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quarta-feira, 15 de julho de 2015

O fotógrafo do horror. A história de Francisco Boix e as fotos roubadas das SS em Mauthausen

O fotógrafo do horror. A história de Francisco Boix e as fotos roubadas das SS em Mauthausen
Benito Bermejo

Prólogo de Javier Cercas. RBA. Barcelona, 2015. 267 páginas.

RAFAEL NUÑEZ FLORENCIO | 22/05/2015 | Edição impressa


As relações entre memória e história deram lugar nos últimos tempos a inflamados debates em muitos países. Se a controvérsia toma centro da chamada "memória histórica" - um oximoro, segundo reputados historiadores - as posições se fazem mais irredutíveis. Na Espanha a polêmica se concentra na repressão da guerra civil e no pós-guerra, mas não tem sido só uma discussão teórica ou acadêmica como mostram as disposições políticas adotadas sob o governo Zapatero e os diversos movimentos cidadãos que reivindicam a exumação de fossas comuns. Nesse ambiente pode se entender o impacto - não isento de ressentimentos e desaprovações - de uma obra inclassificável como "O impostor" (El impostor)), de Javier Cercas, que só de uma perspectiva modesta pode qualificá-la como novela.

Os leitores que conhecem o livro de Cercas sabem que de certo modo o personagem principal é o próprio autor, que se planta um desafio que, envolto em formas literárias, nada tem a ver com a ficção e sim muito com a maneira de recuperar o passado, real e conflitivo, que ainda gravita sobre nosso presente e nosso futuro. Do ponto de vista narrativo o protagonista do livro de Cercas é Enric Marco, mas este não tinha importância alguma nesse contexto senão fora porque foi desmascarado como impostor por alguém que toma a iniciativa de encaixar as peças do passado buscando algo tão sensível mas tão desacreditado nesses "tempos líquidos" como a verdade. Esse alguém é um modesto historiador chamado Benito Bermejo (Salamanca, 1963) que, paradoxo do mundo que vivemos e das promoções publicitárias, adquire por ele uma inesperada relevância. Até tal ponto que se reedita agora - com prólogo de Cercas - um velho livro seu de 2002, que havia passado inadvertido em seu momento, sobre um dos espanhóis de Mauthausen, Francisco Boix (1920-1951).

Se bem é verdade que a editora aposta agora no livro de Bermejo e os meios lhe prestam a atenção que antes negaram, não é menos certo - u deve ficar claro num exame crítico - que o volume que nos ocupa é um trabalho excelente que mostra sem veladuras o horror do campo de concentração no qual foram parar (e, numa porcentagem elevadíssima, a morrer) a maioria dos espanhóis que haviam atravessado os Pirineus depois da guerra civil. Para dissecar este aterrador panorama o autor põe seu foco de atenção nas andanças de Boix, de maneira que o volume pode ser lido ao mesmo tempo como uma biografia da curta trajetória deste fotógrafo catalão, um testemunho das personalidades que sofreram os reclusos (não só os espanhóis) e uma denúncia detalhada da crueldade da maquinária nazi.

Ainda que a fotografia pareça ser mero completo documental, neste caso e por tudo o que foi dito não deve se deixar num segundo plano, pois constitui o material mesmo que está na origem e no núcleo do testemunho histórico. Além disso, frente a outras fontes documentais, a fotografia (sobretudo quando falamos de milhares de fotos, como aqui sucede) nos mostra uma realidade que dificilmente se presta a interpretações interessadas e muito menos a banalizações. O horror em estado puro que se mostra nestas páginas está desnudo, como os esqueletos viventes, os olhos aterrorizados, os corpos exânimes empilhados para a incineração. Ainda que pareça incrível, a totalidade dos testemunhos da vida (o conceito é aqui um sarcasmo) no campo procede dos próprios guardas nazistas. Os carrascos, longe de esconder as serviçais realizaram milhares de instantâneas dos prisioneiros, das atrocidades e das mortes. O que fez Boix, pondo em risco seu status de privilegiado em Mauthausen, foi subtrair parte dessas fotografias (cerca de 20.000, ainda que se conservam muito menos) para que servissem de acusação. De fato, em Foix declarou nos processos contra os criminosos nazis de Nuremberg e Dachau por esses testemunhos. Parte dessas manifestações aparecem no livro.

Quando chegou a derrota alemã, Boix passou de ladrão de fotografias alheias a repórter gráfico da libertação. Com as fotos salvas clandestinamente da destruição e as tomadas por ele mesmo, documenta-se este magnífico volume, exemplo palpável de como é possível conjugar harmonicamente a recuperação da memória com o rigor historiográfico.

Fonte: El Cultural (Espanha)
http://www.elcultural.com/revista/letras/El-fotografo-del-horror-La-historia-de-Francisco-Boix-y-las-fotos-robadas-a-las-SS-en-Mauthausen/36502
Título original: El fotógrafo del horror. La historia de Francisco Boix y las fotos robadas a las SS en Mauthausen
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O negro catalão que os nazis utilizaram como criado em Mauthausen

Carlos Greykey, catalão de pele negra,
foi utilizado como criado pelos
nazis (Wikimedia commons)
Chamava-se José Carlos Grey-Molay (ainda que anos depois mudou seu nome para Carlos Greykey) nasceu em 4 de julho de 1913 e vivia em Barcelona junto de seus pais, de origem africana e procedentes da Ilha de Fernando Poo, uma das colônias que a Espanha teve na África.

Isto lhe conferia ter todos os documentos como qualquer outro espanhol, já que os pais não eram considerados imigrantes, e o único fato que o diferenciava das demais crianças na escola, vizinhos ou companheiros (quando teve idade suficiente para trabalhar) foi sua cor de pele. Por demais, era um jovem esperto, inteligente, com um grande engenho e capacidade para aprender idiomas, dominando entre eles o alemão.

Também tinha um marcado compromisso político (catalanista, republicano e de esquerda), daí até o estouro da Guerra Civil (que o impediu de terminar seus estudos de medicina) decidisse combater no grupo republicano e ao finalizar o conflito bélico preferir se exilar e não viver sob a ditadura de Franco.

Mas sua chegada à França veio acompanhada do início de outra guerra: a II Guerra Mundial, pela qual seu espírito aventureiro o levou a se alistar no exército galo para combater a invasão nazi, mas em junho de 1941 foi preso e levado para o campo de concentração de Mauthausen.

Tudo parecia indicar que o final de Carlos seria trágico e que pouco tardaria para ir até as duchas com as quais os nazis gaseavam negros, ciganos, homossexuais e judeus, mas não foi assim, já que sua aberta forma de ser o levou a saber se relacionar com os oficiais de campo, que viam nele a alguém divertido, engenhoso e muito diferente do resto da gente de pele negra.

Por ter nacionalidade espanhola e ser republicano, classificaram-no como preso político, motivo pelo qual ele levava cosido em suas roupas um triângulo invertido de cor vermelha com o número 5124.

O domínio do idioma alemão, assim como o inglês e francês, fizeram que vissem em Carlos Greykey a alguém que podia ser muito útil como servente e camareiro dos oficiais, que se divertiam e davam umas boas risadas depois das engenhosas ideias que lhes dizia de forma divertida.

Em certa ocasião, um oficial que havia bebido demais e havia ficado embriagado, perguntou-lhe porque era negro, ao que Carlos respondeu "é que minha mãe esqueceu de me lavar". Como estas, eram muitas das respostas que dava, ganhando a simpatia e confiança dos alemães. Sabia que se não fizesse isso seria enviado para fazer trabalhos forçados e, muito possivelmente, acabaria gaseado. Preferia ser humilhado, que o tratassem como um "macaco" de feira e se comportar como tal a não ter um trágico final.

E sua tática lhe serviu para salvar a pele e sair dali são e salvo quando terminou a guerra. Depois de sua libertação de Mauthausen, sabia que sua condição de republicano lhe impediria de poder voltar à Barcelona, motivo pelo qual decidiu se instalar e viver na França, onde contraiu matrimônio, formou uma família e passou o resto de seus dias, até seu falecimento em 1982 aos 71 anos.

Fonte: Yahoo! (em espanhol), usando como referências o blog Holocausto en español e o El País
https://es.noticias.yahoo.com/blogs/cuaderno-historias/negro-catalan-nazis-utilizaron-como-criado-mauthausen-143406201.html
Título original: El negro catalán que los nazis utilizaron como criado en Mauthausen
Tradução: Roberto Lucena

Observação: há textos melhores que esse, mais completos (com mais informações), tanto que o texto do Yahoo! foi feito em cima do texto contido no blog "Holocausto en español". Caso alguém se interesse, fica a dica.
É curioso ver a diferença do padrão do Yahoo! em outro idioma pro entulho que é esse portal em português. Colocam de forma proposital (baixam o nível).

domingo, 3 de maio de 2015

Os empresários de Hitler e o negócio dos campos de concentração

Se houve um grupo de cúmplices do nazismo que se "safou" de ter má imagem com o fim da Segunda Guerra Mundial, esse foi o dos empresários. Homens de negócios alemães, austríacos, franceses e também estadunidenses que se enriqueceram sob o capitalismo fascista que foi imposto pelo III Reich. Nomes tão conhecidos como Bayer, Ford, Standard Oil ou Siemens colaboram ativamente com Hitler e não tiveram dúvidas em utilizar como trabalhadores escravos a prisioneiros judeus, soviéticos ou espanhóis dos campos de concentração.
Prisioneiros de Mauthausen transportam pedras para a construção do campo
O adjetivo "fanático" é o que mais se tem utilizado na história para definir a Hitler e ao amplo grupo de suplentes que dirigiram o destino da Alemanha nazi. Contudo, há outro qualificativo muito menos utilizado e que se torna imprescindível para explicar sua estratégia política e militar. Hitler e o resto de sua camarilha eram grandes "homens de negócios".

Em suas mentes pesavam mais o dinheiro e as questões econômicas que seu desejo de exterminar judeus. Seu modelo de capitalismo fascista, pese a estar sob uma forte intervenção estatal, tornou-se muito atrativo para os empresários alemães e também para importantes magnatas estrangeiros, principalmente estadunidenses.

A SS criou suas próprias empresas para se beneficiar do trabalho escravo dos milhões de prisioneiros capturados pelo exército alemão. A DEST e a DAW foram as duas mais destacadas. O objetivo de Himmler era que, graças a essas companhias, a SS pode jogar um papel predominante na economia alemã, inclusive no cenário de paz que se abriria depois da guerra.

Fazer negócio a qualquer preço

As empresas de armamento, automotivas, produtos farmacêuticos e tecnologia não podiam contar com os jovens alemães para trabalhar em suas fábricas porque esses se encontravam nas frentes de batalha. Os prisioneiros dos campos e os trabalhadores forçados se converteram na melhor opção e também na mais barata. O negócio dos campos era redondo. A DEST administrava os trabalhadores, a SS oferecia a segurança e as empresas aportavam o resto. Na repartição dos papéis todos ganhavam. Todos menos os deportados, que morreriam aos milhares nas pedreiras e nas fábricas controladas pelo empório da SS e pelas empresas privadas alemães e norte-americanas.
O selo "Hollerith" indica que os dados deste prisioneiro espanhol foi processado pela IBM
A lista de firmas alemãs que colaboraram e se beneficiaram das políticas bélicas e genocidas do regime nazi é interminável. Desde gigantes da automotivas até pequenas empresas familiares e inclusive particulares que utilizaram prisioneiros dos campos de concentração para cultivar suas terras ou trabalhar em suas granjas. Essas são algumas das mais destacadas:

IG Farben - Este consórcio foi o que melhor exprimiu todas as opções de negócio que facilitava o regime nazi. Fabricou combustível e um tipo de borracha sintética chamada "Buna" para o exército alemão, fornecendo os produtos químicos para o extermínio em massa dos "inimigos" do Reich e se aproveitando do trabalho escravo de milhares de prisioneiros dos campos. Três empresas químicas e farmacêuticas constituíam o coração da IG Farben: Bayer, Basf e a Hoechst.

Audi - Empregou em sua cadeia de produção 20.000 trabalhadores forçados.

Daimler - Utilizou em grande escala trabalhadores forçados para a fabricação de automóveis.

Bosch - Empregou cerca de 20.000 trabalhadores forçados.

Volkswagen - Colocou em grande parte de sua produção trabalhadores forçados.

Krupp (atualmente Thyssenkrupp) - Krupp teve a honraria de ser a empresa modelo do nacional-socialismo e empregou mais de 75.000 trabalhadores forçados.

Deutsche Bank - o historiador Harold James analisou o período nazi em 1995. James rotulou a atitude do banco naquela época como "complacente".

Lufthansa - autorizou o historiador Lutz Budraß a realizar um estudo sobre sua participação na criação da Luftwaffe. Os dados oficiais do estudo não foram publicados ainda. A pergunta permanece no ar.

Bertelsmann - Encarregou o historiador Saul Friedländer um estudo que foi apresentado em 2002. A gigante dos meios de comunicação se aproveitou do regime nazi de forma massiva.

Quandt (proprietária da BMW) - Segundo a investigação levada a cabo pelo historiador Joachim Scholtyseck, Günther Quandt enriqueceu no período compreendido entre 1933 e 1945. A empresa do magnata utilizou 50.000 trabalhadores escravos.

Oetker - Abriu seus arquivos em 2007 depois da morte do patriarca, Rudolf August Oetker. O historiador Deren Erkenntnisse revelou que Rudolf A. havia pertencido à Waffen-SS e colaborado ativamente com o regime nazi.

Adidas e Siemens - Permitiram que se investigue seus arquivos. Sabe-se que, ambas empresas, empregaram milhares de trabalhadores escravos.

Cúmplices em Detroit e Nova Iorque

Historiadores e economistas coincidem na opinião de que para Hitler seria impossível se lançar à conquista de Europa sem o apoio de quatro grandes multinacionais estadunidenses: Standard Oil, General Motors, Ford e IBM.

General Motors. Fabricou milhares de caminhões militares em suas fábricas da Alemanha. Seu modelo batizado com o nome de Blitz, Relâmpago, serviu a Hitler para entrar com suas tropas na Áustria. A admiração do Führer pela tecnologia de Opel e seu agradecimento em contar com sua colaboração lhe levou a conceder a Grande Cruz da Ordem da Águia Alemã a seu diretor executivo, James Money. A GM utilizou prisioneiros dos campos de trabalhadores escravos.

Ford. O fundador da companhia, Henry Ford, já era conhecido em fins dos anos 20 por seu profundo antissemitismo. Hitler admirava profundamente a Ford, a ponto de chegar a dizer que era sua inspiração. Esse amor era mútuo e permitiu que a empresa automobilística estadunidense se convertesse no segundo produtor de caminhões para o exército alemão, superado unicamente pela Opel-General Motors. Henry Ford também foi distinguido por Hitler com a Grande Cruz da Ordem da Águia Alemã em 1938. Depois da invasão da França, a empresa estadunidense continuou trabalhando para o Reich e se negou a fabricar motores para os aviões da Royal Air Force britânica. Igual à GM, a Ford se aproveitou do trabalho escravo de milhares de deportados.

Standard Oil Proporcionou a Hitler o combustível e a borracha necessária para empreender a invasão da Europa. O governo nazi, consciente de que as importações de petróleo se reduziriam com o estouro da guerra, decidiu fabricar combustível sintético. O complexo processo de elaboração não havia sido possível sem a aliança entre o consórcio alemão IG Farben e a Standard Oil norte-americana. Os navios cisternas da Standard forneceram combustível a barcos alemães em Tenerife e outros portos da Espanha franquista.

IBM. Seu "mérito" foi dotar o regime nazi de seus ainda primitivos, mas eficazes, sistemas informáticos. Suas máquinas, que funcionavam com cartões perfurados, precursores dos ordenadores, resultaram em uma enorme utilidade para o governo alemão. Himmler era consciente das possibilidades que lhe oferecia a tecnologia da IBM para organizar, distribuir, explorar e eliminar milhões de judeus e prisioneiros de guerra que caíram em suas mãos durante a guerra. Realizaram censos da comunidade judaica que serviram para identificar e eliminar com maior facilidade seus membros. Na maioria dos campos de concentração se abriu um "departamento Hollerith" (nome da filial alemã da IBM) na qual se realizaram fichas de cada deportado, incluindo sua profissão, sua raça ou religião.

Escravos espanhóis

O grosso dos republicanos que passaram pelos campos de concentração trabalhou e morreu pelas ordens da DEST, a empresa de propriedade da SS. As pedreiras de Mauthausen e Gusen, assim como o moinho de pedra localizado junto a esta última, cobraram o maior número de vidas entre os espanhóis. O empório dirigidos pelos homens de Himmler também controlava a maior parte dos trabalhos que os republicanos realizaram em subcampos como Schlier-Redl-Zipf, Bretstein ou Vöcklabruck. Não obstante, houve algumas empresas privadas alemãs e austríacas que, especialmente depois de 1942, exploraram os republicanos que ficaram vivos.

A maior delas foi a Steyr-Daimler-Puch que empregou internos de Mauthausen, desde 1941, para trabalhos de construção em sua fábrica de Steyr. Em 1942 negociou com os altos mandatários do regime a utilização de prisioneiros no processo de fabricação de armamento e veículos para o exército. Fruto dessas conversas, Himmler aprovou a construção de um subcampo, dependente de Mauthausen, que dotasse a fábrica de operários. Meio milhão de espanhóis se viram obrigados a trabalhar em condições inumanas. Uns dez por cento deles morreu no próprio subcampo, assassinados violentamente ou por uma mortal combinação de fome, esgotamento e frio. A empresa também dirigiu fábricas nos túneis de Ebensee e Gusen, pelos quais passaram um menor número de republicanos.

A outra grande companhia armamentista que se aproveitou dos trabalhadores de Mauthausen foi a Masserschmit, que instalou uma de suas maiores plantas nos túneis da Bergkristall, próxima de Gusen. Foram poucos os espanhóis que trabalharam nela fabricando fuselagens e outras peças para diversos modelos de aviões de combate. Contudo, como ocorreu com a fábrica da Steyr-Daimler-Puch de Ebensee, dezenas de republicanos pereceram junto a milhares de soviéticos, poloneses, judeus e tchecos na perfuração das galerias subterrâneas em que se alojam suas fábricas.
Prisioneiras escravas do campo de concentração de Ravensbrück
As prisioneiras espanholas deportadas para Ravensbrück trabalharam em diversas empresas que fabricavam armamento e peças para veículos e aviões do Exército alemão. A mais conhecida delas foi a Siemens und Halske, que em 1942 construiu uma fábrica junto ao campo de produção de componentes eletrônicos destinados aos mísseis V1 e V2. A princípio, as mulheres seguiam dormindo em Ravensbrück e se deslocavam cada dia até a fábrica. Em fins de 1944, para poupar tempo, a Siemens construiu uns barracões na própria fábrica nos quais alojou suas trabalhadoras forçadas. As condições de vida eram igualmente duras como no campo central e capatazes se encarregavam de que as mulheres débeis e enfermas fossem devolvidas a Ravensbrück onde, geralmente, acabavam sendo executadas.

Junto a estas grandes companhias, houve também pequenas empresas que se aproveitaram do trabalho escravo dos prisioneiros. Em Mauthausen destacou, por cima do resto, a empresa local de materiais de construção Poschacher. Seu dono, Anton Poschacher, pagou à DEST para ter a sua disposição um grupo de reclusos. No total, em seu pequeno canteiro trabalharam 42 espanhóis menores de 18 anos. A empresa tirou um grande benefício do emprego desses jovens, pelo que pagava à DEST menos de 50% do salário que havia cobrado um trabalhador austríaco. Depois da guerra, seus responsáveis não foram perseguidos. A empresa não só conseguiu manter suas posses, como ainda ampliou e hoje em dia é a proprietária da maior parte dos terrenos que morreram 120.000 prisioneiros de Mauthausen, entre eles, 5.000 espanhóis.

Este artigo recolhe estratos do livro "Los últimos españoles de Mauthausen" (Os últimos espanhóis de Mauthausen) da Editora B. Nele são citados devidamente as diversas fontes consultadas.

Fonte: El Diario (Espanha)
http://www.eldiario.es/el-holocausto-espa%C3%B1ol/hitler-concentracion-deportado-mauthausen-gusen-ravensbruck-franco_6_369273071.html
Título original: Los empresarios de Hitler y el negocio de los campos de concentración
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Testemunhas de Jeová são homenageadas no memorial do campo de concentração de Gusen

SELTERS, Alemanha — No domingo, 13 de abril de 2014, uma placa comemorativa foi inaugurada no memorial do campo de concentração de Gusen. Ela foi feita em homenagem às 450 Testemunhas de Jeová que foram aprisionadas pelos nazistas nos campos de concentração de Mauthausen e Gusen. Mais de 130 convidados estiveram presentes para a cerimônia.

Placa comemorativa inaugurada durante cerimônia pública no memorial do campo de concentração de Gusen, em 13 de abril de 2014.

Quando as Testemunhas de Jeová chegaram ao campo de concentração de Mauthausen, o comandante as ameaçou, dizendo: “Nenhum Estudante da Bíblia sairá daqui vivo.” Martin Poetzinger sobreviveu a nove anos de prisão em Dachau, Mauthausen e Gusen. Mais tarde, ele também serviu como membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová em Brooklyn, Nova York. Ele falou o seguinte sobre o tempo que passou em Mauthausen: “A Gestapo [polícia secreta alemã] tentou de todas as maneiras fazer com que renunciássemos à nossa fé.”

Maio de 1945: campo de concentração de Gusen. Martin Poetzinger (sentado na primeira fileira, o segundo da esquerda para direita) com outros 23 sobreviventes, logo após serem libertos.

Algumas das Testemunhas de Jeová em Mauthausen foram transferidas para o campo secundário em Gusen. O objetivo principal de Gusen era ser um “campo de extermínio”, onde assassinatos intencionais e planejados eram parte do dia a dia. Para manter forte a fé, as Testemunhas de Jeová se reuniam à noite em pequenos grupos para conversar sobre textos bíblicos que lembravam de cor. Certa vez, elas conseguiram uma Bíblia, que foi repartida para que cada Testemunha de Jeová pudesse ter algumas páginas para ler e compartilhar. Elas usavam o pouco tempo livre que tinham para se esconder embaixo da cama e ler.

As Testemunhas de Jeová também falavam discretamente da mensagem da Bíblia com outros. Elas estudaram a Bíblia com cinco prisioneiros poloneses que foram batizados secretamente em um tanque de madeira improvisado. Uma Testemunha de Jeová chamada Franz Desch falou da mensagem da Bíblia a um oficial nazista, que acabou sendo batizado mais tarde.

O porta-voz das Testemunhas de Jeová na Áustria, Wolfram Slupina, diz: “Ficamos felizes por se lembrarem da fé e da coragem que as Testemunhas de Jeová mostraram nos campos de Mauthausen e Gusen. A determinação delas em tratar a todos com bondade e empatia cristã foi uma vitória sobre o mal que merece ser celebrada e imitada.”

Contato(s) para a mídia:

Internacional: J. R. Brown, Departamento de Informações ao Público, tel. +1 718 560 5000

Áustria: Wolfram Slupina, tel. +49 6483 41 3110
21 DE JULHO DE 2014 | ÁUSTRIA

Fonte: jw.org (site das TJ); link indicado por M. Jorge Caetano no FB
http://www.jw.org/pt/noticias/noticias-2/por-regiao/austria/campos-de-concentracao-mauthausen-gusen/

terça-feira, 14 de abril de 2009

Eliminação de Corpos em Auschwitz - O fim da negação do Holocausto - Parte 8 - Consumo de combustível

(todos os grifos abaixo são do tradutor)

Conforme referido anteriormente, os fornos de Auschwitz eram abastecidos a coque. Mattogno alegou que não havia entrega de coque suficiente em Auschwitz para cremar o números de corpos de prisioneiros não registrados que foram assassinados em Auschwitz de abril a outubro de 1943, quando os quatro novos crematórios estavam operando. Antes do meio de março de 1943 apenas o Krema I no campo principal estava operacional. Existem apenas registros de entrega de coque para o período compreendido de 16 de fevereiro de 1942 a outubro de 1943. De abril de 1943 a outubro de 1943, foram entregues 497 toneladas de coque. [140] As informações sobre as entregas de coque foram compiladas pelo pesquisador francês Jean-Claude Pressac, que recolheu as informações através registradas durante o período que esteve no Auschwitz State Museum. Ele analisou os registros de 240 entregas de coque e em seguida compilou estes montantes em valores mensais para o período em que existem registros. Pode ser notado que não sabemos se esses registros estão completos para este período.

Considerando o fato de que não existem registros para o período de meados de fevereiro de 1942 e após outubro de 1943, e nós sabemos que os fornos foram operados durante este período, então é muito possível que os registros em discussão estejam incompletos. Tal incompletude pode ser inferida através da comparação das entregas de coque para as quais existem registros mensais com o número de óbitos dos prisioneiros registrados. Em julho de 1942 temos registro de entrega de 16,5 toneladas de coque. Neste mês foram registradas 4.124 mortes de prisioneiros. No entanto, para março de 1942, há registros de entrega de 39 toneladas de coque, mas apenas 2.397 óbitos registrados de prisioneiros.[141] Em setembro de 1942 havia cerca de 9.000 óbitos de prisioneiros registrados e registros de entrega de 52 toneladas de coque. No mês seguinte, teve cerca de 5.900 mortes de prisioneiros registrados, e o registro de entrega de apenas 15 toneladas de coque. O segundo mais alto mês de entrega de coque foi em maio de 1943, quando 95 toneladas de coque foram entregues. No entanto, os óbitos de prisioneiros registrados foram os mais baixos. O número exato não pode ser isolado porque os livros de óbito de 14 de abril à 4 de junho mostram 2.967 mortes. Sendo assim, é seguro assumir que houve cerca de 2.000 mortes de prisioneiros registrados. Portanto o segundo mês mais alto de entrega de coque também corresponde ao mês com o menor número de óbitos de prisioneiros registrados.[142]

A questão sobre a forma como o coque foi efetivamente entregue em Auschwitz seria resolvido se existissem algum número central emitido pelo Bauleitung para o ano em questão. O negador do Holocausto, David Irving, publicou em 1993 o que ele pretendia que fosse tais números para os anos de 1940 a 1944. Estes números foram alegadamente encontrados nos Arquivos de Auschwitz em Moscou.[143] Entretanto, nenhum número de arquivo foi citado para estes números. Nas três tentativas por parte deste autor para que o Sr.Irving identificasse a fonte desses números nenhum foi bem sucedida. Mattogno escreve que ele não foi capaz de encontrar qualquer suporte aos números de Irving nos Arquivos de Auschwitz em Moscou.[144]

Mattogno examinou o registro dos prisioneiros cremados em Gusen no período de 31 de outubro a 12 de novembro de 1941. Estes números são uma conta síncrona que foi mantida pelos prisioneiros sobre os detalhes da cremação. Fotocópias foram enviadas pelo autor para o Mauthausen Memorial Museu.[145] Mattogno afirmou que os números mostram em 13 dias que , no período de 31 de outubro a 12 de novembro, 677 corpos foram cremados usando 20.700kg de coque, ou 30,5kg por corpo. 1 kg equivale a 2,2 libras. Mattogno argumentou que as 497 toneladas de coque que foram entregues em Auschwitz de abril à outubro de 1943 não foram suficientes para cremar o número de prisioneiros registrados e não-registrados que foram assassinados. 1.000kg equivalem a 1 tonelada. Ele analisou [o livro] Auschwitz Chronicle de Danuta Czech, que mostra que cerca de 103.000 prisioneiros não-registrados desapareceram após a sua chegada à Auschwitz neste período. Ele acrescentou a este número 21.580 prisioneiros registrados que morreram no campo. Ele afirmou que não havia coque suficiente para cremar os corpos. Estes corpos foram cremados com o coque que estava disponível, isso significa que cada cadáver foi cremado utilizando 4,1kg de coque.[146] Por conseguinte, ele alegou que os 103.000 prisioneiros não-registrados não poderiam ter sido mortos no campo durante este período. Quando ele dividiu as 21.500 mortes de prisioneiros registrados pela quantidade de coque consumida de abril de 1943 a outubro de 1943, ele chegou a 22,7kg por corpo.[147] Mattogno não explicou o que aconteceu com os 103.000 prisioneiros não-registrados.

O arquivo de Gusen invocado por Mattogno mostra a quantidade de coque na forma de carrinho de mão utilizado para transporte aos fornos.[148] No topo da página é citado “Karren Koks”, ou carrinho de mão de coque. Abaixo do título é citado que um carrinho de mão é igual a 60kg. No entanto, esse peso é citado somente para o período de 26 de setembro a 15 de outubro de 1941. Durante este período 203 corpos foram cremados usando 153 carrinhos de mão. Isso significa que 9.180kg (60kg vezes 153 carrinhos de mão) incineraram 203 corpos, resultando em 45kg por corpo. O número 9.180 aparece no backup deste arquivo onde os 153 carrinhos de mão são multiplicados por 60kg. Existe algum motivo, no entanto, para se suspeitar que cada carrinho de mão não continha 60kg de coque, mas este era um número genérico baseado na [capacidade] máxima teórica que cada entrega poderia ser feita. Em outras palavras, 60kg foi atribuído a cada carrinho de mão, independente do peso real. Por exemplo, em 3 de outubro, 11 corpos foram incinerados usando 13 carrinhos de mão. Os 60kg por carrinho de mão teriam levado a 71kg por corpo. No entanto, em 15 de outubro, 33 corpos foram incinerados com 16 carrinhos de mão, ou 29kg por corpo.[149]

Os fornos sofreram uma ampla revisão de 16 a 22 de outubro. O período que Mattogno estava analisando, 31 de outubro a 12 de novembro, mostra 345 carrinhos de mão foram usados para incinerar 677 cadáveres. No entanto, ao contrário da informação prévia para a reparação dos fornos, que acompanha um peso para cada carrinho de mão, e um peso total para todos os 153 carrinhos de mão, não existe informação sobre o peso dos carrinhos de mão após a revisão. Mattogno apenas presumiu que cada carrinho de mão tinha 60kg [de coque], sem informar aos seus leitores que poderia haver problemas para essa suposição e que até mesmo o peso inicial de 60kg por carrinho de mão para os fornos pré-revisão pode estar errada.

No entanto, o arquivo de Gusen fornece algumas informações muito valiosas. Ele mostra que a forma mais eficiente dos fornos queimar combustível é que mais corpos poderiam ser queimados mais rápido com isso. Assim, para o período anterior à revisão dos fornos, apenas 203 corpos poderiam ser queimados em um período de 10 dias, de 15 a 26 de outubro, usando 153 carrinhos de mão de coque. No entanto, durante um período contínuo de 13 dias após a conclusão da revisão, 677 corpos foram queimados com 365 carrinhos de mão de coque. Foi durante este período que 94 corpos foram queimados em duas muflas em 7 de novembro, usando 45 carrinhos de mão de coque e 72 corpos cremados no dia seguinte usando 35 carrinhos de mão. As implicações deste fato para os 46 fornos dos quatro novos crematórios de Auschwitz são importantes porque os números mostram que o uso mais eficiente do combustível queima os corpos mais rapidamente.

Mattogno admitiu que a mufla tripla dos Kremas II e III e que as oito muflas triplas dos Kremas IV e V, poderiam queimar corpos com mais eficiência de combustível do que a mufla dupla do Krema I, mas não admite que os corpos levados para lá queimavam mais depressa. Ele afirmou que a mufla tripla poderia queimar um corpo com um terço a menos de coque necessário para uma mufla dupla. Ele calculou que seria necessário de 16,7 a 20,3kg por corpo. As oito muflas poderiam queimar cerca de metade do combustível necessário nas muflas duplas, ou 12,5 a 15,25kg de coque por corpo.[150] Mattogno fez alguns cálculos sobre a razão deste fenômeno sem mencionar que os seus números são vagamente baseados nos dados fornecidos ao Bauleitung pela Topf.

A única informação disponível sobre a eficiência de combustível para a mufla tripla e as oito foi fornecida ao Bauleitung pela Topf. Em 17 de março de 1943 o Bauleitung emitiu uma nota com o título: “Estimativa do uso de coque para Krema II KL [campo de concentração] de acordo com os dados [Angaben] à partir da Topf e Filhos [fabricante dos fornos] de 11 de março de 1943”. A nota passa a descrever os dados em termos de acendimento. Krema II e III necessários 10 acendimentos para uso de 350kg por hora. No entanto o número poderia ser reduzido em 1/3, se eles fossem usados em base contínua, o que significa que cada Krema economizava 2.800kg de coque em um período de 12 horas. Nas oito muflas a economia de combustível foram ainda maiores. Quando os fornos trabalhavam continuamente iriam queimar 1.120kg de coque em um período de 12 horas. Isso significa que todos os quatro Krema poderiam funcionar com 7.840kg de coque em um período de 12 horas (2.800kg cada para os Kremas II e III e 1.120kg cada para os Kremas IV e V). O Bauleitung conclui: “Estas são as maiores conquistas. Não é possível dar um número para a sua utilização por ano, porque não sabemos quantas horas ou dias serão necessários para aquecê-lo.”[151]

Mattogno representou esta informação no sentido de que “os Krema II e III poderiam ter queimado cerca de 240 corpos pos dia, e o Krema IV e V cerca de 130, totalizando 370 corpos. A estimativa indicada na nota, indica que, assim, uma média diária de 370 macilentos cadáveres adultos eram esperados para a cremação.”[152] Isto é simplesmente uma falsa caracterização dos dados. Não há menção ao número de corpos que poderiam ser queimados. O principal fato é que os dados de combustível fornecidos pela Topf, são baseados no número de horas trabalhadas, independentemente da quantidade de corpos queimados. Este fato causou muitos problemas para Mattogno, porque, como referido anteriormente, as estimativas sobre o número de corpos que poderiam ser queimados em um período de 10 horas de um forno variaram de elevados 36, e o engenheiro Prüfer da Topf estimou 800 corpos nas 5 muflas triplas em um período de 24 horas. O verdadeiro dilema para Mattogno está nos valores do Bauleitung apresentados em 28 de junho de 1943, discutidos anteriormente, 4.416 corpos poderiam ser cremados em um período de 24 horas nos 4 novos Kremas, ou 2.208 em um período de 12 horas. Quando os 7.840kg de coque utilizados em um período de 12 horas são divididos pelos 2.208 corpos que poderiam ser cremados no mesmo período de 12 horas, a média gira em torno de 3,5kg por corpo. Mattogno nunca abordou esta questão diretamente. No entanto, ele estava consciente do problema que os valores do bauleitung poderiam representar. Para lidar com este problema ele recorreu a uma tática comum aos negadores. Ele anunciou que “este documento é uma fabricação.”[153] Assim, qualquer documento que os negadores não conseguem explicar, como resultado dizem que é uma fraude e conspiração. Mattogno não disse como “fabricaram” este relatório.

A questão é saber se os crematórios eram capazes de queimar um corpo em 15 minutos, a quantidade de tempo sugerido no relatório do Bauleitung de 28 de junho de 1943. Conforme referido anteriormente, um forno não poderia incinerar um corpo em 15 minutos, com qualquer tecnologia conhecida do período, mas um quadro diferente emerge quando múltiplos corpos queimando são considerados. A informação de Dachau, citada anteriormente, menciona a queima de 7 a 9 corpos simultaneamente em um período de duas horas. No Castelo de Hartheim, na Áustria, onde havia uma câmara de gás, um trabalhador do crematório testemunhou após a guerra que de dois a oito corpos poderiam ser cremados simultaneamente.[154]

A prática de cremações múltiplas era bem conhecida fora da Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial. Em Osaka, Japão, nos anos de 1880 haviam 20 fornos crematórios e cada um deles poderia incinerar três corpos simultaneamente em um período de quatro horas. [155] Em 1911, um forno japonês foi apresentado no Salão Internacional de Higuena em Dresden, Alemanha, que poderia queimar cinco corpos simultaneamente em um período de 2 horas a 2 ½ horas. [156] Esta história reforça a viabilidade da capacidade de cremação simultânea de corpos e avanços tecnológicos 30 anos depois na Alemanha. O fato de os fornos não terem sido construídos com o propósito de múltiplas cremações não é determinante para se saber se na prática foi realmente realizada. O melhor exemplo é nos Estados Unidos, onde a prática é ilegal. Houve um grande escândalo no ínicio de 1980 envolvendo necrotérios no sul da Califórnia. Empregados de uma das instalações testemunharam que era prática comum cremar vários corpos juntos. Um embalsamador afirmou que viu cinco corpos em uma retorta (um forno), enquanto outro viu sete ou oito pessoas que foram cremadas simultaneamente. O fundador de uma das primeiras empresas de cremação dos Estados Unidos declarou que a o resultado da queima de vários corpos simultaneamente “uniformemente as cinzas saem muito escuras.” [157] Curiosamente, negadores criticam frequentemente as testemunhas que descrevem que uma fumaça negra saía do crematório. Se queimando produziu cinza preta pode-se perfeitamente bem termos fumaça preta.

Houve uma grande quantidade de testemunhos sobre a prática de múltiplas cremações em Auschwitz. Alter Feinsilber, um Sonderkommando – que extraía os cadáveres das câmaras de gás para serem cremados – afirmou que cinco corpos “queimavam mais rapidamente”. [158] O guarda da SS Pery Broad escreveu que quatro ou cinco corpos poderiam ser colocados em cada um dos fornos dos Kremas II e III. [159] O Sonderkommando Filip Müller afirmou que três ou quatro poderiam ser incinerados de uma vez. [160] O Sonderkommando Szlama Dragon testemunhou que três corpos foram incinerados de uma vez. [161] Dois prisioneiros que fugiram em abril de 1944, cujo relatório foi baseado em informações recebidas à partir dos Sonderkommandos, afirmaram que três corpos poderiam ser cremados de uma vez. [162] Mieczyslaw Morawa, um trabalhador do crematório, testemunhou que testes realizados antes no crematório de Birkenau mostraram que três corpos poderiam ser cremados simultaneamente em um período de 40 minutos em cada um dos 15 fornos do Krema II. Ele afirmou que estes testes foram realizados com um cronômetro pela SS. [163]

Mattogno estava consciente de que os testemunhos sobre as cremações múltiplas iria lhe causar problemas em fazer seu argumento sobre o coque. Ele argumentou que tal procedimento não produzia benefícios, tanto no tempo de cremação de um corpo ou na economia de combustível. Assim ele alegou que múltiplas cremações simplesmente tem duas vezes mais tempo para cremar dois corpos simultaneamente e exigem duas vezes mais combustível. Seu argumento foi baseado nas informações do forno de mufla dupla de Gusen. Ele afirmou que se houvesse múltiplas cremações que teriam ocorrido em Gusen em 8 de novembro de 1941, seria o dia em que 72 corpos foram cremados. [164] Retornando à seção anterior do presente estudo em que Mattogno alega que em 8 de novembro demorou 24 horas e 30 minutos para se cremar 72 corpos, mas que o tempo real ficou entre 16 e 17 horas. Na verdade, a informação de Gusen de 7 de novembro mostra que 94 corpos foram cremados em 19 horas e 45 minutos, ou cerca de 25 minutos por corpo, esta informação teria sido mais atraente para o argumento do que ele estava tentando fazer. Entretanto, ele não se mostrou disposto a admitir que um corpo pode ser cremado em 25 minutos, sob quaisquer circunstâncias.

O problema com o argumento de Mattogno é que podemos estar bastante certos de que não havia múltiplas cremações nesses dias. Um relatório de engenharia de 7 e 8 de novembro mostra que estes fornos trabalharam em cada dia durante 4 horas, com 4 horas de trabalho no dia 6 de novembro e mais 8 horas no dia 9 de novembro. Estes dados significam que aconteceram reparos nos fornos no mesmo dia em que estavam cremando corpos. [165] Nestas circunstâncias, é altamente improvável que múltiplas cremações tenham ocorrido. Mattogno também examinou este arquivo, mas não foi capaz de encontrar qualquer prova de múltiplas cremações. Conforme referido na seção anterior do presente estudo (ver discussão na nota 135), a estimativa de Prüfer de 53 corpos por mufla em 24 horas é uma taxa dentro da faixa dos 47 corpos cremados por mufla em 7 de novembro em um período de 19 horas e 45 minutos. Como foi referido, esta taxa foi mais provavelmente alcançada através da introdução de um corpo em uma mufla antes do corpo anterior ter sido totalmente consumido, o que não é o mesmo que múltiplas cremações. Essa possibilidade parece ter sido prevista nas instruções da Topf para os fornos de Auschwitz, conforme discutido anteriormente. (Ver discussão na nota 108).

O relato mais completo sobre o funcionamento desses fornos foi dado pelo Sonderkommando Henryk Tauber em seu depoimento de maio de 1945. Auschwitz foi libertado em janeiro de 1945. É o documento contemporâneo mais recente. Tauber começou a trabalhar no Krema I em fevereiro de 1943 mas eventualmente foi movido para os Kremas II e III. Ele também trabalhou no Krema V. Mattogno nunca abordou o testemunho de Tauber. Tauber afirmou que era comum cremar simultaneamente cinco corpos no forno. Ele também afirmou que demorava cerca de uma hora e meia para incinerar cinco corpos simultaneamente. [166] Esse tempo não é irreal. Lembrando que foi anteriormente citado um forno japonês que poderia cremar simultaneamente cinco corpos em um período de 2 horas a 2 ½ horas em 1911.

Tauber também notou que, sob condições adequadas, foi possível cremar oito corpos simultaneamente em um forno. Ele menciona o caso dos oito corpos emaciados. Ele também afirma quando crianças iriam ser cremadas, o Sonderkommando cremava os corpos de cinco ou seis crianças com dois adultos. [167] Ele ainda descreveu como os corpos das crianças foram colocados no forno para evitar a queda para as cinzas. [168]

Tauber também aborda a questão do combustível na queima dos corpos. Seu testemunho é importante a este respeito, porque ele mostra que era um problema e que as autoridades tinham desenvolvidos métodos para lidar com ele. Ele explica:
Como já disse, havia cinco fornos no Krema II, cada um com três muflas para cremar os corpos e duas lareiras aquecidas a coque. Assim o fogo ia para os dois lados das muflas, em seguida, aquecia a central, de onde eram levados os gases de combustão ao forno, entre as duas lareiras. Graças a esta combinação, o processo de incineração de corpos no lado das muflas diferia da mufla central. Os corpos de...as pessoas perdiam gordura e [a gordura] queimava rapidamente nas muflas laterais e lentamente na central. Inversamente os corpos das pessoas que eram gaseadas na chegada, não eram desperdiçadas, queimavam na mufla central. Durante a incineração destes corpos, o coque era inicialmente utilizado apenas para acender o fogo da fornalha, para que os corpos gordos queimassem por inciativa própria, graças à combustão da gordura corporal. [169]
A explicação de Tauber para a utilização da gordura corporal como fonte de combustível foi enfatizada em qualquer outra parte do seu testemunho. Assim, logo de início, ele mencionou que “[o] processo de incineração era acelerado pela combustão da gordura humana, assim, produzia mais calor.” Este método foi utilizado nos Krema II e III. Mais tarde, ele mencionou que, quando uma gordura corporal “era carregada no fogo quente, a gordura imediatamente fluía para as cinzas, onde pegava fogo e iniciava a combustão do corpo.” [170]

O uso da gordura das vítimas obesas como combustível era algo que exigiria conhecimento em primeira mão. Tauber era um sapateiro e não teria uma posição a esse respeito se realmente não tivesse obervado. A questão é saber quão credível é o seu testemunho. O engenheiro alemão Rudolf Jakobskotter, que Mattogno havia citado como uma autoridade em fornos crematórios, escreveu que a gordura corporal produz calor queimando em um forno. [171] Mattogno não aborda diretamente a questão da utilização de gordura corporal nos fornos como fonte de combustível. Ele inicialmente tinha descartado o testemunho sobre a utilização da gordura corporal nas valas de cremação para acelerar o processo de cremação. Entretanto, ele posteriormente retirou a sua primeira objeção escrevendo que “eu descobri que este procedimento pode ser feito para funcionar, se feito de uma determinada maneira...” [172] Tauber também tinha comentado como a gordura corporal foi utilizada nas valas de cremação para acelerar a cremação. [173]

O processo de utilização de gordura corporal em um forno foi também descrito pelo Sonderkommando Filip Müller, que observou que as autoridades tinham encontrado formas de colocar os corpos nos fornos para maximizar a eficiência de combustível:
"No decurso destas experiências, cadáveres eram selecionados de acordo com critérios diferentes e então cremados. Assim os cadáveres de dois Mussulmans [gíria do campo para prisioneiros emaciados], eram cremados junto com os de duas crianças ou os corpos de dois homens bem nutidos juntamente com a de uma mulher emaciada, cada carga, consistia de três, ou às vezes quatro corpos. Os membros destes grupos [homens da SS e visitantes civis do crematório] ficaram especialmente interessados na quantidade de coque necessária para queimar cadáveres de qualquer categoria em particular..."
Posteriormente, todos os cadáveres foram divididos nas quatro categorias acima mencionadas, o critério é a quantidade de coque necessária para reduzí-los a cinzas. Assim foi decretado que os mais econômicos procedimentos de economia de combustível seria cremar os corpos de um homem bem nutrido e de uma mulher emaciada, ou vice-versa, em conjunto com a de uma criança, porque, como os experimentos tinham estabelecidos, nesta combinação, uma vez que tinha pegado fogo, os mortos continuariam a arder sem que mais coque fosse exigido.” [174]

Do mesmo modo, o comandante do campo de Auschwitz, Rudolf Hoess testemunhou em Nuremberg que três corpos eram cremados simultaneamente para que os corpos das pessoas obesas queimassem mais rápido. [175] Ele também mencionou a cremação de três corpos simultaneamente em suas memórias, [176] a precisão deste assunto é tema de um outro estudo aqui no site do THHP.

O depoimento de Tauber e as memórias de Müller foram escritas anos antes de que alguém soubesse que o coque seria um assunto a discutir. Ambos relatos revelam claramente que o combustível foi uma séria consideração na gestão dos crematórios e que as autoridades tinham encontrado formas de lidar com o problema.

Madeira também foi outra fonte de combustível para os fornos. A Topf fez fornos que poderiam ser abastecidos com madeira, mas eles não foram tão eficientes quanto os modelos a coque. [177] Tauber declarou que madeira e palha foram utilizados nos fornos quando o estoque de coque estava baixo. [178] Mattogno localizou registros para entrega de madeira feitos em setembro e outubro de 1943. Ele alegou que a quantidade de madeira entregue foi equivalente a 21,5 toneladas de coque, quase não deu para resolver o problema. [179] Entretanto, Mattogno está suficientemente familiarizado com os arredores do campo de Auschwitz para saber que as autoridades não estavam dependendo de entrega formal de madeira. Fotos da área de Birkenau durante este período onde os crematórios estavam localizados mostram que eram rodeados por uma área bastante arborizada. [180] Na verdade, houve uma abundante oferta de madeira na área envolvida. Era necessário apenas ir, cortar e jogar abaixo. Fotos do Krema III após a liberação mostram as grandes pilhas de madeira cortada no seu exterior. [181] Um relatório sobre a resistência do crematório detalhado, mostra que em agosto de 1944 30 descarregadores de madeira [Holzablader] junto a 870 fogueiros dividiam 2 turnos de doze horas. [182]

Fonte: The Holocaust History Project - http://www.holocaust-history.org/auschwitz/body-disposal/
Tradução: Leo Gott

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sexta-feira, 13 de março de 2009

Eliminação de Corpos em Auschwitz - O fim da negação - Parte 7 - Capacidade de Cremação

A utilização de fornos crematórios parece ter começado em algum momento de 1870. É conhecido à partir de cremações realizadas em 1874 que uma criança de 47 libras poderia ser cremada em 25 minutos, uma mulher de 144 libras em 50 minutos e um homem de 227 libras em 55 minutos[104]. Em 1875 foi relatado que um corpo poderia ser cremado em 50 minutos[105].

Mattogno cita um participante de uma conferência britânica de cremação em 1975 que afirmou que a “barreira térmica”para uma cremação foi de 60 minutos[106]. Ele ignorou o comentário de outro participante da conferência que sugeriu que a maior parte da cremação ocorreu nos primeiros 30 minutos:
Após cerca de meia hora, se o forno tiver chegado até uma temperatura de 1.100°C, ou se é 900°C, existe uma rápida queda de distância, e eu penso que as investigações devam estar envolvidas com os últimos vinte minutos ou então o ciclo de cremação. Neste instante você tem no crematório uma quantidade muito pequena de material do corpo...aproximadamente do tamanho de uma bola de rugby, a cerca de vinte minutos do fim da cremação, e isto é o mais difícil para remover[107].

As instruções do forno duplo da Topf previam que um corpo poderia ser adicionado ao forno durante os últimos vinte minutos e que tinham plena capacidade de cremar os corpos que tinham sido previamente introduzidos:
Assim que os restos dos corpos caíram do chamotte da grelha para a coleta das cinzas abaixo do canal, eles devem ser puxados para frente no sentido da porta de remoção das cinzas, usando o raspador. Aqui eles podem ser deixados por mais vinte minutos para serem totalmente consumidos...Neste meio tempo, outros corpos podem ser introduzidos após outros pelas câmaras[108 ]. (ênfases do autor)
Como veremos posteriormente, existe agora uma forte evidência que que os corpos foram adicionados antes do cadáver ser totalmente incinerado, resultando em um ciclo de 25 minutos para a cremação de cada corpo. (ver discussão na nota de rodapé 136).

Na Alemanha dos anos 1880 era possível cremar um corpo e o caixão que o abrigava em 60 e 75 minutos[109]. O processo de cremação se tornou muito popular na Alemanha nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Em 1926, os jornais de Berlim relataram que 1/5 de todos aqueles que morreram naquela cidade foram cremados[110]. Em 1931 a Alemanha liderava as cremações na Europa. Das 94.978 cremações na Europa neste ano, 59.119 foram na Alemanha. A Alemanha tinha 107 dos 226 crematórios da Europa. Associados de sociedades de cremação alamãs ultrapassaram os de outros países. A Alemanha também teve mais revistas/diários de cremação do que qualquer outro país. Das sete revistas/diárias de cremação na conferência britânica de cremação em 1932, quatro eram alemãs[111]. Nos anos 1930 havia dois principais construtores de fornos na Alemanha. Um destes era a Topf and Sons, anteriormente identificados como os construtores dos fornos de Auschwitz. (grifos dos tradutor)

Um dos problemas quando se discutem questões dos crematórios de Auschwitz é que a taxa de utilização destes fornos para eliminação de corpos é sem precedentes na história da humanidade. Para colocar isto em algum tipo de perspectiva, no estado da Califórnia, com 20 milhões de pessoas, em 1982 teve 58.000 cremações[112]. No entanto, em Auschwitz, que nunca tinha registrado mais de 92.000 prisioneiros registrados, muitas vezes este número foi o número de cremados durante um período de quatro anos.

Os meios tradicionais de eliminação de corpos em tempos de guerra, eram as cremações ao ar livre. Em Leningrado, hoje São Petersburgo, durante a Segunda Guerra Mundial, pelo menos, um milhão de pessoas morreram. Elas foram cremadas a céu aberto[113]. Como veremos mais adiante neste estudo, cremações ao ar livre foram extensamente utilizadas em Auschwitz.

O problema específico com Auschwitz é que devido à natureza única que estava acontecendo ali e na ausência de dados de quaisquer registros que documentam uma cremação ou como estes fornos trabalhavam, nós estamos necessariamente forçando certa especulação. Nós realmente não sabemos quantos corpos poderiam ser queimados nos crematórios diariamente, a quantidade de combustível que era necessário para cremar um corpo, o tempo de vida de um forno, ou o efeito de qualquer destas considerações quando mais de um corpo estava sendo cremado em um forno. Além disso, a natureza do que aconteceu torna cientificamente impossível a repetição. Por exemplo, é improvável que haverá uma oportunidade para que 52 fornos, todos no mesmo local, eliminar corpos sob as mesmas condições que existiam em Auschwitz. Além disso, cremações modernas estão sujeitas a uma série de regras e regulamentos que não se aplicavam aos campos de concentração alemães. Nas cremações modernas, as cinzas das pessoas não podem se misturar com as cinzas de outras pessoas. Nenhum dos campos de concentração alemães tinha esta obrigação.

Mattogno computou em sua alegação qual foi o número máximo de corpos que poderiam eventualmente ser cremados nos quatro crematórios de Birkenau desde que tornaram-se operacionais até 30 de outubro de 1944, data em que o historiador do campo, Danuta Czech identificou o último gaseamento. Ele encontrou documentos que mostram que em dois dias foram feitos reparos nos fornos. À partir destes documentos de reparos, ele alegou que ele foi capaz de determinar quantos dias cada um dos crematórios poderia funcionar. Ele alegou que o Krema II entrou em operação em meados de Março de 1943 e saiu de serviço rapidamente, cerca de 115 dias, até julho. Em seguida funcionou até 30 de outubro de 1944. Ele também alegou que o Krema III entrou em funcionamento em 25 de junho de 1943 e ficou fora de serviço por 60 dias em 1944[114]. Ele está correto quanto às datas que estes crematórios entraram em serviço. No entanto, as fontes que ele citou não suportam suas alegações sobre os crematórios estarem fora de serviço durante o período reclamado. Sua fonte para o Krema II estabelecendo os 115 dias foi uma carta do Bauleitung para a Topf, data de 17 de julho de 1943, que discute problemas com blueprints para a chaminé, porque não tinham tido em conta temperaturas causadas pelo aumento do calor. Entretanto, a carta não diz nada sobre o Krema estar fora de serviço[115]. A investigação mais atual sobre esta questão afirma que o Krema II saiu de serviço por um mês, com início em 22 de maio de 1943, porque o revestimento interno da chaminé e o tubo ligado ao incinerador começaram a desmoronar[116].

Do mesmo modo, a fonte de Mattogno para o Krema III estabelecendo 60 dias em 1944, apenas menciona que as portas dos fornos estavam sendo reparadas no dia 1º de junho. Menciona igualmente que haviam continuidade de reparos em todos os crematórios de 8 de junho a 20 de julho, porém, não é indicado se estes reparos estavam nos fornos[117]. No entanto, estes documentos não apresentam provas de que qualquer um dos crematórios foram desligados ou que os fornos dos crematórios II, III e V não estavam trabalhando durante este período de tempo (Lembrar que os fornos do Krema IV foram desligados permanentemente em maio de 1943.) É conhecido, à partir de informações dos fornos da Topf de Gusen, que estes poderiam funcionar até mesmo nos dias que aconteceram reparos[118].

Baseado na sua errônea baixa estimativa de tempo nos fornos dos crematórios II e III, Mattogno calculou que, se cada forno pode queimar 24 corpos por dia e, em seguida, um máximo de 368.000 corpos poderiam ter sido cremados à partir do primeiro período que esses fornos iniciaram suas operações até 31 de outubro de 1944[119]. Mattogno não aborda a questão do Krema I, no campo principal, que foi encerrado em 19 de julho de 1943[120]. Como iremos ver, no entanto, na parte deste estudo que tratam de cremação ao ar livre, Mattogno também identificou um método de eliminação que não depende do funcionamento dos fornos. Isto significa que mesmo que o seus números da capacidade dos Kremas estejam corretas, são irrelevantes.

A questão do excesso de uso do forno que emergiu recentemente com os interrogatórios do pós-guerra de três engenheiros pelos soviéticos. Kurt Prüfer, construtor dos fornos, foi perguntado porque os revestimentos dos tijolos dos fornos danificavam tão rapidamente. Ele respondeu que o dano resultante após seis meses foi “porque a pressão sobre os fornos foi enorme”. Ele recontou como ele tinha dito ao Engenheiro-Chefe da Topf no Crematório, Fritz Sanders, sobre a pressão nos fornos porque tinham muitos cadáveres à espera para serem incinerados como resultado dos gaseamentos[121]. Sanders afirmou que ele havia sido informado por Prüfer e outro engenheiro da Topf que “a capacidade dos fornos era tão grande que três corpos [gaseados] foram incinerados [em um forno] simultaneamente”[122]. Um Sonderkommando, que trabalhava nos crematórios durante este tempo, escreveu que rachaduras na alvenaria dos fornos foram preenchidas com uma pasta especial à prova de fogo, a fim de manter os fornos funcionando[123].

No julgamento de “discurso de ódio” do canadense Ernst Zündel[124] em 1988, um suposto especialista em cremações chamado Ivan Legace testemunhou que o número máximo de corpos que poderiam ser eliminados em cada um dos 46 fornos de Birkenau era três por forno, totalizando 138[125]. Este valor é encontrado no Relatório Leuchter[126]. Este é mais um exemplo da incompetência de Leuchter nestes assuntos. Até mesmo Mattogno afirmou que “este número é, na realidade, muito abaixo da capacidade real”[127]. Contrariamente a Leage e Leuchter, sabe-se que os fornos da Topf poderiam trabalhar diariamente de forma contínua. Esta informação vem diretamente de notas mantidas pelos prisioneiros que trabalharam diariamente na operação do forno com mufla dupla em Gusen, de 31 de outubro a 12 de novembro de 1941. Essas notas mostram uma média diária de 26 incinerações por mufla em um período de 13 dias[128]. No entanto, os fornos de Gusen não trabalhavam sempre em full time. Portanto, os registros mostram que na maioria dos dias eles foram operados em tempo parcial[129]. As instruções da Topf para essas muflas à partir de junho de 1941 citam:
No incinerador com mufla duplo-T aquecido a coque, 10 a 35 corpos podem ser incinerados em cerca de 10 horas.A quantidade acima mencionada pode ser incinerada diariamente sem qualquer problema, sem sobrecarga ao forno. E não é prejudicial ao forno operar o incinerador dia e noite, se necessário, desde que a fireclay [parede resistente] duram mesmo quando a temperatura é mantida[130].
Estas observações também se aplicam às três muflas duplas dos fornos do Krema I de Auschwitz, que tinham a mesma construção. Instruções similares foram emitidas pela Topf para os fornos de Auschwitz em Setembro de 1941. (grifos do tradutor) Estas instruções afirmam que “uma vez a câmara de cremação[mufla] tem sido levada a um bom calor[aproximadamente 800° ], os cadáveres podem ser introduzidos um após o outro nas câmaras de cremação”. As instruções também indicam que no final da operação, as válvulas de ar, as portas, amortecedores devem ser mantidas fechadas “para que o forno não esfrie”.[131] Essas instruções contradizem diretamente a afirmação de Legace que os fornos precisavam ser resfriados.[132]

É interessante notar que as instruções para ambos os fornos, de Gusen e Auschwitz sugerem o uso continuado, usando a temperatura para prolongar a vida útil dos fornos. (grifos do tradutor) No mesmo dia em que as instruções de Gusen foram emitidas, dois engenheiros da Topf afirmaram que o forno com mufla dupla poderia incinerar 60-72 corpos [30 a 36 por mufla] em um período de 20 horas sendo requeridas 3 horas de manutenção[133].

Kurt Prüfer, o engenheiro da Topf que construiu os 46 fornos de Birkenau, afirmou numa carta enviada em 15 de novembro de 1942 que os fornos que ele instalou no campo de concentração de Buchenwald tiveram uma produção maior que previamente haviam pensado[134]. Infelizmente, ele não afirma que o número seja superior a um terceiro. No entanto, no mesmo dia, ele informou ao Bauleitung que os cinco fornos com muflas triplas, 15 fornos, poderiam incinerar 800 corpos em 24 horas[135]. Isso significa que uma mufla poderia queimar cerca de 53 corpos em um período de 24 horas. Reduzindo o tempo em quatro horas significa que 44 corpos por mufla poderiam ser cremados em um período de 20 horas. Tal como referido duas vezes antes, nesse estudo, a melhor informação que temos sobre o resultado destes fornos é o período entre 31 de outubro e 12 de novembro de 1941 em Gusen, após terem sido vistoriados. Enquanto os 677 corpos cremados durantes estes 13 dias em média, 26 por mufla, em uma análise dos dados latentes da Topf revelam que um forno pode queimar muito além desse montante. Em 7 de novembro de 1941 estas duas muflas incineraram 94 corpos em um período de 19 horas e 45 minutos, ou 47 por mufla. Isso significa que cada forno poderia incinerar um corpo em 25,2 minutos. Esta foi provavelmente atingida pela adição de novos organismos no forno antes que o outro corpo tivesse sido totalmente incinerado, um método que parece ter sido previsto nas instruções da Topf debatidas anteriormente. (veja discussão na nota 108.) Este método não deve ser confundido com cremação de múltiplos corpos, que devem ser discutidos na próxima parte deste estudo. Este número de 25 minutos não é muito longe das estimativas de Prüfer citados no parágrafo anterior. Mattogno ignorou esta informação totalmente. Ele preferiu focar nas informações de 8 de novembro que mostram 72 corpos cremados. Ele citou erroneamente que gastaram 24 ½ horas para cremar estes corpos. Ele interpretou mal estas folhas. O tempo real de cremação destes corpos foi entre 16 e 17 horas[136].

A informação mais controversa vem do Bauleitung em 28 de junho de 1943. Foi reportado que, em um período de 24 horas os seis fornos do Krema I poderiam incinerar 340 corpos; os cinco fornos com muflas triplas em cada Krema II e III poderiam incinerar 1440 cadáveres, ou 2880 combinadas; Kremas IV e V, poderiam incinerar cada, 768 cadáveres ou 1536 combinados. O total os cinco [Kremas] foi de 4.756 e o total para os quatro de Birkenau foi 4.416. Para efeito de comparação com Gusen, haviam muitas mulheres leves e crianças para incinerar nos fornos de Auschwitz. Em contrapartida, não havia mulheres e crianças em Gusen em 1941, apenas homens[137].

Negadores[do Holocausto] rejeitam os números do Bauleitung completamente. Críticos dos negadores ainda não aceitam totalmente estes números. No entanto, os dados de Gusen sugerem que os números do Bauleitung podem ter sido mais credíveis do que previamente suspeitado. O número do Bauleitung de 340 para 24 horas para os seis fornos do Krema I, são cerca de 25 minutos por corpo cremado, o mesmo resultado alcançado em Gusen em 7 de novembro de 1941.

E quanto aos quatro crematórios de Birkenau? Na época que o Bauleitung forneceu estes números, todos os crematórios estavam funcionando no mesmo período de tempo. Assim, é razoável supor que o Bauleitung pelo menos tinha alguma informação básica sobre esses valores. Tanto negadores[do Holocausto] quanto os seus críticos concordam que um forno não poderia incinerar um corpo em 15 minutos, que é o que seria exigido para os 46 fornos para cremarem 4.416 corpos em 24 horas. As informações disponíveis à partir de Gusen sugerem que o valor máximo atingido foi de 25 minutos, e adicionando um corpo antes de o outro corpo que foi previamente introduzido estivesse totalmente consumido. É igualmente certo que os fornos não podiam operar em uma base indefinida de 24 horas por dia.

Mas poderia um forno cremar um corpo em 15 minutos? Não com o método tradicional de cremação de um corpo hoje. No entanto, a questão torna-se mais problemática se as cremações de múltiplos corpos são consideradas. Isso significa que um forno poderia queimar mais de um corpo no momento. A prática não era usual nos campos de concentração alemães. Por exemplo, uma das primeiras histórias de Dachau dizia que gastaram de 10 a 15 minutos para queimar um corpo[138]. A fonte não nos diz como isso foi feito. No entanto, o padrão histórico de Dachau, escrito alguns anos mais tarde, afirma que um forno poderia queimar 7-9 corpos em duas horas, quando fossem introduzidos todos simultaneamente.[139] Visto a esta luz, 15 minutos se torna viável. A questão da cremação de múltiplos corpos será analisada mais exaustivamente na próxima parte deste estudo em que lideramos com consumo de combustível.

Fonte: The Holocaust History Project - http://www.holocaust-history.org/auschwitz/body-disposal/
Tradução: Leo Gott

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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Eliminação de Corpos em Auschwitz - O fim da negação - Parte 6 - Durabilidade dos fornos

(todos os grifos são do tradutor)

Mattogno argumentou que os fornos de Auschwitz não poderiam ter queimado tantos corpos como se tem afirmado, porque eles não têm vida útil suficientemente longa. Ele afirma que os fornos tinham uma vida útil relativamente curta, quando comparado ao que seria necessário para eliminar todos os corpos. Sua principal fonte para esta afirmação foi um artigo de 1941 de uma revista de engenharia do engenheiro alemão Rudolph Jakobskotter. Mattogno cita Jakobskotter “falando em 1941 dos fornos da Topf aquecidos a eletricidade no crematório de Erfurt [na Alemanha], [ele] afirma que o segundo forno foi capaz de executar 3.000 cremações, enquanto que a duração normal do refratário das paredes dos fornos é de 2.000 cremações.” De fato, lido em seu contexto, os 2.000 referidos no artigo foi para a quantidade que poderia ser cremada em uma versão anterior do forno, e esta não poderia ter desempenho de 3.000 cremações.

Os fornos que Jakobskotter se refere são fornos elétricos. Embora Mattogno mencionou este fato em sua monografia, ele é omitido em seu artigo quando discutindo o assunto. O tipo de forno utilizado em campos de concentração era aquecido a coque. Muitos destes fornos foram convertidos para queima de óleo.[84] O forno elétrico, como Jakoskotter observou, foi o primeiro a ser colocado em serviço, em 1933. Ele classificou esses fornos elétricos em gerações, a primeira geração teve duração até 1935. Após cremar 1.300 corpos, foi decidido que melhorias eram necessárias. Assim a primeira geração poderia cremar até 2.000 corpos. A segunda geração começa em 1935, tinha vida [útil(nt)] de 3.000 corpos e foi esperado um aumento para 4.000 corpos. A terceira geração entrou efetivamente em 1939. A durabilidade da terceira geração não foi especificada. Jakobskotter afirma que “eles esperam ter números ainda mais elevados para os fornos futuros.”[85] Não se sabe quais adicionais melhorias foram feitas no início dos nos 40. Tudo o que realmente se sabe é que esses fornos são foram utilizados em campos de concentração, e mesmo se fossem eles, poderiam ter tido vida útil substancialmente superior a 4.000 corpos nos anos 40. É evidente à partir da conversa de Jakobskotter que estavam sendo realizados rápidos progressos na melhoria da vida útil do forno elétrico. Além disso, conversas sobre o número de corpos que um forno pode queimar durante a sua vida útil, como no estudo de Jakobskotter, referem-se a queima de um único corpo de uma vez. Esta é a prática normal para as pessoas. Este método também utiliza um caixão. Como iremos mostrar adiante, múltiplos corpos eram cremados em um forno comum em Auschwitz e em outros campos, e caixões não eram utilizados para tais cremações.

Mattogno encontrou um arquivo que mostra que os dois fornos de Gusen tinham que ter as paredes substituídas após 3.200 óbitos, à partir do momento em que os fornos foram instalados em fevereiro de 1941. A revisão ocorreu em outubro de 1941. Ele concluiu à partir deste que os fornos da Topf realmente não tinham um tempo de vida útil.[86] O problema é que não é muito conhecido o que causou para que estes fornos fossem revistos. Mattogno não foi capaz de produzir qualquer informação de que a revisão nada tinha a ver com a capacidade de eliminações de corpos dos fornos. Em Auschwitz, os oito fornos do Krema IV estragaram dois meses depois que eles foram colocados em serviço, em março de 1943 e não poderiam ser utilizados novamente.[87] Topf admitiu que os fornos do Krema IV foram feitos com defeito.[88] Por outro lado, os 15 fornos do Krema II funcionaram muito bem. O Krema II ficou fechado por um breve período de um mês em 1943, mas que não tem nada a ver com a vida útil dos fornos.[89] É possível que os fornos de Gusen não foram originalmente construídos corretamente.

Mattogno argumentou que se os fornos de Auschwitz tivessem realmente queimado muitos corpos como seria necessário para dispor de todas as vítimas, eles teriam sido revistos várias vezes, mas que não hà nenhuma informação nos arquivos de Auschwitz, o que sugere que essas revisões geralmente ocorreram.[90] De fato, nenhuma informação foi à tona à partir desses arquivos, ou quaisquer outros arquivos, até mesmo que uma cremação teve lugar em Auschwitz. Em outras palavras, não tem um documento contemporâneo que surgiu a partir de qualquer fonte mostrando que ocorreu elo menos uma cremação em Auschwitz. Também não hà qualquer informação que descreva como qualquer um dos 52 fornos trabalhava, uma anomalia que será analisada posteriormente. Isso deve ser contrastado com Gusen que só havia dois fornos, mas para cada qual existe um arquivos descrevendo a efici6encia destes fornos durante um período de várias semanas.[91] Segundo a lógica de Mattogno, isso deve significar que as cremações não tiveram lugar em Auschwitz.

Mattogno falhou ao informar seus leitores que os seus próprios dados sobre os fornos da Topf, sugeriram que eles poderiam queimar muitos milhares de corpos sem revisão. A fonte a partir da qual Mattogno obteve suas informações sobre o número de mortes em Gusen, sendo 3.200 de fevereiro a outubro de 1941 também informa uma desagregação mensal que mostra que havia cerca de 18.500 mortes de novembro de 1941 até o final de 1944, e que havia um total de 30.000 cremações, à partir do momento que estes fornos foram instalados até maio de 1945.[92] Mas não hà qualquer evidência de que quaisquer revisões nesses fornos tenham ocorrido após outubro de 1941.

Na verdade, Mattogno havia examinado os arquivos do Mauthausen Memorial Museum na Áustria e na Bundesarchiv na Alemanha, onde encontrou informações que a revisão ocorreu em outubro de 1941. O autor também obteve os arquivos para a revisão dos fornos da Topf que ocorreram em 1941. O Bundesarchiv informou o autor que existem 290 páginas de informações neste arquivo.[93] Mattogno teve acesso a esse arquivo, que é rotulado como arquivo NS 4 Ma/54. Ele mesmo citou os documentos deste arquivo que datam de 1943 e 1944, sobre a instalação dos fornos de Mauhthausen.[94] No entanto, apesar da informação de arquivo, Mattogno foi incapaz de citar qualquer informação adicional de que as revisões dos fornos de Gusen, que de acordo com o argumento que ele estava fazendo, deve ter ocorrido pelo menos cinco vezes mais, a fim de eliminar o número de cadáveres de Gusen. Se estas revisões aconteceram, elas teriam sido certamente detalhadas neste arquivo, pois a informação sobre a revisão de 1941 inclui toda a correspondência com Topf e os materiais usados, informações de faturamento e de folhas de horas para dias trabalhados, incluindo horas extra-ordinárias.[95]

Infelizmente, parece que não aparece qualquer informação sobre a durabilidade dos fornos da Topf utilizados nos campos de concentração. Um arquivo detalhado sobre os fornos de Gusen incluem correspond6encias em a Topf e as autoridades do campo, bem como as instruções para os fornos que não resolvem esta questão.[96] Da mesma forma, ainda não surgiu nenhuma informação à partir dos arquivos de Auschwitz em Moscou. O número limitado de arquivos de Auschwitz examinados pelo autor, dá informações de faturamento e de instalação e não abordam a questão da durabilidade.[97]

Além das informações de Gusen, analisados anteriormente, hà também algumas indicações quanto à vida útil desses fornos de Mauthausen. De 1940 até meados de 1944, Mauthausen tinha uma única mufla simples. Foi construída pelo concorrente principal da Topf. Uma mufla com forno duplo foi adicionado em julho de 1944.[98] De 1940 até o final de 1943 cerca de 12.500 prisioneiros foram cremados em Mauthausen. De 1940 até abril de 1945, foram 27.556 cremações em Mauthausen.[99] No entanto, Mattogno fica argumentando que todos os 52 fornos de Auschwitz não poderiam ter eliminado mais de 162.000 corpos.[100]

Existem também informações sobre a durabilidade de fornos à partir do século 19 em Paris. Nos final de 1880, dois fornos foram instalados em um forno crematório no sul de Paris. Estes fornos foram concebidos para cremar cerca de 5.000 corpos por ano, ou 2.500 por forno.[101] Augustus Cobb, um líder especialista em cremação do período, aprendeu com o engenheiro que trabalhou no crematório que “[e]mbora quase quatrocentos corpos são queimados nestes fornos por mês, uma inspeção em suas paredes não mostraram fissuras, e a mesma observação aplica-se às paredes dos fornos crematórios de Milão [na Itália]”.[102] Informações adicionais sobre esses fornos, publicadas em 1893, mostram que, à partir de 1889 a 1892, 11.852 [corpos] foram cremados nestas instalações. Este número inclui 3.743 crianças natimortas, de modo que mais de 8.000 corpos desta população foram incinerados nestes dois fornos. O único problema mencionado no relatório que acompanha estas estatísticas é o transporte dos corpos para o crematório.[103] Como iremos ver, a Alemanha levou à Europa a tecnologia da cremação nos anos 30. Podemos logicamente concluir que a Alemanha da década de 40 tinha fornos mais duráveis do que a França de 50 anos antes.

Fonte: The Holocaust History Project
http://www.holocaust-history.org/auschwitz/body-disposal/
Tradução: Leo Gott

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Eliminação de corpos em Auschwitz - O fim da negação - Parte 5 - Expansão do Campo

(todos os grifos do tradutor)
Mattogno e outros negadores muitas vezes argumentam que uma expansão planejada do campo para 200.000 foi o catalisador para o novo crematório. No entanto, o Bauleitung começou a negociar com as empresas para a construção de quatro crematórios em julho de 1942, enquanto que a primeira evidência do planejamento da expansão para 200.000 é no dia 15 de agosto.[80]
Conforme observado anteriormente, o planejamento da expansão do campo de Auschwitz, Auschwitz II para uma população de 125.000 foi anunciando pelo Bauleitung em Outubro de 1941. Ela coincidiu com o assassinato em massa de internos, especialmente prisioneiros de guerra soviéticos.(ver assunto entre as notas 45-53) No entanto, a primeira expansão planejada foi adiantada para 1º de março de 1941, antes do extermínio em massa dos POWs soviéticos. E passou para 130.000 prisioneiros. Na época, havia apenas 2 muflas duplas, ou quatro fornos em Auschwitz. O único plano complementar para fornos foi para outro fim, muflas duplas em setembro de 1941. Isso pode dar uma imagem fiel das reais necessidades de cremação do campo.[81]

A expansão planejada do campo para 200.000 pode não ter influenciado o Bauleitung para expandir a capacidade de cremação de 6 para 52 fornos. Como observado anteriormente, o memorando do Bauleitung de outubro de 1942 amarrou a construção de crematórios a “ações especiais”, tendo lugar (ver nota 55), sem qualquer planejamento de expansão. Além disso, a informação comparativa do campo de concentração de Mauthausen mostra que as autoridades de Auschwitz não teriam motivo para construir tantos fornos, mesmo com a expansão planejada.

Em 1942 Mauthausen teve uma redução de 50% na taxa de mortalidade dos prisioneiros registrados. Este percentual caiu para 15% em 1943. Em 1944 o campo de Mauthausen foi expandido a capacidade de 17.000 para 90.000, e teve um índice de mortalidade de 15% para o ano.[82] No entanto, o campo acrescentou apenas dois fornos a um já existente, em meados de 1944 para um total de três fornos. Do mesmo modo, em 1944 Gusen foi expandido de dois para três campos, mas não acrescentou nenhum forno.
Baseado nas informações de Mauthausen, Auschwitz não deveria ter expectativas superiores a 100.000 mortes anuais em uma população de 200.000 do campo, quando começou a construir os quatro novos crematórios em agosto de 1942. No entanto, não implicaria a taxa de mortalidade, os assassinatos em massa de prisioneiros registrados em curso, como em Mauthausen em 1942. A taxa de mortalidade anual mais razoável seria de 15% a 25% ao ano ou 30.000 a 50.000 para uma população do campo de 200.000. Mas isso significaria o assassinato de muitos prisioneiros. Seis fornos adicionais mais os seis fornos existentes em Auschwitz, poderiam ter facilmente capacidade suficiente para lidar com isso e muitas mortes anuais. Como observado anteriormente, a informação de Gusen mostra que um forno tinha a capacidade de incinerar 26 corpos por dia. Assim, 12 fornos tinham a capacidade de eliminar 300 corpos por dia. No entanto, como observado anteriormente, o Bauleitung já tinha ordenado 15 fornos adicionais em outubro de 1941. Quando adicionaram aos seis fornos existentes, havia mais capacidade para lidar com o número máximo de mortes que poderiam ser esperados na ausência de uma campanha de extermínio em massa. Até 50% da taxa anual de mortalidade de prisioneiros registrados no campo de Auschwitz com uma população de 200.000, facilmente poderiam ter sido tratados por 21 fornos. O argumento de Mattogno foi de que a elevada taxa de mortalidade que Auschwitz experimentou durante a epidemia de tifo foi conjugada com a expansão significativa da capacidade de cremação adicional de 46 fornos foi justificada. No entanto, o seu argumento assume que o Bauleitung estava esperando alguma coisa na ordem de 30.000 a 50.000 óbitos por mês, como resultado da presente proposta de expansão. Na realidade, o campo não teria sido capaz de funcionar sob estas circunstâncias e que a maioria certamente seria obrigada a acabar com a contínuas epidemias destas proporções.


As autoridades do campo devem ter imaginado que qualquer expansão iria acompanhar uma eventual colocação da epidemia de tifo sob controle. Em 15 de julho de 1942, doze dias após a epidemia de tifo ter atingido o campo, um memorando do Bauleitung afirma que, no momento a população do campo permaneceria em 30.000, embora eventual expansão não especificada seria esperada. Já em dezembro de 1942 não houve praticamente qualquer aumento da população do campo até 30.000. Os novos prisioneiros foram adicionados aos registrados existentes para substituir o trabalho de prisioneiros doentes que foram mortos pelas autoridades do campo. Pelo contrário, a população registrada do campo começou a aumentar em 1943, depois que a pior epidemia de tifo passou, e houve uma relativa diminuição substancial do número de mortes no campo. Em 31 de agosto de 1943 Auschwitz tinha 74.000 prisioneiros. Nos cinco meses, de abril a agosto de 1943 teve cerca de 10.300 mortes de prisioneiros registrados em Auschwitz. Embora alto, o número de mortes de prisioneiros registrados em 1943 compara muito favoravelmente com os 26.000 que morreram nos quatro meses, de julho a outubro de 1942.[82] Evidentemente, prisioneiros não-registrados foram levados para o campo para serem gaseados em massa durante a epidemia de tifo.
Fonte: The Holocaust History Project - http://www.holocaust-history.org/auschwitz/body-disposal/
Tradução: Leo Gott

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Eliminação de Corpos em Auschwitz - O fim da negação - Parte 4 - Necessidade dos Crematórios

(todos os grifos são do tradutor)
Conforme dito anteriormente, negadores atribuem a construção de mais 4 crematórios e 46 fornos novos à epidemia de tifo que varreu o campo no verão de 1942. Embora já tenha sido mostrado que o tifo foi responsável por muito poucas mortes, ainda é possível testar a necessidade de construção baseado na quantidade de mortes de prisioneiros registrados que tivessem morrido de tifo. Em outras palavras, partindo do princípio que todas as mortes dos prisioneiros foram registradas como morte por tifo, seria necessário construir mais 4 novos crematórios e mais 46 novos fornos para lidar com essas mortes? A única maneira de testar a necessidade é comparar com as mortes em outros campos de concentração e a capacidade de cremação destes campos. Embora tais comparações sejam difíceis porque elas dependem de saber a quantidade de mortes e capacidade de cremação de outros campos, existe um campo que oferece-nos as informações necessárias para se fazer esta comparação. Assim, no mais alto período de três meses, o total de mortes de prisioneiros registrados foi seis vezes o montante de Gusen.

Gusen era um campo do complexo de campos de concentração de Mauthausen. Mauthausen e Gusen ficavam localizados na Áustria. Gusen era constituído de três campos. Em fevereiro de 1941, Gusen tinha uma mufla dupla, dois fornos instalados afim de lidar com as mortes dali. Mais nenhum forno adicional foi incorporado durante a existência de Gusen.[66] Antes de março de 1943, Auschwitz tinha 3 muflas duplas, ou seja, três vezes a capacidade de cremação de Gusen. Em 1942 aconteceram 7.410 mortes em Gusen.[67] Em 1942 aconteceram 44.000 mortes de prisioneiros registrados e mais 1.100 prisioneiros de guerra soviéticos registrados nos livros do necrotério. Estas mortes não estão em disputa.[68] Prisioneiros não-registrados que foram mortos na chegada, não estão incluídos nestes números. Entretanto em 1942 registraram-se 6 vezes mais mortes em Auschwitz do que em Gusen, com três vezes a capacidade de cremação. Igualmente revelador é uma pesquisa de três meses consecutivos, dos meses mais elevados em ambos os campos. O maior óbito de prisioneiros registrados nestes três meses em Auschwitz foi 21.900, no período de agosto a outubro de 1942. O maior período de três meses em Gusen foi de Dezembro de 1942 à fevereiro de 1943, quando 3.851 prisioneiros morreram. A comparação destas estatísticas de mortes sugere que Auschwitz poderia ter acomodado o excesso de mortalidade de Gusen, duplicando a sua capacidade de cremação de 6 para 12 fornos. Se Auschwitz realmente precisava de 46 fornos adicionais, uma expansão quase nove vezes maior do que a sua capacidade existente, então para Gusen seriam necessários expandir pelo menos 12 fornos. No entanto esta expansão nunca foi realizada.

As evidências disto vêm à partir de dados disponíveis sobre os fornos de Gusen, que mostram que cada forno poderia queimar em média cerca de 26 corpos por dia, de modo que ambos os fornos poderiam queimar juntos, pelo menos, 52 corpos por dia ou cerca de 1.500 por mês.[69] No entanto, como será visto mais adiante, estes fornos também poderiam exceder substancialmente esse número. O mais alto número de mortes em um mês em Gusen foi de 1.719.[70] Isso significa que os seis fornos de Auschwitz poderiam ter consumido cerca de 4.500 por mês. Os maiores totais mensais de morte de prisioneiros registrados em Auschwitz foram de 9.000 em setembro de 1942. Porém, logo em outubro de 1941 o Bauleitung tinha encomendado mais 15 fornos adicionais. Mesmo se aceitarmos as baixas estimativas de Mattogno para a capacidade de cremação como sendo de 20 por dia, os seis fornos existentes no local até meados de 1942 mais o adicional de 15, as autoridades poderiam eliminar 420 corpos por dia ou cerca de 12.500 por mês.

Se podemos acreditar na explicação dos negadores sobre estes fornos, então as autoridades estavam prevendo incríveis 30.000 mortes por mês de prisioneiros registrados!
Isso, naturalmente, pressupõe que a baixa estimativa do negador sobre a capacidade destes fornos crematórios está correta. A única explicação é que a administração do campo previu muitas destas mortes, mas não de prisioneiros registrados. Verificando mais, temos uma tentativa no início de 1943 para investigar a possibilidade de construção de um sexto crematório. Como resultado de uma reunião com a Topf and Sons, os construtores dos fornos crematórios, em 29 de janeiro de 1943, o Bauleitung encarregou a empresa de produzir um esboço para um sexto crematório. O esboço foi entregue ao Bauleitung na primeira metade de fevereiro e o comandante do campo foi informado das discussões.[71]

Na altura em que estas discussões foram tendo lugar, Auschwitz foi experimentando uma baixa taxa de mortalidade de prisioneiros registrados quando comparado com o verão de 1942. Os livros de óbito mostram a morte de cerca de 3.000 prisioneiros registrados para janeiro de 1943. Um número similar de prisioneiros registrados tinham morrido nos meses de novembro e dezembro de 1942.[72] Portanto a morte de 9.000 prisioneiros registrados para o período de novembro de 1942 a janeiro de 1943 foi muito inferior aos 21.900 mortos de agosto a outubro de 1942. Os quatro novos crematórios foram programados para se tornarem operacionais num futuro próximo. O primeiro iria entrar em operação em Março de 1943. Assim, de acordo com as baixas estimativas dos negadores, a capacidade total dos fornos de 30.000 por mês poderia eliminar 10 vezes o número de mortes de registrados mensalmente, no momento em que estas conversas foram tendo lugar. Porque então pretendiam as autoridades do campo construir um crematório para além dos quatro que iriam entrar em operação em breve? A resposta reside na data em que o representante da Topf, engenheiro e construtor de fornos Kurt Prüfer, esteve no campo para as conversas relativas a esta nova proposta de crematório - (mas nunca foi construído) – em 29 de janeiro de 1943. Neste mesmo dia o Bauleitung: (1) emitiu um memorando dizendo que aconteceu no “porão de gaseamento” do Crematório II [73] e (2) emitiu outro memorando sobre corpos queimando e “tratamento especial” poderiam ocorrer simultaneamente.[74] Tratamento especial [Sonderbehandlung] era uma palavra usada para designar morte e desaparecimento de prisioneiros.[75] Algumas semanas mais tarde, em 2 de Março, Prüfer enviou uma carta ao Bauleitung em que sua empresa fazia perguntas sobre “aparelhagem que você quer para indicar os vestígios de ácido prússico” para o Crematório II.[76] Ácido prússico era o gás venenoso letal usado em câmaras de gás. No mesmo dia um relatório de trabalho afirmava que existia uma “câmara de gás” [Gaskammer] no Krema IV.[77]

Talvez a melhor evidência para o motivo dos crematórios foi o sigilo exigido das pessoas que estavam envolvidas na sua construção. A Diretiva 108 do Bauleitung emitida em 1943 é um lembrete da Diretiva 35 emitida em 19 de junho de 1942, ela afirma que “os planos dos crematórios devem ser estritamente controlados. Nenhum plano pode ser passado para a brigada de trabalho...e todos os planos devem ser guardados em local trancado a chave, quando não estiver em uso...” A parte fundamente do memorando afirma: “Além disso, temos de salientar que estamos lidando com tarefas econo-militares que devem ser mantidas em segredo [geheimzuhaltende]”[78] Este memorando levanta a questão de saber porque razão a construção de crematórios seria uma tarefa econo-militar e que exigia muito segredo se o grande objetivo dessas estruturas era o de eliminar cadáveres. No memorando as palavras-chave em alemão wehrwirtschaftliche und geheimzuhaltende são as únicas sublinhadas. O memorando somente faz sentido se estas estruturas estavam sendo utilizadas para fins secretos, além de eliminação de corpos. O memorando também ainda separa o edifício dos cematórios do [mito] do tifo, referindo-se a diretiva original como sendo emitida em 19 de junho de 1942. A epidemia de tifo não atacou Auschwitz até 3 de julho de 1942, duas semanas depois, a nota foi emitida.[79]
Fonte: The Holocaust History Project - http://www.holocaust-history.org/auschwitz/body-disposal/
Tradução: Leo Gott

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