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terça-feira, 27 de agosto de 2019

Extermínio dos judeus soviéticos, Junho de 1941-Março de 1942

Durante os estágios de planejamento da Operação Barbarossa, a política alimentar nazista estava ligada a planos de assassinatos políticos em larga escala. Em 2 de maio de 1941, uma conferência de secretários de estado, presidida por Thomas, concluiu que "milhões de pessoas sem dúvida morrerão de fome, se extrairmos tudo o que for necessário para nós daquele país". 10 A seleção dessas vítimas por fome seguiria uma economia política de valor racial, mas também seria moldada por uma crença político-ideológica-racial de que o inimigo era o "judeu-marxista". Rosenberg reconheceu essa conexão quando escreveu, em 8 de maio de 1941, que a guerra seria:
[a] luta por suprimento de alimentos e matérias-primas para o Reich alemão, bem como para a Europa como um todo, é uma luta de natureza ideológica na qual o último inimigo judeu-marxista deve ser derrotado. 11
As consequências demográficas específicas previstas neste planejamento foram explicitadas em um relatório do Grupo da Agricultura em 23 de maio de 1941, com base nas recomendações de Backe. A URSS seria dividida em duas (uma zona produtiva e outra improdutiva) e populações excedentes redirecionadas para a Sibéria, embora “o transporte ferroviário esteja fora de questão”:
Não há interesse alemão em manter a capacidade produtiva dessas regiões, inclusive no que diz respeito ao abastecimento das tropas ali estacionadas. […] A população dessas regiões, especialmente a população das cidades, terá que passar por uma fome das maiores dimensões antecipada. A questão será redirecionar a população para as áreas da Sibéria. Como o transporte ferroviário está fora de questão, este problema também será extremamente difícil. 12
O relatório então admitiu que “muitas dezenas de milhões de pessoas se tornarão supérfluas nesta área e morrerão ou terão que emigrar para a Sibéria”. O documento se referia a esses grupos como “comedores inúteis”, uma frase usada originalmente para justificar a morte de oentes mentais no programa T4, confirmando assim que a terminologia da eutanásia havia se espalhado para esses planejadores. No entanto, se não houvesse transporte ferroviário para levá-los à Sibéria, a última opção já era duvidosa, de modo que este documento poderia ser visto como uma admissão antecipada de que a morte estava na vanguarda das intenções nazistas para a população soviética, com judeus a frente da fila. Isto é ainda confirmado por um documento de Engelhardt 13, que incluiu uma tabela de nacionalidades por cidade e país na Bielorrússia, na qual Waldemar von Poletika tinha sublinhado judeus, russos e poloneses e acrescentou uma nota marginal dizendo 'fome!' Outra parte do mesmo texto teve uma nota marginal de von Poletika dizendo que uma população de 6,3 milhões de pessoas morreria.

O planejamento da fome foi reiterado após a invasão. Em 14 de agosto de 1941, Göring "contava com grandes perdas de vida por motivos de nutrição". 14 Em 13 de novembro de 1941, Wagner confirmou que "os prisioneiros de guerra que não trabalham nos campos de prisioneiros passam fome" .15 Em novembro, Göring disse ao ministro das Relações Exteriores italiano, Ciano:
Este ano, de 20 a 30 milhões de pessoas morrerão de fome na Rússia. Talvez seja bom que isso esteja acontecendo, porque certos povos devem ser dizimados. 16
Durante o verão de 1941, a política de fome foi conjugada com uma política de fuzilamento mais ativa, parcialmente justificada pelo conceito de represália e em parte por uma 'conflação' de todos os judeus do sexo masculino com o bolchevismo. Em março de 1941, Göring dissera a Heydrich que preparasse uma advertência às tropas “para que soubessem quem, na prática, encararia o muro”.17 Em 17 de junho de 1941, Heydrich realizou uma reunião com os comandantes de unidade dos Einsatzgruppen em Berlim, dando instruções para as unidades prosseguirem após a invasão. Em 2 de julho de 1941, ele passou um resumo dessas instruções para os quatro HSSPF. Ele listou explicitamente “os judeus em posições partidárias e estatais” como um grupo a ser executado, e também pediu o incitamento aos pogroms, apelidado eufemisticamente por "tentativas de autolimpeza" (Selbstreinigungsversuchen), mas "sem traços" (spurenlos) do envolvimento alemão. .18 Essas instruções colocavam todos os homens judeus em perigo, especialmente aqueles dentro das fronteiras soviéticas anteriores a 1939, que a ideologia nazista automaticamente assumia como bolcheviques. Entre os primeiros homens na linha de fogo estavam quaisquer homens judeus instruídos, como os homens de 'Lwow' mortos na “ação de intelligentsia” do início de julho. O Einsatzgruppe C relatou que os "Líderes da intelligentsia judaica (em particular professores, advogados, oficiais soviéticos) foram liquidados". 19 O Einsatzgruppe B observou que "em Minsk, toda a intelligentsia judaica foi liquidada (professores, acadêmicos, advogados, etc., exceto pessoal médico)." 20 Lutsk, na Ucrânia, testemunhou um dos primeiros exemplos da aplicação extremamente desproporcional de represálias:
Em 2 de julho, foram encontrados os cadáveres de dez soldados alemães da Wehrmacht. Em retaliação, 1160 judeus foram fuzilados pelos ucranianos com a ajuda de um pelotão da polícia e um pelotão da infantaria. 21
Os alemães não reconheceram o conceito de "proporcionalidade" que se aplica às represálias no direito internacional, o que exige que "Atos feitos por meio de represálias não devem, no entanto, ser excessivos e não devem exceder o grau de violação cometido pelo inimigo”. 22 Em outubro, um líder militar, Reichenau, pedia uma "dura, mas justa expiação do Untermenschentum judeu" .23 Os nazistas desejam vingar-se contra os judeus, portanto, convergiram, no Oriente, com uma cultura militar em que as ações de vingança já estavam inclinadas para buscar soluções totais ilimitadas. 24 Esse contexto é totalmente ignorado por MGK e sistematicamente deturpado pelos negadores que discutem a política de represália. 25

Notas:

[10] Aktennotiz über Ergebnis der heutigen. Besprechung mit den Staatssekretären über Barbarossa, 2.5.41, 2718-PS, IMT XXXI, pp.84-85; cf. Alex J. Kay, ‘Germany's Staatssekretäre, Mass Starvation and the Meeting of 2 May 1941’, Journal of Contemporary History, 41/4, October 2006, pp.685-700.

[11] Rosenberg, Allgemeine Instruktion für alle Reichskommissare in den besetzten Ostgebieten, 8.5.41, 1030-PS, IMT XXVI, pp.576-80.

[12] Wirtschaftspolitische Richtlinien für die Wirtschaftsorganisation Ost vom 23.5.1941, erarbeitet von der Gruppe Landwirtschaft, 23.5.41, EC-126, IMT XXXVI, pp.135-57.

[13] Eugen Freiherr von Engelhardt, Ernährung- und Landwirtschaft, p.11, NARA T84/225/1595914. Document was first discussed in Bernhard Chiari, ‘Deutsche Zivilverwaltung in Weissrussland 1941-1944. Die lokale Perspektive der Besatzungsgeschichte’, Militärgeschichtliche Mitteilungen 52, 1993 and most extensively in Christian Gerlach, Kalkulierte Morde. Die deutsche Wirtschafts- und Vernichtungspolitik in Weißrußland 1941 bis 1942. Hamburg: Hamburger Edition, 1999, pp.57-8.

[14] Verbindungsstelle d. OKW/WiRüAmt beim Reichsmarschall, Wirtschaftsauszeichungen für die Berichtszeit vom 1-14.8.41 (u.früher), NARA T77/1066/1062; cf. Christopher R. Browning, 'A Reply to Martin Broszat regarding the Origins of the Final Solution', Simon Wiesenthal Center Annual 1, 1984, pp.113–32.

[15] AOK 18 Chef des Stabes, Merkpunkte aus der Chefbesprechung in Orscha am 13.11.41, NOKW-1535.

[16] Czeslaw Madajczyk (ed), ‘Generalplan Ost’, Polish Western Affairs III/2, 1962, pp.391-442

[17] Browning, Path, p.236, citing Secret file note Heydrich (CdS B Nr. 3795/41), 26.3.41, RGVA 500-3-795, fols. 140-42.

[18] Heydrich an Jeckeln, von dem Bach-Zelewski, Prützmann, and Korsemann, 2.7.41, RGVA 500-1-25; cf.Peter Klein, ed. Die Einsatzgruppen in der besetzten Sowjetunion 1941/42. Die Taetigskeits-und Lageberichte des Chefs der Sicherheitspolizei und des SD. Berlin: Edition Heinrich, 1997, pp.319-28.

[19] EM 13, 5.7.41.

[20] EM 32, 24.7.41.
[21] EM 24, 16.7.41.

[22] Michael A. Musmanno, U.S.N.R, Military Tribunal II, Case 9: Opinion and Judgment of the Tribunal. Nuremberg: Palace of Justice, 8.4.48, pp.106-108, citing the British Manual of Military Law, paragraph 459

[23] AOK 6 Verhalten der Truppe im Ostraum, 10.10.41, published in Gerd R. Ueberschär and Wolfram Wette(eds), “Unternehmen Barbarossa”. Der deutsche Überfall auf die Sowjetunion. Frankfurt am Main, 1991, p.285ff.

[24] Isabel V. Hull, Absolute Destruction. Military Culture and the Practices of War in Imperial Germany. London, 2005

[25] For an attempt by two deniers to whitewash the reprisal policy, falsely claiming that “most of the German reactions were totally covered by international law”, see ‘Dipl.-Chem.’ Germar Rudolf and Sibylle Schröder, ‘Partisan War and Reprisal Killings’, The Revisionist 1/3, 2003, pp.321-330: http://www.vho.org/tr/2003/3/RudolfSchroeder321-330.html.
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Fonte: trecho entre as pág. 95-98 do Paper/Documento produzido pelo Holocaust Controversies (blog);
Título: "Belzec, Sobibor, Treblinka. Holocaust Denial and Operation Reinhard. A Critique of the Falsehoods of Mattogno, Graf and Kues"
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Eichmann antes de Jerusalém (Bettina Stangneth)

Em 1957, um círculo de nazistas na Argentina gravou dezenas de horas de conversas com Adolf Eichmann, com a expectativa de que elas levariam a um livro que refutaria a história estabelecida do Holocausto. Para o desgosto deles, no entanto, Eichmann passou a fazer declarações antissemitas na fita que indicavam claramente que ele desejou exterminar todos os judeus e que a política nazista tinha sido orientada para a Solução Final. Eichmann colocou uma pedra sobre a negação. Bettina Stangneth forneceu a análise mais detalhada e corretamente contextualizada deste ato revisionista suicida que é está atualmente disponível.

Eichmann declarou na fita 17 que "ainda há um monte de judeus curtindo a vida hoje que deveriam ter sido gaseados" (Stangneth, pág. 265). Mais revelador, na fita 67, quando Eichmann erroneamente pensou que a gravação havia sido concluído, ele afirmou que "se 10,3 milhões desses inimigos tivessem sido mortos, então teríamos cumprido nosso dever" (áudio aqui). Um trecho no início daquela mesma conversa identifica estes 10,3 milhões como provenientes do Relatório Korherr e diz que "[se] tivéssemos matado 10,3 milhões, eu ficaria satisfeito, e diria, bom, nós destruímos o inimigo" (Stangneth, p.304).

Em sua análise da guerra, Eichmann põe a culpa pelo fiasco em Weizmann, a quem ele chama de "Führer" da judiaria (ver pág. 11 da apresentação do julgamento T/1393). Ele afirma que "Como as coisas estão agora, desde que o destino pérfido deixou uma grande parte desses judeus vivos, digo a mim mesmo que isto é um fato consumado. Devo me curvar ao destino e providência" (transcrição do julgamento). Eichmann também discute o uso de exaustor de gases de Warthegau, como pode ser visto na página 14 de suas correções nos manuscritos, T/1432.

É, portanto, de admirar que MGK* e outros "revisionistas" evitem essas fitas e transcrições como uma poraga. A frase "eles são forjados" ou "estamos condenados/ferrados" parece apropriada.

*MGK é a sigla pra Mattogno, Graf e T. Kues, três negacionistas de destaque (nos círculos "revis") atualmente.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2014/09/eichmann-before-jerusalem-bettina.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Eichmann Before Jerusalem (Bettina Stangneth)
Tradução: Roberto Lucena

Capa do livro
Observação: a quem não leu antes, eis minha crítica (na observação deste post) a essa postura da Hannah Arent, que sempre achei furada, sobre o conceito do que ela definiu como "banalidade do mal", que sempre achei fútil e superficial. Mas não é uma crítica recente que eu faço como podem pensar por conta da data do post de 2013. A quem quiser ler os outros posts que citam a Arendt sigam a tag. Que agora a Bettina Stangneth pôs realmente abaixo a ideia distorcida da Arendt, com base nas impressões dela sobre a aparência do Eichmann num julgamento.

E qual é o problema de se manter esse tipo de opinião confrontando nomes que são literalmente endeusados, idolatrados e citados com base em "carteirada" ("quem é você pra contestar este nome consagrado"): justamente este. As pessoas no Brasil se agarram a um nome (geralmente quando citam estados ditatoriais chamando de totalitarismo, outro conceito problemático) que ouvem falar muito e fazem disso uma procissão sem sequer questionar se a afirmação dela procede ou tem sentido.

Toda vez que eu fazia essa contestação dizendo que é no mínimo fútil alguém traçar um perfil de um sociopata com base na dissimulação (certeira) que ele fez no julgamento pra passar por "pobre homem indefeso". A Arendt caiu literalmente na lábia do Eichmann no julgamento dele em Israel que era na verdade um assassino frio como todo nazista fanático, e dissimulado. Não havia banalidade do mal alguma, apenas dissimulação que ela tolamente (por romantismo e idealização) não soube identificar.

É um perigo fazer um comentário assim pois se entra fatalmente no terreno das diferenças de comportamento entre homens e mulheres, que existem, generalizando, pois nem todo homem e mulher se comportam dentro de um padrão preestabelecido embora haja sim uma certa facilidade do lado masculino em perceber certas dissimulações de homens, por um certo ceticismo com gente dissimulada, justamente por sabermos da natureza comportamental mais agressiva e violenta masculina.

A Arendt produziu uma banalização do nazismo com a ideia distorcida dela. Ainda bem que livros como este da Bettina Stangneth, depois de tanto tempo, põe abaixo essa abobrinha de "banalidade do mal". O Eichmann não era um simples burocrata bucólico, com cara de idiota (bonachão), como a Arendt deduziu erroneamente por se ater apenas à dissimulação e aparência dele, ela foi extremamente superficial e genérica ao produzir esse conceito bem furado. Eichmann era um assassino frio, dissimulado, como todo nazista fanático. Toda a máquina de extermínio nazista tinha essa característica, a maioria não entrava na mesma só por serem burocratas, o envolvimento com a ideologia do partido nazi pesava muito.

O que eu já vi de texto em português (do Brasil) citando esses livros da Hannah Arendt como referência sobre totalitarismo, dá desgosto. A crítica deve ser feita pois não é possível que as pessoas sejam tão óbvias a só usarem certos livros batidos (porque só procuram as traduções em português, nem espanhol verificam já que é um idioma próximo e fácil de ler pra quem fala português) pra entender o nazismo sem nem questionar se o conceito está errado ou não. Eu tenho tanta aversão à coisa (a repetição por comportamento de manada provoca certa irritação), que quando vejo o nome Arendt citado com a tal "banalização do mal" eu já paro de ler.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Porque é negação e não revisionismo. Parte VIII: Os Massacres de Simferopol

Nas páginas 210 e seguintes do livro Treblinka. Extermination Camp or Transit Camp? ("Treblinka. Campo de Extermínio ou Campo de Passagem?"), escrito pelos nossos clientes regulares Carlo Mattogno e Jürgen Graf, lê-se o seguinte (minha tradução):
d. Simferopol e o julgamento de Manstein
O General Marechal de Campo Erich von Manstein era Comandante do Décimo – Primeiro Exército e combatia no Mar Negro e na Crimeia. Em 1949, foi levado perante um tribunal militar britânico em Hamburgo sob acusação de cumplicidade com os massacres cometidos pelo Einsatzgruppe D. Seu advogado de defesa era o inglês Reginald T. Paget, quem escreveu um livro – traduzido para alemão no ano seguinte – sobre o julgamento em 1951. Nesse livro, reporta o seguinte a respeito das actividades do Einsatzgruppe D na Crimeia:
"A mim, os números declarados pelo SD pareciam-me completamente impossíveis. Companhias individuais de cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos eram declarados como tendo morto 10.000 a 12.000 judeus em dois ou três dias. Uma vez que, como se recordará, os judeus acreditavam no seu realojamento e consequentemente levavam as suas pertenças consigo, o SD não pode ter transportado mais do que vinte ou trinta judeus respectivamente num camião. Por cada veículo, considerando o carregamento, 10 quilómetros de percurso, descarregamento e retorno, deve ter passado um tempo estimado de duas horas. O dia de Inverno na Rússia é curto e não se podia conduzir à noite. A fim de matar 10.000 judeus, teriam sido necessárias pelo menos três semanas.
Em um dos casos fomos capazes de verificar os números. O SD afirmava ter morto 10.000 judeus em Simferopol em Novembro e declarou a cidade livre de judeus em Dezembro. Através de uma séria de verificações, formos capazes de provar que o fuzilamento de judeus em Simferopol tinha ocorrido num único dia, especificamente em 16 de Novembro. Havia apenas uma única companhia do SD em Simferopol. O local de execução situava-se a 15 quilómetros da cidade. O número de vítimas não pode ter sido superior a 300, e esses 300 provavelmente não eram apenas judeus, mas uma colecção de diversos elementos que estavam sob suspeita de pertencer ao movimento de resistência. O caso de Simferopol foi amplamente difundido pelo público aquando do julgamento, uma vez que tinha sido mencionado pela única testemunha viva para esta acusação, um soldado austríaco com o nome de Gaffal. Este alegou que tinha ouvido a operação contra os judeus ser mencionada na cantina dos sapadores, onde era o homem da ordenança, e que tinha passado pelo local da execução perto de Simferopol. Depois de este depoimento recebemos uma quantidade de cartas e fomos capazes de apresentar várias testemunhas que tinham ficado junto de famílias judias no quarteirão e reportaram sobre os serviços religiosos na sinagoga bem como o mercado judeu, onde tinham comprado ícones e velharias – até à altura em que Manstein partiu da Crimeia e mesmo depois. Não havia qualquer dúvida de que a comunidade judaica em Simferopol tinha continuado a existir abertamente, e embora alguns dos nossos opositores tivessem ouvido rumores de violência contra os judeus em Simferopol, parecia mesmo assim que a comunidade judaica não estava consciente de nenhum perigo em particular."

Mattogno & Graf citam o advogado de defesa de Manstein, Reginald T. Paget, no contexto da sua tentativa de demonstrar que os "Relatórios de Situação Operacional URSS" dos Einsatzgruppen, esquadrões da morte do Sicherheitsdienst(Serviço de Segurança) de Reinhard Heydrich, que se contam entre a evidência mais directa e condenatória das chacinas em massa nazis e podem ser parcialmente lidas em tradução inglesa sob este link, foram muito exagerados pelos seus autores e que o número real de execuções levado a cabo por estes esquadrões da morte era muito inferior do que aquele que resulta dos referidos relatórios. Os superiores dos comandantes dos Einsatzgruppen, até ao nível dos próprios Heydrich e Himmler, devem ter sido fulanos muito ingénuos e confiantes que não consideraram necessário implementar qualquer mecanismo de controlo para verificar a exactidão daquilo que lhes era reportado sobre a execução das suas ordens, ou então não se importavam com a medida em que as suas ordens eram de facto executadas, enquanto os comandantes das Einsatzgruppen, por outro lado, supostamente não levavam o seu trabalho muito a sério e rotineiramente enganavam os seus superiores alegando logros muita para além do que tinham realmente conseguido.

Paget, o advogado de Manstein, parece ter acreditado neste cenário bastante improvável, ou então foi o que contou aos seus leitores no livro que escreveu sobre o julgamento de Manstein. Seguidamente vamos examinar a consistência e exactidão das alegações de Paget.

Começamos pelas dúvidas gerais de Paget sobre a possibilidade logística de executar massacres do tamanho e dentro do tempo reportados.

Paget alega que existem relatórios em que « cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos eram declarados como tendo morto 10.000 a 12.000 judeus em dois ou três dias». Isto é impossível, afirma Paget, porque o transporte das vítimas para o local de execução era uma estreiteza que não podia ser ultrapassada já que os destacamentos especiais do SD tinham demasiado poucos veículos e não podiam enche-los até ao limite da sua capacidade com pessoas porque os judeus destinados a serem executados levavam consigo as suas pertenças, acreditando que iriam ser realojados.

O pressuposto subjacente a esta alegação de Paget é que as vítimas eram levadas com veículos motorizados das cidades ou aldeias onde viviam para locais de execução isolados a alguma distância daí. Isto não era necessariamente o caso. No massacre de Babi Yar em 29/30 de Setembro de 1941, por exemplo, as mais de 30.000 vítimas tiveram que caminhar em longas filas para uma ravina perto da cidade de Kiev, onde foram abatidas a tiro. Em Kharkov, em meados de Dezembro de 1941, cerca de 15.000 judeus tiveram que marchar a pé até uma fábrica de tractores fora da cidade, na qual foram concentrados e perto da qual foram posteriormente abatidos a tiro, nos primeiros dias de Janeiro de 1942. No meu artigo Neither the Soviets nor the Poles have found any mass graves with even only a few thousand bodies ... [versão em português], é apresentada alguma evidência relativa a este massacre.

No entanto, mesmo quando as vítimas eram levadas em veículos motorizados para um local de matança fora da sua cidade ou vila e abatidos assim que chegavam àquele local, as limitações invocadas por Paget não se aplicavam necessariamente.

Por um lado, os Einsatzgruppen, como veremos no que respeita ao massacre que será descrito mais detalhadamente neste artigo, podiam contar com veículos disponibilizados pela Wehrmacht alemã, incluindo camiões inimigos capturados e autocarros civis requisitados, a fim de ter uma capacidade de transporte adequada ao tamanho e duração pretendidos da respectiva operação de matança.

O espaço de transporte disponível podia ainda ser alargado estipulando uma limitação ao montante de pertences que era permitido aos judeus levar consigo para a alegada deportação, ou ordenando-lhes que deixassem atrás todos os seus pertences, que alegadamente lhes seriam enviados mais tarde. Este procedimento foi aplicado nas matanças com camiões de gaseamento, vide Kogon, Langbein, Rückerl e outros, Nationalsozialistische Massentötungen durch Giftgas ("Matanças em massa nacional-socialistas mediante gás tóxico"), página 91 (citação do depoimento de Ramasan Sabitovich Chugunov, comandante de pelotão de um batalhão da polícia auxiliar local, relativamente à liquidação do gueto de Minsk em Outubro de 1943) e página 121 (depoimento do trabalhador ferroviário polaco Vladyslav Dabrovski relativamente a transportes para o campo de extermínio de Chelmno). Como veremos mais adiante neste artigo, este procedimento também foi aplicado em pelo menos uma ocasião em que os judeus foram conduzidos para um local de matança fora da localidade e lá abatidos a tiro.

As versões maiores dos camiões de gaseamento utilizados pelos Einsatzgruppen foram descritas por várias testemunhas como podendo levar 50, 60 ou até mais pessoas de cada vez (Kogon e outros, conforme supra, página 87, citação do depoimento do condutor de camião de gaseamento Erich Gnewuch; págima 91, citação do depoimento de Chugunov, acima mencionado; página 98, referência ao depoimento do condutor de camião de gaseamento Pauly; página 105, referência ao depoimento de Schiewer, membro do Einsatzkommando 11a; página 128, citação do depoimento do condutor de camião de gaseamento Gustav Laabs, Chelmno; página 141, citação de relatório escrito pelo condutor de camião de gaseamento Walter Piller). As medidas do compartimento de gaseamento de um destes camiões foram descritas como tendo sido as seguintes, pelo condutor de camião de gaseamento Burmeister, Chelmno (citação do depoimento em Kogon e outros, página 125): 4 a 5 metros de comprimento, 2,2 metros de largura e 2 metros de altura – uma área de carga de pelo menos 8,8 metros quadrados, suficiente para acomodar pelo menos 70 pessoas. Portanto, podemos partir do princípio de que, se os camiões utilizados para transportar judeus aos locais de fuzilamento eram tão grandes como as versões maiores dos camiões de gaseamento aplicados em fase posterior do processo de extermínio, cada um destes camiões podia levar no mínimo 50 judeus para o respectivo local de fuzilamento.

No que respeita ao tempo de transporte necessário, é difícil entender por que razão um percurso de 10 quilómetros incluindo carregamento e descarregamento demoraria o «tempo estimado de duas horas» que Paget considera. Sendo aplicada a pressão necessária, quinze minutos para cada uma das tarefas de carregamento no local de concentração, condução (a uma velocidade de apenas 40 quilómetros/hora), descarregamento e retorno parecem ser tempo suficiente. Portanto, os oito camiões que Paget menciona podiam, sob os meus pressupostos acima descritos, transportar 400 judeus para o local de matança cada hora e 2.800 num dia de trabalho de Inverno que se presume ter durado das 9:00 às 16:00 horas. Aumentando o número de veículos por recurso ao parque da Wehrmacht e/ou a requisições, este número podia ser facilmente duplicado ou triplicado.

No que respeita às tarefas de isolar o local da matança, ordenar às vítimas a despir-se, leva-las à vala em massa ou ravina em que seriam abatidos e abate-los a tiro lá, os destacamentos especiais das Einsatzgruppen não estavam sós, mas contavam com a assistência de outras forças, tais como a polícia de ordem e as unidades de Feldgendarmerie (polícia militar) e Geheime Feldpolizei (Polícia Secreta de Campo) da Wehrmacht. Assim, por exemplo, o massacre de Babi Yar foi executado pelo Sonderkommando 4a da Einsatzgruppe C em cooperação «com o quartel-geral da EGC e dois comandos do regimento de polícia Sul» (minha tradução). Segundo o historiador alemão Wolfram Wette ("Babij Yar 1941", em: Wolfram Wette / Gerd R. Ueberschär (editores), Kriegsverbrechen im 20. Jahrhundert ("Crimes de Guerra no Século 20"), páginas 152-164), o Sonderkommando 4a era composto por membros do Sicherheitsdienst e da Sicherheitspolizei (Polícia de Segurança), uma companhia de um batalhão da Waffen-SS e um pelotão de um batalhão de polícia, e reforçado por outros dois batalhões de polícia e unidades da polícia auxiliar ucraniana. A tarefa de supervisionar e vigiar a marcha dos judeus de Kiev para a ravina em que teve lugar a matança foi executada por tropas da Wehrmacht às ordens de Eberhard, comandante da cidade. O massacre dos judeus de Kharkov no início de Janeiro de 1942 foi efectuado conjuntamente pelo Sonderkommando 4a e o Batalhão de Polícia 314, que estava a cargo de isolar o local da matança. No massacre que será descrito em mais detalhe neste artigo, o destacamento especial do Einsatzgruppe D era reforçado por dois batalhões de reserva da polícia bem como membros do Feldgendarmerieabteilung(FGA) 683 e a unidade 647 da Geheime Feldpolizei (GFP).

Resumindo, se « cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos» (Paget) não eram suficientes para matar o número necessário de judeus dentro do tempo necessário, era possível obter recursos humanos e materiais adicionais na medida necessária para obter o resultado desejado.

Expostas assim as falácias das objecções logísticas de Paget, vamos ver a operação particular em relação à qual Paget alega ter sido capaz de «verificar os números», a matança dos judeus de Simferopol.

Paget alega ter conseguido « provar que o fuzilamento de judeus em Simferopol tinha ocorrido num único dia, especificamente em 16 de Novembro », que «o número de vítimas não pode ter sido superior a 300», e que «esses 300 provavelmente não eram apenas judeus, mas uma colecção de diversos elementos que estavam sob suspeita de pertencer ao movimento de resistência».

Uma reconstrução detalhada dos acontecimentos em Simferopol em Novembro e Dezembro de 1941, baseada em evidência documental e em numerosos depoimentos de testemunhas oculares recolhidos no decurso de várias investigações por autoridades de justiça penal da Alemanha Federal, encontra-se nas páginas 323 e seguintes do livro Besatzungspolitk und Massenmord. Die Einsatzgruppe D in der südlichen Sowjetunion 1941-1943 ("Política de Ocupação e Assassínio em Massa. O Einsatzgruppe D no sul da União Soviética, 1941 – 1943"), do historiador Andrej Angrick. Esta reconstrução, da qual fornecerei um resumo a seguir, mostra que são falsas as alegações de Paget, acima referidas.

No início de Novembro de 1941, Otto Ohlendorf, o comandante do EinsatzgruppeD, transferiu o estado-maior da sua unidade de Nikolajev para Simferopol, a capital da Crimeia. Simferopol era uma importante base de tropas e mantimentos alemães, tendo lá os seus quartéis-gerais os estados maiores dos corpos do exército XXX e LIV e da 72ª e 22ª divisões de infantaria, o Encarregado de Logística Chefe, o Comandante da Força Aérea junto do 11º Exército e o Comando Económico competente. A administração da cidade estava a cargo do Posto de Comando Local (Ortskommandantur) I/853 sob o mando do Capitão Kleiner, que efectuou um censo da população local segundo a sua etnia e constatou que, dos 156.000 habitantes originais, 120.000 de vários grupos populacionais tinham ficado em Simferopol, entre eles 11.000 de originalmente 20.000 judeus. Relativamente aos judeus, o relatório do posto de comando local, datado de 14 de Novembro de 1941 e guardado nos Arquivos Federais/Arquivos Militares da República Federal Alemã (Bundesarchiv/Militärarchiv), indicou que seriam "executados pelo SD".

Embora este documento torne claro que havia a intenção de exterminar os judeus de Simferopol e que a Wehrmacht estava consciente deste facto, dois problemas impediram que a matança fosse efectuada em Novembro de 1941. Um desses problemas era ideológico, o outro de natureza prática.

O problema ideológico consistia em que, na península de Crimeia, havia três grupos populacionais diferentes que estavam potencialmente sujeitos às políticas nazis relativas aos judeus. Eram estes:

1. Os caraítas, um povo turco que aderia ao judaísmo;

2. Os krimchaks ou krymchaks: segundo Angrick, estes eram descendentes de judeus sefarditas espanhóis que já não aderiam à religião judaica (outra informação sobre os krimchaks pode ser encontrada aqui);

3. Judeus ashkenazi emigrados da Europa Central e os seus descendentes.

Enquanto não havia dúvida de que o terceiro destes grupos seria aniquilado, havia incerteza entre os feitores das políticas nazis sobre como tratar os outros dois. Depois de consultar os seus especialistas "científicos" sobre "assuntos judaicos", o próprio Himmler – que mantinha ser o único a quem cabia decidir quem era judeu e quem não – finalmente decidiu que os caraítas seriam poupados, uma vez que não eram judeus de "raça". Os krimchaks, pelo outro lado, seriam mortos, porque em termos "raciais" eram judeus. A decisão de Himmler deve ter sido tomada entre os dias 5 de Dezembro de 1941 (a data do Relatório de Situação 142, que ainda menciona a "questão dos krimchaks") e 9 de Dezembro de 1941, a data em que, como veremos a seguir, os Krimchaks de Simferopol foram exterminados.

O problema prático que obstava ao extermínio dos judeus de Simferopol em Novembro de 1941 era que a actividade guerrilheira naquela área, grandemente exagerada em relatórios do exército alemão, fez com que o Comando Supremo do 11º Exército mandasse cada homem que tinha à sua disposição a combater os guerrilheiros, sendo o Einsatzgruppe D utilizado em missões de reconhecimento sobre movimentos guerrilheiros.

No início de Dezembro de 1941, contudo, a ameaça tinha diminuído depois de terem sido mortos ou capturados cerca de mil guerrilheiros, e com a chegada de uma brigada de tropas de montanha romenas como reforço, Ohlendorf já não tinha que utilizar os seus homens em missões de reconhecimento contra a guerrilha. Ao mesmo tempo, a transferência de Odessa para Simferopol do Sonderkommando 11b sob o comando de Werner Braune trouxe-lhe recursos adicionais para executar a sua principal tarefa, a de aniquilar os judeus. Os Quartel – Mestre Chefe da Wehrmacht, Hauck, favoreceu esta medida e até insistiu nela, uma vez que via a "acção relativa aos judeus" (Judenaktion) como forma de aliviar a dramática situação de alimentos em Simferopol, livrando-se de bocas para alimentar. O próprio comandante do 11º Exército, von Manstein, tinha dado o seu consentimento às matanças numa ordem que emitiu em 20 de Novembro de 1941, a qual continha a seguinte indicação (minha tradução de Angrick, como supra, página 338):
O soldado deverá mostrar compreensão perante a necessidade de submeter a uma dura retribuição o judaísmo, o portador espiritual do bolchevismo. Esta também é necessária para estrangular à nascença quaisquer revoltas, que são maioritariamente incitadas por judeus.

A "dura retribuição" começou em Simferopol em 9 de Dezembro de 1941, quando o Sonderkommando 11b e o estado-maior da Einsatzgruppe D exterminaram os krimchaks da cidade, provavelmente 1.500 pessoas no mínimo. Logo a matança parou durante dois dias porque Ohlendorf teve que resolver um problema de pessoal: os polícias da 4ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 9, que tinham assistido ao Einsatzgruppe D nos seus massacres desde o início da campanha da Rússia, estavam cansados de matar e tinham solicitado que lhes fosse dada outra missão. O seu pedido foi atendido, e Ohlendorf teve que esperar até que a unidade de substituição, a 3ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 3, chegasse a Simferopol.

Quando a 3ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 3 chegou a Simferopol, não houve tempo para habituar os seus homens à matança de uma forma gradual. Com a ajuda de todos os homens disponíveis de outros destacamentos da Einsatzgruppe D, os polícias e ambos batalhões de polícia e os membros destacados da FGA 683 e da GFP 647, o Sonderkommando 11b de Braune e o estado maior da Einsatzgruppe D de Ohlendorf continuaram a execução em 11 de Dezembro de 1941. Braune tinha dito aos seus homens que tinham um "grande dia de combate" (Grosskampftag) pela frente e que até os médicos teriam que participar. A matança dos judeus durou três dias. Ordenou-se aos judeus que se reunissem na área do antigo edifício do partido comunista no centro da cidade e entregassem as suas bagagens e objectos de valor, uma vez que – assim os carrascos lhes disseram – caso contrário estes poderiam ser roubados durante o transporte que os levaria ao serviço de trabalho, e os receberiam posteriormente. Camiões do Einsatzgruppe e o exército, autocarros e também veículos capturados menores foram utilizados para transportar a pessoas rapidamente para uma vala contra tanques fora de Simferopol. Os membros do Batalhão de Reserva da Polícia 3 tiveram que participar logo na chacina. Alguns tinham notado que colegas do Batalhão de Reserva da Polícia 9 estavam "pirados"; agora perceberam porque. Uma e outra vez, na presença de Ohlendorf e Braune, soou a ordem "Preparados, apontem, fogo!". 50 homens em linha disparavam em salvas. Os membros experientes da Einsatzgruppe administravam chamados golpes de misericórdia. Soldados da Wehrmacht também participaram no fuzilamento, não sendo possível estabelecer se estes eram exclusivamente polícias militares e membros da Geheime Feldpolizei. No frio gelado prisioneiros escolhidos tinham que empilhar os corpos na vala de modo a que não fosse desperdiçado espaço, enquanto outros arrastavam cadáveres deitados fora da vala e atiravam-nos para dentro desta. Quem tentava escapar ou fingia estar morto era abatido por homens da Einsatzgruppe com pistolas metralhadoras. O cinismo dos carrascos estava sempre presente, como quando foi dada instrução para não gastar outra bala numa judia ainda viva dentro da vala uma vez que um montão de terra seria atirado para cima dos cadáveres e ela então sufocaria de qualquer forma. Um judeu jovem tentou resistir, pelo que o comandante da acção ordenou que não fosse abatido a tiro mas espancado até à morte. Assim a chacina continuou nos próximos dias. Finalmente a Einsatzgruppe também estendeu a sua acção aos ciganos, tendo um pedido do exército presumivelmente sido um dos factores que conduziram à decisão de eliminar também este grupo da população.

No Relatório de Situação Operacional URSS Nº 150 de 02.01.1942, Ohlendorf reportou que, com o fim a acção em 15 de Dezembro de 1941, Simferopol, junto com outras partes da Crimeia, tinha sido livrado de judeus. Esta afirmação revelou-se como errada, uma vez que muitos judeus ainda estavam escondidos. Massacres menores em toda a Crimeia continuaram até ao fim do ano.

Termina assim o meu resumo da reconstrução por Angrick dos acontecimentos em Simferopol em Novembro de Dezembro de 1941. Como disse antes, esta reconstrução baseia-se em evidência documental e em numerosos depoimentos de testemunhas oculares. A descrição supra do massacre que começou em 11 de Dezembro de 1941, por exemplo, é baseada nos depoimentos de testemunhas oculares registados em ficheiros de investigação de autoridades de justiça penal da Alemanha Federal, referidos nas páginas 340 a 342 do livro de Angrick: Paul Zapp, Sergej Myshekov, Georg Glück, Hermann Frenser, Georg Mandt, Hans Günther, Hans Kurz, Hans Fibiger, Walter Güsfeldt, Fritz Urbach, Kurt Wehrbein, Karl Jonas, Heinz Hoffmann, Harry Pilawski, Wilhelm Ickerott, Paul Lohmann, e outros. Estas testemunhas oculares, excepto provavelmente pela testemunha soviética Myshekov, tinham participado na matança como membros de uma ou outra unidade envolvida na mesma.

Passo a traduzir uma parte da Relatório de Situação Operacional URSS Nº 150, cuja tradução para inglês pode ser lida aqui:
Simferopol, Yevpatoria, Alushta, Krasubasar, Kerch, Feodosia e outros distritos da Crimeia ocidental se encontram livres de judeus. Entre 16 de Novembro e 15 de Dezembro de 1941, 17.645 judeus, 2.504 Krimchaks, 824 ciganos, e 212 comunistas e guerrilheiros foram abatidos a tiro. Em total têm sido executadas 75.881 pessoas.

A última destas cifras refere-se ao número total de execuções pelo Einsatzgruppe D desde o início da campanha da Rússia. A maior parte dos números relativos a Crimeia correspondem provavelmente aos massacres de Simferopol, seguidos pelos massacres de Kerch nos primeiros dias de Dezembro (cerca de 2.500 Jews) e em Feodosia por volta de 10 de Dezembro de 1941 (mais de 1.000 judeus e Krimchaks), também descritos em detalhe por Angrick.

Resulta claro, portanto, que a alegação de Paget sobre uma única massacre menor em Simferopol em 16 de Novembro de 1941 não tem nada a ver com o registo histórico do destino dos judeus e krimchaks de Simferopol, a maioria dos quais foram mortos nos massacres em 9 de Dezembro e a partir de 11 de Dezembro de 1941.

Ora, o que é que isto significa no que respeita à alegação de Paget de que houve «várias testemunhas que tinham ficado junto de famílias judias no quarteirão e reportaram sobre os serviços religiosos na sinagoga bem como o mercado judeu, onde compraram ícones e velharias – até à altura em que Manstein partiu da Crimeia e depois»? Trata-se de uma alegação deliberadamente falsa, ou será que as testemunhas eram falsas testemunhas ansiosas por tirar Manstein do seu apuro?

Não necessariamente. Como vimos acima, Himmler decidiu poupar os caraítas porque não eram considerados judeus em termos "raciais". Os caraítas praticam o caraísmo, e portanto o contacto com a população caraíta de Simferopol pode ter levado as testemunhas de Paget a descreve-los como judeus e a acreditar que os judeus de Simferopol não tinham sido aniquilados.

As alegações erróneas de Paget podem ser perdoadas a um advogado de defesa no fim da década de 1940, com acesso limitado a informação sobre os acontecimentos em questão e preocupado unicamente em defender o seu cliente tão bem quanto possível.

Mas pode também ser perdoado a Mattogno & Graf, que pretendem ser historiadores ou pesquisadores de história, o terem aceite como verídicas as alegações de Paget, sem verifica-las com base em outras fontes, e transcrito estas alegações no seu livro como se da narração de factos indisputáveis se tratasse?

Vejamos o que fez Angrick: recolheu toda a informação documental e de testemunhas oculares que conseguiu encontrar em vários arquivos e juntou as peças que encontrou numa descrição dos acontecimentos tão exacta quanto possível.

É isto o que fazem os historiadores.

Mattogno & Graf, por outro lado, basearam as suas conclusões relativamente aos massacres de Simferopol numa única fonte – e nem sequer uma fonte primária – que por acaso encaixava nas suas noções preconcebidas.

Isto não é o que fazem os historiadores. Isto é o que fazem charlatães desleixados com uma agenda ideológica. Mattogno & Graf não estão revisando noções aceites sobre um acontecimento histórico ou um conjunto de acontecimentos com base em evidência anteriormente desconhecida. O que fazem é ignorar ou rejeitar toda a evidência que contradiz as suas noções preconcebidas – e que, no caso das massacres de Simferopol, é bastante abundante – e basear as suas conclusões numa fonte secundária conveniente que está tão afastada da evidência quanto as noções preconcebidas de quem nela se baseia.

E esta, mais uma vez, é a razão pela qual o "revisionismo", conforme representado por Mattogno & Graf entre outros "estudiosos", não tem nada a ver com revisionismo no sentido estrito da palavra, o de um método que faz parte da historiografia. É apenas a negação de acontecimentos inconvenientes a certas noções preconcebidas e artigos de fé, propaganda com motivação ideológica.

[Tradução adaptada do meu artigo The Simferopol Massacres no blog Holocaust Controversies]

Próximo >> Parte IX(1): "Os relatórios dos Einsatzgruppen ...

Outros artigos da série That's why it is denial, not revisionism, já traduzidos para português:

Porque é negação e não revisionismo. Parte I: negadores e o Sonderkommando 1005

Porque é negação e não revisionismo. Parte II: negadores e as valas de Marijampole

Porque é negação e não revisionismo. Parte III: negadores e o massacre de Babiy Yar (1)

Porque é negação e não revisionismo. Parte IV: negadores e o massacre de Babiy Yar (2)

Porque é negação e não revisionismo. Parte V: negadores e o massacre de Babiy Yar (3)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VI: negadores e o massacre de Babiy Yar (4)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VII: outras patéticas objeções aos relatórios dos Einsatzgruppen

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

sábado, 20 de dezembro de 2008

Porque é negação e não revisionismo. Parte VII: relatórios dos Einsatzgruppen

Porque é negação e não revisionismo. Parte VII: outras patéticas objeções aos relatórios dos Einsatzgruppen

Nós já vimos em seu livro sobre Treblinka como Mattogno e Graf tentaram desacreditar os relatórios dos Einsatzgruppen (e fracassaram miseravelmente).

Esta postagem endereçará um par de "numéricos" argumentos daquele livro.

Podemos considerar que a parte sobre a Lituânia foi discutida.

Penso que deveria apenas mencionar que de acordo com a mensagem no. 412 de 09.02.1942, das 138.272 pessoas mortas pelo EG-A, 55.556 eram mulheres e 34.464 eram crianças.

Apenas idiotas e negadores argüirão que isto era qualquer forma de ação anti-partisan.

Na realidade, destes 138.272 pessoas apenas 56 eram partisans, e 136.421 - judeus.

Agora vamos examinar as afirmações de Mattogno sobre a Letônia.

Ele cita o Einsatzgruppe A, Gesamtbericht vom 16 Oktober 1941 bis 31 Januar 1942 como segue:
O número total de judeus na Letônia no ano de 1935 era de: 93.479 ou 4.7% do total da população. [...]

No registro das tropas alemãs ainda havia 70.000 judeus na Letônia. O resto tinha fugido com os bolcheviques. [...]

Mais adiante até outubro de 1941, cerca de 30.000 judeus foram executados por este Sonderkommando. Os judeus restantes, ainda indispensáveis devido a importância econômica, foram recolhidos pros guetos. Seguindo o processo dos casos de crimes na base de não usar a estrela judaica, negócio ilícito, furto, fraude, mas também na contagem do perigo preventivo de epidemias nos guetos, mais execuções foram feitas até depois. Assim, em 9 de novembro de 1941, 11.034 foram executados em Dünaburg, 27.800 em Riga no começo de dezembro de 1941 por uma operação ordenada e realizada pelo Superior das SS- e Chefe de Polícia, e 2.350 em Libau no meio de dezembro de 1941. Desta vez houve judeus letonianos nos guetos (à parte dos judeus do Reich) em:

Riga aproximadamente 2.500
Dünaburg " 950
Libau " 300
(Nota: havia 300 em Libau, não 3.000, como digitado incorretamente na versão online; mas os cálculos são baseados em cima do número correto).

Mattogno então resume os dados e chega a seguinte conclusão:
Mas se adicionarmos juntos os números daqueles abatidos (30.000 + 41.184 =) 71.184 a aqueles que ainda viviam nos guetos (3.750), chegamos a 74.934 judeus, um número que é maior que o número alegadamente presente no registro dos alemães dentro da Letônia. Numa tabela que resume o relatório e leva o título de "Número de execuções feitas pelo Einsatzgruppe A além de 1 de fevereiro de 1942," o número daqueles abatidos é indicado como sendo 35.238, para os quais são adicionados 5.500 judeus mortos "por pogroms," mas "de 1 de dezembro de 1941;"[590] logo temos 40.738 vítimas judias. Embora esta cifra inclui um adicional de 5.500 judeus mortos em pogroms não mencionados no relatório, o número total daqueles mortos é de longe mais baixo: 40.738 em oposição a 71.184.
Aliás, o mapa de caixão de Stahlecker é baseado nos mesmos dados, obviamente.

Então, há um erro no relatório? Sim, há um.

Sabemos que 1.134 judeus foram mortos em Duenaburg/Dvinsk/Daugavpils pelo EG-A naquela ação particular. "11.034" é um erro tipográfico (I. Altman, Zhertvy nenavisti, Moscou, 2002, pp. 238, 239; a fonte de Altman é GARF, f. 7021, op. 148, d. 215, l. 48). Este erro provavelmente é originário do rascunho do relatório das operações do EG-A em dezembro de 1941 (o mapa de caixão é um apêndice para este relatório), e é assim desse modo presente em dois documentos. Não era uma inflação deliberada, como a soma errada mostra.

Sem este erro temos cerca de (30.000+1.134+27.800+2.350=) 61.284 vítimas judias. Mais havia 3.750 judeus vivos. Também note o idioma: "Seguindo o processo dos casos de crime ... mais execuções foram feitas até depois. Assim, em 9 de novembro de 1941, 11.034 foram executados em Dünaburg...". Penso que isto implica que eles não listararam necessariamente todas as ações, apenas as maiores delas.

O próximo argumento é que o resumo do número de execuções pelo EG-A (incluindo pogroms) foi de 40.738 em vez de 71.184 (ou 61.284, corrigido por Duenaburg).

O argumento é auto-refutável. Relendo o título: "Número de execuções feitas pelo Einsatzgruppe A além de 1 de fevereiro de 1942". "Número de execuções feitas pelo Einsatzgruppe A...". Agora relendo o relatório: "27.800 em Riga no começo de dezembro de 1941 por uma operação ordenada e conduzida pelo Superior das SS - e Chefe de Polícia". "Ordenada e feita pelo Superior das SS - e Chefe de Polícia". O Superior das SS - e Chefe de Polícia e seus homens não eram do EG-A. Sim, é fácil assim. No relatório eles estavam listando informações gerais até sobre execuções não conduzidas por eles mesmos, mas o resumo pertence apenas ao Einsatzgruppe A.

Isto é tudo, pessoal.

Mas espere, nosso amigo, o Moonbat, quer dizer alguma coisa:

Mas não é fato que os relatórios dos EG contém erros tipográficos minando a história inteira do Holocausto? Você sabe, talvez 2.780 judeus não foram abatidos em Riga, e sim 27.800? (Eu penso que nenhum foi abatido e tudo isto são mentiras judias, mas pela segurança do argumento...)
Bem, o que eu posso dizer? Tudo é possível. Mas ninguém precisa de evidência para afirmar que este ou aquele número é um erro tipográfico, não de outra forma. Além do que, alguém pode sempre estabelecer a exatidão dos dados por checagem cruzada com outros pedaços de evidência. Considere o que o Prof. Richard Evans tem a dizer em seu relatório do julgamento de Irving:
Além do mais, Irving na sua principal narrativa em Goebbels: Mastermind of the ‘Third Reich’(Goebbels: cérebro do 'Terceiro Reich'), fracassou em esclarecer a seus leitores sobre o segundo massacre dos judeus de Riga que ocorreu em 8 de dezembro de 1941. Apenas em suas notas-de-ropapé ele faz reconhecer que o Einsatzgruppe A relatou que em início de dezembro de 1941 um total de 27.800 judeus foram executados em Riga. Entretanto, Irving imediatamente lança dúvidas sobre estas cifras, afirmando que elas são ‘possíveis numa exageração’.655 Já as dúvidas de Irving não são confirmadas por outras fontes. A corte em Hamburgo em 1973 estabeleceu que entre 12.000-15.000 judeus foram assassinados em 8 de dezembro de 1941, trazendo um número total de judeus mortos pelos nazistas em Riga entre 30 de novembro de 1941 e 8 de dezembro de 1941 de entre 25.000-30.000. 656 Usando vários métidos para calcular as vítimas em Riga, o historiador Andrew Ezergailis também chegou certamente a cifra de cerca de 25.000 judeus mortos. 657

[...]

655 Irving, Goebbels, p. 645, nota 42.
656 IfZ, Gh 02.47/3, Urteil des Schwurgerichts Hamburg in der Strafsache gegen J. und andere, (50) 9/72, vom 23.2.1973.
657 A. Ezergailis, The Holocaust in Latvia 1941-1944(O Holocausto na Letônia 1941-1944) (Riga, 1996), p. 261.
Eu devia também assinalar que Mattogno e Graf deviam saber acerca deste erro tipográfico. É mencionado em numerosas fontes - no livro de Altman estes itens de notícias (no qual o real número é citado), H.-H. Wilhelm, um dos co-autores de Die Truppe des Weltanschauungskriege, como relatado aqui, e também na introdução de Rudolf para Dissecting the Holocaust(Dissecando o Holocausto).

Então, agora que suas objeções foram refutadas (e estou certo que eles apresentaram o melhor que eles tinham), Mattogno e Graf aceitarão os números de judeus assassinados e tudo que eles implicam? Ou eles sonharão com outras desculpas? Penso que a resposta é auto-evidente.

[Eu desejo agradecer a Nick pelo auxílio generoso.]
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Com esta postagem eu conclui minha contribuição com estas séries. Roberto continuará o trabalho, examinando vários outras argumentos falaciosos. Obrigado por sua atenção.

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Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/08/thats-why-it-is-denial-not_115488858935311686.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

Porque é negação e não revisionismo. Parte VI: negadores e o massacre de Babiy Yar (4)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VI: negadores e o massacre de Babiy Yar (4)

O argumento de John Ball tem sido aceito sem críticas por muitos negadores. Aqui estão apenas algumas fontes "revisionistas" do feliz trago de bobagens de Ball: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8. Etc. Tolices.

Uma fonte deve nos interessar em particular - o livro sobre Treblinka de nossas vítimas favoritas, Mattogno e Graf. Numa resenha deste livro Graf escreve:

Treblinka: Extermination Camp or Transfer Camp?(Treblinka: campo de extermínio ou de transferência?) é quase todo trabalho de Carlo Mattogno, desde que ele editou sete dos nove capítulos. Eu sou o autor do primeiro e do quinto capítulo, e da introdução e conclusão...
I.e. o autor do capítulo, que estivemos discutindo nestas séries, é Carlo Mattogno. Claro, Graf sozinho também escreveu sobre Babiy Yar em The Giant with Feet of Clay(O gigante com pés de barro) e Holocaust or Hoax?(Holocausto ou Fraude?) afirmando que o "caso de Babi Yar fornece uma prova irrefutável da falsidade destes relatórios operacionais", repetindo argumentos de Tiedemann e Ball, e geralmente soltando o usual nonsense sem inspiração. Mas Graf é
muito menos da metade da dupla, Mattogno é o principal pesquisador e um "mentor". Então alguém poderia esperar uma análise um pouco mais refinada dele. Cara, isto faria alguém ter uma decepção!

Suponho que deveria ser mencionada apenas a passagem em que Mattogno acha Ball e Tiedemann confiáveis:

"e. Babi Yar
No “Relatório de atividade e situação no. 6 dos Einsatzgruppen da polícia de segurança e da SD na URSS,” lemos isto a respeito do período de tempo de 1 a 31 de outubro de 1941:595 “Em Kiev todos os judeus foram presos e, em 29 e 30 de setembro, um total de 33.771 judeus foram executados.” Isto procede com o (in)fame ‘Massacre de Babi Yar.’ Entretanto, como Udo Walendy e Herbert Tiedemann provaram, isto não aconteceu, pelo menos não remotamente no escopo alegado. 596 Provavelmente próximo à Kiev, como em Simferopol, várias centenas de pessoas foram mortas. Retornaremos ao caso de Babi Yar.
595 102-R. IMT, Vol. XXXVIII, pp. 292f.
596 Udo Walendy, “Babi Jar - Die Schlucht ‘mit 33.771 murdered Jews’?”, em:
Historische Tatsachen
no. 51, Verlag für Volkstum und Zeitgeschichtsforschung, Vlotho 1992. Herbert
Tiedemann, “Babi Jar: Critical Questions and Comments”, em: Germar Rudolf (ed.), op. cit. (nota 81), pp. 501-528."


Em 26 de setembro, a Luftwaffe tirou uma fotografia aérea de área na qual Babi Yar estava localizada. John Ball publicou isto com o seguinte comentário:[...]
Com respeito a uma secção ampliada da mesma fotografia, Ball diz:[...]
Ball deduz disto:[...]
Estes achados têm o maior valor desde, de acordo com a única testemunha, supõe-se que a cremação dos corpos em Babi Yar tenha sido completada em 25 ou 26 de setembro, correspondendo ao mesmo dia ou o dia anterior em que as fotos aéreas foram tiradas.

Então começa a idiotice pura:

Este Vladirmir K. Davidov é aparentemente a única testemunha que afirma ter participado da cremação dos corpos de Babi Yar. Seu conto é totalmente inacreditável. O número de corpos - 70.000 - é mais que o dobro do número de mortos de acordo com o relatório do evento, que por si só já é muito alto.
"Aparentemente a única testemunha". Isto sozinho desqualifica Mattogno de ser um sério pesquisador. Isto quer dizer que ele não se esforça para estudar a literatura disponível do massacre e dos seguintes eventos. Aqui está uma (provavelmente incompleta) lista da literatura disponível no período que Mattogno escreveu esta frase que contém outros testemunhos de Sonderkommandos além de Davydov:

  • O livro de 1993 com as versões em russo, inglês e alemão dos testemunhos dos Sonderkommandos de Babiy Yar, Jakov Kaper e David Budnik, editado por um pesquisador de Babiy Yar, Erhard Roy Wiehn, e publicado por Hartung-Gorre Publishers, D-78465 Konstanz/Alemanha (Hartung.Gorre@t-online.de) com o ISBN 3-89191-666-3 (da última vez que verifiquei ainda estava disponível);
  • O excelente Babi Yar: A Document de Anatolij Kuznetsov no formato de uma novela, no qual Mattogno poderia aprender que quando Kuznetsov estava escrevendo o livro, pelo menos nove Sonderkommandos ainda estavam vivos: Jakov Stejuk, Vladimir Davydov, Vladislav Kuklya, Jakov Kaper, Zakhar Trubakov, David Budnik, Semyon Berlyand, Leonid Ostrovskij and Grigorij Iovenko;
  • protocolos de interrogações de Berlyant, Stejuk e Davydov publicados em 1991 (Babij Jar. K pyatidesyatiletiju tragedii 29, 30 sentyabrya 1941 goda, Jerusalém, 1991; "Babyn Jar (veresen' 1941 - veresen' 1943)", Ukrainskij istorychnyj zhurnal, 1991, no. 12).
Mais, testemunhos de Sonderkommandos foram usados em diferentes tribunais de crimes de guerra, tal como o julgamento do SK1005 em Stuttgart em 1969; eles também deram testemunhos à Comissão Extraordinária. (para completar eu mencionarei que os Sonderkommandos e outras testemunhas também foram interrogadas muitas vezes desde 1943, mas a maioria desdes documentos foram publicados apenas recentemente, no volume de 2004 citado anteriormente).

Por fim, mas não finalmente, o Relatório de 1944 da Comissão Soviética Extraordinária (cortesia de David Thompson), que declara (p. 201, Eng. edn.):
As testemunhas L. K. Ostrovsky, S. B. Berlyand, V. Yu. Davydov, Ya. A. Steyuk e I. M. Brodsky que escapou do fuzilamento em Babi Yar em 29 de setembro de 1943 atestaram o seguinte: "Como prisioneiros de guerra fomos mantidos no campo de Syrets nos arredores de Kiev. Em 18 de agosto, 100 de nós foram enviados para Babi Yar. Lá fomos presos em algemas e forçados a escavar e queimar os corpos de cidadãos soviéticos exterminados por alemães [...]"
A descrição detalhada do processo segue abaixo.

Como Mattogno não veio a examinar este relatório?

"O número de corpos - 70.000 - é mais que o dobro do número de mortos de acordo com o relatório do evento, que por si só já é muito alto." A ignorância de Mattogno revela-se de novo. Ele não mostra que o número nos documentos alemães do período de guerra é "excessivamente alto". E está claro que ele não entende que de acordo com numerosas testemunhas, a ravina serviu como um local de execução por dois anos desde o início do massacre. Então o número de corpos na ravina não deveria corresponder ao número de vítimas dos relatórios alemães, e nem todas as vítimas eram judias.



O número real de vítimas nunca será conhecido. Sabemos de muitos testemunhos (e.g. aqueles publicados no livro Babij Jar citado na postagem anterior) que fuzilamentos continuaram por vários dias depois da ação inicial. Quantos foram mortos é desconhecido. Sabemos por testemunhos que as execuções continuaram depois, por dois anos - muitos milhares (possivelmente, 20.000-25.000) de prisioneiros de guerra soviéticos foram mortos e enterrados nas proximidades do canal; ciganos, partisans, nacionalistas ucranianos e outros foram mortos na ravina. Vans com gás também foram usadas.

Temos numerosos testemunhos de sobreviventes judeus que trabalharam na ravina e enterraram os corpos. Eu calculei o número total por seus testemunhos sobre o número de corpos aqui. Como é o único a ser aguardado, há diferentes estimativas e detalhes. Penso que será razoável estimar o número mínimo de vítimas como 70.000. Possivelmente, o número real é de cerca de 100.000. Não é sabido quantas das vítimas eram judias e quantas muitas eram não-judias. Provavelmente, se aceitarmos a mais baixa estimativa, a proporção certa é de 1:1, enquanto que com as estimativas maiores temos mais vítimas não-judias que vítimas judias.

Mais tarde Mattogno reafirma a sua ignorância:
Assim, eis a mais importante evidência material sobre o fuzilamento de 33.771 (ou 70.000) judeus...
-----------------------------------------------------------------------------------------
Adiante, Mattogno explora a questão da evidência física. Primeiramente, o que deveria ser relembrado:
Com a data especificada no quarto capítulo, a cremação de 33.771 corpos deveria requerer aproximadamente 4.500 toneladas de lenha e aproximadamente 430 toneladas de freixo de madeira e cerca de 190 toneladas de cinzas humanas teriam sido geradas no processo.

Vamos tomar a data da postagem do Roberto sobre Mattogno e Belzec (mantendo em mente que poderá ser corrigido no futuro, se uma nova data aparecer), e assumir que 100.000 corpos com uma média de peso de 45 kg (havia muitos de crianças e mulheres entre as vítimas, embora provavelmente não tanto quanto em Belzec). Isto é cerca de 4.500 toneladas de corpos. 5% disto são 225 toneladas (se seguirmos as regras de Mattogno). Novamente, aceitando as generosas hipóteses de Roberto (i.e. sem considerar a decomposição dos corpos), o freixo de madeira constituiria cerca de 360 toneladas. Juntos - 585 toneladas. SKs atestam que estavam misturando as lenhas com areia e terra dentro e ao redor da ravina, e escavando isso nas proximidades dos hortos, campos, etc. Eles estiveram trabalhando por cerca de 40 dias. I.e. em média teriam que transportar e dissipar algo em torno de 14.6 toneladas de lenha por dia. Estiveram trabalhando entre 12-15 horas, de acordo com seus testemunhos. Assumindo 12 horas de trabalho diário, eles tinham que gastar 1.2 toneladas de lenha por hora. Assumindo 30 kg por pessoa, eles precisariam de cerca de 40 SKs cheios de lenha pra consumir - cada um tendo que gastar 30 kg por hora. E eles tinham que pelo menos ter 300 pessoas trabalhando na ravina. Esses números são muito aproximados, e possivelmente a situação era muito melhor do ponto de vista logístico, e a flexibilidade é bem grande. Suponha que eles estavam sempre trabalhando 15 horas. Então precisariam de apenas 32 homens. Suponha que não precisavam de uma hora para consumir 30 kg de lenha... Etc., etc., etc. Então sim, era possível dispersar lenha e ossos ao redor da área.

Não, não seria possível destruir as lenhas e pedaços de bones completamente, mas ninguém afirma que isto foi feito.

E.g. em seu livro Anatolij Kuznetsov descreve sua viagem à ravina com seu amigo não muito depois da incineração ter parado:
Sabíamos deste riacho perfeitamente... continha areia de textura granulada, mas agora por alguma razão foi cheio com seixos brancos.

Eu parei e me aproximei para dar uma olhada de perto. Era um pedaço queimado de um osso, tamanho de um cravo, branco de um lado, escuro do outro lado. O riacho os carregou para algum lugar. [...]

Então andamos por um longo tempo ao redor destes ossos, até alcançarmos o início da ravina, onde o riacho desaparecia - isto é originado de muitas fontes filtradas de camadas arenosas, e isto é de onde os ossos vieram.

A ravina tornou-se estreita... e o local da areia tornou-se cinza. De repente nós compreendíamos que estávamos andando sobre cinzas humanas.

[...]

Nós andamos ao redor um pouco, encontramos muitos ossos inteiros, crânio fresco(ainda molhado) e novamente pedaços de cinzas negras entre a areia cinza.

Eu apanhei um pedaço, de cerca de dois quilogramas, levei isso comigo e o mantive. Isto são as cinzas de muita gente, tudo está misturado neles - cinzas internacionais, por assim dizer.

(JFYI, Kuznetsov não era judeu, ele era meio-ucraniano, meio-russo; ele escapou da URSS em 1969, levando uma versão não censurada de Babij Jar com ele. A versão completa é extremamente crítica ao regime stalinista, então, claro, não poderia ser publicada na URSS por completo. Numa carta de 1965 a Shlomo Even - Shoshan Kuznetsov escreveu:
Eu não me identifico nem com os sionistas, e nem com os anti-semitas - ambas [ideologias] são igualmente repulsivas para mim, e eu estou escrevendo minha história do que penso ser a única posição correta - a internacionalista).
Agora, considere os disparates de Mattogno sobre as fotos feitas pela comissão soviética:
Depois dos soviéticos terem reconquistado Kiev, uma comissão de investigação feita a sua maneira foi para Babi Yar e tirou algumas fotografias, que foram imortalizadas num álbum. Três das fotos supostamente exibidas numa primeira e segunda "zona onde os corpos foram queimados."[643] Em outra, os "fragmentos dos fornos e da gruta dentro da qual os prisioneiros que tinha cremado os corpos conseguiram escapar" são alegadamente mostrados.[644] Os títulos destas fotos são absurdos; a única atual, onde os objetos que são claramente reconhecíveis são uns poucos sapatos podres e alguns farrapos, que foram detalhadamente fotogrados pelos soviéticos e foram descritas como se segue:[643]

"Fragmentos de sapatos e pedaços de roupas dos cidadãos soviéticos mortos pelos alemães."
Por que os títulos são "absurdas"? Fotos por si só não são suficientes, e os títulos fornenecem o contexto. Certamente, e exatamente porque não são muito "reconhecíveis" nas fotos, os títulos são necessárias.
Dessa forma, o material de evidência mais importante para o fuzilamento de 33.771 (ou 70.000) judeus e posterior escavação e cremação de seus corpos, que foram descobertos na cena do crime pelos soviéticos, consiste de poucos sapatos e alguns farrapos! Se, entretanto, os soviéticos tivessem se esforçado para documentar as coisas, que não tinham nenhuma conexão com as acusações, que circo propagandístico teriam apresentado se eles tivesem realmente descoberto as valas em massa com com um total de mais de um milhão judeus assassinados (assim como o incontável número de não-judeus)? Já aquele circo propagandístico fracassou em acontecer, desde que os soviétivos não encontraram nada que pudessem ser comparáveis às descobertas feitas por alemães em Katyn e Vinnitsa!
De repente Mattogno salta do tema de Babiy Yar para o tema das valas em massa em geral, com as quais nós tratamos aqui e aqui. No que especificamente diz respeito à Babyi Yar, não já existem mais valas em massa lá, nada para o "circo propagandístico".

O foco, portanto, foi sobre a investigação das proximidades do campo de Syretsky, na qual muitos corpos não queimados foram encontrados.

E que eu saiba não há qualquer "circo propagandístico" associado com estes horríveis achados.

O circo real aqui é o tratamento dos negadores ao massacre de Babiy Yar, que se espelha em seu tratamento do Holocausto no geral.

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Próximo >> Parte VII: outras objeções patéticas aos relatórios dos Einsatzgruppen

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/08/thats-why-it-is-denial-not-revisionism_06.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Porque é negação e não revisionismo. Parte II: negadores e as valas de Marijampole

Porque é negação e não revisionismo. Parte II: negadores e as valas de Marijampole

Em 1 de setembro de 1941, o Einsatzkommando 3 assassinou mais de 5.000 seres humanos na cidade lituana de Marijampole. Mais tarde naquele ano o comandante da Polícia de Segurança e o SD friamente resumiu a contagem de mortos como se segue:

Mariampole
1,763 judeus, 1,812 judias
1,404 crianças judias,
109 mentalmente doente,
1 mulher. Nacionalidade alemã que era casada com um judeu,
1 mulher. Russa

Adiantando o tempo e pulando para o verão de 1996: a cidade de Marijampole decidiu eregir um memorial do Holocausto no local do massacre. De acordo com o jornal lituano Lietuvos Rytas (21.08.1996), o presumido local do massacre foi escavado. Não havia nenhum corpo.

Rapidamente os negadores do Holocausto começaram a atividade de usar a contagem do Lietuvos Rytas. Aqui estão algumas citações da literatura "revisionista":

Germar Rudolf na introdução de Dissecting the Holocaust(Dissecando o Holocausto):

No verão de 1996 a cidade de Marijampol, na Lituânia, decidiu eregir um memorial do Holocausto para dezenas de milhares de judeus do alegado assassínio, enterrados lá pelos alemães dos Einsatzgruppen. A fim de construir o memorial na exata localização, tentaram achar onde as valas comuns estavam. Escavaram o local descrito por testemunhas, mas não acharam nenhum rastro. Além de cavarem ao longo de um ano inteiro, tudo ao redor do alegado local do assassínio não revelou nada além de solo nunca antes mexido. Os alemães então fizeram um trabalho perfeito ao destruir todas as pistas e até mesmo restaurando a seqüência original das camadas do solo? Eles fizeram milagre? Ou estão as testemunhas erradas?

Quase a citação idêntica no "Partisan War and Reprisal Killings"(Guerra dos Partisan e a Reprise dos Assassinatos) de G. Rudolf e S. Schroeder.

Juergen Graf, "Raul Hilberg's Incurable Autism"(Autismo incurável de Raul Hilberg):

Finalmente, evidência material de um assassínio em massa de judeus dos números alegados é totalmente inexistente. Na cidade lituana de Marijampol em 1996, foi decidido eregir um monumento à dezenas de milhares de judeus que tinham sido alegadamente mortos pelos alemães. Eles começaram as escavações no local designado pelas testemunhas oculares a fim de localizar as valas comuns, mas pasmem, não havia nada lá. Mesmo se os alemães tivessem postumamente exumado e cremado aquelas dezenas de milhares de cadávares, como Hilberg e seus associados alegam, nenhuma vala comum seria ainda facilmente identificável em virtude das configurações alteradas do terreno.
Carlo Mattogno e Juergen Graf simplesmente citam Rudolf em seu livro sobre Treblinka.

E um 'não menos negador', Jonnie Hargis ("Hannover"), fez a mesma afirmação, confundindo o jornal lituano como se fosse um jornal da Letônia.

A conclusão dos negadores é simples - o relatório, mencionando este massacre, é duvidoso, e, por indução, todos os outros relatórios dos Einsatzgruppen são suspeitos.

Como de costume, um pouco mais de pesquisa ajudaria os negadores a não parecerem idiotas.

Um dos que destacados anti-negadores, Roberto Muehlenkamp, decidiu investigar o problema, e escreveu para o prefeito da Marijampole municipality, Sr. Vidmantas Brazys. E ele recebeu a seguinte resposta em 20.05.2003:
Caro Roberto Muehlenkamp,

Gostaria de informar a você, que na página da internet do município de Marijampole, na apresentação online de “Lugares para visitar” sob o item 10, contém a seguinte passagem: “No vale de rio Sesupe 5090 judeus e pessoas de outras nacionalidades foram assassindas em 1941 por forças nazistas.” Este fato é confirmado por documentos.

Em 1970 o cemitério foi incluído na lista de Monumentos Culturais. A área, onde se pensou que estavam as valas, oliveiras foram plantadas e abriga o monumento.

Em virtude da exata localização das valas não ser conhecida, em 1996 foram feitas escavações arqueológicas e o local do fuzilamento foi encontrado (acerca de 50m a oeste das valas apontadas).

Doutor de Ciência da Arqueologia da Universidade de Vilnius, o Sr. Algimantas Merkevicius fez escavações arqueológicas. Todos os documentos da escavação são mantidos pelo Especialista-chefe de Arquitetura e Divisão de urbanística do município de Marijampole, o Sr. Gedeminas Kuncaitis.

Os fatos no artigo de Germar Rudolf são primários e não resultados finais de escavações arqueológicas.

Sinceramente,

Prefeito Vidmantas Brazys
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Então Roberto escreveu para o Sr. Algimantas Merkevicius, e mais tarde foi respondido em 17.06.2003 como segue:

Caro Sr. Roberto Muehlankamp,

Desculpe-me pela demora na resposta, mas eu estava longe de meu escritório. Sim, escavei o território das valas comuns em Marijampole em 1996. O propósito era achar o lugar exato das valas. O suposto local do enterro estava vazio e achei as valas comuns cerca de 100m de distância desta suposta área. Pessoas foram assassinadas e enterradas numa grande dich. Mas depois de achar o lugar exato, meu trabalho encerrou. Não sei como muitas pessoas foram mortas e como grande é a área das valas comuns.

Cordialmente, saudações
Algimantas Merkevicius

Uma simples pergunta por e-mail foi o suficiente para constatar isso. Mas por que tentar e estragar o argumento conveniente, certo?
------------------------------------------------
A resposta dos negadores como sempre ao que foi exposto acima seria:

1) as valas estavam na localização errada;
2) o número de corpos não foi estabelecido;
3) a identificação dos corpos não foi estabelecida.

Isto capta a idéia pessimamente. 100 metros longe da área presumida não é absolutamente ruim, se a área presumida foi o local do massacre com base em testemunhos. Testemunhos podem conduzir, dentro de limites, para algum erro em certa medida. Especialmente se foram testemunhos tardios, tomados após meio século. Se as identidades dos cadávares foram encontradas não está claro no relatório, mas é até apontado que eles não eram judeus, e que não houve corpos suficientes, negadores simplesmente não têm uma base para argumentação: o argumento inteiro foi baseado na premissa de que não havia corpos seja o que for. Os corpos estão lá. Se os negadores desejam afirmar que aqueles são corpos errados, corram atrás para provar isso.

Então, uma vez mais, os negadores mostraram ser "pesquisadores" descuidados.

Oh! E o memorial para 5090 judeus e pessoas de outras nacionalidades que foram assassinadas em 1 de setembro de 1941 foi erguido, depois de tudo isso.









A seguir, mais. Permaneça atento.

Anterior: Parte I: negadores e o Sonderkommando 1005

Próximo: Parte III: negadores e o massacre de Babiy Yar (1)

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/04/thats-why-it-is-denial-not-revisionism_06.html
Tradução(português): Roberto Lucena

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

domingo, 30 de novembro de 2008

Porque é negação e não revisionismo. Parte I: negadores e o Sonderkommando 1005

Porque é negação e não revisionismo. Parte I: negadores e o Sonderkommando 1005

No livro "Treblinka. Campo de extermínio ou campo de trânsito?" , os negadores do Holocausto Carlo Mattogno e Juergen Graf mostram um flagante descaso pela verdade, ao negar eventos por "razões" que se revelam como falsas quando uma mínima quantidade de pesquisa é feita.

Vamos começar com o caso mais simples de todos - aquele do Aktion/Sonderkommando 1005.

O essencial daquele Aktion 1005 você pode checar no death-camps.org:
Sob o codinome "Aktion 1005" os alemães tentaram esconder todos os traços da política de extermínio nazi no leste, como abrir valas em massa e cremar centenas de milhares de corpos.

Aqui está o que Mattogno e Graf têm a dizer sobre isso:
"A decisão de seguir esta operação, para começar, supõe-se ter sido tomada em Berlim no começo de 1942. Uma carta de 20 de fevereiro de 1942, do Chefe da Gestapo, Heinrich Müller, a Martin Luther do ministério de relações exteriores, no qual o objeto da insatisfação do enterro dos cadáveres é levantada e se supõe que foi escrita depois de Müller "ter recebido uma carta anônima complaining sobre os cadáveres inundando a área de Warthegau," é citada como prova. Esta carta confirma a designação do arquivo "IV B 4 43/42 gRs (1005)," e a alegada 'Operation 1005' supõe-se ter seu nome deste documento!

Mas Alfred Streim, que cita a relevante carta baseada em conhecimento de primeira-mão, escreve:

Em 20 de novembro de 1942, Himmler ordenou ao SS-Gruppenführer Müller, Chefe do Departamento IV na RSHA, no escrito (Zst. Dok. Slg. Ordner 3, Bl. 583): '...Você tem que me dar uma garantia sobre aqueles corpos destes judeus mortos ou queimá-los ou enterrá-los em cada lugar, e que em nenhum lugar possa qualquer pessoa saber o que aconteceu com estes corpos...

Ele não diz isto nesta carta conforme o cabeçalho "IV B 4 43/42 gRs (1005)," não assina isso para a designação '1005,' e restringe a ele mesmo o seguinte comentário:

"A tarefa recebida - de acordo com a nomenclatura procedente da RSHA - a designação '1005.'"

Deste modo, a carta enviada consta da data de 20 novembro de 1942, e não de 20 de fevereiro. Isto significa que a designação '1005' para a operação teria sido assinada uns cinco meses depois de seu início! Na outra mão, na carta os judeus são mencionados como "mortos," não 'fuzilados' ou 'assassinados.' Além disso, a disposição dos corpos poderiam ter sido feitas por cremação ou enterro, o que significa que a carta de Himmler não precisa ter nenhuma conexão com a escavação e cremação dos cadáveres de judeus que haviam sido fuzilados, e o que nós estamos tratando aqui é uma fraude primária.

[...]

Agora, se alguém considera que de acordo com a maioria dos extensos estudos que existem sobre este tema, supõe-se que os Einsatzgruppensozinhos fuzilaram 200.000 pessoas (judeus e não-judeus), que a Wehrmacht, SS, e as unidades policiais são também acusadas de centenas de milhares de assassinatos, e que - como já enfatizado - nem os soviéticos e nem os poloneses acharam quaisquer valas em massa com até mesmo poucos milhares de corpos, e os 'Sonderkommandos 1005' devem ter exumado e queimado entre um e meio à três milhões de corpos. Isto significa que, dentro de um período de 13 meses eles tiveram que ter esvaziado milhares de valas de centenas de lugares, os quais foram dispersos acerca de uma enorme área - e tudo isto sem deixar pra trás qualquer traço material ou registro!

Sem ter milhares de mapas, nos quais as valas foram marcadas, teria sido totalmente óbvio e impossível localizar aquelas milhares de valas em massa num território de mais de 1.2 milhão de quilômetros quadrados, mas nem tais mapas mencionados estão num mero e único relatório dos Einsatzgruppe ou de qualquer outro documento, nem tais mapas foram encontrados entre os documentos alemães capturados pelos vitoriosos da Segunda Guerra Mundial.

E se - como relatos de testemunhas - milhares de piras foram queimadas durante a noite apesar dos apagões(blackouts)regulados, nenhum plano de reconhecimento soviético os descobriu e fotografou - senão as fotografias teriam sido aproveitados em seguida com propósitos de propaganda."

Thomas Sandkühler discorre sobre isto abaixo:

"Devido ao extremo segredo da 'Operation 1005,' fontes escritas sobre isto são muito raras.

Em outras palavras, não há nenhuma! A declaração de Sandkühler reflete o total rubor com que historiadores ortodoxos sentem na face devido a esse escândalo, enquanto simultaneamente fornecem a tradicional velha explicação: os documentos não existem "devido a um estrito segredo"! Esta hipótese substitui com evidente contraste o fato o qual Gerald Reitlinger descreve:

"As séries originais [dos relatórios dos Einsatzgruppen] consistem de aproximadamente duas centenas de relatórios com uma lista de circulação de sessenta a cem cópias cada. [...]

Não é fácil ver porque os assassinos deixaram tantos abundantes testemunhos sobre eles, [...]"

O evento relata que a URSS compôs um total de "cerca de 2.900 páginas escritas à máquina," e cada uma delas foi distribuída com um mínimo de circulação de 30 cópias. Os alemães são aí suspeitos de terem distribuído dezenas de centenas de páginas de documentos relatando os fuzilamentos em massa cometidos pelos Einsatzgruppen, então bem de repente percebem a necessidade de exumar e queimar os corpos, mas esqueceram de destruir os documentos que incriminam!

O fato é, a história da 'Operation 1005' é baseada completamente sob algumas poucas declarações pouco fidedignas de testemunhas oculares.

[...]

A designação 'Sonderkommando 1005' foi inventada pelos soviéticos."

Enfatizei vários reivindicações-chaves feitas pelos autores.

Agora, o que alguém que está pesquisando estes problemas, e especialmente alguém que é "cético" sobre estes problemas, deveria ter feito em primeiro lugar?

Ele(a) deveria consultar estudos fidedignos de outros acadêmicos sobre este tema, trabalhando a partir deles, refutando ou adicionando informação ao longo do estudo.

Atualmente, o estudo acadêmico definitivo da Aktion 1005 é o artigo de Shmuel Spector "Aktion 1005 - Effacing The Murder of Millions" (Aktion 1005 - Apagando o assassinato de milhões) (Holocaust and Genocide Studies, 1990, vol. 5, no. 2, pp. 157-173).

Graf e Mattogno nunca mencionam o artigo. Certamente, eles obviamente ignoraram isso, porque isso completamente desacredita suas "análises", citadas acima.

1) Antes de tudo, o artigo deixa claro que houve uma inscrição "IV B 4 43/42 gRs (1005)" no canto superior esquerdo da carta enviada por Mueller a Luther em 28 de fevereiro de 1942 (não 20 de fevereiro, como os authors state). "IV B 4" foi uma designação do departamento de assuntos judaicos de Eichmann. "43/42" foi o número e o ano da carta. "gRs" é "Geheime Reichsache", "problema secreto do Reich". Finalmente, 1005, o que quer que fosse inicialmente, tornaria-se mais tarde o codinome da operação para apagar traços do assassinato em massa.

O segundo documento com a menção dos autores como citado por Streim (Spector cita isso também)não é a carta de Mueller para Luther, mas de Himmler para Mueller, escrita não em 28 de fevereiro, mas em 20 de novembro. Disto os autores deveriam ter adivinhado que eles estavam tratando de diferentes cartas. Duuh! Então eles sacam o peso da idiotice quando escrevem:
"Mas Alfred Streim, que cita a carta relevante se baseou em conhecimento de primeira-mão...
[...]
Assim, a carta remete a datas de 20 de novembro de 1942, e não de 20 de fevereiro. Isto significaria que a designação '1005' para a operação teria sido assinada uns cinco meses depois de seu início!"

Para reiterar: é monstruosa a obviedade de que estas são cartas diferentes. Que tipo de idiotas estamos tratando com isto?

Também, não vi qualquer historiador afirma que foi a carta de novembro de Himmler que iniciou toda a operação.

Em sua carta, Himmler não ordenou o início da Aktion 1005 - ele simplesmente estava reagindo aos rumores de que os nazis estavam fazendo sabão de corpos de judeus, e é certo que nada disso realmente ocorrera.

2) O ponto sobre a localização das valas em massa é quase que totalmente um referencial. Ninguém argüiu que a SK1005 limpou todas as valas. De fato, Spector afirma:
"Os nazis não tiveram sucesso em remover os sinais do assassínio devido ao vasto número delas, de uma grande distribuição das valas em massa, e por causa do rápido avanço do exército soviético."

As próprias valas podiam ser localizadas por interrogatório da população local e daqueles que tomaram parte nos assassinatos, deste modo não houve qualquer necessidade de extensivos mapas, etc. Historiadores certamente apontam que a documentação sobrevivente da 1005/Aktion 1005 é scarce, mas eles nunca disseram que não havia nenhuma existente, ao contrário do que M&G aparentemente alegam. De fato, em seu artigo Spector cita que em abril de 1944 o relatório de inteligência das atividades do exército na área de Pinsk (de forma alguma deveria ser assumido que isto é apenas o único documento):
"Por uma ordem especial do Reichsfuehrer SS, Sonderkommando 1005 chegou, para executar tarefas especiais na área do exército."

Assim, ao contrário de M&G, o Sonderkommando 1005 não foi uma invenção soviética.

Agora pense sobre isso: quanta vergonha Mattogno e Graf teria evitado se eles simplesmente tivessem lido o artido de Spector? Aquela é a melhor pesquisa "revisionista".

E isto é apenas o primeiro exemplo. Mais a seguir.

Atualização: ver também as decodificações PRO sobre SK1005.

Próximo >> Parte II: negadores e as valas de Marijampole

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/04/thats-why-it-is-denial-not-revisionism.html
Tradução(português): Roberto Lucena

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

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