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sábado, 22 de fevereiro de 2014

A psiquiatria de Franco. A mulher, intermediário entre criança e animal

Mulher, entre criança e animal
Rodolfo Serrano; Madrid, 7 de janeiro de 1996

Antonio Vallejo-Nágera,
psiquiatra franquista
As mulheres marxistas também foram objeto de estudo. Vallejo-Nágera e Eduardo M. Martínez, diretor da Clínica Psiquiátrica de Málaga e diretor da prisão desta cidade, analisaram 50 presas de guerra. O método foi similar ao empregado com os brigadistas; mas com uma exceção: para os homens foi realizado um estudo antropomórfico, mas "no sexo feminino", escreve Vallejo e Martínez, "carece de finalidade pela impureza dos contornos". O conceito que ambos professores tinham sobre a mulher é perfeitamente expresso em seus textos.

Para justificar o alto grau de participação feminina nas fileiras da República, recordam sua "debilidade mental" e asseguram que "como o psiquismo feminino tem muitos pontos de contato com o infantil e o animal", quando se rompem os freios sociais que contém a mulher "despertando-se no sexo feminino o instinto da crueldade e ultrapassa todas as possibilidades imaginadas, precisamente por lhes faltar inibições inteligentes e lógicas".

Em busca do 'gene vermelho'

Mas não só isso. Ambos os professores estavam convencidos de que "nas revoltas políticas" as mulheres têm oportunidade "de satisfazer seus apetites sexuais latentes". A sexualidade das presas é estudada com verdadeiro interesse.

Destacam sua libertinagem, - advertem que foram sinceras ao se pronunciar nos interrogatórios, salvo nas "infidelidades conjugais que nenhuma confessou" - e oferecem tabelas sobre virgindade e desfloração e sobre as perversões sexuais das presas. Mas neste último aspecto dizem que "são raras as marxistas malaguenhas (de Málaga), pois somente três delas conhecem toda classe de perversões sexuais". "O amor lésbico tampouco é muito frequente", escrevem, "já que só seis pessoas (das 50), uma delas virgem, mostrou tendência deste tipo".

Os professores concluem que a mulher quando se lança à política "não o faz arrastada por suas ideias, senão por seus sentimentos que alcançam proporções imoderadas, inclusive patológicas, devido à irritabilidade da personalidade feminina". E sublinham que a crueldade feminina "não fica satisfeita com a execução do crime, senão que aumenta durante sua realização".

Somente três presas, das estudadas, segundo ambos doutores, apresentava uma inteligência superior. E seis, boa. O resto oferecia inteligência média ou inferior. E duas eram débeis mentais, segundo o estudo. A conclusão dos autores era de que o marxismo espanhol se nutria das pessoas menos inteligentes da sociedade.

Fonte: El País (Espanha)
http://elpais.com/diario/1996/01/07/espana/820969221_850215.html
Tradução: Roberto Lucena
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Este texto estava em destaque como link no texto maior "Em busca do 'gene vermelho' ("ciência" fascista) - Vallejo Nágera", sobre um psiquiatra fascista espanhol. Quem quiser ler, segue abaixo:
http://holocausto-doc.blogspot.com/2014/02/em-busca-do-gene-vermelho-ciencia-fascista-vallejo-nagera-franquismo.html

Pra minha surpresa, a família desse psiquiatra fascista, Vallejo Nágera, ainda tem destaque na Espanha.

Ambos textos são de 1996 do jornal El País (Espanha), sobre bizarrices/aberrações da "ciência" (médica) do franquismo. O termo bizarro é por minha conta pois não há como qualificar isso de outra coisa. Percebe-se o quanto os fascistas espanhóis contribuíram para o progresso da ciência (conteúdo obviamente irônico) com sua misoginia (ódio ao sexo feminino) provavelmente oriunda de cultura religiosa.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Em busca do 'gene vermelho' ("ciência" fascista) - Vallejo-Nágera

Antonio Vallejo-Nágera dirigiu em 1938 um estudo sobre prisioneiros de guerra para determinar que malformação levava ao marxismo
Rodolfo Serrano; Madrid, 7 de janeiro de 1996

Antonio Vallejo-Nágera
Imagem da web
Os vermelhos, nascem ou se formam? Que malformações, psíquicas ou físicas, levam a um homem ou a uma mulher ao marxismo? O professor Antonio Vallejo-Nágera, chefe dos Serviços Psiquiátricos do Exército de Franco, buscou a resposta a estes e outros interrogantes, estudando mediante testes psicológicos e medições antropomórficas a prisioneiros de guerra, fundamentalmente procedentes das Brigadas Internacionais. Durante dezembro de 1938 e outro de 1939, II e III Ano Triunfal, o famoso psiquiatra publicou - com outros colaboradores seus - até cinco relatórios na Revista Espanhola de Medicina e Cirurgia de Guerra, com o título genérico de Biopsiquismo do Fanatismo Marxista. Em suas páginas analisou "as relações que possam existir entre as qualidades biopsíquicas do sujeito e o fanatismo político-democrático-comunista". Não se limitou a estudar somente homens, também realizou um estudo em mulheres prisioneiras de guerra - cujo psiquismo "tem muitos pontos de contato com o infantil e o animal", escreve Vallejo - buscando uma explicação "à ativíssima participação do sexo feminino na revolução marxista". A conclusão do professor e seus colaboradores foi que o marxismo espanhol se nutre das pessoas menos inteligentes da sociedade.

Páginas obscuras

Pouco se sabe desses trabalhos que a comunidade científica preferiu manter em um piedoso esquecimento. Quase sessenta anos depois, os professores Javier Bandrés, da Universidade de Vigo, e Rafael Llavona, da Universidade Complutense, trouxeram à luz uma das páginas mais obscuras da psiquiatria espanhola. Seu trabalho - "A Psicologia nos campos de concentração de Franco" (La Psicología en los Campos de Concentración de Franco) -, que será publicado proximamente na revista especializada Psicothema, recolhe estudos e testemunhos de velhos brigadistas. San Pedro de Cardeña era em 1938 um velho monastério abandonado, a uns 13 quilômetros de Burgos. Para ali eram levados, à espera de sua execução, os brigadistas que foram feitos prisioneiros pelo exército de Franco. Conta-se que na entrada do campo havia uma estátua de El Cid com o braço levantado erguendo uma espada. A espada desapareceu um dia e o bom El Cid ficou só com o punho ao alto. Ao chegar, os brigadistas, levantavam seu punho respondendo àquele guerreiro que lhes recebia com a saudação revolucionária. As condições, tal como conta um dos que tiveram o amargo privilégio de passar por aquele campo, eram terríveis. "Ainda assim", conta Javier Bandrés, "os brigadistas tinham sorte se os comparassem com os prisioneiros espanhóis. Procurava-se manter os estrangeiros com vida para trocá-los por prisioneiros italianos nas mãos da República". Precisamente os que eram considerados piores eram os brigadistas italianos. Andreu Castells em seu livro "As Brigadas Internacionais na Guerra da Espanha" (Las Brigadas Internacionales en la Guerra de España) cita algo a este respeito e que é anotado no diário do genro de Benito Mussolini, o conde Ciano, em 22 de fevereiro de 1939. Conta que Franco está "limpando" a Catalunha. E aponta: "também foram detidos muitos italianos, anarquistas e comunistas: se digo ao Duce que me ordena que lhes fuzilem a todos. E acrescenta: os mortos não contam a história".

No campo de concentração de San Pedro de Cardeña, foi onde foram realizadas a maioria das pesquisas dirigidas por Vallejo-Nágera, através do Gabinete de Pesquisas Psicológicas da Inspeção de Campos de Concentração de Prisioneiros de Guerra. Bandrés e Llavona esclarecem que a ideia da criação do gabinete possivelmente não fora inteiramente de Vallejo. Alguns prisioneiros sobreviventes recordam que no campo estiveram membros da Gestapo "que tomavam medições antropométricas e interrogavam os prisioneiros". Também recordam que em San Pedro chegaram dois cientistas alemães que fizeram diversos testes nos reclusos.

Antonio Vallejo-Nágera, nascido em 1889 e falecido em 1960, pai do psiquiatra autor de numerosos livros de divulgação, Juan Antonio Vallejo-Nágera, ingressou no corpo de Saúde Militar em 1910. Durante a primeira guerra mundial esteve como agregado militar na embaixada espanhola em Berlim. E desde então teve oportunidade de trabalhar nos campos de prisioneiros de guerra. Ao estourar a guerra civil espanhola, ele era professor de psiquiatria na Academia de Saúde Militar. Foi nomeado chefe dos Serviços Psiquiátricos do Exército de Franco e criou em 1938 o já citado gabinete que dirigiu pessoalmente. Já no pós-guerra, tirou de sua cátedra o doutor López Ibor, que ele considerava "pouco afeito ao regime".

O próprio Vallejo explica os postulados de seu projeto de Biopsiquismo do fanatismo Marxista impulsionado do Gabinete de Pesquisas Psicológicas, "relação entre determinada personalidade biopsíquica e a predisposição constitucional ao marxismo", a "alta incidência do fanatismo marxista nos deficientes mentais" e a "presença de psicopatas antissociais nas massas marxistas".

Dividiu em cinco grupos as pessoas estudadas: prisioneiros das Brigadas Internacionais em San Pedro de Cardeña, presos espanhóis varões processados por atividades políticas, presas espanholas processadas pelas mesmas razões, separatistas bascos e marxistas catalães. Esses dois últimos grupos revestiam um especial interesse. Os bascos porque "se produz o curioso fenômeno do fanatismo político unido ao religioso" e os catalães porque "se une o fanatismo marxista e o anti-espanhol".

Bandrés e Llavona explicam que, utilizando suas próprias palavras, Vallejo "denomina revolucionários natos como esquizoides místicos políticos e sujeitos que induzidos por suas qualidades biopsíquicas constituintes e tendências instintivas, movidos por complexos de rancor e sentimento ou por fracasso em suas aspirações, possuem propensão, de certo modo congênito, a transtornar a ordem social.

Regenerar os prisioneiros

Vallejo-Nágera tentou inclusive regenerar os marxistas. Em seus trabalhos explica esses objetivos: "A reação social mais interessante ao objeto de nosso estudo é a transformação político-social do fanático marxista". É bem verdade que unicamente ensaiou seu programa de reeducação com os prisioneiros espanhóis. "Com os prisioneiros estrangeiros eu creio que as conclusões de Vallejo foram tão pessimistas que esse objetivo foi descartado", afirma Bandrés. Mas os marxistas espanhóis deviam ser duros de coração porque não parece que o projeto regenerador funcionou muito. Na realidade, a reeducação se limitava a lhes obrigar a desfilar, entoar gritos franquistas e a dar um curso religioso de seis semanas que ninguém conseguia superar e que, como consequência, repetia-se continuamente durante o período de cativeiro. Exemplo dos resultados de Vallejo são as conclusões sobre os prisioneiros norte-americanos, um grupo de 72 brigadistas, quase todos pertencentes à brigada Abraham Lincoln. Curiosamente, nenhum dos estudados deu uma inteligência alta no teste. E só um 19.44 mereceu a qualificação de boa. Ele leva ao psiquiatra afirmar que apesar de pertencer "a uma nação que se preza como inteligente e culta" - "sem sê-la", aclara Vallejo, as inteligências de grau inferior superam em muito as bem dotadas.

O professor Vallejo, contudo, reconhece surpreendido que a maioria dos brigadistas haviam vindo à Espanha para ajudar à democracia e que muitos dels confessavam com orgulho suas ideias antifascistas e democráticas e seu entusiasmo em defender a República. Mas inclusive este orgulho lhe fazia deduzir que "no fundo nos os temos como comunistóides, sem que falte uma elevada percentagem de reformadores idealistas e de revolucionários natos".

Antonio Vallejo-Nágera, que nos anos da guerra fria colaboraria num texto estadunidense sobre a psicopatologia das relações internacionais, não tem inibição alguma em afirmar ante o alto grau de revolucionários natos existe entre esses prisioneiros que "tampouco pode nos chocar o grande número de imbecis sociais, já que o meio ambiente cultural e social norte-americano favorece a formação de tal tipo de personalidade".

Alto grau de libertinagem

Também no estudo se tinha em conta fatores como o fracasso pessoal, o alcoolismo - no que encontra uma incidência altíssima entre os brigadistas -, simpatias pelo Exército e vida sexual. As conclusões de Vallejo neste sentido falam de que a frustração social levava ao marxismo, que tinha um esaso entusiasmo pelo Exército "típico de qualquer país democrático" - e que entre os marxistas havia um alto índice de temperamentos degenerativos e indivíduos oligofrênicos". Aos brigadistas hispanoamericanos ele os colocava contra a parede. São pouco inteligentes, incultos, bêbados e com uma religiosidade deprimente. E sim, reconhece que nenhum deles se sentia fracassado sexualmente.

A libertinagem sexual parece um elemento comum. Vallejo disse que "constitui a tônica dos marxistas norte-americanos" e assegura que os britânicos - nos que incluem escoceses, irlandeses, galeses e canadenses - superam em libertinagem sexual os demais grupos. Ao contrário dos ingleses.

Bandrés e Llavona concluem com uma amarga reflexão: "enquanto que um grupo de psicólogos norte-americanos mostravam sua solidariedade com a República, sobre a base de que o fascismo e a psicologia científica eram incompatíveis, Vallejo lançava a mensagem de que a psicologia científica podia se pôr ao serviço de qualquer ideologia, inclusive das totalitárias".

Fonte: El País (Espanha)
Título original: En busca del 'gen rojo'
http://elpais.com/diario/1996/01/07/espana/820969222_850215.html
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Hitler, os alemães e a Solução Final: as diferenças entre Hitler e Stalin

Publicado em 2 de fevereiro, 2014

Meu ponto de partida para esta reflexão é o suposto de que, apesar das similaridades enquanto a formas de dominação, os dois regimes foram em essência mais distintos que similares. (…), eu gostaria de sublinhar as características únicas da ditadura nazi (…)

Às vezes, contudo, destacar os contrastes pode ser melhor do que comparar semelhanças. No que se segue, gostaria de utilizar o que, em que pese meu imperfeito conhecimento da historiografia recente sobre o stalinismo, entendo como características destacadas da ditadura de Stalin, para estabelecer com ela importantes contrastes com o regime de Hitler. Espero oferecer assim uma base para refletir sobre o que segue sendo um problema central na interpretação do Terceiro Reich: o que é que explica a inércia crescente da radicalização, da dinâmica de destruição do Terceiro Reich? Grande parte da resposta a esta pergunta tem a ver, e gostaria de sugerir que desde o princípio, com o debilitamento e o colapso do que se podia denominar de estruturas "racionais" de governo, um sistema de governo e administração "ordenado". Mas o que provocou este colapso, e não menos importante, qual papel teve Hitler neste processo? Estas são as perguntas que permanecem no centro de minha investigação.

Primeiramente, contudo, permita-me esboçar o que me parecem pontos importantes de contraste entre os regimes de Stalin e Hitler:

1. Stalin surgiu de "dentro" de um sistema de governo, como um expoente destacado do mesmo. Era, como Ronald Suny, um homem do comitê, um oligarca, um homem da maquinaria, (…) que se converteu em déspota graças ao controle do poder que residia no coração do partido, em seu secretariado. (…) De todas as formas, é difícil imaginar um líder de partido e chefe de governo com menos tendência burocrática que Hitler, um homem menos de comitê e da maquinaria que ele (Stalin). Antes de 1933, ele não estava envolvido e vivia distante da burocracia do movimento nazi. Depois de 1933, como chefe de governo, apenas posava pessoalmente a pena no papel a não ser que fosse para assinar a legislação de Lammers que a colocava diante de seu nariz. (…) A forma de operar de Hitler não propiciava um governo ordenado. (…) inclusive Lammers, o único vínculo entre Hitler e os ministros de Estado (que deixaram definitivamente de se reunir em torno de uma mesa como gabinete num momento tão precoce como 1938), tinha às vezes dificuldades para ter acesso a Hitler e conseguir que este tomasse decisões. (…) O cada vez maior distanciamento de Hitler acerca da burocracia do Estado e dos principais órgãos de governo, marca mais do que uma diferença de estilo com o modus operandi de Stalin. Refletindo, sob meu ponto de vista, uma diferença na essência dos regimes, dá-se na posição do líder de cada um deles, um ponto que ainda regressaremos.

2. Stalin era um ditador altamente intervencionista, acostumado a enviar um fluxo de cartas e diretivas determinando ou interferindo na política. Presidia todos os comitês importantes. Seu objetivo era, ao que parece, a monopolização de toda a tomada de decisões e sua concentração no Politburo, a centralização do poder do Estado e uma unidade na tomada de decisões que havia eliminado o dualismo partido-Estado. Hitler, ao contrário, foi, em termos gerais, um ditador não intervencionista naquilo a que a administração do governo se refere.

3. Suas esporádicas diretivas, quando surgiam, soavam serem ambíguas e transmitidas de maneira verbal (oral), normalmente pela boca de Lammers, o chefe da chancelaria do Reich, ou, nos anos de guerra (pelo que a questões civis se referia), cada vez mais por Bormann. (…) fez todo o possível para sostener e fomentar o dualismo irreconciliável entre partido e Estado que existia em todos os níveis. (…) os vínculos de lealdade pessoal foram desde o começo o princípio determinante crucial do poder, invalidando por completo o posto funcional ocupado e o status. Personalidades à parte, a posição de liderança de Hitler é estruturalmente mais segura que a de Stalin. Se seguiram devidamente os debates, as purgas de Stalin tinham alguma base racional, ainda que a paranoia do ditador as tenha levado para o reino da fantasia. (…) Hitler pensava que Stalin estava louco por levar a cabo as purgas. O único débil reflexo das mesmas no Terceiro Reich, foi a liquidação das SI (Sessões de Assalto) na "Noite das Facas Longas" (ou Noite dos Longos Punhais), em 1934, e a implacável vingança pelo atentado contra a vida de Hitler em 1944. (…) Hitler, há que se aceitar, foi, durante a maioria dos anos em que esteve no poder, excetuando os partidários reprimidos e impotentes dos antigos movimentos da classe trabalhadora, certas sessões do catolicismo e alguns indivíduos das elites tradicionais, um líder extremamente popular, tanto entre os grupos governantes como entre as massas. (…) Mas enquanto o culto a Stalin estava sobreposto à ideologia marxista-leninista e do partido comunista, e ambos conseguiram sobreviver, o "mito de Hitler" era estruturalmente indispensável para o movimento nazi e seu Weltanschauung, sendo, de fato, sua base, e sem poder se distinguir dele. (…)

4. (…) E, apesar do caminho para uma ditadura personalizada, na União Soviética não se produziu uma "radicalização acumulativa" inexorável. Pelo contrário, até metade da década de 1930 houve uma "grande marcha à ré" no radicalismo, e se produziu uma reversão para certas formas de conservadorismo social antes que a guerra impusesse seus próprios compromissos com a retitude ideológica. (…) No sistema foi capaz de resistir quase três décadas de Stalin e este sobreviver a ele. Era, em outras palavras, um sistema capaz de se reproduzir, inclusive às custas de Stalin. Resultaria complicado afirmar o mesmo a respeito do nazismo. O objetivo de uma redenção nacional através da purificação racial e o império racial eram uma quimera, uma visão utópica. A barbárie e a destruição inerentes ao vão intento de alcançar esse objetivo foram infinitos enquanto seu alcance, quanto o expansionismo e a extensão da agressão a outros povos foram ilimitados. Enquanto que o stalinismo podia "apaziguar-se", como efetivamente aconteceu depois da morte de Stalin, até se converter em um regime estático e inclusive conservador e repressivo, um "apaziguamento" que o convertesse em um autoritarismo sóbrio, do tipo franquista, é inconcebível no caso do nazismo. Aqui a dinâmica era incessante, a inércia da radicalização acelerada, incapaz de ter freio a menos que o "sistema" em si fosse fundamentalmente alterado.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2014/02/02/hitler-los-alemanes-y-la-solucion-final-diferencias-entre-hitler-y-stalin/
Trecho do livro (citado no blog): "Hitler, los alemanes y la solución final" (link) (livro original em inglês, Hitler, the Germans, and the Final Solution), Esfera de los libros, págs. 63-74, 2009; de Ian Kershaw.
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Morre o historiador Eric Hobsbawm aos 95 anos

LONDRES — O eminente historiador marxista britânico Eric Hobsbawm, que escreveu sobre os extremos dos séculos XIX e XX e era considerado um dos pensadores imprescindíveis do século passado, morreu nesta segunda-feira aos 95 anos.

"Ele morreu de pneumonia nas primeiras horas da manhã em Londres", afirmou a filha do historiador, Julia Hobsbawm.

O historiador lutava contra a leucemia e faleceu no no Royal Free Hospital da capital britânica.

"Ele fará falta não apenas para sua esposa há 50 anos, Marlene, e seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também por seus milhares de leitores e estudantes ao redor do mundo", completou.

Hobsbawm era uma figura consagrada, mas também controversa, por sua longa ligação com o Partido Comunista, que ele apoiou apesar das atrocidades na União Soviética e no leste europeu.

O livro mais famoso de Hobsbawm, provavelmente, é "Era dos Extremos, o breve século XX (1914-1991), de 1994, que foi traduzido para quase 40 línguas e recebeu muitos prêmios internacionais.

Hobsbawm, que influenciou gerações de historiadores e políticos, é reconhecido por seus três volumes sobre o "longo século XIX": "A Era das Revoluções: Europa 1789-1848", "A Era do Capital: 1848-1875" e "A Era dos Impérios: 1875-1914".

Sua perspectiva marxista foi formada em parte pela experiência de morar na Alemanha no início da década de 1930, quando acompanhou a ascensão de Adolf Hitler ao poder.

Nascido em 9 de junho de 1917 em uma família judaica de Alexandria, Egito, filho de um britânico e de uma austríaca, Hobsbawm foi criado em Viena no período entre as duas grandes guerras mundiais, antes de seguir para Berlim em 1931, depois da morte de seus pais no intervalo de dois anos.

Ele se mudou para Londres dois anos depois, quando Hitler virou chanceler, e entrou para o Partido Comunista britânico em 1936.

Depois de estudar História e obter o Doutorado na Universidade de Cambridge, Hobsbawm se tornou professor em 1947 no Birkbeck College de Londres, centro ao qual seguiu ligado por toda a carreira.

Também foi professor convidado em universidades de prestígio, como Stanford, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e Cornel.

Fã de jazz, escreveu críticas para a revista britânica New Statesman sob um pseudônimo entre 1956 e 1966.

Hobsbawm nunca abandonou a filiação ao Partido Comunista da Grã-Bretanha, que acabou em 1991, após a queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética.

"Era dos Extremos", em particular, dividiu leitores de diferentes linhas ideológicas na Grã-Bretanha, com muitos conservadores e liberais afirmando que a obra ignorou as atrocidades soviéticas, mas muitos da esquerda elogiaram a visão marxista da história.

Ele foi indicado para a ordem Companion of Honour em 1998 pelo governo trabalhista do primeiro-ministro Tony Blair.

Hobsbawm casou duas vezes, primeiro com Muriel Seaman em 1943. Após o divórcio em 1951, o historiador casou com Marlene Schwarz.

Fonte: AFP
http://br.reuters.com/article/entertainmentNews/idBRSPE89002920121001

domingo, 3 de maio de 2009

Roger Garaudy - "revisionistas" - biografias - 01

Roger Garaudy

Roger Garaudy ou Ragaa (nasceu em 17 de julho de 1913, em Marselha). É um autor francês e convertido ao islamismo que atraiu atenção pública por sua postura e escritos como negador do Holocausto.

Durante a Segunda Guerra, Garaudy foi aprosionado em Djelfa, Argélia, como um prisioneiro de guerra da França de Vichy; ele era um membro do Partido Comunista Francês que tentou reconciliar o Marxismo com o Catolicismo Romano nos anos setenta, e então abandonou ambas as doutrinas em favor do Islã sunita quando se tornou muçulmano em 1982, adotando seu novo nome(Ragaa). Ele atualmente vive na Espanha.

Em 1998, uma corte francesa o considerou culpado de negação do Holocausto e de difamação racista, multando-o em FF 120,000 ($40,000) por seu livro de 1995 "Mythes fondateurs de la politique israélienne"(Mitos Fundadores da Política Israelense). Endossando as visões do negador do Holocausto francês Robert Faurisson, o livro declara que durante o Holocausto, judeus não foram assassinados em câmaras de gás. O livro foi rapidamente traduzido para o árabe e o persa, e um advogado sudanês, Faruk M. Abu Eissa, reuniu um grupo de cinco homens da área jurídica para dar apoio a Garaudy em seu julgamento em Paris. O governo iraniano pagou parte da multa de Garaudy. Garaudy é também conhecido por ser um amigo de Abbé Pierre.

O negacionismo, a Velha Toupeira e a facção antissemita da extrema-esquerda francesa

"O mesmo arsenal de argumentos e as mesmas provas são utilizados pêlos diferentes pesquisadores da escola. Durante o julgamento de Klaus Barbie, o francês Roger Garaudy depôs como testemunha da defesa, sustentando que as deportações feitas por Barbie não se destinavam a centros de extermínio, porque estes não existiram. Mais recentemente, Garaudy, o ex-dirigente do PCF convertido ao Islã em 1982 depois de uma aproximação com intelectuais católicos, aderiu a esta modalidade de história como farsa, em seu livro Os Mitos Fundadores da Política Israelense (Velha Toupeira, 1995). O livro acrescenta à cantilena conhecida, a pretensão de revelar a génese oligárquico-judaica do mito do Holocausto, denunciando-o como elemento fundador do Estado de Israel.

Garaudy tornou-se um mártir da causa negacionista pela condenação que sofreu em 1999. A publicação do livro lhe valeu uma sentença de um ano de prisão, além de multa de 60 mil francos. (29) No entanto, para a propaganda de solidariedade terceiro-mundista, tão cara à Velha Toupeira, ele agregou credenciais intelectuais indiscutivelmente mais expressivas que as de qualquer de seus outros colegas, representantes, segundo o próprio Garaudy, da crítica científica da História." [1]

[1] Trecho do texto do capítulo 9 do livro "Neonazismo, Negacionismo e Extremismo Político".

Fonte: antisemitism.org.il
Tradução(primeira parte): Roberto Lucena

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