quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

'Liberalização' da esquerda e crescimento da Extrema-direita

Este texto saiu originalmente no site Sputnik (em inglês: How the Liberalization of the Left Led to the Rise of the Far-Right) e mostra um dos motivos do caos atual em várias partes do mundo (Europa principalmente, ou mais especificamente o Reino Unido) e como a esquerda capitulou pra grupos considerados mais radicais (à direita). O texto fala sobre um livro que comenta as razões pra certa extrema-direita ter ganho força no Reino Unido e como a esquerda britânica afundou (só que o caso é ilustrativo também pro resto da Europa, Brasil etc).

A resposta sobre o surgimento do caos aparenta ser quase sempre a mesma: o neoliberalismo, ou como esta ideologia adentrou nas esquerdas (na Europa isso é bem visível, no Brasil idem) e implodiu a "coisa toda" por dentro (até com a capacidade de se opor à agenda neoliberal), porque no começo ela era exclusiva da direita. Leiam o texto abaixo e tirem suas próprias conclusões. O texto chegou a mim através de terceiros, então os créditos dos sites ficam no final (de onde li primeiramente, do site do Luís Nassif). Caso alguém (que leu o texto) encontre algum erro na tradução, favor avisar, caso eu não corrija antes).

E já me antecipando caso algum "desavisado" venha com a pergunta clássica de sempre: "o que isso tem a ver com Holocausto, segunda guerra etc?". O blog trata também da questão da extrema-direita, e isso não está isolado do caos que se passa hoje no Brasil e no resto do mundo, não há uma "só direita" agindo no mundo de forma homogênea, ela tem suas vertentes como a esquerda também. Fora que o fenômeno de ascensão de certa extrema-direita, provocado pelo neoliberalismo depois da queda da URSS, é algo real, não existe fenômeno isolado como "negação do Holocausto" e afins separados dessas coisas. Quem quiser ficar em uma bolha sem conectar os problemas e causas, fique por sua conta e risco. Essas questões era algo que sempre criticava naqueles conclusões banais que muita gente fazia sobre esses assuntos (como "propagação de neonazis na Europa", "as causas") quando as comunidades do Orkut ainda existiam. Achavam que era algo "marginal" ao sistema e nunca foi.

Muita gente só olhou pros negacionistas negligenciando o outro problema: o extremismo liberal, o mesmo que ajudou a parir o fascismo com a Europa destruída após a Primeira guerra mundial. Extremismo como o dessa corja liberal que solapou o país na era FHC e agora destrói tudo de novo com o golpe de estado de 2016, vide o que se passa no Brasil atualmente, o desmonte do Estado brasileiro tocado a "toque de caixa" pra aniquilar o país como nação ou qualquer bem-estar social da maioria da população, o que tornará o país terreno fértil pra todo tipo de "discurso salvacionista" demagógico, principalmente do bando entreguista. Extremismo liberal do qual partidecos "radicaloides" (inofensivos ao entreguismo) como PSOL e PSTU fazem parte, mesmo se dizendo "contrários" a isso.

Parece que com o aprofundamento do golpe o discurso mentiroso e demagogo do bando golpista (corrupto, vira-lata e entreguista) virou fumaça, eu sabia que isso iria acontecer, só não tinha ideia do tempo que iria levar pra "ficha cair" pra boa parte do país (já é um começo, mas é necessário ir além disso se quiserem ainda ter algum país de pé, a coisa é bem séria).

=====================================================================
'Liberalização' da esquerda e crescimento da extrema direita
03/02/2017, Neil Clark, SputnikNews


No brilhante livro que acabam de publicar(ing.) The Rise of the Right, [A Ascensão da Direita]* três criminologistas de renome Simon Winlow, Steve Hall e James Treadwell, dedicam-se a explicar o crescimento do nacionalismo de direita na Inglaterra.

Embora o livro se dedique principalmente à sociedade e à política inglesas, há ali lições valiosas para todos os leitores nos EUA e também no resto da Europa. De fato, posso até dizer que se a esquerda ocidental não ouvir com atenção o que Winlow et al têm a dizer, pode acontecer de ela ser varrida do palco para sempre.

A situação é realmente, muito, muito grave.

'O Horizonte Capitalista'

O problema básico identificado pelos autores é que a esquerda, que outrora punha as preocupações da vida diária dos trabalhadores no ponto central chave de seu programa, virou liberal.

Com o neoliberalismo tornando-se hegemônico, os principais partidos da esquerda e seus representantes tiraram os olhos da reforma econômica e passaram a combater 'guerras culturais'. Propriedade pública e o compromisso com igualitarismo genuíno saíram da pauta – e as políticas das identidades entraram. A conversa passou a ser só "tolerar" e "tolerar". Ninguém mais deu atenção à exploração e aos explorados.

"A esquerda perdeu o interesse no campo tradicional da economia política, e em vez dela, inaugurou novos teatros de conflito no campo da cultura. Falando em termos gerais, a esquerda aceitou o horizonte capitalista" – explicam Winlow et al. [BINGO! (NTs)]

A vida política na Grã-Bretanha tornou-se estéril, com Trabalhistas e Conservadores convergindo para promoverem uma agenda pró-capitalista, economicamente e socialmente liberal. A classe trabalhadora foi excluída desse consenso novo, aprovado na City, em Londres.

Nas eleições gerais de 2001, obrigados a escolher entre Tweedledum Tony Blair e Tweedledee William Hague, só 59% das pessoas deram-se o trabalho de sair para votar. Compare esse nível de engajamento e os 83,9% de comparecimento às urnas, em 1950. Mas naquele tempo, a classe trabalhadora estava adequadamente representada.


Os autores de Ascensão da Direita destacam que, embora a "dominação da classe trabalhadora pelo pensamento e pela política da classe média liberal não seja novidade" – basta pensar no papel que os Fabianos tiveram na história dos primeiros anos do Partido Trabalhista —, as coisas pioraram muitíssimo na era do pós-socialdemocracia.

Demonização do Socialismo

O ex-carpinteiro Eric Heffer, que morreu em 1991, é citado como "um dos últimos pesos pesados honestos e confrontacionais, classe-trabalhadora autênticos, que houve no Partido Trabalhista." Os autores explicam o modo como a CIA desempenhou o papel que lhe coube na destruição de toda a genuína esquerda socialista — como se lê no livro de H. Wilford, The CIA, the British Left and the Cold War: Calling the Tune?, citado no capítulo 3:

"Central nesse processo foi abandonarem a classe e voltarem-se para linguagem, identidade cultural e movimentos sociais (...) O hábito norte-americano liberal-progressivista de demonizar o socialismo, falando dele sempre no mesmo parágrafo em que falam do fascismo, foi importado para a Europa para garantir apoio mais sutil e mais atraente ao programa de demonização de que a direita conservadora passou a fazer meio de vida."

A CIA conseguiu exatamente o que queria.

Na era do neoliberalismo hegemônico, quem ouse desafiar a direita liberal, de um ponto de vista socialista, pode contar com ser denunciado/a pelos guardiões do Establishment como "Stalinista" ou, até, "de extrema direita." Até advogar um retorno às políticas econômicas muito mais justas de 1945-79 é visto como perigoso e absolutamente 'sem noção'.

A mídia-empresa 'liberal'

De volta aos anos 70s? Quando o fosso entre ricos e pobres na Grã-Bretanha foi o menor em toda a história, e o país ainda contava com uma base de manufatura — oh... você deve estar doido! Os parâmetros aceitáveis para o debate são hoje desesperadamente rasos, com a mídia-empresa "liberal" encarregada de manter todas as soluções alternativas, que beneficiariam as maiorias, "fora da conversa"

"A mídia-empresa liberal de direita e liberal de esquerda diferenciam-se porque têm ideias diferentes sobre Estado de Bem-Estar, multiculturalismo e impostos, mas é só pressentirem 'perigo', remoto que seja, de acontecer um retorno de qualquer coisa que se assemelhe a real política de esquerda... toda a mídia-empresa imediatamente se reúne e se apresenta como uma só voz" – dizem os autores.

Não pode portanto surpreender ninguém que, com as suas vozes persistentemente ignoradas pelos que antes se diziam seus representantes, a classe trabalhadora britânica tenha procurado outras vias?

A metade final de The Rise of the Right inclui entrevistas com trabalhadores e trabalhadoras que apoiam grupos de extrema direita como a English Defence League (EDL) [Liga Inglesa de Defesa]. Aqui fala Steppy, 39 anos, sobre por que não vota com os Trabalhistas:

Ascensão da Extrema Direita

"Aqueles brancos vagabundos (...) Tomaram conta do Partido Trabalhista. Estão tomando conta de tudo, por toda parte. E vejam o que estão fazendo. Primeira coisa, pegam os empregos dos patrões. Viram patrão e arranjam emprego para os amigos. Suas feministas são gente dessa raça. Falam de democracia, mas não há democracia aqui. Não nesse país…"

O preconceito antimuçulmanos é disseminado entre os entrevistados.

Islamofobia cresce na Europa. Tuítos ofensivos alcançam o mais alto ponto de disseminação de todos os tempos.

Muçulmanos converteram-se em bodes expiatórios para a ira, a frustração e a alienação que caracteriza a Liga EDL e outros grupos de extrema direita.

Mas o grande problema, como os autores demonstram, tem sido o sistema econômico voraz sob o qual vivemos, que é adversário absoluto dos melhores interesses das maiorias. O neoliberalismo destruiu completamente comunidades inteiras de trabalhadores, e o espírito de solidariedade que havia. Toda a solidão, toda a ansiedade foram criadas pelo neoliberalismo.

Tony, como vários outros entrevistados recordam com nostalgia a Grã-Bretanha de 40 anos passados:
"Tudo era muito melhor (...) Para pessoas como eu era muito melhor. Nos divertíamos na escola e, ora, tudo simplesmente parecia funcionar direito. Havia empregos. Todos trabalhavam. As pessoas viviam juntas."
De volta ao começo do jogo

Em vez de ouvir a trabalhadores como Tony, muitos representantes políticos da "esquerda" preferem seguir o mote ditado pelos colunistas da mídia "liberal" de classe média, e focar questões que aqueles colunistas daquela mídia creiam que seriam mas 'mais urgentes'. Se alguém ainda espera deter o crescimento da extrema direita, é preciso acabar com esse relacionamento doentio com a mídia-empresa.

No capítulo oito do livro, os autores argumentam que a esquerda "tem de recomeçar do começo, outra vez":

"Para nós a esquerda hoje têm de voltar à classe trabalhadora. Quem deve vencer a luta por justiça social e econômica são os trabalhadores, é a classe trabalhadora. Liberais de classe média não podem (de fato, jamais sequer tentarão) vencer aquela luta, 'em nome' dos trabalhadores mais pobres."

Os autores dizem que os 'de esquerda' têm de se dar conta de que o que conhecem como "contraculturalismo 'de tendência'" foi erro de proporções colossais. Em seguida, têm de começar a desfazer o dano que causaram.

Não se trata de abandonar a cultura, mas de "devolvê-la ao seu lugar não dominante". A prioridade tem de ser a reforma econômica, e em especial, pôr fim à ditadura do capital financeiro. Um banco de investimento nacional público, a renacionalização de indústrias chaves e a volta dos empregos – empregos adequados, de trabalho que faça sentido, bem pago, com contratos de tempo integral para áreas que hoje estão convertidas em terra abandonada, são itens que têm de voltar ao topo da agenda dos trabalhistas.

A ascensão da extrema direita não é inevitável, nem é irreversível. Mas a esquerda está condenada para sempre, a menos que reaprenda a fazer campanha pelas questões arroz-com-feijão das classes trabalhadoras, e se separe bem claramente do pensamento da elite que dá apoio ao neoliberalismo. Se o líder trabalhista britânico Jeremy Corbyn ainda não encomendou um exemplar de The Rise of the Right, sugiro que o faça logo, o mais depressa possível.*****

* The Rise of the Right, English Nationalism and the Transformation of Working-Class Politics— Simon Winlow, Steve Hall and James Treadwell, fevereiro, 2017, Policy Press.

Fonte:
Sputnik/jornal GGN (site Luís Nassif)/Blog do Alok (tradução: Coletivo Vila Vudu)
http://jornalggn.com.br/blog/almeida/liberalizacao-da-esquerda-e-crescimento-da-extrema-direita

domingo, 22 de janeiro de 2017

Sobre a vitória de Trump nos EUA e o "jornalismo de torcida" histérico da Globo (e mídia nativa golpista). Análise sobre a crise interna nos EUA por James Petras (no link)

Acho que muita gente tem visto e se espantado com a "cobertura" raivosa, enviesada e histérica (terrorismo psicológico) feita pela Rede Globo (destaco essa sempre porque o resto da mídia no país sempre foi um "traço" seguindo a "agenda" que geralmente essa impõe) sobre as eleições nos EUA e mais sobre o pós-eleição naquele país, além da posse de Trump.

*A quem quiser ler logo a análise do Petras, este é o link (colocarei este link de novo, mais abaixo, dentro do contexto do post pois pode ser que mão queiram ler o post então leem a análise, que é bem relevante):
Pela primeira vez, Estados Unidos experimentam o golpismo ao estilo latino-americano

Só um adendo pertinente: mão temos mídia no Brasil, encare isso como algo sério e não retórico. Em um cenário desses os blogs (dependendo da qualidade, há centenas, milhares deles) prestam um serviço à população, mesmo que não haja reconhecimento de muitos disso, e inclusive "estrelismo" e "vista grossa" até de outros sites e blogs com alguns blogs de política e/ou história. O que temos de "mídia" razoável são lampejos na internet de sites que contrapõem essa "grande mídia", a "grande mídia" que só defende interesses econômicos dos setores mais ricos do país ou às vezes nem isso, pois a mesma faz uma defesa de entrega do patrimônio do país (entreguismo) a corporações privadas estrangeiras ou mesmo estatais estrangeiras, ataque a direitos trabalhistas (do povo) e todo tipo de patifaria contra a maior parte da população.

Aos que acham (ou achavam, tem muita gente que tinha "muitas certezas" nesses últimos anos e cada uma dessas "certezas" está vindo abaixo à medida que o governo golpista destrói de fato o país... se meter em briga política graúda sem entender o que se passa, dá nisso... da próxima, tenham mais cautela...) que o maior problema do país é a corrupção, tudo isso que relatei acima sobre a mídia e defesa de interesses de corporações ricas é a "mãe da corrupção" e dos grupos históricos corruptos do país, por isso que sempre fui cético e me manifestei contra àquelas manifestações falsas com camisas da CBF "em defesa do país" (entre aspas, não houve defesa alguma e sim entrega do controle do país ao que há de pior nele: a gangue do PSDB e a parte neoliberal do PMDB, braços políticos da Globo no congresso nacional). Não é exagero o que vou dizer: quem manda neste país desde a redemocratização (em 1985) é a Rede Globo, com um lampejo (uma "pausa" breve em que o carisma político de uma liderança abafava esse domínio televisivo da Globo) nos dois governos Lula, e para por aí.

Voltando ao tema inicial, a Rede Globo de Televisão (o grupo como um todo, pois abrange rádios, jornais, TV a cabo etc) sempre foi ideologicamente alinhada ao Partido Democrata dos EUA, pelo menos de forma mais destacada desde o golpe de 1964, o golpe que instaurou uma ditadura no país de 21 anos. Caso Time-Life/Globo [PDF] [Matéria].

Governo norte-americano participa do golpe militar no Brasil (EBC, Brasil)
Democracia Interrompida (EBC, Brasil)
Pouco antes de seu assassinato, Kennedy discutiu ação militar para tirar Jango da Presidência (Arquivos da ditadura, Brasil)
Filme revela como EUA deram o Golpe de 1964 (Conversa Afiada/IG, Brasil)
31 de Março de 1964: deflagrada a ‘Operação Brother Sam’ (Jornal GGN, Brasil)
O encontro entre o embaixador Lincoln Gordon e Roberto Marinho em 1965 (Jornal GGN, Brasil)

Entrevista exclusiva de Hillary Clinton a esta emissora
em seus estúdios em São Paulo (Brasil)
O golpe de 2016 no Brasil foi dado também em um governo Democrata nos EUA, e começa (pra valer) em 2013 com aqueles "levantes/marchas" malfadadas de 2013, que gerou e propagou essa instabilidade no país, colocando literalmente o país abaixo e no estado de "coma" atual. Estragou e eclipsou os dois eventos no país (a Copa e as Olimpíadas), depôs presidente democraticamente eleita, arrasou o PIB do país comprometendo-o por pelo menos 10 ou 20 anos e por aí segue o estrago.

Se você acha que não será atingido por esse desmonte do Estado, é questão de tempo chegar até a você, mas o estrago chegará. Nem se iluda de que sairá "ileso" de toda essa "lambança", quer por participação ou omissão.

A Globo é a cabeça principal do golpe de Estado civil de 2016, sem ela os outros grupos golpistas sequer teriam visibilidade ou força. A Operação Lava Jato (ou seria Vaza a Jato?) que sempre livrou a cara de tucanos (protegendo-os) só tem a força que tem graças a esta emissora blindando o "juiz principal" da mesma. Operação "Cavalo de Troia", que usa o "combate à corrupção" pra destruir empresas nacionais e milhares de empregos pra abrir mercado pra multinacionais estrangeiras, que praticarão corrupção igual ou pior, sendo que o dinheiro conseguido por essas empresas não ficará no país, o grosso será enviado pro país sede delas (gerando riqueza pra outros países, não pro povo brasileiro).

A Globo tinha crença absoluta que Hillary Clinton, ligada às forças mais belicistas e financistas dos EUA (o grupo neocon que fez a guerra no Iraque com W. Bush a apoiou na última eleição), venceria fácil as eleições nos EUA.

A Globo chegou a repetir na véspera da eleição dos EUA que "pesquisas davam como certa vitória de Clinton com 99%" (em seu canal fechado, GloboNews, que eu chamo "carinhosamente" de GolpeNews). Que é o que chamo ironicamente de "jornalismo de torcida", pois isso não é "jornalismo" e sim "torcida de futebol" (claque) distorcendo fatos pro lado que "torce" (levantando bandeira), não narrando os fatos de forma adequada mostrando os dois lados (ou quantos lados houver).

Pois bem: quem venceu a eleição? Donald Trump (risos).

Querem ver o descontrole (ou rever)? Isto aqui foi durante a campanha dos EUA, repórter da Globo com raiva de Trump se descontrola e solta um "put* que pariu" (é o novo "padrão Globo de qualidade", hahahaha).



A "cobertura" feita pela GloboNews (GolpeNews) sobre os EUA, desde então, tem sido disso pra baixo, torcida mesmo e ressentimento pela vitória do candidato republicano. Mas por quê tanto desespero com uma eleição em outro país? Abaixo você entenderá.

O que provoca mais confusão na questão é também a estupidez da direita nativa de internet (ou senso comum) chamando a Globo de "esquerda" por não apoiar Trump, sem entender a divisão política dos EUA e a do Brasil, sem entender o confronto ideológico de grupos antagônicos até mesmo dentro de um mesmo espectro político. Existe uma direita real, partidária, empresarial no país, e uma direita "trololó" caricata e raivosa (muito idiotizada, despolitizada, com discurso vazio e entreguista, com viés anti-nacional) composta por gente de classe média, com slogans moralistas e simplistas. Embora também haja grupos com esta mesma mentalidade e com poder, vide a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

A vitória de Trump provocou um surto de histeria na malta golpista (estou destacando a Globo, mas não foi a única, mas é mais surtada desde então, o panfleto da Editora golpista Abril, a Veja, também está descontrolada) que não conformada com o resultado passou a atacar o candidato republicano de todas as formas possíveis, achando que tem "poder" (pausa pro riso de novo, hahahaha) de interferir no cenário interno dos EUA com essa postura, deixando mais perplexa ainda a já tosca e confusa direita "trololó" UDN de classe média que apoiou o golpe no país como "manada" desta emissora.

Por que este descontrole/histeria ocorre na Globo?

Provavelmente porque a articulação do golpe de Estado de 2016 é/era totalmente ligada ao governo Obama, e pode ter sido desmontada ou está em vias de ser. Além do Brasil e América do Sul não serem prioridade ou não interessarem ao atual governo eleito dos EUA.

Sem alguma articulação externa (apoio, suporte) é difícil um golpe desse tipo vingar em um país de dimensões continentais (ou em qualquer país). Essa elite entreguista e bananeira do Brasil sempre foi ridícula e anti-nacional demais (a questão nacional na América do Sul difere da Europa) pra fazer algo dessa monta por "conta própria", posso estar sendo duro mas os acho estúpidos demais até pra executar um negócio desses por "conta própria", sem apoio externo, e o envolvimento dos Estados Unidos na política interna dos países da América Latina é conhecido e remonta até antes da segunda guerra.

Não existe golpe desse tipo sem apoio externo, sem isso a malta que deu o golpe fica totalmente à deriva.

Entenderam o descontrole da mídia e do governo golpista depois da eleição de Trump? Vem dessas questões.

O que relato acima não se trata de uma defesa de Trump, mas ele foi eleito de forma legítima, e não posso concordar com essa agenda golpista, antidemocrática, enganosa dessa emissora que sempre tentou pôr abaixo a soberania do país com ajuda ou cumplicidade de outros grupos fortes no país (e de fora). Como também é uma agenda não só dessa emissora como de grupos "controvertidos" que dizem "representar" minorias fora, mas que já vimos o filme por aqui no que deu (desde 2013, o saldo de desgraça ao redor do mundo, vide também as tais "Primaveras árabes").

Na posse de Trump apareceram finalmente os "Black Blocs" nos EUA, com o mesmo quebra-quebra que fizeram no Brasil, Egito e outros países. Parece que o mesmo núcleo do golpe está agora ocupado tentando implodir o governo dele nos EUA, de certa forma é algo inédito (é disso que trata um link que deixarei abaixo).

Gente como esse cidadão (George Soros), que à parte os devaneios de "grupos de teoria da conspiração", não vale absolutamente nada mesmo, andou dando declarações terríveis. Uma declaração dessas é coisa típica de quem não tem apreço algum à democracia ou países e só a interesses privados:
Soros. Donald Trump “é um aspirante a ditador” e “vai cair” (Observador, Portugal)
Soros: Trump “é um aspirante a ditador” e “vai cair” (Jornal Económico, Portugal)
George Soros: Theresa May won't last and Trump is 'would-be dictator' (The Guardian, Reino Unido)
George Soros: Donald Trump 'will fail' and Theresa May's Brexit could 'last three days' (The Independent, Reino Unido)

Se quer entender um pouco mais da "fúria" dele com a vitória de Trump, dê uma lida:
Soros perdeu quase US$ 1 bilhão após eleição de Donald Trump

Quer saber das ligações de Soros com o Brasil e o narco-partido (PSDB)? Dê uma lida pra recobrar a memória (brasileiro é ruim de 'memória', por isso que sempre é enrolado):
Armínio Fraga: 'guru anticrise' ou 'vassalo dos mercados'? (BBC Brasil)
Armínio planejou ataques especulativos para Soros (Carta Maior)
Como Arminio Fraga explodiu a economia em 2002 (Jornal GGN)

Assistiu a grande mídia do país noticiar essas coisas?

Penso que não viu (e nem verá). Pode ser que com essas críticas eles resolvam noticiar essas coisas (estou chutando, sendo "benevolente"), mas até o momento não saiu nada (e nem espere muito, o noticiário é manipulado).

A vitória de Trump "parece" simples de analisar, mas não é, e você não encontrará nada de relevo assistindo essa mídia "vendida" do país, que deu o golpe contra o próprio país (e contra a maior parte da população, que também tem culpa no que se passa por não ter se levantado e se posicionado contra), alinhada ao grupo derrotado nos EUA.

O discurso vitimista "politicamente correto" também sofreu sérios danos. Em relação a qualquer claque que venha me acusar (e a outros) de sermos "parte" desse tipo de grupo, eu nunca nutri qualquer simpatia a partidos como PSOL, PSTU alinhados com essa baboseira ideológica importada dos Democratas (liberais dos EUA), que a meu ver é o ápice do discurso de domínio neoliberal no mundo, carcomeu até partidos de esquerda históricos pelo mundo com essa retórica aparentemente "bondosa" mas que nunca resolveu problema de preconceito algum (e nem vai resolver), e só fez confundir e pregar autoritarismo.

Combate a preconceito se faz com o livre debate mesmo. Eu fui um dos últimos a aderir à questão que o Roberto Muehlenkamp e a turma do Holocaust Controversies colocava sobre a questão do livre debate e os negacionistas (meu ponto de vista era só restrito à questão da negação do Holocausto, revi até esse ponto), mas posso dizer que eles estavam certos sobre a questão, somente a discussão com argumentos, sem censura, livre, combate certos discursos.

Sem mais delongas, deixo aqui uma análise/entrevista do sociólogo norte-americano James Petras sobre a divisão interna dos EUA com a eleição de Trump, mostrando a briga interna dos EUA. Não vou cravar que é algo inédito (a disputa interna intensa nos EUA, embora a forma atual seja), os anos 60 e 70 foram turbulentos e já teve mais disputa de poder pesado com morte de presidentes (e candidatos) por lá (pros que pensam que a Democracia dos EUA é "perfeita", é só aparência, mexeu com o poder da elite 'hardcore', o "pau come", literalmente), entrevista que sai do lugar comum e detalha realmente o que se passa naquele país.

Pentágono x CIA

"Pela primeira vez, Estados Unidos experimentam o golpismo ao estilo latino-americano"
http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FInternacional%2FPela-primeira-vez-Estados-Unidos-experimentam-o-golpismo-ao-estilo-latino-americano%2F6%2F37488
"A CIA, que está se metendo na política doméstica, participa de uma conspiração para negar a decisão constitucional da eleição de Donald Trump."

James Petras
Não localizei o site original, mas a entrevista foi dada pra Rádio Centenário do Uruguai (consta na matéria a informação). Saiu em dezembro passado, mas não foi possível colocar no blog antes.

Entrevistas como essa dificilmente serão mostradas pela Globo (em todos os seus veículos de mídia) e pela "grande mídia" do país (refiro-me ao resto que disputa o "traço" de audiência). O interesse desses grupos é outro, no momento acham que demonizando Trump mudarão algo internamente no Brasil. São uma piada grosseira. Mas não é só eles a fazer isso, a mídia europeia dita "progressista" em geral tem feito a mesma coisa, jornais como o The Guardian chegam ao ridículo com a questão, o "El País" (Espanha) é outra piada de mau gosto. Haja alinhamento e dinheiro liberal com essa mídia, cada vez mais desacreditada pela ausência de jornalismo e muito "jornalismo de torcida" pra manipular resultados.

E mais uma vez faço um apelo pra discussão em um nível mais apurado em vez da discussão "de piti" protagonizada por aqueles grupos de olavetes/coxinhas (essa direita tosca entreguista liberal de internet) e essa turma "pós-moderna" psolista que só fazem encher a paciência, no fundo são farinha do mesmo saco. Política graúda não tem lugar pra "paixões" pueris de grupos toscos. O Brasil definitivamente não é pra "amadores", para as duas partes toscas da briga, parem de querer se meter em briga graúda sem entender o que de fato se passa, sem entender a geopolítica por detrás desses episódios, todo "voluntarismo" costuma ser punido de forma pesada pelo "rolo compressor da História", essa ideia de vocês (e de boa parte da população) de que brigas em países (grandes como o Brasil) são só "assunto interno" é de um provincianismo ridículo (patético, ingênuo), e tudo isso tem implicações bem sérias na vida de milhões, poderemos pagar (ou provavelmente pagaremos) caro por décadas por toda essa lambança que começaram em 2013.

P.S. depois colocarei os links (e informações adicionais) de alguns trechos com citações pois vou ter que procurar as matérias (resolvi publicar o post assim mesmo)

P.S. 2 assistam o vídeo pois não garanto que fique no ar pra "sempre", a Globo sempre tenta tirá-los do ar (rs)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Alguns heróis ciganos

O povo romani reivindica referências como o boxeador Johan Trollmann, o ilustrador Helios Gómez ou o líder anarquista Mariano Rodríguez Vázquez

Da esquerda para a direita, o líder da CNT Mariano Rodríguez Vázquez,
o grafista Helios Gómez, e o boxeador Johan Trollmann.
Jóvenes gitanos plantan cara al antigitanismo
HELENA LÓPEZ / BARCELONA

Quinta-feira, 8 de dezembro de 2016 - 17:18 CET

Johan Trollmann (1907-1944), conhecido como Rukeli, foi campeão nacional de boxe na Alemanha de 1933, ano em que Hitler ascendeu ao poder. Não é estranho dizer, pois, que oito dias depois, os nazis retiraram o título alegando "falta de nível". O Terceiro Reich não podia aceitar exaltar a um cigano. Um jovem como Rukeli, nas antípodas do modelo ariano que o nazismo pretendia impor. Não só por sua tez morena e sua frondosa mata de cabelo azeviche, senão também por seu característico estilo dançarino sobre o quadrilátero, muito longe do duro 'estilo alemão'. Saltos ágeis e muito efetivos que, contam, tiravam os nazis do sério. Assim que, não sendo bastante lhe retirar o título de campeão, ameaçaram-no em lhe negar também a licença para seguir competindo a nível profissional se não deixasse de "dançar" enquanto lutava.

A seguinte peleja que ele participou acudiu depois de terem tirado seu título, Rukeli, desafiante, subiu ao ringue com o cabelo tingindo de ruivo e o rosto polvilhado de branco (algumas versões dizem que com farinha, outras, que com pó de talco). Com a rebeldia própria de sua condição cigana, Rukeli fez caso e, por uma vez, não dançou. Ficou no centro do ringue coberto em pó branco sem mover as pernas até que foi nocauteado no quinto assalto; tudo dignamente. Ali terminou sua carreira, mas esse gesto de galhardia lhe converteu em um herói para o povo cigano. Um gesto simples mas estoico com o qual ridicularizou a todo um regime racista, que acabou o encarcerando em um campo de trabalho forçado.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL HELIOS GÓMEZ
Os anjos negros da 'Capela cigana' da Modelo,
pintados por Helios Gómez na prisão
Histórias como a de Rukeli, ainda referência, são as que os jovens ciganos não só daqui, senão de meia Europa, reivindicam, fazendo pressão tanto a seus governos locais como através das poderosas redes sociais para lhes fazer justiça.

ARTISTA INTERNACIONAL

Em Barcelona também há heróis ciganos com histórias muito desconhecidas, pese o impacto que deixam em quem as descobre (algo que se sente difícil, já que a história do povo cigano não é estudada nos colégios). É o caso de Helios Gómez (1905-1956), autor da 'Capela cigana' (Link2) de 'La Modelo', ainda tapada sob uma capa de cal em uma habitação fechada. Rebelde como Rukeli, Gómez foi anarquista, comunista e de novo anarquista, segundo desencadeou em decepções. Preso em incontáveis ocasiões por sua ideologia, o ilustrador foi 'convidado' pelo cura do cárcere pra que desenhasse em uma das paredes da cela um fresco da Virgem das Mercês (Barcelona). Também ao melhor estilo Rukeli, Gómez - que fora proibido de pintar entre grades - concordou, mas o fez, como não, a sua maneira. Pintou uma Virgem e um menino Jesus rasgos inequivocamente ciganos, acompanhados por uns anjos negros de Machín que acabaram se convertendo em um apelo contra o regime.

O filho de Helios, Gabriel, passa anos trabalhando na associação cultural que leva o nome de seu pai para restituir a memória do ilustrador, grafista e poeta e de "todos os que, como ele, lutaram pela liberdade".

Outra figura cigana muito reivindica, também rebelde e anarquista, é Mariano Rodríguez Vázquez, 'Marianet'. Secretário Regional da Catalunha e da CNT entre novembro de 1936 e junho de 1939, "desempenhou um papel decisivo no futuro anarcosindicalista e na vida política e social da guerra civil espanhola", segundo a Wikipedia. Urge que as petições do coletivo de que se estude e documente a fundo sua história sejam escutadas para poder ir mais além da enciclopédia livre.

Fonte: El Periódico, Barcelona (Espanha)
http://www.elperiodico.com/es/noticias/barcelona/algunos-heroes-gitanos-5674253
Título original: Algunos héroes gitanos
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Restos encontrados em Pskov, Rússia

Um novo artigo foi publicado na semana passada sobre o achado de um túmulo e memorial para 14 judeus, consistindo de "dois recém-nascidos, dois adolescentes, um idoso e nove mulheres" encontrados próximo a Pskov, uma cidade russa à leste da fronteira estoniana. Os restos foram achados por Poisk (Search), uma organização que busca por restos de soldados em áreas de combate pesado da segunda guerra. Poisk poderia verificar que estes eram civis porque, como afirmado pelo porta-voz de Poisk, Rachim Dzhunusov, "os restos eram de crianças, mulheres e idosos, e alguns (crânios) foram quebrados por golpes de coronhadas de rifles [e] e tivemos que os coletar pedaço por pedaço", os mortos "foram despidos, não havia uma única fivela, botão, nada". O artigo deduz da declaração de uma testemunha que os judeus haviam sido capturados depois de fugir da Letônia, mas havia também fontes afirmando que o Einsatzkommando de Sandberger tinha relocado 400 mulheres e crianças da Estônia para Pskov, onde eles foram executados sobre a ordem de Jeckeln em janeiro de 1942. O Yad Vashem tem fontes online sobre os cinco locais de extermínio próximos a Pskov.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2016/12/bodies-found-in-pskov-russia.html
Título original: Remains Found in Pskov, Russia
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Filme: "Holocausto Brasileiro" mostra barbárie em hospital psiquiátrico em Minas Gerais

Baseado no livro homônimo de Daniela Arbex, novo documentário da HBO estreia neste domingo (20) e choca por realidade desconhecida

Depois de inspirar uma série de reportagens e um livro, a história do Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, é tema do documentário "Holocausto Brasileiro", que estreia neste domingo (20), às 21h, no canal MAX.
Divulgação/HBO: "Holocausto Brasileiro" mostra caso
do Hospital Colônia de Barbacena, onde 60 mil pessoas morreram
Baseado no livro homônimo de Daniela Arbex, "Holocausto Brasileiro" conta o que acontecia nos muros do Colônia, que tratava de pacientes com supostos problemas mentais. Cerca de 60 mil pessoas morreram no hospital durante seus 80 anos de funcionamento.

"Muita gente da minha geração não conhecia essa história, então achei importante contar", explicou a diretora em entrevista ao iG. Ela assina o documentário com Alessandro Arbex e a equipe da HBO Latin America.

O filme demorou dois anos para ser produzido, entre 2013 e 2015, e traz depoimentos emocionantes de sobreviventes do hospital. "Não dá para contar uma história dessas sem se tocar", confessou Daniela sobre a produção do documentário. Na época em que ela começou a série de reportagens sobre o Colônia para o jornal Tribuna de Minas, em 2011, a jornalista tinha acabado de ser mãe pela primeira vez. "Mexeu muito comigo ver as histórias daquelas mulheres que tiveram seus filhos tirados delas", admitiu.

O documentário mostra com detalhes as condições as quais as pessoas internadas no Colônia eram submetidas. Entrevistas com funcionários do hospital e jornalistas que acompanharam a situação de perto são a base para o filme, que faz revelações chocantes, como as de que centenas de pessoas morreram de fome na instituição e de que os pacientes chegaram a beber esgoto por não terem água limpa.

Reprodução: O Hospital Colônia de Barbacena,
em Minas Gerais, é o cenário de "Holocausto Brasileiro"
Para a jornalista, o filme serve para documentar a memória das pessoas que sofreram no hospital. Muitas das pessoas que seriam entrevistadas morreram durante a produção do documentário, enquanto outras que aparecem na tela nunca chegarão a assisti-lo. Um deles é o maquinista do trem que levava os internos até Barbacena. "Era o sonho dele estar em um filme", lamenta a diretora sobre o personagem da entrevista que abre "Holocausto Brasileiro", que morreu antes de conseguir ver o filme.

Mexendo no vespeiro

Quando começou a explorar a história do hospital, Daniela Arbex sabia que o tema poderia causar bastante barulho, mas não tinha ideia da grandeza que ele tomaria. "Eu sabia que era uma história grandiosa, mas o filme foi a grande surpresa", contou. Quando a série de reportagens foi publicada, a jornalista lembra de ter recebido milhares de e-mails de pessoas que tiveram parentes internados em Barbacena.

O crescimento da história também tornou o trabalho de Arbex mais difícil. Seu caminho foi se complicando à medida que o caso do Colônia ganhava mais atenção. "Fui muito bem recebida para fazer a matéria, o governo de Minas Gerais até me passou alguns contatos para as entrevistas. Mas quando fui retomar o caso para escrever o livro, passei a incomodar", disse. "O problema maior foi para fazer o filme", contou a diretora, que passou dois meses em Barbacena produzindo o documentário. "As pessoas da cidade não gostavam da gente lá."

Além do Brasil, "Holocausto Brasileiro" também será exibido pela HBO em toda a América Latina. Para Daniela Arbex, isso cumpre seu compromisso com a história. Além do livro ter sido adotado em cursos de ensino fundamental e médio, a jornalista levará o caso do Hospital Colônia de Barbacena para todo o País e o exterior. "O filme é incrível, a gente sabe o potencial dele, e espero que tenha um caminho lindo", disse a diretora.

"Holocausto Brasileiro" mostra barbárie em hospital psiquiátrico em Minas Gerais
Por Caio Menezes | 20/11/2016 09:00

Fonte: Portal IG
http://gente.ig.com.br/cultura/2016-11-20/holocausto-brasileiro.html
__________________________________________________________

Acréscimo:

Um pequeno adendo (pequena introdução) ao documentário e livro, lembro de uma matéria que tratava do assunto feita pelo Goulart de Andrade sobre um Hospital psiquiátrico em Juqueri (https://www.tvgazeta.com.br/videos/goulart-de-andrade-em-juqueri/). Mais sobre a matéria conferir aqui. Sempre que vejo algo sobre o livro ou documentário desse livro da Daniela Arbex lembro dessa matéria no Juqueri que me impactou profundamente (provocou um ódio profundo das classes dominantes deste país, do desprezo deles pela vida humana, do higienismo ideológico nazi-liberal dessa gente, gente bárbara, asquerosa, gente da pior espécie, sempre que olho as imagens me causa nojo da classe dominante deste país, da perversão pela qual são "fabricados"). Esses hospitais psiquiátricos parecem/pareciam campos de concentração, literalmente.

Eu ia divulgar o livro "Holocausto brasileiro" (Daniela Arbex) no ano em que saiu (acho que em 2013), mas devidos aos altos e baixos do país (com um golpe no meio, sabotagens etc, e um certo desânimo), foi ficando pra depois, depois... e acabou por não se mencionar antes o livro, e agora o documentário sobre o livro. Mas antes tarde que nunca.

O documentário "Holocausto brasileiro" (procurem pelo Youtube, se não tirarem do ar) mostra a outra face do Brasil, a que a "propaganda oficial" do país não mostra pro mundo, pois colocaria abaixo a imagem de "país cordial", "pacato", "diferente de todos os outros" que a propaganda oficial do país costuma vender, e que acaba por acobertar os inúmeros crimes, desrespeitos e brutalidade que ocorrem corriqueiramente no país pelas pessoas "cordiais" do país e aparato burocrático/privado.

Um país que trata doentes mentais desta forma como a relatada nesses documentários e livro, mostra na realidade um país não muito diferente de uma Alemanha nazi, o princípio de internamento dessas pessoas era o mesmo usado no nazismo, e por 80 longos anos (o regime nazi durou 12 anos). Até a escala de mortes é parecida.

A quem quiser ler mais: Doentes mentais e o Nazismo

Há alguns puristas ou fanáticos religiosos (cheios de melindre, serei sincero, não gosto de quem mistura crença religiosa com questões desse tipo, não gosto de fanático religioso) que não gostam que usem a palavra "Holocausto" pro livro e pro documentário.

Sinceramente, sacralizar uma palavra ou confinar a mesma a um episódio histórico é uma postura bem perigosa (e egoísta também) e que em nada ajuda no entendimento dessas questões, até porque o termo mais adequado pro que houve na segunda guerra é genocídio. Não vou entrar aqui na discussão do surgimento e adoção/uso do termo Holocausto pro genocídio nazista, no blog tem explicação pra isso em posts antigos (clique aqui). Também não tenho o menor interesse em que melindra com supostas "ofensas" sobre uso do nome, não acredito nessas ofensas e sim em uma postura fanática, autoritária e possessiva.

Não vou me alongar mais, leiam a matéria sobre o filme (esta introdução ficaria no começo do post mas resolvi pôr no fim pra não atrapalhar a leitura).

Entrevista com a autora: Livros 63: Holocausto Brasileiro - Daniela Arbex

sábado, 5 de novembro de 2016

Nazismo de esquerda? (Richard J. Evans) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 02

A quem não entendeu o post, sugiro ler a Parte 01, pois haverá muitas outras partes (espero) sobre o que nos dizem os Historiadores da segunda guerra, nazismo e neonazismo (neofascismo) sobre o nazismo ser de direita. Não só de Historiadores como também de memórias (de peso) e de jornalistas, como o livro clássico sobre o tema que é o "Ascensão e Queda do III Reich" (PDF aqui), do jornalista William Shirer.

Os posts surgiram em virtude da ampla panfletagem de direita feita no Brasil (não só aqui) de grupos de extrema-direita liberal-conservadores tentando empurrar o nazismo pro "campo esquerda" da política, o que não só provoca um problema de entendimento do fenômeno e histórico, como é pura distorção e desonestidade intelectual aguda pra fins políticos. Em grande parte, no caso brasileiro, esta neurose desses grupos (pelo que observo) é porque em muito suas atitudes autoritárias, preconceituosas e saudosas de ditadura se assemelham com parte do nazismo e fascismo, daí o incômodo em querer se livrarem do xingamento de "nazistas", isso quando alguém da esquerda usa pois da parte da esquerda (e do campo democrático, que é mais amplo) há um combate débil a esse tipo de problema (disseminação de panfletagem mentirosa).

Do segundo livro da trilogia do historiador britânico Richard J. Evans, "O Terceiro Reich no poder", com tradução Lúcia Brito. Vol. 2 da trilogia.

Trechos sobre o caráter direitista e conservador do nazismo, e isso porque não selecionei as partes que só falam dos conservadores/conservadorismo porque ficaria extenso os textos, tanto nesta parte como na primeira parte. Serviço de utilidade pública em um país onde uma direita "radicaloide" (principalmente) e ignorante (e pedante) dá um golpe de Estado contra o país e entrega as riquezas do mesmo a petroleiras como se fosse "algo banal" ao mesmo tempo em que cobravam "melhores escolas e hospitais" (podem pedir esmola pra Shell pras escolas e hospitais agora ou pra Chevron, não era isso que queriam? Ou não sabiam do que estava realmente em jogo com todo o ataque promovido pra desestabilizar o país?). Em outros países esse ato dessa gente seria considerado crime de traição grave.
__________________________________________

Pág. 23
Havia uma enorme variedade de grupos extremistas antissemitas de ultradireita em 1919, especialmente em Munique, mas, em 1923, um deles pairava acima dos restantes: o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, dirigido por Adolf Hitler. Tanta coisa foi escrita sobre o poder e o impacto de Hitler e dos nazistas que é importante destacar que o Partido situava-se na periferia distante da política até o final da década de 1920. Em outras palavras, Hitler não era um gênio político que angariou sozinho o apoio em massa para si e seu partido. Nascido na Áustria em 1889, era um artista fracassado com um estilo de vida boêmio que possuía um grande dom: a capacidade de mobilizar as massas com sua retórica. Seu partido, fundado em 1919, era mais dinâmico, mais implacável e mais violento que outros grupos periféricos da extrema direita.

Em 1923, o Partido sentiu-se confiante o bastante para tentar um golpe de Estado violento em Munique como prelúdio para uma marcha sobre Berlim na linha da bem-sucedida Marcha sobre Roma de Mussolini no ano anterior. Mas o Partido fracassou em conquistar o Exército ou as forças políticas conservadoras da Baviera, e o golpe foi dissipado com uma saraivada de tiros. Hitler foi condenado e colocado na prisão de Landsberg, onde ditou seu tratado político autobiográfico, Minha luta, para seu lacaio Rudolf Hess. Por certo não era um plano para o futuro, mas um compêndio das ideias de Hitler, sobretudo a respeito do antissemitismo e da conquista racial da Europa oriental, para todos aqueles que se interessassem em ler.
Pág. 51
Houve mais detenções e fuzilamentos na manhã seguinte, em 1º de julho. No clima geral de violência, Hitler e seus lacaios aproveitaram a oportunidade para acertar velhas contas ou eliminar rivais pessoais. Alguns, claro, eram grandes demais para se atingir, notadamente o general Erich Ludendorff, que andara causando algumas dores de cabeça para a Gestapo com suas campanhas de extrema direita e antimaçonaria; o herói da Primeira Guerra Mundial foi deixado em paz; viria a morrer pacificamente em 20 de dezembro de 1937, sendo-lhe conferidas exéquias respeitosas pelo regime. Mas, na Baviera, o exministro-presidente Gustav Ritter von Kahr, que havia desempenhado um papel-chave ao esmagar o golpe de Hitler em 1923, foi trucidado pelos homens da SS. O crítico de música Wilhelm Eduard Schmid também foi morto na crença errônea de que era Ludwig Schmitt, um ex-partidário do irmão radical de Gregor Strasser, Otto, que havia sido forçado a renunciar ao Partido devido a suas visões revolucionárias e desde então mantinha, da segurança de seu exílio, uma avalanche constante de críticas a Hitler.

O político conservador bávaro Otto Ballerstedt, que tivera êxito em processar Hitler por interromper uma reunião política na qual ele falava em 1921, resultando em um mês de prisão para o líder nazista em Stadelheim, foi detido e fuzilado em Dachau em 1º de julho. Um alto oficial da SS, Erich von dem Bach-Zelewski, escolheu o momento para se livrar de um rival odiado, o líder da cavalaria da SS, Anton von Hohberg und Buchwald, que foi devidamente abatido em casa. Na Silésia, o chefe regional da SS, Udo von Woy rsch, fez fuzilar seu ex-rival Emil Sembach, a despeito de acordo prévio com Himmler de que Sembach seria enviado a Berlim para que lá tratassem do caso dele. A violência também transbordou para outro setor sem conexão. Quatro judeus foram detidos em Hirschberg e “abatidos ao tentar escapar”. O líder da liga de veteranos judeus em Glogau foi levado a um bosque e fuzilado44.
Pág. 102
Sob o Terceiro Reich, o sistema judiciário e penal regular também continuou a lidar com crimes comuns, não políticos – furto, assalto, assassinato e outros –, bem como a impor a nova repressão do Estado policial. Nisso também houve uma rápida expansão da pena capital, à medida que o novo sistema mexia-se para cumprir sentenças de morte pronunciadas contra criminosos capitais na extinta República de Weimar, mas não levadas a cabo devido à incerteza da situação política no começo da década de 1930. Os nazistas prometeram que não haveria mais longos adiamentos de execução enquanto as petições de clemência fossem consideradas. “Os dias de sentimentalismo falso e piegas acabaram”, declarou com satisfação um jornal de extrema direita em maio de 1933. Em 1936, cerca de 90% das sentenças de morte proferidas pelos tribunais estavam sendo cumpridas.  

Promotores e tribunais agora eram encorajados a acusar todos os homicidas de assassinato doloso em vez do crime não capital de homicídio culposo, chegar ao veredito de culpado e proferir a sentença mais dura, resultando em um aumento do número de sentenças de homicídio doloso para cada mil adultos da população de 36 em 1928 para 76 em 1933-3722. Criminosos eram em essência degenerados hereditários e deviam ser tratados como párias da raça, argumentavam os nazistas, recorrendo à obra de criminologistas ao longo das últimas décadas e deixando de lado as qualificações e sutilezas que cercavam as teses principais de tais estudos23.
pág. 180
No final da década de 1920, Rosenberg havia se tornado líder da Liga de Combate pela Cultura Alemã (Kampfbund für deutsche Kultur), uma das muitas organizações especializadas estabelecidas dentro do Partido na época. Em 1933, a Liga agiu depressa para tomar sob seu controle as instituições teatrais alemãs “coordenadas”46. Rosenberg também estava ávido para impor pureza ideológica sobre muitos outros aspectos da cultura alemã, inclusive música e artes visuais, igrejas, universidades e vida intelectual, todas elas áreas que Goebbels originalmente tencionava que caíssem sob o controle do Ministério da Propaganda47.  

A Liga de Combate pela Cultura Alemã era pequena, mas muito ativa. Sua afiliação aumentou de 2,1 mil em janeiro de 1932 para 6 mil um ano depois, 10 mil em abril de 1933, e 38 mil no outubro seguinte. Muitas das investidas contra músicos judeus e esquerdistas que ocorreram na primavera e no começo do verão de 1933 foram organizadas ou inspiradas pela Liga de Combate pela Cultura Alemã, integrada por um número substancial de críticos de música e escritores de extrema direita. Além disso, Rosenberg tinha uma poderosa arma de propaganda à sua disposição na forma do Observador Racial, o jornal diário nazista, do qual ele era o editor-chefe. Para piorar a situação para Goebbels, as visões de Rosenberg sobre arte e música eram muito mais afinadas com as de Hitler que as dele, e em mais de uma ocasião o pendor de Goebbels por inovações culturais ameaçou dar a vantagem para Rosenberg48.
pág. 265
No fim das contas, porém, composições como Carmina Burana, a despeito de toda a popularidade, ficaram em segundo lugar no panteão musical, atrás dos grandes compositores de épocas passadas mais admirados por Hitler. O primeiro entre esses era Richard Wagner. Hitler era um adorador de suas óperas desde a juventude em Linz e Viena antes da Primeira Guerra Mundial. Elas encheram sua cabeça com retratos míticos de um passado alemão heroico. Wagner foi também o autor de um notório panfleto atacando o Judaísmo na música. Contudo, a influência do compositor sobre Hitler com frequência tem sido exagerada.

Hitler jamais referiu-se a Wagner como fonte de seu antissemitismo, e não há evidência de que tenha lido qualquer um dos textos de Wagner. Ele admirava a coragem resoluta do compositor na adversidade, mas não reconheceu nenhuma dívida a suas ideias. Se Wagner teve influência sobre os nazistas, foi menos direta, por meio de doutrinas antissemitas do círculo que sua viúva Cosima reuniu após a morte dele, e do mundo mítico retratado em suas óperas. Ao menos nessa área eles habitavam o mesmo espaço cultural, repleto de nacionalismo mítico alemão. A devoção de Hitler a Wagner e sua música era óbvia. Já na década de 1920 ele havia se tornado amigo da nora inglesa de Wagner, Winifred, e de seu marido Siegfried Wagner, guardiães do templo do compositor na grande casa de ópera que ele construiu em Bay reuth. Eram partidários resolutos da extrema direita. No Terceiro Reich, tornaram-se algo muito parecido a uma nobreza cultural28.
pág. 293-294
Um exemplo pessoal característico da fusão de patriotismo, militarismo e religiosidade na tradição dominante do protestantismo alemão foi proporcionado por Martin Niemöller, pastor de Berlim nascido em 1892 e filho de um pastor luterano, embora batizado como calvinista. Niemöller tornou-se cadete-oficial da Marinha alemã e então serviu a bordo de submarinos na Primeira Guerra Mundial, assumindo o comando de um em junho de 1918. Suas reminiscências da guerra não são nenhuma obra-prima da literatura, mas exsudam um espírito empolgado comparável a Tempestade de aço, de Ernst Jünger, celebrando com gosto o afundamento de navios mercantes inimigos. Ao atracar em Kiel no final de novembro de 1918 após ouvir pelo rádio as notícias sobre o encerramento da guerra e o colapso da monarquia, ele viu-se, conforme escreveu mais tarde, como “um estranho em meu próprio país”. 

Não havia “um ponto de agrupamento para homens de mentalidade nacionalista” que se opunham “aos manipuladores dessa ‘Revolução’”3. Um período de trabalho em uma fazenda convenceu-o de que devia se encarregar de resgatar sua nação da catástrofe espiritual que julgava ter se abatido sobre ela, e começou a formação de pastor na Westfália. Ativo na liga de estudantes dos nacionalistas alemães, apoiou o golpe abortado de Kapp que tentou derrubar a República em março de 1920. Ajudou a fundar uma unidade das Brigadas Livres de 750 estudantes para lutar contra o Exército Vermelho formado por grupos de esquerda na região. Mais adiante, envolveu-se em outro grupo paramilitar de extrema direita, a Organização Escherich. Em 1923, Niemöller e seus irmãos carregaram o esquife do sabotador nacionalista Albert Leo Schlageter, abatido por tropas francesas em Düsseldorf durante a ocupação do Ruhr4.
pág. 404-405
O sucesso dos nazistas em adequar as universidades a seus propósitos ideológicos foi, portanto, surpreendentemente limitado26. O ensino continuou com mudanças apenas relativas e superficiais na maior parte dos setores. Estudos sobre as teses de doutorado concluídas durante a era nazista mostraram que não mais de 15% delas poderiam ser classificadas de nazistas na linguagem e abordagem27. Professores esnobes e elitistas do tipo tradicional desprezavam abertamente os aventureiros políticos trazidos para dentro das universidades pelo regime, ao passo que a maioria destes ficava tão enfronhada na administração universitária que tinha pouco tempo para propagar suas ideias aos estudantes. Por outro lado, o anti-intelectualismo do movimento nazista assegurou que muitas figuras importantes do Partido, de Hitler para baixo, ridicularizassem muitas daquelas ideias e as julgassem obscuras demais para ter qualquer relevância política real.

Nem Bernhard Rust nem Alfred Rosenberg, as duas lideranças nazistas eminentes no campo da educação e ideologia, eram politicamente hábeis ou determinados o bastante para driblar professores astutos cujas aptidões para intriga e dissimulação haviam sido aguçadas em décadas de luta interna nos comitês universitários. A fundação de um novo instituto dedicado ao estudo de alguma obsessão nazista favorita podia ser saudada pelos professores conservadores como uma forma de se livrar de um colega impopular por meio de um desvio acadêmico, como aconteceu quando o rabugento historiador de extrema direita Martin Spahn ganhou o seu próprio Instituto de Política Espacial na Universidade de Colônia em 1934. Isso matou dois coelhos com uma única cajadada, visto que removeu Spahn do Departamento de História, onde ele era profundamente impopular, para um setor em que não tinha que entrar em contato com os colegas, e ao mesmo tempo demonstrou o comprometimento da universidade com as ideias geopolíticas do novo regime28.
pág. 407
Pacifista, judeu, teórico e partidário da República de Weimar, Einstein representava tudo que Lenard mais odiava. Além disso, os cientistas que tinham validado sua teoria eram britânicos. No debate que se seguiu sobre a relatividade, Lenard assumiu a liderança da rejeição à teoria de Einstein como uma “fraude judaica” e da mobilização da comunidade da física contra ela. Lenard foi parar nos braços dos nazistas quando sua recusa em aderir ao luto oficial pelo assassinato do ministro de Relações Exteriores Rathenau – cujo extermínio ele havia defendido publicamente não muito tempo atrás – desencadeou uma manifestação sindical contra ele em 1922, e Lenard teve que ser levado em custódia policial para sua própria proteção.  

Proibido de retornar ao trabalho por sua universidade, Lenard foi reintegrado em consequência da pressão dos estudantes de extrema direita, em cuja órbita ele então gravitava. Em 1924, louvou em público o golpe da cervejaria de Hitler no ano anterior e, embora não entrasse formalmente para o Partido Nazista até 1937, já era para todos os fins e efeitos um seguidor do movimento e participou ativamente do trabalho de grupos como a Liga de Combate pela Cultura Alemã de Rosenberg. Saudou a chegada do Terceiro Reich com entusiasmo desenfreado, celebrou a remoção de professores judeus das universidades e publicou um texto em quatro volumes sobre Física alemã em 1936-37 que ele com certeza esperava que proporcionasse os fundamentos para uma nova “física ariana” de base racial que eliminaria de uma vez por todas a doutrina da relatividade da ciência alemã33.
pág. 453
Schacht foi catapultado para a fama perto do final de 1923 pelo papel como comissário para a moeda nacional, cargo a que foi indicado por Hans Luther, na época ministro das Finanças. Ele provavelmente deveu a nomeação às extensas conexões que havia construído nos círculos financeiros, ao longo dos anos anteriores, como diretor de uma sucessão de grandes bancos. Seu papel para acabar com a hiperinflação levou-o à indicação para presidente do Reichsbank após a morte súbita do prévio detentor do cargo em 20 de novembro de 1923. Ali ele consolidou a reputação de mago financeiro ao manter com sucesso a estabilidade do rentenmark e depois – com um coro de desaprovação da extrema direita – desempenhar um papel-chave na renegociação das reparações sob o Plano Young.

No começo de 1930, quando o governo renegociou partes do Plano que Schacht considerava que deveriam ter sido mantidas, ele exonerou-se e entrou em aposentadoria temporária. Isso sugeriu que então havia se deslocado para a extrema direita nacionalista em termos políticos; de fato, na época ele deixou o Partido Democrata, embora sem transferir sua lealdade para nenhum outro. Apresentado a Hitler em um jantar dado por Hermann Göring no começo de 1931, ficou favoravelmente impressionado com o líder nazista. Como muitas outras figuras do sistema, Schacht achou que o radicalismo de Hitler poderia ser domado com a associação do nazista a outras figuras mais conservadoras e mais experientes, como ele mesmo62
pág. 472
Não foi surpreendente, portanto, que ele escolhesse um representante de destaque da comunidade empresarial como ministro da Economia do Reich após a saída forçada do intratável nacionalista alemão Alfred Hugenberg5. O escolhido foi Kurt Schmitt, diretor-geral da seguradora Allianz. Nascido em 1886 na modesta família burguesa de um médico, Schmitt foi um entusiasmado membro das fraternidades de duelo na universidade, onde estudou direito comercial, e a seguir trabalhou por curto período no serviço público bávaro sob Gustav Ritter von Kahr, que mais tarde ficaria famoso na extrema direita da Baviera. Pouco depois da eclosão da guerra, Schmitt entrou na filial de Munique da Allianz. Embora trabalhasse muitíssimo, não tinha nada de burocrata insensível. Ele desenvolveu uma abordagem humana para o seguro, fazendo pessoalmente a mediação entre reclamantes e segurados, reduzindo com isso de modo substancial o número de dispendiosas ações judiciais com que a companhia tinha que lidar.

Como era de se prever, isso levou à sua rápida ascensão pelos escalões administrativos, uma ascensão que não foi seriamente interrompida pela guerra, da qual ele teve baixa por invalidez no começo, com um ferimento pequeno que infeccionou repetidas vezes e o impediu de voltar ao front. Tornou-se diretor-geral aos 34 anos de idade. Em breve, encorajado pelos subordinados, Schmitt vestia dispendiosos trajes sob medida e convivia com os maiorais nos clubes de cavalheiros de Berlim. Sob a liderança de Schmitt, a Allianz expandiu-se rapidamente com fusões e tomadas de controle que caracterizaram também outros setores do mundo empresarial na década de 1920. A exemplo de outros empresários, Schmitt estava insatisfeito com as condições sob as quais a iniciativa privada tinha que operar na era de Weimar e fez lobby por uma reforma na lei referente aos seguros por meio da Associação do Seguro Privado do Reich. Isso colocou-o em contato com políticos importantes, dos quais muitos ficaram impressionados com sua competência, determinação e evidente sagacidade financeira. No começo da década de 1930, Schmitt havia se tornado uma figura pública de certo renome. Ele incrementou sua reputação com o desempenho no Conselho Consultivo Econômico implantado por Brüning. Tanto Brüning quanto Papen ofereceram-lhe o cargo de ministro das Finanças. Ele recusou as ofertas na crença de que a situação econômica reinante não lhe permitiria fazer o trabalho com qualquer grau de sucesso6.
pág. 576
No final do século XIX e começo do século XX, o campesinato alemão em geral enquadrava-se no peculiar grupo social amorfo conhecido no discurso político pelo intraduzível termo alemão Mittelstand. A palavra expressava em primeiro lugar as aspirações dos propagandistas de direita de que as pessoas que não eram nem burguesas nem proletárias tivessem um lugar reconhecido na sociedade. Mais ou menos equivalente ao francês petite bourgeoisie ou ao inglês lower middle class (classe média baixa), no início da década de 1930 passou a simbolizar muito mais que um grupo social: na política alemã, representava um conjunto de valores. 

Situado entre as duas grandes classes antagonistas em que a sociedade havia se dividido, representava as pessoas autossuficientes, independentes, que trabalhavam duro, o cerne saudável do povo alemão, injustamente deixado de lado pela guerra de classes que grassava ao redor delas. Era a pessoas como essas – pequenos lojistas, artesãos habilidosos que administravam suas oficinas, fazendeiros camponeses autossuficientes – que os nazistas haviam inicialmente dirigido seu apelo. O programa do Partido Nazista de 1920 era, entre outras coisas, um produto típico da política de extrema direita do Mittelstand alemão; o apoio dessas pessoas estava entre os fatores que de início fez o Partido decolar1.
pág. 583
Artesãos e lojistas não foram o único grupo social que esperou uma melhora de status com a chegada do Terceiro Reich. Funcionários de escritórios e empregados assalariados de empresas privadas há muito invejavam os vencimentos, status e privilégios superiores do funcionalismo público. Conhecidos popularmente como o “novo Mittelstand”, estavam, entretanto, profundamente divididos em termos de política, com organizações social-democratas rivalizando com as de extrema direita, e seus votos no Partido Nazista nos anos de Weimar não ficaram acima da média do país como um todo. Muitos esperavam que o Terceiro Reich estabelecesse mais uma vez as barreiras de status entre funcionários de escritórios e trabalhadores manuais que os anos anteriores haviam derrubado.

O medo da proletarização” havia sido uma importante força motriz dos sindicatos de funcionários de escritórios, seja de esquerda, centro ou direita. Mas eles ficaram amargamente decepcionados quando Hitler chegou ao poder. Os líderes das três alas políticas dos sindicatos de funcionários de escritórios foram detidos e colocados em campos de concentração, e os sindicatos, junto com todas as outras organizações da categoria, foram amalgamados na Frente de Trabalho Alemã16. Além disso, o fato de os operários e suas organizações serem formalmente integrados à comunidade nacional desmantelou mais uma barreira. Os funcionários de escritórios não possuíam as tradições de união ou a cultura distinta de que o trabalho organizado havia desfrutado no movimento social-democrata e em menor grau no comunista, de modo que eram mais vulneráveis à atomização e aterrorização e menos capazes até de resistência passiva17.
pág. 781-782
Ideias e políticas semelhantes podiam ser encontradas em outros países do centro-leste da Europa que lutavam para construir uma nova identidade nacional na época, mais notadamente Romênia e Hungria71. Esses países tinham movimentos fascistas próprios na forma da Guarda de Ferro na Romênia e da Cruz de Flecha na Hungria que pouco ou nada deviam aos nacional-socialistas alemães na virulência do ódio aos judeus; assim como na Alemanha, o antissemitismo ali também estava ligado ao nacionalismo radical, à crença de que a nação não havia atingido a realização plena e de que eram sobretudo os judeus que a impediam de chegar a ela.  

Na Romênia, havia cerca de 750 mil judeus no início da década de 1930, ou 4,2% da população, e, como na Polônia, eram contados como uma minoria nacional. Sob pressão crescente da Guarda de Ferro radical fascista no final dos anos de 1930, o rei Carol nomeou um regime de direita de curta duração que começou a sancionar a legislação antissemita que o monarca continuou a aplicar quando tomou o poder como ditador em 1938. Em setembro de 1939, pelo menos 270 mil judeus haviam sido privados da cidadania romena; muitos haviam sido expulsos da profissão, inclusive do Judiciário, polícia, ensino e corpos de oficiais, e todos estavam sob forte pressão para emigrar72.
pág. 813
Ribbentrop estava longe de ser um nazista de primeira hora. Durante a maior parte da República de Weimar ele compartilhou o ódio da maioria dos alemães de classe média pelo Acordo de Paz, desprezou o sistema parlamentar e ficou consideravelmente alarmado com a ameaça do comunismo, mas não gravitou para a extrema direita até 1932. Como membro do elegante Herrenclub, o clube de cavalheiros de Berlim frequentado pela aristocracia, inclusive Papen e seus amigos, Ribbentrop conheceu Hitler e envolveu-se nas complexas negociações que por fim levaram à sua nomeação como chanceler do Reich em janeiro de 1933. Para o provinciano Hitler, Ribbentrop, assim como Putzi Hanfstaengl, velho amigo íntimo do Líder nazista, parecia um homem do mundo, experiente em viagens ao exterior, poliglota, conhecedor da vida social. Hitler começou a usá-lo em missões diplomáticas especiais, ignorando o Ministério de Relações Exteriores, conservador e limitado pela rotina.

Indubitavelmente com a aprovação de Hitler, Ribbentrop montou um gabinete próprio independente, no estilo do escritório de Alfred Rosenberg, para desenvolver e influenciar a política de relações exteriores. Não demorou muito e tinha uma equipe de 150 pessoas engajadas em uma espécie de guerrilha institucional com os mandarins do Ministério de Relações Exteriores. O sucesso de Ribbentrop ao negociar o Acordo Naval Anglo-Alemão conferiu-lhe a reputação de se dar bem com os britânicos, e no fim do verão de 1936 Hitler nomeou-o embaixador em Londres, com a missão de melhorar ainda mais as relações e se possível produzir uma aliança anglo-alemã38.
Série: Nazismo de esquerda? Parte 1 (Richard J. Evans)

Notas:

Cap. 1 O ESTADO POLICIAL (Repressão e resistência)

44 Göring mais tarde declarou: “Estendi meu dever ao aplicar um golpe também contra esses descontentes”. Que ele tenha feito isso de modo espontâneo e por iniciativa própria ao ouvir falar dos eventos em Munique, conforme sustentaram alguns historiadores, é de se duvidar em vista do cuidado com que todo o restante da operação foi preparado e a veemência com que Hitler havia denunciado Papen e seus associados poucos dias antes. Para a ideia de que a ação foi “improvisada”, ver Longerich, Die braunen Bataillone, p. 218 (embora sua principal evidência, a afirmação de Göring, de fato não demonstre que ele decidiu “estender” sua tarefa espontaneamente e sem consultas; a necessidade de se explicar era óbvia, dado que a justificativa para o expurgo foi proporcionada pelas supostas atividades de Röhm, não de Schleicher e Papen); para evidência do cuidadoso planejamento de antemão, ver Bessel, Political Violence, p. 133-7. Mais detalhes em Kershaw, Hitler, I, p. 512-5; e Heinz Höhne, The Order of the Death’s Head: The Story of Hitler’s SS (Londres, 1972 [1966]), p. 85-121. Sauer, Die Mobilmachung, p. 334-64, nota o trabalho sistemático de preparação executado por Hitler e lideranças do Partido de abril em diante, ressaltando a importância da ofensiva da propaganda contra Röhm e a SA, particularmente dentro do Partido. Para Ballerstedt, ver Evans, The Coming of the Third Reich, p. 181. Para Ludendorff, ver Harald Peuschel, Die Männer um Hitler: Braune Biographien, Martin Bormann, Joseph Goebbels, Hermann Göring, Reinhard Heydrich, Heinrich Himmler und andere (Düsseldorf, 1982).

“Inimigos do povo” III

23 Para um levantamento exaustivo das variedades de teorias sobre criminalidade hereditária e parcialmente hereditária ou moderada, ver Richard Wetzell, Inventing the Criminal: A History of German Criminology 1880-1945 (Chapel Hill, NC, 2000), p. 179-232.

Cap. 2 - A MOBILIZAÇÃO DO ESPÍRITO. Esclarecendo o povo

47 Ver Reinhard Bollmus, Das Amt Rosenberg und seine Gegner: Studien zum Machtkampf im nationalsozialistischen Herrschaftssystem (Stuttgart, 1970).

48 Hildegard Brenner, Die Kunstpolitik des Nationalsozialismus (Reinbek, 1963), p. 7-21, 73-86, fornece uma boa narrativa.

28 Frederic Spotts, Bayreuth: A History of the Wagner Festival (New Haven, 1994), esp. p. 159-88; Brigitte Hamann, Winifred Wagner oder Hitlers Bayreuth (Munique, 2002); Hans Rudolf Vaget, “Hitler’s Wagner: Musical Discourse as Cultural Space”, em Kater e Riethmüller (eds.), Music and Nazism, p. 15-31.

3 Martin Niemöller, From U-Boat to Pulpit (Londres, 1936 [1934]), p. 143.
4 Ibid., p. 180-3, 187; James Bentley, Martin Niemöller (Oxford, 1984), p. 20-30, 39-40.

27 Léon Poliakov e Josef Wulf, Das Dritte Reich und seine Denker: Dokumente (Berlim, 1959), p. 73; Wilhelm Ribhegge, Geschichte der Universität Münster: Europa in Westfalen (Münster, 1985), p. 194.

28 Golczweski, Kölner Universitätslehrer, p. 338-49.

33 Ibid., p. 85-102; citação (93) das memórias não publicadas de Lenard, mencionada em Charlotte Schmidt-Schönbeck, 300 Jahre Physik und Astronomie an der Kieler Universität (Kiel, 1965), p. 119.

61 Hjalmar Schacht, My First Seventy-Six Years: The Autobiography of Hjalmar Schacht (Londres, 1955), p. 10-154.
62 Ibid., p. 155-306.

6 Gerald D. Feldman, Allianz and the German Insurance Business, 1933-1945 (Cambridge, 2001), p. 1-50.

1 Para uma ampla literatura, ver em particular Heinz-Gerhard Haupt (ed.), Die radikale Mitte: Lebensweisen und Politik von Kleinhändlern und Handwerkern in Deutschland seit 1848 (Munique, 1985); David Blackbourn, “Between Resignation and Volatility : The German Petty Bourgeoisie in the Nineteenth Century ”, em idem, Populists and Patricians: Essays in Modern German History (Londres, 1987), p. 84-113; Heinrich August Winkler, Mittlestand, Demokratie und Nationalsozialismus: Die politische Entwicklung von Handwerk und Kleinhandel in der Weimarer Republik (Colônia, 1972); Adelheid von Saldern, Mittlestand im “Dritten Reich”: Handwerker-Einzelhändler-Bauern (Frankfurt am Main, 1979).

16 Günther Schulz, Die Angestellten seit dem 19. Jahrhundert (Munique, 2000), p. 36-7; Michael Prinz, Vom neuen Mittelstand zum Volksgenossen: Die Entwicklung des sozialen Status der Angestellten von der Weimarer Republik bis zum Ende der NS-Zeit (Munique, 1986), p. 92-143, 229.

17 Prinz, Vom neuen Mittelstand, p. 334-5.

71 Mendelsohn, The Jews; Bela Vago, The Shadow of the Swastika: The Rise of Fascism and Anti-Semitism in the Danube Basin, 1936-1939 (Londres, 1975).

72 Mendelsohn, The Jews, p. 171-211; David Schaary, “The Romanian Authorities and the Jewish Communities in Romania between the Two World Wars”, em Greebaum (ed.), Minority Problems, p. 89-95; Paul A. Shapiro, “Prelude to Dictatorship in Romania: The National Christian Party in Power, December 1937-February 1938”, Canadian-American Slavic Studies, 8 (1974), p. 45-88.

38 Jacobsen, Nationalsozialistische Aussenpolitik, p. 298-318.

|***| Nazismo de esquerda? (Richard J. Evans) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 01
|***| Nazismo de esquerda? (Ian Kershaw) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 03

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Nazismo de esquerda? (Richard J. Evans) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 01

A quem perdeu o bonde", o Denilton, nos comentários do post sobre a morte de Ernst Nolte, perguntou se eu concordava que o nazismo foi de extrema-direita, e sobre se fazer um post pra mostrar aos "revis" (negacionistas) que o nazismo é de extrema-direita.

A quem estranhar de onde vem a questão ("Nazismo de direita ou esquerda"), com a expansão da internet no mundo(principalmente na segunda metade da década passada), com a sombra da derrocada da URSS (que caiu nos anos noventa, logo no começo) e o vácuo de poder e instabilidade que isso gerou, com a crise global do neoliberalismo (propagado principalmente pelos Estados Unidos desde sua ascensão como única superpotência, agora em crise interna e por conta da ascensão chinesa), grupos de extrema-direita (radicais) de cunho liberal passaram a disseminar na web a panfletagem de que o "nazismo é de esquerda". Um joguete retórico pra limpar a "mancha" da direita no século XX (principalmente a dos liberais) e a ligação (ou simpatia) da direita tradicional de vários países com os movimentos nazistas e fascistas (e ditaduras conservadoras nacionais), que são de direita. Alguém que está lendo este post não ouviu falar desta panfletagem antes? Vou colocar link da web em inglês com os termos pra verem como a coisa é bem difundida. Link:
nazism is leftist

Tem mais de uma combinação com esses termos, mas uma só basta (é só uma amostragem). Saiu há pouco um texto que menciona isso, também em cima da morte do Ernst Nolte (historiador alemão e de extrema-direita). A quem quiser ler (não foi possível traduzir, está em inglês), segue o link, só que não registrei a existência desse segundo blog aqui, depois comento sobre:
Ernst Nolte’s Revenge

Pois bem, eu já respondi o que penso na parte dos comentários (primeiro link do post), mas concordei que seria relevante fazer um post mostrando o que os historiadores da segunda guerra, nazismo etc descrevem/pensam sobre o que o nazismo é (o nazismo continua existindo com o neofascismo) ou "tenha sido" (o nazismo original), um movimento de extrema-direita (fascista).

Já havia pensado num post deste tipo antes mas... com a onda de extremismo da direita liberal "norte-americanoide" (que é hegemônica no país) que tomou conta do país (e isso desde aquelas malfadas marchas de 2013 (Tag: marchas de 2013), que pôs o país de ponta-cabeça), com direito a golpe de Estado e destruição da soberania do Brasil com um surto de vira-latice profunda (e burrice), bateu um desânimo se as pessoas neste país (a maioria) estão mesmo interessadas em aprender algo ou se só querem repetir idiotices (galhofas) que leem de "gurus" de internet ou youtubers pra encher o saco alheio ou tentar impor opinião sem embasamento algum, negando coisas ou distorcendo outras (ao gosto do "cliente").

Confesso que não tenho mais paciência pra discutir com esse tipo de perfil bitolado político que passou a achar que é detentor de uma certa "sabedoria" porque as "manadas" perderam a modéstia e enchem a "bola" desses caras, seguindo "gurus de internet", e de acharem que por gritar mais alto isso é suficiente pra terem algum tipo de "razão".

Independente destes fatos que mencionei acima, farei o post (ou posts), pois como os trechos são longos, acho que será melhor dividir os posts por historiadores (os de destaque) e trechos de seus livros mostrando o que descrevem ou pensam sobre o nazismo e dele ser de extrema-direita. Alguns desses livros foram lançados no país, mas, infelizmente, a "turba do urro" prefere ler ou ouvir astrólogos (gurus) e seus congêneres dizendo besteira na internet. Aqui vocês ficarão com o que historiadores de peso do nazismo pensam sobre a natureza do movimento e regime, a quem se interessar por "fantasias" e "devaneios" sobre segunda guerra, acho que há pilhas de site dessa natureza pela web pra vocês extravasarem essas touperices por lá, poupe-nos disso aqui.

Em um país normal eu acho que coisas como essa (o assunto do post) seriam encaradas como algo marginal (à margem) ou algo "excêntrico", uma vez que a imprensa de fora sempre cita grupos neonazis e neofascistas como extrema-direita e existe um entendimento melhor desses grupos, mas eu não estou em um país normal então não posso me dar ao luxo de ignorar o problema.

Saiu no país a trilogia sobre nazismo ou Terceiro Reich, do Richard J. Evans, e só no primeiro volume há várias passagens que mostra a posição ideológica do nazismo. Estou dizendo isso pois não dá pra copiar um livro inteiro e ainda tem mais dois volumes. Então, sem mais delongas, seguem alguns trechos do livro, primeiro volume.

Quem é Richard J. Evans, um dos mais prestigiados historiadores sobre nazismo da atualidade: professor régio de História na Universidade de Cambridge e presidente da Wolfson College, Cambridge.

Richard J. Evans - A Chegada do Terceiro Reich Vol. 1
___________________________________________________

pág. 17
A despeito de todas as impropriedades, a tentativa de entendimento de Meinecke levantou uma série de questões-chave que, conforme ele previu, continuaram a ocupar as pessoas desde então. Como uma nação avançada e altamente culta como a Alemanha pôde ceder à força brutal do nacional-socialismo tão rápida e facilmente? Por que houve tão pouca resistência séria à tomada nazista? Como pôde um partido insignificante da direita radical ascender ao poder com subitaneidade tão dramática? Por que tantos alemães fracassaram em perceber as consequências potencialmente desastrosas de ignorar a natureza violenta, racista e assassina do movimento nazista?18

As respostas para essas questões variaram amplamente ao longo do tempo, entre historiadores e comentaristas de diferentes nacionalidades, e de uma posição política para outra.19 O nazismo foi apenas uma de uma série de ditaduras violentas e implacáveis estabelecidas na Europa na primeira metade do século XX, uma tendência tão disseminada que um historiador referiu-se à Europa dessa era como um “Continente Sombrio”.20 Isso, por sua vez, levanta questões sobre até que ponto o nazismo estava enraizado na história alemã, e até que ponto, por outro lado, foi produto do desenrolar de acontecimentos europeus mais amplos, e a extensão em que compartilhava características centrais de origem e domínio com outros regimes europeus da época. Tais considerações comparativas sugerem ser
pág. 165
Nessa situação, uma unidade em pânico do Exército Vermelho começou a cometer atos de represália contra os reféns aprisionados em uma escola local, o Ginásio Luitpold. Estes incluíam seis membros da Sociedade Thule, uma seita pangermânica e antissemita fundada perto do fim da guerra. Nomeada em homenagem ao suposto local da pureza “ariana” última, a Islândia (“Thule”), a seita usava o símbolo da suástica “ariana” para denotar suas prioridades raciais. Com raízes na “Ordem Germânica” pré-guerra, outra organização conspiratória de extrema direita, era dirigida pelo pretenso barão von Sebottendorf, que na realidade era um falsificador condenado, conhecido pela polícia como Adam Glauer.

A sociedade incluía pessoas que viriam a ser proeminentes no Terceiro Reich.8 Sabia-se que Arco-Valley, o assassino de Kurt Eisner, havia tentado tornar-se membro da Sociedade Thule. Em um ato de vingança e desespero, os soldados do Exército Vermelho enfileiraram dez reféns, colocaram-nos diante de um pelotão de fuzilamento e os abateram. Entre os executados estavam o príncipe de Thurn e Taxis, a jovem condessa von Westarp e mais dois aristocratas, bem como um professor idoso que havia sido preso por fazer um comentário desfavorável sobre um cartaz revolucionário. Cinco prisioneiros capturados das Brigadas Livres invasoras completaram o grupo.
pág. 173
Os cursos que Hitler frequentou destinavam-se a arrancar quaisquer sentimentos socialistas remanescentes nas tropas regulares da Bavária e doutriná-las com as crenças da extrema direita. Entre os palestrantes estavam Karl Alexander von Müller, professor conservador de história de Munique, e Gottfried Feder, economista teórico pangermânico, que colocou um verniz antissemita na economia ao acusar os judeus de destruir o meio de vida de esforçados trabalhadores “arianos” usando o capital de forma improdutiva. Hitler assimilou as ideias desses homens tão prontamente que foi selecionado por seus superiores e enviado como instrutor em um curso semelhante em agosto de 1919. Ali, descobriu pela primeira vez o talento para falar a um grande público.

Os comentários daqueles que assistiram às suas palestras referiram-se de forma admirada à sua paixão e comprometimento e à sua capacidade de se comunicar com homens simples, comuns. Também foi notada a veemência de seu antissemitismo. Em uma carta escrita em 16 de setembro, Hitler expôs suas crenças sobre os judeus. Em uma metáfora biológica do tipo a que iria recorrer em muitos discursos e textos subsequentes, escreveu que os judeus provocavam “a tuberculose racial dos povos”. Rejeitou o “antissemitismo com base puramente emocional” que levou aos pogroms em favor de um “antissemitismo da razão”, que devia almejar “o combate e a remoção legislativos planejados dos privilégios dos judeus”. “A meta final e inabalável deve ser a remoção dos judeus por completo.”23
pág. 178
No final de 1920, a ênfase inicial de Hitler no ataque ao capitalismo judaico havia se modificado para ter como alvo o “marxismo” ou, em outras palavras, social-democracia e também bolchevismo. As crueldades da guerra civil e o “terror vermelho” de Lênin na Rússia estavam causando impacto, e Hitler pôde usá-los para garantir ênfase às visões comuns da extrema direita sobre a suposta inspiração judaica por trás dos levantes revolucionários de 1918-19 em Munique. Entretanto, o nazismo também teria sido possível sem a ameaça comunista: o antibolchevismo de Hitler era produto de seu antissemitismo, e não o contrário.33 Seus principais alvos políticos permaneceram os social-democratas e o espectro mais vago do “capitalismo judaico”.

Tomando emprestados os argumentos do repertório antissemita de antes da guerra, Hitler declarou em numerosos discursos que os judeus eram uma raça de parasitas que só podiam viver subvertendo outros povos, sobretudo a mais superior e melhor de todas as raças, a ariana. Assim sendo, eles dividiam e jogavam a raça ariana contra si mesma, por um lado organizando a exploração capitalista e por outro liderando a luta contra isso.34 Os judeus, disse ele em um discurso proferido a 6 de abril de 1920, deveriam “ser exterminados”; a 7 de agosto do mesmo ano, falou para a plateia que não deveria acreditar que “se possa lutar contra uma doença sem matar a causa, sem aniquilar o bacilo, nem pensar que se pode lutar contra uma tuberculose racial sem cuidar para que as pessoas fiquem livres da causa da tuberculose racial”. Aniquilação significava a remoção violenta dos judeus da Alemanha por quaisquer meios. A “solução para a questão judaica”, disse ele a seus ouvintes em abril de 1921, só poderia ser resolvida pela “força bruta”. “Sabemos”, disse Hitler em janeiro de 1923, “que, se eles chegarem ao poder, nossas cabeças vão rolar pelo chão; mas também sabemos que, quando pusermos nossas mãos no poder: ‘Que Deus então tenha piedade de vocês!’.”35
pág. 182
Àquela altura, esses homens e muitos mais como eles haviam se filiado ao Partido Nazista; o movimento novato tinha um programa oficial, composto por Hitler e Drexler com uma mãozinha do “economista racial” Gottfried Feder, e aprovado em 24 de fevereiro de 1920. Seus 25 pontos incluíam a exigência da “união de todos os alemães em uma Alemanha Maior”, a revogação dos tratados de paz de 1919, “terra e território (colônias) para alimentar nosso povo”, a prevenção de “imigração não germânica” e pena de morte para “criminosos comuns, agiotas, especuladores, etc.”. Os judeus deveriam ter os direitos civis negados e ser registrados como estrangeiros, e proibidos de possuir ou escrever em jornais alemães. Uma nota pseudossocialista era dada pela exigência da abolição de rendas indevidas, confisco de lucros de guerra, nacionalização dos cartéis empresariais e introdução da participação nos lucros. O programa concluía com a exigência da “criação de um poder estatal central forte para o Reich e a substituição efetiva dos parlamentos dos estados federados por corporações baseadas em estado e ocupação”.42 Era um documento de extrema direita típico da época. Na prática, não significava muita coisa, e, como o programa de Erfurt dos social-democratas de 1891, era com frequência desviado ou ignorado na luta política cotidiana, embora logo fosse declarado “inalterável”, para evitar que se tornasse um foco de dissensão interna.43
págs. 188-189
O nazismo inicial, portanto, assim como a miríade de movimentos rivais da extrema direita nos anos imediatos do pós-guerra, inseria-se firmemente nesse contexto mais amplo do surgimento do fascismo europeu. Por um longo tempo, Hitler fitou Mussolini com admiração, como um exemplo a seguir. A “marcha sobre Roma” galvanizou os movimentos fascistas nascentes da Europa, assim como a marcha sobre Roma de Garibaldi e a subsequente unificação da Itália haviam galvanizado os movimentos nacionalistas da Europa cerca de sessenta anos antes. A maré da história parecia mover-se na direção de Hitler; os dias de democracia estavam contados. À medida que a situação na Alemanha começou a se deteriorar com rapidez crescente ao longo de 1922 e 1923, Hitler começou a pensar que poderia fazer na Alemanha o mesmo que Mussolini havia feito na Itália. Quando o governo alemão não cumpriu os pagamentos de reparação e tropas francesas ocuparam o Ruhr, os nacionalistas da Alemanha explodiram de raiva e humilhação. A perda de legitimidade da república foi incalculável; o governo tinha que ser visto fazendo algo para se opor à ocupação. Uma campanha disseminada de desobediência civil, encorajada pelo governo alemão, levou a represálias adicionais por parte dos franceses, com detenções, prisões e expulsões. Entre muitos exemplos de repressão francesa, os nacionalistas lembravam como um veterano de guerra e ferroviário foi posto na rua e deportado com a família por proferir um discurso pró-alemão em um memorial de guerra; outro homem, um professor, sofreu a mesma sina após fazer seus alunos darem as costas quando tropas francesas passaram marchando.57

Gangues de estudantes raspavam a cabeça de mulheres que se acreditava que estivessem “vergonhosamente mantendo relações com os franceses”, ao passo que outros, de forma menos dramática, demonstravam seu patriotismo caminhando quilômetros até a escola em vez de viajar no trem operado pelos franceses. Alguns poucos trabalhadores tentaram de modo ativo sabotar a ocupação; um deles, Albert Leo Schlageter, um ex-soldado das Brigadas Livres, foi executado por suas atividades, e a direita nacionalista, guiada pelos nazistas, rapidamente agarrou o incidente como exemplo da brutalidade dos franceses e da fraqueza do governo de Berlim, transformando Schlageter em mártir nacionalista muito propagandeado nesse processo. A indústria foi paralisada, exacerbando ainda mais os já calamitosos problemas financeiros do país.58

Os nacionalistas tinham uma potente arma de propaganda na presença de tropas francesas coloniais negras entre as forças de ocupação. O racismo era endêmico em todas as sociedades europeias nos anos entreguerras, como também o era nos Estados Unidos e em outras partes do mundo. De modo geral, os europeus supunham que pessoas de pele escura eram seres humanos inferiores, selvagens a quem o homem branco tinha a missão de domar. 59 O uso de tropas coloniais por britânicos e franceses durante a Primeira Guerra Mundial havia estimulado um certo volume de comentários desfavoráveis na Alemanha; mas foi a presença delas no território alemão em si, primeiro na parte ocupada da Renânia, e a seguir em 1923, durante a breve marcha francesa para o Ruhr, que realmente abriu as comportas para uma vívida propaganda racista. Muitos alemães que viviam na Renânia e no Sarre sentiram-se humilhados, conforme um deles mais tarde explicou, por “siameses, senegaleses e árabes se terem feito de donos de nossa terra natal”.60 Dentro em pouco, os cartunistas estavam atiçando emoções racistas e nacionalistas ao produzir desenhos grosseiros, semipornográficos, de soldados negros bestiais levando embora mulheres alemãs brancas e inocentes para um destino pior que a morte. Na direita, isso tornou-se um potente símbolo da humilhação nacional da Alemanha durante os anos de Weimar, e o mito do estupro em massa de mulheres alemãs por tropas coloniais francesas tornou-se tão poderoso que as poucas centenas de crianças de raça mista que se encontravam na Alemanha no início da década de 1930 eram quase universalmente consideradas fruto de tais incidentes. Na verdade, a esmagadora maioria delas na verdade parecia resultar de uniões consensuais, frequentemente entre colonizadores alemães e nativos africanos das colônias alemãs antes ou durante a guerra.61
pág. 408
Um golpe militar, como muitos temiam, poderia ter levado à resistência violenta dos nazistas, bem como dos comunistas. Restaurar a ordem teria causado um tremendo banho de sangue, levando talvez à guerra civil. O Exército estava tão ansioso quanto os nazistas para evitar isso. Ambos os lados sabiam que suas perspectivas de sucesso se tentassem agarrar o poder sozinhos eram dúbias, para dizer o mínimo. A lógica da cooperação era, portanto, virtualmente inevitável; a única questão era qual forma essa cooperação assumiria. Por toda a Europa, elites conservadoras, exércitos e movimentos de massa radicais fascistas ou populistas encaravam o mesmo dilema. Eles o resolveram de várias maneiras, dando vantagem para a força militar em alguns países, como Espanha, e para movimentos fascistas em outros, como Itália. Em muitos países, as democracias foram substituídas por ditaduras nas décadas de 1920 e 1930. O que aconteceu na Alemanha em 1933 não parece tão excepcional à luz do que já havia acontecido em países como Itália, Polônia, Letônia, Estônia, Lituânia, Hungria, Romênia, Bulgária, Portugal, Iugoslávia ou, na verdade de forma bastante diferente, na União Soviética. A democracia em breve também seria destruída em outros países, como Áustria e Espanha.

Em tais países, violência política, tumultos e assassinatos haviam sido comuns em vários períodos desde o fim da Primeira Guerra Mundial; na Áustria, por exemplo, graves distúrbios em Viena haviam culminado no incêndio do Palácio da Justiça em 1927; na Iugoslávia, esquadrões da morte macedônios causavam devastação no mundo político; na Polônia, uma grande guerra com a União Soviética que nascia havia mutilado o sistema político e a economia e aberto caminho para a ditadura militar do general Pilsudski. Por toda parte, a direita autoritária também compartilhava da maioria das – se não de todas – crenças antissemitas e teorias conspiratórias que animavam os nazistas. O governo húngaro do marechal Miklós Horthy pouco devia à extrema direita alemã no ódio aos judeus, alimentado pela experiência do breve regime revolucionário liderado pelo judeu comunista Béla Kun em 1919. O regime militar polonês da década de 1930 viria a impor severas restrições à grande população judaica do país. Vistos no contexto da época, nem a violência política da década de 1920 e início da década de 1930, nem o colapso da democracia parlamentar, nem a destruição das liberdades civis teriam parecido particularmente incomuns a um observador desapaixonado. Tampouco tudo que aconteceu na sequência da história do Terceiro Reich tornou-se inevitável pela nomeação de Hitler como chanceler. Oportunidade e acaso viriam a desempenhar sua parte nisso também, como haviam desempenhado antes.121
Série: Nazismo de esquerda? Parte 2

Notas:

Do prefácio

18. Daí o catálogo de questões colocadas no início do clássico de Karl Dietrich Bracher Stufen der Machtergreifung, volume I de Karl Dietrich Bracher et al., Die nationalsozialistische Machtergreifung: Studien zur Errichtung des totalitären Herrschaftssystems in Deutschland 1933/34 (Frankfurt am Main, 1974 [1960]), p. 17-8.

19. Entre discussões muito boas da historiografia do nazismo e do Terceiro Reich, ver em especial o breve exame de Jane Caplan, “The Historiography of National Socialism”, em Michael Bentley (ed.), Companion to Historiography (Londres, 1997), p. 545-90; e o estudo mais longo de Ian Kershaw, The Nazi Dictatorship: Problems and Perspectives of
Interpretation (4ª ed., Londres, 2000 [1985]).

Parte 3 - A Ascensão do Nazismo

8. Large, Where Ghosts Walked, p. 70.

23. Hitler para Adolf Gemlich, 16 de setembro de 1919, em Eberhard Jäckel e Axel Kuhn (eds.), Hitler: Sämtliche Aufzeichnungen 1905-1924 (Stuttgart, 1980), p. 88-90; Ernst Deuerlein, “Hitlers Eintritt in die Politik und die Reichswehr”, VfZ 7 (1959), p. 203-5.

33. Ernst Nolte, Three Faces of Fascism: Action Française, Italian Fascism, National Socialism (Nova York, 1969 [1963]), e depois, de forma diferente e mais controversa, Der europäische Bürgerkrieg 1917-1945: Nationalsozialismus und Bolschewismus (Frankfurt am Main, 1987), argumentaram em favor da primazia do antibolchevismo.

34. Hitler, Mein Kampf, p. 289.

35. Tudo citado em Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 32-4.

42. Citando Deuerlein (ed.), Der Aufstieg, p. 108-12.

43. Dietrich Orlow, The History of the Nazi Party, I: 1919-1933 (Newton Abbot, 1971 [1969]), p. 11-37.

57. AT 567, 199, em Merkl, Political Violence, p. 196-7.

58. AT 206, 379, ibid.; para um ângulo incomum do caso Schlageter, ver Karl Radek, “Leo Schlageter: The Wanderer in the Void”, em Kaes et al. (eds.), The Weimar Republic Sourcebook, p. 312-4 (originalmente “Leo Schlageter: Der Wanderer ins Nichts”, Die Rote Fahne, p. 144, 26 de junho de 1923). Para um relato detalhado da “resistência passiva”,
sublinhando suas raízes populares, ver Fischer, The Ruhr Crisis, p. 84-181; para o passado de Schlageter nas Brigadas Livres, Waite, Vanguard, p. 235-8; para o movimento de sabotagem organizado nos bastidores pelo Exército alemão, Gerd Krüger, “‘Ein Fanal des Widerstandes im Ruhrgebiet’: Das ‘Unternehmen Wesel’ in der Osternacht des Jahres 1923. Hingergründe eines angeblichen ‘Husarenstreiches’”, Mitteilungsblatt des Instituts für soziale Bewegungen, 4 (2000), p. 95-140.

59. Sander L. Gilman, On Blackness without Blacks: Essays on the Image of the Black in Germany (Boston, 1982).

60. AT 183, em Merkl, Political Violence, p. 193.

61. Gisela Lebeltzer, “Der ‘Schwarze Schmach’: Vorurteile – Propaganda – Mythos”, Geschichte und Gesellschaft, 11 (1985), p. 37-58; Keith Nelson, “‘The Black Horror on the Rhine’: Race as a Factor in Post-World War I Diplomacy”, Journal of Modern History, 42 (1970), p. 606-27; Sally Marks, “Black Watch on the Rhine: A Study in Propaganda,
Prejudice and Prurience”, European Studies Review, 13 (1983), p. 297-334. Para seu eventual destino, ver Reiner Pommerin, “Sterilisierung der Rheinlandbastarde”: Das Schicksal einer farbigen deutschen Minderheit 1918-1937 (Düsseldorf, 1979).

Parte 6 – A REVOLUÇÃO CULTURAL DE HITLER

121. Volker Rittberger (ed.), 1933: Wie die Republik der Diktatur erlag (Stuttgart, 1983), esp. p. 217-21; Martin Blinkhorn, Fascists and Conservatives: The Radical Right and the Establishment in Twentieth-Century Europe (Londres, 1990); idem, Fascism and the Right in Europe 1919-1945 (Londres, 2000); Payne, A History of Fascism, p. 14-9.

|***| Nazismo de esquerda? (Richard J. Evans) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 02

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...