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segunda-feira, 14 de março de 2011

Biografia de Salazar, de Filipe R. Meneses - "Mais perto do vício do que da virtude"

Entrevista com o investigador Filipe Ribeiro de Meneses
"Mais perto do vício do que da virtude"

O autor da primeira biografia académica de Oliveira Salazar defende que o ditador se considerava o português mais capacitado para governar

Filipe Luís

No livro, parece defender que a principal prioridade de Salazar era manter-se no poder. Como explica a ideia do "sacrifício pessoal", as suas vacilações no cargo?

Não encontrei nada que me fizesse acreditar que Salazar alguma vez pensou a sério, e desejou, sinceramente, retirar-se da cena política, e sobretudo da Presidência do Conselho de Ministros. Teria feito todo o sentido, do ponto de vista da evolução do regime, a sua eleição à Presidência da República após a morte de Carmona: seria a demonstração cabal de que o regime era mais do que só Salazar. Mas Salazar travou essa eleição porque significaria a sua marginalização - isto depois de quase duas décadas a proclamar o desejo de se afastar de São Bento... Havia, parece-me a mim, uma enorme encenação a este respeito.

Mas é credível a tese do "sacrifício"?

Não mais nem menos do que o que sucede com outras figuras políticas - e Salazar era mais dono do seu tempo do que qualquer seu sucessor o conseguiu ser. Não tinha de comparecer perante o parlamento; raramente reunia o Conselho de Ministros; não se tinha de preocupar em manter a liderança partidária; não tinha de ir a Bruxelas semana sim, semana não... Tinha a vida que queria, e trabalhou como quis. Idealizou uma forma de governar e foi-lhe sempre fiel.

O poder era o seu "oxigénio", viciou-se nele, ou devemos acreditar na tese do espírito de missão?

Salazar desejava o poder, e convenceu--se de que governaria melhor do que qualquer outro português. Estou convencido de que ele acreditava ser (ou que a certa altura acreditou ser) uma figura providencial. Reprimiu quem reclamasse uma alternativa ao regime, mas travou a evolução desse mesmo regime para se proteger, impossibilitando assim o que sempre disse desejar - passar alguns anos antes da morte no Vimieiro, longe da política, tratando do seu jardim. Parece-me assim estar mais próximo do vício do que da virtude.

Nunca assumiu uma relação ou um casamento por deveres do Estado? Ou os compromissos afetivos assustavam-no?

A primeira explicação sempre me pareceu disparatada. Mas isso não quer dizer que a segunda seja correta. Parece--me mais simples dizer que organizou a vida como quis, subalternizando a vida emocional à carreira profissional.

Estabelece uma diferença entre Estado Novo e salazarismo. Qual é ela, tendo em conta que o Estado Novo, praticamente, não sobreviveu a Salazar?

Parece-me que o salazarismo - a fidelidade à pessoa de Salazar - era uma das muitas correntes que existiam dentro do Estado Novo. Este foi a continuação de uma ditadura militar em que vários movimentos combatiam pela supremacia ideológica, não desaparecendo automaticamente com a ascensão ao poder de Salazar. Havia republicanos conservadores, fascistas, monárquicos, católicos... e, pelo meio, oriundos destes setores e até de outros, surgiram os salazaristas. Mas não era fácil ser salazarista: o líder aparecia pouco, falava menos, e não gostava da palavra "salazarismo". O líder não queria deixar-se prender por um programa detalhado, e desconfiava de quem o quisesse seguir a todo o custo... Se o Estado Novo mal sobreviveu a Salazar não foi devido ao enorme vazio que este deixou e que Marcelo Caetano não conseguiu colmatar - foi porque, graças à guerra colonial, Salazar deixou o regime numa situação impossível de resolver.

Encontrou um Salazar-ser humano versus um Salazar-estadista? Ou as duas faces confundem-se?

As duas faces confundem-se. Se Salazar tem dúvidas sobre o caminho a seguir, estas são passageiras e apenas confiadas a um número muito reduzido de interlocutores. O professor de Direito - ou o católico - parece preocupar-se pouco com os poderes da PVDE/PIDE, com o que se passa no Tarrafal, com o assassinato de Humberto Delgado. O homem que se orgulhava de ter "nascido pobre" é insensível à pobreza extrema que se encontra no País, ou à emigração que a política económica dos seus governos provoca. Nunca visitou as colónias mas não duvidava do caminho traçado quanto à preservação do Ultramar.

Defende que Salazar estava convencido de que o seu regime era o mais apropriado à índole do povo português. Tendo em conta a longevidade do Estado Novo, esta tese não estaria certa, pelo menos no seu tempo?

Mas - justamente - qual é o seu tempo? São os anos Trinta, Quarenta, Cinquenta ou Sessenta? Qual é o verdadeiro Estado Novo? O segredo da longevidade do regime reside na sua capacidade de resposta e de evolução, acompanhando, de forma distorcida e sempre com algum atraso, o que se passa no resto da Europa. Salazar está no centro da teia, e luta por lá se manter, mas as prioridades do regime mudaram constantemente, porque os intervenientes também mudaram. Salazar quis, e conseguiu, ir renovando a sua elite ministerial de forma a evitar a cristalização do Estado Novo.

Há quem diga que, se Salazar se tivesse submetido a eleições livres, as teria ganho. Faz algum sentido?

Custa a crer, seja na realização de eleições livres em Portugal antes de 1974, ou na capacidade de Salazar de as ganhar. Mas uma coisa era votar contra Salazar dada a oportunidade de o fazer livremente - muitos o teriam feito - e outra bem diferente era lutar para que essas eleições se realizassem. Foram poucos os que o fizeram.

A faceta das violências, da repressão e dos crimes do regime não está relativamente desvalorizada no seu livro? Ou deve-se isso a um esforço de distanciamento político?

Não gosto do termo "desvalorizado".
A repressão existiu, e os crimes foram cometidos. Mas não escrevi uma história do Estado Novo - escrevi uma biografia política do seu líder. E por isso tentei transmitir no livro o distanciamento que Salazar criou entre essa repressão e a sua pessoa. Precisava dela para se manter no poder, mas não queria conhecer os detalhes do que se passava no Aljube ou em Caxias. Quando lhe chegava às mãos uma queixa precisa sobre o mau tratamento de presos políticos, pedia esclarecimentos ao diretor da PIDE - que obviamente dizia que as queixas eram injustas - e o caso morria aí. Era como a pobreza: denúncias da situação em que muitos portugueses viviam chegavam às mãos de Salazar, mas este não reagia. Era extremamente frio.

Dois dos períodos mais importantes do regime foram as guerras de Espanha e Mundial. Nota-se, no livro, um certo fascínio pela forma como Salazar se desenvencilhou nesses períodos...

Sem dúvida. Foi um esforço enorme, possível apenas graças a uma tenacidade e uma força de vontade singulares, impressionantes até. Trabalhou sob uma pressão constante durante quase dez anos. No entanto, temos de nos lembrar que muitas das decisões tomadas (a começar pelo apoio dado aos militares espanhóis em 1936) foram guiadas pelo desejo de salvaguardar o regime e, por isso mesmo, a posição do próprio Salazar: era isto depois apresentado como o verdadeiro interesse nacional.

Foi o homem certo no lugar certo durante a II Guerra Mundial? Teve aí ocasião para revelar o seu génio?

Revelou o seu génio (especialmente no que toca a Espanha durante a II Guerra Mundial), mas também as suas limitações. Demorou demasiado tempo a entender a fraqueza estratégica da Alemanha e as vantagens de que dispunha a Grã-Bretanha. Desta demora resultou, em parte, o desentendimento com Armindo Monteiro. Por outro lado, não parece ter entendido o funcionamento da Alemanha nazi. Convencido da paixão alemã pela eficiência, pela sistematização e pela uniformização, Salazar não se apercebeu da falta de nexo e de lógica que caracterizavam a política de guerra alemã. Vendo em Hitler um político tradicional, Salazar parece ter acordado demasiado tarde para o que aconteceria quando à política racial dos nazis se juntasse à necessidade de vencer uma guerra mundial. O facto de Salazar nunca ter denunciado o Holocausto, mesmo depois de finda a guerra, conta contra ele.

Tinha mesmo prestígio e notoriedade internacionais (sobretudo nos anos 30 ou 40) ou essa ideia resulta mais da propaganda do Estado Novo?

Salazar tinha mesmo prestígio. Não há dúvida que os mercados financeiros o admiravam. Os elogios feitos pelo Times ao ministro das Finanças português a partir de 1928 são disso testemunha. Por outro lado, a Europa dos anos Trinta estava a evoluir em direcção à extrema-direita, mas não o estava a fazer como um bloco unido: e nem todos os que pensavam que a era dos regimes parlamentares tinha acabado desejavam ser governados por demagogos como Hitler e Mussolini, ou generais brutais como Franco. Salazar aparecia como um modelo a seguir, sobretudo no mundo Católico. O seu passado profissional funcionava como uma garantia do seu valor, da sua modéstia e da sua moderação. Porém, quando se escrevia sobre ele, ou sobre Portugal, no estrangeiro, era com base nas publicações do Secretariado de Propaganda Nacional, o que criava uma imagem falsa da realidade portuguesa, sobretudo do corporativismo nacional.

Nota-se uma fractura entre o ante e o pós-guerra, no regime e na própria energia de Salazar. Salazar deixou de acreditar em si e no país?

É muito difícil falar sobre este período da vida de Salazar. Por um lado não deixou de trabalhar; consultamos os seus diários e vemos que ele continuou a receber pessoas, a rever legislação, a exercer a tutela habitual sobre a administração do país. Por outro lado, porém, quem o conhecia melhor estava espantado, ou mesmo assustado, com a sua condição física. Parece-me que a crise teve a ver com a dificuldade em ler o que se iria passar no mundo e, por consequência, em Portugal. Haveria guerra com a União Soviética? Qual o papel dos comunistas nos governos francês, belga e italiano? Sobreviveria Franco à enorme pressão internacional a que estava sujeito? Recuperaria a economia europeia? Qual o papel dos impérios coloniais num mundo dominado por soviéticos e norte-americanos (sobretudo após a independência da Índia)? O Estado Novo tinha demonstrado as suas limitações durante a guerra, e a contestação popular tinha aumentado. Salazar precisava de paz e de estabilidade, precisava de saber com o que contava no resto do mundo. Uma vez definida a situação internacional, o estado de espírito de Salazar melhorou.

O que pensava Salazar dos portugueses?

Salazar queixava-se sobretudo da falta de elites que o ajudassem a governar; muitos dos que tinham a educação necessária não eram politicamente aproveitáveis (e note-se que Salazar admitia a posições de responsabilidade pessoas oriundas de passados políticos bem distintos). No fundo era uma visão nacionalista e contrarrevolucionaria clássica: um povo rude mas bom, mal servido por uma elite politiqueira, dividida em fações inúteis e estéreis, incapazes de pensar no bem comum.

De episódios que o senhor descreve nesta obra podemos concluir que era Salazar detentor de um fino e inteligente sentido de humor?

Absolutamente. São extremamente divertidos os comentários trocados com o Secretário-Geral do MNE, Embaixador Teixeira de Sampaio, sobre Nicolás Franco, irmão e Embaixador do ditador espanhol em Lisboa. Mas, em geral, só alguns eleitos tinham contacto directo com este sentido de humor. Mesmo assim, por vezes o público tinha acesso a esta faceta de Salazar - veja-se, por exemplo, os artigos escritos no jornal Novidades durante a ditadura militar, em que Salazar criticou a obra financeira do General Sinel de Cordes de forma acessível a todos.

A ideologia ruralista, o medo do cosmopolitismo, do desenvolvimento, da prosperidade económica, faz de Salazar um asceta, um ecologista prematuro ou um provinciano de horizontes limitados?

Salazar era nacionalista, mas tinha pouca fé no seu país, sobretudo na capacidade de sobrevivência de Portugal se completamente aberto a influências estrangeiras. Pensava, como muitos nacionalistas (não só portugueses) que a população urbana estava atingida por um cosmopolitismo prejudicial. Mas Portugal nunca foi uma fortaleza do isolacionismo, nem mesmo nos anos Trinta - e nos anos Cinquenta e Sessenta sofreu transformações importantes na sua estrutura económica e no seu relacionamento com o resto da Europa. Salazar era cauteloso, mas não era, regra geral, dogmático. E onde ir buscar as elites de que tanto precisava para administrar o país e as colónias senão às cidades?

As observações de Salazar sobre o destino de um Portugal sem colónias, com cedências de soberania, estão de alguma forma confirmadas pela atualidade?

Passamos aqui da História para a política. Mas parece-me que a resposta à sua pergunta é 'não' - e isto porque Salazar conduziu o País - mas sobretudo o regime - para um beco sem saída por causa das colónias. Era impossível, como Marcelo Caetano depressa constatou, transformar o Estado Novo em algo mais aceitável domestica e internacionalmente quando se continuava a combater em África, quando era necessário o apoio de Pretória e de Salisbúria e quando a situação interna se estava a radicalizar. O "orgulhosamente sós" foi muito mais perigoso para a soberania nacional, e o papel de Portugal no mundo, do que qualquer outra política desde então seguida. Após o 25 de Abril e o PREC, a integração europeia deu um novo fôlego a Portugal, permitindo que o País se reinventasse após a queda dos mitos salazaristas e revolucionários. O que a União Europeia não fez, claro, foi transformar Portugal num país rico, e por isso as dificuldades financeiras de que Salazar beneficiou para se tornar parte imprescindível da ditadura militar a partir de 1928 continuam a atormentar a nossa vida nacional, 80 anos depois...

Salazar continua vivo e influente? O que subsiste e o que desapareceu?

O interesse em Salazar e no Estado Novo, que é enorme, não deve ser confundido com saudade do regime; é sobretudo o desejo natural de entender as especificidades do caso português, de tentar entender por que somos como somos (embora me pareça, após ter escrito o livro, que temos a tendência de exagerar o papel de Salazar neste processo: as nossas qualidades e os nossos defeitos, assim como alguns dos problemas que se nos atravessam pela frente são bem anteriores ao Estado Novo). Porém, nem todos os que tentam ir ao encontro deste interesse sobre o passado o fazem isentos de fins políticos. Quero dizer com isto que a memória de Salazar e algumas das suas características pessoais (o cuidado com os dinheiros públicos, por exemplo) são usadas como armas de arremesso ideológicas contra a "situação" atual. Quarenta anos depois da sua morte, pouco parece restar da obra de Salazar, porque Portugal seguiu um caminho bem diferente do por ele desejado. Mas se a I República não marcou um novo começo para Portugal e se o Estado Novo guardou muito da I República, parece-me lógico partir do princípio que o corte entre Estado Novo e o regime atual não foi total.

Fonte: Visão(aeiou, Portugal)
http://aeiou.visao.pt/mais-perto-do-vicio-do-que-da-virtude=f570269

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A natureza fascista do salazarismo

Obra de historiador Manuel Loff descrita por Fernando Rosas como «inovadora e refrescante»
Por: Redação/ HB
Apresentação do livro «O Nosso Século é Fascista»

Como é que a direita portuguesa de Salazar e a espanhola de Franco se tornaram fascistas? Esta é uma das questões a que o historiador Manuel Loff propõe uma resposta, ao longo de quase mil páginas, no seu livro «O Nosso Século é Fascista», apresentado esta tarde em Lisboa pelo também historiador Fernando Rosas.

Na livraria Círculo de Letras, Rosas descreveu a obra, que resulta de «10 anos de investigação», como «um trabalho incontornável sobre a natureza destes regimes» do sul da Europa. «É inovadora e refrescante no velho debate que temos vindo a travar acerca da natureza destes regimes», acrescentou, realçando que foi feito um trabalho de consulta de arquivos «de Portugal, Espanha, Itália, Grã-Bretanha e EUA».

Fernando Rosas salientou de forma particular a forma como Manuel Loff explora o «processo ideológico de fascistização das direita portuguesa, espanhola e italiana». «Como é que se dá esse fenómeno em que honrados católicos, republicanos, conservadores respeitáveis, se transformam em apoiantes do nazismo e fascismo, como é que as direitas se rendem à necessidade de liquidar o estado liberal, de reprimir o movimento operário, de acabar com o parlamentarismo do demo-liberalismo, como é que esse processo de reconversão ideológico se dá num quadro da hegemonia das ideias da nova ordem, que se tornam as ideias de um vasto sector da direita unificada», resumiu desta forma as questões levantadas pela obra.

Manuel Loff, doutorado pelo Instituto Universitário Europeu, em Florença, defende que o regime salazarista se trata de um fascismo, à semelhança do que aconteceu na Espanha de Franco, na Itália de Mussolini e na Alemanha de Hitler, com base na investigação dos processos que levaram a uma transformação das sociedades da época, devido à «contaminação que as ideias da nova ordem» exerceram.

Fonte: Diário(Portugal)
http://diario.iol.pt/sociedade/salazarismo-fascismo-livro-iol-salazar-estado-novo/998427-4071.html

domingo, 8 de junho de 2025

Finalmente uma boa notícia pro Brasil, o que diz os números do novo Censo brasileiro sobre religião: o fenômeno evangélico começa a estagnar...

Ex-presidente J. Bolsonaro e esposa em
igreja evangélica neopentecostal
Já havia assistido (só não lembro o nome do canal, se não me engano tinha o título com IBGE, e tinha uma abordagem religiosa, eu coloquei pra saber dos números, não pra "saber" da abordagem religiosa propriamente, a quem quiser procurar, saiu antes de anunciarem oficialmente o censo, só que não abri post esperando os dados), mas saíram os números do censo demográfico (de 2022) sobre religião no país que aponta dados interessantes sobre o assunto, a estagnação do crescimento evangélico (neopentecostal principalmente), na verdade, decresceu o aumento, crescimento do grupo dos "Sem religião", religiões afro, espíritas e uma certa estagnação também na queda do número de adeptos do catolicismo.

A quem quiser ler matéria sobre o Censo, seguem os links abaixo, a abordagem aqui citará outras questões que essas matérias não comentaram (discuto o assunto com outras pessoas, o que possibilita a chegar às conclusões), os links (da BBC):

"IBGE mostra que crescimento evangélico desacelerou pela 1ª vez desde 1960, enquanto religiões de matriz africana e número de brasileiros que se declaram sem religião têm alta: https://bbc.in/3SFdDpi". "Avanço evangélico perde força e outros 7 dados inéditos sobre religião no Censo 2022" (https://www.bbc.com/portuguese/articles/crk2p5xr0m7o).

Outra matéria interessante da BBC sobre a queda do "fenômeno evangélico"....

""Temos identificado que começa a existir uma espécie de desgaste de um tipo de cristianismo entre os próprios evangélicos", diz a cientista política Ana Carolina Evangelista" 'Excesso de política nas igrejas tem gerado desgaste entre evangélicos. As pessoas não se reconhecem mais nas lideranças'" (https://www.bbc.com/portuguese/articles/cre9lqe4zvwo).

A segunda matéria tem até a ver com o que eu ia abordar sobre a questão aqui. Não lembro de ter lido a abordagem sobre o tema da "secularização" das sociedades, do "secularismo", que casou com a questão do extremismo político (a repulsa a isso).

Hitler e representantes das Igrejas na 
Alemanha, regime Nazista
A religião (cristã, as várias vertentes) na Alemanha declinou após a segunda guerra mundial pela associação das religiões, destacadamente o protestantismo (mas o catolicismo também afunda na Alemanha) associado ao Nazismo, ao regime hitlerista
.

As igrejas católicas em Portugal vivem às moscas, às traças, pela secularização e pela associação da Igreja católica com o regime salazarista. As igrejas de massas na Europa se associaram com as várias vertentes de regimes autoritários pela Europa antes e na segunda guerra mundial principalmente, e de forma contínua nos países que mantiveram isso como Portugal, Espanha, Grécia (pouco lembrada)...

Nos países do bloco socialista houve algo inverso, a proibição das religiões provocou estabilidade e crescimento na coisa após a queda do bloco soviético/socialista e até rejeição das siglas de esquerda. Vejam como os fenômenos se entrelaçam com rejeição a políticas de Estado, regimes.

A quem quiser ler mais sobre os temas:
Ditadura grega (https://en.wikipedia.org/wiki/Greek_junta) (https://holocausto-doc.blogspot.com/search?q=gr%C3%A9cia)
Salazarismo (https://holocausto-doc.blogspot.com/search?q=salazarismo)
Franquismo (https://holocausto-doc.blogspot.com/search?q=franquismo)

No Brasil o fenômeno neopentecostal (principalmente), que usava o nome mais amplo de "evangélico", se associou fortemente a extremismo político (bolsonarismo/olavismo) e já se associava a essas expressões ultraconservadoras importadas dos Estados Unidos pro Brasil. Na parte católica, os grupos ditos "carismáticos" e assemelhados também se associam a esse conservadorismo político, embora não seja exclusividade só desses grupos.

Também se pode destacar a associação desse fenômeno neopentecostal/evangélico (em sentido amplo, porque atinge denominações tradicionais protestantes de matriz norte-americana) ao apoio ao extremismo sionista em Israel e fora de Israel, que está executando genocídio na Faixa de Gaza (https://press.un.org/en/2024/gapal1473.doc.htm). A associação com regimes extremistas como o Bolsonarismo/olavismo, extremismo político (principalmente de direita) vai afastando os adeptos dessas igrejas, organizações e cia. As pessoas cansadas do extremismo, cansadas das "falsas promessas" da "teologia da prosperidade" (https://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_da_prosperidade) que não se cumpre e enriquece gente sem escrúpulos vai criando um movimento de distanciamento, afastamento da maioria das pessoas dessas seitas/igrejas.

Isso vai se associando à secularização que é a perda de força da influência religiosa sobre aspectos da vida pública e cultura no país. Ironicamente, o extremismo político raivoso de direita sedimentou a secularização de novo no país, que não é um processo que "brota do nada", e é algo coletivo, grande, que vinha forte no fim da ditadura militar no Brasil (a associação do regime com igrejas, principalmente a Igreja católica, provocou descrença na Igreja católica e abriu espaço pros neopentecostais) e foi interrompido por esse crescimento neopentecostal no Brasil parece que retornou, com vigor e força, e isso é muito bom pro país.

A quem não gostar do assunto, procure brigar com o número do Censo e as "causas" apontadas em vez de dar "chilique", faniquito porque não são afeitos (acostumados) a críticas (com base, ninguém está "inventando" nada aqui, pra criticar algo tem que ter base em alguma coisa sempre, e fontes).

P.S. não se assustem também se começar a "pipocar" (estourar) o fenômeno de "pastores" e "padres" caindo em uma "fofurice" "arrependida" dos "pecados" de terem abraçado esse extremismo político e religioso pra tentar evitar a perda de adeptos/fiéis... a perda de adeptos/fiéis impacta diretamente na "Receita" (fundos) desses agrupamentos... e quando bate no "bolso", o "amor quase sempre acaba" (veem-se obrigados a adotar outra linha ou sumir com o tempo). Pros que quiserem acreditar no "arrependimento" desses "surfistas de onda" do extremismo que se consolidou no país desde o maldito junho de 2013 (https://www.bbc.com/portuguese/articles/cv281p5znrjo a revolução colorida "made in USA" que destroçou um país, como vários outros, vide a Síria e vários países de maioria árabe).

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Império, Nação, Revolução – As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)

Relações Internacionais (R:I). Versão impressa ISSN 1645-9199
Relações Internacionais n.31 Lisboa set. 2011

As direitas radicais na fase terminal do Estado Novo

Riccardo Marchi
Império, Nação, Revolução – As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)

Lisboa, Texto, 2009, 439 páginas

O livro tem por objetivo o estudo dos movimentos da direita radical na fase terminal do Estado Novo – a década de 1960 e os quatro primeiros anos da seguinte –, procurando enquadrá-los no quadro geral da história política e ideológica do regime. Por isso, o autor vai mais longe e procura definir as linhas de continuidade/descontinuidade entre este período e os antecedentes.

MOVIMENTOS DE INTELECTUAIS

Os movimentos da direita radical em Portugal são essencialmente de extracção intelectual e têm como pólos os principais centros universitários do país: Lisboa e Coimbra. Aliás, era essa a tradição, como acontecera já com o Integralismo Lusitano, na década de 1920, que acabou por se desagregar no imediato pós-28 de Maio de 1926, a partir do qual as suas facções mais radicais ou desaparecem ou se aproximam gradualmente da nova situação, acabando por se integrar no regime autoritário implantado por Salazar a partir da Constituição de 1933 (vide a Ordem Nova, em que pontificavam Marcello Caetano e Teotónio Pereira). A excepção poderia ter sido o nacional-sindicalismo de Rolão Preto – o único movimento da direita radical concebido para as massas –, prontamente proibido e banido por Salazar que, como acentua o autor, «não era um fascista, não era um chefe de massas, não era um líder carismático à maneira dos anos 30» (p. 390).

Aproveitando a conjuntura política ditada pela II Guerra Mundial e a «lógica bipolar da Guerra Fria» na qual Portugal assume um papel estratégico significativo, Salazar pôde, sem grandes dificuldades, «apagar as tensões políticas que tinham emergido no imediato pós-guerra, reprimir o activismo da oposição, afastar o derrube revolucionário da situação e relegar o tema da abertura do regime a um morno debate interno entre ortodoxos e liberais» (p. 15). O que acaba por afectar a capacidade de acção das facções mais radicais da direita portuguesa que, na década de 1940 e no contexto da guerra, se assumiam como defensoras do fascismo italiano e no nacional-socialismo alemão. Daí que na década seguinte se assista a uma letargia profunda da direita radical, ficando os seus membros limitados «a encontros ocasionais e a manter relações epistolares, de troca intelectual» (p. 17).

Como acentua António Costa Pinto no «Prefácio», o reacender da centelha emerge essencialmente de três catalisadores: «o motor intelectual do neofascismo europeu, a derradeira batalha pela sobrevivência do império colonial português e a chegada ao poder de Marcello Caetano, com o seu ímpeto inicial de reforma do regime» (p. 13).

Ao longo das 400 páginas do seu livro, Riccardo Marchi descreve pormenorizadamente o percurso, por vezes labiríntico e sinuoso, dos movimentos da direita radical em Portugal, cuja periodização essencial pode ser feita em torno de três publicações.

A revista Tempo Presente (1959-1961), que tem como director Fernando Guedes e como membros do Conselho de Redacção Caetano de Melo Beirão, António José de Brito, Goulart Nogueira e António Manuel Couto Viana, cujo ideário assenta na defesa de um corporativismo totalitário neofascista.

O semanário Agora (1961-1969), em que reaparecem antigos militantes nacionalistas da década de 1940, como Raul Carvalho Branco (director e editor), Manuel Saldida e José O’Neill, que, como chefe de redacção, é quem controla de facto a publicação, assumindo-se como porta-voz da «direita "caceteira"». Como sumaria Marchi, o tema principal é a guerra em África, em cujo contexto defendem a construção de «uma frente nacional contra os inimigos da Pátria», a luta contra a «Frente Leste interna» (os traidores instalados no regime, os cépticos, os incapazes, os prudentes), que «integra a panóplia dos inimigos que o nacionalismo radical combate já desde os anos de Alfredo Pimenta: o catolicismo progressista longa manus do comunismo, os liberais-democratas, cuja oposição ao Estado Novo enfraquece o Império em proveito do imperialismo russo-americano, o sionismo internacional» (p. 191). Por não se reverem na linha editorial definida por O’Neill, os homens da Tempo Presente não participam até 1967, ano em que este é substituído por Goulart Nogueira que traz para a redacção «toda a componente neofascista do nacionalismo radical» (p. 197).

Quando Marcello Caetano substitui Salazar, em Setembro de 1968, o Agora salienta sobretudo a continuidade do Estado Novo para além de Salazar, de cuja obra o primeiro não deixaria de ser o prossecutor. Mas, dois meses depois, perante as perspectivas de «abertura», passa ao ataque:
«As páginas do Agora tornam-se um apelo semanal à área nacional-revolucionária para que se estreite em torno dos valores originários da Revolução Nacional dos anos 30 e se oponha a todos os dirigentes do Estado Novo [...] que hoje, iluminados pelos valores liberais-democratas, "se entretêm, por mundos e fundos, a dar-nos conta das excelências dos papelinhos pelos quais se decide tudo [...]"» (pp. 202-203).
A resposta marcelista foi inexorável e feita da maneira tradicional: através da Censura. O semanário vê-se obrigado a fechar definitivamente com o número de 29 de Março de 1969.

MARCELLO CAETANO, A LIBERALIZAÇÃO E O IMPÉRIO

A publicação da revista Política (1969-1974), propriedade da sociedade Edições Polémica, constituída com esse único fim, inicia-se a 22 de Novembro de 1969. Tem como director Jaime Nogueira Pinto e entre os sócios fundadores da editora conta-se Francisco Lucas Pires, ambos integrados na corrente nacional-revolucionária. No entanto, acentua Riccardo Marchi, «não é uma revista nacional-revolucionária» na medida em que nela participam «representantes das diversas almas do nacionalismo português, monárquico, republicano, católico, salazarista, todas convergentes em torno das teses integracionistas» (p. 298), «reunidos à volta da aversão ao Governo de Marcello Caetano e, sobretudo, à ala tecnocrática liberal cada vez mais influente no interior do regime e perigosamente activa nos assuntos vitais para o nacionalismo radical, nomeadamente a política ultramarina» (p. 293). É aliás a «Ala Liberal», ou melhor, o seu espírito (p. 304) presente na Assembleia Nacional depois das eleições de 1969, um dos inimigos principais para os redactores da revista, que julgam as suas posições «à luz do princípio de que as guerras subversivas vencem-se nas frentes de batalha e perdem-se nas retaguardas, com a abertura de fendas demo-liberais no tecido do Estado autoritário, disfarçadas de reformismo modernista» (Ibidem). A campanha contra os liberais da Assembleia Nacional é uma constante em todos os números da revista e intensifica-se desde o Verão de 1972, após a publicação do manifesto da SEDES «Portugal: o País que somos e o País que queremos ser». E «o crescente peso que os liberais assumem no interior das instituições do Estado torna-se uma das culpas mais graves imputadas pelos nacionalistas radicais ao Presidente do Conselho» (p. 306).

A última grande batalha da Política foi o I Congresso dos Combatentes, em grande plano na revista em Junho de 1973. A questão é candente e cara aos nacionalistas, porque, para além da deriva liberal do marcelismo dos primeiros anos, agora estava em causa a própria pessoa do presidente do Conselho que fizera aprovar uma revisão constitucional que apontava para a autonomia progressiva das colónias, que podiam, inclusivamente, adquirir a designação honorífica de «estado».
«Quando, no Inverno de 1972/73 se materializa a ideia de um grande encontro que dê voz aos antigos combatentes, os representantes mais activos da área nacional-revolucionária estão prontos a agarrar a ocasião, para dar um impulso à batalha nacionalista, desta vez não só contra os inimigos declarados de Portugal, mas também contra o poder político incerto» (p. 373).
No entanto, o poder político movimenta-se activamente e acabam por ser afastados do Congresso cujo objectivo de politização dos antigos combatentes também falha rotundamente. «Tratou-se – conclui Riccardo Marchi –, de facto, da última ofensiva da área nacional-revolucionária, na tentativa de dar forma a uma revolução há anos sonhada e que outros, dez meses depois, realizarão numa trajectória diametralmente oposta» (p. 382).

O autor descreve também pormenorizadamente os movimentos do nacionalismo revolucionário no seio da Universidade de Coimbra, cuja acção é despoletada pela crise académica de 1969, com destaque para o Orfeão Académico de Coimbra, a Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra e a Sociedade Cooperativa Livreira Cidadela. Esta última, constituída em Novembro de 1970, apesar de ter recebido a aprovação do então presidente do Conselho – que fora previamente consultado sobre a sua constituição – e, consequentemente, o apoio do regime, acaba por se inserir «na rede heterogénea da oposição de direita ao governo de Marcello Caetano» (p. 265).

Este livro, a todos os títulos pioneiro na historiografia contemporânea portuguesa, constitui um excelente estudo sobre os movimentos da direita radical no Estado Novo desde o pós-guerra, salientando-se nas conclusões que nunca existiu uma «idade de ouro» da direita radical portuguesa e que «a geração do nacionalismo radical dos anos 60 não entra na militância política colhendo o testemunho da geração precedente» (p. 383). Não estão já em causa «nem o restauracionismo monárquico, nem a doutrina contra-revolucionária, nem o debate monarquia/república», nem se trata do «despertar do salazarismo extremo, nem tão-pouco do neofascismo lusitano». O cimento que une os numerosos movimentos que se reclamam do nacionalismo radical «é a reacção contra a agressão dos movimentos independentistas» (p. 384). Numa palavra, não é o regime que está em causa, mas o «Império», que «deve ser entendido como uma ideia-valor não gerada pelo Estado Novo, pelo autoritarismo, pelo fascismo, mas pela História, material e espiritual de Portugal», ou seja, trata-se de «defender Portugal e a maneira lusitana de estar no Mundo» (p. 389).

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José Manuel Tavares Castilho

Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1986), mestre em Sociologia pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (1997) e doutor em História Social Contemporânea pela mesma instituição (2008). Actualmente, é investigador do CESNOVA – Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa. De entre as publicações mais recentes destacam-se os livros Os Deputados da Assembleia Nacional, 1935-1974 (2009) e Os Procuradores da Câmara Corporativa, 1935-1974 (2010).

Fonte: Scielo
http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?pid=S1645-91992011000300018&script=sci_arttext
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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 02

2. Miragens fascistas: México e Brasil

Neste panorama se destacavam, contudo, alguns personagens e regimes de aspecto mais familiar. Num primeiro momento foi a Argentina que despertou algumas ilusões quando o general José Félix Uriburu estabeleceu uma ditadura com alguns traços "fascistas" [23]. Influenciado pelas ideias nacionalistas radicais de Leopoldo Lugones, Uriburu tentou estabelecer um regime nacional-corporativo ao desafiar a velha oligarquia liberal argentina. Apesar do apoio de uma intelectualidade que conseguiria moldar uma "esfera pública fascista" integrada com ligas e organizações militantes nacionalistas, o experimento não prosperou, e seria somente com a revolução militar de 1943 e com Perón que voltariam a se manifestar as tendências ante o fascismo em formas sui generis [24]. A atenção italiana recaiu então no regime nacional-corporativo de Vargas no Brasil, que deu inicialmente sinais positivos de aproximação com o fascismo. Também prestaram atenção ao regime nacionalista mexicano, com muitos caveat (avisos) de sua tendência demasiada esquerdista. Esses sucessos suscitaram finalmente esperanças de que pudesse surgir uma versão latinoamericana sui generis do fascismo com possíveis desenvolvimentos geopolíticos positivos.

O México foi uma realidade particular entre os experimentos políticos latinoamericanos. Produto de uma revolução nacional de massas (1910-1917) com tendências oscilantes entre o liberalismo democrático radical e um socialismo nacional ainda não influenciado pela experiência soviética. Concluído o processo revolucionário, durante os anos vinte o país foi considerado um laboratório de experimentos sociais (ejido), políticos (Estado social) e culturais (nacionalismo artístico, educação) avançados. No aspecto político, suscitou interesse o arranque - depois do assassinato de Obregón (1928) - do processo de institucionalização da revolução levado a cabo pelo "Chefe Máximo" Plutarco Elías Calles. Ele se orientou por um sistema corporativo de partido único - o Partido Nacional Revolucionário (1929) - que tinha diversos pontos em comum com o fascismo, fato que não passou desapercebido na Itália. [25] O PNR (mais tarde PRM e finalmente PRI) no transcurso dos anos trinta chegou a se parecer em certos aspectos com o Partido Nazionale Fascista (PNF) italiano, especialmente em sua estrutura dependente de uma liderança central forte, na ideologia corporativa e nacional-populista e em sua função de orgão de conexão entre a base popular e o establishment (classe dirigente) revolucionário [26].

As tendências fascistas no México - que incluíam uma inspiração não declarada aos modelos italianos - chegaram a seu apogeu durante os últimos anos do "Maximato" (o predomínio político de Elías Calles) e durante a presidência de Lázaro Cárdenas (1935-40), a quem compensava a índole de "fascismo de esquerda" de seu regime com uma retórica socialista e uma posição internacional antifascista [27]. Além da presença na pequena comunidade italiana [28], o fascismo em sentido completo, enfim, teve certa difusão entre os intelectuais, especialmente com dois: o escritor (e político) José Vasconcelos e o artista Gerardo Murillo.
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O "fascismo" de Vasconcelos é uma derivação coerente de sua tendência revolucionária cultural oposta ao mundo cosmopolita e materialista dominado pelos anglo-saxões. A conexão é a proposta fascista de acabar com este predomínio, ao buscar uma nova ordem mundial com os valores do espírito, a vontade e a excelência. Esta evolução intelectual de Vasconcelos se torna mais perceptível depois de 1929, quando a desilusão por sua derrota eleitoral (compete sem sucesso nas eleições nacionais) o empurra para posições mais críticas e mais pessimistas, e radicaliza suas ideias de palingenesia político-cultural. Em sua viagem à Italia (1924) havia observado com ceticismo a revolução fascista e o ressurgimento de Roma, em 1925 havia exaltado a "raça cósmica" com um marcado acento cosmopolita e nos anos trinta olhou com simpatia o fascismo. Em 1936 escreveu: "quem não se deixa inspirar com orgulho por esta nova Itália [fascista] não é digno de pertencer à civilização Latina" [29]. Durante a guerra, Vasconcelos será partidário do Chefe e diretor de uma revista pró-alemã. Murillo ("Dr. Atl"), por sua parte, também vê no fascismo italiano uma força espiritual e cultural capaz de derrubar a hegemonia anglo-saxã e fundar uma nova civilização humanista com um renovado brio vital. Seus artigos na imprensa expressam uma franca admiração por Mussolini - "verdadero condutor dos povos"- e, por sua vez, um desprezo visceral pelas finanças internacionais controladas pelos anglo-saxões e pelos judeus [30].

Os italianos, por seu lado, observavam com interesse a atração que exerce o fascismo entre os intelectuais, nos políticos e na classe média atemorizada pela deriva do Governo revolucionário ante o socialismo. Iludem-se sobre a possível força de pressão da opinião pública pró-fascista e detectam o armanezamento de informação sobre o fascismo que realiza com discrição o Governo mexicano, mas não têm nenhuma expectativa realista de que Elías Calles ou Cárdenas avancem abertamente para um modelo fascista [31].

Até finais dos anos trinta o país mais promissor para a Itália foi, certamente, o Brasil. O golpe de Getúlio Vargas em 1937, com a fundação do "Estado Novo", um regime nacional-corporativo com acentos fascistizantes, suscitou um grande interesse fortalecido pelas "simpatias" que o ditador tinha desde antes com a Itália fascista [32]. Este giro na política brasileira produziu um alvoroço de esperanças na Itália e, por sua vez, temores internacionais de que se estava assistindo ao primeiro experimento fascista na América Latina [33]. O novo Brasil autoritário foi apresentado por Mussolini como exemplo de capacidade de propagação do fascismo no mundo [34]. Muito rápido, contudo, Vargas esfriou os entusiasmos ao não se comprometer no aspecto ideológico e político com o fascismo e com a Itália. Esta, para o Brasil, era um sócio por demais débil para substituir o importante vínculo com Washington [35]. Vargas, de fato, freou a transformação em sentido fascista do Estado brasileiro e não quis fundar um partido nacional de massas: omissão especialmente criticada pelos observadores italianos [36]. O afastamento em relação ao fascismo por parte de Vargas culminou com a repressão da Ação Integralista Brasileira, AIB, que tinha traços fascistas [37].

A AIB é importante porque foi o único movimento político de massas autenticamente fascista em todo o Continente. O integralismo (como é conhecida a AIB) nasce no início dos anos trinta em São Paulo, capital da região cafeeira do sul do país e florescente centro cultural. Aqui com os sólidos laços econômicos transatlânticos e a forte imigração europeia (especialmente italiana) se desenvolve entre as elites intelectuais uma tendência vanguardista, modernista e nacionalista, na qual, mesclam-se motivos futuristas, vitalistas e decadentistas com uma forte influência italiana. Os intelectuais paulistas dessa época expressam sua fascinação pelos mitos de D'Annunzio e de Mussolini. Ronald de Carvalho rende homenagem à "indisciplina bárbara" e à força da fé do novo heroísmo italiano. Graça Aranha define o Duce da Itália como "a figura da lei, viril na concepção da ordem" [38]. Os intelectuais modernistas se expressam de forma parecida em suas publicações, evocando "o governo forte de um ditador [...] que represente a concentração de poder e consiga a estabilidade nacional" [39], mas não chegam a elaborar um verdadeiro projeto político. Há uma exceção: um poeta - membro da Academia Paulista de Letras -, a quem já em 1919 se expressa em formas "dannunzianas", filho de um "coronel" (caudilho) provinciano e de uma maestrina. Seu nome, Plínio Salgado, tornará-se famoso mais tarde como fundador e líder do integralismo brasileiro.

Salgado adquire pela primeira vez notoriedade com a publicação de duas novelas: O Estrangeiro (1926) e O Esperado (1931). Nestas obras expressa um nacionalismo ingênuo e rústico, inspirado num passado brasileiro idealizado ao redor das raízes indígenas, as tradições e a coesão espiritual da nação, como contraponto à moderna influência estrangeira e cosmopolita [40]. A segunda em particular se enfurece contra o mundo corrompido, submetido às finanças anglo-saxãs, e prega a figura de um salvador, que é "desejado" por um povo que se mobiliza e espera ansiosamente por uma direção. Salgado visita a Itália em 1930, antes de concluir o manuscrito, e é transformado por esta experiência. De Roma escreve a um amigo:
"Estudei atentamente o fascismo: não é exatamente o regime que necessitamos, mas é algo que se parece próximo disto. O fascismo chegou aqui no momento oportuno e mudou o centro da gravidade política da metafísica jurídica de instituições que descansam nas realidades determinantes [...] o fascismo não é propiamente uma ditadura, é um regime. Acredito que o Ministério das Corporações é o mecanismo mais útil. O trabalho está perfeitamente organizado e o capital estupendamente controlado" [41].
Salgado resolve mudar na direção do fascismo ao regressar ao Brasil, "ágil para organizar as forças intelectuais dispersas para coordená-las, dar-lhes uma direção, iniciando um apostolado". Sua determinação é fortificada depois de um encontro pessoal com Mussolini, a quem aprova suas ideias e seus planos, e lhe sugere que "antes de um partido, é necessário um movimento de ideias" que reforce o nacionalismo e imponha a supremacia do Brasil na América do Sul [42].

Fiel a seus propósitos e seguindo as recomendações de Mussolini, Salgado se dedica à elaboração ideológica para estabelecer uma base doutrinária ao movimento em formação. Em seus artigos louva o Estado fascista que "contém em si todas as fisionomias nacionais" [43]. A nova revista Hierarquia - inspirada na fascista "Gerarchia"- consegue em pouco tempo atrair um grande número de intelectuais e propagar as novas ideias. O salto para a formação de uma verdadeira organização política ocorre em outubro de 1933, quando Salgado anuncia a fundação da Ação Integralista Brasileira. Logo se incorporam várias organizações regionais com inspiração similar. Em dois anos a AIB ascende a 400.000 militantes inscritos, e em 1937 alcançará a assombrosa cifra de um milhão de membros, convertendo-se assim no primeiro "partido nacional e popular não proíbido no Brasil" [44] e um dos maiores partidos de massas de toda América Latina.

Este sucesso surpreendente se destaca especialmente nas classes medias, no exército, entre os jovens e entre os imigrantes de primeira e segunda generação. A AIB fez inclusive concorrência com os fasci entre os italianos e os filhos de italianos, muitos destes preferiram a camisa verde (cor do movimento) à camisa negra [45]. A AIB, de fato, adquire um grande número de elementos simbólicos diretamente do fascismo italiano: as camisas de estilo militar, a saudação romana, a divisão da Milícia integralista em Legiões, o agrupamento das mais pequenas unidades de "pliniananos" (similares aos balilla italianos), as marchas em formação militar, a invocação aos caídos ("appello ai caduti" na Itália), o grito de guerra (no lugar do italiano "eja, eja, alalá" se inventa um novo, "anauê, anauê, anauê", inspirado no suposto grito de guerra dos índios tupi), o lema "Deus, Pátria e Família". O emblema do movimento é a letra grega Sigma maiúscula no lugar do Fáscio littorio, e quer dizer, como aquele, união e "soma" de forças e valores. Há também cerimoniais e liturgias completamente novas, como, por exemplo, os "amanheceres de abril": a saudação ao sol a cada ano no dia 23 de abril pelos camisas verdes, com o braço estendido com a saudação romana para glorificar a vitória do Sigma. Um conjunto de ritos, signos e mitos em soma que cabe perfeitamente no perfil dessa "sacralização da política" que qualifica o fascismo italiano [46].

As analogias e as emulações do fascismo não se limitaram aos aspectos simbólicos e organizacionais, implicaram também em uma considerável proximidade teórica (isto, de passagem, distingue-se a AIB entre todos os movimentos semi-fascistas latinoamericanos, pois possuem uma "densidade" ideológica notavelmente inferior). O núcleo ideológico da AIB inclue o conceito de Brasilianidade (equivalente à "Italianità" e "Romanità" na Itália) e um radicalismo político-antropológico que "leva a marca inconfundível do mito ultranacionalista palingenésico" [47[. Os intelectuais integralistas - em primeiro lugar Plínio Salgado e Gustavo Barroso - buscam inspiração no corporativismo nacional-sindicalista, nas variantes do fascismo italiano, no salazarismo, no falangismo espanhol e no rexismo belga. Gustavo Barroso, inclusive, proclama que o integralismo é uma forma mais perfeita do fascismo:
"Entre todos os movimentos de caráter fascista, o integralismo é o que contém a maior dose de espiritualidade e o corpo doutrinário mais perfeito, desde a concepção do mundo e do homem à formação de grupos naturais e a solução dos grandes problemas materiais" [48].
o enorme sucesso do integralismo é também, paradoxalmente, a primeira causa de seu fracasso. Getúlio Vargas não provém de suas fileiras e temia sua influência popular no exército. Além disso, seu pragmatismo lhe impedia de olhar para a Itália ou Alemanha como possíveis 'partners' e referentes geopolíticos para o pais (é o mesmo cálculo de realpolitik que no México induziu Cárdenas e Ávila Camacho, por cima de toda consideração ideológica, a preferir finalmente o velho zorro, os Estados Unidos, no lugar do Eixo). Depois do golpe de 10 de novembro de 1937, Vargas num primeiro momento faz crer que está disposto a negociar e alimenta as esperanças de Salgado de que a AIB se converterá na coluna vertebral do novo regime e que o mesmo seria nomeado Ministro da Educação. A nova constituição do Estado Novo, que contém fortes elementos nacional-corporativos, suscita o entusiasmo dos militantes integralistas. A ilusão, contudo, dura pouco: em dezembro deste ano a AIB é dissolvida por decreto. Alguns meses depois, com o pretexto de um falido intento de golpe integralista, muitos dirigentes são presos ou obrigados a se exilar, entre eles o próprio Salgado (que ficará em Portugal até a anistia de 1946).

As ações de Vargas decepcionaram os italianos, a quem lhe tinham cultivado num primeiro momento sérias esperanças de poder exercer influências no Estado Novo e, devido ao peso geopolítico do Brasil em toda a América meridional. Em uma publicação oficial (1937) se lê:
"A Itália tem a honra de haver proporcionado ao novo Brasil, além do magnífico aporte de energias humanas no século passado, também de algumas ideias fundamentais sobre as quais descansa a nova ordem. Pois se o regime brasileiro atual não é "fascista" - como o próprio presidente Vargas declarou explicitamente - ele está inspirado, sem dúvidas, em grande medida no nosso ordenamento estatal e social" [49].
O entusiasmo italiano desaparece rapidamente, conforme se torna mais evidente que a orientação "fascista" do novo regime é mais de fachada que substancial e cheia de ambiguidades. A proscrição da AIB, em particular, é lamentada amargamente por ser o único movimento latinoamericano de importância que tivera um autêntico caráter fascista e, portanto, um "interlocutor" privilegiado para extender a influência fascista na região. [50] Um relatório secreto do MAE em 1937 descreve o "Partido Integralista" como:
"Inspirado nos ideais do Fascismo com a guia de um homem e um Diretório de grande valor intelectual e moral, mas desgraçadamente com falta do dom de decisão e do sentido de oportunidade, e esperteza para se atrever [a atuar] quando já não era o caso e incapazes de ousar por pouco que fosse o caso" [51].
O conde Ciano, por seu lado, considerava o integralismo brasileiro como "a primeira expressão séria no Continente americano de um movimiento inspirado nos princípios do fascismo", ainda que também criticasse a falta de maturidade e a incapacidade política do mesmo. [52] Fora do Brasil, o panorama é ainda menos alentador. Os movimentos semi-fascistas ou reputados como tais, que surgem em muitos países no transcurso dos anos trinta, tais como o Partido Fascista Argentino (1932), o Movimento Nacional Socialista de Chile (1932) e a Acción Revolucionaria Mexicanista (1934) suscitaram mais pessimismo que esperanças nos observadores italianos [53]. A dissolução dos "Camisas douradas" mexicanos na metade de 1936 é inclusive saudada com alívio num relatório diplomático. [54] Acontece o mesmo em todas as partes. Na Argentina, por exemplo, não existe nem um só partido ou movimento que obtenha um bom olhar de Roma, nem sequer julgamentos positivos ou palavras esperançosas. Isto não é só por razões de oportunidade, senão por um julgamento negativo do conjunto sobre sua força numérica, sua coordenação, seu uso da violência e sua consistência ideológica. Assim, os supostos "partidos irmãos" como são a Legião Cívica Argentina e o Partido Nacional Fascista nunca obtiveram um reconhecimento oficial italiano. [55] No México o panorama é ainda mais desolador: os movimentos supostamente fascistas locais (a ARM, a Confederação da Classe Média e o Partido Social Democrático Mexicano) resultaram em ser más imitações ou meros disfarces de interesses ou de facções, e o sinarquismo - movimento nacionalista católico de massas inspirado no falangismo - nem sequer é levado em consideração. [56] Mais confusa a situação no Chile, onde o Movimiento Nacional Socialista ("nacista"**) parece se encaminhar "para o comunismo!".
"O 'nacismo' que com a proclamação dos princípios fascistas havia conseguido atrair um número considerável de adeptos, especialmente entre os jovens, foi se comprometendo nas alianças mais híbridas com a extrema-esquerda e com a maçonaria. Fundamentando sua ação na mais desenfreada demagogia, este partido se proclama hoje fiel aos princípios sagrados da democracia e renega suas origens. Seus chefes afirmam que seguem esta via com um propósito tático. Mas sua pouca seriedade não inspira confiança e é provável que não possam impedir que seus seguidores migrem para o comunismo que é para onde os empurra" [57].
Resumindo, os grupos, movimentos e partidos supostamente "fascistas" ou inspirados no fascismo resultaram ser uma completa decepção e deixaram desconcertados os observadores italianos. Não era possível confiar de nenhuma forma nesses sujeitos políticos precários, aproximativos ou toscamente miméticos, para extender o raio de ação da política fascista na região.

**Aparece muito raramente em alguns textos em espanhol a grafia "nacismo/nacista" para nazismo/nazista. A grafia mais usada é a com a letra "z".

Notas:

23 Sobre las manifestaciones ultranacionalistas y fascistas en Argentina (y especialmente durante el régimen de Uriburu, que generó toda una mitología en los nacionalistas argentinos) véase Christhian Buchrucker, Nacionalismo y peronismo. La Argentina en la crisis ideológica mundial (1927-1955) (Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1987); Fernando Devoto, Nacionalismo, fascismo y tradicionalismo en la Argentina moderna. Una historia (Buenos Aires: Siglo XXI, 2002); Federico Finchelstein, Fascismo, liturgia e imaginario: El mito del general Uriburu y la Argentina nacionalista (Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2002); y del mismo autor La Argentina fascista (Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 2008). Sobre el fascismo entre las comunidades italianas véase Ronald C. Newton, "Ducini, Prominenti, Antifascisti: Italian Fascism and the Italo-Argentine Collectivity, 1922-1945", The Americas 51:1 (Julio 1994): 41-66.

24 Cfr. Alberto Spektorowski, The Origins of Argentina's Revolution of the Right (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2003). Sobre las ideas y los debates políticos e ideológicos de la época véase también Tulio Halperin Donghi, Argentina y la tormenta del mundo (Buenos Aires: Siglo XXI, 2003).

25 Varios periodistas y escritores italianos que visitaron México en esa época -especialmente Mario Appelius (en 1928)- dejaron manifesta su admiración por el país y su atormentada revolución nacional.

26 "Messico", en Enciclopedia Italiana (Roma: Istituto dell'Enciclopedia Italiana, 1933 - supplemento 1938), 836. Aquí se califica al PNR -con indudable exageración- como "idéntico" al PNF italiano y al NSDAP alemán.

27 Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos, 191. Sobre México véase Franco Savarino, "The Sentinel of the Bravo: Italian Fascism in Mexico, 1922-35", en International Fascism, eds. G. Sorensen y R. Mallet (London-Portland: Frank Cass, 2002), 97-120; y Franco Savarino, México e Italia. Política y diplomacia en la época del fascismo 1922-1942 (México: Secretaría de Relaciones Exteriores, 2003). La política mexicana aun con las reconocidas similitudes con el fascismo (corporativismo, nacional-populismo, "espíritu latino", etc.) era sin embargo criticada por la infuencia de la masonería, por las tendencias a un socialismo con tintes "bolcheviques" y por el característico nacionalismo "indigenista" con implicaciones antieuropeas. Los "hombres fuertes", mexicanos en fn, que se movían en un medio institucional de matriz aún esencialmente liberal, no se podían considerar dictadores en el sentido completo de la palabra.

28 Cfr. Franco Savarino, "Bajo el signo del "Littorio". La comunidad italiana en México y el fascismo (1924-1941)", Revista Mexicana de Sociología, LXIV: 2 (abril-junio 2002): 113-139.

29 José Vasconcelos, ¿Qué es el Comunismo? (México: Ediciones Botas, 1936), 91.

30 "Mussolini tiene tres cualidades que lo elevan sobre todos los hombres de públicos de nuestros tiempos: su poder de reconcentración mental, su audacia y la extraordinaria frmeza de carácter [...]. El dictador romano es un verdadero conductor de pueblos y el primero, desde Napoleón, que sobrepasa las fronteras de su propio país para llevar al exterior los principios de su política". Gerardo Murillo, "Benito Mussolini", Excélsior, Ciudad de México, 21 de septiembre 1935, en La defensa de Italia en México por el Dr. Atl (México: Edición de la Colonia Italiana, 1936), 43-44.

31 Franco Savarino, México e Italia, 95-121.

32 Ya en 1936 en un informe de la Embajada se señalaban las "simpatías de Vargas por Italia y su solidaridad moral [...] con el régimen fascista". Cantalupo a Ciano, Río de Janeiro,12 de junio 1936, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 4, doc. 720, 792. Para contextualizar el varguismo es imprescindible la lectura de Daryle Williams, Culture Wars in Brazil: The First Vargas Regime, 1930-1945 (Durham: Duke University Press, 2001).

33 Mario Da Silva, "Il nuovo regime brasiliano", Critica Fascista, XVI: 4 (diciembre 1937): 58-60. En los Estados Unidos además "la prensa [...] se puso a gritar histéricamente que Brasil se había vuelto fascista". Suvich a Ciano, Washington, 12 de noviembre 1937, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 7, doc. 557, 658-660.

34 Benito Mussolini, "Europa e fascismo", Il Popolo d'Italia, Roma, 6 de octubre, 1937.

35 Ciano llegó a calificar Brasil como "una especie de longa manus de los Estados Unidos" en Sudamérica. Ciano a Lojacono, Roma, 26 de abril 1937, en Gianluca André comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 6, doc. 515, 650-651.

36 Véase por ejemplo la entrada "Brasil" en la "Enciclopedia Italiana" (supplemento 1938), 315, donde es criticada la renuencia de Vargas a formar un partido político, condición esencial para concretar un "parentesco formal" de su régimen con el fascismo. Cfr. también Vinicio Araldi, Il Brasile sotto la presidenza di Getulio Vargas (Rio de Janeiro: s. e., 1937); André Carrazzoni, Getulio Vargas (Padova: CEDAM, 1941); y Roberto Cantalupo, Brasile Euro-americano (Milano: ISPI, 1941).

37 Las esperanzas iniciales de Ciano después del golpe de noviembre disminuyeron rápidamente en cuanto se vio que Vargas se mostraba cauteloso y falto de "coraje fascista" en la construcción del Estado Novo: Galeazzo Ciano, Diario 1937-1943 (Milano: Rizzoli, 1999), 56, 59 y 120. Las relaciones brasileñas con la Italia fascista, siempre matizadas por dudas e incertidumbres y por el dilema de apoyar o no a Vargas o a Salgado, comenzaron a enfriase entre marzo y mayo de 1938, en consecuencia de la represión desencadenada contra la AIB y la vigilancia puesta a las colonias italianas sospechosas de simpatías con ella. Sobre este tema véase Mario Toscano, "Il fascismo e l'Estado Novo", en L'emigrazione italiana in Brasile, 1800-1978, ed. Renzo De Felice (Torino: Fondazione G. Agnelli, 1980), 235-270; Marco Mugnaini, L'Italia, 222-227; y Amado Luíz Cervo, Le relazioni diplomatiche fra Italia e Brasile dal 1861 ad oggi (Torino: Fondazione G. Agnelli, 1994), 129-154.

38 Antonio Aroni Prado, 1922 -Itinerário de una falsa vanguarda. Os disidentes, a Semana e o Integralismo (San Pablo: Brasiliense, 1983), 46-47.

39 Antonio Aroni Prado, 1922, 41.

40 Cit. en Hélgio Trinidade, Integralismo. O fascismo brasileiro na década de 30 (San Pablo-Río de Janeiro: Difel, 1979), 5 y ss.

41 Hélgio Trinidade, Integralismo, 75.

42 Hélgio Trinidade, Integralismo, 75.

43 Plinio Salgado, "A Federaçao e o Sufragio", A Razao, San Pablo, 3 de febrero, 1931.

44 Sandra McGee Deutsch, Las derechas, 248.

45 Cfr. Joao Fábio Bertonha, O Fascismo e os inmigrantes italianos no Brasil (Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001).

46 Cfr. Emilio Gentile, Il culto del littorio. La sacralizzazione Della politica nell'Italia fascista (Roma-Bari: Laterza, 1993).

47 Roger Grifn, The Nature, 151.

48 Gustavo Barroso, O Integralismo e o Mundo (Río de Janeiro: Civilizaçao Brasileira, 1936), 15.

49 "Mutamento di regime in Brasile", en Autores Varios, Annuario di Politica Internazionale (1937) (Milano, ISPI, 1938), 354-358, aquí 357.

50 Joao Fábio Bertonha, O Fascismo, 69.

51 Archivio Storico del Ministero degli Afari Esteri (ASMAE), Afari Politici (AP) 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno 9 (Brasile). Situazione politica nel 1937, 2.

52 Ciano a Lojacono, Roma, 26 de abril 1937, en Gianluca André comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, Vol. 6, doc. 515, 649-654. Ciano esperó inicialmente que la AIB serviría "para la labor de divulgación y difusión de las ideas del Fascismo entre los diversos estratos de la población" (654). Sin embargo prevaleció la cautela y el programa de la AIB fue considerado "una copia mal hecha del Fascismo italiano". Relazione riservata del MAE, "Movimenti fascisti esteri" (1934), cit. en Renzo Santinon, I fasci italiani all'estero (Roma: Settimo Sigillo, 1991), 135. Sobre las relaciones Italia-AIB véase también Angelo Trento, "Relaçoes entre fascismo e integralismo: o ponto de vista do Ministério dos Negocios Estrangeiros italiano", Ciencia e Cultura XXXIV: 12 (1982): 1601-1613; y Ricardo Seitenfus, "Ideology and Diplomacy: Italian Fascism and Brazil (1935-1938)", Hispanic American Historical Review LXIV: 3 (1984): 503-534. Joao Fábio Bertonha señala que la AIB era también vista como un centro de reclutamiento político de los descendientes de italianos en función pro-fascista y proItalia. En Joao Fábio Bertonha, "O Brasil, os inmigrantes italianos e a política externa fascista, 1922-1943", Revista Brasileira de Política Internacional 40: 2 (1997): 106-130, pero la integración, por su lado, contrastaba con el objetivo de mantener la italianidad (Amado Luíz Cervo, Le relazioni, 147).

53 Renzo Santinon, I fasci, 129-197. En este largo documento, preparado en 1934 por encargo del MAE, son descritos los diferentes grupos de Argentina, Brasil, Chile, Cuba, Panamá y Perú (sin embargo, falta México). Ninguno de estos se merece el calificativo de "fascista" y peor, son descritos como faltos de programas, de espíritu, de liderazgo y de capacidad política. Con la excepción de la AIB y del pequeño Partido Fascista de Chile, todos estos grupos supuestamente fascistas son criticados duramente o simplemente ignorados. Consideraciones idénticas se merecen los movimientos mexicanos (la ARM o "Camisas doradas" y el Partido Social Democrático de México) en otros documentos oficiales: cfr. Franco Savarino, México e Italia; y Franco Savarino, "Apuntes sobre el fascismo", 108. Véase también Stanley Payne, Il Fascismo, 345-354 y Mario Da Silva (ya mencionado anteriormente) quien encuentra "en estos "fascismos" una gran confusión de ideas [...] y, en general, muy poca visión verdaderamente fascista, romana, de la realidad" (Mario Da Silva, "'Fascismi' latino-americani", 46).

54 "Cuando en el mes de agosto los llamados 'Camisas Doradas' [...] que alguien estúpidamente creía incluso poder defnir como los Fascistas de México [...] volvió a llamar la atención [...] el Gobierno procedió tranquilamente a su disolución [...]. Los 'Camisas Doradas' desaparecieron sin gloria de la escena política, como sin gloria habían vivido". ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno segreto No 43 (Messico), Situazione politica nel 1935-36, 9.

55 Cfr. Eugenia Scarzanella, "Il fascismo italiano in Argentina: al servizio degli afari", en Eugenia Scarzanella (ed.) Fascisti in Sud America, 113-174, aquí 133. Un informe diplomático señala (1937) que "los grupos nacionalistas de tendencia fascista son: la 'Legión Cívica Argentina' [...]; el 'Partido Fascista Argentino', organización que cuenta pocos inscritos y es dirigida por personas de buena fe pero de escaso nivel y sin prestigio; la 'Federación Fascista de la Provincia de Santa Fe' [...]; la 'Defensa Social Argentina', compuesta en su mayoría por funcionarios de policía jubilados, altos oficiales y jueces jubilados [...]; la 'Acción Nacionalista Argentina' que tiene su sede en Buenos Aires y Mendoza y un periodiquillo (Aduna) pero entre todo cuenta con menos de mil adherentes y de 'acción' solo tiene el nombre. 'Restauración' es un nuevo grupo formado en 1937 con muchos buenos propósitos pero ninguna posibilidad de confar en las personas que lo integran para realizarlos. La agrupación 'Nacionalismo argentino' que es un nombre sin sustancia [...]. [...Todas estas organizaciones adolecen] de unidad de acción, de coordinación, de desinterés y capacidad organizativa de los jefes, de espíritu de sacrificio y de voluntad de acción de los militantes": ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno No 5 (Argentina), Situazione politica nel 1937, 9-10. Opiniones negativas italianas sobre la Legión Cívica son también señaladas por Marcus Klein, "The Legión Cívica Argentina and the Radicalization of Argentine Nacionalismo during the Década Infame", Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe 13: 2 (julio-diciembre 2002), http://www.tau.ac.il/eial/XIII_2/klein.html (fecha de consulta: mayo 2008).

56 Franco Savarino, México e Italia, 116-118 y passim.

57 ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno No 12 (Cile), Situazione politica nel 1937, 11. Este movimiento hacia la izquierda es analizado por Mario Sznajder en "El Movimiento Nacional Socialista: Nacismo a la chilena", Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe 1: 1 (enero-junio 1990), http://www.tau.ac.il/eial/I_1/sznajder.htm (fecha de consulta: mayo 2008).

Fonte: Scielo
Texto: JOGO DE ILUSÕES: BRASIL, MÉXICO E OS "FASCISMOS" LATINOAMERICANOS FRENTE AO FASCISMO ITALIANO*
Autor: Franco Savarino
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-16172009000100009&script=sci_arttext
Tradução: Roberto Lucena
Post do dia: 1 de mar de 2013

Ver:
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 01
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 03

Ver também:
O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01

sexta-feira, 25 de abril de 2014

1974: Revolução dos Cravos em Portugal - 40 anos da Revolução que pôs fim ao salazarismo em Portugal

Na celebração dos 40 anos da Revolução dos Cravos, que pôs fim a mais longa ditadura de tintura fascista ou nacionalista de direita da Europa, segue o texto abaixo com um resumo dos acontecimentos da época.

E abaixo do texto segue uma música que o Chico Buarque fez (Tanto Mar) celebrando a Revolução dos Cravos e tecendo críticas ao período obscuro que o Brasil vivia com sua ditadura (1964-1985) torcendo ainda pela redemocratização do país que só viria a ocorrer anos mais tarde em 1985, sem eleição livre (direta) pra presidente da República (ocorrida apenas em 1989). A música tem ligação com os dois eventos, de Portugal e do Brasil, e é a segunda versão dela, a primeira versão da música fora censurada pela ditadura na época por ser "subversiva" (crítica ao regime militar).

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Portugueses festejam em Lisboa em 25 de abril de 1975
Pouco após a meia-noite de 25 de abril de 1974 começou a soar na emissora católica de Lisboa a música até então proibida "Grândola, Vila Morena". Era o sinal combinado para o início do levante militar em Portugal.

Antes da revolução, era rara em Portugal a família que não tivesse alguém combatendo nas guerras das colônias na África, o serviço militar durava quatro anos, opiniões contra o regime e contra a guerra eram severamente reprimidas pela censura e pela polícia.

Antes de abril de 1974, os partidos e movimentos políticos estavam proibidos, as prisões políticas estavam cheias, os líderes oposicionistas estavam exilados, os sindicatos eram fortemente controlados, a greve era proibida, as demissões fáceis e a vida cultural estritamente vigiada.

A liberdade em Portugal começou com a transmissão, pelo rádio, de uma música até então proibida. Os cravos enfiados pela população nas espingardas dos soldados acabaram virando o símbolo da revolução, que encerrou, ao mesmo tempo, 48 anos de ditadura fascista e 13 anos de guerra nas colônias africanas.

Em apenas algumas horas, as Forças Armadas ocuparam locais estratégicos em todo o país. Ao clarear, multidões já cercavam as emissoras de rádio à espera de notícias. A operação, calculada minuciosamente, havia pego o regime de surpresa. Acuado pelo povo e pelos militares, o sucessor de Salazar, Caetano Marcelo, transmitiu sua renúncia por telefone ao líder dos golpistas, general António de Spínola.

Transportado de tanque ao aeroporto de Lisboa, Marcelo embarcou para o exílio no Brasil. Em quase 18 horas, havia sido derrubada a mais antiga ditadura fascista no mundo.

Não houve acerto de contas

Artistas, políticos e desertores começaram a retornar do exílio. As colônias receberam a independência. A caça às bruxas aos responsáveis pela ditadura acabou não acontecendo, e as dívidas do governo anterior foram todas pagas. Os únicos a oferecer resistência foram os agentes da polícia política. Três pessoas morreram no conflito pela tomada de seu quartel-general.

Ao voltar do exílio em Paris, Mário Soares, o dissidente mais popular do governo Salazar, foi recebido por milhares de pessoas na estação ferroviária de Lisboa. Cravos vermelhos foram jogados de helicóptero sobre a cidade e só se ouvia a famosa canção Grândola, vila morena, que já havia se tornado o hino da revolução.

Em 1974, Portugal era um país atrasado, isolado na comunidade internacional, embora fizesse parte da ONU e da Otan. Era o último país europeu a manter colônias e vinha travando uma longa guerra contra a independência de Angola, Moçambique e Guiné. O regime de Salazar, iniciado em 1926, havia conseguido manter-se através da repressão e fora tolerado pelos países vencedores da Segunda Guerra Mundial.

Golpe militar vira festa revolucionária

Em 1º de maio, a esquerda, fortemente engajada, mostrou sua força em Lisboa, enquanto trabalhadores rurais do Alentejo expulsavam latifundiários e banqueiros eram desapropriados.

A esquerda europeia viu em Lisboa um palco ideal para os movimentos frustrados de 68. A pacata e católica população portuguesa, por seu lado, sentiu-se ignorada e, a partir do norte conservador, iniciou um movimento contra os extremistas.

Em 1975, aconteceu a dupla tentativa de golpe, da esquerda e da direita, contra o governo socialista, levando Portugal à beira da guerra civil. A ala militar extremista de esquerda obteve o domínio da situação em novembro de 1975. Após as eleições do ano seguinte, o general António Ramalho Eanes foi eleito presidente.

O Partido Socialista, com Mário Soares, assumiu um governo minoritário. A crise econômica o levou à renúncia em 1978. Entre 1979 e 1980, o país teve cinco primeiros-ministros. Em 1985, o governo foi assumido por Aníbal Cavaco Silva e Mário Soares tornou-se presidente no ano seguinte. Em 1986, Portugal ingressou na então Comunidade Econômica Europeia, hoje União Europeia.

Autoria: Barbara Fischer (rw)
Link permanente: http://dw.de/p/27VK

"Foi bonita a festa, pá..."
"Manda algum cheirinho de alecrim"

Essa música também vai dedicada aos "idiotas úteis" com surtos autoritários que não sabem de fato o que significa uma manifestação popular e democrática de um povo e que degeneram uma manifestação popular, por oportunismo político de quinta categoria e alienação de parte do povo. Refiro-me as "marchas" ocorridas ano passado no Brasil que degringolaram e viraram passarela pra fascistas, trotskistas e mercenários oportunistas arrotarem todo seu sectarismo político e falta de civismo tentando destruir a democracia no país.

Tanto Mar - Chico Buarque de Holanda (com imagens da Revolução dos Cravos)



Ver mais:
Revolução dos Cravos, o golpe que começou com um pneu furado (Yahoo!)
Jogadores sem liberdade num profissionalismo de miséria (MaisFutebol, Portugal)
Grândola: le peuple retrouve la voix (Courrier International, França)
1974 – Les espoirs déçus de la "révolution des œillets" (Courrier International, França)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Mais uma do país da "democracia racial" - Manequim negro com pés acorrentados em supermercado

A matéria segue abaixo, tive que procurar uma matéria escrita minimamente sem cinismo pois me recuso a achar que isso é "polêmica" (o uso dessa palavra muitas vezes é um eufemismo pra não dizer abertamente o que se trata), pois a explicação dada pro uso da estátua não foi nem um pouco convincente. Muitas matérias são escritas com o título de "polêmica" vide este link: Estátua de menino negro em mercado cria polêmica na internet

Supermercado Pão de Açúcar causa revolta após instalar manequim negro com os pés acorrentados

Imagem do manequim utilizado pelo Pão de Açucar
Estátua de um manequim negro com os pés acorrentados, instalada na unidade do supermercado Pão de Açúcar, no bairro da Vila Romana, em São Paulo, está causando revolta nas redes sociais desde o dia 19 de agosto.

A comunidade negra se sentiu ofendida e considerou de extremo mau gosto a imagem de uma criança negra sendo utilizada para "decorar" a área destinada a produtos de panificação do supermercado. Após a foto ser postada no perfil Mundo Negro, uma enxurrada de comentários indignados se espalhou pelo Facebook. Entre as razões apra a revolta, a imagem da criança negra carregando um pesado cesto de pães faz apologia ao trabalho infantil, já que o cesto é de proporções incompatíveis à estatura da criança e seria um sacrifício seja pelo tamanho ou pelo peso para ser carregado.

Além disso, revotou a inclusão de grilhões no pé da criança, rementendo à escravidão, além da infeliz escolha, por usar, mais uma vez, uma criança negra nestas condições ser utilizado para "decorar" uma área de grande circulação do supermercado.

Apesar de o perfil da empresa no Facebook já ter se desculpado pela gafe infeliz e informado que o objeto já havia sido retirado da loja, os protestos - e críticas - na rede social continuam.

Comunicado

Diante da repercussão do caso, o Grupo Pão de Açúcar emitiu nota oficial, afirmando que "a estátua em questão foi adquirida como parte de uma coleção de peças decorativas de loja, sem intenção ou apologia a qualquer tipo de discriminação. A rede agradece os contatos recebidos dos clientes e lamenta o fato ocorrido, uma vez que pauta suas ações na ética, promoção e respeito à diversidade. Assim que tomou ciência do caso, o Pão de Açúcar providenciou a retirada da estátua das lojas e está revendo o processo de seleção de peças decorativas."

Fonte: Yahoo!
http://br.noticias.yahoo.com/supermercado-p%C3%A3o-a%C3%A7%C3%BAcar-causa-revolta-instalar-manequim-negro-133711519.html
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Comentário: como se coloca uma estátua dessas como "decoração" sem qualquer explicação ou propósito com pães sendo vendidos? Se fosse feito um local especial ou uma homenagem prévia explicando que a estátua serviria pra fins de educação etc, vá lá, embora continue sendo sem propósito isso no meio de uma loja sem qualquer crítica ao que estátua representa.

Parece que o racismo no Brasil é tão natural que as justificativas que as pessoas que compartilham desse "tanto faz" (racismo velado, ou às vezes nem tão "velado" assim) em relação a esse assunto são piores até que a exposição dessa estátua nesse local. Pessoas que justificam isso e não se sentem constrangidas é sintoma de que acham normal o que é retratado, não veem problemas éticos na escravidão e na imagem associada à estátua no contexto de uma loja, acham escravidão normal e no fundo devem achar que negros são inferiores reproduzindo o racismo do período de escravidão racial do Brasil.

Pra quem ainda acha estranho que neonazis (ou fascistas, como queiram chamar) surjam no país, eu acharia estranho que não surgissem pois um país com um histórico de racismo desses não elimina esse pensamento do dia pra noite (ideologia do branqueamento no Brasil), ainda mais com a construção ideológica montada no século XX (o luso-tropicalismo) pra vender a imagem do Brasil como um "paraíso tropical da democracia racial" onde não havia/há conflitos raciais como há nos Estados Unidos ou outros países, visão essa defendida até hoje pela mídia/imprensa brasileira que raramente questiona (sem sensacionalismo) essa questão indo até a origem dela (nos séculos passados).

Pra quem quiser ler algo sobre lusotropicalismo, ideologia essa que foi usada pelo regime fascista português de Salazar pra mascarar o racismo português nas colônias portuguesas na África, confiram o link:
Gilberto Freyre contestado: o lusotropicalismo criticado nas colónias portuguesas como alibi colonial do salazarismo

O lusotropicalismo não foi usado apenas por Salazar e Portugal, ele é parte central ou base dessa mitificação ideológica da imagem do Brasil pro mundo como "democracia racial".

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