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quinta-feira, 21 de maio de 2015

O negro catalão que os nazis utilizaram como criado em Mauthausen

Carlos Greykey, catalão de pele negra,
foi utilizado como criado pelos
nazis (Wikimedia commons)
Chamava-se José Carlos Grey-Molay (ainda que anos depois mudou seu nome para Carlos Greykey) nasceu em 4 de julho de 1913 e vivia em Barcelona junto de seus pais, de origem africana e procedentes da Ilha de Fernando Poo, uma das colônias que a Espanha teve na África.

Isto lhe conferia ter todos os documentos como qualquer outro espanhol, já que os pais não eram considerados imigrantes, e o único fato que o diferenciava das demais crianças na escola, vizinhos ou companheiros (quando teve idade suficiente para trabalhar) foi sua cor de pele. Por demais, era um jovem esperto, inteligente, com um grande engenho e capacidade para aprender idiomas, dominando entre eles o alemão.

Também tinha um marcado compromisso político (catalanista, republicano e de esquerda), daí até o estouro da Guerra Civil (que o impediu de terminar seus estudos de medicina) decidisse combater no grupo republicano e ao finalizar o conflito bélico preferir se exilar e não viver sob a ditadura de Franco.

Mas sua chegada à França veio acompanhada do início de outra guerra: a II Guerra Mundial, pela qual seu espírito aventureiro o levou a se alistar no exército galo para combater a invasão nazi, mas em junho de 1941 foi preso e levado para o campo de concentração de Mauthausen.

Tudo parecia indicar que o final de Carlos seria trágico e que pouco tardaria para ir até as duchas com as quais os nazis gaseavam negros, ciganos, homossexuais e judeus, mas não foi assim, já que sua aberta forma de ser o levou a saber se relacionar com os oficiais de campo, que viam nele a alguém divertido, engenhoso e muito diferente do resto da gente de pele negra.

Por ter nacionalidade espanhola e ser republicano, classificaram-no como preso político, motivo pelo qual ele levava cosido em suas roupas um triângulo invertido de cor vermelha com o número 5124.

O domínio do idioma alemão, assim como o inglês e francês, fizeram que vissem em Carlos Greykey a alguém que podia ser muito útil como servente e camareiro dos oficiais, que se divertiam e davam umas boas risadas depois das engenhosas ideias que lhes dizia de forma divertida.

Em certa ocasião, um oficial que havia bebido demais e havia ficado embriagado, perguntou-lhe porque era negro, ao que Carlos respondeu "é que minha mãe esqueceu de me lavar". Como estas, eram muitas das respostas que dava, ganhando a simpatia e confiança dos alemães. Sabia que se não fizesse isso seria enviado para fazer trabalhos forçados e, muito possivelmente, acabaria gaseado. Preferia ser humilhado, que o tratassem como um "macaco" de feira e se comportar como tal a não ter um trágico final.

E sua tática lhe serviu para salvar a pele e sair dali são e salvo quando terminou a guerra. Depois de sua libertação de Mauthausen, sabia que sua condição de republicano lhe impediria de poder voltar à Barcelona, motivo pelo qual decidiu se instalar e viver na França, onde contraiu matrimônio, formou uma família e passou o resto de seus dias, até seu falecimento em 1982 aos 71 anos.

Fonte: Yahoo! (em espanhol), usando como referências o blog Holocausto en español e o El País
https://es.noticias.yahoo.com/blogs/cuaderno-historias/negro-catalan-nazis-utilizaron-como-criado-mauthausen-143406201.html
Título original: El negro catalán que los nazis utilizaron como criado en Mauthausen
Tradução: Roberto Lucena

Observação: há textos melhores que esse, mais completos (com mais informações), tanto que o texto do Yahoo! foi feito em cima do texto contido no blog "Holocausto en español". Caso alguém se interesse, fica a dica.
É curioso ver a diferença do padrão do Yahoo! em outro idioma pro entulho que é esse portal em português. Colocam de forma proposital (baixam o nível).

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Juan Eslava Galán ressuscita o relato da Guerra Civil - A mula

Baseada em fatos reais
Juan Eslava Galán ressuscita o relato da Guerra Civil

EUROPA PRESS

Juan Eslava Galán (Matias Costa)
O escritor Juan Eslava Galán acaba de publicar 'A mula', uma novela baseada em fatos da Guerra Civil na zona de Andújar (Jaén) que foi narrada por seu pai, onde este interveio como soldado muleiro. O protagonista do se torna herói, ainda que não pretendesse ser um.

Conversas com seu pai

Juan Eslava Galán assinalou que para elaborar seu livro manteve três longas conversas com seu pai, que foi muleiro durante a Guerra Civil, com o objetivo de obter dados. Também visitou a zona onde se produzem os fatos, a fim de ser o mais exato possível.

O vocabulário da novela é o mesmo dos muleiros e dos militares que lutaram na Guerra. Em alguns momentos se incluem notas no rodapé da página para esclarecer as palavras. Seu pai primeiro esteve no lado republicano, mas logo, devido a suas convicções familiares, passou para o lado dos nacionalistas. Algumas dessas circunstâncias são narradas na novela.

Contudo, alguns fatos que são narrados em 'A mula' são fictícios. Este é o caso da paixão do cabo Castro, o protagonista, e de uma jovem falangista. O pai de Juan ESlava Galán, que ainda é vivo, fez-lhe notar esta circunstância.

As convicções não coincidem

No julgamento de Eslava Galán, a maior parte dos espanhois que lutaram na Guerra Civil o fizeram de um lado ou em outro, em muitos casos, não por suas convicções senão porque foi o lugar físico que lhes tocou e muitos não estavam convencidos daquilo pelo que lutavam.

Um dos personagens da novela, o Alférez Estrella, manifesta ao cabo Castro que embora estivesse no lado nacional, suas convicções são as do lado republicano e, por ele, estaria desejando trocar de grupo. Além disso, Eslava Galán reconheceu que muitas pessoas lutavam entre si em um determinado momento e logo se esqueciam das diferenças da vida comum, pois uns e outros, ao término da Guerra Civil, passaram mal.

Último livro sobre nossa contenda

Anteriormente, Eslava Galán publicara 'Senhorita'('Señorita') uma novela que, tanto como 'A mula', também trata da Guerra Civil. Juan Eslava Galán señaló que não pensa seguir publicando livros sobre nossa contenda, ainda que entenda que pode ser um bom material de inspiração.

A intenção de Juan Eslava Galán é de preparar um livro sobre Jorge Manrique, um personagem que considera muito interessante em seu tempo, para o qual está investigando e obtendo dados. Não obstante, ainda não é seguro que este seja o tema de sua próxima obra.

Fonte: Elmundo.es(Espanha)
http://www.elmundo.es/elmundolibro/2003/04/15/protagonistas/1050417861.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Uma história da guerra civil que não agradará a ninguém
Juan Eslava Galán publica 'Uma história da guerra civil que não vai agradar a ninguém'
Pío Moa, o David Irving espanhol
Uma guerra de extermínio

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

"Ninguém pode imaginar o que é um campo de concentração"

David Moyano: no lenço, as cores da bandeira republicana espanhola

David Moyano lutou contra Franco na Guerra Civil Espanhola, combateu os nazistas com o exército francês na Segunda Guerra e sobreviveu a um campo de concentração alemão. Aos 86 anos, ele recebeu DW-WORLD.DE em Bruxelas.

"Vou usar um distintivo para que você saiba que sou espanhol", dissera David Moyano ao telefone, quando combinávamos um ponto de encontro na estação de trem de Bruxelas. "Não se preocupe, você vai logo ver que sou espanhol", assegurou, quando tentei obter mais detalhes.

Eis que me encontrava na abarrotada estação de Bruxelas, tentando identificar um espanhol no meio da massa de gente. O que distingue um espanhol dos outros? Nos campos de concentração nazistas, era o triângulo azul com um "S" que portavam sobre a camisa do uniforme. "S" de "Spanier", "espanhol" em alemão.

O espanhol ainda tem o lenço azul com o 'S' que indicava sua nacionalidade no campo de concentração de Mauthausen

No campo de concentração de Mauthausen, na Áustria, onde Moyano ficou entre 1941 e 1945, o emblema salvou sua vida. Acusado de um furto tão insignificante quanto improvável, ele foi espancado pelos SS alemães até ser dado por morto. Inconsciente, foi largado às portas do crematório, um corpo na neve. Alguém viu o "S" em seu uniforme e, percebendo que estava vivo, avisou outros espanhóis. Os compatriotas o resgataram.

David Moyano sobreviveu a Mauthausen. Eu o encontrei, andando pela estação central de Bruxelas, com um lenço no pescoço. Era um triângulo azul com um "S" estampado. Reconheci-o imediatamente.

"Não sou um desertor"

Hoje, David Moyano tem 86 anos e vive em um residência belga para idosos que lhe custa toda a sua pensão, comenta indignado. Da França, ele ainda recebe uma pequena renda pelos tempos que lutou ao lado do Exército na Segunda Guerra Mundial, "e esta é toda para mim". Ele tira do bolso um saquinho de plástico para mostrar seu documento de ex-combatente e sua identidade de deportado político, herança de sua militância durante a Guerra Civil Espanhola. "Não preciso de passaporte. Quando vou à França, mostro isso e basta. Não me fazem mais perguntas", diz, orgulhoso.

Moyano sempre carrega seu documento francês de ex-combatente e deportado político

Moyano e os demais republicanos espanhóis são curiosos heróis que perderam todas as batalhas. Eles foram derrotados na Guerra Civil. Na Segunda Guerra Mundial, ainda que os melhores tenham vencido, a permanência do ditador Francisco Franco no poder fez o gosto de fracasso prevalecer. A Espanha de Franco os despiu de sua nacionalidade por terem lutado contra as tropas nacionalistas. E, no entanto, a convicção de haver arriscado a vida pelo justo e o correto lhes concede a aura de quem triunfou em cada batalha.

"Eu tinha acabado de completar 14 anos quando me alistei no exército republicano. Foi na 118ª bateria, e nos mandaram para o Campo da Bota." Lá deveriam estar forças da União Soviética, que havia se engajado no apoio às tropas republicanas no combate às forças nacionalistas de Franco. Mas os soviéticos já haviam recuado, e a bateria de Moyano foi substituí-los. Os aviões que vinham bombardeá-los tampouco eram espanhóis: eram alemães ou italianos, aliados da guerra de Franco.

A Guerra Civil Espanhola durou três anos, de 1936 a 1939. O apoio que o chamado "Movimiento Nacional" obteve dos regimes fascistas da Alemanha e da Itália era o dobro do apoio oferecido aos republicanos pela União Soviética. Este não foi o único nem o principal motivo, mas os republicanos não puderam defender suas posições. "Eu tinha um tio no governo, e um dia ele me disse que naquela noite eles fugiriam, que eu não deveria voltar à bateria porque os falangistas estavam chegando. Mas eu não sou um desertor."

Da pátria perdida para a luta contra Hitler

O encontro com ex-companheiros na luta republicana foi registrado nesta foto

Mas a guerra estava perdida. David Moyano acabou atravessando a fronteira e se refugiando na França, como tantos outros. "Na França nos disseram: 'os que quiserem juntar-se a Franco, fiquem à direita; os que quiserem ficar aqui, à esquerda.' Os que foram para a direita foram mandados para a Espanha. Já nós ficamos, com a República."

A Segunda Guerra Mundial acabara de começar e o exército francês pediu voluntários para lutar contra a Alemanha nazista. Moyano e seus companheiros ingressaram no Batalhão Alpino. "Fomos para a montanha construir uma estrada militar e tínhamos que ir até a fronteira com a Itália. Ha ha ha! Aquilo era o máximo! Éramos todos jovens e valia a pena fazer tudo aquilo."

Após a queda da Linha Maginot, os nazistas ocuparam a França

"Mas então nos mandaram para a Linha Maginot." A Linha Maginot deveria proteger as fronteiras francesas, mas quando foi quebrada pelos nazistas, em 1940, o caminho para Paris ficou escancarado. "Estávamos rodeados. Nosso capitão disse 'salve-se quem puder', e nós, que éramos só algumas dúzias, fugimos para a montanha. Acho que eu me tremia dos pés à cabeça de medo dos alemães."

Na Linha Maginot, Moyano e seus companheiros foram aprisionados. No dia 25 de janeiro de 1941, eles foram deportados para o campo de concentração Mauthausen, perto da cidade de Linz, na Áustria. "Eu me lembro bem, porque o dia que nos fizeram ir à estação e disseram que não tínhamos que levar nada porque nos dariam roupas no lugar para onde iríamos, era meu aniversário."

Em casa, o passado do campo de concentração nas paredes

David Moyano entre as recordações do passado que guarda em casa

"Rendezvous", escreveu Moyano no calendário, marcando o dia para o qual nosso encontro estava marcado. O "rendezvous" era eu. Custa-lhe lembrar as coisas atuais; a memória, ele a guarda para não se esquecer do passado. No presente, Moyano vive com sua mulher num asilo, num pequeno apartamento. Um banheiro, uma pequena cozinha, uma sala e um quarto de dormir. A porta que dá para o corredor está sempre aberta, e por lá circula sem cessar um exército de enfermeiras.

A casa de Moyano parece um museu de Mauthausen. Em cada canto há uma foto, um recorte de jornal, um livro sobre o campo de concentração. Ele passou quatro anos em Mauthausen, que ficou conhecido como "o campo dos espanhóis". Sete mil de seus compatriotas foram deportados para lá. Mais de 4.300 morreram. "Ninguém pode imaginar o que é isso", diz, e conta histórias que mostram o quão dramáticos podem se tornar o frio e a fome.

A escada da morte: os prisioneiros carregavam blocos de pedra por seus 186 degraus e 31 metros

Os nazistas escolheram aquela região para construir Mauthausen, conta ele, porque "a pedra lá era boa". Os presos extraíam granito de uma pedreira, e a rocha era então usada para recobrir ruas de Viena e de cidades alemãs. Com os blocos de pedra nas costas, eles subiam a escada da morte: 31 metros e 186 degraus. Os SS se divertiam ao fazê-los cair.

"Eu sobrevivi ao campo porque era jovem, e porque não passei todo aquele tempo na pedreira", diz Moyano. Quando as tropas norte-americanas libertaram Mauthausen, em 5 de maio de 1945, ele já não trabalhava no campo. Alguns presos eram enviados a fábricas vizinhas para servir de mão-de-obra gratuita.

"Estou morto para a Espanha"

Heinrich Himmler, comandante-chefe das SS, em visita a Mauthausen

"Depois da guerra, fomos obrigados a ir para a França", lembra Moyano. "Lá nos trataram bem, fomos atendidos por médicos. Eu tinha perdido alguns dentes nas derrotas e tinha sido operado de uma úlcera em Mauthausen. O médico me perguntou onde eu tinha sido operado, e eu respondi que no campo de concentração. Ele já não disse mais nada."

O médico certamente terá pensado no mau hábito nazista de fazer experimentos médicos com presos no campo de concentração. Mauthausen ficou especialmente conhecido por esta prática.

Moyano guarda livros e fotos sobre Mauthausen; na foto, um preso sendo levado para a execução

Depois da Segunda Guerra Mundial, a França se encarregou da maior parte das vítimas espanholas do nazismo. A Espanha, que não havia feito nada para impedir o envio de seus cidadãos para campos nazistas, aprovou, em 1951, um decreto que os despia definitivamente de sua nacionalidade espanhola. Os afetados foram todos aqueles que haviam sido deportados, ou os que haviam lutado com os exércitos aliados na Segunda Guerra e as chamadas "crianças da guerra" – os menores que a República havia mandado para fora do país durante a Guerra Civil Espanhola para que permanecessem a salvo.

Recuperado de seus anos no campo de concentração, Moyano se mudou para a Bélgica, onde enfim teve tempo para aprender a ler e a escrever. Hoje, é eletricista aposentado e cidadão belga. Na Espanha, as leis que anularam sua nacionalidade permanecem vigentes. "Da Espanha, não espero nada", diz. "Estou morto para eles."

Luna Bolívar Manaut (jc)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3649025,00.html

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