Mostrando postagens com marcador extermínio sistemático. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador extermínio sistemático. Mostrar todas as postagens

sábado, 28 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: eutanásia com fenol em Buchenwald

Dr. Schuler-Ding
Publicado em 7 junho, 2012

A prova 283 de acusação é uma declaração jurada do doutor Erwin Schuler: o célebre "doutor Ding". Como testemunha de aplicação da eutanásia mediante fenol puro sem diluir em Buchenwald, declarou:
"Um a um foram entrando quatro ou cinco prisioneiros. Entravam com a parte superior do tronco nua para que não se distinguisse a insígnia de sua nacionalidade (na roupa). Eram de idade avançada e estavam em más condições físicas. Não recordo do diagnóstico pelo qual iriam lhes aplicar a eutanásia, mas seguramente tampouco o perguntei.

Sentaram-se tranquilamente em uma cadeira, ou seja, sem nenhum nervosismo, próximos a uma luz. Um enfermeiro pressionava a veia do braço, e o doutor Hoven (Waldemar Hoven, médico chefe de Buchenwald) injetava rapidamente o fenol. Morriam com uma convulsão imediata e total, durante a aplicação da injeção, sem nenhum outro sinal de dor. Calculo que o tempo transcorrido entre o início da injeção e a morte era de meio segundo. O resto da dose se injetava como medida de precaução, ainda que para provocar a morte bastasse apenas uma dose da injeção. (Calculo que cerca de 5 cc.)

Os enfermeiros levavam o morto a uma habitação antiga. Eu calculo que estive ali uns dez minutos".

[…]
Durante a realização do programa de eutanásia, descrito mais adiante, foram assassinados milhares de pessoas mediante injeções de fenol. A cifra dos assassinados por este método ascendeu a mais de vinte mil pessoas.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/07/doctores-del-infierno-eutanasia-con-fenol-en-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 264-265; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Testemunho de Eliezer Eisenschmidt, Sonderkommando (sobre remoção de cadávares nas câmaras de gás)

Trecho extraído da página 229 do livro "We Wept Without Tears: Testimonies of the Jewish Sonderkommando from Auschwitz", de Gideon Greif.

Testemunho de Eliezer Eisenschmidt, Sonderkommando.

Da edição em inglês:
In the meantime, what was happening in the gas chambers?

After the people were asphyxiated from inhaling the gas, the doors were opened for ventilation [27] and afterwards the bodies were brought out and taken back to the undressing room.

Who took the bodies out of the gas chambers?

We removed one or two bodies by hand. Sometimes we used a long stick; we grabbed the body by the neck and pulled it out. It was better to use the stick than our hands, since many of the victims soiled themselves as they were being killed. [28] So we didn’t want to touch the corpses with our hands; instead, we preferred to take them out with the stick. After the bodies were treated in the undressing room, they were taken to the furnaces. All the Sonderkommando prisoners took part in removing bodies from the gas chambers. Even those who usually worked elsewhere: the one who did gardening work in the crematorium yard or the one whose job was to bring coal to the furnaces. This was the most complicated and awkward work.
Tradução:
Nesse intervalo o que estava acontecendo nas câmaras de gás?

EE: Depois das pessoas serem asfixiadas ao inalar o gás, as portas eram abertas para ventilação [27] e, depois, os corpos eram levados para fora e levados de volta para a sala de se despir.

Quem levava os corpos para fora das câmaras de gás?

EE: Removíamos um ou dois corpos com as mãos. Às vezes, usávamos uma vara longa; pegávamos o corpo pelo pescoço e o puxávamos para fora. Era melhor usar a vara do que nossas mãos, uma vez que muitas das vítimas se sujavam quando estavam sendo mortas. [28] Portanto, não queríamos tocar nos cadáveres com as mãos; em vez disso, preferíamos tirá-los com a vara. Depois que os corpos eram tratados na sala de se despir, eles eram levados para os fornos. Todos os prisioneiros Sonderkommando participavam na remoção dos corpos das câmaras de gás. Mesmo aqueles que normalmente trabalhavam em outro lugar: como aquela pessoa que fazia o trabalho de jardinagem no pátio do crematório ou aquele cujo trabalho era trazer carvão para os fornos. Este era o trabalho mais complicado e difícil.
Fonte: We Wept Without Tears: Testimonies of the Jewish Sonderkommando from Auschwitz (livro)
Autor: Gideon Greif
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Richard Rhodes - Mestres da morte: a invenção do holocausto pela SS nazista (livro)

MESTRES DA MORTE: OS EINSATZGRUPPEN E A ORIGEM DO HOLOCAUSTO* – Richard Rhodes

Os Einsatzgruppen eram os "batalhões da morte" que seguiam a Wehrmacht (de muito, muito perto) durante a invasão da URSS em 1941, e até a partida do sistema dos campos de extermínio em 1942, depois da Conferência de Wannsee. Estavam divididos em quatro grupos, enunciados de A a D, que operavam em distintos setores do Front, desdobrando-se de Norte a Sul. Por sua vez, cada Einsatzgruppe era dividido em vários Einsatzkommandos, que atuavam com bastante autonomia em relação ao grupo originário. Liderados por profissionais com diploma (sobretudo advogados, mas também arquitetos, economistas e médicos), menos de cinco mil homens (e sim, apoiados pontualmente em suas matanças por forças das Waffen-SS, a Polícia e milícias locais) acabaram com mais de um milhão de vidas em pouco mais de um ano. Como isso pode ser possível?

Bem, a essa pergunta trata de responder, precisamente, este livro. A primeira coisa que quero dizer é que, em que pese o título, não se trata de uma obra sensacionalista. Pelo contrário, o autor, depois de expor alguns fatos nos quais o horror é o fator dominante, tenta racionalizar as posturas de "uns" e outros, e entender como aqueles se comportaram como uns calejados assassinos, e como os outros se "deixaram apanhar" sem maior resistência.

Assim que, para o comportamento dos criminosos, adota-se uma teoria que fala do paulatino embrutecimento de quem se vê imerso em uma situação de máxima violência, explicando como tropas que num princípio se sentiam totalmente incapazes de matar a sangue frio, chegam a assassinar sem maiores problemas mulheres e crianças inocentes (e eu acrescento, mudaria algo se fossem culpados?). Assinala que em muitos casos não havia ocorrido nesses "soldados" uma conduta violenta prévia ou uma predisposição para isto. Bem, a teoria, obviamente, não é tão compacta como a expus aqui agora, e pode se aceitar ou não como explicação, mas certamente, para mim, parece-me razoável.

Por outra parte, para ele, em geral, o comportamento pacífico dos judeus nesta fase do extermínio,pesa o fato de virem de lares em geral muito mais educados e pacíficos que a média da Europa da época, algo que influiu um pouco nesta conduta. A isto, segundo Rhodes, há que unir o desconcerto, o temor, os golpes, os cachorros, os homens armados, a incapacidade de assumir a situação até o último momento... tudo isto anula, de cara, qualquer atitude de heroísmo ou rebeldia, e leva a um compreensível comportamento submisso, tão humano, como bem assinala o autor, e digno de empatia como o mais galhardo dos gestos desafiantes à morte. Ao falar da surpresa de Eichmann quando contemplou como alguns judeus se atiravam sem que ninguém os empurrasse para a fossa, a esperar ali o “Genickschüssen” descarregado com postura germânica, o autor assinala a igual incongruência dos jovens lançados a uma carreira suicida ante as metralhadoras inimigas para tomar a trincheira seguinte. Acredito que uma boa comparação, é que provavelmente ambas condutas respondam ao mesmo princípio psicológico.

Outro aspecto que me impactou do livro é, não por ser mais conhecida mas não menos aterradora, a profunda implicação da população local nas execuções em massa (link: Holocausto na Letônia). À parte do clássico exemplo do jovem lituano que matou a golpes muitos judeus em Kaunas, posando a continuação do ato orgulhoso no meio dos cadáveres, destaca o fato de que em várias ocasiões bastava os alemães conclamar à "vingança" os habitantes não-judeus para lhes desencadear uma terrível matança. Isso para não falar do recrutamento de milícias e polícias locais e sua entusiasta colaboração com os Einsatzgruppen.

Enfim, um livro impactante e que se tira muitíssimo dele. Altamente recomendável para "amadores" e conhecedores.

Publicado por Germánico

Fonte: hislibros
http://www.hislibris.com/amos-de-la-muerte-los-einsatzgruppen-y-el-origen-del-holocausto-richard-rhodes/
Tradução: Roberto Lucena

*Observação: o título original em inglês do livro é Masters of Death: The SS-Einsatzgruppen and the Invention of the Holocaust (tradução livre: Mestres da Morte: Os SS-Einsatzgruppen e a invenção do Holocausto), em português o título omite a palavra Einsatzgruppen. A tradução da crítica é do espanhol onde o título é o traduzido logo no início do texto.

Ver também:
Ranking de livros em português sobre o Holocausto (Bibliografia)

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Iniciada construção de monumento por ciganos mortos pelo nazismo

Iniciada construção de monumento por ciganos mortos pelo nazismo

(Foto)Sinto e rom: indesejados em toda a Europa

Somente quatro décadas após o final da Segunda Guerra eles foram reconhecidos como vítimas, ao lado dos judeus e homossexuais. Mais 20 anos passados, e os sinto e rom receberão um memorial. Apenas um (bom) começo.

Somente quatro décadas após o final da Segunda Guerra eles foram reconhecidos como vítimas, ao lado dos judeus e homossexuais. Mais 20 anos passados, e os sintos e rom receberão um memorial: apenas um primeiro gesto.

O ministro alemão da Cultura, Bernd Neumann, iniciou simbolicamente nesta sexta-feira (19/12), em Berlim, a construção do memorial para os representantes das etnias sinto e rom ("ciganos") assassinados pelo nacional-socialismo. Sob chuva torrencial, ele louvou o futuro monumento como sinal de lembrança e de consternação por este grupo de vítimas, esquecido durante tão longo tempo.

Nomes, uma fonte, uma placa, uma poesia

A menos de 100 passos do Reichstag, o prédio do Parlamento alemão, e à vista do Portão de Brandemburgo encontra-se um gramado. Lá se construirá, nos próximos meses, o memorial para os sintos e rom – etnias popularmente designadas como ciganos – vítimas do nazismo. O projeto é do arquiteto israelense Dani Karavan.

Os nomes dos campos de concentração e extermínio Auschwitz, Treblinka e Buchenwald serão gravados no pavimento. Eles levam a uma fonte, em cuja borda se lê um fragmento da poesia Auschwitz, do músico italiano Santino Spinelli.

faces encovadas
olhos apagados
lábios frios
silêncio
um coração arrancado
sem palavras
nenhuma lágrima


De uma placa consta a epígrafe: "Recordamos todos os rom que tombaram vítimas do genocídio planejado, na Europa ocupada pelos nacional-socialistas". Uma cronologia histórica descreve o processo de exclusão, perseguição e assassínio dos sinto, rom e outros grupos nômades.

Termo controverso

(Foto)Bernd Neumann (e) e prefeito Klaus Wowereit na cerimônia em Berlim

Uma versão anterior da inscrição incluía o termo "ciganos". Este é, contudo, rejeitado pelo Conselho Central dos Sinto e Rom Alemães, sendo considerado por Romani Rose, seu presidente há vários anos, como discriminatório e depreciativo. Rose insiste que se use o termo "sinto e rom", supostamente politicamente correto.

Nem todas as associações são da mesma opinião. Os membros da Aliança Sinto da Alemanha fazem questão de se denominar altivamente "ciganos". Segundo sua presidente, Natascha Winter, o memorial não é apenas para as duas etnias citadas, mas sim para todos os ciganos.

"Defino-me com orgulho como cigana, por que minha gente, meus pais, avós, todos os meus parentes foram perseguidos como ciganos. Portamos esta palavra, "cigano", com orgulho", afirmou.

"Rom" significa simplesmente "homem" ou "ser humano" no idioma romani. Os sintos constituem o grupo étnico mais numeroso nos países germanófonos. Porém há outros que não se sentem absolutamente incluídos pela expressão "sinto e rom", como, por exemplo, os lovari ou os manuche.

Reconhecimento tardio

Transcorreu longo tempo, até esses grupos serem sequer admitidos como vítimas do nacional-socialismo na Alemanha. No tocante ao governo federal, isto só se deu no início dos anos 80. Seguiu-se, em meados da década seguinte, seu reconhecimento como "minoria nacional".

Desde então, a mostra permanente do Memorial Resistência Alemã reverencia o papel dos sinto e rom no nazismo, assim como – somente em 2004 – também o Memorial Sachsenhausen. Desde que foi criada a iniciativa para o memorial dos judeus assassinados da Europa, ficou cada vez mais claro que outros grupos de vítimas – sobretudo os homossexuais e os ciganos – também têm o direito à memória e ao tributo pela nação e pela sociedade.

Porém monumentos de concreto ou pedra não esgotam a questão: a memória cultural deve ser prática social e não um ritual.

Michael Schornstheimer (av)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.org/dw/article/0,,3890213,00.html

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...