Mostrando postagens classificadas por data para a consulta nazismo de esquerda. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta nazismo de esquerda. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Raio-x da dita "esquerda radical" de bolha (webcomunismo) de Youtube. O porquê do PT ser hegemônico no Brasil e não haver opções políticas ao partido pela esquerda

Olá, biguinhos! Viva as bolhas do Youtube!
Tem muita gente malhando a postura sectarizada, postura de patotas e meio infantilizada dessa turma (do título) há tempo nas redes. Eu evito malhar (exceto crítica ou outra) ou estigmatizar porque considero que as críticas (sérias) ao governo federal são bem-vindas, mas... parece que há uma agenda de autopromoção, agenda "oculta" mal explicada na coisa pralém de críticas sérias, pertinentes ao governo federal.

Um vídeo que me chamou atenção foi o do A. Linck (canal Quadrinhos na Sarjeta) que coloquei num dos posts de Gaza onde ele criticou aqueles "debates" (entre aspas mesmo), ou "circo de pulgas" (como eu chamo, entretenimento macabro) de "gente de esquerda" indo "debater" com o "Marca de Bicicleta". Aqui o vídeo: (https://www.youtube.com/watch?v=Ld1NHWlFMvk).

Na verdade foram lacrar, se promover (exibicionismo) achando que iriam enquadrar o cara e foram enquadrados, toda "petulância será castigada"... Isso aconteceu porque essa turma se "leva a sério demais", há falta de "malícia", engolem pilha fácil, falta tato pra lidar com mala sem alça e ter noção que isso não é propriamente um "debate".

Eles foram "discutir" com o tal "Marca de Bicicleta" por conta de que esse sujeito tem fama de "estúpido até o talo", se promove por ser o "bobalhão alegria da massa" (tem gosto pra tudo), e que seria fácil transformar o sujeito em "escada" pra dar raquetada de "eu sou gênio demais". Mas foi essa turma à esquerda que virou "escada" do terraplanismo do tal "Marca de Bicicleta".

Esses "debates do mundo Bizarro" só escancarou a falta de politização real que esses canais ou turma que leva o rótulo de "webcomunismo" faz nas redes. Não generalizando, mas... pouca coisa foge a essa linha.

Mas por que se afirma que não existe politização real nisso?

Por um motivo simples: os adeptos, seguidores da "coisa" ("webcomunismo") não convertem o dito "engajamento" que recebem no Youtube em apoio de massas, votos, organização política real etc. É tudo improvisado, pra autopromoção como qualquer "influencer" tosco de Youtube (pelo menos alguns são mais autênticos).

A gente corre o risco de tomar umas "chineladas" de fúria dos "fãs" dessa turma, mas tá ficando ridículo e estamos no tempo das definições. Estamos literalmente numa conflagração global, numa "terceira guerra mundial" (Ucrânia, Gaza, tensões crescentes China x EUA) e essa turma "brincando de revolução" no Youtube iludindo gente tonta que não lê, se informa porcamente (porque se tivessem filtro notariam essas coisas apontadas).

Há quanto anda o mundo:
"Why is Taiwan training for war with China?" (Link1)
"'China is preparing to invade Taiwan' - but there are questions over whether the island is ready" (Link2)
"Preparing for War with China: 35,000 Troops from 19 Countries Gather in Australia" (Link3)

Essa turma não dialoga com os demais espectros do país, com as pessoas em geral, da sociedade. Quando você tenta diálogo com algum (até alguns que "seguem" na surdina, e eu sei, porque já peguei expressão que uso sendo repetida e outras coisas, linhas de pensamento etc, só que uma coisa é repetir, outra é o original dizendo, até agradeço pela "admiração" oculta, mas procurem dialogar, falar com as pessoas em vez de ficar nesse cercadinho de vocês atrás de fama pela fama).

Já houve briga de canal de "mídia progressista" com uns, rotulando quem endossou críticas ao governo como sendo "seguidores" dessas pessoas, algo absurdo, e vou explicar de forma didática pra esses canais de "mídia", e "não espalhem"...: parte do público dos ditos "webcomunistas" votam no Lula... no PT... sabiam disso?... e continuarão votando porque não existe opção real ao PT, à parte todos os defeitos, problemas e falhas do PT etc.

Mas indo ao ponto da crítica, da razão de muita gente estar criticando esse pessoal pralém do que foi dito acima.

Essa turma teve 4 anos (desde 2022, pelo menos) pra organizar alguma sigla decente, mínima, sigla partidária, movimento político etc pra ganhar o povo em 2026, em teoria, e o que fizeram? Nenhum consegue sequer se candidatar a cargo em 2026 de tão "organizados" politicamente que são (desunidos, brigam com os próprios egos, pelo personalismo), a crítica de gogó qualquer pessoa faz (eu mesmo faço, eu não estou atrás de cargo político), a parte dita consciente, politizada da sociedade já faz isso de forma orgânica há décadas, em torno do PT e outras siglas (no passado rolava até no PDT, PSB, mas essas siglas desandaram, o PDT nem se fala, com a figura do Ciranha, vulgo Ciro Gomes, vai de mal a pior, virou um DCE pedante que só fala pra gueto ou serve de linha auxiliar do bolsonarismo, mesmo que tentem rejeitar o rótulo, é a mesma linha pueril do "webcomunismo", muita bravata e nenhuma organização prática chamando o povo pro seu entorno, dialogando).

Quando eu critico essa turma aqui nos posts de que não dialogam, quem está galgando cargo político? A gente ou esse pessoal? Quem tem que "paparicar" quem? Vocês querem voto, apoio e cia só ficando na surdina, pilhando os outros?

O Lula surgiu pro Brasil na segunda metade dos anos 70, em poucos anos já haviam formulado o PT (o PT é um partido mas também um movimento político de renovação da esquerda brasileira que emergia da ditadura militar 1964-1985) em 1980, com antigos quadros de outras siglas de esquerda etc, elegeram deputado em pouco tempo, chegaram à prefeitura de SP capital (maior cidade do país em população) em 1988, o PDT era o rival natural disso, vindo do antigo PTB de Vargas, Jango e cia mas foi ficando pelo caminho, principalmente pelo erro do Brizola em sediar o PDT, ou massificar, apenas no Rio de Janeiro (em declínio, o Rio foi ultrapassado com folga por São Paulo na segunda metade do século XX) em vez de organizar a sigla em São Paulo e cia. Foi essa limitação do PDT que levou à própria derrota do Brizola no pleito de 1989, ao contrário do que boquirrotos na rede ficam vociferando culpando o PT pelos erros do Brizola e da outra sigla, ou simplesmente questão de época (o PT tinha mais capilaridade nacional em movimentos sociais, sindicatos e cia, tinha não, ainda tem, por isso que não "afunda" fácil como alguns acham que vai ruir, em que pese as críticas à sigla).

Pelo visto a leitura que essa "esquerda radical" faz ou tem do PT é só de antipetismo barato, visão rasa, sectária, idealizada, e não me refiro só a esses, é a mesma visão da "turma encantada" no neo-PDT vociferando "caos" em "podcasts" de gosto duvidoso (a maioria, rs), vociferando "vidência", "mãe dinazismo", DCE e cia.

Responsabilizem o Linck por ter começado a rebelião (rs), mas ele só externou o que tá entalado em muita gente.

Entendam uma coisa: tem todo um seguimento social no país, extenso, politizado que não se organiza propriamente por canais de Youtube, "webcomunismo" ou não se vê representado por essas figuras e nem por "mídias progressistas", o que não quer dizer que as pessoas "não existam", não consigam se comunicar, se manifestar etc, e que não costumam ser levados em conta pelas siglas (como o próprio PT), porque no fim de tudo é a gente que decreta os rumos políticos das siglas (o povo também), a tal "massa silenciosa" (e não me refiro ao termo cunhado nos EUA pra "direita", existe esse termo nos EUA pra conservadores, mas o termo foi apropriado aqui pra outra finalidade).

Esses grupos podem negligenciar, fingir que não veem (mas veem) as críicas ditas aqui, por quem pensa similar, as discussões etc, mas é a gente quem bate o martelo no fim, lembrem-se sempre dessa parte. Brigar com a gente, com essa parte nunca foi "boa ideia", fingir que "não existe" também, a gente sabe puxar o tapete de "quem apronta" na hora certa.

E na verdade ninguém puxa tapete algum, só no sentido figurado, vocês se sabotam pelo que listei acima: personalismo, comportamento de patota, sectarismo, egocentrismo, falta de organização política real (que não é fácil, ninguém está alegando isso, mas não se faz só na base do "falatório", do "gogó" e sim chamando o povo pra "junto", que vocês não fazem), a gente só bate o "martelo" decretando o fim.

As discussões sobre número de "likes", número de seguidores e cia dessa turma beiram o ridículo (em sentido político amplo, acho perigosa a alienação, fetiche que essa turma cria sobre Youtube e comunicação na rede), isso é discussão de "influencer" de internet (nem o Felipe Neto trava isso, e até hoje eu não sei nem o que o Felipe Neto pensa, rs, esse negócio de "influencer", como alguém vai influenciar algo sem ideia? Sem articular ideias, discursos? Sem um carisma, articulação?... alguém pode me explicar o fenômeno? A gente quer "aprender"...).

Não entenderam o que eu digo? Eu já coloquei esse link (a matéria do El País) algumas vezes nos posts de Gaza de 2023 pra cá pra explicar que os que influenciam de fato podem não aparecer como "influencers" midiáticos de Youtube. Trago de novo praqui pra ilustrar a questão:

"O fiasco dos ‘influencers’ com hordas de seguidores" "Uma jovem com mais de 2,6 milhões de fãs no Instagram não consegue vender o mínimo de “36 camisetas” que a empresa disposta a fabricar suas peças de roupa exigia"
(https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/14/internacional/1560521995_585998.html)

"Então quer dizer que números não pensam?..." eu não disse isso, o que apontei é que "só números soltos em um canal" não basta pra se exercer "influência política", ter hegemonia política etc. E por vezes isso pode ser ilusório. Prestem atenção ao discurso que é repetido nas ruas, aí vão entender quem está "influenciando" quem na coisa... não só existe "Youtube" pra se comunicar na web. Blogs são espaços de comunicação, sem o peso que tiveram no passado, mas... ainda possuem peso. O "bolsonarismo/olavismo" usa muito o Whatsapp pra "influenciar"... o "bolsonarismo" não têm canais de "mídia reacionária" no formato e proporção dos ditos "progressistas", e como conseguem a projeção?... mas dominam "podcasts", produção cultural e cia...

O que é "influência política"? Como isso se forma? Se cria? Se faz?... e desde quando isso se resume a Youtube?

Mas entendo porque isso (o dito "webcomunismo") adquiriu vulto: tem uma turma aloprada defendendo o governo federal a todo custo nas bolhas, redes, de forma que beira o ridículo (com argumentos infantis, tolos), sectarizando com meio mundo que criou o ambiente propício pra grupos mais "à esquerda" (em discurso apenas, por vezes idílicos) a ganharem vulto ao externarem certo descontentamento popular com o governo federal.

E esse fenômeno não é novo, eu lembro desse comportamento no governo Dilma 2 já, invadiram um post do site do Nassif (eu lia) tentando brigar com quem criticasse a figura do Joaquim Levy (de quem, desse "bolchevique incompreendido dos trópicos", o principal ajudante na queda do governo Dilma, fora os movimentos alheios ao governo). A gente não podia criticar o Levy que vinha uma leva criar atrito, encher o saco, a queda do governo não se deu pelas críticas ao modelo econômico adotado e sim pelo modelo econômico adotado por ela no poder e outros problemas (comunicação, falta de mobilização adequada de rua, ir pra cima pra "brigar" mesmo, defender o cargo a todo custo etc). Como o assunto já é pretérito, passado, a turma que defendia isso de forma acrítica não consegue mais mentir sobre essas coisas.

Os ditos "webcomunistas" poderiam ter pego esse "capital político" que adquiriram e criado uma organização (de verdade, não DCEs de internet), mas nunca vejo essa turma chamar o povo pra junto, não participam dos movimentos de rua das demais siglas "governistas", uma boa parte não vai. O egocentrismo fala mais alto, não possuem um projeto político real exceto conjecturas, falas soltas sobre "revolução" (falar a palavra "revolução" 10 vezes seguidas não vai criar revolução alguma, é só discurso vazio e sectário pra pose, ou esse pessoal acha que só eles acompanham e entendem de política?). Essas posturas conduzem ao vazio e futuramente ao ostracismo (se continuarem nessa toada).

Já vi inúmeros casos do tipo surgir e desaparecer, os comentários acima não são "chute", é baseado no que presenciei, vi ao longo de anos. Quem acompanha política há mais tempo vai poder atestar se isso procede ou não...

Não quero demonizar "debates", tem um que o Breno participou que foi proveitoso (tá em destaque aqui "Jogo dos 200 erros (encontre um...). "Debate" Breno Altman x Olavete: "O nazismo foi de esquerda?" https://holocausto-doc.blogspot.com/2025/04/jogo-dos-200-erros-encontre-um-deles-debate-breno-altman-x-olavete-o-nazismo-foi-de-esquerda.html). Mas por que uns são proveitosos e a maioria não?... por uma série de motivos, a começar pelo "debatedor", pelo que a pessoa propõe, pela postura etc. O Breno não foi "debater ele" no tal "debate", foi com um propósito claro de rebater inverdades históricas (se preparou), sabe falar, expor o que pensa (é da "old school" política), é articulado, não cai em pilha fácil etc. Tem 'n' motivos na coisa. Quem vai só pensando em "aparecer", sem defender uma causa, questão (os "webcomunistas" são muito "eu" e pouco "causa" apesar de dizerem o oposto), quebra a cara lindamente, apesar de alegarem outra coisa em seus respectivos canais.

Os comentários acima não são pra ninguém específico e sim aos grupos, é uma "crítica grupal", porque o comportamento relatado é coletivo (em comum), apesar do individualismo extremo das pessoas desses grupos, algo incompatível com socialismo e "atuação em grupo" visando algum objetivo político maior soar contraditório, "socialistas individualistas"?... o Brasil é punk demais... tudo é subvertido nesse país...

Fora a falta de entendimento que a própria mudança em torno do PT, pela esqueda, virá do próprio PT (de rachas etc), de algum evento histórico extraordinário etc e não de "aglomerados" a esmo paridos artificialmente via internet. Falta certo entendimento histórico a esse pessoal na questão (já que ficam inebriados vendo os temas de fora do país, mas apresentam falhas grotescas quando tratam dos assuntos internos).

Nem sempre eu tive esse entendimento por estamos mergulhados no processo, mas a coisa vai ficando clara à medida que a opção política real ao PT não existe, só vejo aloprados querendo pegar o protagonismo do PT/Lula com discursos sectários, patotinhas etc (vide o "cirismo", Cirolândia e o "webcomunismo"), fora da realidade etc, sem qualquer organização política real de rua. Os caras podem negar tudo o que foi dito nesse post à vontade, quero ver comprovar por A+B que é mentira.

As pessoas não irão abraçar fantasias, palavras soltas. Esses dias tive que responder um que veio com esse discurso (de anti-política) porque toda vez acham que quando a gente critica algo do governo que a gente automaticamente está "endossando" gente sectária tosca pregando bizarrices, idiotices. Essa gente deveria entender mais o que se passa em vez de vir com "cardápio pronto" pra tudo. Fora que alegam coisas totalmente sem fundamento, a pessoa acusou os governos do PT de ter "desindustrializado as forças armadas" (?), foi no governo Dilma que o "submarino nuclear" brasileiro tomou vulto e outras coisas (os militares do país são mau agradecidos aos governos do PT e só fizeram bost* no poder no desgoverno Bolsonaro e continua adulando os Estados Unidos, o que não interessa ao Brasil).

Se esse tipo de figura quer vir criticar, discutir, beleza, mas não venha mentindo, inventando coisa por sectarismo, ignorância ou estupidez.

E isso não é uma "ode" ao PT ou ao Lula, é apenas a realidade, a situaçao do país, da esquerda brasileira. Acabei nem citando outros grupos de esquerda (paciência). Quer mudar isso? Acumule forças, crie quadros políticos, não reme contra o país, dialogue com as pessoas, crie coletivos, entendam a quadra histórica do país e do mundo etc, em algum momento vocês tomarão o curso do país (mais adiante, quem sabe). Voluntarismo, "clube do eu sozinho de Youtube" não vai mudar coisa alguma.

domingo, 8 de junho de 2025

Finalmente uma boa notícia pro Brasil, o que diz os números do novo Censo brasileiro sobre religião: o fenômeno evangélico começa a estagnar...

Ex-presidente J. Bolsonaro e esposa em
igreja evangélica neopentecostal
Já havia assistido (só não lembro o nome do canal, se não me engano tinha o título com IBGE, e tinha uma abordagem religiosa, eu coloquei pra saber dos números, não pra "saber" da abordagem religiosa propriamente, a quem quiser procurar, saiu antes de anunciarem oficialmente o censo, só que não abri post esperando os dados), mas saíram os números do censo demográfico (de 2022) sobre religião no país que aponta dados interessantes sobre o assunto, a estagnação do crescimento evangélico (neopentecostal principalmente), na verdade, decresceu o aumento, crescimento do grupo dos "Sem religião", religiões afro, espíritas e uma certa estagnação também na queda do número de adeptos do catolicismo.

A quem quiser ler matéria sobre o Censo, seguem os links abaixo, a abordagem aqui citará outras questões que essas matérias não comentaram (discuto o assunto com outras pessoas, o que possibilita a chegar às conclusões), os links (da BBC):

"IBGE mostra que crescimento evangélico desacelerou pela 1ª vez desde 1960, enquanto religiões de matriz africana e número de brasileiros que se declaram sem religião têm alta: https://bbc.in/3SFdDpi". "Avanço evangélico perde força e outros 7 dados inéditos sobre religião no Censo 2022" (https://www.bbc.com/portuguese/articles/crk2p5xr0m7o).

Outra matéria interessante da BBC sobre a queda do "fenômeno evangélico"....

""Temos identificado que começa a existir uma espécie de desgaste de um tipo de cristianismo entre os próprios evangélicos", diz a cientista política Ana Carolina Evangelista" 'Excesso de política nas igrejas tem gerado desgaste entre evangélicos. As pessoas não se reconhecem mais nas lideranças'" (https://www.bbc.com/portuguese/articles/cre9lqe4zvwo).

A segunda matéria tem até a ver com o que eu ia abordar sobre a questão aqui. Não lembro de ter lido a abordagem sobre o tema da "secularização" das sociedades, do "secularismo", que casou com a questão do extremismo político (a repulsa a isso).

Hitler e representantes das Igrejas na 
Alemanha, regime Nazista
A religião (cristã, as várias vertentes) na Alemanha declinou após a segunda guerra mundial pela associação das religiões, destacadamente o protestantismo (mas o catolicismo também afunda na Alemanha) associado ao Nazismo, ao regime hitlerista
.

As igrejas católicas em Portugal vivem às moscas, às traças, pela secularização e pela associação da Igreja católica com o regime salazarista. As igrejas de massas na Europa se associaram com as várias vertentes de regimes autoritários pela Europa antes e na segunda guerra mundial principalmente, e de forma contínua nos países que mantiveram isso como Portugal, Espanha, Grécia (pouco lembrada)...

Nos países do bloco socialista houve algo inverso, a proibição das religiões provocou estabilidade e crescimento na coisa após a queda do bloco soviético/socialista e até rejeição das siglas de esquerda. Vejam como os fenômenos se entrelaçam com rejeição a políticas de Estado, regimes.

A quem quiser ler mais sobre os temas:
Ditadura grega (https://en.wikipedia.org/wiki/Greek_junta) (https://holocausto-doc.blogspot.com/search?q=gr%C3%A9cia)
Salazarismo (https://holocausto-doc.blogspot.com/search?q=salazarismo)
Franquismo (https://holocausto-doc.blogspot.com/search?q=franquismo)

No Brasil o fenômeno neopentecostal (principalmente), que usava o nome mais amplo de "evangélico", se associou fortemente a extremismo político (bolsonarismo/olavismo) e já se associava a essas expressões ultraconservadoras importadas dos Estados Unidos pro Brasil. Na parte católica, os grupos ditos "carismáticos" e assemelhados também se associam a esse conservadorismo político, embora não seja exclusividade só desses grupos.

Também se pode destacar a associação desse fenômeno neopentecostal/evangélico (em sentido amplo, porque atinge denominações tradicionais protestantes de matriz norte-americana) ao apoio ao extremismo sionista em Israel e fora de Israel, que está executando genocídio na Faixa de Gaza (https://press.un.org/en/2024/gapal1473.doc.htm). A associação com regimes extremistas como o Bolsonarismo/olavismo, extremismo político (principalmente de direita) vai afastando os adeptos dessas igrejas, organizações e cia. As pessoas cansadas do extremismo, cansadas das "falsas promessas" da "teologia da prosperidade" (https://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_da_prosperidade) que não se cumpre e enriquece gente sem escrúpulos vai criando um movimento de distanciamento, afastamento da maioria das pessoas dessas seitas/igrejas.

Isso vai se associando à secularização que é a perda de força da influência religiosa sobre aspectos da vida pública e cultura no país. Ironicamente, o extremismo político raivoso de direita sedimentou a secularização de novo no país, que não é um processo que "brota do nada", e é algo coletivo, grande, que vinha forte no fim da ditadura militar no Brasil (a associação do regime com igrejas, principalmente a Igreja católica, provocou descrença na Igreja católica e abriu espaço pros neopentecostais) e foi interrompido por esse crescimento neopentecostal no Brasil parece que retornou, com vigor e força, e isso é muito bom pro país.

A quem não gostar do assunto, procure brigar com o número do Censo e as "causas" apontadas em vez de dar "chilique", faniquito porque não são afeitos (acostumados) a críticas (com base, ninguém está "inventando" nada aqui, pra criticar algo tem que ter base em alguma coisa sempre, e fontes).

P.S. não se assustem também se começar a "pipocar" (estourar) o fenômeno de "pastores" e "padres" caindo em uma "fofurice" "arrependida" dos "pecados" de terem abraçado esse extremismo político e religioso pra tentar evitar a perda de adeptos/fiéis... a perda de adeptos/fiéis impacta diretamente na "Receita" (fundos) desses agrupamentos... e quando bate no "bolso", o "amor quase sempre acaba" (veem-se obrigados a adotar outra linha ou sumir com o tempo). Pros que quiserem acreditar no "arrependimento" desses "surfistas de onda" do extremismo que se consolidou no país desde o maldito junho de 2013 (https://www.bbc.com/portuguese/articles/cv281p5znrjo a revolução colorida "made in USA" que destroçou um país, como vários outros, vide a Síria e vários países de maioria árabe).

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Jogo dos 200 erros (encontre um...). "Debate" Breno Altman x Olavete: "O nazismo foi de esquerda?"

A quem não acompanhou a série "Nazismo de esquerda?", segue as hashtags com todos os posts sobre, pra quem quiser ler, descrevo a "série" mais abaixo, pros que não viram do começo, links:

1. "Nazismo de esquerda?"
2. "Nazismo de esquerda?" (2)

Post de 21.04.2025 (republicado em 03.05.2025)

Vou fazer essa introdução aqui antes do vídeo porque tem (tudo) a ver com o "assunto". Pra ressaltar como é ridículo (e mentiroso) uma pessoa vir a público repetir esssa coisa ridícula de "nazismo de esquerda". Isso é coisa de países com massas barbarizadas, com problemas crônicos de leitura, ausência de senso crítico, de capacidade de refletir/pensar etc, fora problemas de ordem política e de estrutura dessas sociedades (de como estão estruturadas). Os Estados Unidos são um exemplo disso, e o Brasil uma espécie de "espelho", junto de outros países da América Latina, espelho do que não presta, obviamente.

Alguém sugeriu, há muitos anos atrás (eu nem lembro direito mais do ano dessa "série", foi uma das últimas do blog), fazer posts sobre "se o nazismo é de esquerda" (não lembro mais o post, quem quiser localizar eu agradeço, pela linha dos anos dos post dá pra encontrar, pra quem tiver paciência), pra confrontar o discurso das olavetes/direita bolsonarista sobre "nazismo ser de esquerda", que se espalhou no país no período de estouro da manada da extrema-direita liberal (ou neofascista, como alguns até chamam, fascismo à moda norte-americana, liberalizado), mas que já circulava desde o Orkut através da figura do Olavo de Carvalho e seus "discípulos", e outros sites de extrema-direita liberal que operam no país, cópias do lixo ideológico (propaganda anti-esquerda da guerra fria) vindo dos Estados Unidos, matriz ideológica de tudo isso.

Eu achava a coisa esdrúxula (ainda acho coisa de gente imbecil, cretina e de fanáticos de direita) porque só gente fanatizada/ignorantes ou desonesta ao extremo faz afirmações de "nazismo é de esquerda", apesar de que há um propósito político com isso: de jogar a "mística" do nazismo (toda carga negativa que o nazismo carrega no pós-2aGM) também no colo de uma esquerda que não discute segunda guerra mundial (e temas correlatos de guerra, conflitos e cia), não só não discutem como até correm quando mencionam a questão. E também limpar a associação óbvia de uma extrema-direita renovada com o nazismo, da própria direita radical por trás desses bandos liberais extremamente autoritários e fascistoides (pra quem não conhece o termo "fascistoide", tem explicação "perdida" pelo blog, não vou procurar, se não me engano o termo é francês, pra regimes semelhantes ao fascismo, ou coisas autoritárias, que lembram algo do fascismo mas que não se encaixam com o fascismo clássico, que existiu de fato, chegou ao poder etc).

Mas resolvi fazer uma série e tem até um monte de posts disso com trechos de livros consagrados, de historiadores de peso (sobre nazismo e cia) relatando que nazismo foi realmente um movimento/regime de extrema-direita etc. Algo meio óbvio, não? Quem quiser reescrever a História do mundo, da Alemanha no século XX, vai ter que ter um cabedal de conhecimento e ir atrás de fontes que coloquem meio mundo abaixo, "boa sorte" (vai precisar, rs).

Como o Breno disse comentando o "debate", que não foi debate, esse tipo de "embate", com todo respeito ao palco, tá mais pra um "circo de pulgas" digital (entretenimento), com alguma dose de conhecimento (graças à presença do Breno, que soube discutir, se saiu bem na coisa), nada contra (os podcasts se popularizaram no país, é um fenômeno de massas de comunicação, goste-se ou não), mas debate é outra coisa, dá-se em bases reais e não com um negacionista. Isso é uma espécie de jogo de "derrubar mentira".

Até a Embaixada da Alemanha no Brasil emitiu nota "explicando o nazismo" em virtude da quantidade de horda de quadrúpedes (coitado dos animais com a comparação...) que relinchavam repetindo essa asneira nos anos de extremismo mais agudo do país, 2018, e que perdura até hoje pelo "bolsonarismo" (que dá pra chamar tranquilamente de "olavismo").

A quem não viu as notas, seguem aqui, da vergonha que o país passa com essa horda de gentinha ignorante orgulhosa da própria estupidez e que nunca leram nada, ou nunca leram nada que preste na vida, mas ficam o pé afirmando coisas sem fundamento, mesmo quando rebatidas. E sim, se você pensa que eu "vou pegar leve" (aliviar, alisar) com essa gente, nunca aliviaram a carga comigo quando eu me equivocava (geralmente é esse tipo de quadrúpede que sempre vem com pesadas pro meu lado e com quem pensa parecido comigo), ou seja, eu não sou um "poço de tolerância" com esse tipo de gente, além deu ser "meio" revanchista/rancoroso/vingativo, "aqui se faz, aqui se paga..." sei que não é uma virtude (principalmente a se confessar), admito, mas ninguém é perfeito mesmo...:

"Embaixada da Alemanha explica o nazismo e é contestada por brasileiros" (Link "O Globo")
"Discussão sobre 'nazismo de esquerda' não tem base honesta" (Link DW em português)
"Nazismo é de direita, define Museu do Holocausto visitado por Bolsonaro em Israel" (BBC em português)
"Brasileiros criam debate que não existe na Alemanha" (DW em português)
"Brasileiros contestam vídeo da Embaixada Alemã sobre o nazismo" (Site Congresso em Foco)

Sem mais delongas, a quem não assistiu o "debate", o vídeo ficará em aberto no post (pra quem quiser assistir diretamente do post), vale a pena assistir (pela presença do Breno e a forma como ele conduziu a coisa, soube debater, coisa que a "esquerda fofucha" de nariz empinado acha que "sabe" mas quebram a cara quando fazem esses embates).

Como comentei com o Stephano noutro post (sobre conflito no Oriente Médio), o espaço pro "React" do vídeo é a parte de comentários, quem for identificando os erros/distorções olavéticas no vídeo, pode ir listando na parte de comentários (fiquem à vontade pra detonar as baboseiras do "nazismo de esquerda"). Até já citei uma coisa de um autor que o cara cita (autor obscuro, monarquista reaça do pior tipo, à direita de Hitler) que essa turma acha na longa "literatura" anti-esquerda da Guerra Fria, o Breno não mencionou esse ponto (e nem dá, discussão ao vivo ninguém vai comentar tudo o que é possível sobre um tema, com os recursos que a gente tem aqui na web, com os sites de busca e cia) mas há uma literatura de combate anti-esquerda considerável da Guerra Fria (anti-comunismo/socialismo) que a esquerda brasileira parece viver no "mundo da lua" e ignora, e que o "cartomante astrólogo" Olavo de Carvalho (ídolo desse pessoal) reintroduziu no país pra "combater o PT" no poder (como se o PT fosse "comunista", rs, mas o povo "comprou" as ideias... povo supersticioso, que não lê, com péssima educação básica, resultado só poderia ser a catástrofe que estamos vendo há anos, eu não sei como o Brasil ainda existe como país com essa "gente", é realmente um milagre...).

O vídeo completo do "debate", que não sei por qual razão o Breno não divulgou já que ele furou a "bolha de esquerda" da rede ao participar do canal podcast do Vilela (Inteligência Ltda), um dos primeiros podcasts do tipo a se firmar pra valer no país (dos que eu lembro). O título no vídeo tá assim "DEBATE: O NAZISMO AINDA EXISTE? BRENO ALTMAN X FLAVIO MORGENSTERN - Inteligência Ltda. Podcast #1496", mas o mote do vídeo foi se "Nazismo seria de esquerda?" (só pra registrar):

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Adam Tooze: "O salário da destruição. Formação e ruína da economia nazi", "Review" (Resumo/análise do livro, para entender o colapso da economia nazista)

Adam TOOZE. The Wages of Destruction. The Making and Breaking of the Nazi Economy
Adam TOOZE. "O Salário da Destruição. Formação e ruína da economia nazi
Paris, Les Belles Lettres, 2012, 812 p.

Domingo, 3 de março de 2013, por Laurent Gayme

Licenciado pelo King's College e pela London School of Economics, Adam Tooze é professor de história alemã na Universidade de Yale. Publicou anteriormente "Statistics and the German State, 1900-1945: The Making of Modern Economic Knowledge", Cambridge, Cambridge University Press, 2001.

Este livro é uma tradução do seu livro The Wages of Destruction: The Making and Breaking of the Nazi Economy, Londres, Allen Lane, 2006, que ganhou o Prêmio Wolfson de História em 2006 e o Prémio Longman-History Today Book of the Year em 2007.

A história econômica no centro das atenções

Esta tradução de um livro importante por Les Belles Lettres é de saudar. Nos últimos anos, os leitores franceses puderam ler muitas obras inovadoras sobre a Alemanha nazi, entre as quais as de Ian Kershaw, Robert Gellatelly, Mark Mazower, Christian Ingrao e Johann Chapoutot (que passa em revisão as últimas pesquisas sobre o nazismo em Le nazisme, une idéologie en actes, coleção Documentation photographique n°8085, Paris, La Documentation française, 2012). 

De todas estas publicações, poucas foram dedicadas a questões econômicas, com exceção de Götz Aly (Comment Hitler a acheté les Allemands, Paris, Flammarion, 2005). Adam Tooze chama a atenção para o fato de a história econômica do nazismo ter progredido pouco nos últimos vinte anos, ao contrário da história do funcionamento do regime, da sociedade e das políticas raciais, por exemplo. É por isso que tem a ambição de “iniciar um processo de recuperação intelectual que há muito deveria ter sido feito” (p. 19), dando-nos, sob a égide de Marx, uma impressionante história econômica da Alemanha nazi: “O primeiro objetivo deste livro é, portanto, voltar a colocar a economia no centro da nossa compreensão do regime hitleriano...” (p. 20). (p. 20). 

Propõe-se fazê-lo rompendo com um pressuposto do século XX, o de uma superioridade econômica particular da Alemanha (ainda hoje presente no espírito das pessoas...), um mito destruído pelos últimos trabalhos dos historiadores econômicos para os quais o grande fato econômico do século XX é o eclipse da Europa pelas novas potências econômicas, nomeadamente os Estados Unidos. Na década de 1930, a Alemanha da Krupp, da Siemens e da IG Farben tinha um rendimento nacional per capita na média europeia (ou seja, comparável, em termos atuais, ao do Irã ou da África do Sul), um nível de consumo mais modesto do que o dos seus vizinhos ocidentais e “uma sociedade parcialmente modernizada em que mais de quinze milhões de habitantes viviam do artesanato tradicional ou da agricultura camponesa”. (p. 21).

O inimigo americano

A tese central de Adam Tooze baseia-se menos no Mein Kampf (1924) anti-bolchevique do que num manuscrito de Hitler conhecido como “Segundo Livro”, concluído no verão de 1928 e que contém discursos da campanha para o parlamento da Baviera, em maio de 1928, na qual Gustav Stresemann, ministro dos Negócios Estrangeiros da República de Weimar, era candidato. Convencido de que os Estados Unidos iriam tornar-se a força dominante da economia mundial e um contrapeso à Grã-Bretanha e à França, Stresemann tinha escolhido, após a derrota de 1918, a aliança financeira americana e a integração econômica na Europa capitalista (as escolhas feitas por Adenauer depois de 1945), a fim de conquistar um mercado suficientemente grande para se equiparar aos Estados Unidos. 

Para Hitler, a força motriz era a luta por meios de subsistência limitados, ou seja, a colonização de um “espaço vital” no Leste, para competir com o poder dos Estados Unidos, cuja hegemonia ameaçaria a sobrevivência econômica da Europa e a sobrevivência racial da Alemanha, com os judeus a reinarem tanto em Washington como em Londres e Moscou. Hitler rejeitava a “americanização”, a adoção dos modos de vida e de produção americanos, porque por detrás do liberalismo, do capitalismo e da democracia estava o “judaísmo mundial”.

Construção de um complexo militar-industrial

Em suma, Hitler estava a responder a uma situação do século XX com uma solução do século XIX. O imperialismo, combinado com a sua ideologia antissemita, tinha de transformar a Alemanha numa potência continental capaz de rivalizar com o Império Britânico e, sobretudo, com o imenso território dos Estados Unidos. Para isso, Hitler organizou, a partir de 1933, o mais extraordinário esforço de redistribuição jamais realizado por um Estado capitalista, com a percentagem do produto nacional destinada ao exército a passar de menos de 1% para quase 20% em 1938, ao mesmo tempo que a produção industrial aumentava fortemente, assim como o consumo e o investimento civil (6 milhões de desempregados foram postos a trabalhar). 

Tudo foi sacrificado ao rearmamento e à criação deste complexo militar-industrial, nomeadamente os interesses das indústrias de bens de consumo e do campesinato, daí o racionamento das matérias-primas essenciais a partir de 1935 e, mais tarde, a pilhagem da Europa. Este foi aceite pelo grande capital alemão, enfraquecido pela crise de 1929, porque era seletivo, explorando frequentemente a iniciativa privada, e assegurava lucros substanciais, mantendo a ordem social e esmagando a esquerda e os sindicatos. Por fim, a conquista do Lebensraum no Leste (com o "Generalplan Ost" de racionalização e reorganização agrária e o Plano Fome de 1941, que previa a pilhagem dos recursos alimentares de cerca de dez milhões de polacos, russos e ucranianos) e a política genocida, nascida da ideologia racial e antissemita, encontraram a sua justificação econômica ao serviço do poder. A economia nazi e a Segunda Guerra Mundial

No entanto, Adam Tooze mostra claramente que a diplomacia, o planeamento militar e a mobilização econômica não se combinaram para formar um plano de guerra coerente e a longo prazo. Em setembro de 1939, a Alemanha entrou em guerra sem uma forte superioridade material ou técnica em relação à França, à Grã-Bretanha ou, em 1941, à URSS. Com uma economia condicionada por problemas de balança de pagamentos (era impossível contrair empréstimos ou fazer comércio com a Grã-Bretanha e os Estados Unidos) e sob controlo administrativo permanente, Hitler estava constantemente a jogar contra o relógio. 

Em 1939, a Alemanha já não podia acelerar o seu esforço de armamento, enquanto a Grã-Bretanha, a França e a URSS aceleravam o seu rearmamento. Por outro lado, se em 1936 Hitler ainda insistia na conspiração judaico-bolchevique, a partir de 1938 o antissemitismo nazi tomou um rumo anti-ocidental e, sobretudo, anti-americano, o que facilitou a compreensão do Pacto Germano-Soviético, que também protegia a Alemanha contra uma segunda frente e contra os piores efeitos do bloqueio anglo-francês. Para além das considerações ideológicas, tendo em conta a dimensão do esforço de guerra anglo-americano a partir do verão de 1940, os recursos econômicos da URSS (cereais, petróleo) eram vitais para a sobrevivência da Alemanha. Ao mesmo tempo, porém, era necessário preparar a invasão da URSS e a corrida transatlântica ao armamento, o que exigia uma vitória rápida sobre o Exército Vermelho, ao mesmo tempo que se levavam a cabo os programas genocidas de limpeza étnica das SS no âmbito do Generalplan Ost.

No início de 1942, as forças econômicas e militares mobilizadas contra o Terceiro Reich eram esmagadoras. Mas o núcleo do poder político nazi (o Gauleiter Sauckel, Herbert Backe, o orquestrador do Plano da Fome, Göring, Himmler e Albert Speer) empreendeu então um imenso esforço para mobilizar todos os recursos humanos (incluindo a mão de obra judaica nos campos), alimentares e econômicos (pilhando toda a Europa) ao serviço da guerra e do “milagre armamentista” de Speer. A aceleração final da produção alemã de armas, em 1944, foi efetuada à custa da destruição de uma grande parte da Europa e das suas populações, bem como da própria Alemanha. Em 1946, o PIB alemão per capita era de pouco mais de 2.200 dólares (um nível que não se registrava desde a década de 1880) e, nas cidades arrasadas, as rações alimentares eram frequentemente inferiores a 1.000 calorias por dia. Uma grande obra

Como já deve ter percebido, é impossível transmitir aqui toda a riqueza deste fascinante fresco, que é perfeitamente legível para não especialistas em história econômica. Adam Tooze desafia muitas ideias recebidas sobre os sucessos industriais do Terceiro Reich e as motivações e decisões nazis durante a guerra, sem nunca subestimar a importância dos pressupostos ideológicos nazis. 

Oferece-nos uma brilhante releitura da primeira metade do século XX, à luz das escolhas econômicas feitas em resposta às convulsões no equilíbrio econômico global, e oferece-nos um cativante apelo à história econômica. É evidente que se trata de uma leitura essencial para os professores de História do ensino secundário, em particular para os que lecionam os capítulos sobre crescimento econômico e globalização, totalitarismo e guerra total.

Fonte: La Cliothèque
http://clio-cr.clionautes.org/le-salaire-de-la-destruction-formation-et-ruine-de-l-economie-nazie.html

Reproduzido primeiramente em Holocaust-doc (blog auxiliar deste aqui para publicação de textos, correlatos ao tema do blog, 2aGM e cia, em outros idiomas: inglês, francês, espanhol etc):
https://holocaust-doc.blogspot.com/2016/02/adam-tooze-le-salaire-de-la-destruction-formation-et-ruine-de-l-economie-nazie.html

Texto traduzido do francês com ajuda de IA ("Inteligência artificial").
Revisão:
Roberto Lucena

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

A disputa pelo Oriente Médio. Estamos diante de uma nova onda de descolonização

Praqueles que não dimensionaram o significado dessa nova etapa do conflito no Oriente Médio, é uma etapa em que os Estados Unidos estão tentando manter seu domínio ou hegemonia no Oriente Médio, por isso que correu para defender Israel logo em outubro de 2023 com outros membros da OTAN, destacadamente o Reino Unido (que muitos no Brasil só entendem o termo se a gente citar o país pelo nome de "Inglaterra").

Podemos e provavelmente estamos presenciando outra onda de descolonização no mundo, que sempre estouram no declínio do poder de Império de alguns países, em conflito entre esses países e na mudança de eixo econômico pra outra região ou país, caso atual a transição do eixo EUA/Europa Ocidental pra Ásia/China.

Após a segunda guerra mundial com a destruição da Europa várias colônias da Europa na Ásia e África, remanescentes, começaram processos de independência e sangrentos, por repressão das "Metrópoles", vide a guerra da Argélia com seus 1 milhão de mortos (https://en.wikipedia.org/wiki/Algerian_War), a França "vencedora" da segunda guerra sobre o nazismo de Hitler (como costuma ser retratada erroneamente pois viveu sob regime colaboracionista na segunda guerra) partiu para uma guerra sangrenta pra manter a Argélia a ferro e fogo sob seu "tacão" (domínio).

O mesmo ocorreu em vários países africanos e da Ásia, a revolução chinesa em 1949 (https://en.wikipedia.org/wiki/Chinese_Communist_Revolution).

A guerra de libertação da Indochina (que muitos só conhecem por Vietnã, Laos e Camboja https://pt.wikipedia.org/wiki/Indochina_Francesa), primeiro da mão dos franceses, que assim que tombaram abriram espaço pros norte-americanos entrarem em conter o avanço da guerrilha do Vietnã do Norte, que sairia vitorioso em 1975 unificando o Vietnã em uma República expulsando os Estados Unidos daquele país. Os norte-americanos ficavam pelo Vietnã do Sul, sob seu domínio, em guerra contra as guerrilhas comunistas do Vietnã do Norte.

A guerra do Vietnã trata-se de uma Guerra de Independência (https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_Vietn%C3%A3) sobretudo.

Guerras de independência geralmente possuem teor revolucionário, de libertação nacional, provocam profundas mudanças nos países que se livram das ex-Metrópoles.

O mesmo processo do passado (houve outras ondas de descolonização: das Américas ao longo do século XIX, após a segunda guerra etc) pode estar se repetindo na África (vários países se levantaram contra a opressão colonial francesa expulsando a França de seus países) e no Oriente Médio, vide o conflito da Palestina (área dominada por Israel ancorado nos Estados Unidos e Europa Ocidental), Líbano e todos os atores envolvidos alvos do consórcio norte-americano/europeu e israelense, em que as partes mais fortes (Estados Unidos destacadamente e Reino Unido e outros europeus em segundo plano) operam pra conter o avanço de China/Rússia e BRICS sobre as reservas de petróleo e gás dessa região do globo.

Estava vendo um vídeo de canal de esquerda (não memorizei o nome, coloco nos comentários se lembrar) sobre a situação do Líbano/Irã e cia e me veio à mente a questão porque alguém mencionou algo similar por lá, o Breno Altman vem tocando no assunto em relação aos EUA e a contenção com a China (fez um vídeo hoje sobre isso (https://www.youtube.com/watch?v=bsKn1kUPARw "ESTADOS UNIDOS APOSTAM NA TERCEIRA GUERRA? - ANÁLISE DE BRENO ALTMAN").

Um adendo: esse texto aqui foi escrito há vários dias (desde o dia 10 último ou antes), não foi publicado antes por falta de revisão e alguns detalhes, porque impressiona a convergência (comento sobre isso no fim com outro texto de fora).

Pros que acham que o conflito vai "acabar amanhã" e afins, e até pode (parcialmente, depende da escalada com o Irã, que é ator central no Oriente Médio), já estamos dentro de um conflito de escala muito maior.

Os Estados Unidos não terão muito tempo daqui a uns anos pra tentar uma contenção militar da China, já que não consegue conter mais o gigante chinês pela via tecnológica, econômica, e também mira a Rússia, que restaurou seu estatus de potência mundial e tem forte aliança com a China (são cabeças dos BRICS).

Memorize o ano "2030", até 2030 a China ultrapassará a economia dos EUA ("China’s Economy Could Overtake US Economy by 2030", artigo de 2022, mantido os padrões atuais https://www.voanews.com/a/chinas-economy-could-overtake-us-economy-by-2030/6380892.html), e já ultrapassou pelo cálculo de Paridade do poder de Compra https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pa%C3%ADses_por_PIB_(Paridade_do_Poder_de_Compra)).

Ou seja, as "portas" até pro uso da "via militar" (pelos EUA) pra conter a China estão se fechando até 2030, por isso a violência e agressão nos conflitos da Ucrânia e Oriente Médio. No cálculo do PIB por poder de compra a "União Europeia" aparece à frente dos Estados Unidos (um dos motivos pelos quais também é alvo, apesar de se apresentar como "parceira" dos EUA nos conflitos, os EUA miram e atacam o mundo inteiro).

Então certas simplificações que circulam em alguns canais de direita sobre esses conflitos na "Youtubesfera brasileira" (tinha que ser) soam como "coisa mirabolante", "coisa exótica", "negação" e coisas do tipo (vi essa postura aos montes dos ditos "revis" sobre o assunto da segunda guerra, que devem estar atordodos há alguns anos não entendendo "que mundo é esse que vivemos de uma década pra cá"), por conta de uma posição refratária de alguns negando a questão do caráter expansionista do projeto colonial de Israel (o papel de Israel no conflito é consolidar o projeto sionista pra Palestina pra depois querer se expandir na direção da "Grande Israel", que abocanha vários outros países da região, só que sem força pra isso atualmente exceto se os Estados Unidos endossarem e entrarem na contenda pra proporcionar isso, o que não significa que terá sucesso na "empreitada", já estão cercados por todos os lados desde 2023).

Vale a pena ler também, os textos e vídeos convergem pro mesmo ponto: https://www.newyorker.com/news/daily-comment/how-ten-middle-east-conflicts-are-converging-into-one-big-war ("How Ten Middle East Conflicts Are Converging Into One Big War. The U.S. is enmeshed in wars among disparate players in Israel, Iraq, Lebanon, Syria, and Yemen")
("Como os conflitos do Oriente Médio estão se convergindo em uma grande guerra, os EUA estão imersos em guerras com jogadores díspares em Israel, Iraque, Líbano, Síria e Iêmen").

Texto publicado em 15 de Outubro de 2024 (depois será recolocado na ordem correta, para não atrapalhar a visualização dos posts sobre Oriente Médio).

domingo, 29 de janeiro de 2023

Genocídio indígena do 'governo Bolsonaro'. Havia gente contestando o termo usado na pandemia, agora já possuem um genocídio pra chamar de seu

A quem anda em Marte ou Saturno sem ler as notícias do país, que repercutiram fora também, o título do post é sobre isso aqui:
Tragédia dos Yanomami se configura como genocídio e pode levar Bolsonaro a tribunal internacional (IstoÉ)
PF abre inquérito para apurar crime de genocídio contra Yanomami (site Poder360)

Fala do então deputado Bolsonaro sobre a questão indígena do país, quando era "só" uma figura bizarra no congresso e "sindicalista" de militares:

"‘‘A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esses problemas em seu país.” Este é um trecho de discurso de Jair Bolsonaro, então deputado federal pelo PPB-RJ, na Câmara dos Deputados, em 16 de abril de 1998. Dessa frase, até atos e omissões que fecharam seu mandato de presidente da República em dezembro de 2022, Jair Bolsonaro ofereceu provas contra si próprio. Virou um poço aterrado por acusações, que transbordou com as imagens chocantes, e divulgadas no mundo inteiro, da condição degradante imposta ao povo Yanomami."
Avisando que estou com dificultade pra digitar com uma máquina lenta, fica difícil elaborar um post dessa forma o que torna inviável a escrita de posts, fora a quantidade de bizarrices que ocorre no país de 2018 pra cá (mais de uma por dia), fora todos os anos de 2013 até agora, mas acho que ninguém pode se omitir com o assunto.

Bem como a ofensiva dos apoiadores do ex-presidente miliciano (fantoche de generais, da cúpula podre das forças armadas, um pau mandado bizarro que distrai a população enquanto a horda de corruptos de farda destroçam/destroçavam o país pra forças externas hostis e pela simples pilhagem, reacionarismo e falta de patriotismo, que tanto "falam" e nunca possuíram mesmo fazendo "juramento") atacando Brasília no último dia 08 de janeiro de 2023 destruindo parte da sede Supremo, congresso e Palácios do poder executivo.
Ataques terroristas: entenda o que aconteceu ontem em Brasília em 8 pontos (UOL)
Invasão de bolsonaristas em Brasília: em resumo, os acontecimentos até agora (UOL)
Assista a mais de 40 vídeos das invasões do 8 de Janeiro (site Poder360)
Como foi o domingo de invasão de bolsonaristas radicais aos prédios dos Três Poderes em Brasília (GZH)

Definição de genocídio há no blog (é só procurar pela busca nele ou via Google colocando "holocausto-doc+genocidio" na pesquisa), mas vou digitar de forma resumida com minhas palavras, depois adiciono as fontes aqui (pra turma mais "crítica" ou "cética", entre aspas, não vir espernear dizendo asneira nos comentários):

Genocídio ocorre quando há intento por parte de um grupo ou governo de exterminar a cultura de algum grupo étnico ou/e principalmente, total ou parcialmente, o extermínio físico de um grupo étnico.

Definição precisa de genocídio (por lei):
"According to Article 2 of the 1948 United Nations Convention on the Prevention and Punishment of the Crime of Genocide defines genocide as "any of the following acts committed with intent to destroy, in whole or in part, a national, ethnical, racial or religious group, as such: killing members of the group; causing serious bodily or mental harm to members of the group; deliberately inflicting on the group conditions of life, calculated to bring about its physical destruction in whole or in part; imposing measures intended to prevent births within the group; [and] forcibly transferring children of the group to another group."" [1]
[1] Definição de genocídio (em inglês), verbete do site da Cornell Law School (LII), https://www.law.cornell.edu/wex/genocide

Complemento:
Definição de genocídio, Enciclopédia Britânica (em inglês: https://www.britannica.com/topic/genocide)
"How do you define genocide?" (Artigo da BBC em inglês: https://www.bbc.com/news/world-11108059)
"What is Genocide?" (verbete do USHMM, Museu Memorial do Holocausto, em inglês: https://www.ushmm.org/genocide-prevention/learn-about-genocide-and-other-mass-atrocities/what-is-genocide)

 O que temos no caso dos indígenas Ianomâmis? Exatamente um caso de genocídio, de intento de um governo de patifes de farda, com civis canalhas do mesmo naipe praticando crimes que levariam um grupo específico étnico a seu fim ou a destruição da maioria desse povo indígena do norte do Brasil.

Havia uma turma "histérica" (o Brasil virou o pais da histeria há tempo, contribuição das seitas neopentecas com o moralismo exacerbado de alguns centros), da direita brasileira (como sempre) e da "Cirolândia" encantada, achando extremado o termo genocida pra chamar o miliciano fantoche no cargo de presidente, quando existe o termo "democídio" (aviso: eu não tirei o termo de um livro que circula no país sobre isso, eu conheço há anos por conta do nazismo e li pela primeira vez o termo em inglês mesmo, sem qualquer ligação com publicação brasileira), fora que existe uma discussão sobre a aplicação do termo genocídio num sentido mais amplo, porque muitas vezes se confunde assassinato em massa com genocídio e nem sempre a coisa se encaixa (pra haver genocídio não precisa o extermínio de milhões e sim algo que vise grupo étnico, religioso ou afim).

O termo surgiu na pandemia pela primeira vez pela fala do ministro do Supremo, Gilmar Mendes, e foi questionada pela dita "grande mídia" (que apoiava o miliciano genocida na surdina omitindo os crimes do governo dele bem como os crimes econõmicos de seu ministro neoliberal, Paulo Guedes), mas a questão indígena se essa mesma mídia entrar na via do "negacionismo" (como os negadores do Holocausto fazem com o genocídio da 2aGM), vai "pegar mal" pra mesma... porque o caso tem ampla repercussão internacional.

E conforme a colocação do Stéphano (discussão do outro post), o Biden teria problema em conviver com o rótulo de tolerante de genocidas dentro do território norte-americano?

Em seu governo (Biden) há uma ala dita de "esquerda" (liberais na verdade) que está incomodada com a presença do miliciano em território "ianque", fica difícil de crer que o governo dos EUA e Europa Ocidental de fato se preocupam com a questão indígena (a não ser como chantagem contra o Brasil) não endossando o coro do julgamento internacional e condenação do miliciano Bolsonaro por crimes contra a humanidade, bem como os apoiadores e assessores diretos dele nisso.

Iremos lembrar sempre ao Mr. Biden do problema, até porque foi na administração Obama/Biden que a sorte da maldades contra o Brasil começou, com toda cumplicidade histórica já conhecida de fomento, elaboração e aplicação de golpes de Estado pelos Estados Unidos na América Latina. Muita gente no Brasil e América Latina esquecem da origem da coisa, mas há sempreos que recordarão...

_____________________________________________________________________________
Complemento do dia 30/01/2023

O Brasil é signatário das leis/convenções sobre crimes de genocídio, "viu", miliciano ex-presidente e demais escória apoiadora, conforme os dois textos que colocarei abaixo, do site do Executivo federal. Tem uma escória política tentando atenuar ou defender o pulha, cuidado pra não serem enquadrados como ajudantes se participaram do crime ao longo desses anos.

Sobre crime de genocídio, decreto de 1952, Presidente Getúlio Vargas (Link1)
Lei de 1956, Presidente Juscelino Kubitschek (Link2)

Eu diria que o miliciano, família e apoiadores, ex-ministros estão bem encrencados com a justiça do país e até com a justiça internacional, se a mesma não for leniente (fizer vista grossa) agindo quando "convém", e o governo dos Estados Unidos não proteger mais um genocida que ajudou a colocar no poder no Brasil. _____________________________________________________________________________
Complemento do dia 03/02/2023

Como citei que genocídio pode ser o extermínio cultural também, segue abaixo o verbete da questão (em inglês, tem tradutor de textos à vontade na internet, não há desculpa de "eu não entendo" pra não ler), que é uma parte controversa da definição de genocídio mas existe:

Cultural genocide (https://en.wikipedia.org/wiki/Cultural_genocide)

terça-feira, 12 de julho de 2022

Terrorismo político no Paraná tem causa e origem na 'coisa' que ocupa o cargo de Presidente do Brasil, e sem "conto de fadas" da "polarização"

Estava tentando retomar esse blog e o retorno tem que se dar com outra desgraça promovida pela "coisa" que atualmente ocupa o cargo de Presidente da República no país, a quem não viu a matéria ou não sabe do que se passa, porque esse blog é muito acessado por gente fora do Brasil e nem todo mundo tem acesso ao noticiário diário do país, segue a matéria: "Bolsonarista invade festa com temática petista e assassina aniversariante em Foz do Iguaçu".

Atitude de dois covardes, uma do atirador/terrorista, e a outra do que está na Presidência que usa esses débeis-mentais frustrados e vazios do lúmpen que o "idolatram" como "Mito" (ou "Micto", de Micto-rório) pra fazer arruaça, baderna, querendo melar o pleito eleitoral porque sabe que irá perder eleição e responderá criminalmente por toda bandalheira que aprontou desde 2018 e por se prestar a ser capacho/marionete da caserna entreguista traidora da pátria, traidores do país. Caserna que presta continência pra bandeira dos Estados Unidos em detrimento do próprio país. Tudo isso seria assunto de outros posts (como comentar a história do termo "Exército de Caxias", pois há uma patota da "esquerda ilustrada" de bolha de classe média andou implicando com esses termos, mas nunca mencionam quem elaborou a coisa, achando que por aparecerem em "Lives" de Youtube que eu e outros não temos voz ou meios pra emitir opinião ou apontar quem cunhou certos termos, vão quebrar a cara), mas há que ressaltar isso nesse.

Não se trata de caso de "polarização" política alguma, a mídia venal vendida no país tenta criar uma falsa polarização com a figura do Lula, que já governou o país, com um sujeito que sempre foi considerado extremista, até por militares, visto que seria expulso do Exército se não fosse a intervenção de milico que se identifica politicamente com esse tipo de figura na época, e porque o "Exército de Caxias" não é um primor na questão da "disciplna", se fosse não aceitaria uma figura grotesca dessas por tanto tempo com a imagem associada a eles.

Mas já que toquei no assunto acima da "turma ilustrada de classe média de bolha" (que possuem o péssimo hábito do "copy-and-paste", mediocridade absoluta e muita ignorância), já que esse pessoal adora 'dados', estatística, "números", "ávidos" por fama (criam essa ilusão) apelando pra "senacionalismo" irresponsável e histeria, e acham que só existe o Youtube como ferramenta de comunicação na rede: esse blog tem cerca de quase 1,8 milhão de acessos, mesmo inativo há muito tempo, mas possui um arquivo extenso sobre nazismo, segunda guerra, fascismo, Holocausto (obviamente), neonazismo, extremismo político etc, então continua a ser acessado e lido pela qualidade do material publicado, de vários autores de peso nos temas, e por vezes é copiado e não creditado vide o caso das "Vans de gás" num verbete da Wikipedia, termo que eu vi traduzirem online há mais de década na finada comunidade do Orkut 'Holocausto x "Revisionismo"' do Marcelo Oliveira, autor da lista de discussão que deu nome a esse blog (peguei emprestado o termo do Marcelo porque o blog inicialmente só serviria de depósito dos textos traduzidos na finada comunidade e lista de discussão dele no Yahoo). São essas atitudes que afastam as pessoas com boa vontade e conhecimento de compartilhar coisas nessas redes.

Um dos últimos posts desse blog têm quase 10 mil visualizações (views), mesmo inativo. Mas por que ressalto isso?

Pra mostrar a essa "gente ilustrada", espertalhona, patoteira, que esse espaço que não foi criado pra "caçar "like"" ou dinheiro e nem "fama" efêmera (inexistente) de multinacional norte-americana (o Youtube pertence ao Google), algo que essa turma "venderia a própria mãe" em troca, por isso que ficam nesse patrulhamento ridículo achando que há uma "disputa", "concorrência", que não existe, a visão de mundo desse pessoal é incompatível com a filosofia desse espaço. Esse espaço tem mais visualização que muitos dos canais que vocês participam e portanto não irão conseguir calar ou silenciar ninguém aqui, tampouco surrupiar termos.

Querem agir de forma torta? Podem agir, mas terão confrontação, à parte a aberração que desgoverna o país. Não gosto de "patotismo" e nem de "patrulha" ou de gente espertalhona que agem dessa forma porque sabem que essa classe média "ilustrada" preguiçosa do país mal lê um texto de matéria de jornal por dia (quando leem), e nem bula de remédio, e também sei que vários desses sabem da existência desse blog e das opiniões políticas de membros do blog, e não serei tutelado por gente ditatorial intolerante e ignorante.

A quem não entende a quem me dirijo, reproduzo trecho de matéria de seis anos atrás (e não mudou nada, continua igual, senão pior) que explica com melhor precisão o "fenômeno", porque é com o que me deparo nessas redes como Facebook e Youtube (essa um pouco menos, o Facebook é insuperável no "baixo nível" e petulância):

"A nova direita brasileira é deploravelmente estúpida, grotesca e iletrada. Não leem nada. Nosso país intelectualmente subdesenvolvido tem uma esquerda radical iletrada que não lê Marx e uma direita estúpida que não lê os filósofos e economistas conservadores. Eles não chegarão perto de Mein Kampf. Acho que nossa edição será mais para estudiosos de História e curiosos", diz ele à DW Brasil." (link do post, o link da matéria da DW está no post).

Uma das vantagens do texto (escrito) é que registra bem as coisas, sendo mais fácil de se localizar na pesquisa de sites de busca via "indexação" de termos, ao contrário de "Lives" dispersas sem qualquer arquivamento ou "senso lógico" ("conteúdo" na maioria das vezes descartável), até nisso vocês levam desvantagem. Mas vou dissecar melhor depois essa coisa pra não ficar muito aleatória a citação do fato num post desses, é porque eu tinha em mente entrar com outro assunto e não ter que comentar outra patifaria do sujeito que está no cargo da presidência fruto do golpe branco de 2016, da Lava Jato e do "junhismo" de 2013 dessa "patotinha ilustrada" radicaloide que tem um narcisismo doentio com "Live" de Youtube, o que reforça o atraso desse país de uma classe média com pouco ou nenhum apego à leitura, ou que não sabe filtrar o que lê, vide a querela dessa mesma "classe média ilustrada" querer brigar com a imposição do termo "fascismo e nazismo" quando eu uso o termo "extrema-direita liberal" pra definir Bolsonaro e cia, como se o liberalismo (ideologia) fosse uma "ideologia de anjos" avessa à violência. Acho o "máximo" quando esse pessoal veste a casaca da arrogância e mesmo não apontando fonte alguma ficam esperneando e querendo te silenciar "na marra" porque você "ousou" a apontar um erro (de conceito), que não é bobagem e nem preciosismo, quer queira chamar Bolsonaro e cia do nome que quiser (a essa altura essa questão tem pouca relevância mesmo, do ponto de vista político imediato, mas... à medida que o país conseguir voltar ao "normal" há que discutir a sério as mazelas que esse liberalismo imposto pelos Estados Unidos provoca ao Brasil, América Latina e cia, sem escapismo de chamar a coisa de "fascismo", porque todo liberal adora jogar as próprias mazelas que causa num espantalho).

Parece que essa gente ou é desonesta ou não sabe coisa alguma de nada, ou não entendem nada. E dizer isso não é apaziguar o "bolsonarismo", a menos que essa gente queira chamar Pinochet e Fujimori de "anjos". É preciso apelar pra figura caricata de Hitler (que virou lugar comum e debilidade de discurso) pra definir esse lixo liberal que propaga fome no mundo e que era a ideolmogia dominante até provocar a crise que levou a Europa à primeira guerra mundial, fruto do capitalismo selvagem da época? Sem entender essas coisas como esse pessoal quer propor mudanças sérias pro Brasil e pro mundo?

Vou ficando por aqui nesse post, mas espero não demorar muito pra fazer outro, até porque infelizmente se faz necessário registrar certas coisas pra que essa "patotinha" ilustrada de bolha de Facebook/Youtube não fique distorcendo e disseminando besteira no país como "a verdade iluminada" sem nunca fundamentar nada, quando não apelam pra carteirada.

 P.S. o "desabafo" acima ficaria/ficará melhor em outro post, só voltado ao assunto, desconsiderem um pouco a coisa mas espero que saia em breve. Só que um assunto leva a outro, esse baixo nível dessas bolhas de Facebook, canais de Youtube sobre "política", à esquerda e direita mostram, infelizmente, como foi possível o colapso do país.

sábado, 5 de janeiro de 2019

"Nazismo de esquerda" e outras olavices. Aos que buscam informações (corretas) sobre nazismo/fascismo em virtude das últimas eleições no país

Esse post deveria ter saído ano passado ainda, mas vendo o nível de indigência na discussão sobre o "assunto" (como habitual), não deu vontade alguma de ficar em fogo cruzado de idiotas a troco de nada, e tomei a atitude certa de manter distância.

Mas conforme já saiu no blog, há uma série sobre "Nazismo de esquerda?", que abri a pedidos, com trechos de historiadores sobre a natureza de extrema-direita do nazismo. Sendo que considero essa uma discussão idiota, de gente idiota (pra deixar bem claro), que só existe porque temos no Brasil um nível de indigência (falta de leitura, preguiça de ler mesmo), que encontra eco na pregação de seita New Age retrô Anos 80, o "olavismo", do tariqueiro Olavo de Carvalho (que tem um "nome de guerra" que não foi abordado por matérias que fizeram dele), o "guru" New Age dessa "Nova direita" analfa que emergiu no país e agora está no poder, fazendo vergonha (como previsto). Só que agora viraram vidraça, e tem muita pedra pra quebrar esse vidro, como estão na situação, no poder, serão cobrados pelas "soluções mágicas", delírios e distorções ideológicas requentadas que pregaram anos a fio jogando o país neste abismo desde 2013. Pra quem quiser entender como Jair Bolsonaro virou Presidente do Brasil, a história é longa... mas começa por aí.

A quem não tem ideia do que é "New Age" e da proliferação dessas seitas, a qual o Olavo fez parte, nos anos 70/80 rolava muito desses "grupos esóticos", "seitas New Age" (Hare Krishna, Rosa-cruz e afins, eu até gosto da musiquinha), espirituais, cheias de gente "atrás do sentido da vida", "do significado de tudo" e outras baboseiras do tipo (ou seja, gente atrás de preencher algum vazio existencial), fruto de alguma descrença coletiva do mundo, ou descrença nas religiões 'tradicionais' (as religiões majoritárias dos países, principalmente no dito "Ocidente").

É nesse contexto que surge o "guru" da "New Right" brasilis atual, requentando todas essas neuroses da guerra fria pro tempo presente, num mundo completamente distinto daquele, um espertalhão falastrão que viu no vácuo da direita colonizada submissa do país (exaurida no governo FHC, na primeira destruição neoliberal) uma forma de se projetar. Um fato curioso, é que já se nota (como eu vejo, observo) um certo mal estar da população, que no fundo começa a notar que fizeram besteira, mas muita besteira mesmo, mas agora é um pouco tarde pra voltar atrás... mas não foi por falta de aviso... não se "preocupem", está ruim, mas vai ainda piorar e muito antes do caos "passar", se criarem juízo.

Quem quiser conferir, pode ler a série acima (já tem o link), mas seria melhor que lessem um livro sério sobre o assunto em vez de ficarem só se fiando por resuminhos de "jornais espertos" (dessa mídia da OTAN que invadiu o Brasil como: BBC "Brasil", El País "Brasil", DW "Brasil" e vários outros) por pura preguiça de ler, há uma lista de publicações sobre Nazismo aqui:
Bibliografia do Holocausto - Nazismo - Fascismo
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/08/bibliografia-do-holocausto-nazismo.html

Achei que eu havia feito uma lista curta sobre nazismo, mas foi sobre o Holocausto, a quem quiser conferir também, segue o link:
Ranking de livros em português sobre o Holocausto (Bibliografia)
http://holocausto-doc.blogspot.com/2012/06/bibliografia-holocausto-portugues.html

Que não é bem ranking" porque não existe "hierarquia" alguma na lista, mas como a expressão é mais popular acabei a usando.

Depois vejo se faço um "Ranking" (lista) só pra "Nazismo".

Vale a pena também dar uma conferida nos vídeos do canal "Leitura ObrigaHISTÓRIA", no Youtube, sobre esses temas, Fascismo, Nazismo e cia. Sugeriram o canal e eu gostei.

Em suma, foi uma indigência o "nível" de discussão da última eleição, de lado a lado, uma esquerda tosca que não sabe o que é Fascismo (confunde com autoritarismo) "lutando" com uma direita igualmente tosca que diz que o Brasil vivia uma "ditadura comunista" (com o Santander, Itaú e cia). Como uma pessoa disse uma vez numa rede dessas, "o problema do Brasil não é ideológico, é cognitivo", e infelizmente cada vez mais eu concordo.

P.S. virou um verdadeiro hospício o post sobre a "Moeda nazicomunista", pra quem quiser ter uma ideia do que é "olavismo", pode ir lá ler já que só vive no topo dos mais lidos, entre outros.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

"Ninguém verdadeiramente perseguiu os nazis após a guerra". Livro sobre Mengele

Josef Mengele devorou-se a si próprio

La disparition de Josef Mengele é um brilhante mergulho na intimidade de um monstro nazi, nos seus anos de fuga na América do Sul. Ao entrar no quotidiano, inicialmente ostensivo depois sórdido, do “médico” de Auschwitz, o autor explica como ele escapou à justiça dos homens durante 40 anos mas como foi castigado: devorando-se.

Jan Le Bris de Kerne. 2 de Dezembro de 2017, 16:40

O crânio de Josef Mengele mostrado aos jornalista em 1985 em Embu, Brasil
Robert Nickelsberg/Liaison
O Anjo da Morte, como lhe chamam, exerceu um fascínio perturbante. Em Auschwitz, mais tarde quando conseguiu fugir e desaparecer e depois da sua morte, quando o mundo descobriu a ignomínia das suas actividades. O doutor Mengele, médico sinistro que inflingiu sem piedade os maiores sofrimentos a milhares de deportados nos campos da morte, em nome da experiência médica e do apuramento da raça ariana, era afinal um miserável e obscuro capitão das SS proveniente da burguesia bávara, cobarde, frio e obsessivo, e que se conseguiu esconder na América do Sul durante tantos anos depois do final da II Guerrra graças à acção conjunta do dinheiro da sua família, das cumplicidades locais, tanto na Baviera como nos países de acolhimento, da solidariedade dos exilados nazis e da complacência de governos como o de Perón na Argentina, mas também do Paraguai ou Brasil. Isso permitiu ao “médico” de Auschwitz viver alguns belos anos nas melhores condições, com estreias de ópera, jantares elegantes e soirées de deboche nos bordéis chiques de Buenos Aires.

O nome “Anjo da Morte”, o seu desaparecimento quase sobrenatural, as numerosas lendas que o rodeiam, hipnotizaram as pessoas e anestesiaram percepções. É elevado a encarnação maléfica demoníaca. Ou não. Olivier Guez recusa de forma vibrante esta transfiguração de Mengele, que segundo o autor é um homem como os outros, mais normal do que quereríamos que fosse, tragicamente humano, na verdade, que obedecia às ordens, que construía a sua pequena carreira, vaidoso e indiferente ao sofrimento que o rodeava. Até ao fim viu-se como executor de ordens, obediente e ao serviço da grandeza alemã.

PÚBLICO - Foto. Olivier Guez, 43 anos,
nascido em Estrasburgo, é escritor,
jornalista, ensaísta JF
O grande interesse do romance de Olivier Guez (porque é um romance de não ficção, ou seja, muito fiel à realidade e abundantemente documentado) é que relata com precisão os protagonistas e os fatos da fuga do criminoso de guerra como uma câmara de espionagem: o autor infiltra-se o mais possível perto de Mengele. Este vai meter-se, de forma inexorável, num longo caminho da cruz feito de solidão, de terror, de raiva e paranoia. Uma lenta queda começa nas várias quintas que o aceitaram esconder a troco de somas exorbitantes.

Doente e insone, afunda-se. A sua decadência mental e física, o isolamento e abandono, o seu fim longe do seu país, entregue aos seus demônios em condições materiais sórdidas: tudo isto foi o castigo terrestre, aquele que a justiça dos homens não soube dar-lhe. Mengele acabou por se devorar a si próprio.

Na altura em que o mundo ocidental assiste ao ressurgimento dos populismos e à dissolução dos ensinamentos da paz forjados sobre as cinzas de milhões de vítimas da barbárie, Olivier Guez conclui assim a sua obra: “A cada duas ou três gerações, quando a memória se esvai e quando as últimas testemunhas dos massacres precedentes desaparecem, a razão eclipsa-se e os homens recomeçam a espalhar o mal”.

Olivier Guez, 43 anos, nascido em Estrasburgo, é escritor, jornalista, ensaísta. Co-escreveu o filme “Fritz Bauer, un héros allemand” sobre o procurador que encontrou os traços Adolf Eichmann, o cérebro do Holocausto. Fascinado pelos períodos dos pós-guerras, expõe nesta conversa o seu método, a sua intenção literária. Este livro, de uma atmosfera cirúrgica e que soa como uma premonição, vinda do passado, acaba de receber o Prix Renaudot.

Como é que organizou o seu trabalho?

Há dez anos que trabalho sobre os pós-guerras, quer seja na Europa, na Alemanha ou na América do Sul, portanto não descobria todas estas questões trabalhando sobre Mengele. Tinha escrito “L’Impossible Retour, une histoire des juifs depuis 1945» [O Regresso Impossível, a história dos judeus desde 1945], onde contava a história dos judeus na Alemanha depois da guerra e, sempre em espelho, a relação dos alemães com o seu passado, seja a nível político ou simbólico, mas também de ponto de vista judicial. De seguida escrevi [com Lars Kraume] o argumento do filme “Fritz Bauer, un héros allemand” [Fritz Bauer, um herói alemão], onde se contava como esse grande procurador tinha colaborado com a Mossad, pois é ele que lhes dá a informação da presença de Eichmann na Argentina. E ao trabalhar na preparação do filme, li muito sobre a Argentina dos anos 50 e nesse momento “cruzei-me” várias vezes com Mengele. Disse a mim próprio que ainda havia alguma coisa para fazer relativamente aos nazis na Argentina. Toda a gente sabe que muitos nazis partiram para a América do Sul, mas não se sabe grande coisa, é pouco nítido. Nem tudo tinha ainda sido dito. Existe uma grande bibliografia, mas aqui não conhecemos muito bem o contexto sul-americano. Pensei que havia uma história para contar. Mengele não foi preso, não foi julgado, e morreu velho em 1979. Então existe este mistério: por que razão nunca foi ele preso? Depois há também todas as histórias que se contava sobre ele (por exemplo, as aldeias de gêmeos que teria criado), tudo isso é uma treta. Faltava-me separar o verdadeiro do falso. E depois há a questão mais filosófica: é verdade que ele não foi julgado, mas terá ele sido castigado em algum momento? O que é que a vida lhe reservou? Quem é o “Mengele após Mengele”?

Que tom quis dar ao texto? Como classifica o ambiente estilístico do livro?

Queria qualquer coisa seca, áspera, tensa, não era necessário que o livro fosse uma zona de conforto para o leitor. Nenhum desvio, nenhuma grande demanda onde o autor se coloque em cena, nada de metáforas, nada de grandes descrições. Realmente qualquer coisa muito seca, como a dissecação de Josef Mengele na América do Sul.

PÚBLICO - Foto. Josef Mengele, à esquerda, seguido de Rudolf Hoss,
comandante de Auschwitz, de Josef Kramer, comandante de Belsen,
e de um oficial alemão não identificado Universal History Archive/Getty Images
A cada duas ou três gerações, quando a memória se esvai e quando as últimas testemunhas dos massacres precedentes desaparecem, a razão eclipsa-se e os homens recomeçam a espalhar o mal
Olivier Guez

Encontrou, na bibliografia e nos relatórios de entrevistas, matéria suficiente para reconstituir com precisão as conversas, os estados de espírito, os acontecimentos do dia-a-dia? Ou teve que entrar no campo da ficção?
Não existe diálogo no livro, ou somente discurso indirecto. Não coloquei as personagens a dialogar. Não tinha vontade de as fazer viver dessa maneira. É talvez a minha paixão por Thomas Bernhard [dramaturgo austríaco] que me levou a ter vontade de usar esse tipo de narração. Depois, na bibliografia encontra-se mesmo assim muita coisa. Vou dar-lhe um exemplo. A ligação entre Mengele e Gita Stammer [mulher do casal húngaro que durante vários anos o albergou na sua fazenda no Brasil]. Pelo que pude ler, tiveram uma relação. Onde, quando, como, durante quanto tempo, em que condições, ninguém jamais o saberá. Pelo que a partir do momento em que tenho 95 por cento de certeza que existiu uma ligação confirmada por diversas fontes, aí o romancista apodera-se da matéria e vai “inventar”, entre aspas, as condições dessa ligação.

Ou seja, teve mesmo que entrar na ficção…

Sim, claro, porque a vida de Mengele na América do Sul é totalmente de romance, a sua comitiva é de romance, a sua família é incrivelmente de romance, e consegui recolher muitas informações. Depois há também uma formatação que é ainda romanesca.

Existia já uma quantidade de obras e de estudos “sobre a pista de Mengele”. O que acha que trouxe de novo? A forma de romance permite tapar lacunas ou abrir novas vias?

O meu modelo foi “A Sangue-Frio” de Truman Capote, onde, após ter acumulado enorme quantidade de informações, ele escreveu um objeto literário sublime que ninguém contesta que seja literatura. É um romance verídico ou um romance de não-ficção. Foi o que tentei fazer. Um romancista tem mais liberdade do que um historiador ou um ensaísta. Um historiador necessita de uma carta ou um arquivo que confirme cada uma das suas frases. Eu tenho a minha própria objetividade, depois de ter lido imenso, após ter passado tanto tempo com Mengele, tinha a minha própria opinião sobre o seu perfil psicológico, mas tudo isso suportado por fatos concretos. A partir do momento em que coloquei Mengele no título, tinha uma responsabilidade direta com os leitores. Senão teria que criar uma personagem de ficção completa ou contar uma outra história. Aí está a vantagem do romancista para desenhar o retrato do criminoso em fuga. Durante toda a segunda parte brasileira Mengele já não é de todo um ator da história, ele esconde-se, e isso fornece um cenário fechado que é uma matéria literária formidável.

Você recorre frequentemente ao facto histórico como trama ou objeto dos seus livros. Por quê?

Sou obcecado pelos pós-guerras. No plural: 1914-1945 forma um período completo que é o suicídio da Europa. Há 85 milhões de mortos na Europa nesse período. É alucinante. E creio que ainda hoje vivemos nesse após. Estamos talvez na fase 2 ou na fase 3, mas penso que a Europa não consegue recuperar rapidamente de um tal trauma. Basta ver a quantidade de produção literária, cinematográfica, audiovisual, etc., sobre a guerra e o que se seguiu a ela. Assim, considerando que estamos sempre aí dentro, a fronteira entre a História e o presente é extremamente ténue. E vê-se bem na história de Mengele que ele entra na nossa modernidade. Por exemplo, enquanto ele escuta as suas peças de música clássica no gira-discos no seu terraço – aí está o velho nazi que escuta a sua música clássica –, quando vira as costas e vai embora, os adolescentes vão para lá ouvir Beatles. Eis o encontro com a nossa época. Mengele morreu em 1979, os seus restos mortais são descobertos em 1986, quando estamos já no tempo presente. À escala da História é apenas um grão de areia. Sim, interesso-me pela História, mas não escrevo sobre a Idade Média. Creio que a nossa Europa contemporânea é em larga medida constituída pelo que se passou entre 1914 e 1945.

PÚBLICO - Foto. Wolfgang Gerhard, alegadamente Josef Mengele,
ao centro, entre amigos numa fotografia tirada em data desconhecida
nos anos 70 Bettmann
Um romancista tem mais liberdade do que um historiador ou um ensaísta. Um historiador necessita de uma carta ou um arquivo que confirme cada uma das suas frases. Eu tenho a minha própria objectividade, depois de ter lido imenso, após ter passado tanto tempo com Mengele
Olivier Guez

Por que razão pode Mengele ser uma personagem de romance? O tema é delicado. Não se corre o risco de se dissolver o Mengele histórico naquele do romance, de fornecer contornos da verdade tão frágil e cruel, mais nebulosa, menos tangível, tornando-a ficção no tempo de um livro?

Desde já, não ficciono o Mengele de Auschwitz. Depois, conto a sua vida na América do Sul à minha maneira mas não atraiçoo a verdade histórica. Em terceiro lugar, invento bastante menos do que tudo aquilo que foi escrito sobre Mengele durante muito tempo. Não é por ter a palavra “romance” por baixo que se transforma numa ficção completa. É uma técnica literária [o romance de não-ficção] para contar uma história verdadeira.

Será que os contornos do Mengele de romance são mais fluidos? Não tenho essa ideia, o retrato que faço do homem e da sua cobardia é importante: eu queria mostrar que Mengele era um homem. Detesto quando se apresenta os nazis como marcianos, ou monstros, “o Anjo da Morte”, essas expressões – isso é bastante mais fácil e não é olhar de frente a verdade. E Mengele é um excelente exemplo da mediocridade do mal, que vai ainda mais longe que a banalidade do mal. Era muito importante mostrar quem se escondia por trás dessa personagem do mítico “Anjo da Morte”. Não tenho a impressão de que os seus traços sejam muito mais fluidos, na medida em que respeito a verdade histórica, não faço dele um herói, não há a menor empatia com a personagem, não estou dentro da sua cabeça, ponho-me antes ao lado dele e persigo-o como um detetive para mostrar a sua ruína.

Diz-se que o «Anjo da Morte» exercia, e talvez ainda exerça, um fascínio sobre o público. Será que o escritor e também investigador que você é também se sentiu fascinado por ele? De que forma o mal pode fascinar o escritor? E o público?

Há um mistério Mengele: por que é que ele não foi apanhado e onde é que ele se escondeu durante todos esses anos? O livro responde a isso, existem outros livros, evidentemente, e não tenho a certeza de que muita gente tenha lido as biografias de Mengele publicadas nos anos 80, que são as melhores; digamos então que Mengele se tornou o símbolo da barbárie nazi. Apesar de não ser mais do que um médico entre centenas de médicos, é um simples capitão das SS, não é, por exemplo, um Heydrich [Reinhard Heydrich, conselheiro próximo de Hitler e um dos planificadores do Holocausto]. O que ele fez em Auschwitz enquanto médico é uma traição quádrupla: há as experiências, há a triagem no cais de chegada [dos comboios de prisioneiros], há a falência absoluta das elites alemãs, o horror do que foi feito em nome da Alemanha, e depois há a sua fuga, donde o mito que foi mantido por, entre outros, Simon Wiesenthal [“caçador de nazis”]. Pessoalmente não tenho nenhum fascínio por ele, pelo que não utilizo a expressão “Anjo da Morte” no livro, excepto quando há outras personagens que a usam. Recuso esse fascínio.

Trabalhar longas semanas neste contexto pesado teve influência no seu estado mental, e isso alterou-o? Ou, pelo contrário, você trabalhou com o mesmo distanciamento de um cientista (ia dizer de um médico…)?

Isso pesou no início, quando ataquei verdadeiramente a sua biografia e o médico nazi nos campos de concentração. A partir do momento em que compreendi como iria contar esta história, a sua derrota, e como este homem era tão pequenino, e talvez o facto de nunca ter sentido a menor empatia com ele, isso permitiu-me sentir-me como um marionetista. O nome de Mengele causa um sentimento de pavor, como uma aranha, ou qualquer coisa infecta nesse nome, naquilo que ele evoca. Mas a sua ruína, e a partir do momento em que compreendi quais eram os seus traços, permitiu-me tornar-me este marionetista.

PÚBLICO -Foto. Josef Mengele no Brasil na década de 70, o segundo à esquerda,
entre amigos não identificados e Elsa Gulpian de Oliveira, a empregada com
quem teve um romance Robert Nickelsberg/The LIFE Images Collection/Getty Images
Primeiro: que é evidente que o nazismo não morreu em 1945. Segundo: que sem dinheiro ele não teria ido muito longe. Terceiro: que, no fundo, ninguém verdadeiramente perseguiu os nazis após a guerra (Olivier Guez)
Qual é a sua opinião pessoal, na medida do conhecimento que tem sobre o assunto, sobre o que se descobriu graças a si: a família, o círculo mais íntimo, os amigos, os cúmplices de todo o gênero, a Argentina, etc.? A inacreditável facilidade com que todos aceitaram, anulando toda a empatia e toda a compaixão pelas vítimas de Mengele?

Primeiro: que é evidente que o nazismo não morreu em 1945. Segundo: que sem dinheiro ele não teria ido muito longe. Terceiro: que, no fundo, ninguém verdadeiramente perseguiu os nazis após a guerra.

O que iria fazer sofrer mais Mengele no fim da sua vida – e o cúmulo da ironia para quem trabalhava sobre genética, filiação, raça – é o seu próprio filho. E também o facto de ter tido como últimas companhias mulheres não-arianas (uma húngara e uma brasileira, ainda por cima ambas pouco submissas). E o facto de ter sido privado do seu trabalho. Acha que Mengele recebeu na América do Sul um castigo pelos seus crimes? Que de alguma forma pagou, como numa roda de karma, pelo mal que infligiu?

Estou convencido de que se tivesse sido preso e julgado pelos alemães ele safar-se-ia. Já tinha escapado à incerteza que o roía durante 20 anos. Com os meios da sua família ele teria tido os melhores advogados da Alemanha. Depois, teria adotado a linha de defesa de Eichmann, “uma ordem é uma ordem, e para além disso eu salvei vidas” (com efeito, ele não enviava diretamente toda a gente para as câmaras de gás), e que não passava de um simples capitão. A sua família poderia vê-lo, a sua segunda mulher... Penso que ele se teria safado muito melhor se tivesse sido preso pelos alemães. Ele não teria tido que viver com essa paranoia, essa angústia que o engolia todos os dias.

Já com os israelitas teria sido diferente. Muito diferente. Eles ter-lhe-iam feito pagar caro, muito caro, num processo como o de Eichmann. Teria certamente sido condenado à morte.

Em parte, sim, ele foi castigado. Mengele autodevorou-se. Talvez seja esse o tema do livro. Como Mengele se autodevorou. Corroeu-se, corroeu-se. Sozinho. Porque no final ele era muito pouco procurado. Ele só foi verdadeiramente procurado durante três ou quatro anos. Em 30 anos isso não é nada. Mas nos anos 50 ele persuadiu-se de que por trás de cada palmeira da savana brasileira se escondia um agente da Mossad. E isso constitui uma matéria literária fascinante.

O seja?... Os ataques de paranóia, de demência? Do monstro que se volta contra si próprio?

O espaço fechado. A loucura. É preciso compreender que Mengele não é um aventureiro, é o filho de grande burguês e depois da guerra ambicionava ser professor na universidade. Fui a todo o lado. Descobri uma das fazendas no Brasil, onde ele passou dez anos. A não ser para uma estadia em viagem, você percebe o inferno que isso é para um burguês europeu. É um inferno: a humidade, o calor, os bichos, os mosquitos, as cobras…

Fonte: Público (Portugal)
https://www.publico.pt/2017/12/02/culturaipsilon/entrevista/josef-mengele-devorouse-a-si-proprio-1794028

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...