg, chefe da contraespionagem alemã. O primeiro queria aproveitar a operação para obter dinheiro e meios de transporte; o segundo, melhorar, dentro do possível, a imagem da Alemanha e abrir as tratativas com os aliados. Como o demonstram outros acontecimentos daqueles meses, o mais provável é que Himmler tivesse um objetivo predominantemente venal, enquanto Schellenberg persseguia um fim político. O acordo teve êxito quando Himmler renunciou aos meios de transporte (que nenhum estava disposto a proporcionar) e se “conformou” com cinco milhões de francos. Moreno Bernasconi, em seu prefácio, escreve que Adolf Eichmann havia intentado uma operação semelhante na Hungria: a liberação de um milhão de judeus e a clausura das câmaras de gás em troca de 10.000 caminhões e bens de primeira necessidade. Destas tratativas, levadas a cabo por homens que buscavam abrir uma saída de emergência para si mesmos, provavelmente Hitler nunca se enteró. Enquanto que o Führer, recluso no bunker da chancelaria, não tinha outra solução para seu país exceto um gigantesco “crepúsculo dos deuses”, nos muros da grande prisão nazi começavam a se abrir as primeiras grietas. Fritzi Spitzer esteve entre os poucos que conseguiram deslizar-se através de uma fisura para conquistar a liberdade.

O livro sugere uma última observação. Com algumas excepções (entre elas os livros de Primo Levi), a melhor literatura sobre os Lager alemães é feminina.

De agora e mais adiante recordaremos o nome de Fritzi Spitzer junto aos de Margarethe Buber-Neumann (que pode confrontar os campos de Hitler com os de Stalin), de Ruth Schwertfeger, autora de "Mulheres de Theresienstadt", de Ruth Krueger, autora de "Viver todavia" (outro livro sobre Theresienstadt, publicado em 1995 por Einaudi) e de Fey von Hassel, autora de memórias encontradas recentemente: quatro mulheres inteligentes, obstinadas e capazes de combater o nazismo com as armas de sua humanidade feminina. Diz-se que o Führer tinha uma relação difícil com as mulheres e que a miúde se detinha num umbral de inconstante galanteio. Começou-se a entender as razões.

Sergio Romano

O presente artigo foi publicado no Corriere della Sera
em 7 de março de 2001.
Tradução de Ana María Cartolano.

Foto 2: US Holocaust Memorial Museum
http://www.ushmm.org/wlc/article.php?lang=en&ModuleId=10005424
http://www.ushmm.org/wlc/media_ph.php?lang=en&ModuleId=10005424&MediaId=1609

Fonte(espanhol): Fundación Memoria del Holocausto
http://www.fmh.org.ar/revista/19/theres.htm
Tradução: Roberto Lucena

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