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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As vítimas esquecidas da anatomia nazista

As vítimas esquecidas da anatomia nazi
Victoria Gill. BBC; Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Liane Berkowitz

Liane Berkowitz foi executada pelos nazis
e seu corpo foi utilizado para experimentação
de cientistas anatomistas.
Liane Berkowitz tinha só 19 anos quando foi executada pelos nazis.

Foi presa em 1942 pela Gestapo, a polícia secreta, quando pegava cartazes com mensagens contra a propaganda nazi.

Estava grávida, mas isto só postergou sua execução até depois que desse a luz a seu bebê.

A sombria história de Liane não acabou com sua morte. Seu corpo foi um dos milhares que foram dissecados por anatomistas e utilizados para seus experimentos.

A identidade destas vítimas do horror nazi agora sai a luz graças aos pesquisadores que rastreiam os registros legais para identificar quem acabou nas mesas de trabalho de anatomistas do regime.

Liane foi uma das 182 pessoas cujos cadáveres foram analisados por Hermann Stieve, que naquele momento era um renomado especialista da Universidade de Berlim.

Os nomes completos da chamada "lista de Stieve" – composta principalmente por mulheres – acabam de ser publicados por Sabine Hildebrant, una anatomista alemã que trabalha na Universidade de Michigan.

"O mesmo Stieve elaborou esta lista em 1946", explica a doutora Hildebrant, que levou uma década pesquisando a história da anatomia alemã. O detalhado registro de Stieve com seu macabro trabalho permitiu identificar suas vítimas.

Hildebrant centrou seus esforços para contra as histórias dessas pessoas.

"Queria saber quem eram", disse a pesquisadora consultada pela BBC, "queria que fossem conhecidas outra vez".

Trauma e estresse

Vera Obolensky e Libertas Schulze-Boysen


Muitas das vítimas da lista de Stieve eram mulheres
e membros da resistência, como Vera Obolensky
e Libertas Schulze-Boysen.
Stieve estava interessado especialmente na anatomia reprodutiva. Por isso a maioria de suas vítimas foram mulheres.

"Antes de 1933 podia se estudar os cadáveres de homens que haviam sido executados, mas não mulheres, já que a Alemanha não executava mulheres".

"Mas repentinamente, durante o Terceiro Reich, começaram a fazê-lo".

Cerca da metade dessas mulheres, entre elas Liane Berkowitz, foram condenadas a morte acusadas de traição.

Algumas foram denunciadas à Gestapo por outros cidadãos depois de expressar suas ideias políticas contrárias ao nazismo.

William Seidelman, ex-professor de medicina da Universidade de Toronto, Canadá, também dedicou anos à pesquisa dos laços entre a "medicina e o "assassinato" no Terceiro Reich.

Num artigo acadêmico de 1999 publicado em "Dimensions: A Journal of Holocaust Studies", Seidelman revelou alguns detalhes sobre como Stieve trabalhou em estreita colaboração com a prisão berlinense na qual se realizava as execuções.

"Quando uma mulher em idade reprodutiva ia ser executada, informavam a Stieve, escolhia-se uma data e era comunicada à prisioneira quando ela iria morrer", escreveu o professor Seidelman.

"Stieve estava particularmente interessado nos efeitos do estresse e do trauma psicológico nos ciclos menstruais das mulheres condenadas".

Depois da execução, os órgãos pélvicos da mulher eram extraídos para ser examinados. Stieve publicou relatórios baseados nesses estudos sem nenhum remorso ou desculpa", disse Seidelman.

Stieve se referia aos órgãos que analisava como "material". Suas publicações de então foram as primeiras a sugerir que o estresse - encarnado em nada menos que uma sentença de morte - interrompia o ciclo menstrual.

Em sua missão de revelar a vida das pessoas por detrás desse "material", a doutora Hildebrandt revisou os arquivos pessoais das vítimas de Stieve, que são guardados no museu do Monumento à Resistência Alemã de Berlim.

Hildebrant analisou cada arquivo junto a uma cópia da lista de Stieve que é mantida no Ministério de Justiça alemão, e identificou a cada uma das pessoas.

Comprovou os nomes de 174 mulheres e oito homens da lista, as datas exatas de nascimento e óbito, as nacionalidades, as razões de sua execução e qualquer outra informação pessoal que pode encontrar.

Alguns dos arquivos contém cartas que expressam os últimos desejos dos prisioneiros condenados, como os de "se reunir com seus entes queridos na morte", segundo explica a pesquisadora.

Uma dessas cartas era de Libertas Schulze-Boysen, que havia sido membro do partido nazi, mas em 1937 se uniu à resistência alemã e documentou e coletou evidências fotográficas dos crimes do nacional-socialismo.

Libertas foi presa em setembro de 1942 e condenada à morte por traição em dezembro do mesmo ano.

Numa carta para sua mãe, escreveu: "Como último desejo pedi que lhe entreguem minha 'substância material' (restos mortais). Se for possível, enterrem-me em um lugar bonito, ensolarado e rodeado pela natureza".

EXPERIMENTOS NAZIS

De acordo com o historiador médico Paul Weindling, quase 25.000 vítimas dos experimentos científicos nazis foram identificadas.

Weindling disse que houve distintas "fases" desses experimentos". A primeira esteve ligada à eugenia e à esterilização forçada.

A segunda fase coincidiu com o início da guerra. "Os doutores começaram a experimentar com pacientes de hospitais psiquiátricos", escreveu o professor Weindling em uma reportagem à BBC. "Fizeram experimentos esporádicos em campos de concentração como o de Sachsenhausen, próximo de Berlim, e observações antropológicas em Dachau."

A terceira fase começou em 1942, quando a SS (a polícia militar nazi) e o exército alemão tomaram o controle da experimentação científica. Aumentou o número de provas nos quais se inocularam doenças mortais como malária e tifo, esta uma doença epidêmica para milhares de vítimas.

Durante uma quarta fase em 1944-45, explica o doutor Weindling, "os cientistas sabiam que a guerra estava perdida mas continuaram com seus experimentos".

O MACABRO ATLAS DE PERNKOPF

Eduard Pernkopf, diretor de Anatomia da Universidade de Viena entre 1933 e 1945 e membro do Partido Nazi, utilizou cadáveres de prisioneiros executados para seus estudos e registrou isso em seu atlas de anatomia.

As detalhadas ilustrações que ele detinha o fizeram famoso entre os estudantes de anatomia.

Pernkopf trabalhou 18 horas diárias dissecando cadáveres enquanto uma equipe de artistas criava as imagens. Levou mais de vinte anos para terminar seu livro.

Tal como Sabine Hildebrandt escreveu em um artigo de 2006 na publicação Clinical anatomy, este projeto revelou "o traslado de ao menos 1.377 corpos de pessoas executadas no Instituto Anatômico de Viena" durante o Terceiro Reich.

"O possível uso desses cadáveres como modelos não se pode descartar em ao menos metade das quase 800 lâminas do atlas".

História obscura

Hildebrant disse que sua investigação deixou "dolorosamente" em evidência o pouco que interessava então a anatomistas o destino das pessoas cujos corpos estavam dissecando.

Por associação, é uma mancha na pesquisa anatômica alemã.

Dos 31 departamentos de anatomia na Alemanha e nos territórios ocupados entre 1933 e 1945, a especialista descobriu que "em todos eles, sem exceção, receberam cadáveres das câmaras de execução".

Este tema no chamou a atenção pública senão há apenas duas décadas.

O professor Seidelman conta que em 1989 um acadêmico anatomista da Universidade de Tubinga indicou em uma conferência que os espécimes que estavam mostrando eram de trabalhadores escravos poloneses e russos executados durante o Terceiro Reich.

Segundo explicou Seidelman à BBC, "os estudantes estavam comocionados e exigiram uma explicação".

A universidade iniciou uma investigação formal. Todas as mostras anatômicas de "origem incerta ou suspeita" foram sepultadas em uma seção especial do cemitério de Tubinga e em 8 de julho de 1990 foi realizada uma cerimônia comemorativa.

Várias universidades realizaram pesquisas formais sobre a obtenção de corpos durante o auge do nazismo em seus próprios departamentos de anatomia.

Instituições da Áustria estiveram envolvidas.

"A Universidade de Viena teve um bonde fúnebre especial que transportava os cadáveres da sala de execução do tribunal regional para o instituto de anatomia", disse o professor Seidelman.

Eduard Pernkopf, que foi diretor de anatomia entre 1933 e 1945, deixou um legado impresso em um tomo acadêmico de duvidosa fama. Muitas das ilustrações incrivelmente detalhadas do atlas de Pernkopf retratam os corpos de vítimas do terror nazi.

Seidelman disse que os pesquisadores estão ainda em "uma fase muito prematura do processo de revelar as histórias daquelas pessoas que se converteram em 'material experimental'".

"Converteram-se em objetos inanimados", disse.

Hildebrant afirma que este tema ainda projeta uma sombra sobre a ciência anatômica e opina que "a anatomia alemã do pós-guerra foi construída em parte sobre os corpos das vítimas".

"É hora de devolver os nomes aos números, de dar rostos e biografias às vítimas da anatomia do Terceiro Reich para recordar sua humanidade e as injustiças que tiveram que enfrentar", conclui.

Fonte: BBC Mundo (em espanhol)
Título original: Las víctimas olvidadas de la anatomía nazi
http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2013/02/130128_historia_victimas_anatomistas_nazis_np.shtml
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com transplantes e regeneração de tecidos

Publicado em 19 de junho, 2012

Os experimentos relativos à regeneração de ossos, músculos e tecido nervoso e o transplante de ossos se encontram entre os mais selvagens, sádicos e inumanos. Extraía-se seções de osso, amputava-se braços (incluindo os omoplatas) e pernas à altura da cadeira, e se extraía tecido nervoso e muscular de internos dos campos de concentração, e na continuação se tentava transplantar essas partes do corpo para outras vítimas. Esses testes causavam, no geral, a morte. Mas, para os que sobreviveram, isto foi traduzido em mutilações e invalidez permanentes.

(…) Praticava-se incisões no lado exterior da parte superior da perna e se extraía músculo. Logo se fechava a ferida e se colocava uma tala. Passada uma semana, abria-se a ferida e se extraía mais músculo.

(…)

A doutora Maczka declarou que o imputado Gebhardt supervisionou tanto os experimentos com sulfanilamida como os relativos a ossos, músculos e nervos [no campo de Ravensbrück]. Reconheceu que não foi perdoada a vida de nenhuma pessoa depois desses experimentos. Os testemunhos posteriores colocaram como manifesto que a doutora Oberheuser descuidou-se por completo dos deveres de atenção básica e que seu trato com os pacientes foi cruel e abusivo.

(…)

A doutora Zdenka Nedvedova-Nejedla, uma reclusa originária de Praga, chegou a Ravensbrück num transporte procedente de Auschwitz em 19 de agosto de 1943 e trabalhou ali até maio de 1945. Em sua declaração relativa aos experimentos realizados com suas companheiras de reclusão, afirmou: todas as mulheres as quais foram levado a cabo experimentos cirúrgico, colocava-se em um mesmo pavilhão, e elas eram conhecidas geralmente por "cobaias".

Soube pelo pessoal da enfermaria que se injetavam nas feridas cultivos de estreptococo, estafilococo, tétano e gangrena gasosa* para produzir osteomielite (inflamação do osso) com fins experimentais.

Extraía-se partes dos ossos das pernas até cinco centímetros de largura. As vítimas eram mortas imediatamente depois da operação mediante uma injeção de Evipan.

Os braços e as pernas amputados eram envolvidos em gaze estéril e eram levados ao hospital da SS que havia nas proximidades para tentar implantá-los em soldados alemães feridos.

Os únicos enfermeiros que tinham acesso às reclusas operadas eram os da SS. As reclusas permaneciam toda a noite entubadas, com dores agudas, porque era proibido lhes administrar calmantes. Onze morreram ou foram assassinadas e setenta e uma ficaram inválidas pro resto da vida.

Os imputados Gebhardt, Oberheuser e Fischer foram considerados culpados por conduta criminosa por sua responsabilidade em pôr em prática esses experimentos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/19/doctores-del-infierno-experimentos-con-trasplantes-y-regeneracion-de-tejidos/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 159 a 176; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

* Clique em cada nome pra ver o que são as bactérias: estreptococo, estafilococo, tétano e gangrena gasosa (link2).

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Extermínio dos Diferentes

Pessoas com deficiência e doentes terminais eram alvo do 3º Reich

Os nazistas queriam "purificar" a raça ariana de genes ruins. Esses genes estariam nos judeus, ciganos, homossexuais - e nas pessoas com deficiências de qualquer origem. Os oficiais nazistas planejavam esvaziar os asilos de doentes mentais e pacientes "incuráveis", mas sabiam que isso pegaria mal com a opinião pública. A partir de 1º de setembro de 1939, a guerra deu a eles a desculpa para oficializar o programa - precisavam desses hospitais para os soldados feridos. O chamado Aktion T4 - Tiegartenstrasse, Nº4, era o endereço da sede - esterelizou e assassinou milhares de pessoas. Foi um dos raros casos em que os alemães, liderados pelas famílias de vítimas, se opuseram publicamente a uma diretriz nazista. O clamor se estendeu até a Igreja (que se omitia sobre os judeus). Conheça alguns dos opositores do T4:

Juiz denuncia eutanásia

Nenhum outro juiz alemão se manifestou contra a eutanásia em massa. Lothar Kreyssig já não era, sabidamente, um fã do Partido Nazista. Ao iniciar a carreira, em 1928, ele se recusou a entrar para a legenda. Por essa e outras manifestações de insubordinação, em 1937 foi punido com um cargo menor, o de juiz de casos de guarda de pacientes mentais em Brandenburgo. Em 1940, ao notar um número extraordinário de certidões de óbito desses pacientes, mandou uma carta de protesto ao ministro da Justiça, Franz Gürtner. Foi chamado à Suprema Corte, onde explicaram a ele que a sentença de morte para certas vítimas era a vontade de Hitler - e sua vontade era a "fonte da lei". Kreyssig deu de ombros. Proibiu qualquer transferência de pacientes sem sua autorização. Em 1942, iniciou um processo público acusando de assassinato o chefe do programa, Philipp Bouhler. Foi afastado do cargo no mesmo ano. Após a guerra, ajudou a fundar uma espécie de ONG: Aktion Sühnezeichen Friendensdienste (Ação de Reconciliação para a paz).

Arcebispo lidera movimento anti-T4

Clemens von Galen tornou-se arcebispo de Münster em 1933. No mesmo ano Hitler tomava o poder na Alemanha e fechava um acordo com a Igreja Católica - o acordo, assinado pelo Cardeal Eugenio Pacelli (que se tornaria o papa Pio XII em 1939), restringiu os poderes do clero, mas garantiu sua sobrevivência no país. Hitler tinha medo da influência da Igreja e se anunciava como católico. Aproveitando sua liberdade, nos sermões o arcebispo ridicularizava a doutrina nazista (como a ordem, revogada depois de muitas críticas, para remover os crucifixos das escolas). Mas o T4 o fez ficar sério. Em 1941, ele começou a pregar abertamente contra o programa e, logo, contra tudo o que o nazismo representava. Esses discursos inflamados passaram a ser reimpressos clandestinamente na Alemanha e repassados entre famílias católicas e até mesmo aos soldados no front - a Inglaterra chegou a "bombardear" soldados alemães com as transcrições em folhetos. Os sermões geraram protestos públicos contra o programa. O líder da SS em Münster solicitou a execução de Von Galen, mas, temendo a revolta popular, a cúpula do III Reich teve de engolir a resistência do religioso até o fim da guerra. Clemens von Galen foi eleito cardeal no Natal de 1945 e beatificado por João Paulo II em 2004.

Fonte: Revista Superinteressante - Edição 292-A - JUN2011 - Págs 36-37

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Americanos esterilizados em programa de eugenia lutam por indenização do Estado

Mais de 60 mil americanos foram esterilizados, muitos contra a vontade, como parte de um programa que terminou em 1979

Em 1968, nos Estados Unidos, foi violentada por um vizinho que ameaçou matá-la se ela relatasse o que havia acontecido a alguém. Criada em ambiente cercado de abusos, filha de pais violentos, na empobrecida cidadezinha de Winfall, na Carolina do Norte, a adolescente tinha 13 anos.

A americana Elaine Riddick, que foi submetida
a uma esterilização forçada aos 13 anos
Nove meses mais tarde, quando estava no hospital, dando à luz uma criança - fruto do crime de que tinha sido vítima - Riddick foi violentada pela segunda vez, agora pelo Estado - ela diz. Uma assistente social que a tinha declarado "mentalmente fraca" pediu ao Eugenics Board - órgão americano encarregado de implementar no país as ideologias da Eugenia - que esterilizasse a adolescente.

Hoje tida como uma falsa ciência, a Eugenia foi um dos pilares do Nazismo na Alemanha e chegou a ser considerada um ramo respeitável das Ciências Sociais. O termo quer dizer "bom nascimento" e foi criado em 1883 pelo britânico Francis Galton. A ideologia propunha o estudo de agentes capazes de melhorar ou suavizar as características raciais de gerações futuras, física ou mentalmente.

Mais de 60 mil americanos foram esterilizados, muitos contra a vontade, como parte de um programa que terminou em 1979. Seu objetivo, na prática, era impedir que pobres e deficientes mentais procriassem. Décadas mais tarde, um Estado americano - a Carolina do Norte - está considerando indenizar as vítimas.

Coerção

As autoridades da Carolina do Norte forçaram a avó de Riddick a escrever um "x" no formulário de autorização. Após fazer o parto do bebê por cesariana, os médicos esterilizaram Riddick. "Mataram meus filhos", diz. "Mataram os meus antes de chegarem", diz Riddick, que sofreu décadas de depressão e outras doenças, e hoje tem 57 anos.

Quase 40 anos após a última pessoa ter sido esterilizada como parte do programa de Eugenia da Carolina do Norte, o Estado criou um grupo de trabalho para tentar localizar as 2,9 mil vítimas que, estima-se, ainda estariam vivas.

O grupo espera reunir as histórias pessoais das vítimas e recomendar ao Estado que lhes ofereça alguma forma de indenização. Entretanto, com as finanças públicas sob pressão, não está claro se o Legislativo vai concordar.

"Sei que não posso corrigir (a injustiça) mas ao menos posso reconhecê-la", disse o deputado estadual Larry Womble. Ele espera "contar ao mundo que coisa horrenda o governo fez com jovens meninos e meninas". O movimento de esterilização nos Estados Unidos foi parte de um amplo esforço para "limpar" a população do país de características considerados indesejadas.

Entre as políticas adotadas estavam evitar a mistura de raças e o estabelecimento de cotas de imigração rigorosas para europeus do leste, judeus e italianos. Um total de 32 Estados americanos aprovaram leis permitindo que as autoridades esterilizassem pessoas consideradas não aptas a procriar, começando com a Indiana, em 1907.

O último programa terminou em 1979. As vítimas foram criminosos e jovens delinquentes, homossexuais, mulheres de tendências sexuais tidas como "anormais", pobres recebendo ajuda do Estado, epiléticos ou pessoas com problemas mentais. Em alguns Estados, as grandes vítimas do programa foram populações de origem africana e hispânica.

Puritanismo

Segundo historiadores, as esterilizações, aparentemente feitas com o "consentimento" de vítimas e familiares, aconteciam, na prática, à base de coerção. Camponeses analfabetos recebiam formulários para assinar, detentos eram advertidos de que não seriam libertados com seus corpos intactos, pais pobres eram ameaçados de perder assistência pública se não aprovassem a esterilização de filhas "depravadas".

Entre alguns dos pedidos de esterilização recebidos pelo Eugenics Board em outubro de 1950 estavam: uma jovem de 18 anos, separada do marido, que tinha "comportamento antissocial"; uma vítima de estupro, negra, com 25 anos, que apresentava "tendências sexuais anormais"; uma menina de 16 anos que tinha sido enviada para uma instituição do Estado por "delinquência sexual" e cuja tia havia dado "assinatura de consentimento"; uma mulher branca, casada, com três filhos, cuja família havia dependido do Estado por muitos anos e tinha um "histórico de casamentos com índios e negros".

Segundo o historiador e especialista em leis Paul Lombardo, da Georgia State University, a motivação por trás das medidas era a indignação com a ideia de que pessoas que haviam desrespeitado códigos de conduta sexual acabariam precisando de assistência pública.

"Nesse país, sempre fomos muito sensíveis a noções de histórias públicas de sexualidade inapropriada", disse. "É nossa formação puritana entrando em conflito com nosso senso de individualismo."

Os programas de esterilização também se baseavam em critérios raciais. Segundo Lombardo, o discurso era: "Quanto menos bebês negros tivermos, melhor. Vão todos acabar dependendo de ajuda do Estado."

Carolina do Norte

Embora os especialistas calculem que milhares em vários Estados americanos tenham sido esterilizados como parte do programa no século 20, a Carolina do Norte se destacou por sua eficiência em implementar as medidas.

A maioria dos Estados promoveu esterilizações de detentos e pacientes em prisões e outras instituições. Na Carolina do Norte, no entanto, assistentes sociais atuando na comunidade podiam fazer petições ao Estado para que indivíduos fossem incluídos no programa.

As autoridades de saúde calculam que dos 1.110 homens e 6.418 mulheres esterilizados na Carolina do Norte entre 1929 e 1974, cerca de 2,9 mil estejam vivos. Hoje, vários Estados examinaram seu passado e fizeram pedidos oficiais de desculpas. No caso da Carolina do Norte, isso ocorreu em 2003.

Mas alguns no Estado querem que o processo vá mais além. O deputado estadual Larry Womble continua a fazer campanha por indenização monetária para as vítimas. Com a crise nas finanças públicas, no entanto, há poucas chances de que legisladores aprovem um pedido de US$ 58 milhões em indenizações - US$ 20 mil para cada vítima.

Uma das pessoas envolvidas na campanha é Charmaine Cooper, diretora-executiva do grupo de trabalho Justice for Sterilization Victims Task Force, criado pelo Estado. "Minha esperança é de que o Estado reconheça que nunca haverá um bom momento para indenizações".

Entre as vítimas que deverão prestar depoimento está Riddick, que hoje vive em Atlanta. Para ela, a perspectiva de uma indenização de US$ 20 mil é um insulto. "Deus disse, sejam fecundos, multipliquem-se. Eles não pecaram apenas contra mim, pecaram contra Deus."

Fonte: BBC Brasil
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/bbc/americanos+esterilizados+em+programa+de+eugenia+lutam+por+indenizacao+do+estado/n1597029810792.html

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cartas sobre o programa de eutanásia

Tradução de algumas cartas trocadas entre autoridades do III Reich e/ou representantes de setores da sociedade alemã sobre o extermínio sistemático de deficientes físicos e mentais.

Estas cartas foram publicadas nos volumes da compilação A History in Documents and EyeWitness Accounts, entre outras. As traduções do alemão para o inglês se encontram nesta página:
http://www.remember.org/witness/links.let.eut.html
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Cartas sobre a Eutanásia

Carta do chefe da instituição de deficientes mentais em Stetten para o Ministro da Justiça do Reich Dr. Frank, 06 de Setembro de 1940 [ToWC, Vol. I, p. 854]

Caro Ministro do Reich,

A medida sendo tomada no presente com os pacientes mentais de todos os tipos têm causado uma completa falta de confiança na justiça entre grandes grupos de pessoas. Sem o consentimento dos parentes ou guardiões, tais pacientes estão sendo transferidos para diferentes instituições. Após um período curto eles são notificados de que tal pessoa morreu de alguma doença... Se o estado realemente quer levar a cabo o extermínio destes ou pelo menos de alguns pacientes mentais, não deveria uma lei ser promulgada, que possa ser justificada perante a estas pessoas - uma lei que daria a todos a garantia de exame cuidadoso tanto para ser destinado a morrer ou entitulado a viver e também ser dados aos parentes uma chance de serem ouvidos, de modo similar, como previsto por lei para a prevenção de Progenia Hereditária Afetada?

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Carta do Dr. Wurm, da Igreja Provincial Evangélica de Wuerttemberg, para o Ministro do Interior do Reich, Dr. Frich, 05 de Setembro de 1940 [NCaA, Supp. A, p. 1223]

Caro Ministro do Reich,

Em 19 de Julho eu enviei uma carta sobre o extermínio sistemático de lunáticos, débeis mentais e pessoas epiléticas. Desde então esta prática alcançou proporções tremendas: Recentemente os internos de abrigos de idosos têm sido incluídos. A base para esta prática parece ser que em uma nação eficiente não deverá haver lugar para pessoas fracas ou frágeis. É evidente por muitos relatórios que estamos recebendo que o sentimento das pessoas esta sendo profundamente ferido pelas medidas ordenadas e que o sentimento de insegurança legal está se espalhando e é pesaroso sob o ponto de vista dos interesses nacionais e do estado.

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Carta do Bispo da Igreja Católica Romana de Limburg ao Ministro da Justiça do Reich, 13 de Agosto de 1941 [ToWC, Vol. I, p. 845]

Onibus chegam a Hadamar várias vêzes por semana com um grande número destas vítimas. Crianças das escolas das redondezas conhecem estes veículos e dizem: "Lá vai o vagão assassino". Após a chegada de tais veículos os cidadãos de Hadamar então vêem a fumaça vindo da chaminé e estão magoados pelos constantes pensamentos sobre as pobres vítimas especialmente quando, dependendo da direção do vento, eles têm que suportar o odor revoltante. A consequência dos princípios sendo praticados aqui é que as crianças, quando reunidas com outras, fazem comentários do tipo: "Você é obtuso, você será posto num forno em Hadamar". Pessoas que não querem se casar ou não tiveram a oportunidade dizem: "Casar? Sem problemas. Ponha crinaças em um mundo que então vai acabar dentro de uma chaminé". Pessoas idosas estão dizendo "de forma alguma eu vou para um hospital do estado! Depois dos débeis mentais, os idosos serão os próximos na fila como bocas inúteis a serem alimentadas".

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Extraído do diário do General Halder, Setembro a Novembro de 1941 [ToWC, Vol. X, p. 1195]

26 de Setembro de 1941:....h.

Instituições mentais no Grupo de Exércitos Norte. Russos consideram débeis mentais como seres sagrados. Matá-los é necessário, nada menos.
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Fonte: A History in Documents and EyeWitness Accounts
http://www.remember.org/witness/links.let.eut.html
Tradução: Antonio Freire

Ler também:
A decisão de Kurt Gerstein de entrar para as Waffen-SS (blog avidanofront)

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Dinamite contra doentes mentais

Fonte: The Destruction of the European Jews, Raul Hilberg, pág. 219

"...After the speech Himmler, Nebe, von dem Bach, and the chief of Himmler's Personal Staff, Wolff, inspected an insane asylum. Himmler ordered Nebe to end the suffering of these people as soon as possible. At the same time Himmler asked Nebe to "turn over in his mind" various other killing methods more humane than shooting. Nebe asked for permission to try out dynamite on the mentally sick people. Von dem Bach and Wolff protested that the sick people after all were not guinea pigs, but Himmler decided in favor of the attempt. Much later, Nebe confided to von dem Bach that the dynamite had been tried on the inmates with woeful results 165... "
Tradução:

"...Depois do discurso, Himmler, Nebe, von dem Bach e o chefe do staff pessoal de Himmler, Wolff, inspecionaram um hospício. Himmler ordenou a Nebe que terminasse com o sofrimento dessas pessoas o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, Himmler pediu a Nebe que "ponderasse com calma" vários outros métodos de matança mais humanos do que os fuzilamentos. Nebe pediu permissão para experimentar dinamite nos doentes mentais. Von dem Bach e Wolff protestaram, dizendo que os doentes mentais afinal não eram cobaias, mas Himmler decidiu em favor da tentativa. Muito depois, Nebe confidenciou a von dem Bach que a dinamite havia sido testada nos internos, com
resultados deploráveis 165 ...
"
165. A história da visita de Himmler, como contada por von dem Bach, foi impressa na Aufbau (Nova York), de 23 de agosto de 1946, pp 1-2.

A história acima, contada pelo major-general da SS, Erich von dem Bach-Zelewski, em 1946, também é citada pelo historiador Richard Overy, em Russia's War, Penguin Books 1998, páginas 125/126, conf. transcrito por Roberto Muehlenkamp:

"In August 1941 the commander of Einsatzgruppe B, Artur Nebe, called up experts from the Criminal Technical Institute to help him solve a problem. A short while before, Heinrich Himmler had visited the Belorussian capital of Minsk to witness the execution of a hundred `saboteurs'. It was the first time he had seen men killed, shot a dozen at a time face down in an open pit. He asked Nebe to test other methods that were less brutalizing to those who carried out the executions. The experts drove to Russia in trucks filled with explosives and gassing equipment. The morning after their arrival they drove out to a wood outside Minsk, where they packed two wooden bunkers with 250 kilograms of explosive and twenty mental patients from a Soviet asylum. The first attempt to blow them up failed, and the wounded and frightened victims were packed into the bunkers with a further 100 kilograms of explosive. This time they were blown to smithereens, and Jewish prisoners were forced to scour the area picking up the human remains. The group then tried a different method at an asylum in Mogilev. Here they herded mental patients into a bricked-up laboratory, into which they inserted a pipe connected to a car exhaust. Fumes from the car took too long to kill the victims, and the car was swapped for a truck, which could generate a larger volume of fumes. The victims died in eight minutes. Gas killing became the preferred option. Altogether an estimated 10,000 died in asylums across German-occupied territory: men, women and children.

These murderous experiments were part of a programme of ethnic cleansing and 'counterinsurgency' in the East that led to the deaths of millions of Jews, Soviet prisoners of war, captured Communists, partisans and ordinary people caught in the crossfire of ideological and racial war – a harvest of dead unparalleled in the history of modern war.
"
Tradução:

"Em agosto de 1941, o comandante da Einsatzgruppe B, Artur Nebe, convidou peritos do Instituto Técnico Criminal para ajudá-lo a resolver um problema. Pouco tempo antes, Heinrich Himmler havia visitado a capital bielo-russa de Minsk para testemunhar a execução de uma centena de "sabotadores". Foi a primeira vez que ele havia visto homens sendo mortos, fuzilados uma dúzia de uma vez, virados de frente para uma vala aberta. Ele pediu a Nebe que testasse outros métodos que fossem menos embrutecedores para aqueles que se encarregavam das execuções. Os peritos dirigiram-se para a Rússia com caminhões cheios de explosivos e equipamentos de gaseamento. Na manhã após a chegada deles, eles dirigiram-se para uma floresta do lado exterior de Minsk, onde eles encheram dois bunkers de madeira com 250 quilogramas de explosivo e vinte pacientes doentes mentais de um asilo soviético. A primeira tentativa de explodi-los falhou, e as vítimas feridas e atemorizadas foram aglomeradas dentro dos bunkers com mais 100 quilogramas de explosivo. Desta vez, eles foram explodidos em pedacinhos, e prisioneiros judeus foram forçados a vasculhar a área recolhendo os restos humanos. O grupo então tentou um método diferente num asilo em Mogilev. Nesse local, eles conduziram pacientes mentais para um laboratório fechado com tijolos, dentro do qual eles inseriram um cano conectado a um escapamento de carro. A fumaça do carro levou muito tempo para matar as vítimas, e o carro foi substituído por um caminhão, o qual poderia gerar um volume maior de gases. As vítimas morreram em oito minutos. Matanças por gás tornaram-se a opção preferida. No total, um número estimado de 10.000 morreram em asilos de um lado ao outro dos territórios ocupados por alemães: homens, mulheres e crianças.

Esses experimentos assassinos eram parte de um programa de limpeza étnica e "contra-insurgência" no Leste, que levou às mortes de milhões de judeus, prisioneiros soviéticos de guerra, comunistas capturados, partisans e pessoas comuns pegas no fogo cruzado de guerra ideológica e racial - uma colheita de morte sem paralelos na história da guerra moderna.
"
O seguinte documento mostra que, em 1967, o Dr. Albert Widmann foi julgado e condenado a seis anos e meio de prisão, por crimes cometidos em Mogilev:

Fonte: http://www1.jur.uva.nl/junsv/brd/brdengfiles/brdeng658.htm

"Case Nr.658
Crime Category: Euthanasia, Other Mass Extermination Crimes
Accused: Widmann, Dr. Albert 6½ Years
Court: LG Stuttgart 670915
Country where the crime was committed: Germany, GUS
Crime Location: Minsk, Mogilew, Berlin
Crime Date: 4109, 42
Victims: Mentally Disabled, Jews
Nationality: Soviet
Office: RSHA Kriminaltechnisches Institut
Subject of the proceeding: Blowing up of a bunker near Minsk in which mentally disabled patients had been locked up, as well as gassing of mentally disabled patients in Mogilew. Technical screening of 'gas vans' built by the RSHA (Berlin, 1942)
"
Tradução:

"Caso Nr.658
Categoria do Crime: Eutanásia, Outros Crimes de Extermínio em Massa
Acusado: Widmann, Dr. Albert 6½ anos
Tribunal: LG Stuttgart 670915
País onde o crime foi cometido: Alemanha, GUS
Local do Crime: Minsk, Mogilew, Berlim
Data do Crime: 4109, 42
Vítimas: Deficientes mentais, judeus
Nacionalidade: Soviética
Escritório: RSHA Kriminaltechnisches Institut
Assunto do processo: Explosão de um bunker próximo a Minks no qual pacientes mentais haviam sido trancados, assim como gaseamento de pacientes deficientes mentais em Mogilew. Exames técnicos de "vans de gaseamento" construídas pela RSHA (Berlim, 1942)
"
Tradução: Marcelo Oliveira, Roberto Muehlenkamp
Fonte: Lista holocausto-doc Yahoo!
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/6233

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