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domingo, 10 de setembro de 2017

As origens patronais do Fascismo italiano

A ascensão do fascismo na Itália surge como consequência da Primeira Guerra Mundial. Ao fim do conflito, atingido pela inflação e desemprego, o país é dominado por uma forte agitação social. Para se protegerem, os industriais e os latifundiários apelam para esquadrões fascistas criados por Benito Mussolini em 1915, abrindo o caminho para a tomada do poder.

Por Lionel Richard

"Antes do paraquedas se abrir", de Tullio Crali, 1931
"Em 1909, os signatários italianos do Manifesto Futurista, escrito por Marinetti, exaltam uma arte com "violência demolidora e incendiária". Fascinados pela guerra, "a única higiene do mundo", e pela técnica, os "aeropintores" como Tullio Crali interpretam as perspectivas cósmicas para retratar o poder dos meios de transporte modernos. Já na década de 1920, grande parte desta corrente se junta ao fascismo."
Exposição temporária do Guggenheim NY.

Quando a guerra eclodiu em 1914, a Itália era aliada - desde o final do século XIX - à Alemanha e o Império Austro-húngaro. No entanto, o governo optou por permanecer neutro. Os "intervencionistas", poucos, que queriam lutar ao lado da Tríplice Entente (França, Reino Unido e Rússia), em seguida, encontraram um porta-voz: Benito Mussolini, que dirigia o órgão do Partido Socialista, "Avanti!". Esta posição lhe rendeu expulsão de seu partido. Mas, em 14 de Novembro de 1914, financiado pela França, fundou outro jornal, "Il Popolo d'Italia". Ele conclamava, em 01 de Janeiro de 1915, para lançar uma "revolução contra a monarquia inerte" com o apoio da "Fasci Autonomi de rivoluzionaria Azione" (Fascistas autônomos da Ação revolucionária).

Em 23 de maio de 1915, reviravolta na Itália. Mussolini e seus fáscios não são grande coisa. Foi alcançado um acordo entre o governo italiano e a Tríplice Entente que, em caso de vitória, a Itália teria vantagens territoriais.

Resultados da guerra: o déficit público se multiplica por oito, e quando por seu lado, os industriais veem seus lucros aumentar em mais de 20%. Os italianos são submetidos à inflação e o desemprego. Nas fábricas do norte, havia 200.000 grevistas. Enquanto isso o Sul era bem agrário. Revoltas eclodem, lojas são saqueadas. Em vez de deixarem o Estado agir, os industriais e proprietários de terra chamam os esquadrões fascistas, sob o pretexto de "ameaça bolchevique". Os Fascistas italianos de combate, estabelecidos por Mussolini em 23 de marco de 1919 para substituir a "Ação Revolucionária Fascista", atacam os sindicatos e as Bolsas de trabalho.

"Controle da imprensa, instauração de uma polícia secreta, supressão do imposto sobre os lucros"

Até então, o "fascismo" era, segundo Mussolini, um "estado de espírito". Mas em 12 de novembro de 1921, foi fundado o Partido Nacional Fascista, cuja mistura de conservadorismo e nacionalismo satisfazia plenamente os círculos industriais. Eles subsidiam as organizações fascistas. As brigadas fascistas, que tinham cerca de 17 mil membros em outubro de 1919, pouco mais de três anos depois tinha mais de 300 mil.

"Perfil contínuo de Mussolini », de Renato Bertelli, 1933.
Renato Bertelli, source: Fondation Marinela Ferrari/DR
Para Mussolini, a hora de mostrar a força havia chegado. Em 28 de outubro de 1922, ocorre a marcha sobre Roma de seus camisas negras. Temendo uma guerra civil, o rei Victor-Emmanuel III se recusou a assinar o decreto que permitiria ao exército reprimir o golpe pela força. Em 30 de outubro de 1922, ele acata uma demanda de Mussolini para que constituísse o novo governo.

Uma vez que o Parlamento lhe deu todos os poderes, Mussolini, promovido à comandante (duce) da nação italiana, ataca as instituições democráticas. Controle da imprensa, criação de uma polícia secreta, prisões, assassinatos ... O poder econômico das classes dominantes é fortalecido. Os impostos sobre bens vendidos ou herdados, os lucros na capitalização financeira e sobre produtos de luxo são eliminados. As ações/participações do Estado em empresas são transferidas para empresas privadas.

A política social também é legalmente modificada. A semana de trabalho, que poderia exceder 50 horas, foi limitada a 40 horas em 1923. Uma organização de lazer, o "Dopolavoro", foi criada em abril de 1925. Em 1927, foi criado um programa de saúde pública. Mais a promulgação, no mesmo ano, de uma carta de trabalho, resultou em uma redução de salários de 20% para 2 milhões de trabalhadores.

La Padula et Romano
Construído entre 1938 e 1940 pelos arquitetos Guerrini, "La Padula et Romano",
o Palácio da civilização italiana é um monumento emblemático da arquitetura fascista. © Fotogramma/Ropi-REA.
Quando a crise econômica mundial atingiu a Itália, em 1931, Mussolini veio ao resgate de bancos em falência, uma medida que não teve efeito sobre o emprego. Em dois anos, quando vários milhões de italianos já haviam emigrado para encontrar trabalho, o número de desempregados passou de cem mil para mais de um milhão.

Com o regime fascista, aparece um novo tipo de ditadura. Em toda a Europa, diante da perspectiva de mudanças sociais que seus oponentes consideram como de "inspiração comunista", os grupos de ação são formados no modelo dos Fascistas de Combate.

Fonte: Le Monde diplomatique (Edição francesa)
https://www.monde-diplomatique.fr/publications/manuel_d_histoire_critique/a53170
Título original: Les origines patronales du fascisme italien
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 18 de julho de 2017

Para entender o mundo: livros (PDF)

Repasso abaixo dois posts com links de duas coleções de livros que foram bem difundidos no país (em PDF) sobre política. Se um dos principais problemas (se não for o central) do país é a falta de entendimento do povo sobre como funcionam as coisas, caso alguém tenha interesse, as duas coleções vem bem a calhar. Vou transcrever o texto dos posts abaixo e coloco os links pra download (provisoriamente, pois o certo é que o povo clique no link original e baixe de lá, pra dar mais visualizações ao site que lançou isso).
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"Coleção Primeiros Passos em PDF, para download"

"A série de livros Primeiros Passos é uma importante coleção da Editora Brasiliense que, há mais de 30 anos, reúne textos sobre diversos temas: O que é capitalismo? O que é filosofia? O que é racismo? O que é Cultura?

Lançada em 1970 e em formato de bolso, a coleção foi um sucesso, por exemplo, apenas durante o ano de 1999, vendeu meio milhão de exemplares… Tratam-se de textos curtos, porém concisos, sobre temas contemporâneos. Outra característica importante desta coleção é a indicação de uma bibliografia complementar disponibilizada ao final de cada volume, para aqueles que queiram se aprofundar no tema em questão.

Segue abaixo a lista de livros disponíveis em PDF e, mais abaixo, em azul, o link para o download das obras:
"

Link do post (o nome dos livros se encontram no link):
https://farofafilosofica.com/2017/04/15/colecao-primeiros-passos-completa-em-pdf-para-download/
Download:
Link1

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"Coleção Os pensadores| 55 livros para download"

"Dos pré-socráticos aos pós-modernos! Coleção “Os Pensadores -: 55 livros sobre os pensadores das principais escolas filosóficas em PDF, disponível para download.

A Coleção “Os Pensadores” é uma coleção de livros que reúne as obras dos filósofos ocidentais desde os pré-socráticos aos pós-modernos. O interessante desta coleção é que ela reúne em cada exemplar um pequeno apanhado sobre a biografia do autor em questão e um, dois ou três livros deste mesmo autor, normalmente os títulos mais conhecidos.

Publicada originalmente pela editora Abril Cultural, entre os anos de 1973/1975 era composta de 52 volumes. A edição que indicamos é de 1984 e é composta por 56 títulos, segue abaixo a lista de títulos disponíveis e mais abaixo (em vermelho) o link para fazer o donload dos livros em PDF:
"

Link do post (o nome dos livros/pensadores se encontram no link):
https://farofafilosofica.com/2017/02/16/os-pensadores-colecao-completa-55-livros-para-download/
Download:
Link2

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E pra quem ainda não viu (link fixo fica tanto no canto esquerdo superior como na parte destacada do blog, pra download) o ebook do Holocaust Controversies sobre o Holocausto (o texto está em inglês), pra baixar gratuitamente caso interesse (em PDF). Link abaixo do post:
(EBOOK) Belzec, Sobibor, Treblinka. Negação do Holocausto e Operação Reinhard. Uma crítica às falsificações de Mattogno, Graf e Kues

sábado, 17 de outubro de 2015

Reinhold Quaatz e o "Partido do Povo Alemão" (DVP). A direita radical liberal-conservadora alemã, pavimento do Nazismo

Reinhold Quaatz
Reinhold Quaatz (nasceu em 08 de maio de 1876 em Berlim - morreu em 15 agosto de 1953 em Berlim Ocidental) foi um político conservador alemão ativo durante a República de Weimar. Embora associado com a extrema-direita e tendências völkisch (A), Quaatz era meio-judeu em ascendência. [1]

Quaatz foi membro do Reichstag, sendo eleito pela primeira vez em 1920 pelo Partido do Povo Alemão (DVP) (B) antes deste se converter em Partido Nacional do Povo Alemão (DNVP) e mantendo seu assento até o estabelecimento do regime nazista. [2] Ele fora um membro da Nationalliberale Vereinigung (C), um grupo de proprietários de terras que era filiado à DVP, e que também incluía as preferências de Johann Becker, Moritz Klönne, Albert Vogler e Alfred Gildemeister, mas então colidiram com a liderança do partido e mudaram para o DNVP (D) no início de 1924. Como resultado disso, Quaatz concorreu pela sigla do DNVP na eleição de maio 1924 a partir de então. [3] Como membro do DNVP, Quaatz foi pessoalmente próximo ao líder do partido, Alfred Hugenberg. O industrial frequentemente foi confidente de seu amigo, fato demonstrado quando os diários de Quaatz foram publicados em 1989. [4] Apesar de sua mãe ser judia, Quaatz endossou as políticas antissemitas durante seu tempo como político do DNVP e até mesmo encorajou Hugenburg a trabalhar estreitamente com Adolf Hitler porque ele temia tanto o socialismo como o catolicismo político do Partido Centrista. [5]

Longe da política, ele era industrial e financista, e no início de 1933 ele foi nomeado para a diretoria do Banco Dresdner. [6] Ele foi removido dessa posição em fevereiro de 1936 devido às leis nazistas que barravam os Mischling (E) de tais posições. [7] Ele foi brevemente interrogado pela Gestapo logo após o atentado em 1944 contra a vida de Hitler, mas geralmente seus contactos de alto nível significavam que ele merecia pouca atenção do Estado. [7] Ele foi membro fundador da União Democrata-Cristã em Berlim (F), após a guerra.

Referências:

[1] Hermann Beck, The Fateful Alliance: German Conservatives and Nazis in 1933: The Machtergreifung in a New Light, Berghahn Books, 2009, pág. 199
[2] Datenbank der deutschen Parlamentsabgeordneten
[3] Beck, The Fateful Alliance, pág. 24
[4] Beck, The Fateful Alliance, pág. 91
[5] Hermann Weiss und Paul Hoser (eds), Die Deutschnationalen und die Zerstörung der Weimarer Republik. Aus dem Tagebuch von Reinhold Quaatz 1928-1933 (Schriftenreihe der Vierteljahrshefte für Zeitgeschichte 59), Oldenbourg: Munich 1989, págs. 19-21
[6] Gerald D. Feldman, Wolfgang Seibel, Networks of Nazi Persecution: Bureaucracy, Business, and the Organization of the Holocaust, Berghahn Books, 2006, pág. 48
[7] Hermann Weiss und Paul Hoser (eds), Die Deutschnationalen und die Zerstörung der Weimarer Republik. Aus dem Tagebuch von Reinhold Quaatz 1928-1933 (Schriftenreihe der Vierteljahrshefte für Zeitgeschichte 59), Oldenbourg: Munich 1989, pág. 17

Meus acréscimos:
(coloquei os destaques como letras entre parênteses no texto)

A) Do Movimento Völkisch, da palavra "Volk" (povo), referente a um movimento cultural-político reacionário que exaltava ou ressaltava a cultura e folclore dos povos germânicos e de unificação dos mesmos, serviu de base a todos os grupos de extrema-direita na Alemanha, notadamente o Partido Nazista que foi o grupo mais bem sucedido entre os grupos de extrema-direita e fundador do Terceiro Reich.

B) DVP (Deutsche Volkspartei), Partido do Povo Alemão, ou em inglês German People's Party. Partido de linha ideológica nacional-liberal ou liberal-conservador, de extrema-direita, sucessor do Partido Nacional Liberal National Liberal que acabou em 1918. Depois mudou o nome para Partido Nacional do Povo Alemão (tradução livre do nome em inglês German National People's Party). Todas foram formações de extrema-direita, liberais e conservadoras.

C) Nationalliberale Vereinigung, tradução Associação Nacional Liberal (do inglês National Liberal Association). Era um grupo de extrema-direita liberal, reacionário, anti-marxista, dentro do próprio DVNP. Um círculo de industrialistas que não se sentiam ideologicamente separados dos nacionalistas. Para mais informações, confiram os links: The Rise and Fall of Weimar Democracy; Recasting Bourgeois Europe: Stabilization in France, Germany, and Italy in the Decade after World War I

D) DNVP (Deutschnationale Volkspartei), Partido Nacional do Povo Alemão (explicação acima).

E) Sobre Mischling, ler Os "Mischlinge" (ou clique no marcador/tag). Era como eram chamados os "mestiços", gente com alguma ascendência judaica segundo a classificação racista das Leis de Nuremberg.

F) União Democrata-Cristã (em alemão Christlich Demokratische Union Deutschlands, sigla CDU), partido da atual chanceler da Alemanha, Angela Merkel. O Reinhold Quaatz, segundo o registro, foi membro fundador da CDU. Mas no Brasil uma trupe de petulantes pernósticos ignorantes toda vez vêm encher o saco com a lenga-lenga do "nazismo de esquerda" tentando se dissociar do termo extrema-direita. Não estou afirmando que a CDU atual tenha a ver com o Partido Nazi (alguns conseguiriam interpretar isto pois não querem que se comente nada sobre nazismo e direita, mas não estou numa ditadura de direita liberal ainda, então vão com calma), mas quando se fala em espectro político de direita, isso engloba todos os grupos de direita e é curioso que o Quaatz e vários outros radicais de direita não tinha objeção a Hitler (ou tanta objeção), além de nacionalistas, e no Brasil os grupos organizados liberais tentam à força reescrever a História da segunda guerra e da Alemanha negando fatos e conexões. Eu detalharei isto no comentário do post que será colocado em um post à parte depois pois o post ficaria muito extenso.

Fonte: Wikipedia (verbetes da versão inglesa e foto da versão alemã)
https://en.wikipedia.org/wiki/Reinhold_Quaatz
https://de.wikipedia.org/wiki/Reinhold_Quaatz
Título original: Reinhold Quaatz (verbete, Wikipedia versão inglesa)
Tradução: Roberto Lucena
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Observação 1: sobre o conteúdo do post, será colocada em um post à parte.

Observação 2: em caso de cópia de texto do post, por ser o texto original (em inglês) um verbete da Wikipedia, caso alguém queira colocar na Wikipedia em português, cite a fonte, ou mesmo em qualquer canto. É a postura padrão, correta, de se usar um texto, porque a tradução do verbete é do blog. Eu até colocaria na Wikipedia o texto, mas já tive texto ou trecho cortado de lá e link do blog removido (na versão em português), quando isto não ocorre nos verbetes em inglês porque se um texto consta de um site, o site tem que ser citado, ou então que arrume outra fonte pra copiar. Parece tolice a observação, mas é grotesca a postura de preconceito com blogs, sites etc na versão em português da Wikipedia, fora a cultura disseminada de que a Wikipedia não "presta". A Wikipedia presta, a versão em inglês é muito boa (melhor que muita enciclopédia conhecida), o problema dela são as versões de país com cultura mesquinha, cabeça pequena que criam esse tipo de problema (não me refiro só ao Brasil, o problema abrange todo mundo "lusófono"). Já tá na hora de mudar de postura e deixarem esse pedantismo (culto à burrice) de lado.

Os maiores prejudicados com este tipo de postura mesquinha são: 1. o povo. 2. a visão negativa que se cria em torno desse elitismo burro e pedantismo de gente com preconceito tosco com blogs e sites (quem geralmente corta é algum afetado metido a "sabido") com conteúdo quando ao mesmo tempo este pessoal pouca acrescenta ou repassa pro povo algum conhecimento. Não acrescentam mas cortam, atrapalham, enchem o saco.

domingo, 3 de maio de 2015

Os empresários de Hitler e o negócio dos campos de concentração

Se houve um grupo de cúmplices do nazismo que se "safou" de ter má imagem com o fim da Segunda Guerra Mundial, esse foi o dos empresários. Homens de negócios alemães, austríacos, franceses e também estadunidenses que se enriqueceram sob o capitalismo fascista que foi imposto pelo III Reich. Nomes tão conhecidos como Bayer, Ford, Standard Oil ou Siemens colaboram ativamente com Hitler e não tiveram dúvidas em utilizar como trabalhadores escravos a prisioneiros judeus, soviéticos ou espanhóis dos campos de concentração.
Prisioneiros de Mauthausen transportam pedras para a construção do campo
O adjetivo "fanático" é o que mais se tem utilizado na história para definir a Hitler e ao amplo grupo de suplentes que dirigiram o destino da Alemanha nazi. Contudo, há outro qualificativo muito menos utilizado e que se torna imprescindível para explicar sua estratégia política e militar. Hitler e o resto de sua camarilha eram grandes "homens de negócios".

Em suas mentes pesavam mais o dinheiro e as questões econômicas que seu desejo de exterminar judeus. Seu modelo de capitalismo fascista, pese a estar sob uma forte intervenção estatal, tornou-se muito atrativo para os empresários alemães e também para importantes magnatas estrangeiros, principalmente estadunidenses.

A SS criou suas próprias empresas para se beneficiar do trabalho escravo dos milhões de prisioneiros capturados pelo exército alemão. A DEST e a DAW foram as duas mais destacadas. O objetivo de Himmler era que, graças a essas companhias, a SS pode jogar um papel predominante na economia alemã, inclusive no cenário de paz que se abriria depois da guerra.

Fazer negócio a qualquer preço

As empresas de armamento, automotivas, produtos farmacêuticos e tecnologia não podiam contar com os jovens alemães para trabalhar em suas fábricas porque esses se encontravam nas frentes de batalha. Os prisioneiros dos campos e os trabalhadores forçados se converteram na melhor opção e também na mais barata. O negócio dos campos era redondo. A DEST administrava os trabalhadores, a SS oferecia a segurança e as empresas aportavam o resto. Na repartição dos papéis todos ganhavam. Todos menos os deportados, que morreriam aos milhares nas pedreiras e nas fábricas controladas pelo empório da SS e pelas empresas privadas alemães e norte-americanas.
O selo "Hollerith" indica que os dados deste prisioneiro espanhol foi processado pela IBM
A lista de firmas alemãs que colaboraram e se beneficiaram das políticas bélicas e genocidas do regime nazi é interminável. Desde gigantes da automotivas até pequenas empresas familiares e inclusive particulares que utilizaram prisioneiros dos campos de concentração para cultivar suas terras ou trabalhar em suas granjas. Essas são algumas das mais destacadas:

IG Farben - Este consórcio foi o que melhor exprimiu todas as opções de negócio que facilitava o regime nazi. Fabricou combustível e um tipo de borracha sintética chamada "Buna" para o exército alemão, fornecendo os produtos químicos para o extermínio em massa dos "inimigos" do Reich e se aproveitando do trabalho escravo de milhares de prisioneiros dos campos. Três empresas químicas e farmacêuticas constituíam o coração da IG Farben: Bayer, Basf e a Hoechst.

Audi - Empregou em sua cadeia de produção 20.000 trabalhadores forçados.

Daimler - Utilizou em grande escala trabalhadores forçados para a fabricação de automóveis.

Bosch - Empregou cerca de 20.000 trabalhadores forçados.

Volkswagen - Colocou em grande parte de sua produção trabalhadores forçados.

Krupp (atualmente Thyssenkrupp) - Krupp teve a honraria de ser a empresa modelo do nacional-socialismo e empregou mais de 75.000 trabalhadores forçados.

Deutsche Bank - o historiador Harold James analisou o período nazi em 1995. James rotulou a atitude do banco naquela época como "complacente".

Lufthansa - autorizou o historiador Lutz Budraß a realizar um estudo sobre sua participação na criação da Luftwaffe. Os dados oficiais do estudo não foram publicados ainda. A pergunta permanece no ar.

Bertelsmann - Encarregou o historiador Saul Friedländer um estudo que foi apresentado em 2002. A gigante dos meios de comunicação se aproveitou do regime nazi de forma massiva.

Quandt (proprietária da BMW) - Segundo a investigação levada a cabo pelo historiador Joachim Scholtyseck, Günther Quandt enriqueceu no período compreendido entre 1933 e 1945. A empresa do magnata utilizou 50.000 trabalhadores escravos.

Oetker - Abriu seus arquivos em 2007 depois da morte do patriarca, Rudolf August Oetker. O historiador Deren Erkenntnisse revelou que Rudolf A. havia pertencido à Waffen-SS e colaborado ativamente com o regime nazi.

Adidas e Siemens - Permitiram que se investigue seus arquivos. Sabe-se que, ambas empresas, empregaram milhares de trabalhadores escravos.

Cúmplices em Detroit e Nova Iorque

Historiadores e economistas coincidem na opinião de que para Hitler seria impossível se lançar à conquista de Europa sem o apoio de quatro grandes multinacionais estadunidenses: Standard Oil, General Motors, Ford e IBM.

General Motors. Fabricou milhares de caminhões militares em suas fábricas da Alemanha. Seu modelo batizado com o nome de Blitz, Relâmpago, serviu a Hitler para entrar com suas tropas na Áustria. A admiração do Führer pela tecnologia de Opel e seu agradecimento em contar com sua colaboração lhe levou a conceder a Grande Cruz da Ordem da Águia Alemã a seu diretor executivo, James Money. A GM utilizou prisioneiros dos campos de trabalhadores escravos.

Ford. O fundador da companhia, Henry Ford, já era conhecido em fins dos anos 20 por seu profundo antissemitismo. Hitler admirava profundamente a Ford, a ponto de chegar a dizer que era sua inspiração. Esse amor era mútuo e permitiu que a empresa automobilística estadunidense se convertesse no segundo produtor de caminhões para o exército alemão, superado unicamente pela Opel-General Motors. Henry Ford também foi distinguido por Hitler com a Grande Cruz da Ordem da Águia Alemã em 1938. Depois da invasão da França, a empresa estadunidense continuou trabalhando para o Reich e se negou a fabricar motores para os aviões da Royal Air Force britânica. Igual à GM, a Ford se aproveitou do trabalho escravo de milhares de deportados.

Standard Oil Proporcionou a Hitler o combustível e a borracha necessária para empreender a invasão da Europa. O governo nazi, consciente de que as importações de petróleo se reduziriam com o estouro da guerra, decidiu fabricar combustível sintético. O complexo processo de elaboração não havia sido possível sem a aliança entre o consórcio alemão IG Farben e a Standard Oil norte-americana. Os navios cisternas da Standard forneceram combustível a barcos alemães em Tenerife e outros portos da Espanha franquista.

IBM. Seu "mérito" foi dotar o regime nazi de seus ainda primitivos, mas eficazes, sistemas informáticos. Suas máquinas, que funcionavam com cartões perfurados, precursores dos ordenadores, resultaram em uma enorme utilidade para o governo alemão. Himmler era consciente das possibilidades que lhe oferecia a tecnologia da IBM para organizar, distribuir, explorar e eliminar milhões de judeus e prisioneiros de guerra que caíram em suas mãos durante a guerra. Realizaram censos da comunidade judaica que serviram para identificar e eliminar com maior facilidade seus membros. Na maioria dos campos de concentração se abriu um "departamento Hollerith" (nome da filial alemã da IBM) na qual se realizaram fichas de cada deportado, incluindo sua profissão, sua raça ou religião.

Escravos espanhóis

O grosso dos republicanos que passaram pelos campos de concentração trabalhou e morreu pelas ordens da DEST, a empresa de propriedade da SS. As pedreiras de Mauthausen e Gusen, assim como o moinho de pedra localizado junto a esta última, cobraram o maior número de vidas entre os espanhóis. O empório dirigidos pelos homens de Himmler também controlava a maior parte dos trabalhos que os republicanos realizaram em subcampos como Schlier-Redl-Zipf, Bretstein ou Vöcklabruck. Não obstante, houve algumas empresas privadas alemãs e austríacas que, especialmente depois de 1942, exploraram os republicanos que ficaram vivos.

A maior delas foi a Steyr-Daimler-Puch que empregou internos de Mauthausen, desde 1941, para trabalhos de construção em sua fábrica de Steyr. Em 1942 negociou com os altos mandatários do regime a utilização de prisioneiros no processo de fabricação de armamento e veículos para o exército. Fruto dessas conversas, Himmler aprovou a construção de um subcampo, dependente de Mauthausen, que dotasse a fábrica de operários. Meio milhão de espanhóis se viram obrigados a trabalhar em condições inumanas. Uns dez por cento deles morreu no próprio subcampo, assassinados violentamente ou por uma mortal combinação de fome, esgotamento e frio. A empresa também dirigiu fábricas nos túneis de Ebensee e Gusen, pelos quais passaram um menor número de republicanos.

A outra grande companhia armamentista que se aproveitou dos trabalhadores de Mauthausen foi a Masserschmit, que instalou uma de suas maiores plantas nos túneis da Bergkristall, próxima de Gusen. Foram poucos os espanhóis que trabalharam nela fabricando fuselagens e outras peças para diversos modelos de aviões de combate. Contudo, como ocorreu com a fábrica da Steyr-Daimler-Puch de Ebensee, dezenas de republicanos pereceram junto a milhares de soviéticos, poloneses, judeus e tchecos na perfuração das galerias subterrâneas em que se alojam suas fábricas.
Prisioneiras escravas do campo de concentração de Ravensbrück
As prisioneiras espanholas deportadas para Ravensbrück trabalharam em diversas empresas que fabricavam armamento e peças para veículos e aviões do Exército alemão. A mais conhecida delas foi a Siemens und Halske, que em 1942 construiu uma fábrica junto ao campo de produção de componentes eletrônicos destinados aos mísseis V1 e V2. A princípio, as mulheres seguiam dormindo em Ravensbrück e se deslocavam cada dia até a fábrica. Em fins de 1944, para poupar tempo, a Siemens construiu uns barracões na própria fábrica nos quais alojou suas trabalhadoras forçadas. As condições de vida eram igualmente duras como no campo central e capatazes se encarregavam de que as mulheres débeis e enfermas fossem devolvidas a Ravensbrück onde, geralmente, acabavam sendo executadas.

Junto a estas grandes companhias, houve também pequenas empresas que se aproveitaram do trabalho escravo dos prisioneiros. Em Mauthausen destacou, por cima do resto, a empresa local de materiais de construção Poschacher. Seu dono, Anton Poschacher, pagou à DEST para ter a sua disposição um grupo de reclusos. No total, em seu pequeno canteiro trabalharam 42 espanhóis menores de 18 anos. A empresa tirou um grande benefício do emprego desses jovens, pelo que pagava à DEST menos de 50% do salário que havia cobrado um trabalhador austríaco. Depois da guerra, seus responsáveis não foram perseguidos. A empresa não só conseguiu manter suas posses, como ainda ampliou e hoje em dia é a proprietária da maior parte dos terrenos que morreram 120.000 prisioneiros de Mauthausen, entre eles, 5.000 espanhóis.

Este artigo recolhe estratos do livro "Los últimos españoles de Mauthausen" (Os últimos espanhóis de Mauthausen) da Editora B. Nele são citados devidamente as diversas fontes consultadas.

Fonte: El Diario (Espanha)
http://www.eldiario.es/el-holocausto-espa%C3%B1ol/hitler-concentracion-deportado-mauthausen-gusen-ravensbruck-franco_6_369273071.html
Título original: Los empresarios de Hitler y el negocio de los campos de concentración
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Morre o historiador Eric Hobsbawm aos 95 anos

LONDRES — O eminente historiador marxista britânico Eric Hobsbawm, que escreveu sobre os extremos dos séculos XIX e XX e era considerado um dos pensadores imprescindíveis do século passado, morreu nesta segunda-feira aos 95 anos.

"Ele morreu de pneumonia nas primeiras horas da manhã em Londres", afirmou a filha do historiador, Julia Hobsbawm.

O historiador lutava contra a leucemia e faleceu no no Royal Free Hospital da capital britânica.

"Ele fará falta não apenas para sua esposa há 50 anos, Marlene, e seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também por seus milhares de leitores e estudantes ao redor do mundo", completou.

Hobsbawm era uma figura consagrada, mas também controversa, por sua longa ligação com o Partido Comunista, que ele apoiou apesar das atrocidades na União Soviética e no leste europeu.

O livro mais famoso de Hobsbawm, provavelmente, é "Era dos Extremos, o breve século XX (1914-1991), de 1994, que foi traduzido para quase 40 línguas e recebeu muitos prêmios internacionais.

Hobsbawm, que influenciou gerações de historiadores e políticos, é reconhecido por seus três volumes sobre o "longo século XIX": "A Era das Revoluções: Europa 1789-1848", "A Era do Capital: 1848-1875" e "A Era dos Impérios: 1875-1914".

Sua perspectiva marxista foi formada em parte pela experiência de morar na Alemanha no início da década de 1930, quando acompanhou a ascensão de Adolf Hitler ao poder.

Nascido em 9 de junho de 1917 em uma família judaica de Alexandria, Egito, filho de um britânico e de uma austríaca, Hobsbawm foi criado em Viena no período entre as duas grandes guerras mundiais, antes de seguir para Berlim em 1931, depois da morte de seus pais no intervalo de dois anos.

Ele se mudou para Londres dois anos depois, quando Hitler virou chanceler, e entrou para o Partido Comunista britânico em 1936.

Depois de estudar História e obter o Doutorado na Universidade de Cambridge, Hobsbawm se tornou professor em 1947 no Birkbeck College de Londres, centro ao qual seguiu ligado por toda a carreira.

Também foi professor convidado em universidades de prestígio, como Stanford, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e Cornel.

Fã de jazz, escreveu críticas para a revista britânica New Statesman sob um pseudônimo entre 1956 e 1966.

Hobsbawm nunca abandonou a filiação ao Partido Comunista da Grã-Bretanha, que acabou em 1991, após a queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética.

"Era dos Extremos", em particular, dividiu leitores de diferentes linhas ideológicas na Grã-Bretanha, com muitos conservadores e liberais afirmando que a obra ignorou as atrocidades soviéticas, mas muitos da esquerda elogiaram a visão marxista da história.

Ele foi indicado para a ordem Companion of Honour em 1998 pelo governo trabalhista do primeiro-ministro Tony Blair.

Hobsbawm casou duas vezes, primeiro com Muriel Seaman em 1943. Após o divórcio em 1951, o historiador casou com Marlene Schwarz.

Fonte: AFP
http://br.reuters.com/article/entertainmentNews/idBRSPE89002920121001

sábado, 28 de março de 2009

Memorial Buchenwald foi criado há 50 anos por líderes comunistas

Buchenwald, criado em 1958, na então Alemanha Oriental, foi o primeiro memorial criado num antigo campo de concentração dentro do território alemão.

(Foto) Cartão de prisioneiro do campo de concentração de Buchenwald

A cidade de Weimar é conhecida, acima de tudo, por seus monumentos, como a Casa Goethe ou a Biblioteca Anna Amalia. No entanto, a poucos quilômetros do centro, o capítulo mais negro da história alemã é simbolizado por uma enorme torre e por um sino: trata-se do Memorial Buchenwald, inaugurado em 1958, sob o governo da então Alemanha Oriental, de regime comunista.

Há 50 anos, no dia 14/09/1958, pontualmente às 11 horas da manhã, soava, pela primeira vez, o sino no alto da torre de 50 metros, que pode ser vista à distância. Não longe dali fica a escultura do artista Fritz Cremer, de onde se pode avistar Weimar como de quase nenhum outro lugar a região.

A inaguração ali do Memorial Buchenwald pelo então governo da Alemanha Oriental foi uma conseqüência das exigências dos sobreviventes, que entrou para a história como o primeiro memorial do pós-guerra no país de regime comunista. A idéia, na época, era legitimar a posição da Alemanha Oriental como uma nação "diferente e melhor" do que a Alemanha Ocidental.

Alojamento e penitenciária

Instalação da artista Rebecca Horn reflete sobre história de Buchenwald

Hoje, do diretor do Memorial, Volkhard Knigge, observa que, em 1958, "Buchenwald era o maior Memorial do Holocausto situado num ex-campo de concentração em território alemão. Na Alemanha Ocidental, no mesmo ano, as instalações do ex-campo de concentração de Dachau, por exemplo, serviam de alojamento para refugiados do Leste do país, enquanto Neuengamme, perto de Hamburgo, era uma penitenciária juvenil. Ou seja, é possível compreender porque muitos sobreviventes, mesmo não sendo ligados ao comunismo, também se identificaram muito com esse Memorial".

Enquanto a Alemanha Ocidental, capitalista, ainda tratava de temas relacionados aos crimes cometidos durante o passado nazista de forma superficial e atenuante, os governantes da República Democrática Alemã (RDA) se apropriaram rapidamente da história dos campos de concentração em proveito próprio.

Memória seletiva

Prisioneiros de Buchenwald, em abril de 1945

Embora os membros da resistência comunista durante o período nazista tenham formado apenas um pequeno grupo entre as vítimas do nazismo, as celebrações e homenagens na Alemanha Oriental se voltavam quase que exclusivamente para eles.

"Simplesmente ignoradas eram as medidas violentas e de exclusão dos perseguidos em função das teorias raciais do regime nazista. Nada lembrava os judeus, os sintos e rom, os homossexuais, os excluídos da sociedade em geral", analisa Knigge.

A disposição física do Memorial de Buchenwald também obedecia aos objetivos ideológicos e políticos do governo da Alemanha Oriental. Knigge salienta, por exemplo, que antes mesmo da inaguração do Memorial foram destruídas várias barracas, que poderiam conter rastros dos desatinos registrados pela história oficial, acredita Knigge.

Três exposições

Cerca reconstruída: memorial aberto ao público

O escultor Fritz Cremer, por exemplo, foi obrigado várias vezes a modificar sua obra, até que ela ficasse ao gosto do então presidente do partido único SED. Mesmo assim, observa Knigge, à sombra de tamanha monumentalidade e de tantas deficiências, havia no Memorial Buchenwald também rupturas, que faziam com que valesse a pena visitar o local. "Nas esculturas, é possível, ainda hoje, para além desse lado estatal-oficial, ver figuras de refugiados como não eram encontradas em toda a RDA".

Hoje, três exposições tratam de informar ao visitante a respeito do ex-campo de concentração e sua história. A maior delas documenta os destinos dos prisioneiros, a segunda informa sobre o campo especial soviético após o fim da Segunda Guerra, e a terceira fala da apropriação política do Memorial pelo SED, então partido único da Alemanha de regime comunista.

Peter Sommer (sv)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,3644111,00.html

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Falece aos 100 anos o industrial alemão Karl Diehl que colaborou com o nazismo

Karl Diehl
Berlim, 20 jan. (EFECOM).- O industrial alemão Karl Diehl, que colaborou com o nazismo e fez uso de trabalhadores forçados e presos de campos de concentração em suas fábricas, faleceu este sábado com a idade de 100 anos, informou hoje sua empresa em um comunicado oficial.

"Era uma magnífica personalidade empresarial" e um exemplo de empresário patriota, assinalou numa nota necrológica o presidente do governo da Baviera, o social-cristão (CSU) Günther Beckstein, que em nenhum momento fez referência ao polêmico papel de Diehl durante o nacional-socialismo (nazismo).

O comunicado difundido por sua empresa sublinha que "Karl Dihel soube dirigir a herança de seus pais em tempos difíceis e a converter numa empresa familiar de grande sucesso", que hoje emprega 11.000 pessoas, com um volume de negócios de cerca de 2,2 bilhões de euros e se situa entre as firmas armamentistas mais importantes da Alemanha.

Contudo, Karl Diehl sempre se viu assombrado por seu passado, já que ingressou em 1933 no Partido Nacional-Socialista (NSDAP), coincidindo com a chegada de Adolf Hitler ao poder, e sua empresa teve caráter estratégico durante a Segunda Guerra Mundial ao produzir milhões de detonadores e cartuchos de munição.

Na época, suas fábricas fizeram uso de trabalho forçado, prisioneiros de guerra e presos de campos de concentração, em cujos terrenos chegou a montar feitorias para a produção de temporizadores, entre outros artigos.

Após o fim da guerra, alguns sobreviventes fizeram acusações graves de maus-tratos contra Diehl, ao relatar que os trabalhadores tinham as mãos marteladas quando paravam seu trabalho e só podiam ir ao banheiro duas vezes em jornadas trabalhistas exaustivas.

Diehl --que herdou a direção do grupo industrial de seu pai em 1938 e cedeu a mesma a seus três filhos homens --buscou após a guerra o diálogo com os sobreviventes e indenizou-os voluntariamente.

Para justificar sua colaboração com os nazistas, ele afirmou que não quis ver ameaçados sua empresa, família e trabalhadores durante a época do nazismo. Seu filho Werner chegou a viajar para Israel para pedir perdão pessoalmente em nome da família às suas vítimas.

O já lendário empresário alemão chegou inclusive a encarregar os historiadores Wolfgang Benz e Gregor Schöllgen de elaborar um amplo relatório sobre a história de sua empresa durante o período nazista.

Schöllgen chegou à conclusão que Diehl, "a mesma forma que a maioria dos empresários em sua situação, agiu pragmaticamente", enquanto Benz afirmou que os trabalhadores forçados foram mandados a ele pelos nazistas, mas que o industrial não teve culpa.

Com o fim da guerra, Karl Diehl conseguiu reconstruir seu grupo industrial, arruinado desde o colapso do nazismo, e trabalhou ininterruptamente para isso até há cinco anos, quando deixou seu cargo de dirigente do Conselho de Administração, apesar de ter continuado como presidente de honra até sua morte.

Além disso, o industrial era considerado um generoso mecenas que, entre outras coisas, criou uma fundação para ajudar os necessitados e ex-funcionários, além de apoiar economicamente vários projetos sociais e culturais, principalmente em sua cidade de Nuremberg, que em 1997 nomeou-o filho predileto.

Fonte: EFE/El Economista (Espanha)
http://www.eleconomista.es/empresas-finanzas/noticias/348113/01/08/Fallece-a-los-100-anos-industrial-aleman-Karl-Diehl-que-colaboro-con-nazismo.html
Título original: Fallece a los 100 años industrial alemán Karl Diehl que colaboró con nazismo
Tradução (a revisar): Roberto Lucena

terça-feira, 23 de outubro de 2007

EUA e soviéticos empregaram criminosos de guerra nazistas

Oficiais nazistas foram empregados pelas agências de espionagem dos Estados Unidos e da União Soviética depois da Segunda Guerra Mundial.

A informação está em uma série de documentos cuja divulgação foi liberada nesta sexta-feira pelo governo dos Estados Unidos.

Os arquivos contêm mais de três milhões de páginas com informações sobre figuras notórias do Terceiro Reich, como Adolf Hitler, Adolf Eichmann, Klaus Barbie e Josef Mengele.

Um porta-voz do departamento de Justiça americano, Eli Rosenbaum, disse que os documentos mostram que os reais vencedores da Guerra Fria foram criminosos de guerra nazistas.

Gestapo

Muitos deles conseguiram escapar da Justiça porque EUA e União Soviética se concentraram tão rapidamente no enfrentamento mútuo que perderam a ímpeto de persegui-los.

Os documentos mostram que muitos oficiais de órgãos de espionagem nazista foram bem recebidos pela CIA, em grande parte por causa do número de informações que possuíam sobre a União Soviética.

Mas os papéis, liberados pela Arquivo Nacional dos EUA, também desmentem um antigo e conhecido rumor sobre Heinrich Muller, chefe da Gestapo, a polícia política nazista.

Desconfiava-se que Muller havia trabalhado como espião para os Estados Unidos até bem depois do final da Segunda Guerra Mundial.

Os documentos liberados nesta sexta-feira, porém, confirmam que ele morreu em 1945.

Muller foi um dos arquitetos da chamada "Solução Final" – o plano de Hitler para exterminar todos os judeus europeus e russos.

Um dos documentos mais curiosos do pacote diz respeito ao médico particular de Hitler: em 1937, ele afirmou que o seu paciente "acabaria se tornando o criminoso mais louco que o mundo já viu".

Klaus Barbie foi usado pela CIA(Foto)
Fonte: BBC, 28 de abril, 2001
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2001/010428_nazismo.shtml
Revisitar o Holocausto(coleta de textos jornalísticos publicados sobre o Holocausto)

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