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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Manter ou não manter o resort turístico de Hitler, eis a questão

Colosso de Prora. Manter ou não manter o resort turístico de Hitler, eis a questão. 22/12/2014, 16:24

O que está a perturbar a sociedade alemã não é só o aproveitar financeiramente um marco nazi. Alguns argumentam que esta reconstrução é, de alguma forma, o cumprir das ambições iniciais de Hitler.


Delirante é um adjetivo apropriado para descrever Adolf Hitler. Ainda antes do início da Segunda Guerra Mundial, o Fuhrer alemão incumbiu um tenente da sua confiança de criar o resort turístico ideal para a população da nação nacional-socialista. Nasceu o Complexo de Prora, um resort turístico com mais de 10.000 quartos numa ilha do mar báltico. Porém, com a guerra, nunca chegou a ser totalmente construído. Hoje, 2014, continua envolvido em polêmica, uma vez que já estão em marcha obras para o transformar num resort moderno, conta o jornal norte-americano Washington Post.

O primeiro dilema com este espaço surgiu em 2011, quando foi autorizada a abertura de um hostel para jovens num dos edifícios que faz parte do complexo. Mas agora a situação está ainda mais complicada.

O complexo batizado de Colosso de Prora está a gerar debate na sociedade alemã sobre a mercantilização do espaço contra a “Vergangenheitsbewältigung”, termo alemão para como o país deve lidar com o seu passado negro.

Edifícios com seis andares, todos iguais, ao longo de mais três quilômetros foram construídos antes do início da Segunda Guerra Mundial. Porém, em tempos de guerra o turismo não foi prioridade para Hitler. O espaço foi adaptado num campo de treino e habitação para os soldados alemães.

Hoje, um grupo de investidores está a fazer o que os nazis nunca conseguiram: transformar o local num complexo turístico. Grande parte dos edifícios está a ser reaproveitada e reconstruída. Onde até agora estão edifícios memória do Terceiro Reich, vão aparecer condomínios de luxo, um hotel de cinco estrelas e um spa.

A fachada de alguns dos blocos está a ser alterada, eliminado a natureza austera da arquitetura durante o Terceiro Reich e o seu caráter militar, escreve o Washington Post.

O que está a perturbar a sociedade alemã não é só o aproveitar financeiramente um marco nazi. Alguns argumentam que esta renovação e reconstrução é, de alguma forma, o cumprir das ambições iniciais do governo nacional-socialista.

Na publicidade ao complexo, um dos construtores descreve o projeto original como um “monumento mundialmente famoso” e que nos seus dias foi reconhecido com um feito arquitetônico. Supostamente, o design do complexo foi escolhido pelo próprio Adolf Hitler, conta o Washington Post.

“Estes não são edifícios inofensivos”, afirmou Jürgen Rostock, cofundador do Centro de Documentação de Prora, em declarações ao Washington Post. “O propósito original do Hitler era a construção de [um resort] em preparação da guerra que estava para vir. Esta forma de lidar com este edifício trivializa-o e afirma o regime Nazi”.

Mas ainda existem mais problemas. O centro de documentação de Prora, responsável por explicar o programa Strength Through Joy pode vir a ser mudado relocado para outra localização, na periferia do complexo.

Após a Segunda Guerra Mundial, muitas das estruturas nazi foram preservadas como testamento do regime inumano, ao mesmo tempo que outros foram transformados em escritórios. O estádio de Berlim, construído para os jogos Olímpicos de Hitler em 1936, é hoje a casa do clube de Futebol do Hertha de Berlim. O edifício Detlev-Rohwedder-Haus, a sede do ministério da Aviação de Hermann Göring, alberga agora uma filial do Ministério das Finanças, lembra o jornal norte-americano.

Fonte: Observador (Portugal)
http://observador.pt/2014/12/22/manter-ou-nao-manter-o-resort-turistico-de-hitler-eis-questao/

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Martelo dos Deuses: a Sociedade Thule e o nascimento do Nazismo, de David Luhrssen (livro)

Martelo dos Deuses, de David Luhrssen: a Sociedade Thule e o nascimento do nazismo (Hammer of the Gods. The Thule Society and the Birth of Nazism) (Potomac Books) avalia um elemento pouco analisado do nazismo e faz isso com precisão histórica e revelação perspicaz. A Sociedade Thule era um grupo de ocultismo de Munique com aspirações políticas. Liderada por Rudolf von Sebottendorff, a Sociedade defendia uma variante da Teosofia, com a superioridade racial dos arianos como ideologia central. Para difundir suas ideias esotéricas para as massas, a Thule estabeleceu um partido de trabalhadores alemães antissemitas, eventualmente transformado por Hitler no Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, conhecido como Partido Nazista. Alguns membros da Sociedade Thule, finalmente, receberam cargos importantes no Terceiro Reich.

É dada uma definição clara ao atoleiro moral em relação à máquina de matar que foi o regime nazista em Martelo dos Deuses (Hammer of the Gods). Este livro retrata a fundação invisível para as políticas cruéis e predestinadas, e fala de questões de como o Terceiro Reich foi capaz de convencer e controlar toda a população alemã.

Este é um livro assustador. É educativo, de fato, mas também repleto de exposição delineada e precisa dos mistérios que influenciaram e conduziram os assuntos de uma nação seguidas de forma pedagogicamente insana sob a regra de não apenas um tirano, mas um possesso e capacitado por forças que nenhum de nós quer reconhecer ou enfrentar. Os relatos factuais, documentadas exaustivamente em anotações, lê-se tão bem como um romance consagrado.

Mas não é ficção, apesar que muitos gostariam que tivesse sido, quando traços da Sociedade Thule são trazidos à evidências manifestas dentro de exemplos contemporâneos. "O nazismo tornou-se inevitável na cultura popular", escreve Luhrssen, abordando tudo, desde a obscura ficção de brochura dos filmes mais populares de Hollywood nas últimas décadas como "Os caçadores da Arca Perdida" (Raiders of the Lost Ark). E ele acrescenta: "a Thule continua a ser um elemento da obsessão mundial com o nazismo."

Luhrssen fornece uma atualizada, mesmo corrigida, história do nazismo, e para aqueles de nós que refletem sobre o destino da humanidade, é um documento da uma realidade final horripilante em relação à condição humana. Não estamos seguros em formas que permanecem desprotegidas, não detectadas e que podem ser verificado (e que ainda assim continuam).

Martelo dos Deuses (Hammer of the Gods) é leitura obrigatória para os historiadores e para cada indivíduo que deseja ser plenamente informado sobre um momento desconcertante na história do mundo. Mas também está na lista de leitura para aqueles que sabem que a verdade sobre o nosso futuro não é como pode parecer, e que entendem exatamente o que aconteceu dentro do Terceiro Reich induz maior compreensão de como a nossa própria existência é governada por forças invisíveis em um contínuo e escurecido movimento. O que é edificante é a pesquisa e a revelação do autor. O que não é aquilo que é descoberto e explicado com a mente de um estudioso e o coração de um poeta.

David Luhrssen falará sobre Martelo dos Deuses (Hammer of the Gods) às 19:00 em 11 de maio, em Boswell Book Co. Glen Jeansonne, autor de uma nova biografia sobre Herbert Hoover, que também está no programa.

David Luhrssen é editor do A&E do Shepherd Express e co-autor de "Elvis Presley, rebelde relutante" (Elvis Presley, Reluctant Rebel) e "Tempos de mudança: a vida de Barack Obama" (Changing Times: The Life of Barack Obama).

Texto de Martin Jack Rosenblum

Fonte: Express Milwaukee.com (EUA)
http://expressmilwaukee.com/article-permalink-18607.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação 1: este livro "Martelo dos Deuses" (tradução livre) foi elogiado pelo historiador britânico Nicholas Goodrick-Clarke (de Oxford), que é uma das referências (ou 'A Referência') quando o assunto é "misticismo nazista", tratando o assunto de forma acadêmica e não como o assunto costuma ser tratado em edições sensacionalistas (porque esse tipo assunto "místico" vende), de crendice ou de superstição para preencher vazios de "cabeças" que se impressionam facilmente tentando buscar explicações "sobrenaturais" pra processos humanos/históricos ou que vivem surfando no "pensamento mágico" delirante. Inclusive o texto que eu iria traduzir com uma sinopse do livro continha os elogios do Nicholas Goodrick-Clarke ao livro junto com de outros historiadores mas achei melhor traduzir o texto acima. Há uma resenha de um livro do Goodrick-Clarke no blog colocado pela mesma razão deste post. Quem quiser conferir, o livro foi lançado em Portugal: Raízes Ocultistas do Nazismo - cultos secretos arianos e sua influência na ideologia nazi

Aproveitando a deixa acima pra fazer um comentário que não tem nada a ver com o post (pra não abrir outro post), ao contrário do que "reza" a crença comum (e que eu mesmo já cheguei a levar a sério): as diferenças de escrita entre o tal "português do Brasil" pro "português de Portugal" beiram a insignificância. Até pedi uma vez ao Roberto Muehlenkamp (que escreve com o português de Portugal) pra eu fazer uma revisão no texto pra "corrigir" alguns termos que não são usados no Brasil (a maioria foram de nomes de localidades/pessoas que não costumam ser traduzidos ao pé da letra como em Portugal, mas coisa pouca), mas foi aí que vi a irrelevância da coisa (da tal "diferença") e passei a prestar atenção nesse mito que difundem dos "dois idiomas", que de fato possui diferença grande na forma de falar (na fonética), pronúncia, mas não na escrita. A pronúncia do português do Brasil está mais próximo do som do galego da Galiza/Galícia (Espanha) que é a "mãe" do próprio idioma português que da pronúncia do português de Portugal, descobri isso por acaso por curiosidade em saber como falam os galegos. Curiosamente a forma de falar de Portugal se distanciou da Galiza e do Brasil, é curiosamente mais fácil, eu como brasileiro, entender um galego falando (e às vezes até um espanhol com pronúncia boa) do que um português com sotaque carregado, mas mesmo assim não há dois "idiomas" como a extrema-direita em Portugal dissemina por pirraça e idiotice.

Observação 2: voltando ao post, eu não publicaria textos de divulgação de livros com conteúdo capenga e duvidoso (não-científicos) sobre esses assuntos, se por acaso sair foi engano nunca por intenção, e há vários "livros" que se enquadrariam fácil neste termo de livro não-científico/histórico (aqueles que falam sobre a "fuga de Hitler" do Bunker dele pra viver na Patagônia, francamente...), pois os considero no mesmo patamar dos livros "revis" (literatura de quinta e ficção/fantasia, muitas distorções, fontes ausentes etc). Uma das razões pra eu publicar dois links com livros acadêmicos sobre o tema "ocultismo nazi no Terceiro Reich" é porque vez ou outra aparecia algum "iluminado" na comunidade de segunda guerra citando o assunto, e ao invés de prestar atenção ao que o pessoal mais lúcido comentava sugerindo leitura crítica disso etc, esse pessoal se apegava de forma emocional, com unhas e dentes, a leituras cheias de fábulas, crendices e coisas desse tipo e ficavam irritados com os comentários tentando equiparar livros de fantasia com livros de História, o que não é aceitável, como se o local fosse destinado a ficar discutindo baboseira de ficção/fantasia.

É um direito de cada um, só que... tanto a comunidade como o blog aborda os assuntos de forma científica, então assuntos "mágicos" (de superstição) são tratados aqui como devem ser tratados a luz da ciência, como superstição e crendice, nada além disso, não adianta ninguém chorar ou espernear, é assim e pronto. Irrita muito ver gente tentando equiparar livros sérios acadêmicos (como os mencionados) com livros de ficção/fantasia, auto-ajuda e de fábulas/crendices (de ocultismo e essas baboseiras, que até podem ser bons roteiros pra filme, eu até gosto, mas são só isso, ficção/fantasia). Se essa minha opinião (que não é só minha) por acaso irritar a quem for crédulo, paciência, os comentários tentando impôr, a mim e a mais gente, crendices e superstições também irritam tão ou muito mais do que a irritação eventual que eu possa provocar e só estou fazendo o comentário por achar que discussão sobre equiparar coisas que não são equiparáveis (livros de História com livros de conteúdo duvidoso) já passou da conta, até porque eu não tento impôr minhas crenças mas já vi muita gente tentando impôr suas "crenças/superstições".

Observação 3: considero esse assunto "misticismo nazi" ou "ocultismo nazi", um assunto marginal na questão do nazismo/fascismo, considero outras questões mais relevantes nos temas nazismo e fascismo, mas era difícil falar isso com a quantidade de crédulos que circulavam no Orkut falando dessas baboseiras como "verdade absoluta" e que ficavam com raiva quando a gente contestava os comentários toscos que eles colocavam. Embora a questão do "misticismo" tenha existido (tanto que os livros citados acima tratam disso), a maior parte dos nazistas da época eram cristãos ou se denominavam cristãos (religião majoritária na Alemanha, com todas as suas denominações/divisões), assunto já tratado em outros posts e que pode ser mais discutido adiante caso alguém se interesse, embora essas crenças racistas esotéricas culturalmente se misturavam às crenças religiosas da época.

Sei que muito religioso não gosta quando se toca no assunto, mas uma forma de não se chocar com isso é admitindo o que se passou na época em relação a essas igrejas e não querer negar o que se passou, não tratar a coisa como "questão de fé" e sim de assunto histórico.

Só finalizando, digo que o assunto do "misticismo" é marginal pois não é um elemento central desses sistemas, pode ser central na estética e em grupos mais radicais (principalmente os liderados por Himmler que era chegado nessas baboseiras), mas não é algo central na economia e política. Só que como o cinema fantasia muito em torno desse tema (Hellboy, Caçadores da Arca Perdida, Indiana Jones e a Última Cruzada) e a superstição é uma praga universal, então acho necessário o post com os livros desses historiadores pois são o que há de mais acurado no assunto no mundo, fora alguma outra publicação em alemão que eu já vi mas não lembro agora do nome (que não é um idioma tão acessível à maioria, ao contrário do inglês e espanhol). Há livros em português do Nicholas Goodrick-Clarke.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Ciganos em Auschwitz - Parte 1 (Holocausto)

Para a Alemanha nazista os ciganos tornaram-se um dilema racista. Os ciganos eram arianos, mas na mente nazista havia contradições entre o que eles consideravam como superioridade da raça ariana e a imagem dos ciganos...*

Em uma conferência realizada em Berlim em 30 de janeiro de 1940, foi tomada a decisão de expulsar 30 mil ciganos da Alemanha para os territórios da Polônia ocupada ...

Os relatórios dos SS Einsatzgruppen [forças-tarefa especiais] que operavam nos territórios ocupados da União Soviética mencionam o assassinato de milhares de ciganos, juntamente com o extermínio em massa dos judeus nessas áreas.

As deportações e execuções dos ciganos veio sob autoridade de Himmler. Em 16 de dezembro de 1942, Himmler emitiu uma ordem para enviar todos os ciganos para os campos de concentração, com algumas exceções ...

Os ciganos deportados foram enviados a Auschwitz-Birkenau, onde um acampamento especial cigano foi erguido. Mais de 20.000 ciganos da Alemanha e de outras partes da Europa foram enviados para este acampamento, e a maioria deles foram gaseados lá ...

Wiernik descreveu a chegada do maior grupo cigano trazido para Treblinka, na primavera de 1943:
"Um dia, enquanto eu estava trabalhando perto do portão, vi os alemães e ucranianos fazerem preparativos especiais ... enquanto isso, o portão se abriu e cerca de 1.000 ciganos foram trazidos (este foi o terceiro transporte de ciganos). Cerca de 200 deles eram homens, e o resto mulheres e crianças ... todos os ciganos foram levados para as câmaras de gás e depois cremados"
Ciganos do Governo Geral [Polônia] que não foram enviados para Auschwitz e para os campos da Operação Reinhard foram baleados no local pela polícia local ou gendarms. Na região oriental do distrito de Cracóvia, nos municípios de Sanok, Jaslo, e Rzeszow, cerca de 1.000 ciganos foram mortos.

Extraído de. Yitzhak Arad, BELZEC, SOBIBOR, TREBLINKA - the Operation Reinhard Death Camps Indiana University Press -, 1987.,--páginas150-153--

De acordo com o Institut Fuer Zeitgeschicthe, em Munique, pelo menos 4.000 ciganos foram assassinados por gás em Auschwitz-Birkenau. (Ver contagem das vítimas em Holocaust Almanac)

Fonte: Site da Universidade Fordham/Nizkor*
http://www.fordham.edu/halsall/mod/gypsy-holo.asp
Tradução: Roberto Lucena

*Observação: este texto foi publicado originalmente em grupos de discussão da Usenet ou da Undernet (mais provável que tenha sido no da Usenet no grupo alt.revisionism), nos primórdios da internet. O site Nizkor apresenta uma cópia do texto da discussão original de 1993, ou seja, o texto tem quase 20 anos na rede:
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/camps/auschwitz/ftp.py?camps/auschwitz//gypsies.01

O interessante é ver no verbete da Wikipedia que a Undernet tombou devido as famosas Flame Wars provocadas por trolls, mesma causa do declínio do Orkut (do Google) e de várias redes/listas de discussão.

Ver também:
Ciganos em Auschwitz - Parte 2
Ciganos em Auschwitz - Parte 3

terça-feira, 22 de julho de 2008

Berlim 1936: A máscara do nazismo

Histórico. Com a Europa mergulhada nos fascismos, Hitler entendeu os Jogos Olímpicos como o momento ideal para a afirmação da superioridade ariana. Mas, na pista, um afro-americano chamado Jesse Owens deu ao mundo a maior prova da igualdade racial

Alemanha dominou no ponto de vista desportivo, mas sofreu alguns 'amargos de boca'

Os cavalos negros da guerra marchavam já imparáveis no vigor do nazismo, a três anos da eclosão da II Guerra Mundial. Adolf Hitler já não era um mero cabo do exército bávaro, mas o chanceler eleito, autoproclamado Führer. O Mein Kampf, livro que escrevera anos antes na prisão, era agora a "bíblia" do nazismo. E, um ano antes dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, a temível Gestapo, sob a chefia do general Himmler, braço-direito de Adolf Hitler, já espalhava o terror na Alemanha, no estrito cumprimento das Leis de Nuremberga, nas quais se impunha a xenofobia e o anti-semitismo como leis da nação. Com o "acto" de Nuremberga, os judeus perdiam por decreto todos e quaisquer direitos de cidadania. Adivinhava-se o que aí vinha. Ou talvez não. Em Portugal, havia Estado Novo, ainda não havia PIDE, mas havia partido único, Fátima, Família e Futebol.

Em Espanha eclodia a guerra civil, que deixaria para trás mais de um milhão de mortos, quando em 1939 se encontrou o caminho da paz. Em 1935, morre Fernando Pessoa, o escritor português com maior número de heterónimos. A Europa caminhava para dias tempestuosos. No continente americano, Hollywood florescia. Os Estados Unidos rompiam com a crise em que estavam mergulhados e impunham-se de novo ao mundo como potência, ainda que a antiga URSS gozasse de grande popularidade, depois da "Noite das Facas Longas" no Partido Nacional Socialista, dois antes destas olimpíadas de mascarada.

Os Jogos Olímpicos de Berlim contaram com todo o apoio do Führer em pessoa, que estava disposto a investir mundos e fundos ilimitados. Foi isso mesmo que aconteceu - como nunca tinha acontecido na organização de uns Jogos Olímpicos - para que essas Olimpíadas se transformassem numa demonstração do poderio "magnânimo" do nazismo, assim como da "superioridade" da raça ariana através das suas qualidades atléticas.

Para mais, a preparação dos atletas germânicos foi sem igual. Hitler mandou preparar instalações especiais de treino, na Floresta Negra, para os participantes olímpicos apurarem a sua forma, não se lhes exigindo menos que a vitória.

É claro que a Alemanha havia de vencer a maior parte das medalhas. Mas a verdade é que Hitler teve de engolir um "sapo" rapidíssimo, que se recusou a fazer a saudação nazi. O norte-americano Jesse Owens havia de deitar por terra todas as teses do nacional-socialismo e a teoria da superioridade do homem ariano. Jesse Owens era afro-americano e arrancou o ouro, brilhando no pódio do nazismo, para desespero de Adolf Hitler e perante uma Alemanha boquiaberta. Apesar de a máquina de propaganda nazista ter feito de tudo para que os feitos de Jesse Owens passassem ao lado dos Jogos Olímpicos, a verdade é que estes ficaram na História exactamente por isso. Jesse Owens foi o príncipe negro dos jogos de 1936, conquistando quatro medalhas de ouro e estabelecendo nada menos que quatro recordes olímpicos no atletismo - modalidade rainha dos Jogos Olímpicos - para acentuar a humilhação que impôs ao nazismo e ao seu mestre de obra.

Na História das Olimpíadas fica também a inauguração de três modalidades, que ainda hoje são olímpicas: o basquetebol, o andebol (com onze jogadores) e a canoagem. E foi também em Berlim que se fez a primeira transmissão televisiva dos Jogos Olímpicos, embora ainda a título experimental.

Portanto, nem tudo foi mau nesses Jogos, que em imponência não tiveram igual, numa homenagem ao complexo de superioridade que vigorava na Alemanha. Não foi apenas Jesse Owens a disferir contrariedade ao Führer. Na faustosa cerimónia de abertura, toda a comitiva britânica fez questão de manifestar a sua oposição ao nazismo, num prelúdio do que havia de ditar a História próxima. Perante um mar de suásticas, todos os atletas, assim como os restantes elementos da delegação britânica, se recusaram terminantemente a fazer a saudação, não se mostrando sequer perturbados pela "indisposição" que Adolf Hitler fez questão de demonstrar.

Luís Pedro Cabral
Fonte: Diário de Notícias(Portugal, 19.07.2008)
http://dn.sapo.pt/2008/07/19/dnsport/berlim_1936_a_mascara_nazismo.html

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Teoria Ariana de Hitler é desmentida pela ciência

Uma nova pesquisa científica provou que a teoria da pureza racial escandinava, sustentada por Hitler e os nazistas, é totalmente falsa. O conceito de um único tipo genético escandinavo, de uma raça que andou pela Dinamarca e se estabeleceu lá, isolada do mundo, é uma falácia.

O estudo mostrou que corpos de cemitérios de 2 mil anos deidade no leste da Dinamarca continham tanta variação genética em seus restos quanto a quantia esperada a ser encontrada em indivíduos dos dias atuais. Os achados, analisados pela Universidade de Copenhagen, destroem o conceito de "superioridade" da raça nórdica.

Hitler usou pesquisas pseudo-científicas para apoiar suas idéias de que os europeus do norte poderiam formar uma raça impecável, que comandariam a sociedade humana. A teoria racista, que coloca a raça "superior" no topo da hierarquia humana e judeus em baixo, desenvolveu papel central no Holocausto.

Línea Melchior, que analisou o DNA de diversos corpos, tem certeza que dinamarqueses sempre mantiveram contato com pessoas do mundo todo. Em um dos terrenos, inclusive, foram encontrados restos de um homem que pareceu ter origem árabe. Longe de demonstrar isolamento e "genética pura", o estudo provou que os dinamarqueses se misturaram com pessoas do mundo todo.

Fonte: Redação SRZD (Brasil, 15.06.2008)
http://www.sidneyrezende.com/noticia/13604
Texto original: Telegraph (Reino Unido, 16.06.2008)
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/denmark/2124105/Adolf-Hitler's-Aryan-theory-rubbished-by-science.html (link acima expirou)
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/denmark/2124105/Adolf-Hitlers-Aryan-theory-rubbished-by-science.html

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