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sábado, 22 de novembro de 2014

A moeda nazicomunista da Veja... que não era moeda... e que não era comunista

A quem perdeu o começo desse post, favor ler este:
O separatismo dos magoados

Lá no post lerão o seguinte (transcrevo praqui):
Eu me segurei pra não criticar este cidadão da Veja antes (o Constantino), porque haviam me passado um texto dele. Pra adiantar, o texto era uma cópia de blog estrangeiro (ele não cita a fonte de onde relatam uma suposta "moeda nazicomunista", mas acha-se fácil na web), que vou tratar em outro post.

Evitei retrucar o texto da "moeda" pois iria parecer pirraça e ataque pessoal quando não é. Apenas não deveriam passar esse tipo de conteúdo sem antes perguntar o que a pessoa pensa de revista "x", mas o povo (em geral) não enxerga a coisa dessa forma e acaba passando sem refletir, sem avaliar o conteúdo, porque partem do princípio equivocado de que por A ou B ser contra o negacionismo que automaticamente "gostará" ou "endossará" revista/jornal A ou B como a Veja (e publicações afins) e não é por aí.
Feita a apresentação, vamos ao post que saiu no panfleto, ops, Revista Veja que quando se mete a falar de nazismo e segunda guerra é algo que causa constrangimento.

Aliás, a Veja causa constrangimento comentando qualquer coisa. O "post bombástico" é este aqui abaixo tentando negar que o nazismo era/seja um movimento de direita ou "provando" que era/é de "esquerda", que é mais do mesmo da panfletagem liberal mais extremada:
"A moeda nazicomunista que prova que o nazismo era de esquerda"

Primeiro problema (de vários): a moeda não é moeda, é um broche comemorativo do dia trabalho lançado em 1934: Tag Der Arbeit (Dia do Trabalho)
http://www.coinpeople.com/index.php/topic/20376-tag-der-arbeit-1934/


Agora, pra efeito de comparação (eu havia achado um site que tinha vários desses broches, mas pra localizar no meio rascunho tá complicado, eu acho que pode ser este aqui mas não dá pra cravar), segue o broche de 1937:
Tagungsabzeichen der NSDAP 1. Mai 1937 Tag der Arbeit
De 1935:
Tagungsabzeichen der NSDAP 1. Mai 1935 Tag der Arbeit
De 1938:
Tagungsabzeichen der NSDAP 1. Mai 1938 Tag der Arbeit

E mais uns cliques do broche de 1934 mostrando aquele alfinete pra colocar na camisa, mostrando que não é uma moeda:
Tagungsabzeichen der NSDAP 1. Mai 1934 Tag der Arbeit
Imagem 2 (o alfinete do broche)

Tem fotos melhores desse broche. Você encontra mais informações sobre isso colocando na busca do Google por: Tag der Arbeit+1934

Pra terem uma ideia do "nível" de "discussão" sobre isso, deem uma lida (torturante): Link.

É assim que esses hoaxs se espalham.

Só que teve um pessoal que foi retrucar apontando um emblema da Áustria antigo, anterior ao broche, que mostra uma águia segurando uma foice e um martelo em cada pata, segue a imagem abaixo:
Brasão de Armas da Áustria de 1919 a 1934

Aqui a história (em inglês):
Coat of arms of Austria

A primeira águia não apresenta correntes nas patas (a que apresenta corrente partida simboliza a libertação do nazismo), a escolha do martelo foi feita pra representar a indústria e a foice a agricultura (ou agricultores), porque na época essa simbologia era popular e as classes abastadas (dominantes) tentavam com essas manobras usar uma simbologia para parecerem mais "amigáveis" para o povo (para parecerem mais próximas ao povo). Na época a revolução russa de 1917 era bastante popular e teve um impacto pesado na Europa.

Só que por mais bem intencionada seja esta citação da água austríaca, deveriam explicar a diferença dos regimes (segue abaixo uma explicação rápida, resumida e repetida) apesar do brasão austríaco mostrar o quanto é tola a citação da moeda (isso já bastaria). Porque se só o 'deboche' não serve como resposta a tudo.

Vejam como é fácil usar a mesma retórica do cara da Veja pra outras comparações (passando essa ideia) agora com o sionismo, "a moeda nazi-sionista" (essa também é manjada, é sobre o acordo de transferência):


Tirado do site do David Irving (negacionista britânico).

Viram como é fácil fazer esse tipo de associação extremamente infantil? E vejam que a ideia sempre parte de sites extremistas, geralmente de direita.

Eu presumo que esse ideia da "moeda nazicomunista" tenha sido espalhada no Orkut a partir deste blog anti-esquerda, pró-Israel (tem o símbolo lá) e adulador de Pinochet, em inglês. Eu prometi que iria mostrar o blog de origem, presumo que seja este embora não tenha localizado nos rascunhos o conteúdo que eu havia salvo, o post é de 2008:
An original Nazi Labor day medal from 1934

E se acharem qualquer broche ou moeda do tipo com os EUA dá pra fazer a mesma associação provando que os EUA são uma "República Nacional-Socialista Bolivariana" (rsrsrsrs).

Falando sério, qualquer um que se interesse por segunda guerra sabe ou deveria saber dessas divisões básicas sobre segunda guerra, refiro-me aos que não queiram manipular informação também.

Prosseguindo, o broche do dia do trabalho de 1934 na Alemanha, com aqueles símbolos só teve esta edição daquele ano.

O nazismo também tentou aproximar gente da esquerda radical pras fileiras da revolução nacionalista que empreendera. Dar uma lida em:
O Movimento Revolucionário Conservador alemão, precursor do nazismo
Strasserism
National Bolshevism
Third Position

Continuando a parte acima. O primeiro de maio de 1934 antecedeu a Noite das Facas Longas (ou Noite dos Longos Punhais) em que a ala radical (mais revolucionária) do Partido Nazista liderada por Ernest Röhm foi incorporada (os membros) na SS a partir da extinção da SA de Ernert Höhm com o assassinato do mesmo a mando de Hitler.

Röhm vinha se desentendo com Hitler porque queria uma revolução nacionalista mais radical, que colocaria a SA como a Força Militar nacional e Hitler se aproximara das Forças Armadas alemãs e dos industriais (capitalistas) que pediam "moderação" ao partido. Entre um e outro, o Bigodinho Raivoso ficou com os industriais e os militares.

Há mais exemplos de distorções com cartazes nazistas que alguns blogs de extrema-direita liberais usam pra "provar" que o nazismo era/é de esquerda porque os cartazes eram cópias (ou eram inspirados) em cartazes da União Soviética stalinista.

Estou adiantando essa baboseira dos cartazes caso alguém queira vir contemplar com esse "achado" como se ninguém "soubesse de nada", eu já vi essas idiotices, isso circulou bastante pelo Orkut até chegar na "Veja", incluindo essa "moeda nazicomunista".

Eu não retruquei antes pelo motivo citado lá no começo em destaque. Um texto desses é do nível de um texto "revi" só que tentando demonizar a esquerda com o nazismo quando muitos (a maioria) "revis" são simpáticos ao nazismo e conservadores. Tenham em mente que quem repassa isso adiante por fanatismo ideológico também está reabilitando em termos o nazismo. Em termos pois os simpatizantes do fascismo, neste posto, costumam ser mais "honestos" que essa turma liberal radical.

Como podem ver, o indivíduo querer provar que nazismo é de esquerda por uma "moeda" (que não é moeda) ignorando a História ou omitindo/negando o que cada parte defendia ideologicamente (o nazismo como quase todos os fascismos teve toda a classe industrial capitalista ao seu lado, enquanto na URSS a economia era de fato estatal, controlada pelo Estado, o Fascismo italiano inclusive adotou programa liberal) é um atestado de desonestidade intelectual puro (ou de ignorância também junta).

Fora as privatizações do nazismo. Já viu isso Constantã? O Bigodinho era chegado a uma privatização, vai ver ele gostava de Mises também (rs):
Against the mainstream: Nazi privatization in 1930s Germany (de Germà Bel, Barcelona)
Link2

Ao contrário do que muita gente pensa, pois isso é disseminado errado e propositalmente, e até simpatizantes do fascismo acham que o fascismo era "estatal" (rs), a indústria privada/capitalista nesses países transcorreu sem problemas, pelo menos os maiores grupos, como podem ver neste post sobre trabalho escravo/forçado no Terceiro Reich com bibliografia sobre o tema e os grupos que usaram mão de obra escrava no nazismo (a indústria alemã em peso):
Trabalho escravo/forçado no nazismo - bibliografia

Vai ver o Hugo Boss, a BMW, a Mercedes, o Deutsche Bank, o IG Farben (complexo industrial químico que quando dissolvido deu origem a Bosch, Basf, Bayer etc) eram todas estatais socialistas marxistas bolivarianas e ninguém avisou o mundo disto, rsrsrsrs.

Olha só o lucro dessas empresas com o trabalho escravo:
Revealed: How the Nazis helped German companies Bosch, Mercedes, Deutsche Bank and VW get VERY rich using 300,000 concentration camp slaves

Pra que coisa mais capitalista que isto? Hugo Boss, seu bolivariano, rs.

Isso é algo manjado, batido. Quem fala que essas empresas privadas (conhecidas mundialmente) eram estatais ou que o nazismo era estatal (daí a minha crítica ao termo "totalitarismo", que mais distorce do que explica), ignora coisas tão primárias sobre isso que não dá nem pra discutir a sério com quem insiste neste tipo de negação ridícula.

Dito isto, por favor, só me mostrem esse tipo de idiotice em caso de dúvida real ou como mostra de manipulação ideológica (de várias espalhadas pela web), do contrário eu ignorarei totalmente (se for pra fazer panfletagem). Não é prepotência o gesto, é que quem acha que uma coisa dessas é sério pra crer que o homem não foi à Lua e em qualquer bobagem (que vá de acordo com sua linha de pensamento ideológico) é um passo ou então estão achando que vão "convencer" A ou B aqui com isso, e não vão, vão é irritar porque é sacanagem. De "maluquice" (coisa exótica) já basta o "revisionismo".

Seguir cegamente esse tipo de revista/publicação é falta de critério. O povo quer aprender algo sobre segunda guerra pela revista Veja? Com um radical de direita (liberal) distorcendo, parecendo um "PSTU de sinal trocado"? Desista. Não paguem esse mico. É constrangedor.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Uma história da guerra civil que não agradará ninguém

UMA HISTÓRIA DA GUERRA CIVIL QUE NÃO VAI AGRADAR A NINGUÉM
Juan Eslava Galán
Publicado por richar

Talvez tenha sido o título do livro o que me impulsionou a comprá-lo, “Uma história que não vai agradar a ninguém” sempre soa bem, não? Enfim, o caso é que o comprei e li... e gostei, por mais que o autor tente nos dissuadir com este título.

Ei de reconhecer que foi meu primeiro contato literário com a Guerra Civil Espanhola (baixo a cabeça e me autoimponho o castigo por ser um inculto de nossa História, plas, plas), e a verdade, ficou muito bom. E não porque a guerra fora algo bom, evidentemente, e sim porque o livro é muito suportável e ameno de se ler.

Ao contrário de outros livros que narram grandes guerras que li ultimamente, este narra o conflito do princípio ao fim, baseando-se quase que exclusivamente em anedotas. Existem as de todo tipo, divertidas, curiosas e as que te dão vontade de chorar, mas suponho que uma guerra de semelhante magnitude, deva estar cheia deste tipo de sucessos peculiares.

Este enfoque lhe dá maior fluidez e diversidade à narração, mais além de relatar os fatos da maneira mais precisa possível, que em grande número de ocasiões pode se tornar algo tedioso e bastante denso. Desta maneira pôde-se dar forma a conceitos até agora vagos para mim como a ofensiva do Ebro, a batalha de Belchite ou Brunete, assim como dar rosto a nomes que até o dia de ontem me soavam apenas pelas ruas de Madri: general Mola, Millán Astray, Indalecio Prieto e tantos outros.

Por último, dizer que de todas as anédotas a que me marcou foi a do confronto dialético entre Miguel de Unamuno e Millán Astray, fundador da legião, na Universidade de Salamanca: depois de uma forte troca de opiniões e de que Astray, homem de poucas luzes(cultura) dialéticas, ficara sem recursos, pronunciou uma célebre e ao mesmo tempo desastrosa sentença: “abaixo a inteligência, viva a morte!”. Enfim, que mais se pode acrescentar...

Fonte: Hislibris
http://www.hislibris.com/?p=56
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 28 de março de 2009

Memorial Buchenwald foi criado há 50 anos por líderes comunistas

Buchenwald, criado em 1958, na então Alemanha Oriental, foi o primeiro memorial criado num antigo campo de concentração dentro do território alemão.

(Foto) Cartão de prisioneiro do campo de concentração de Buchenwald

A cidade de Weimar é conhecida, acima de tudo, por seus monumentos, como a Casa Goethe ou a Biblioteca Anna Amalia. No entanto, a poucos quilômetros do centro, o capítulo mais negro da história alemã é simbolizado por uma enorme torre e por um sino: trata-se do Memorial Buchenwald, inaugurado em 1958, sob o governo da então Alemanha Oriental, de regime comunista.

Há 50 anos, no dia 14/09/1958, pontualmente às 11 horas da manhã, soava, pela primeira vez, o sino no alto da torre de 50 metros, que pode ser vista à distância. Não longe dali fica a escultura do artista Fritz Cremer, de onde se pode avistar Weimar como de quase nenhum outro lugar a região.

A inaguração ali do Memorial Buchenwald pelo então governo da Alemanha Oriental foi uma conseqüência das exigências dos sobreviventes, que entrou para a história como o primeiro memorial do pós-guerra no país de regime comunista. A idéia, na época, era legitimar a posição da Alemanha Oriental como uma nação "diferente e melhor" do que a Alemanha Ocidental.

Alojamento e penitenciária

Instalação da artista Rebecca Horn reflete sobre história de Buchenwald

Hoje, do diretor do Memorial, Volkhard Knigge, observa que, em 1958, "Buchenwald era o maior Memorial do Holocausto situado num ex-campo de concentração em território alemão. Na Alemanha Ocidental, no mesmo ano, as instalações do ex-campo de concentração de Dachau, por exemplo, serviam de alojamento para refugiados do Leste do país, enquanto Neuengamme, perto de Hamburgo, era uma penitenciária juvenil. Ou seja, é possível compreender porque muitos sobreviventes, mesmo não sendo ligados ao comunismo, também se identificaram muito com esse Memorial".

Enquanto a Alemanha Ocidental, capitalista, ainda tratava de temas relacionados aos crimes cometidos durante o passado nazista de forma superficial e atenuante, os governantes da República Democrática Alemã (RDA) se apropriaram rapidamente da história dos campos de concentração em proveito próprio.

Memória seletiva

Prisioneiros de Buchenwald, em abril de 1945

Embora os membros da resistência comunista durante o período nazista tenham formado apenas um pequeno grupo entre as vítimas do nazismo, as celebrações e homenagens na Alemanha Oriental se voltavam quase que exclusivamente para eles.

"Simplesmente ignoradas eram as medidas violentas e de exclusão dos perseguidos em função das teorias raciais do regime nazista. Nada lembrava os judeus, os sintos e rom, os homossexuais, os excluídos da sociedade em geral", analisa Knigge.

A disposição física do Memorial de Buchenwald também obedecia aos objetivos ideológicos e políticos do governo da Alemanha Oriental. Knigge salienta, por exemplo, que antes mesmo da inaguração do Memorial foram destruídas várias barracas, que poderiam conter rastros dos desatinos registrados pela história oficial, acredita Knigge.

Três exposições

Cerca reconstruída: memorial aberto ao público

O escultor Fritz Cremer, por exemplo, foi obrigado várias vezes a modificar sua obra, até que ela ficasse ao gosto do então presidente do partido único SED. Mesmo assim, observa Knigge, à sombra de tamanha monumentalidade e de tantas deficiências, havia no Memorial Buchenwald também rupturas, que faziam com que valesse a pena visitar o local. "Nas esculturas, é possível, ainda hoje, para além desse lado estatal-oficial, ver figuras de refugiados como não eram encontradas em toda a RDA".

Hoje, três exposições tratam de informar ao visitante a respeito do ex-campo de concentração e sua história. A maior delas documenta os destinos dos prisioneiros, a segunda informa sobre o campo especial soviético após o fim da Segunda Guerra, e a terceira fala da apropriação política do Memorial pelo SED, então partido único da Alemanha de regime comunista.

Peter Sommer (sv)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,3644111,00.html

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Xenofobia é mais difundida na Alemanha do que se pensa

Ideologia radical de direita não nasce só nas periferias

Fase dois de uma pesquisa iniciada há dois anos revela a tendência de a xenofobia se tornar cada vez mais "mainstream". Contrariando crença generalizada, a tendência parte do centro da sociedade alemã.

"Sempre que a obturação do bem-estar se esfacela, tradições antidemocráticas voltam a se manifestar no vazio resultante." Assim o psicólogo Oliver Decker avaliou o resultado de uma pesquisa da Fundação Friedrich Ebert (ligada ao Partido Social-Democrata – SPD). Segundo esta, noções xenófobas são bem mais difundidas na Alemanha do que se acreditava.

O relatório apresentado em Berlim na última semana compõe a segunda parte de um estudo iniciado em 2006. Na primeira fase, 5 mil alemães acima dos 14 anos foram interrogados sobre suas opiniões a respeito do extremismo de direita. Concluiu-se que um entre cada quatro alemães defendia pontos de vista xenófobos.

Nesta segunda fase, os pesquisadores procuraram estabelecer as raízes dos preconceitos. Para tal, convidaram uma seleção de 150 dos participantes para discussões em grupo. "Queríamos examinar as opiniões dos entrevistados no contexto de suas vidas", explica Decker.

Trivialidade alarmante

A conclusão foi surpreendente: a xenofobia está se tornando cada vez mais mainstream na Alemanha. Os participantes do debate expressaram rejeição em relação a estrangeiros "com uma trivialidade preocupante, inclusive pessoas que na primeira enquete não haviam chamado a atenção por atitudes de extrema direita", comentou o psicólogo.

No pós-guerra, em ambas as metades da Alemanha, a ideologia radical de direita foi apenas recalcada no centro da sociedade, prossegue Decker. Com o milagre econômico, a prosperidade se estabeleceu de forma relativamente veloz na Alemanha Ocidental, não deixando espaço para a reflexão ou para a vergonha.

Os alemães do Leste esperavam um desenvolvimento semelhante, após a queda do Muro. E reagiram com desencanto político e democrático à frustração dessa expectativa.

Democracia em troca da ordem

Turcos e russos são vistos como principais ameaças

"Foi assustadora para nós a facilidade com que os entrevistados estavam dispostos a trocar a democracia mais modesta em favor de estruturas autoritárias, nas quais supostamente reinassem ordem, tranqüilidade e igualdade de chances", comenta Oliver Decker.

Diversos jovens declararam desejar "algum tipo de líder". Para os participantes de meia idade, a política é, de qualquer modo, mentira e engano. E os mais velhos evocam os modelos de sua juventude: no Leste, as represálias da RDA; no Oeste, o regime nazista.

Outra revelação chocante é que o problema se encontra no próprio centro da sociedade alemã, contradizendo a teoria de que os celeiros do extremismo de direita se encontrariam nas partes do país afetadas pelo desemprego e a decadência social.

Velhos clichês

Segundo 37% da população, os imigrantes viriam para a Alemanha "para explorar o Estado de bem-estar"; 39% consideram o país "perigosamente superpovoado de estrangeiros". E 26% gostariam que houvesse "um único partido forte para representar a comunidade alemã".

Os principais alvos de preconceito são os turcos e os russos, considerados parasitas e gananciosos. Entretanto, os pesquisadores também identificaram a emergência do que denominaram "racismo cultural": preconceitos contra grupos marginais, tais como os desempregados e os socialmente desprivilegiados. Tal fato revelaria uma forte pressão para corresponder à norma social percebida, e a conseqüente condenação dos que fracassam neste processo.

Ficou ainda claro que a maioria dos participantes só apóia a democracia na medida em que garante a prosperidade pessoal. Caso contrário, passam imediatamente à intolerância. Uma atitude semelhante marcou também a década de 1950 na Alemanha, observaram os pesquisadores da Fundação Friedrich Ebert. Na época, o milagre econômico provou-se um obstáculo à reelaboração do passado nazista.

Agências (av)

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 22.06.2008)
http://www.dw-world.org/dw/article/0,,3430238,00.html

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Polícia política espionava comunidade judaica na ex-Tchecoslováquia

Primavera de Praga em 1968: 'conspiração judaica' segundo teoria do serviço secreto

Pesquisas mostram como a espionagem dos serviços secretos comunistas agia. Na antiga Tchecoslováquia, os judeus estavam entre os principais alvos dos espiões a serviço do regime.

Através de um instituto de pesquisa histórica sobre a polícia política da então comunista Tchecoslováquia, vieram à tona este ano várias informações sobre os métodos e alvos do serviço secreto do país. Uma das descobertas feitas pelos pesquisadores nos acervos da polícia política foi o montante de pessoas ligadas à comunidade judaica do país que eram espionadas regularmente.

Segundo Jiri Danicek, presidente da Federação das Comunidades Judaicas no país e e ex-dissidente do regime, havia entre os judeus em Praga, durante o comunismo, uma lei informal: na dúvida, manter o sigilo. "Cada pessoa mantinha um círculo de amigos com os quais falava abertamente. E havia os outros, com que, de preferência, não se podia conversar de maneira honesta", descreve Danicek.

Na mira do serviço secreto

Os pesquisadores hoje partem do princípio de que, em quase todas as instituições judaicas do país, havia tentáculos da polícia política. Embora houvesse, teoricamente, liberdade religiosa no país, no dia-a-dia os membros da comunidade judaica permaneciam com freqüência isolados.

"Pelo menos inconscientemente, as teorias que foram decisivas para o anti-semitismo continuaram sendo disseminadas, ou seja, o pensamento de que os judeus tentavam ocupar todos os postos importantes para, através de redes obscuras, influenciar a sociedade em proveito próprio", observa Ondrej Koutek, funcionário do ministério tcheco do Interior e pesquisador do assunto.

Primavera de Praga como conspiração judaica

Comunidade judaica de Praga: alvo da polícia política do regime comunista

A polícia política do país construiu a idéia de uma "conspiração judaica", conta Koutek, para, a partir deste pressuposto, penetrar em várias instituições judaicas do país. O alvo declarado era uma listagem exata dos nomes de todos os judeus tchecoslovacos, contendo uma série de dados privados a respeito dos mesmos.

O detalhismo com que o serviço secreto se dedicava a rastrear a comunidade judaica era assustador, até mesmo se tratando das artimanhas do regime comunista. "Eles procuravam sistematicamente judeus no movimento de oposição e, obviamente, encontraram alguns. A partir daí, desenvolveram a lenda do perigo judeu. A situação se agravou de tal forma que surgiu até mesmo uma versão da Primavera de Praga como sendo uma conspiração sionista", aponta Koutek.

Instituições contaminadas por espiões

As represálias que se seguiram acabaram por minar a comunidade judaica no país. Praticamente nenhum grêmio de uma instituição judaica tinha liberdade para trabalhar de forma independente, pois em todas as instituições estavam infiltrados espiões.

Após a derrocada da Cortina de Ferro, a comunidade judaica da República Tcheca se viu frente a uma questão primordial: saber quem se havia mantido ileso às artimanhas da polícia política, estando apto, portanto, a assumir os cargos de liderança. "De todo candidato era exigida uma declaração de que não havia cooperado com o regime, ou pelo menos não de forma consciente", lembra Frantisek Banyai, que está à frente da comunidade judaica de Praga há quatro anos.

Os critérios que determinam quem cooperou ou não com o regime comunista são, no entanto, ambivalentes, assinala Banyai. "Lembro-me do caso de uma pessoa que foi obrigada a assinar uma declaração de colaboração com o regime, mas que estava sempre à disposição para ajudar a quem fosse necessário. Ao mesmo tempo, havia aqueles que nunca assinaram qualquer documento de colaboração, mas que, por puro fanatismo, causaram muitos danos por onde andaram."

Também durante os anos de regime comunista, completa Banyai, nada era preto no branco. E por isso as revelações sobre o passado do país são tão importantes.

Kilian Kirchgessner (sv)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,3876295,00.html

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Polônia homenageia cidadãos que salvaram judeus na 2ª Guerra

Varsóvia, 17 nov (EFE).- O presidente polonês, Lech Kaczynski, concederá hoje a ordem Polônia Restituta, a distinção mais importante do país, a 70 cidadãos que salvaram da morte judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

O ato, que acontecerá esta noite no Teatro Nacional de Varsóvia, pretende lembrar o povo polonês da existência de heróis esquecidos, pessoas anônimas que arriscaram a vida para ajudar judeus.

Durante os anos de Governo comunista ninguém reconheceu as façanhas desses homens e mulheres, o que fez com que pessoas como Irena Sendler, enfermeira polonesa que salvou da morte 2.500 crianças hebréias, permanecessem no anonimato até a chegada da democracia.

Segundo explicou à imprensa o responsável pelas relações polono-judias do escritório presidencial, Ewa Junczyk-Ziomecka, a distinção é extensiva a todos os que se esforçaram na época para salvar do Holocausto a população judaica.

Durante a Segunda Guerra Mundial, morreram cerca de seis milhões de poloneses, dos quais três milhões eram judeus, vítimas em sua maioria de campos de concentração como o de Auschwitz.

Fonte: EFE/G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL865133-5602,00.html
Foto: Consul Geral Krzysztof W. Kasprzyk, Ewa Junczyk-Ziomecka, Rabbi Meir Lau, e ex-prefeito Ed Koch na celebração da condecoração do herói da Segunda Guerra Jan Karski.
Texto sobre o evento(inglês):
http://www.hamptons.com/detail.ihtml?id=2255&apid=4866&sid=6&cid=53&arc=1

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Wladyslaw Bartoszewski - Figura histórica da Polônia

Figura histórica da Polônia agora também é a sua voz diplomática
Ele não parece um sobrevivente de Auschwitz ou ou combatente no levante de Varsóvia.

Wladyslaw Bartoszewski, ex-chanceler e hoje consultor do premiê, é isso e ainda mais.
NICOLAS KULISH
Do New York Times, em Gdansk

Uma presença inteligente e espirituosa, o cavalheiro alto e mais velho usando bengala não parece logo de cara um sobrevivente de Auschwitz, ou combatente no levante de Varsóvia, ou dissidente prisioneiro sob o comunismo.

Na verdade, Wladyslaw Bartoszewski é tudo isso e ainda mais. Ele ainda é o tipo de homem que, mesmo num dia atarefado, pára para conversar com as empregadas do hotel e certifica-se de fazê-las rir antes de retomar seu rumo.

*Wladyslaw Bartoszewski em Berlim em 19 de junho de 2008 (Foto: The New York Times)

O mundo não tem muitas probabilidades de produzir mais Wladyslaw Bartoszewski, e isso é provavelmente uma coisa boa, dados os eventos que ele atravessou e testemunhou desde muito novo. Mas enquanto sua vida parece ter sido forjada sob intenso sofrimento, isso nunca chegou a definir sua visão de mundo.

“Os otimistas e pessimistas têm vidas igualmente longas, mas os otimistas são consideravelmente mais felizes”, diz ele quando questionado sobre seu famoso bom humor.

Bartoszewski, 86, sustenta uma história pesadíssima com um toque de leveza. É um presente que permitiu a ele, numa idade em que sua geração já se aposentou ou morreu há tempos, ser um diplomata de sucesso pela Polônia, assim como uma fonte de autoridade moral.

“Não sei por quanto tempo mais viverei”, diz ele, bastante sincero numa entrevista. “Ninguém sabe. Posso dizer que meu plano é ajudar o governo pelo tanto que eu possa dizer que é necessário. Minha idéia é morrer em serviço, e não pela esclerose.”

Ele foi por duas vezes o ministro do Exterior de seu país e está trabalhando de novo como consultor do premiê, Donald Tusk.

Sua responsabilidade especial é por duas das mais complicadas relações de seu país, com a Alemanha e com Israel. Ele foi elogiado pelos dois países repetidamente por seu trabalho para melhorar os laços.

Mesmo assim ele permanece elegante e acessível em um grau impressionante. Ele usa sua história pessoal não como um bastão, mas como uma oportunidade para demonstrar seu carisma e compreensão.

“Estou mais ao lado das pessoas no meio do que dos extremistas,” diz ele. “A humanidade sofreu enormemente devido a ideologias extremistas, na Europa e por todo o mundo.”

E ele fez essa observação do alto de sua – infeliz - experiência. Nascido em Varsóvia em 1922, ele tinha apenas 17 anos quando participou na fracassada defesa de sua cidade natal quando os nazistas conquistaram a Polônia em 1939. Um ano depois, Bartoszewski estava entre muitos jovens católicos cercados e enviados a Auschwitz, e entre os poucos sortudos o suficiente para sobreviverem.

Libertado em 1941, foi trabalhar com a resistência. Ajudou a fundar a clandestina Zegota, ou Conselho de Apoio a Judeus, que oferecia dinheiro, esconderijos e identidades falsas para judeus poloneses tentando fugir do Holocausto. Tal assistência era punível com a morte sob a ocupação nazista. Em 1965, Bartoszewski foi nomeado um dos Justos Entre as Nações pelo Yad Vashem, o museu e memorial oficial de Israel sobre o Holocausto.

Depois da Guerra, a Polônia caiu na esfera soviética. Bartoszewski foi recompensado por seu trabalho para libertar seu país e impedir que outros cidadãos judeus fossem jogados novamente em prisões.

“Com 32 anos, eu havia passado oito em prisões e campos,” diz Bartoszewski.

Depois de sua libertação em 1954 – e no próximo ano reabilitado pelo regime – ele se tornou um jornalista de um jornal católico em Cracóvia, e posteriormente um professor na Universidade Católica e Lublin.

Ele novamente se viu envolvido em um movimento subversivo, desta vez uma rede de ensino chamada Universidade Voadora operando fora do sistema educacional sancionado oficialmente.

Quando o último líder comunista da Polônia, o Ggneral Wojciech Jaruzelski, declarou lei marcial em dezembro de 1981 como parte de um esforço para suprimir o movimento Solidariedade, Bartoszewski foi mais uma vez para a prisão, até sua soltura em abril seguinte.

Na época das eleições em 1989, que foram apenas parcialmente livres mas mesmo assim vistas como uma vitória do Solidariedade, Bartoszewski tinha 67, já passado da idade de se aposentar. Mas ele estava apenas começando, embarcando em sua nova carreira como diplomata — primeiro como embaixador na Áustria e depois como o ministro do exterior sob dois diferentes governos poloneses, em 1995 e novamente de 2000 a 2001.

Ele havia conseguido uma aposentadoria bem movimentada, escrevendo livros e participando de comissões, como o Conselho Internacional de Auschwitz, do qual é presidente. Mas o governo nacionalista do premiê Jaroslaw Kaczynski, e de seu irmão gêmeo, o atual presidente, Lech Kaczynski, o trouxe de volta à briga.

Ele se tornou um violento crítico e expressou-se contra eles antes das eleições em outubro passado. Mais tarde, o novo primeiro ministro ofereceu tornar Bartoszewski ministro do exterior novamente. Ele recusou em favor de seu ex-representante, Radek Sikorski, mas concordou em assumir um papel especial de consultoria.

“Decidi voltar apesar de minha idade por estar convencido de que algo poderia ser feito”, diz ele.

Fale com especialistas e observadores nas relações Polônia-Alemanha, e seu nome é invariavelmente o primeiro a aparecer nas discussões sobre o degelo no relacionamento surgido desde que o novo governo assumiu o posto no ano passado.

“É uma política pessoal completamente nova”, diz Gesine Schwan, seu colega e coordenador de relações alemãs-polonesas pelo governo alemão, e agora candidato à presidência pelos social-democratas.

Bartoszewski não mostra sinais de desacelerar, dizendo que planeja publicar cinco livros nos próximos anos, um dos quais contendo 100 biografias curtas de pessoas famosas que ele conheceu. Ele diz que seus muitos projetos o motivam a continuar trabalhando enquanto pode.

“O que mais alguém poderia pedir?” diz ele, antes de pegar sua bengala e se dirigir a uma reunião com o embaixador polonês na Alemanha e, depois nesta mesma tarde, com o chanceler da Alemanha, a própria Angela Merkel.

Fonte: New York Times/G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL634368-5602,00-FIGURA+HISTORICA+DA+POLONIA+AGORA+TAMBEM+E+A+SUA+VOZ+DIPLOMATICA.html

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