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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Alguns heróis ciganos

O povo romani reivindica referências como o boxeador Johan Trollmann, o ilustrador Helios Gómez ou o líder anarquista Mariano Rodríguez Vázquez

Da esquerda para a direita, o líder da CNT Mariano Rodríguez Vázquez,
o grafista Helios Gómez, e o boxeador Johan Trollmann.
Jóvenes gitanos plantan cara al antigitanismo
HELENA LÓPEZ / BARCELONA

Quinta-feira, 8 de dezembro de 2016 - 17:18 CET

Johan Trollmann (1907-1944), conhecido como Rukeli, foi campeão nacional de boxe na Alemanha de 1933, ano em que Hitler ascendeu ao poder. Não é estranho dizer, pois, que oito dias depois, os nazis retiraram o título alegando "falta de nível". O Terceiro Reich não podia aceitar exaltar a um cigano. Um jovem como Rukeli, nas antípodas do modelo ariano que o nazismo pretendia impor. Não só por sua tez morena e sua frondosa mata de cabelo azeviche, senão também por seu característico estilo dançarino sobre o quadrilátero, muito longe do duro 'estilo alemão'. Saltos ágeis e muito efetivos que, contam, tiravam os nazis do sério. Assim que, não sendo bastante lhe retirar o título de campeão, ameaçaram-no em lhe negar também a licença para seguir competindo a nível profissional se não deixasse de "dançar" enquanto lutava.

A seguinte peleja que ele participou acudiu depois de terem tirado seu título, Rukeli, desafiante, subiu ao ringue com o cabelo tingindo de ruivo e o rosto polvilhado de branco (algumas versões dizem que com farinha, outras, que com pó de talco). Com a rebeldia própria de sua condição cigana, Rukeli fez caso e, por uma vez, não dançou. Ficou no centro do ringue coberto em pó branco sem mover as pernas até que foi nocauteado no quinto assalto; tudo dignamente. Ali terminou sua carreira, mas esse gesto de galhardia lhe converteu em um herói para o povo cigano. Um gesto simples mas estoico com o qual ridicularizou a todo um regime racista, que acabou o encarcerando em um campo de trabalho forçado.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL HELIOS GÓMEZ
Os anjos negros da 'Capela cigana' da Modelo,
pintados por Helios Gómez na prisão
Histórias como a de Rukeli, ainda referência, são as que os jovens ciganos não só daqui, senão de meia Europa, reivindicam, fazendo pressão tanto a seus governos locais como através das poderosas redes sociais para lhes fazer justiça.

ARTISTA INTERNACIONAL

Em Barcelona também há heróis ciganos com histórias muito desconhecidas, pese o impacto que deixam em quem as descobre (algo que se sente difícil, já que a história do povo cigano não é estudada nos colégios). É o caso de Helios Gómez (1905-1956), autor da 'Capela cigana' (Link2) de 'La Modelo', ainda tapada sob uma capa de cal em uma habitação fechada. Rebelde como Rukeli, Gómez foi anarquista, comunista e de novo anarquista, segundo desencadeou em decepções. Preso em incontáveis ocasiões por sua ideologia, o ilustrador foi 'convidado' pelo cura do cárcere pra que desenhasse em uma das paredes da cela um fresco da Virgem das Mercês (Barcelona). Também ao melhor estilo Rukeli, Gómez - que fora proibido de pintar entre grades - concordou, mas o fez, como não, a sua maneira. Pintou uma Virgem e um menino Jesus rasgos inequivocamente ciganos, acompanhados por uns anjos negros de Machín que acabaram se convertendo em um apelo contra o regime.

O filho de Helios, Gabriel, passa anos trabalhando na associação cultural que leva o nome de seu pai para restituir a memória do ilustrador, grafista e poeta e de "todos os que, como ele, lutaram pela liberdade".

Outra figura cigana muito reivindica, também rebelde e anarquista, é Mariano Rodríguez Vázquez, 'Marianet'. Secretário Regional da Catalunha e da CNT entre novembro de 1936 e junho de 1939, "desempenhou um papel decisivo no futuro anarcosindicalista e na vida política e social da guerra civil espanhola", segundo a Wikipedia. Urge que as petições do coletivo de que se estude e documente a fundo sua história sejam escutadas para poder ir mais além da enciclopédia livre.

Fonte: El Periódico, Barcelona (Espanha)
http://www.elperiodico.com/es/noticias/barcelona/algunos-heroes-gitanos-5674253
Título original: Algunos héroes gitanos
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O triângulo negro / Nenhum povo é ilegal

Violência, propaganda e deportação.
Um manifesto de escritores, artistas e intelectuais contra a violência contra os rom*, os romenos e as mulheres.

"Negócio ariano"
[A faísca surgiu num grupo de escritores e intelectuais fartos de observar a tendência racista que cruza toda a Itália, por desgraça agravada com a violenta morte de Giovanna Reggiani. Desta saturação, a necessidade de compartilhar uma tomada de posição firme. Assim nasceu "O triângulo negro", chamamento elaborado por Alessandro Bertante, Gianni Biondillo, Girolamo De Michele, Valerio Evangelisti, Giuseppe Genna, Helena Janeczek, Loredana Lipperini, Monica Mazzitelli, Marco Philopat, Marco Rovelli, Stefania Scateni, Antonio Scurati, Beppe Sebaste, Lello Voce e o coletivo Wu Ming. A este grupo logo se juntaram outros importantes nomes da cultura que decidiram aderir ao mesmo. Entre eles: Gad Lerner, Erri De Luca, Bernardo Bertolucci, Massimo Carlotto, Carlo Lucarelli, Moni Ovadia, Nanni Balestrini, Franca Rame, Stefano Tassinari, Marcello Flores, Andrea Bajani, Lisa Ginzburg, Lanfranco Caminiti, Ugo Riccarelli, Enrico Brizzi, Marco Mancassola, Simona Vinci, Raul Montanari, Giulio Mozzi, Andrea Porporati, Sandro Veronesi e muitos outros que se somam a cada minuto, para ratificar que os direitos individuais não justificam castigos coletivos. Clique Aqui, a possibilidade de aderir ao chamamento. Na continuação, o texto].

A história recente deste país é uma sequência de campanhas de alarme, cada vez mais próximas entre si e envoltas no escândalo. As campanhas soam o alarme, as palavras dos demagogos geram incêndios, uma nação com os nervos a flor da pele responde a cada estímulo criando "emergências" e escolhendo bodes expiatórios.

Uma mulher foi violada e assassinada em Roma. O homicida seguramente é um homem, talvez um romeno. Romena é a mulher que, atirando-se na rua para deter um ônibus que não freava, tentou salvar aquela vida. O horrendo crime sacode toda a Itália, o gesto de altruísmo cai no silêncio/esquecimento.

No dia anterior, sempre em Roma, uma mulher romena é violada e deixada quase sem vida por um homem. Duas vítimas com igual dignidade? Não: da segunda não se sabe nada, nada publicam os diários: da primeira se tem que saber que é italiana, e que o assassino é um homem, senão um romeno um rom.

Três dias depois, sempre em Roma, membros encapuzados de um grupo fascista atacam com porretes e navalhas a alguns romenos na saída de um supermercado, ferindo quatro. Não houve jornalistas junto ao leito desses feridos, que ficam sem nome, sem história, sem humanidade. Sobre seu estado, nada mais a dizer.

A partir desses sucesos se desencadeia uma alucinante criminalização massiva. Culpado um, culpado todos. As forças da ordem desalojam o povoado favelado em que vivia o suposto assassino. Duzentas pessoas, mulheres e crianças incluídas, foram colocados na rua.

E depois? Ódio e receio alimentam as generalizações: todos os romenos são rom, todos os rom são ladrões e assassinos, todos os ladrões e assassinos têm que ser expulsos da Itália. Políticos velhos e novos, de direita ou esquerda, competem para ver quem grita mais forte, denunciando a emergência. Emergência que, de acordo com os dados do Rapporto sulla criminalità (1993-2006), não existe: homicídios e delitos estão, hoje, com as cifras mais baixas dos últimos vinte anos, enquanto que estão com forte aumento os delitos cometidos entre paredes domésticas ou por razões passionais. O relatório Eures-Ansa 2005, L'omicidio volontario in Italia e o relatório Istat 2007 dizem que um homicídio em quatro ocorre no lar; sete entre dez vítimas é uma mulher; mais de um terço das mulheres entre os 16 e 70 anos padeceu com violência física ou sexual no curso de sua vida, e o responsável da agressão física ou violação é, sete em cada dez, seu marido ou companheiro: a família mata mais que a máfia, as ruas com frequência apresentam menor risco de violação que os dormitórios.

No verão de 2006, quando Jina, jovem de vinte anos paquistanesa, foi degolada por seu pai e seus parentes, políticos e meios de comunicação se embarcaram no paralelo entre culturas. Afirmavam que a ocidental, e a italiana em particular, havia evoluído felizmente em relação aos direitos das mulheres. Falso: a violência contra as mulheres não é um legado atroz em outras culturas, senão que cresce e floresce na nossa, cada dia, na construção e na multiplicação de um modelo feminino que privilegia o aspecto físico e a disponibilidade sexual fazendo-os passar como uma conquista. Pelo contrário, como testemunha o recente relatório do World Economic Forum on Gender Gap, sobre a igualdade feminina no trabalho, na saúde, nas expectativas de vida e na influência política, a Itália está no posto 84. Última na União Europeia. A Romênia está no posto 47.

Se esses são os fatos, o que é que está se passando?

O que se passa é que é mais fácil agitar um fantasma coletivo (hoje os romenos, ontem os muçulmanos, um pouco antes os albaneses) em vez de se comprometer com as verdadeiras causas do pânico e da insegurança social causados pelos processos de globalização.

O que se passa é que é mais fácil, e pega antes e melhor como consenso incondicional, gritar "perigo" e pedir expulsões em vez de cumprir as diretrizes europeias (como a 43/2000) sobre o direito à assistência sanitária, ao trabalho e a habitação dos migrantes; que é mais fácil mandar escavadoras para privar seres humanos de suas míseras casas, em vez de ir aos lugares de trabalho para combater o emprego ilegal.

O que se passa debaixo do tapete da equação romenos-deliquência é que se esconde a poeira da feroz exploração do povo romeno.

Exploração em obras, onde cada dia um trabalhador romeno é vítima de um acidente laboral mortal.

Exploração nas ruas, onde trinta mil mulheres romenas são obrigadas a se prostituir - a metade menores de idade - são cedidas pelo crime organizado a italianíssimos clientes (a cada ano nove milhões de homens italianos compram sexo de escravas estrangeiras, forma de violência sexual que está ante os olhos de todos mas poucos "querem ver").

Exploração na Romênia, onde empresários italianos - depois de terem "deslocalizado" (transferido) e gerado desemprego na Itália - pagam soldos de fome aos trabalhadores.

O que se passa é que ministros demais, prefeitos e menestréis convertidos em caudilhos jogam para serem aprendizes de bruxo para obter seus quinze minutos de popularidade. Não se perguntam o que se passará amanhã, quando os ódios que ficam no terreno seguirão fermentando, envenenando as raízes de nossa convivência e despertando esse micro-fascismo que está dentro de nós e nos faz desejar o poder e admirar os poderosos. Um micro-fascismo que se expressa com palavras e gestos rancorosos, enquanto já se sente, não muito longe, o sapateado de botas militares e a voz das armas de fogo.

O que se passa é que se está levando a cabo a construção do inimigo absoluto, como com os judeus e ciganos no nazifascismo, como com os armênios na Turquia em 1915, como com os sérvios, croatas e bósnios, reciprocamente, na ex-Iugoslávia dos anos noventa, em nome de uma política que promete segurança em troca de renunciar aos princípios de liberdade, dignidade e civilização; que se faz indistinguíveis a responsabilidade individual e coletiva, efeitos e causas, males e remédios; que invoca homens fortes no governo e pede aos cidadãos que sejam súditos obedientes.

Só falta que alguém recupere do desvão da intolerância o triângulo negro dos antissociais, marca da infâmia que os nazis faziam coser nas roupas dos ciganos.

E não parece ser mais que a última etapa, por agora, de uma propagada guerra contra os pobres.

Frente a todo isto não podemos permanecer indiferentes. Não nos reconhecemos no silêncio, na renúncia ao direito de crítica e no abandono da inteligência e da razão.

Delitos individuais não justificam castigos coletivos.

Ser romeno ou rom não é uma forma de "cumplicidade".

Não existem as raças, e muito menos raças culpáveis ou inocentes.

Nenhum povo é ilegal.

*A palavra "rom" é a forma mais usada na Itália para designar a um membro da comunidade cigana. Na tradução ao castelhano se manteve esta denominação quando era necessário indicar o equívoco que pode se produzir com membros da nacionalidade romena. [Ninguém em particular].

15 de Novembro de 2007

Fonte: Site Wumingfoundation.com
http://www.wumingfoundation.com/italiano/outtakes/triangulonegro.htm
Título original: El triángulo negro / Ningún pueblo es ilegal
Tradução: Roberto Lucena

Observação: eu cortei do texto acima as assinaturas, quem quiser ver basta acessar o link do texto original. Este texto é de 2007 (só fui ver depois) e o pior é que continua atual.

sábado, 19 de abril de 2014

"Há países onde os ciganos vivem pior que na II Guerra Mundial"

O Instituto de Cultura Cigana lhe homenageou por reivindicar a memória romani
José Marcos 11 ABR 2014 - 18:27 CET

A mãe de Sarguerá ajudou judeus a
escaparem para a Espanha
. / Álvaro García
Jean Sarguerá nasceu no pior dos mundos. Sua mãe, uma cigana espanhola, pariu-o em 1942, com a II Guerra Mundial no seu apogeu, no campo de internamento de Rivesaltes (Link2) (França). Ali, próximo de Perpignan, os párias da Europa compartilharam o confinamento durante três anos: republicanos que haviam cruzado a fronteira em 1939 fugindo de Franco, judeus e romanis. Até 20.000 se apertavam num recinto para menos da metade disto.

“Quando a guerra estourou pegou minha família em suas caravanas, fiéis ao princípio de 'hoje aqui' e 'amanhã no outro lado'. As autoridades lhes tiraram os cavalos, meteram meus pais e meus seis irmãos em vagões para gado e lhes enviaram para o campo de concentração", narra Sarguerá enquanto dá conta de um café expresso com um par de goles. Também conhecido como Tio Pipo, o filho de María e Baptiste foi homenageado esta semana pelo Instituto de Cultura Cigana, coincidindo com o Dia Internacional dos Roma, por toda uma vida dedicada à recuperação de sua memória histórica. Com um empenho especial: a recordação das vítimas no Holocausto.

"Desgraçadamente, há países na UE (União Europeia) onde vivemos pior que durante a II Guerra Mundial”, aponta Tio Pipo. Mostra-se especialmente crítico com a Eslováquia, onde "segregam" sua gente nas escolas. "Em muitos países do Leste nos tratam como se fôssemos retardados. Discriminam-nos na Romênia e na Bulgária... Dificultam que tenhamos acesso a um ensino decente", insiste Sarguerá. Ao par de que se mostra inquieto pelo auge na Hungria do Jobbik: anticigana e antissemita, foi a terceira força mais votada nas recentes eleições parlamentares.

"Em muitos países do Leste nos tratam como se fôssemos retardados"

“Hitler é culpado do assassinato de seis milhões de judeus, mas também da morte de meio milhão de ciganos", denuncia Sarquerá. A cifra exata de vítimas do Porrajmos ou "A Devoração", o equivalente cigano da Shoá, é desconhecido. Sim, está documentada, com detalhes, a obsessão do Terceiro Reich com a questão cigana ou Zigeunerfrage frente à pureza do sangue dos "arianos". "A esterilização de ciganos começou pouco após Hitler ganhar as eleições de 1933. Já nesses anos nos proibiram de nos casar com "arianos" na Alemanha, e inclusive se estabeleceu a Semana de Limpeza Cigana, nossa versão da Noite dos Cristais... Por fortuna, pouco a pouco estamos deixando de ser os grandes esquecidos daquele horror", mostra-se esperançoso Sarguerá, que se emociona quando conta como sua mãe ajudou vários judeus a escapar para a Espanha.

“Também conseguia alimentos trocando as mantas que colhia em Rivesaltes. Fugia-se constantemente”, acrescenta o Tio Pipo. Depois de outras peripécias, mãe e filhos fugiram quando, pouco tempo depois do nascimento de Sarquerá, Rivesaltes foi fechado e seus prisioneiros repassados para outros complexos da barbárie nazista. "Até o fim da guerra fugimos de um lado para o outro, evitando o front, dormindo debaixo de pontes... Nascer no inferno marca qualquer um", insiste Sarquerá. Enquanto parte, alguém cantoria o Gelem gelem, o hino internacional cigano. Ou o mesmo que: "Andei, andei".

Fonte: El País (ed. espanhola)
Título original: “Hay países donde los gitanos viven peor que en la II Guerra Mundial” ciganos
http://sociedad.elpais.com/sociedad/2014/04/11/actualidad/1397233656_151339.html
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 30 de março de 2014

Suécia admite que durante 100 anos marginalizou e esterilizou o povo cigano

Dois ciganos desalojados de um
acampamento em Estocolmo
em 14 de março. / Rikard Stadler
(Cordon Press)
O Governo reconhece 100 anos de perseguição e roubos de crianças
Ana Carbajosa / Miguel Mora Madri / Paris 29 MAR 2014 - 15:20 BRT

Ao longo do último século, a Suécia esterilizou, perseguiu, retirou crianças de suas famílias e proibiu a entrada no país dos ciganos; e as pessoas dessa minoria étnica foram tratadas durante décadas pelo Estado como “incapacitados sociais”. Estes anúncios não foram feitos por uma ONG militante. Eles fazem parte do relato do Governo conservador sueco, que em um gesto inédito na Europa, tanto por sua honestidade intelectual como pela amplitude do respeito à verdade, decidiu olhar para o passado e a revirar seus arquivos mais obscuros.

A ideia é saldar as dívidas com o passado para procurar melhorar o presente: “A situação que vivem os ciganos hoje se devem à discriminação histórica a que ele foram submetidos”, afirma o chamado Livro Branco, que foi apresentado nesta semana em Estocolmo, e no qual se detalham os abusos cometidos com os ciganos a partir de 1900.

A coalizão de centro-direita vigia a ascensão da extrema direita

O ministro de Integração,Erik Ullenhag, definiu essas décadas de impunidade e racismo de Estado como “um período escuro e vergonhoso da história sueca”. Suas palavras coincidiram com um episódio que ilustra a situação atual: na quarta-feira, uma das mulheres ciganas convidadas a dar seu depoimento foi proibida pelos funcionários do hotel Sheraton de entrar na área do café da manhã.

Os abusos históricos, assinala o Livro Branco, seguiram um padrão criado há séculos pelas monarquias europeias: começaram com os censos que elaboraram organismos oficiais como o Instituto para Biologia Racial ou a Comissão para a Saúde e o Bem-estar, que identificaram os ciganos que viviam no país. Os primeiros documentos oficiais descreviam os ciganos como “grupos indesejáveis para a sociedade” e como “uma carga”. Entre 1934 e 1974, o Estado prescreveu às mulheres ciganas a esterilização apelando ao “interesse das políticas de população”, como fez Austrália com os aborígenes. Não há cifras de vítimas, mas no Ministério de Integração explicam que uma em cada quatro famílias consultadas conhece algum caso de abortos forçados e esterilização. Os órgãos oficiais ficaram com a custódia de crianças ciganas que foram arrancadas de suas famílias. O estudo também não oferece dados sobre este costume, mas Sophia Metelius, assessora política do ministério, explica que se tratava de “uma prática sistemática”, sobretudo no inverno.

Estocolmo admite que proibiu a entrada de ciganos na Suécia até 1964, apesar de se saber o destino que tinham as minorias em um cenários de expansão nazista: os especialistas calculam que ao menos 600.000 romas e sintis foram exterminados no Porrajmos (como é conhecido o holocausto cigano), nas mãos do regime hitlerista e outros similares.

O Livro Branco detalha as prefeituras suecas que proibiram que os ciganos se assentassem de forma permanente, e lembra que as crianças eram segregadas em sala de aulas especiais e que não podiam ser atendidas pelos serviços sociais. “A ideia era tornar a vida deles impossível para que fossem embora do país”, resume Metelius.

Algumas destas práticas acontecem ainda em diversos países europeus, e a ciganofobia permanece com força na França , Grã-Bretanha e Alemanha. Paris desalojou em 2013 mais de 20.000 ciganos. Berlim planeja uma lei para evitar que os migrantes romenos e búlgaros —a maioria, roma— sem trabalho fiquem mais de seis meses no país.

Na próxima semana, a União Europeia celebrará uma cúpula especial para avaliar o caminho das políticas de integração da minoria roma. O panorama geral é desolador, com mostras de ódio racial na Hungria, Eslováquia e a República Tcheca.

Na Suécia, um país de cerca de nove milhões e meio de habitantes, vivem hoje mais de 50.000 ciganos. Por enquanto, as autoridades não contemplam a compensação aos familiares das vítimas de abusos, embora o Livro Branco abra porta para as demandas. O Governo estabeleceu a verdade histórica cruzando entrevistas pessoais de dúzias de ciganos com os arquivos oficiais. “Não são revelações novas. Os ciganos estão há anos contando estas histórias, mas ninguém dava atenção. Agora, simplesmente, reunimos os documentos oficiais e os cruzamos com depoimentos”, diz Sophia Metelius.

A coalizão de centro-direita enfrenta um forte crescimento nas pesquisas da extrema direita (10% das intenções de voto) e se propôs combater as mensagens xenófobas com uma firme defesa da tradição progressista sueca.

A aceitação em massa de refugiados sírios é uma das políticas com as quais liberais e conservadores querem demonstrar que o catastrofismo populista não deve irremediavelmente se converter em profecia autocumprida. O reconhecimento das selvagerias cometidas com os ciganos caminha nessa mesma direção. A ironia é que o civilizado e tolerante norte da Europa, ao final, não era tudo isso. A esperança se propaga com esse infrequente exercício de memória e respeito.

Fonte: El País (edição brasileira)
http://brasil.elpais.com/brasil/2014/03/28/internacional/1396032026_384483.html

quinta-feira, 6 de março de 2014

"O cigano deverá ser esterilizado em casa"

"O cigano deve ser esterilizado em casa"

Com base nas idéias eugênicas/racistas de Robert Ritter, o mentor intelectual da tragédia ciganos na Alemanha nazista, "pesquisadores" romenos consideravam os Roma uma praga:
"Ciganos nômades e semi-nômades devem ser internados em campos de trabalho forçado. Lá, as roupas devem ser trocadas, suas barbas e cabelo cortados, seus corpos esterilizados [...]. Suas despesas para sobrevivência deverão ser pagas com seu próprio trabalho. Após uma geração, poderemos nos livrar deles. Em seu lugar, podemos colocar os romenos étnicos da Romênia ou do exterior, capazes de fazer trabalho ordenado e criativo. O cigano sedentário deve ser esterilizado em casa [...]. Desta forma, as periferias das nossas vilas e cidades deixarão de ser locais repletos de doenças, e se transformarão num paredão étnico útil para nossa nação."
Fonte: site FACTSHEETS ON ROMA (Áustria)
http://romafacts.uni-graz.at/index.php/history/persecution-internment-genocide-holocaust/deportations-from-romania
Ill. 3 (traduzido pro inglês de Fãcãoaru, Gheorghe (1941) Câteva date în jurul familiei si statului biopolitic, Bucureşti)
Tradução: Roberto Lucena

Observação: pelo site ser um pouco confuso só deu pra traduzir esta parte, mas tem mais coisas interessantes neste site austríaco (a quem quiser checar mais coisas sobre a deportação e extermínio de ciganos no Holocausto).

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Hungria vai ter Centro de Documentação do Holocausto Cigano

Ciganos roma e sinti à espera de serem deportados pelos nazis na cidade
alemã de Asperg, 22 de Maio de 1940. Foto cortesia dos Arquivos
da Alemanha Federal, usada com licença 3.0 Creative Commons
Um Centro de Documentação do Holocausto Cigano (Romani) será inaugurado [en] na cidade de Pécs, no sul da Hungria, em finais de 2014. O Centro de Documentação é um projeto conjunto do Município de Pécs e da minoria cigana da Hungria. Haverá também colaboração com a Universidade de Pécs, visando o ensino aos estudantes desta parte esquecida da História da Europa do século XX.

O Holocausto Cigano, conhecido também como Porajmos no idioma romani, foi uma tentativa dos nazis alemães de exterminar o povo cigano na Europa. Aproximadamente entre 1933 e 1945, cidadãos ciganos de diversos países europeus foram perseguidos, presos, destituídos da sua nacionalidade, frequentemente transportados para países ocupados ou colaboradores dos nazis, onde muitos deles foram assassinados. Os números foram, de modo geral, minimizados pelos colaboradores nazis, mas se estima que o número de ciganos assassinados durante este período na Europa se situe entre 220 mil a 1.5 milhões.

A Alemanha Ocidental reconheceu o Holocausto Cigano em 1982, contudo o reconhecimento oficial e a referência a este acontecimento tem-se revelado difícil devido à falta de memória colectiva registada e documentada do Porajmos entre o povo cigano. Consequência tanto das suas tradições orais, como do analfabetismo agudizado pela pobreza generalizada e discriminação, fazendo com que a abertura deste centro em Pécs seja primordial para lembrar esta parte trágica da História cigana e europeia.

Fonte: Global Voices (site)
http://pt.globalvoicesonline.org/2014/02/05/hungria-vai-ter-centro-de-documentacao-do-holocausto-cigano/

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

(Berlim) Marzahn. Campo de concentração cigano das Olimpíadas de Berlim (1936)

A "limpa" dos ciganos da Alemanha nas Olimpíadas de 1936.

Campo de Concentração cigano de Marzahn
"A polícia não estava passiva enquanto as leis raciais de restrição a casamento e relações sexuais entre ciganos e alemães estavam sendo promulgadas ... Os Sinti e Roma, tradicionalmente, tinham sido vítimas de assédio principalmente na Bavária depois de 1933, no entanto, o assédio direto tornou-se sistemático com a expulsão de ciganos estrangeiros do país, e com outras pessoas enquadradas como vagabundos, criminosos habituais e vários outros tipos de antissociais. Usando os Jogos Olímpicos como pretexto, a polícia de Berlim, em maio de 1936, prendeu centenas de ciganos e transferiram famílias inteiras com suas carroças, cavalos e outros pertences para o chamado Marzahn "lugar de descanso", que ficava próximo de um depósito de lixo e de um cemitério do outro lado. Logo o lugar inteiro foi fechado com arame farpado. Um campo de concentração cigano de fato então havia sido criado num subúrbio de Berlim. foi a partir Marzahn, e de outros lugares semelhantes criados em pouco tempo próximos a outras cidades alemãs, que alguns anos mais tarde milhares de Sinti e Roma foram enviados para os locais de extermínio no leste". (Friedlaender, pág. 205)

Extraído do livro: Nazi Germany and the Jews: (Volume One). The Years of Persecution, 1933-1939. New York: HarperCollins, 1997; Saul Friedlaender

Última modificação: 1997/06/04

Fonte: Nizkor
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/camps/ftp.cgi?camps//marzahn//marzahn-established
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Memorial to the Victims of the Marzahn "Gypsy Camp"

domingo, 22 de setembro de 2013

Mulher grega pisando em garota cigana em Atenas - foto se torna viral

por Maria Arkouli em 17 de setembro de 2013, tags: Culture, Media, News, Racism, Society

Músicos de rua na Grécia

Uma fotografia de uma dona de loja feminina pisando uma garota cigana (Roma) música de rua numa passarela de pedestres sob a Acrópole para mandá-la embora virou viral na Internet e forçou as autoridades gregas a investigar o abuso.

O local é frequentado por crianças ciganas (Roma) que são colocadas lá para pedir trocados, tocar música para doações ou venda de flores, atividades que na Grã-Bretanha são encontradas fazendo por até $ 160,00 por criança, tornando-se um negócio muito lucrativo.

A foto foi tirada pelo fotógrafo da Associated Press Dimitris Messinis em um dos mais movimentados pontos turísticos de Atenas, perto da principal estação de metrô e do Novo Museu da Acrópole. Não foi relatado por que a mulher queria a menina fora da área, mas isso aconteceu na frente de muitas testemunhas.

A imagem é chocante: uma mulher está pisando uma menina que toca o acordeão para forçá-la a ir para fora do ponto, talvez porque a menina a "ofendeu" esteticamente.

Depois do alvoroço causado pela publicação da fotografia, do Departamento de Proteção à Criança da Segurança da Ática lançou uma investigação para tentar encontrar a mulher.

Fonte: Greek Reporter
http://greece.greekreporter.com/2013/09/17/woman-kicking-girl-pic-goes-viral/

Comentário: não preciso comentar esta foto, a imagem fala por si. Só fica o aviso aos fascistinhas cagões que vez por outra deixam mensagens racistas com fakes por não terem coragem de assumir o que escrevem (comentários racistas) com o nome, se vierem escrever besteira aqui não terão comentário algum publicado, não baterei boca com lixo covarde e defensor desse tipo de imundície que não assume sequer o que escreve. Sejam ao menos homens pra escrever com o nome as imundícies que defendem (duvido que façam isso).

sábado, 6 de julho de 2013

Korkoro - Liberté - Freedom - Filme sobre o Holocausto cigano na França ocupada (Vichy)

Segue abaixo a descrição do filme Korkoro que foi lançado em 2009 na França como Liberté, pouco conhecido do público geral, que retrata a perseguição dos ciganos na França ocupada pelos nazistas pelo regime de Vichy (dos fascistas franceses colaboracionistas dos nazis). Uma indicação pra quem quiser saber mais sobre a perseguição dos ciganos pelo regime nazi e pelos colaboracionistas dos nazis pela Europa (em vários países houve colaboracionismo por parte dos regimes fascistas fantoches locais, com deportações e perseguições de minorias).
Korkoro ("Sozinho" na língua romani) é um filme francês de drama de 2009 escrito e dirigido por Tony Gatlif, estrelado pelos atores franceses Marc Lavoine, Marie-Josée Croze e James Thierrée. O elenco do filme foi formado por várias nacionalidades, com gente da Albânia, Kosovo, Geórgia, Sérvia, França, Noruega, e os nove ciganos que Gatlif encontrou na Transilvânia.

Baseado em uma anedota/conto sobre a Segunda Guerra Mundial escrita pelo historiador Romani (Cigano) Jacques Sigot (seu blog e website), o filme foi inspirado na verdadeira vida de um Romani que escapou dos nazistas com a ajuda de aldeões franceses, e mostra o assunto raramente retratado do Porrajmos (o Holocausto Cigano). [1] Além dos ciganos, o filme tem um personagem que representa a resistência francesa na pele de Yvette Lundy (o link direciona pra verdadeira Yvette Lundy e não a atriz do filme), uma professora de francês deportada por forjar os passaportes para os ciganos. Gatlif queria que o filme fosse um documentário, mas a falta de documentos de apoio fez com que ele apresentasse o filme como um drama.

O filme estreou no Festival de Filme Mundial de Montreal (Montréal World Film Festival), vencendo o Grande Prêmio das Américas, entre outros prêmios [2] Foi lançado na França como Liberté em fevereiro de 2010, onde arrecadou $ 601.252 dólares; e receitas provenientes da Bélgica e dos Estados Unidos levaram o total para $ 627.088 dólares. [3] A música do filme, composta por Tony Gatlif e Delphine Mantoulet, recebeu uma indicação na categoria de melhor música escrita para um filme no 36º César Awards.

Korkoro tem sido descrito como "uma rara homenagem cinematográfica" aos mortos no Porrajmos. [4] Em geral, o filme recebeu críticas positivas da crítica, incluindo elogios por ter um ritmo incomum vagaroso para um filme sobre o Holocausto. [5] Os críticos o consideraram como um dos melhores trabalhos do diretor, junto a Latcho Drom, o "mais acessível" de seus filmes. O filme tem o mérito em mostrar os Romanis (ciganos) de uma forma não-estereotipada, longe de suas representações clichês como músicos.
Trailer:


Link do filme completo no Youtube (sem legendas):
http://www.youtube.com/watch?v=wlTdGWDnl5U

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Holocausto cigano, 8 de abril - Dia Internacional do Povo Cigano

Holocausto cigano. O professor Ortega, entre o
delegado da Junta e a diretora do
centro. | Jesús G. Hinchado
José A. Cano | Granada. Atualizado, segunda-feira 08/04/2013 13:44 horas

1. Homenagem em Granada ao meio milhão de ciganos exterminados
2. José Ortega apresenta um livro sobre as vítimas ciganas do genocídio nazi
3. A bandeira da comunidade cigana balança nos edifícios da Junta

Durante o Holocausto nazi, mais de meio milhão de ciganos europeus foram exterminados. Marcaram-nos para serem reconhecidos pelas ruas, tiraram-nos à noite de suas casas e os arrastaram para campos de concentração, converteram-nos em trabalhadores escravos, experimentaram contra eles como se fossem animais e, para terminar, gasearam-nos. Homens, mulheres e crianças de uma tragédia até há pouco tempo, se não silenciada, ao menos ignorada.

José Ortega, professor emérito das universidades de Granada e Wisconsin, especialista em cultura cigana e política internacional, aproveitou a efeméridade do Dia Internacional do Povo Cigano para apresentar seu último livro, "Los gitanos. Un holocausto ignorado" (Os Ciganos. Um Holocausto ignorado), em um ato de homenagem às vítimas da barbárie nazi celebrada no Centro Sociocultural Cigano Andaluz, com sede em Granada.

Os ciganos, segundo explicou Ortega, foram, juntos com os judeus, "a única etnia a ser perseguida simplesmente por serem de sua etnia. Na Europa viviam então pouco mais de um milhão de ciganos e quase a metade morreu nos campos de concentração nazis". O delegado de Saúde e Bem-estar social da Junta em Granada, Higinio Almagro, destacou que essa quantidade "é mais do que os ciganos que vivem atualmente na Andaluzia, 350.000, que são a metade dos que se encontram na Espanha".

Ortega recorda que "sempre se destacou a tragédia que sofreu o povo judeu, mas a dos ciganos tem se mantido ignorada. O reconhecimento da Alemanha foi muito importante, e hoje em Berlim existe já o único monumento que recorda essas vítimas. Os ciganos foram arrancados de suas casas, foram submetidos a experimentos, sobretudo as mulheres, e foram convertidos em mão-de-obra escrava. Este livro reúne alguns testemunhos e trata de mostrar as histórias dessas pessoas".

Durante o ato solene no Salão de Atos do Centro Sociocultural se pode escutar o Hino Internacional da Comunidade Cigana, Gelem gelem, e a fachada do edifício luziu a bandeira da Comunidade Cigana, que também foi compartilhada por outros centros dependentes de Bem-estar Social.

Este ano, a homenagem aos ciganos exterminados durante o Holocausto se celebra com a satisfação do reconhecimento por parte do Estado alemão da etnia cigana como vítima do Holocausto, que aconteceu ano passado em Berlim, na inauguração por parte da chanceler Angela Merkel do único monumento existente no mundo em homenagem a esse meio milhão de europeus vítimas do racismo.

Em Granada e toda a Andaluzia, os atos do Dia Internacional do Povo Cigano se viram acompanhados da tradicional cerimônia do Rio, com a leitura de um manifesto, o canto do "Gelem, gelem" e um espetáculo flamenco, no caso nazarí junto ao rio Genil.

Fonte: Elmundo.es (Espanha)
http://www.elmundo.es/elmundo/2013/04/08/andalucia/1365421483.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver também:
El Manifiesto Gitano 2013, una llamada de atención a la discriminación (murcia.com, Cartagena)

domingo, 7 de abril de 2013

Prestam homenagem na República Tcheca às vítimas do Holocausto cigano (Samudaripen - Porrajmos)

Praga, 5 abr (PL) - O ministro de Relações Exteriores da República Tcheca, Karel Schwarzenberg, prestou homenagem hoje às vítimas do Holocausto cigano junto com várias organizações e dezenas de cidadãos dessa etnia.

Os participantes na cerimônia acenderam uma grande quantidade de velas no pátio do Palacio Lichtenstein na capital, por razão do Dia Internacional do Povo Cigano, que se celebra em 8 de abril, disse a Radio Praga.

Segundo a fonte, dos milhares de ciganos que viviam na antiga Tchecoslováquia na primeira metade do século XX, só uma décima parte sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, e atualmente vivem na República Tcheca uns 250 mil.

A decisão de dedicar o 8 de abril aos ciganos se deve ao fato de que nesse dia, em 1971, foi instituído em Londres a bandeira e o hino que os identifica, durante a celebração do Primeiro Congresso Mundial dessa comunidade.

O principal objetivo daquele evento era manter vivo a recordação das vítimas de Samudaripen, o holocausto contra los gitanos executado pelo regime nazi, no qual perderam a vida mais de 500 mil pessoas.

rc/mar

Fonte: Prensa Latina
http://www.prensa-latina.cu/index.php?option=com_content&task=view&idioma=1&id=1281131&Itemid=1
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 12 de março de 2013

Ciganos em Auschwitz - Parte 4 (Holocausto)

Gannon, você acha que foi bom o que seus heróis fizeram com os ciganos em Auschwitz? Gaseá-los, e esmagar as cabeças das crianças ciganas que tentavam se esconder?
Citação de "Auschwitz: A Report on the Proceedings Against Robert Karl Ludwig Mulka and Others Before the Court at Frankfurt" (Auschwitz: um relatório sobre o processo contra Robert Karl Ludwig Mulka e outros antes do Tribunal de Frankfurt), por Bernd Naumann, 1966, publicado por Frederick A. Praeger, NY.

[O livro resume os acontecimentos do julgamento de 22 homens da SS que serviram no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau. Como a maioria dos julgamentos de homens da SS que serviram nos campos de extermínio, este foi realizado pelo sistema jurídico alemão, de acordo com o código penal alemão de 1871].

Do testemunho de Maximilian Sternol (p. 114):
... foi a liquidação do composto cigano. Cenas terríveis aconteceram. Mulheres e crianças estavam de joelhos na frente de Mengele e Boger chorando, 'Tenham piedade, tenham piedade de nós ". Nada disso ajudou. Eles foram espancados brutalmente, pisoteados, e empurrados para os caminhões. Foi uma noite terrível, terrível".

"Será que também atingiu Boger-los?".

"Sim, ele os matou. Eles desmaiaram e morreram e depois foram lançados nos caminhões. Toda a seção política estava lá. Sim, eu vi Baretzki e Broad".
Do testemunho de Josef Piwko (p. 123):
"Isso aconteceu cerca de três a quatro semanas após os eventos no campo Tcheco [Theresienstat]. As crianças freqüentemente vinham para o arame farpado e gostaríamos de lhes dar pequenas coisas. Então, um dia, os caminhões chegaram, e houve grande emoção no acampamento , porque os ciganos já sabiam que eles seriam gaseados. Eles tinham uma boa rede de inteligência porque os homens da SS tinham moças ciganas lindas e elas lhes disseram um monte de coisas ".

A testemunha conta como ele se escondeu no mato e viu que os ciganos foram espancados e como também foram conduzidos para os caminhões e conduzidos para as câmaras de gás. Então os homens da SS procuraram os barracões e arrastaram cerca de seis crianças com idades entre quatro e sete.

"Eles foram levados ante Boger, que primeiro os pisou, em seguida, agarrou seus pés pequenos e bateu suas cabeças contra a parede".
[Boger e Baretzki foram condenados à prisão perpétua por terem participado de inúmeros assassinatos em Auschwitz. Broad foi condenado a 4 anos. Dr. Mengele fugiu após a guerra e, aparentemente, morreu na América do Sul em meados dos anos 1980].

-Danny Keren.
________________________________________________
Shofar FTP Archive File: camps/auschwitz//gypsies.04
Archive/File: camps/auschwitz gypsies.04
Last-Modified: 1993/12/12

From: dzk@cs.brown.edu (Danny Keren)
Newsgroups: alt.revisionism
Date: 22 Dec 1993 08:40:22 GMT
Organization: Brown University Department of Computer Science
Lines: 62
Distribution: world
Message-ID: <2f915m cat.cis.brown.edu="" f13="">
NNTP-Posting-Host: cslab6b.cs.brown.edu

Fonte: Nizkor (10.01.13)
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/camps/auschwitz/ftp.py?camps/auschwitz//gypsies.04
Tradução: Roberto Lucena

Ver também:
Ciganos em Auschwitz - Parte 3
Ciganos em Auschwitz - Parte 2
Ciganos em Auschwitz - Parte 1

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pode um memorial acabar com o preconceito contra os sinti e roma?

Durante décadas os sinti e roma alemães lutaram por um memorial, por terem sido vítimas de um genocídio e por serem discriminados até hoje em várias regiões da Europa. Agora ele foi inaugurado em Berlim.

"O trágico no fato de o memorial ser inaugurado hoje é que muitos dos sobreviventes não podem mais vivenciar esse reconhecimento", declarou Silvio Peritore, membro da direção do Conselho Central dos Sinti e Roma da Alemanha.

O Estado alemão levou muito tempo para reconhecer o genocídio dos sinti e roma – para muitos, tempo demais. Por exemplo para Franz Rosenbach. Ele foi obrigado a prestar trabalhos forçados, sobreviveu a Auschwitz e foi a escolas alemãs relatar tudo o que viveu. Ele foi um dos maiores defensores do memorial. Há poucos dias, Rosenbach faleceu, aos 85 anos.

Uma exposição em Heidelberg retrata o genocídio dos sinti e roma no período nazista. Ela foi inaugurada em 1997. Um ano depois, Peritore passou a fazer parte do grupo do centro cultural e de documentação. "Em muitos memoriais, o genocídio dos sinti e roma era apenas uma nota de rodapé na história do Holocausto judeu, porque, durante décadas, pesquisadores em parte esqueceram esse tema, em parte o ignoraram conscientemente", afirma.

Não se trata de opor o número de vítimas: seis milhões de judeus europeus contra 500 mil sinti e roma, argumenta. "O que um memorial representa? O reconhecimento das vítimas, a responsabilidade para com a história que resultou do Holocausto."

Aparentemente, os sinti e roma são, até hoje, uma minoria indesejada. Por isso, o reconhecimento de que foram vítimas, a memória do genocídio foi por muito tempo recusada para eles. Ao menos essa é a impressão que pessoas como Franz Rosenbach têm. "As pessoas se perguntam: por que eles não querem isso?" Eles são os outros, o que inclui a maioria da sociedade alemã.

Preconceito e exclusão seculares

Família sinti e roma alemã
Cerca de 15 mil pessoas por ano visitam a exposição sobre o genocídio dos sinti e roma alemães em Heidelberg: turmas de escolas, universitários e também policiais, que na sua profissão têm de lidar com os "ciganos", frequentemente tachados de criminosos. Como diz Armin Ulm, pesquisador no centro de documentação, esses clichês existem há séculos.

"Esse é um fenômeno que existe na Europa desde a chegada dos sinti e roma, nos séculos 14 e 15. Havia também atribuições positivas, como o clichê romântico representado na figura de Carmen (a 'cigana' apaixonada da ópera de Georg Bizet), mas a maioria são atribuições negativas: o 'cigano' ladrão, a 'cigana' que lê a mão."

Essas ideias se perpetuaram com o passar do tempo. A expressão 'cigano' pode ser encontrada já nas crônicas da Idade Média: "A palavra aparece, por exemplo, na crônica da cidade de Hildesheim." Em diversos documentos é possível encontrar diferentes formas de escrita, porém não é claro sobre quem se está falando, pois nem os sinti nem os roma se descreviam como ciganos. A maioria rejeita esse termo por considerá-lo discriminatório.

"Como é possível que a tradição dos clichês "ciganos" se perpetue até hoje numa sociedade esclarecida?", pergunta Peritore. A pergunta não é retórica. Há 12 milhões de sinti e roma vivendo na Europa, e em muitos países eles continuam sendo excluídos, também em países da União Europeia.

"Em países como Hungria, Romênia, República Tcheca e Eslováquia, os sinti e roma são privados de direitos humanos elementares. Eles não possuem o mesmo direito de acesso a fatores essenciais para a vida, como emprego, serviço de saúde pública e moradia digna", diz Peritore.

Membros da etnia sinti e roma são discriminados, criminalizados e estilizados com inimigos em muitos países do sul e do centro da Europa. Em vez de investimentos em infraestrutura, o que tornaria a vida dos sinti e roma mais fácil em suas terras natais, o dinheiro da União Europeia some por caminhos obscuros, denuncia Peritore.

Deportação de sinti e roma em
Colônia na época nazista
Ele não economiza críticas aos políticos e à sociedade da Europa Ocidental. "Se ouvimos falar aqui na Alemanha sobre o 'problema dos roma', então trata-se de pessoas que vêm para cá procurando uma vida mais segura e melhores oportunidades de emprego. Essa é um desejo legítimo." Mas também aqui ele são considerados um risco para a segurança e frequentemente criminalizados, como aconteceu na França em 2010, quando o então presidente Nicolas Sarkozy afrontou a lei francesa e europeia e deportou os sinti e roma.

Peritore denuncia também a prática alemã de deportar sinti e roma de volta para o Kosovo, mesmo que lá eles corram o risco de ser perseguidos e na Alemanha já tenha há muito se integrado na sociedade. Onde os sinti e roma tiveram chances iguais, argumenta, seguiram os mesmos caminhos que seguem os outros integrantes da sociedade.

"Isso contradiz principalmente as afirmações generalizadas daqueles que são contra os sinti e roma e dizem que de nada adiantam todos os programas e projetos, pois supostamente eles são contrários à cultura desses povos. Isso mostra que essas afirmações são mentiras, pois podemos ver que é possível quando as pessoas recebem chances iguais e justas."

Um memorial em Berlim

Estas duas meninas foram
deportadas para a Polônia
A exposição sobre o genocídio dos sinti e roma mostra também fotos de sinti e roma alemães antes de 1933. São cenas da vida familiar, bons civis, quase caretas. Elas mostram que essas pessoas faziam parte da sociedade. Isso não as salvou da perseguição e da morte.

"Pesquisadores sérios já mostraram há muito tempo que houve um segundo Holocausto: eram as mesmas motivações político-raciais, o mesmo aparelho criminoso, os mesmos métodos de extermínio nos mesmos locais, executados de forma sistemática e eficiente." Contudo, somente o chanceler federal alemão Helmut Schmidt reconheceu esse fato, em 1982.

Após a decisão parlamentar de que não haveria um memorial único para todas as vítimas do Holocausto, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) autorizou em 1992 a construção de um memorial para os sinti e roma. O que se seguiu foi uma longa discussão: governo, historiadores e também os representantes dos sinti e roma não conseguiram chegar a um acordo sobre os detalhes.

Para o Conselho Central dos Sinti e Roma da Alemanha não se trata somente de um reconhecimento tardio, mas também de responsabilidade com o presente e o futuro, para evitar a discriminação e a exclusão. "Se for para aprender algo, então que seja isso. Mas talvez essa seja uma pretensão muito grande", diz Peritore, e na sua voz é possível reconhecer um tom de tristeza.

Autora: Birgit Görtz (cn)
Revisão: Alexandre Schossler

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/pode-um-memorial-acabar-com-o-preconceito-contra-os-sinti-e-roma/a-16328944

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Merkel inaugura memorial para ciganos vítimas do Holocausto

BERLIM — A chanceler alemã, Angela Merkel, inaugurou nesta quarta-feira um memorial em homenagem aos cerca de meio milhão de ciganos assassinados pelo regime nazista e alertou para a enorme discriminação ainda existente contra essa minoria.

O monumento, que sofreu muitos atrasos para ficar pronto, consiste em uma piscina redonda com um monólito triangular no centro no qual repousará a cada dia uma flor recém-colhida, e se localiza em frente ao Reichstag, o edifício do Parlamento, no centro de Berlim.

Uma linha do tempo sobre o extermínio nazista fica ao lado do memorial, que após 20 anos de atrasos foi finalmente construído com um subsídio do governo federal de 2,8 milhões de euros (3,6 milhões de dólares).

"Auschwitz", do poeta e compositor italiano Santino Spinelli, está gravado na borda da piscina em inglês e alemão, contando o sofrimento e a dor causados aos Sinti e Roma, dois grupos ciganos muito presentes na Alemanha.

O monumento foi projetado pelo artista israelense Dani Karavan, de 81 anos, e está localizado próximo a outros dois memoriais para as vítimas da barbárie nazista, um campo repleto de pilares para os seis milhões de judeus assassinados e um monumento menor para os homossexuais vítimas de Hitler.

Merkel, que estava visivelmente comovida durante a cerimônia de inauguração, afirmou que este capítulo terrível da história da Alemanha a enchia "de tristeza e vergonha". Ela saudou a obra de Karavan, ao dizer que seu design "fala tanto para o coração quanto para a mente".

"Este memorial lembra um grupo de vítimas que foi ignorado por muito tempo", afirmou, lembrando que o governo da Alemanha Ocidental só reconheceu o genocídio em 1982.

"Recorda a injustiça indescritível que foi infligida a vocês", afirmou à plateia, que incluía muitos sobreviventes idosos. Organizadores forneceram cobertores azuis para protegê-los do frio do mês de outubro.

"Os Sinti e Roma ainda sofrem de ostracismo e condenação", afirmou. "Proteger as minorias é nosso dever, hoje e amanhã".

"A sociedade não aprendeu nada"

O alemão Zoni Weisz, de 75 anos, lutou para conter as lágrimas ao relembrar sua fuga angustiante da deportação com a ajuda de um corajoso policial enquanto a maior parte de sua família foi enviada para um campo de concentração.

Ele disse que a Europa não estava vivendo à altura das responsabilidades competentes a ela após o assassinato dos Sinti e Roma sete décadas atrás.

"A sociedade não aprendeu nada, quase nada", afirmou. "Do contrário eles iriam nos tratar de forma diferente".

Os pais de Weisz, as irmãs e o irmão mais novo foram mortos em Auschwitz, enquanto ele sobreviveu escondido.

Os nazistas consideravam os Roma e Sinti racialmente inferiores, como os judeus, e realizaram uma campanha sistemática de opressão contra eles.

Em 1938, o chefe nazista Heinrich Himmler ordenou a "solução final da questão cigana".

Aqueles capturados na varredura foram confinados a guetos, deportados para campos de concentração e mortos. Muitos foram utilizados em experimentos médicos grotescos e esterilização forçada.

Historiadores estimam que cerca de 500.000 homens, mulheres e crianças ciganos de toda a Europa foram mortos entre 1933 e 1945, dizimando uma população com raízes na Alemanha que datam de seis séculos.

O líder do Conselho Central de Sinti e Roma na Alemanha, Romani Rose, que lidera uma comunidade de cerca de 70 mil pessoas, contestou ferozmente a referência utilizada no memorial aos "ciganos", um termo comumente usado no passado, mas agora visto como depreciativo.

Cerca de 11 milhões de ciganos vivem na Europa, sete milhões dos quais na União Europeia, assumindo o posto da maior minoria étnica do continente. Mas eles sofrem com uma pobreza desproporcional e com enorme discriminação.

A queda da Cortina de Ferro em 1989 e a expansão do Leste Europeu provocaram a migração de alguns dos ciganos para o oeste, mais rico, e países como França e Itália implementaram medidas de segurança, que incluem a destruição de acampamentos considerados ilegais.

Recentemente, Berlim manifestou seu desejo de deter essas migrações, desejando que fosse retirada a isenção de visto para os cidadãos sérvios e macedônios, muitos dos quais são ciganos.

Após o discurso de Merkel na cerimônia, um desordeiro protestou perguntando à chanceler: "O que você diz sobre os deportados? Eles também querem ficar aqui!".

De Deborah Cole (AFP)

Vídeos: Bluchannel TV e AFP


Fonte: AFP/Google
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5iwie8AZmXk-piI7yPX13CE6XUOyg?docId=CNG.ed0cb0e81492b44ee019fd55ee283104.491

Ver mais:
Alemanha cria memorial para ciganos vítimas do Holocausto (BBC Brasil/Terra)
Merkel homenageia vítimas ciganas do Holocausto (Diário de Notícias, Portugal)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Romênia: deportação de ciganos em 1942, uma tragédia esquecida

Em maio de 1942, o marechal romeno Ion Antonescu ordenou a deportação para a Transnistria dos ciganos "nômades, sem ocupação ou delinquentes": quase 70 anos depois, os poucos sobreviventes evocam essa tragédia esquecida, um estigma indelével para tanta gente.

"Eles nos detiveram numa rua de Bucareste, colocando-nos numa carroça puxada por cavalos e nos diziam que seríamos levados a um lugar onde receberíamos terras", conta à AFP Marin Safta, de 89 anos de idade, que perdeu a mãe e um irmão durante os dois anos passados na Transnistria, uma região controlada, então, pelo regime pró-nazista de Antonescu.

"Deportaram-nos para nos matar, mas, como podem ver, eu não morri", diz o velho homem, que vive numa pequena casa escura, sem nunca ter sido indenizado.

A tragédia ainda está bem viva, e será também recordada nesta sexta-feira, Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto.

Dos 208 mil ciganos que viviam no país em 1942 25.000, isto é 12%, foram deportados, segundo o informe sobre o Holocausto na Romênia, redigido por uma comissão internacional de historiadores liderada pelo Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel. Onze mil morreram.

Entre 280 mil e 380 mil judeus romenos e ucranianos também vieram a falecer nos territórios administrados por Bucareste.

"A deportação de ciganos gerou vários abusos. Também tiveram o mesmo destino famílias de romenos pobres, de húngaros e turcos, e pessoas que tinham mesmo um trabalho ou terras", segundo a comissão.

Gheorghe Stana tinha 7 anos quando chegou a ordem de deportação. "Tínhamos uma casa, meu pai trabalhava como jornaleiro, mas nada adiantou. Fomos todos levados, minha mãe, minha irmã...", conta Stana à AFP. Ele nasceu em Vedea (sul).

A falta de alimentos, as enfermidades e o trabalho forçado dizimaram os deportados. "Milhares de pessoas morreram ali. Os corpos eram jogados numa fossa, como animais. Ainda tenho diante de meus olhos essas imagens", diz.

"Quando a guerra acabou, nos deixaram ir embora", conta Safta, narrando como voltou de trem até a fronteira atual entre a Moldávia e a Romênia, seguindo, depois, a pé, até Bucareste.

Os dois homens dizem que "falaram muito pouco" a seus filhos sobre essa tragédia, porque tentavam eles próprios não pensar mais nela.

O fato de a ordem oficial de deportação só dizer respeito a algumas categorias de ciganos "tem implicações profundas na mentalidade" da comunidade, explica o sociólogo Nicolae Furtuna.

Muitas vítimas sentem "vergonha de dizer que foram deportadas, é um estigma", explica o sociólogo, que compara a situação deles com a das mulheres estupradas.

Furtuna, que ouviu dezenas de sobreviventes, conta depoimentos terríveis. "Me disseram que alguns chegaram a comer carne humana, outros esconderam em casa o corpo de um parente morto para continuar recebendo sua ração de comida", diz, lamentando a falta de documentos escritos sobre esses acontecimentos.

"São esses detalhes, mais que os números, que nos fazem viver esse período triste", diz, destacando ser "um dever moral transmitir essas experiências" aos jovens, sejam ciganos ou não.

Fonte: AFP
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5579241-EI8142,00-Romenia+deportacao+de+ciganos+em+uma+tragedia+esquecida.html

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Michael Zimmermann: "Perseguição nazista dos ciganos na Alemanha e Áustria, 1933-1942" (Holocausto)

Trecho do texto de Michael Zimmermann, "Intent, Failure of Plans, and Escalation: Nazi Persecution of the Gypsies in Germany and Austria, 1933–1942 (Intenção, planos fracassados e a escalada: perseguição nazista dos ciganos na Alemanha e Áustria, 1933-1942)" sobre a perseguição, deportação e assassínio por asfixia de ciganos em vans de gás no campo de Chelmno(Kulmhof).

Do texto original:
When, in the fall of 1941, the systematic deportation of German Jews began, Roma from Austrian Burgenland were affected as well.24 The ground for persecution of this particular group was prepared by Tobias Portschy, who in 1938 was made Landeshauptmann for Burgenland, where Roma had lived a settled existence for more than 150 years. Portschy gave the “Gypsy question” priority over the “Jewish question.”25 As a “National Socialist solution of the Gypsy Question,” Portschy suggested sterilization, forced labor in work camps, deportation to eventual German colonies, and bans on school education, military service, and hospital care.26

In the following years, many in the Ostmark (the former Austria) continued vehemently to demand a radical solution of the Burgenland “Gypsy problem.” The extraordinary fervor of this particular witch-hunt, against the Burgenland Roma, explains why, after the first Gypsy deportation in May 1940, these Roma were made the priority group for a second Gypsy transport to the General Government.27 When the police saw this possibility in the fall of 1941, 5,000 Burgenland Roma were deported to the Lodz Ghetto and crowded together there in a special sector. Like the Jews, the Roma were suffocated in gas vans in Kulmhof.
Tradução:
Quando, no outono de 1941, a deportação sistemática dos judeus alemães começou, os Roma do Burgenland austríaco foram afetados também.24 O terreno para a perseguição deste grupo em particular foi elaborado por Tobias Portschy, que em 1938 foi feita Landeshauptmann para Burgenland, onde os Roma tinham vivido uma existência fixa por mais de 150 anos. Portschy deu a "questão cigana" prioridade sobre a "questão judaica."25 Como uma "solução nacional-socialista para a questão cigana", Portschy sugeriu a esterilização, o trabalho forçado em campos de trabalho e a deportação para eventuais colônias alemãs, e também as proibições de educação escolar, serviço militar e assistência hospitalar.26

Nos anos seguintes, muitos no Ostmark (a antiga Áustria) continuaram veementemente a exigir uma solução radical do Burgenland para o "problema cigano". O fervor extraordinário deste particular "caçador de bruxas" contra os Roma do Burgenland, explica porque, depois da primeira deportação cigana em maio de 1940, estes Roma se tornaram o grupo prioritário paro o segundo transporte de ciganos para o Governo Geral.27 Quando a polícia viu esta possibilidade no outono de 1941, 5000 Roma do Burgenland foram deportados para o gueto de Lodz e amontoados juntos em um setor especial. Como os judeus, os ciganos foram asfixiados em furgões(vans) de gás em Kulmhof(Chelmno).
Notas:

24. Thurner, National Socialism, págs. 102–105; Lewy, Nazi Persecution, pp. 56–62,
107–16; Zimmermann, Rassenutopie, págs. 101–05, 223–29.

25. Dokumentationsarchiv des österreichischen Widerstandes (a seguir DÖW), 11.532,
Grenzmark Burgenland, Wahlzeitung zum 10.4.38, Folge 5, 5.4.1938.

26. DÖW 4.969, Tobias Portschy, Die Zigeunerfrage, August 1938.

27. Em fevereiro de 1942, houve um terceiro transporte de deportação de cerca de 2000 Sinti do leste da Prússia para Bialystok e, no outono de 1942, de lá para o Gueto de Brest. Não sabemos muito sobre o plano de fundo destas deportações (Zimmermann, Rassenutopie, págs. 228–29).

Fonte: Intent, Failure of Plans, and Escalation: Nazi Persecution of the Gypsies1 in Germany and Austria, 1933–1942; Michael Zimmermann (USHMM)
http://deimos3.apple.com/WebObjects/Core.woa/DownloadTrackPreview/ushmm.org.1434142334.01434142337.1448216329.pdf
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A "Solução Final" Cigana

A "Solução Final" Cigana

Não houve, alguns dizem, apenas uma Solução Final. Cinquenta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a atenção volta-se para o bem ignorado sofrimento dos não-judeus atingidos pelos nazistas.

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Muitos ciganos estão satisfeitos que seu sofrimento durante a Segunda Guerra Mundial recebeu um reconhecimento tardio, mas estão contrariados de como suas perdas nas mãos dos nazistas estão sendo reconhecidas, diz um líder da comunidade cigana americana. "Temos sido consistentemente colocados em 'outras' categorias, juntos com Testemunhas de Jeová, homossexuais, poloneses e católicos, como se não fôssemos parte da Solução Final," diz Ian Hancock.

Roma e Sinti são os nomes corretos para os descendentes dos grupos não-arianos do norte da Índia que migraram pro sudeste da Europa no 13º século e tornaram-se artesãos intinerantes; europeus pensaram que os recém-chegados vieram do Egito, daí o nome de ciganos.

"Roma ... era a única outra população ao lado dos judeus que era alvo para a exterminação nas bases raciais da Solução Final, " Hancock escreveu na Encyclopedia of Genocide(Enciclopédia do Genocídio) ...

Suas palavras ecoam daqueles muitos portas-vozes ciganos. Judeus e ciganos compartilham um status não invejável como vítimas principais dos nazistas. Na hierarquia racial nazista, ciganos, que ameaçavam a pureza biológica da "superior" raça ariana, situavam-se entre os "subumanos" eslavos e os "anti-humanos" judeus.

As medidas "legais" que marginalizaram a comunidade cigana na Grande Alemanha, as batidas a ciganos perambulando em outras partes na Europa oculpada e suas mortes nas mãos dos Einsatzgruppen, esquadrões móveis do extermínio, parecem uma inquietante similaridade à campanha anti-judaica dos nazis. Uma diferença, a taxa de sobrevivência cigana durante o Holocausto foi mais alta.

Cerca de dois terços da população judaica no pré-guerra da Europa pereceram durante o Holocausto. Do estimado de 2.5 milhões de ciganos que viviam na Europa em 1939, de 250.000 a 1.5 milhão morreram sob o Terceiro Reich, dependendo das estimativas dos historiadores, a maior parte diz que uma estimativa acurada estaria em algo em torno da metade, significanto que certca de um quarto dos ciganos europeus foram vítimas de Hitler.

Entretanto o número, a taxa de morte era certamente maior entre ciganos na própria Alemanha, enquanto que a comunidade por todo o continente era "completamente dizimada, completamente destroçada," Hancock disse. "Os efeitos psicológicos estão ainda sendo sentidos" pelos 2 milhões dos 4.5 milhões de ciganos da Europa.

"Determinar a porcentagem ou números de Roma que morreram no Holocausto (chamado de Porrajmos, 'paw-RYE-mos,' em Romani, uma palavra que significa 'o Devoramento') não é fácil," de acordo com o artigo de Hancock da enciclopédia. "Muita da documentação nazi ainda precisa ser analizada, e muitos assassinatos não foram registrados, desde que eles tomaram lugar em campos e florestas onde os Roma estavam retidos."

"É possível que os nazis eram mais concentrados em eliminar os judeus e que uma vez que a população judaica da Europa fosse aniquilada, os ciganos seriam os próximos alvos principais," marido e esposa, James e Brenda Davis Lutz da Universidade de Indiana escreveram no inverno de 1995 sobre a questão no Holocaust and Genocide Studies. "Os ciganos como um povo sobreviveram as campanhas dirigidas contra eles em maior medida em virtude de que estavam localizados em áreas sob o controle de governos aliados com a Alemanha. Estes governos geralmente recusavam participar no extermínio de ciganos (como apenas alguns não participaram da destruição dos judeus europeus)."

A campanha anti-cigana na Alemanha, que era baseada nos preconceitos populares e leis discriminatórias que eram anteriores a curta vida da República de Weimar, tiveram início rapidamente depois que Hitler assumiu o poder em janeiro de 1933. Ciganos eram castrados e esterelizados, enviados cedo para os campos de concentração e proibidos de casar com alemães. Uma Central para "Combate à Moléstia Cigana" foi aberta em Munique em junho de 1936.

Muitos ciganos sofreram com blitz na Alemanha na semana de 12-18 de junho de 1938, "Semana de limpeza cigana," uma precursora para Kristallnacht(Noite dos Cristais)cinco meses depois.

Em dezembro daquele ano, a primeira referência conhecida para a "Solução Final da questão cigana" apareceu num documento assinado pelo Chefe da SS Heinrich Himmler. Em janeiro de 1940, 250 crianças ciganas foram assassinadas em Buchenwald, usada como cobaias humanas num teste de cristais de Zyklon-B.

Ao contrário dos judeus na Alemanha e outros países da Europa, as vítimas ciganas dos nazis e suas famílias não receberam nenhuma pagamento reparatório, diz Hancock. Ele diz que advogados estão trabalhando para recuperar ativos ciganos totalizando "muitos milhões de dólares" que foram depositados em bancos suíços antes da guerra e nunca retornaram a seus donos de direito. "Temos a documentação," ele diz.

Sem nenhuma data especial ou cerimônias para celebrar as perdas de sua comunidade nos tempos de guerra, representantes de organizações ciganas participaram das atividades do anual Yom HaShoah do Museu Memorial do Holocausto dos EUA em Washington.

Uma estátua de madeira homenageando ciganos mortos durante a guerra foi dedicada em 1991 numa cidade no sudoeste da Hungria; acredita-se que seja o primeiro memorial do tipo no leste europeu. Grupos ciganos na Alemanha tem protestado contra os planos do senado de Berlim em levantar um monumento nacional do Holocausto que omite as vítimas de sua comunidade. Ignatz Bubis, presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, participou de sua petição.

"Sobreviventes ciganos ... que foram sistematicamente perseguidos por razões raciais não estão interessados em competir por status de vítima," Toby Sonneman, editor do Informativo Aliança Romani-Judaica, escreveu na edição de maio de 1994. "Eles apenas querem que suas vozes sejam escutadas e seu sofrimento seja reconhecido."

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Excerto do livro "Hitler's Other Victims: There wasn't, some say, just one Final Solution"(As outras vítimas de Hitler: Não houve, alguns dizem, apenas uma Solução Final). de Steve Lipman, Staff Writer. The Jewish Week, 02 de maio de 1997.
Copyright © The Jewish Week, 1997.

Fonte: The Patrin Web Jornal - Romani Culture and History
http://www.geocities.com/~patrin/othervictims2.htm (link morto)
Novo link:
http://www.reocities.com/~patrin/othervictims2.htm
Excerto(inglês): Steve Lipman
Tradução(português): Roberto Lucena

Foto: Jewish Library, Ciganos no Campo de Concentração de Belzec
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/images/Holocaust/belzecgyp.jpg
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Holocaust/gypsies.html

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