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sábado, 11 de janeiro de 2014

Série "Doutores do Inferno" completa, do livro de Vivien Spitz sobre experimentos nazistas

Chega ao fim as traduções dos textos colocados no blog espanhol "El Viento en la Noche" ("O vento na noite", link: http://universoconcentracionario.wordpress.com/) sobre as experiências médicas nazistas durante o Terceiro Reich.

Faltou uma única tradução que não foi feita em virtude de que o testemunho do Kurt Gerstein já consta do blog (Relato do SS Kurt Gerstein - Campo de extermínio de Belzec) e no blog Avidanofront (link), não sendo necessário fazer uma nova tradução. Embora eu não tenha lido o texto com o trecho do livro da Spitz (no outro blog) pra verificar se são exatamente iguais. Pra quem quiser ler (em espanhol), segue o link:
Doctores del infierno: testimonio de Kurt Gerstein

Quando for possível ler o texto, e caso não sejam iguais os relatos, o texto será colocado. É a única exceção da série Doutores do Inferno (que pra ler inteira basta clicar no marcador com o nome).

Antes de ler o aviso mais abaixo, leia este anterior (no link):
Sobre a série "Doutores do Inferno" (livro) e posts programados do blog (06.01.2014)
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Mais um aviso, embora isso já tenha sido dito antes (e será repetido sempre que for possível pois muita gente "faz de conta" que não "lê"): todos os textos colocados no blog possuem as fontes citadas de onde eles foram tirados. É uma questão de honestidade intelectual e seriedade citar a fonte de origem do texto porque os textos são concedidos pra que outros leiam, mas as traduções têm autoria, justamente pra evitar que distorçam, deturpem, façam plágio e usem comercialmente os textos sem autorização.

Digo isso porque vejo que muitos textos sobre este assunto e sobre segunda guerra são copiados ou traduzidos sem serem citadas as fontes de onde eles foram tirados, o que é algo bem desonesto. Se não é autor de um texto, por que copiar sem citar a fonte?

Isso ocorre principalmente no Facebook, o que já soltaram de 'copy-and-paste' por lá de Páginas que por sua vez já copiam textos da web sem checar nada (cheios de erros, montagens, fotos com legendas falsas), é literalmente uma piada (de mau gosto). E sem "florear" (aliviar) o comentário, o conteúdo desses textos costuma ser uma porcaria de baixo nível, um amontoado de lixo. Alguém achar que vai aprender sobre segunda guerra lendo essas "tirinhas" "miguxas" soltas cheias de erros, só pode estar de brincadeira ou se auto enganando. Não vão substituir nunca livros (os que prestam, pois há muita "literatura" ruim) com "tirinhas" no Facebook, é triste o quadro naquela rede (como era também o do Orkut).

Não entendo o interesse mórbido das pessoas em se aglomerar nessas páginas sem real interesse em aprender nada (lerem livros), aparentemente só as adicionam pra fazer uma "média" pra colocar no perfil (fazer "pose"). Há Páginas de conteúdo cultural boas naquela rede, mas são uma minoria e o site é problemático, mas o 'grosso' (a maioria delas) é um amontoado de lixo mesmo. E não é o melhor local pra se aprender algo caso a pessoa não tenha conhecimento razoável sobre o tema e senso crítico apurado.

Além dos problemas citados acima, há outro já citados antes. Já vi mais de uma vez gente usando fakes colocando links deste blog pra discutir com "revis". Eu não tenho nada contra alguém que se identifique e seja sério pegue os links, por sinal, a ideia dos textos é repassar conhecimento adiante e não haveria sentido se isto não ocorresse, eu tenho algo contra fakes e molecagem, prática que desaprovo porque parto do princípio que se alguém tem medo de discutir com "revis" pra que afinal discute com eles, e ainda usa um fake? Qual o sentido disso? Pra atestar que sente medo de "revis" e servir de bobo da corte a esse pessoal? Há atitudes que são bizarras, essa é uma delas.

Certas imposturas na web que vejo bastante no país são lamentáveis. Não que isto não aconteça fora, pelo contrário, trolls existem em todo mundo (há um mesmo no Rodoh, um troll dos EUA, enchendo o saco de todos há muito tempo), mas a quantidade disso no Brasil é impressionante.

Faço este comentário principalmente pros que acham que só os "revis" criam "problemas" e misturam assuntos como conflito no Oriente Médio (questão Israel x Palestina), disputa política no Brasil, com esses assuntos de extrema-direita e racismo. O que já vi de gente "combatendo" (entre aspas, pois 'de boas intenções o inferno tá cheio', como diz o dito popular) o credo das viúvas hitleristas criando mais problema (mais que os próprios "revis") é um verdadeiro festival, só de mencionar isto já dá raiva.

Esse pessoal costuma me irritar mais que os próprios "revis" pois pelo menos os "revis" deixam claro o que "defendem" (aquelas aberrações deles que não é necessário repetir, já são de conhecimento público). A questão central é que esses "pseudo-humanistas" que ficam "combatendo" o credo "revi" não costumam se posicionar claramente sobre a questão a não ser nutrir uma compulsão por "discutir" com esses caras, fora misturar várias disputas políticas com isto.

Quando digo se posicionar, refiro-me a contradições bizarras como gente que defende ditadura (de 1964), que é de extrema-direita (desde que não ostente uma suástica), que acredita piamente em teorias da conspiração e afins [Nova Ordem Mundial (NOM), Illuminati], que entra nisso por fanatismo religioso (principalmente fundamentalismo evangélico e as pregações sobre Armagedom no Oriente Médio e conflito israelense-palestino), dizer que "combate" quem também morre de amores por ditaduras ultranacionalistas (como a de 1964), fica com "caça a comunistas", teorias da conspiração (os "revis" ou negacionistas) etc. É um troço bizarro, não há outro termo pra descrever. Sinto a quem se deixou se seduzir por estas fábulas e "mitologias" modernas disseminadas na web, mas essas "teorias da conspiração" não passam de idiotice em grau máximo, sem meio termo.

Deixo claro também que não gosto de fundamentalistas religiosos de qualquer vertente religiosa, não gosto mesmo, e nem queiram "testar" minha paciência com isso achando que estou escrevendo isso da "boca pra fora". Não estou, eu não gosto MESMO, pra não dizer logo que odeio. Se esse pessoal é radical e intolerante com quem não se enquadra na visão de mundo deles, eu também sou com eles. Por isso, a quem se enquadrar nesse perfil, favor passar longe, eu agradeço, até porque eu não fico atrás de fundamentalistas "pregando coisas" mas vários já vieram encher o saco sem serem "convidados".

"Ah, mas isso é sectarismo", não é, mas... posso ser sectário se for necessário. Paciência tem limite e a minha com esse tipo de gente já se esgotou faz tempo. Depois que vi várias confusões causadas por este pessoal no Orkut passei a entender (depois de ler) a razão desse "fervor" religioso (fanatismo) misturado a questões políticas, é algo esdrúxulo. Mas não tente dizer a um fanático cego que essas bizarrices/fobias sociais que eles se agarram não têm fundamento, ele ficará com raiva de você e sinceramente, não são o tipo de pessoas que eu faça questão de ter junto. O que veio de gente com esse perfil criar problema no Orkut com esse tipo de mistura político-religiosa é de assustar, e extrapolou há muito a tolerância alheia. São desagradáveis pois além de tudo não sabem discutir, não entendem o assunto (pois sempre colocam viés religioso em tudo) e não sabem conviver numa democracia pois reduzem tudo à "crença religiosa" (e intolerância) sem uma visão analítica do mundo.

Incomoda-se também o pessoal envolvido em discussões sobre conflitos no Oriente Médio, principalmente o Israel-Palestina. Há radicais do lado pró-palestino e isso é sabido (já fui atacado por alguns com a burrice deles de que "todo mundo é sionista" e bla bla bla, quando na verdade a razão do ataque é que alguns são antissemitas mesmo e eu recebi o ataque mesmo não sendo judeu, essa foi a parte mais "engraçado", pra verem que essa intolerância racista não se resume a grupos e pode atingir qualquer pessoa), mas há um pessoal radical pró-Israel (extrema-direita) que é tão casca-grossa quanto esse pessoal radical do lado pró-palestino, ou mais até pois simplesmente ignoram o que se passa naquele conflito e de qual é o lado opressor da coisa, além de não tolerarem muito críticas (as sérias). Se não conseguem analisar a questão com sobriedade se transformam em um bando de extremistas lunáticos repetindo radicalismo (panfletagem) de forma praticamente religiosa.

Acho que colocarei esta última parte do comentário (conflito Israel-Palestina e os radicais de ambos os lados) em outro post pois acabou esticando muito este post.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Doutores do inferno: o caso médico

Publicado em 9 de junho, 2012

Karl Brandt. Julgamento de Nuremberg
Em 25 de outubro de 1946, os Estados Unidos imputou quatro acusações a vinte médicos alemães e três auxiliares médicos no caso 'Estados Unidos da América contra Karl Brandt et al'. Assim se deu início ao primeiro e mais horrendo dos doze processos posteriores.

A primeira acusação era por conspiração.

A segunda, por crimes de guerra.

A terceira, por crimes contra a humanidade, entendendo por isto: assassinatos, brutalidades, humilhações, torturas, atrocidades e atos inumanos.

A quarta se referia à ato de pertencer a uma organização criminosa, declarada assim pelo Tribunal Internacional e conhecida comumente como a SS.

(…)

A medida que eles eram chamados, os acusados iam se levantando um por um. Eu os olhei todos. Tinham um aspecto desalinhado, usavam roupas sem passar, paletós e calças, ou uniformes militares despojados de todas as suas insígnias. Muitos calçavam botas militares. Pareciam ressentidos e arrogantes. Alguns tinham (sic) os lábios tensos, uma expressão dura e mesquinha no semblante, e a mandíbula apertada. No meu modo de ver, os de aparência mais vil eram os doutores Karl Brandt, com seus olhos penetrantes, e Wolfram Sievers, com sua barba negra e seu bigode pontiagudo. Apelidei-lhe de Barba Azul. (…)

O general de brigada Telford Taylor leu em voz alta as quatro acusações acima mencionadas e prosseguiu dizendo:

Entre setembro de 1939 e abril de 1945 os acusados aqui presentes cometeram de maneira intencional, voluntária e contrária ao Direito, crimes de guerra tal e como aparecem definidos no Artigo II da Lei 10ª do Conselho de Controle, no sentido de que perpetraram, fizeram papel coadjuvante, ordenaram, instigaram, foram partícipes voluntários e estiveram relacionados a planos e projetos que implicavam experimentos médicos, sem o consentimento das pessoas, com civis e membros das forças armadas de países então em guerra contra o Reich alemão e que estavam sob custódia do Reich alemão no exercício de seu poder como força de ocupação. Experimentos no curso dos quais os acusados cometeram assassinatos, brutalidades, humilhações, torturas, atrocidades e outros atos inumanos. Tais experimentos incluíram os seguintes, ainda que não se limitassem a eles:

- Experimentos relativos a altitudes elevadas. Muitas das vítimas desses experimentos (levados a cabo em uma câmara de baixa pressão na qual era possível reproduzir as condições atmosféricas e de pressão imperantes em altitude elevada, até um máximo de vinte mil metros) morreram como resultado desses experimentos e outras sofreram lesões graves, torturas e humilhações.

- Experimentos de congelamento. Às vítimas eram colocadas num tanque de água gelada até um máximo de três horas, ou lhes mantinha nus à intempérie pelo período de horas a temperaturas abaixo de zero, com o resultado no qual muitos morreram.

Chegado a este ponto, começava a custar para mim um grande esforço manter a moderação e conservar a compostura. O general prosseguiu:

- Experimentos com malária. Utilizando mosquitos ou injeções de extratos das glândulas mucosas de mosquitos, infectaram contra sua própria vontade a mais de mil pessoas que contraíram a malária, muitas delas morreram, enquanto outras sofreram fortes dores e deficiência permanente.

- Experimentos com gás mostarda. Infligiram feridas às vítimas de maneira premeditada e as infectaram rapidamente com gás venenoso; algumas das vítimas morreram e outras sofreram dores agudas e lesões graves.

- Experimentos com sulfanilamida. Às feridas que foram infligidas de maneira premeditada aos sujeitos da experimentação, infectaram-lhes com estreptococos, gangrena gasosa e tétanos, e na continuação foram introduzidas nas feridas lascas de madeira e vidro moído, no qual se produzia mortes, lesões graves e fortes dores.

- Experimentos relativos à regeneração de ossos, músculos e nervos e ao transplante de ossos. Extraíam-se das vítimas seções de osso, músculo ou nervos, o que lhes causavam fortes dores, mutilações, deficiência permanente e morte.

- Experimentos com água marinha. Os elementos eram desprovidos por completo de alimento e lhes davam unicamente água marinha processada quimicamente, o que causava intensas dores, sofrimento, lesões físicas graves e loucura.

- Experimentos com icterícia epidêmica. Infectavam os elementos premeditadamente com icterícia epidêmica, com o resultado de dores, sofrimento e morte.

- Experimentos de esterilização. Milhares de vítimas foram esterilizadas mediante Raios X, cirurgia e remédios, com o resultado de graves padecimentos físicos e mentais.

- Experimentos com tifo exantemático. Morreram centenas de pessoas: mais e 90 por cento dos sujeitos que foram infectados premeditadamente no transcurso dos experimentos.

- Experimentos com veneno. O veneno era administrado de maneira secreta na comida dos elementos da experimentação, no qual todos faleceram ou foram assassinados premeditadamente com a finalidade de fazer autópsia. Em outros casos eram disparadas, nas vítimas, balas de veneno que ocasionavam grandes sofrimentos e morte.

- Experimentos com bombas incendiárias. Infligiam queimaduras aos elementos da experimentação com fósforo extraído das bombas, o que ocasionava fortes dores, sofrimento e graves lesões físicas.

Civis e membros das forças armadas dos países então em guerra com a Alemanha foram assassinados no exercício de seu poder como força de ocupação. Cento e doze judeus foram escolhidos, assassinados e descarnados para completar uma coleção de esqueletos destinada à Universidade do Reich em Estrasburgo (França) sob a ocupação nazi.

(…)

Mediante o fato de ter sido posto em prática o programa de "eutanásia" do Reich alemão, assassinaram a centenas de milhares de seres humanos, entre eles cidadãos de países ocupados pelos alemães. Isto incluso a execução sistemática e secreta de anciãos, dementes, enfermos incuráveis, crianças deformes e outras pessoas por meio de gás, injeções letais e outros métodos em clínicas de repouso, hospitais e asilos. Essas pessoas eram consideras "bocas inúteis" e um fardo para o maquinário de guerra alemão. Era informado aos familiares das vítimas que eles haviam morrido de causas naturais, tais como infartes cardíacos. Os médicos alemães implicados no programa de "eutanásia" foram assim mesmo enviados aos países ocupados do leste da Europa para contribuir com o extermínio massivo de judeus.

- Vou pedir aos acusados que se declarem culpados ou inocentes das acusações que lhes são imputados - anunciou o juiz Beals -. (…)

A partir daqui, foram interpelados um a um os demais acusados. Todos tinham advogado. Todos se declararam inocentes das acusações que lhes foram imputadas.

(…) Teria me surpreendido se algum deles se declarasse culpado.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/09/doctores-del-infierno-el-caso-medico/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 89-95; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Doutores do inferno: os acusados do caso médico

Publicado em 13 junho, 2012
Sessão do julgamento dos médicos em Nuremberg, 1946.

Na imagem aparem 23 acusados no caso médico dos julgamentos de Nuremberg.
Na parte inferior aparecem os advogados da defesa e na parte direita superior os tradutores.

Em muitos casos, os acusados eram destacados cientistas alemães, médicos e cirurgiões-chefes em clínicas, institutos médicos, hospitais e universidades de toda a Alemanha. Foram os médicos e auxiliares médicos dos campos de concentração que levaram a cabo ou participaram dos truculentos experimentos médicos de Auschwitz, Dachau, Buchenwald, Ravensbrück, Sachsenhausen, Natzweiler, Bergen-Belsen, Treblinka e outros.

O que segue abaixo é uma breve descrição de cada um dos acusados:

1. Karl Brandt, general de divisão da SS; médico pessoal de Hitler e artífice principal do programa que converteu médicos em torturadores e assassino, em que pese haver comprometido tratar e curar mediante o juramento hipocrático.

2. Siegfried Handloser, tenente general, Serviços Médicos.

3. Paul Rostock, cirurgião chefe da Clínica de Cirurgia de Berlim

4. Oskar Schroeder, chefe de Serviços Médicos da Luftwaffe (Força Aérea alemã)

5. Karl Genzen, chefe do Departamento Médico da Waffen-SS.

6. Karl Gebhardt, general de divisão da Waffen-SS e presidente da Cruz Vermelha alemã.

7. Kurt Blome, plenipotenciário para Investigação Oncológica.

8. Rudolf Brandt, secretário pessoal do Reichführer SS Heinrich Himmler.

9. Joachim Mrugowsky, higienista chefe do Serviço Médico da SS.

Herta Oberheuser
10. Helmut Poppendick, chefe do Corpo Médico da SS.

11. Wolfram Sievers, diretor da Sociedade Ahnenerbe.

12. Gerhard Rose, general de brigada do Serviço Médico da Força Aérea.

13. Siegfried Ruff, diretor do departamento para Medicina de Aviação do Instituto Experimental.

14. Hans Wolfgam Romberg, médico do Instituto Experimental Alemão para Aviação.

15. Viktor Brack, chefe de administração da Chancelaria do Führer.

16. Herman Becker-Freyseng, chefe do Departamento para Medicina da Aviação.

17. George August Weltz, chefe do Instituto para Medicina da Aviação.

18. Konrad Schaefer, médico do Instituto para Medicina da Aviação.

19. Waldemar Hoven, médico chefe do campo de concentração de Buchenwald.

20. Wilhem Beiglboeck, assessor médico da Força Aérea.

21. Adolf Pokorny, médico especialista em enfermidades de pele e doenças venéreas.

Mengele
22. Herta Oberheuser, doutora do campo de concentração de Ravesnsbrück.

23. Fritz Fischer, auxiliar médico do acusado Gebhardt.

Dos acusados que se sentaram no banco dos réus, vinte eram médicos e três não: Rudolf Brandt, Wolfram Sievers e Vicktor Brack. Os acusados podiam ser divididos em três grupos principalmente. Oito eram membros do serviço médico da Força Aérea alemã. Sete pertenciam ao serviço médico da SS. Oito (incluídos os três que não eram doutores) ocupavam posições relevantes dentro da hierarquia médica.

(…)

Dos cerca de 350 médicos que se estima terem cometido delitos contra a saúde, só esses vinte doutores e três auxiliares foram levados ante a justiça e se sentaram no banco dos réus no caso médico de.

Houve outros médicos processados, chegando a ser condenados e sentenciados à morte na forca em outros julgamentos militares norte-americanos celebrados em Dachau. Muitos escaparam, contudo; entre eles, o mais célebre e perverso, o doutor Josef Mengele, o Anjo da Morte, que realizou experimentos com crianças (frequentemente gêmeos) e os matou em Auschwitz. Mengele conseguiu se esconder na Baviera até que pode fugir para a América do Sul.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/13/doctores-del-infierno-los-acusados-del-caso-medico/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 95-99; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: muitos negacionistas (pró-nazis e fascistas ou simpatizantes, a extrema-direita fáscio), e diria que a maioria plena deles, contorcem-se quando citam este julgamento dizendo que houve um "linchamento" em Nuremberg ou algo parecido a um "linchamento", quando na verdade houve uma tremenda impunidade (dos estimados 350 médicos envolvidos em crimes, menos de 23 sentaram no banco dos réus e boa parte dos condenados foram soltos). Fico pasmo como muitas pessoas aceitam passivamente esse tipo de afirmação falsa quando algum desses "revis" bradam coisas desse tipo.

A maioria dos médicos nazistas e auxiliares que participaram de experiências (atrocidades) com humanos não chegaram a sentar no banco dos réus (ficaram livres) e muitos dos que sentaram foram soltos logo depois na Alemanha Ocidental (que era a parte alinhada ao bloco capitalista, da Alemanha dividida na Guerra Fria, a Alemanha Oriental era alinhada obviamente ao Bloco Socialista).

Há inclusive um livro do "revi" Carlos Whitlock Porter com o título cínico de "Não culpados em Nuremberg" (aviso que o site do Porter contém várias imagens e textos antissemitas, pra variar... depois os "revis" ainda negam que sejam antissemitas), com distorções de cima abaixo e as abobrinhas habituais de apologistas do nazismo.

Inclusive muitos "revis" (pra confirmar que a maioria não sabe nada de segunda guerra) desconhecem os Julgamentos de Tóquio (link1, link2) pra julgar atrocidades japonesas na segunda guerra, sendo que este julgamento foi um festival de impunidade ainda pior que o de Nuremberg. Muitos "revis" acham que só ocorreram julgamentos com nazistas, nunca ou quase nunca citam os julgamentos de Tóquio.

De fato não houve justiça em Nuremberg, mas não a "injustiça" alegada pelos "revis" (coxinhas de suástica) e sim impunidade pela não punição adequada a pilhas de criminosos nazistas.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Sobre a série "Doutores do Inferno" (livro) e posts programados do blog

Eu comecei a traduzir no fim do ano passado uma série de um blog espanhol que contém trechos do livro de Vivien Spitz chamado "Doctors from Hell" que tem tradução em espanhol (Doctores del Infierno) mas não em português. Pra quem quiser ver a série de textos do livro, clique na tag (marcador) doutores do inferno.

Uma alternativa a quem tiver dificuldades em ler em inglês é buscar livros em espanhol e idiomas neolatinos (italiano, francês etc), pois há uma variedade muito maior que em português. Principalmente a quem é falante de português, não é difícil de ler ou entender algo em espanhol.

Mas voltando ao assunto, o blog tinha uma carência de textos sobre experimentos nazistas e o livro da Vivien Spitz é só sobre este assunto (um dos melhores sobre o tema experiências nazistas com cobaias humanas). Só que faltou dois textos pra completar a série de traduções do outro blog que espero colocar em breve pra deixar completa a série com textos traduzidos e com a etiqueta (marcador, vulgo "tag") Doutores do Inferno porque há muito marcador repetido (ou desnecessário) no blog como "experimentos médicos" e "experiências médicas", o que confunde e ocupa espaço na hora de localizar os textos através dos marcadores (tags).

Outro aviso é a respeito da questão dos posts programados. Pra quem não usa o blogger (deve ter algo similar em outros servidores de blogs) existe a opção que o Google colocou de deixar posts programados pra serem publicados em qualquer horário, dia etc. Ou seja, a pessoa só precisa programar a hora e ajustar o post inteiro (inclusive o título do post e link) que o blogger faz o resto publicando na hora programada sem que os moderadores do blog estejam conectados (como existe em aparelhos de DVDs e afins). Digo isso porque muita gente ao ver que há atualização do blog acha que os moderadores estão lendo o que é possa ser comentado automaticamente no blog, e geralmente não estão, eu mesmo utilizo este sistema de programação desde que o Google o adicionou ao blogger.

No Facebook há o mesmo sistema de programação nas Páginas, dando opção à pessoa a escolher o horário que quer que determinado post saia sem precisar estar conectado ao site. Eu vinha utilizando este sistema por lá também.

A Página holocausto-doc no Facebook está sob comando do Leo, caso alguém queira comentar algo na página. Estarei me afastando dela porque a aversão ao Facebook anda em alta (não tem nada a ver com a Página e sim com aquele tipo de site/rede) e só participo de um grupo de segunda guerra por lá. Não gostaria de discutir "revisionismo"/negacionismo no Facebook até porque já existe o blog pra isso.

Além de que, e como já disse outras vezes, considero pífio os grupos "revis" do Brasil, sem qualquer ironia no comentário. Pífios do ponto de vista intelectual, a maioria deles não sabe absolutamente nada sobre segunda guerra (copiam textos sem nem saber do que se trata, isso quando leem), chega a ser patético e ridículo discutir com essas pessoas, e muita gente ao fazer isso acaba por se rebaixar ao "nível" deles, refiro-me à cretinice generalizada.

Em todo caso, o fato de serem pífios ou cretinos não dá carta branca ao poder público do país (principalmente o Ministério Público que agiu muito poucas vezes em relação a esse tipo de problema, racismo, com destaque positivo pro MP do Distrito de Federal que agiu firme com um caso recente, e com destaque negativo total pro MP paulista) de fazer vista grossa a essa questão e a esses bandos, coisa que vem ocorrendo faz tempo. Pois idiota ou não, quando eles se agrupam e atacam pessoas nas ruas, fazem estrago pois pra agir como selvagem nunca foi necessário ter muita inteligência.

E como disse acima, o destaque negativo fica por conta do MP de São Paulo, pois é o MP do Estado onde ficam localizados e atuam os grupos principais (mais organizados), e não irei em hipótese alguma "nacionalizar" este problema quando trata-se de uma questão local, estadual, a maioria dos estados brasileiros não possuem essa "tara" com pretensa "ascendência europeia", não vou ficar me contorcendo de "dor" (em sentido irônico, "ficar me doendo"), porque o MP de determinado estado do país, por prepotência ou descaso, não faz nada com coisas que diz mais respeito a eles do que os outros estados da federação.

A mensagem é dura? Pode ser, mas meu 'ethos' (identidade cultural) não tem qualquer identificação cultural com este tipo de cultura de vista grossa com este tipo de problema (racismo e exaltação de ascendência) causado por ufanismo e idolatria a outros países por conta de ascendência étnica, tentando criar uma "mitologia" pra justificar o desenvolvimento econômico de algum estado ou região.

Um dia o Brasil vai ter que discutir este problema a sério, o famoso "passar a limpo", mesmo que os governos de estado e o governo federal façam de conta (vista grossa) que a questão não existe, embora saibam que isso que digo existe e é uma questão que cria divisões profundas no país. Não é um problema qualquer ou menor, tanto que na Europa é tratado como problema de Estado (algo bem sério) vide os problemas de separatismo e xenofobismo que estão pipocando novamente por lá.

Bom, os avisos então foram dados, bola pra frente.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o horror do barracão 46 de Buchenwald

Publicado em 5 junho, 2012

Arthur Dietzsch
[Testemunho de Eugen Kogon, prisioneiro de Buchenwald, durante o processo médico pertencente aos julgamentos de Nuremberg]:

[…] No campo todo mundo sabia que o barracão 46 era um lugar temível. Muito poucas pessoas no campo tinham uma ideia exata do que se passava no barracão 46. O medo se apoderava de todo aquele que tinha que se relacionar de algum modo com esse barracão. Se escolhiam pessoas e as levavam do barracão 46 para a enfermaria, sabiam que a coisa era fatal. O horror indescritível que rodeava esse barracão piorava ainda mais as coisas. (…)

À parte disso, no campo se sabia que o Kapo Arthur Dietzsch impunha uma disciplina férrea no barracão 46. Ali quem mandava era o chicote. Todo o que ia para o barracão 46 como sujeito de experimentação não só esperava, portanto, a morte, e em certas circunstâncias uma morte muito demorada e penosa, senão também ser torturado e sofrer a privação completa dos últimos vestígios de sua liberdade pessoal.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/05/doctores-del-infierno-el-horror-del-barracon-46-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 241; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 28 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: eutanásia com fenol em Buchenwald

Dr. Schuler-Ding
Publicado em 7 junho, 2012

A prova 283 de acusação é uma declaração jurada do doutor Erwin Schuler: o célebre "doutor Ding". Como testemunha de aplicação da eutanásia mediante fenol puro sem diluir em Buchenwald, declarou:
"Um a um foram entrando quatro ou cinco prisioneiros. Entravam com a parte superior do tronco nua para que não se distinguisse a insígnia de sua nacionalidade (na roupa). Eram de idade avançada e estavam em más condições físicas. Não recordo do diagnóstico pelo qual iriam lhes aplicar a eutanásia, mas seguramente tampouco o perguntei.

Sentaram-se tranquilamente em uma cadeira, ou seja, sem nenhum nervosismo, próximos a uma luz. Um enfermeiro pressionava a veia do braço, e o doutor Hoven (Waldemar Hoven, médico chefe de Buchenwald) injetava rapidamente o fenol. Morriam com uma convulsão imediata e total, durante a aplicação da injeção, sem nenhum outro sinal de dor. Calculo que o tempo transcorrido entre o início da injeção e a morte era de meio segundo. O resto da dose se injetava como medida de precaução, ainda que para provocar a morte bastasse apenas uma dose da injeção. (Calculo que cerca de 5 cc.)

Os enfermeiros levavam o morto a uma habitação antiga. Eu calculo que estive ali uns dez minutos".

[…]
Durante a realização do programa de eutanásia, descrito mais adiante, foram assassinados milhares de pessoas mediante injeções de fenol. A cifra dos assassinados por este método ascendeu a mais de vinte mil pessoas.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/07/doctores-del-infierno-eutanasia-con-fenol-en-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 264-265; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com tifo

Publicado em 12 junho, 2012

O tifo se converteu num problema médico de primeira magnitude no outono de 1941, depois que a Alemanha atacou a Rússia. Como naquele momento escasseavam as vacinas, só se imunizavam contra o tifo o pessoal de saúde sanitária que ocupava postos de risco.

Entre dezembro de 1941 e março de 1942, iniciou-se um perverso e mortífero programa de experimentação médica usando reclusos dos campos de concentração de Buchenwald e Natzweiler. Seu propósito era avaliar diversas vacinas contra o tifo, a febre amarela, a varíola, a febre paratifoide A e B, o cólera e a difteria. Esperava-se com ele produzir um soro de convalescente para combater o tifo.

Durante o processo foi demonstrado que 729 presos foram submetidos a experimentos com tifo, dos quais 154 morreram. (…)

Ainda que os imputados Handloser, Schroeder, Genzken, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Sievers, Rose e Hoven fossem condenados por experimentos com tifo que constituíam delito criminoso, a maioria dos experimentos realizados em Buchenwald foi conduzido por um médico de sinistra fama, conhecido como o doutor Ding (Schuler), que se suicidou ao término da guerra e, portanto, não pode ser conduzido à justiça. O diário profissional do doutor Ding sobreviveu e, passado um tempo, foi entregue ao magistrado chefe para crimes de guerra, o general norte-americano Telford Taylor, e passou a ser uma das 1471 provas documentais preparadas pelos alemães. Desempenhou papel essencial na hora de condenar os médicos depravados.

Doutor Eugen Haagen
O doutor Eugen Haagen, oficial do Serviço Médico da Força Aérea e professor da universidade de Estrasburgo (França) durante a ocupação alemã, dirigiu experimentos com tifo em Natzweiler.

(…)

O melhor modo de descrever esses experimentos é recorrer ao testemunho do doutor Eugen Kogon, prisioneiro de um campo de concentração e testemunha de acusação, que foi interrogado pelo promotor McHaney:

Promotor McHaney: – O Sr. poderia, por favor, explicar ao tribunal, com suas próprias palavras, como foram efetuados esses experimentos com tifo?

Testemunho de Kogon: – Depois que se destinou para uma série de experimentos entre quarenta e sessenta pessoas (às vezes até cento e vinte), separava-se a um terço delas, e os dois terços restantes lhes vacinavam com um tratamento protetor ou lhes administravam de outro modo, se era um tratamento químico. (…) O contágio se efetuava de diversas maneiras. Transferia-se o tifo mediante o sangue injetado por via intravenosa ou intramuscular. No princípio também se fazia arranhando a pele, ou praticando uma pequena incisão no braço. (…)

Para manter os cultivos de tifo, utilizavam uma terceira categoria de sujeitos de experimentação. Eram as chamadas "pessoas de trânsito", entre três e cinco pessoas por mês. Elas eram contaminadas unicamente com o fim de assegurar um fornecimento constante de sangue infectado de tifo. Quase todas essas pessoas morreram. Não creio exagerar se digo que 95 por cento delas morreram.

Promotor: – A testemunha quer alegar que contaminavam premeditadamente com tifo entre três e cinco pessoas ao mês só para terem vírus vivos e disponíveis no sangue?

Testemunha: – Só com essa finalidade concreta.

[…]

Promotor: – Pode dizer ao tribunal se esses sujeitos de experimentação sofreram de forma apreciável no transcurso dos experimentos com tifo?

Testemunha: – […] os sujeitos de experimentação esperavam na enfermaria dia ou noite que lhes fizessem algo; não sabiam o que seria, mas adivinhavam que seria uma morte espantosa.

Se lhes vacinavam, às vezes ocorriam as cenas mais horrendas, porque os pacientes temiam que as injeções fossem letais. O Kapo tinha que restabelecer a ordem com mão de ferro.

Passado certo tempo depois da infecção, quando a enfermidade havia se manifestado, apareciam os sintomas normais do tifo, que, como é bem conhecido, é uma das enfermidades mais graves que existem. A infecção, como já foi descrito, havia se fortalecido muito durante anos e mais uma metade de ano anteriores na qual o tifo começou a aparecer em sua forma mais terrível. Havia casos de loucura furiosa, delírios, pessoas que se negavam a comer e uma grande porcentagem delas morria.

Os que sofriam a enfermidade em uma forma mais benigna, talvez porque fossem mais fortes de constituição ou porque a vacina surtia efeito, tinham que assistir constantemente a agonia dos outros. E isto ocorria em um ambiente que dificilmente poderia se imaginar. Durante o período da convalescência, os que sobreviviam ao tifo não sabiam o que seria deles. Seguiram no barracão 46 para serem utilizados para outros fins? Os utilizariam como ajudantes? Temeriam que eles como testemunhas sobreviventes dos experimentos com seres humanos e os matariam, portanto? Eles não sabiam, e ele agravava as condições desses experimentos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/12/doctores-del-infierno-experimentos-con-tifus/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 239-242; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos em altitudes elevadas

Publicado em 14 junho, 2012

Os experimentos relativos a altitudes elevadas tinham como objetivo pôr a prova os limites da resistência e da vida humanas em altitudes extremamente elevadas, com e sem oxigênio. Isto foi conduzido pela Força Aérea alemã no campo de concentração de Dachau entre março e agosto de 1942, aproximadamente. Tinham como propósito reproduzir as condições atmosféricas que o piloto alemão poderia encontrar em combate ao cair de grandes distâncias sem paraquedas e sem fonte de oxigênio. Esses experimentos foram realizados colocando a vítima numa câmara hermética de baixa pressão provida pela Luftwaffe, e simulando as condições atmosféricas e de pressão de altitudes até num máximo de vinte mil metros.

A iniciativa partiu do médico da Luftwaffe Sigmund Rascher, que em 15 de maio de 1941 propôs ao chefe da SS, Heinrich Himmler, levar a cabo este tipo de experimentos criminosos. Himmler autorizou os experimentos de boa vontade. Os experimentos de combate aeronáutico e naval, assim como os experimentos de resgate, centraram-se principalmente nessas provas de simulação de altitudes elevadas (acima de dez mil metros, assim como em provas de exposição ao frio e relativas à capacidade humana de metabolizar água marinha tratada (…)

Nos documentos, os seres humanos da experimentação aparecem mencionados com as siglas VP (Versuchsperson, que quer dizer, "sujeito de experimentação"). Os cerca de duzentos sujeitos foram escolhidos aleatoriamente. Entre os selecionados havia civis russos, prisioneiros de guerra russos, poloneses, judeus de diversas nacionalidades e presos políticos alemães. Desses duzentos, não mais que quarenta haviam sido condenados à morte. (O fato de que os sujeitos dos experimentos houvessem sido sentenciados à pena capital foi esgrimido como argumento pelos imputados para justificar suas mortes.) Setenta e oito pessoas morreram como consequência dos experimentos. O doutor Rascher prometeu a alguns reclusos que, se se oferecessem como voluntários, seriam liberados; por conta disto alguns se ofereceram voluntariamente. Só que a tal promessa nunca foi cumprida.

Um relatório redigido em maio de 1942 descreve como em alguns desses testes se utilizaram delinquentes habituais judeus que haviam sido condenados por Rassenschande, ou seja, literalmente, "vergonha racial". A vergonha racial, tal e como definiam os alemães, era o matrimônio ou a relação carnal entre os arianos e os não-arianos (entendendo por "arianos" os alemães de "sangue puro").

O acusado Weltz tinha jurisdição sobre as atividades do doutor Rascher. É interessante anotar que Weltz havia se colocado em contato com os renomados especialistas no campo da medicina aeronáutica, o doutor Lutz e o doutor Wendt, para que tomassem parte nesses experimentos. Ambos se negaram por motivos morais e afirmaram que as diferenças de comportamento entre seres humanos e animais não bastavam para justificar a realização de perigosos experimentos com pessoas.

George August Weltz, chefe do instituto de medicina
para aviação em Munique. Foi declarado inocente
da acusação de ser responsável dos experimentos
com grande altitude e congelamento. Fonte: USHMM
(…)

Os imputados Weltz, Ruff, Romberg, Rudolf Brandt e Sievers participaram nos experimentos de simulação de queda de paraquedas. A câmara de baixa pressão móvel na qual se obrigava a entrar os seres da experimentação foi transportada do instituto do acusado Ruff em Berlim, até Dachau. As vítimas eram fechadas uma a uma no habitáculo hermético e circular. Prontamente a pressão variava para reproduzir as condições atmosféricas até um máximo de 20.670 metros de altitude. Podia-se ou não subministrar oxigênio adicional às cobaias.

(…)

Os documentos fotográficos exibidos como provas não respaldavam o argumento dos acusados segundo o qual, ainda que os experimentos pudessem provocar a morte da pessoa, não implicavam em tortura física nem sofrimento. Algumas filmagens confiscadas pelos alemães que mostravam convulsões espasmódicas e expressões de sofrimento e dor contradizem por completo este argumento.

(…)

Outro argumento esgrimido pelos acusados foi a “necessidade do Estado” (…)

Até que ponto foram científicos os experimentos de simulação em altitudes elevadas? Na prova 66 da acusação relativa a "Experimentos de simulação em altitudes elevadas", um relatório assinado pelo doutor Rascher e o imputado Romberg, afirmava:

“Posto que era evidente a urgência de resolver o problema, sobretudo tendo em conta as condições dadas do experimento, foi necessário prescindir naquele momento do esclarecimento total sobre questões puramente científicas".

Esta afirmação demonstra que os acusados sabiam que os experimentos não eram científicos e que não cumpriam o que era estipulado pelos protocolos médicos a respeito da voluntariedade do sujeito da experimentação. Resumindo, entre 180 e 200 vítimas foram submetidas a este experimento, com o resultado de graves lesões físicas e entre 70 e 80 mortes.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/14/doctores-del-infierno-experimentos-con-altitudes-elevadas/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 113-129; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o "campo pequeno" de Buchenwald

Publicado em 6 junho, 2012

O doutor Eugen Kogon, ex-recluso de Buchenwald e testemunha de acusação, declarou que o doutor Mrugowsky, um dos acusados, "selecionava sistematicamente a inválidos e pessoas mais velhas, especialmente franceses, que estavam no chamado "campo pequeno" de Buchenwald a fim de lhes extrair sangue para usá-lo na preparação de plasma sanguíneo.

Quando lhe foi perguntado se algum desses doadores de sangue do "campo pequeno" morreram por consequência disso, Kogon contestou: "O caso é que fica muito difícil formar uma ideia clara do "campo pequeno" de Buchenwald. Ali as pessoas morriam em massa. Pela noite havia
cadáveres nus estendidos pelos barracões porque os demais prisioneiros os arrancavam das camas para se ter um pouco mais de espaço. Os que queriam sobreviver lhes arrancavam até a menor peça de roupa. É impossível determinar se morreu alguém como consequência direta e imediata dessas extrações de sangue, porque muita gente caia e morria enquanto andava pelo "campo pequeno".

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/06/doctores-del-infierno-el-campo-pequeno-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 245; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

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