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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Morre, aos 93 anos, o polêmico historiador alemão Ernst Nolte

O intelectual avivou com sua obra o debate sobre os crimes do nazismo ao tratar de justificá-los. Hoje sua obra é fundamental para o ideário dos grupos ultradireitistas que tomam força na Alemanha.

O historiador Ernst Nolte - AFP
O historiador Ernst Nolte, um dos principais intelectuais revisionistas da Alemanha, faleceu em Berlim aos 93 anos, segundo informaram fontes de sua família. Ao longo de sua carreira publicou obras de grande relevância como "A guerra civil europeia", "O fascismo em sua época" ou "A crise do sistema liberal e os movimentos fascistas", algumas delas muito polêmicas. Grande parte de sua fama como historiador se deve a seu papel na chamada "Historikerstreit"(disputa dos historiadores) que se desatou com seu ensaio publicado no diário "Frankfurter Allgemeine Zeitung" em 6 de junho de 1986, intitulado "O passado que não quer passar".
Nolte defendeu em sua obra que o nazismo foi a resposta lógica ao bolchevismo
Uma das principais teses da obra de Nolte é que o fascismo surgiu na Europa como oposição à modernidade. Além disso, adotou muitas posturas polêmicas com a intenção de justificar de algum modo os crimes do nazismo. Em seu artigo do "Frankfurter Allgemeine Zeitung", Nolte relativizava os crimes do nacional-socialismo e os via como uma reação aos crimes do stalinismo. "Não foi o Gulag anterior a Auschwitz? Não foi o assassinato de classe dos bolcheviques o antecedente lógico e fático do genocídio dos nazis?", perguntava-se Nolte no ensaio. O historiador concluía que a política dos nazis havia sido por fim uma resposta à "ameaça existencial" que representava o bolchevismo.

Sua disputa com Habermas

Trata-se de uma obra que deu lugar a grandes polêmicas e sobre a que se fundaram algumas ideias atualmente em voga como a dos radicais de ultradireita do Alternativa para a Alemanha (AFD). O artigo de Nolte gerou uma resposta do filósofo e sociólogo Jürgen Habermas, publicada no seminário "Die Zeit". Habermas acusava a Nolte de pôr na cabeça de um grupo de intelectuais neoconservadores que procurava liberar os alemães de sua responsabilidade histórica negando o caráter único e sem precedentes do Holocausto. Além disso, Habermas mencionava outros historiadores, como Klaus Hildebrandt e Andreas Hilgruber, a quem os via próximos da posição representada por Nolte.
As ideias de Nolte são fundamentais para movimentos como o Alternativa para a Alemanha
Quando se cumprirem 30 anos do "Historikerstreit" o diário "Die Welt" lhe dedicou um artigo de Nolte no qual afirmava que ele havia formulado muitas posições que agora representam o agrupamento da AFD. A carreira de Nolte como historiador se iniciou em 1963 com a publicação de seu livro "O fascismo em sua época" no qual fazia uma aproximação comparativa do fascismo italiano, o nacional-socialismo e a Ação Francesa (Action Française). Em 1994, Nolte aportou um artigo para um livro intitulado "Die selbsbewuste Nation" (A nação segura de si mesma) no qual se agruparam várias vozes da nova direita alemã, que tratava nesse movimento de aproveitar o jubilo que haviam gerado na reunificação quatro anos atrás.

Fonte: ABC
http://www.abc.es/cultura/abci-fallece-93-anos-polemico-historiador-aleman-ernst-nolte-201608181833_noticia.html
Título original: Muere, a los 93 años, el polémico historiador alemán Ernst Nolte
Tradução: Roberto Lucena

Observação: ao texto. O site ABC é de um jornal com viés de direita/conservador da Espanha. É sempre curioso e irônico colocar matérias como essa mostrando o grau de desonestidade patológico que boa parte da direita brasileira assume quando começam com o mantra do "nazismo de esquerda", que como podem ver acima, não é corroborado por nenhuma publicação minimamente séria de fora, razão essa porque não costumo discutir com paciência com quem vem repetir essa bobagem, pois das duas uma, ou quem prega isso não sabe nem o que está dizendo ou sabe (que é panfletagem) e quer encher o saco.

domingo, 14 de setembro de 2014

As divisões da Direita Norte-americana: Direita Anticomunista, Racista, Cristã e Neoconservadora

Ao contrário do que a mídia eletrônica e formal no Brasil dissemina sobre o assunto, ou mesmo o que não comenta, até porque não tem interesse em esclarecer nada historicamente ao povo e a maioria só panfleta, distorce e não informa, segue abaixo as divisões da Direita norte-americana pra ficar como registro já que, se aqui ainda não aparece muita gente que alega ter este perfil político torrando a paciência, no Orkut e no Facebook isso abundava, e são pessoas que torram a paciência de um (bem mais que um "revi").

O problema é que virou febre na internet certos sites extremistas e grupos exóticos como alguns que havia no Orkut devotados a um astrólogo que se dizia "filósofo". Fenômeno não costumeiramente citado na grande mídia (apesar da mesma atualmente adotar este tom) para não ser rotulada de tresloucada, isto criou uma cultura de ódio e intolerância na web que não havia antes do Orkut (quando este tipo de problema começou a se disseminar pra valer) e que já contagia as ruas.

É preciso ter uma ideia clara e precisa sobre definições e conceitos sobre estas divisões históricas pra não ficar girando em círculos em embromação de gente radical que, ou só quer demonizar grupos políticos legítimos, ou fazer pregação idiota sem base política e histórica alguma.

Um exemplo? Leiam novamente esta discussão que começou sobre um assunto e acabou em pregação política de "catequese". O que é uma bobagem sem tamanho, não tem gente aqui pra ser "catequizada".

Como é possível discutir a sério com gente assim? Xingar todo mundo sabe, eu poderia ter xingado e começado a ironizar os comentários pra pessoa perder a calma e escrever mais bobagem, mas não o fiz pra ver até onde a pessoa iria "pregando". Mas não é o tipo de discussão que interesse ou preste pois este pessoal costuma negar que fascistas, por exemplo, sejam de extrema-direita.

Parte da ideologia nazista foi calcada não só em antissemitismo como em cima do ódio antiesquerda ou como muitos chamam, anticomunismo, que pode adquirir qualquer interpretação dependendo do radicalismo de cada pessoa ou mesmo informação. Uma pessoa pode ser de direita, Churchill era e nem por isso fazia esse tipo de pregação estúpida, isto não implica que compartilhe deste tipo de obsessão, intolerância e demonização rasteira que só tem espaço em países onde há um problema sério de leitura, educação e tolerância.

Recentemente apareceu um romeno radicado no Brasil escrevendo um monte de cretinice antissemita com este tipo de perfil político. Esse tipo de extremismo que não é caracterizado abertamente como fascismo, costuma ser a porta de entrada pro mesmo.

Como disse aqui ("Tão liberal e tão amigo de Salazar. O lado obscuro e "oculto" da relação entre Fascismo e Liberalismo"), este é só um post de uma série pra mostrar as ligações nazistas e fascistas da direita política antiga com o darwinismo social e liberalismo radical que produziram o nazifascismo. Haverão outros posts como estes:
O racismo de Murray Rothbard: Hutus e Tutsis
Richard Widmann, Harry Elmer Barnes e a Operação Barbarossa

Os liberais (Democratas) não foram citados neste post pois na divisão política dos EUA costumam ser retratados como "esquerda" embora não sejam vistos como esquerda na Europa, América Latina (Brasil) e muitas partes do mundo. A diferença entre Democratas e Republicanos nos EUA não é tão grande assim ao contrário do que muita gente prega.

A matriz ideológica central do nazismo era o darwinismo social e racismo exacerbado, herança do liberalismo clássico inglês e dos EUA, informações que grupos de Direita geralmente costumam omitir e negar (quando não desconhecem). O liberalismo radical quase sempre desemboca em regimes autoritários ou crises sociais sérias, causadas pelo caos econômico que produz empobrecendo Estados, aumentando desigualdades sociais e concentrando riquezas, vide a atual crise nos EUA e Europa onde vários grupos de extrema-direita têm ascendido politicamente como "resposta" a isto (resposta que todo mundo sabe aonde vai dar), principalmente na Europa onde existe um resíduo forte da direita de cariz fascista.

Trecho do livro "Unraveling the Right. The New Conservatism in American Thought and Politics", editado por Amy E. Ansell, minha tradução:

O que é certo sobre a Direita? (What Is Right About the Right?), pág. 18
"Esta conceituação da Direita pressupõe uma série de crenças que se estendem ao longo de muitas continuidades e, portanto, desafia o conceito de que existe um "extremista" 'ou "radical" de Direita que está fora e à parte do mainstream do sistema político. Racismo, sexismo , homofobia e antissemitismo - junto com outras formas de ideologia supremacista - não são de domínio exclusivo de grupos de ódio militantes organizados, mas também são encontrados na cultura do mainstream e da política. O autoritarismo pode assumir uma forma individualizada, tal como um linchamento da Ku-Klux-Klan ou violência contra gays, como pode aparecer em um ambiente institucional, como na passagem de leis draconianas de drogas ou de legislação anti-imigração (promovida em meados dos anos 1990 tanto por políticos Republicanos e Democratas).

Em todos esses exemplos, os temas do preconceito, supremacia e etnocentrismo também estão presentes. Temas adicionais que emergem de um estudo da Direita política dos EUA incluem o nativismo, crenças religiosas ortodoxas (principalmente cristãs), hierarquia de dominação masculina das estruturas das famílias, pelos homens da família, apoio ao capitalismo desregulamentado de livre-mercado, individualismo inflexível e crenças em mitos de subversão conspiratórios e bodes expiatórios.

A diversidade dentro da Direita pode ser confusa, e há ainda uma batida recorrente das muitas "melodias" da Direita - o problema da igualdade. Sara Diamond propôs uma definição enganosamente simples mas abrangente da Direita política: "Ser de extrema-direita significa apoiar o Estado em sua capacidade de impor a ordem e se opor ao Estado como distribuidor da riqueza e poder para a maioria e mais igualdade na sociedade."

Usando esta definição e visão da Direita em termos de sua mobilização social e política sobre certos temas centrais, Diamond em "Roads to Domination" (Estradas para a dominação) dividiu a direita norte-americana entre a Segunda Guerra e o fim da Guerra Fria em quatro movimentos principais: a Direita anticomunista, a Direita racista, a Direita Cristã e os neoconservadores. Cada um desses setores tiveram adeptos que variavam do moderado ao militante, desenvolvendo várias metodologias de estratégia e táticas, destacando diferentes temas em uma matriz infinita de combinações individualizadas. E que certas visões de movimento político e social de uma extrema-direita particular serviram como indutor do funcionamento legitimado do Estado que dependiam de suas principais demandas.

Como Diamond e outros documentaram, há uma dinâmica relação entre os vários setores da Direita. O ativista de Direita coloca o conservadorismo acima da militância e da ideologia, simultaneamente pressionando os liberais a migrar pro centro e recuar. Um ativista vigoroso da Direita abre oportunidades de recrutamento para a extrema-direita. Ao mesmo tempo, os excessos dramáticos da extrema-direita fornecem um abrigo para vitórias ideológicas da luta do ativista e conservador de Direita e os faz parecer mais razoáveis.

Diamond apontou que os distintos setores da Direita são às vezes apoiadores do sistema e às vezes oposição ao sistema. Eles formam alianças mutáveis ​​com base em objetivos comuns, que variam com o tempo e o objetivo/tema, "Este é um conceito muito útil uma vez que os mesmos tipos de grupos paramilitares de extrema-direita ajudaram agências governamentais a espionar dissidentes dos direitos civis e antiguerra nos anos 1960, também estavam ocupados formando milícias antigoverno armadas e explodindo prédios federais na década de 1990.

É errôneo concluir que porque há temas frequentemente partilhados na Direita, que todos os grupos de direita atuam juntos. Por exemplo, o grupo conservador Heritage Foundation é um crítico de longa data da rede de extrema-direita LaRouche, enquanto alguns conservadores tradicionais são ofendidos pelas mudanças radicais propostas pelos ativistas mais reacionárias e ultraconservadores da Nova Direita. As opiniões da extrema-direita, tanto as do ativista radical como as do conservador de direita podem giras sobre a covardia e fraqueza ou sobre os agentes ativos da conspiração global para escravizar patriotas norte-americanos brancos.

Grupos de extrema-direita como a rede LaRouche, o Liberty Lobby, e o movimento de Identidade Cristã (Christian Identity) tentam se juntar aos ativistas mais moderados de Direita e coligações conservadoras, mas a culpa em torno da associação é antiética e imprecisa, apesar de sua popularidade como um fundo de arrecadação de recursos via mala direta por grupos de vigilância de liberais. Não é preciso presumir que nem todos os conservadores estão numa ladeira escorregadia em direção ao reacionarismo, ou que todos os reacionários estão inevitavelmente ligados a uma corrente em direção ao fascismo. As migrações ocorrem, mas elas ocorrem em ambas direções, assim como nos grupos de esquerda."

Tradução: Roberto Lucena
Observação: o livro da capa (o primeiro) se chama White Protestant Nation (The Rise of the American Conservative Movement), de Allan J. Lichtman. Seguem as resenhas:
1. White Protestant Nation (The Rise of the American Conservative Movement) - Grove Atlantic
2. "White Protestant Nation," by Allan J. Lichtman - Chicago Tribune
3. New Book by Historian Allan Lichtman Explores Roots of Conservative Movement - SPLC
4. 2008 Nonfiction Finalist White Protestant Nation, by Allan J. Lichtman - Critical Mass

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Movimento Revolucionário Conservador alemão, precursor do nazismo

Tradução do verbete da Wikipedia sobre Movimento Revolucionário Conservador (na Alemanha), já que não existe o verbete em português. Comento o assunto depois da tradução.

Movimento Revolucionário Conservador

O Movimento Revolucionário Conservador (Konservative Revolution em alemão) foi um movimento do conservadorismo nacionalista alemão nos anos que se seguiram à Primeira Guerra Mundial. A escola de pensamento revolucionário conservador advogou por um conservadorismo e nacionalismo "novo", que fosse especificamente alemão, ou, mais especificamente, prussiano. Igual a outros movimentos conservadores no mesmo período, tratavam de pôr fim à crescente maré do comunismo ou da democracia, propondo sua versão de "socialismo conservador" baseado no "cristianismo aplicado" ou "socialismo de estado" bismarckiano (ver Estado social).

Os revolucionários conservadores basearam suas ideias sobre uma concepção orgânica da sociedade, no lugar da materialista, na qualidade e não na quantidade, sobre o “Volksgemeinschaft” ("comunidade popular”- ver Völkisch) no lugar da luta de classes e da oclocracia. Os ideólogos da escola produziram uma profusão de literatura nacionalista radical que consistiu em diários e obras de ficção de guerra, jornalismo político, manifestos e tratados filosóficos esboçando suas ideias para a transformação da vida cultural e política alemã. Influenciados pelas visões de Oswald Spengler, sentiam-se indignados com o liberalismo; o igualitarismo e a cultura comercial da civilização industrial, urbana, advogando consequentemente pela destruição da democracia e da ordem liberal, pela força se fosse necessário, razão pela qual alguns membros desta escola apoiavam a criação de um Terceiro Reich Alemão - termo que foi, junto a outros da escola, posteriormente utilizado por Hitler, ver Terceiro Reich. O movimento teve grande influência entre muitos dos jovens mais talentosos da Alemanha, setores acadêmicos, da aristocracia e altos setores da classe média (basicamente a classe dos Junkers).

Os revolucionários conservadores, muitos deles nascidos na última década do século XIX, foram basicamente formados por suas experiências da Primeira Guerra Mundial. A guerra e a Revolução alemã de 1918-1919 eram pra eles uma ruptura com o passado, que os deixou muito desiludidos. Primeiramente, a experiência dos horrores da guerra de trincheiras, a suciedad, a fome, a obliteração e o reemplazo do heroísmo com o esforço para se manter com vida em um campo de batalha de mortes pelo azar. Tiveram também - depois da guerra - que se deparar com o desemprego, sentimento de derrota, acusações de atrocidades durante a mesma guerra e a Dolchstoßlegende ("lenda da punhalada pelas costas", de acordo com o qual haviam sido traídos por seus compatriotas). Chegam assim a sentir que não havia sentido nessa guerra, ou mesmo na vida, que eles eram "como uma marionete que têm que dançar para o entretenimento dos espíritos demoníacos do mal". Atraídos por ideias niilistas buscam recriar a "camaradagem de soldados de primeira linha", dando assim um sentido a suas experiências.

O termo "Revolução Conservadora" é anterior à Primeira Guerra mundial, mas a influência de escritores tais como Ernst Von Salomon e Ernst Jünger e os teóricos políticos Carl Schmitt e Edgar Julius Jung foram instrumentais em sua transformação pra um movimento político reconhecido durante a República de Weimar, expressando-se através de figuras do estabelecimento político legal tais como Ernst Forsthoff, Kurt von Schleicher e Franz von Papen.

No âmbito político administrativo, Ernst Forsthoff postula - a partir do começo da República de Weimar - dizia que a solução dos problemas alemães está em uma nova forma de organizar o Estado, no qual os indivíduos esteham subordinados ao "Estado absoluto" ou ao “Volk”, sob a direção de um "Líder" ou Führer.1

Julius Jung - a quem se inspirou no fascismo - promoveu uma versão da nação como uma entidade ecológica singular; atacando o individualismo enquanto promovia o militarismo e a guerra, propondo a "mobilização total" dos recursos humanos e industriais a fim de fomentar a capacidade produtiva da "modernidade" - conceito similar ao "futurismo" o fascismo italiano. Para Julius Jung, o objetivo dos conservadores revolucionários deve ser uma ditadura, com a intenção de "despolitizar as massas e exclui-las da direção do Estado".

Schmitt, por sua parte, chegou a ser percebido como o principal ideólogo político do conservadorismo radical, extremado ou reacionário atual, percepção baseada em uma crítica profunda da democracia, do liberalismo e de concepções igualitárias, critica que é ignorada sob o risco de permitir seu reflorescimento. Schmitt se apresenta como defensor de visões cristãs do corpo político, promovendo uma visão da função do Estado como sendo a identificação e luta contra ou pela repressão do "inimigo", seja externo ou, especialmente, o interno (e afirmando que no caso concreto da Alemanha, o inimigo interno e externo é o judeu). Schmitt e seus admiradores afirmam que ele se manteve alejado do nacional-socialismo. Mas cabe notar que foi membro do Partido Nacional-Socialista a partir de 1932, que em 1934 justificou os assassinatos da noite dos longos punhais como a "forma mais alta do direito administrativo" e que sua crítica ao nacional-socialismo não foi tanto por seu caráter antidemocrático ou imoral, senão de que este era por demais vulgar.

Depois de 1933 alguns dos proponentes do movimento revolucionário conservador foram vigiados, reprimidos e enviados para campos de concentração pelos nacional-socialistas, principalmente pela SS de Himmler, um caso representativo é o de Ernst von Salomon, perseguido por ter uma esposa de origem judia. Alguns conservadores revolucionários apoiaram a ditadura, haviam promovido e estavam contentes com a supressão da democracia, contudo criticavam e se opunham a aspectos mais "progressistas" do nacional-socialismo, outros simplesmente nunca apoiaram o regime nacional-socialista nem seus meios, por exemplo Ernst Niekisch ou Von Salomon. Assim, por exemplo, Julius Jung - a quem escrevia os discursos de von Papen - denunciava o "liberalismo e democratismo" dos nacional-socialistas, e organizou uma conspiração a fim de derrocar o regime de Hitler, pelo qual foi assassinado - junto com von Schleicher - na noite dos longos punhais.

Outros membros e personagens próximos ao movimento revolucionário conservador se hundieron no anonimato, alguns - tais como Schmitt e Konstantin von Neurath - ingressaram no Partido Nacional-Socialista ou - como von Papen e Forsthoff - foram perseguidos por Hitler, outros como Niekisch foram enviados para campos de concentração. Alguns outros - como Junger - permaneceram ou se reintegraram ao Reichswehr e mais tarde à Wehrmacht, onde, posteriormente, conspiraram nos níveis inferiores do fracassado atentado de 20 de julho de 1944, para assassinar Hitler por meio de uma bomba.

Posteriormente, o movimento foi muito criticado por ter sido fundamental para a criação de uma cultura política ou zeitgeist que contribuiu para a difusão das ideias que facilitaram o aparecimento e aceitação das ideias políticas do nacional-socialismo. Contudo, alguns de seus membros e as percepções continuaram tendo influência, não só na Alemanha do pós-guerra,como nos desenvolvimentos políticos inclusive na atualidade em outros países.

Bibliografia:

1. Travers, Martin (2001). Critics of Modernity: The Literature of the Conservative Revolution in Germany, 1890-1933. Peter Lang Publishing. ISBN 0-8204-4927-X.
2. Herf, Jeffrey (2002). Reactionary Modernism: Technology, Culture, and Politics in Weimar and the Third Reich (reprint edition ed.). Cambridge University Press. ISBN 0-521-33833-6.
3. Stern, Fritz (1974). The Politics of Cultural Despair: A Study in the Rise of the Germanic Ideology (New Ed edition ed.). University of California Press. ISBN 0-520-02626-8.
4. Woods, Roger (1996). The Conservative Revolution in the Weimar Republic. St. Martin’s Press. p. 29. ISBN 0-333-65014-X.

Fonte: verbetes da Wikipedia em inglês e espanhol
http://es.wikipedia.org/wiki/Movimiento_Revolucionario_Conservador
http://en.wikipedia.org/wiki/Conservative_Revolutionary_movement
Tradução: Roberto Lucena

Comentário: no Brasil, acho que quem acompanha política ou esses assuntos (segunda guerra etc) já viu alguma pregação com negação de que conservadores não fazem revolução ou afirmações bizarras sobre "nazismo de esquerda", sem base histórica alguma, com discussões no mínimo pueris (infantis), pra não chamar de discussão idiota.

Os grupos que pregam e defendem essas posições também podem ser rotulados como de extrema-direita, em geral são conhecidos como "libertários" ou radicais de direita liberal, no Brasil costumam ser chamados mais popularmente de "neoliberais", um outro tipo de extrema-direita (a princípio não-fascista), mas que acaba servindo aos propósitos de grupos fascistas em virtude da forte paranoia "anticomunista" (ou do que eles entendem por isso), comportamento autoritário (intolerante com divergências), "absolutista" (só a forma como virem o mundo é correta e sempre impositiva), além de fazerem um forte macartismo e outros radicalismos do tipo, como negação da história, distorções etc.

Quando a gente mostra o porquê da classificação e de certas afirmações desses grupos não terem fundamentos, as respostas quase sempre são agressões, geralmente porque as pessoas que defendem essas bobagens (e se enquadram nestes grupos radicais) o fazem sem senso crítico algum, ou também por estarem fazendo panfletagem política, ou por possuírem um conhecimento precário sobre segunda guerra (e fé cega em textos enviesados). E costumam ficar por aí, na leitura rasa mesmo ou enviesada, não vão muito além disso (não leem outras coisas). Ou se apresentam como as três coisas juntas, daí a fúria quando são "contrariados".

A quem quiser dar uma conferida, chequem os links: Políticas da extrema-direita (economia); The Revival of Right Wing Extremism in the Nineties (sobre o grupo rotulado como "Libertários" de direita, um grupo neoliberal radical que atua fortemente na web, e bastante no espaço brasileiro). Destaque pra figura do libertário (neoliberal radical) Hans-Hermann Hoppe (link2), que anda sempre acompanhado de neonazis (como já apontado no link anterior). São esses grupos que atacam a origem do nazismo (distorcendo) negando que seja uma ideologia de direita (um dos fascismos) pra fazer panfletagem política e demonização de quem se opõem ideologicamente a esse tipo de grupo radical.

Eu sempre digo que se você quiser ver grupos fascistas/nazistas ascenderem politicamente em um país, basta deixar este radicalismo liberal atuar com toda força (Laissez-faire). Isso abrirá fatalmente caminho pros fascistas/nazistas com os efeitos colaterais que as medidas ultraliberais desses grupos provocam na economia. É só olhar pra situação política da Europa atualmente. É fruto disso.

O Brasil já sofreu com esse problema nos anos 90, década que o país atravessou uma crise profunda econômica. A própria ascensão do nazifascismo na Europa no século passado é decorrente deste tipo de política radical liberal e inconsequente desses grupos.

Queria deixar isso registrado pois já me deparei com gente defendendo esse tipo de bobagem no Orkut e até aqui mesmo no blog, mas o que mais me irrita nessas pessoas é o alto grau de desonestidade intelectual debatendo esses assuntos sobre segunda guerra, pois não conseguem deixar o tom de pregação de lado e analisar de forma correta fatos do passado pra tentar compreender o presente. Eu costumo chamá-los de PSTU de direita, pelo radicalismo e total alienação dos efeitos do que eles defendem provocam. Se uma pessoa já parte do princípio que está numa missão de "evangelizar" (doutrinar a ferro e fogo, que eu costumo chamar de "catequizar", pejorativamente), já fica por terra qualquer discussão.

Mas voltando ao assunto, não deu por exemplo pra fazer um post sobre o René Rémond, historiador francês, que teoriza sobre as três direitas na França (que serve como parâmetro pra países com o mesmo tipo de divisão política europeia), que aborda toda essa questão do fascismo e da direita. Deem uma lida neste link sobre ele, pra ter uma ideia de quem é. E neste outro La thèse des trois droites (A tese das três direitas) do que citei sobre ele. E antes que venha algum maluco mais exaltado encher o saco ("o cara era de esquerda" bla bla bla "por isso que fez essa classificação"), o René Rémond (já falecido) era de direita e conservador. Só que não era lunático e desonesto como certa direita brasileira é (ou setores, aí vai do entendimento de cada um) e que fica distorcendo história pra fazer panfletagem política.

Não seria importante citar estes fatos se eu discutisse (geralmente) com gente moderada, normal, não-fanática, não-paranoica e intelectualmente honesta, mas quem costuma se exaltar com esses esclarecimentos sobre a direita não costuma se enquadrar neste perfil "moderado". E não estou me referindo propriamente aos "revis", o problema é mais amplo (vai além deles). Há muita gente conservadora no Brasil que não é "revi" que tem uma dificuldade ou sectarismo fora do comum pra discutir qualquer assunto político e histórico sem apelar pra essa retórica panfletária ou esse tom de "pregação". Só pra constar, o Joachim Fest, historiador alemão, também era de direita e conservador e tratava esses assuntos da forma como estou citando. E vários outros.

Essas pregações que citei no começo são algo tão raso que chega a ser irritante comentar o assunto, mas a maioria das discussões que travei aqui havia um componente do que citei acima. Esse pessoal só lê bobagem na internet (e pior que ler é sair repetindo como papagaio sem querer ler algo mais sério), principalmente sobre segunda guerra e nazismo. Há muito material panfletário espalhado na web, incluindo obviamente aqueles com negação do Holocausto.

Não seria necessário esclarecer ou comentar essas coisas se o povo lesse mais livros sérios de História sobre segunda guerra, só que a maioria não lê, mas adora encher o saco e se irrita quando é contestado (não sabem discutir). Mas também cabe uma crítica ao pessoal do campo democrático e o de esquerda  nessa questão, pois se fizessem um contraponto sério a esse tipo de pregação, sem apelar praquelas provocações baratas ou discussão infantil que pipocavam principalmente no Orkut, anulariam ou atenuariam esse tipo de pregação idiota. Mas a maioria não o faz, e depois reclamam do crescimento do extremismo no país. Por falar em Orkut (uma rede social do Google), foi de lá que saiu (e/ou se proliferou) esse amontoado de porcaria negacionista de todo tipo e demais bizarrices políticas.

Noutro post veio gente discutir ou negar essas questões como se a direita (o que se entende por esse campo político) nunca tivesse defendido ditaduras, feito ditaduras, regimes autoritários, estatais etc, ignorando o fato de que o que se entende por direita ou esquerda não é um bloco sólido e sim espaços onde se concentram forças políticas de várias tendências (ideologias).

Essa informação parece banal? E é, pra gente com um mínimo de entendimento político e seriedade, mas quando fui comentar esses pontos a resposta, pra variar, foi a pior possível, isso quando não distorcem e partem pro xingamento.

Existe a direita democrática mas também existe a direita autoritária representada em geral por grupos fascistas e outros grupos autoritários profundamente reacionários e contrários, não só ao que entendem como esquerda, como também à democracia e ao liberalismo (este último uma doutrina política mais facilmente associável aos Estados Unidos e Inglaterra). Num país (o Brasil) que passou por duas ditaduras de direita (no século XX) com duração total de 36 anos (somando as duas), com uma cultura democrática frágil, há que se ter cuidado redobrado com o problema.

Só pra constar, a Revolução Iraniana de 1979 é uma revolução conservadora, de direita. O que torna essa questão bizarra quando alguns grupos de esquerda (por falta de leitura e informação) no Brasil exaltam esse tipo de regime sem levar em conta a natureza política do mesmo pois houve 'expurgos' na revolução iraniana de grupos de esquerda. A quem quiser checar deixo até alguns links pra facilitar (não vou me aprofundar no assunto, isto é só uma informação pra mostrar o grau de desconhecimento do brasileiro em geral, mesmo os ditos politizados, sobre essas questões):
Opposition groups and organizations
Tudeh Party of Iran Link2
Islamism and the left in the Iranian revolution
Iran: The Rise and Fall of the Tudeh Party

Pode haver aproximação de governos politicamente contraditórios por algum interesse externo em comum, é o que ocorre com algumas alianças do Irã, mas não confundir essas alianças externas com maquear o reacionarismo religioso do regime iraniano, que tanto a direita e esquerda brasileiras adoram deixar de lado. O termo exaltar que empreguei é diferente de, por exemplo, ser contrário a ataques militares (eu sou contra) a esse país por outras "razões", geralmente difundidas (defendidas) na mídia. Indo direto ao assunto, refiro-me ao atrito Israel-Irã no Oriente Médio.

Por encerrar o comentário, cheguei a esse assunto do Movimento Revolucionário Conservador alemão procurando questões referentes a tal Terceira Posição (que eu chamo de "fascismo por outro nome"), Nazbol e o Dugin que ainda serão citados aqui, embora lembre vagamente do assunto relativo a esse movimento conservador alemão. São questões pouco abordadas, o período político na Alemanha que vai de 1917 até a ascensão do nazismo (quando Hitler sobe ao poder), principalmente a turbulenta e cambaleante República de Weimar.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Sobreviventes do Holocausto protestam com desobediência civil (Hungria)

Húngaros, vítimas dos nazis ou descendentes, judeus ou não, escolheram a desobediência civil como forma de protesto contra um monumento que está a ser construído na Praça da Liberdade, em Budapeste. Representa a Hungria como vítima do nazismo e não como país aliado. Os cidadãos violam as barreiras de proteção para criar o que designam como “um monumento vivo” e atrasar a construção.

“Aqui a história é falsificada. Isto é algo que ninguém quer. Não entendemos por que estão a construir isto. Portanto, vimos todos os dias e destruímo-lo. Depois, eles reconstroem”, disse uma mulher.

O monumento representa a Hungria sob a forma de Arcanjo Gabriel, que é atacado por uma águia que simboliza a Alemanha. Durante a II Guerra Mundial, a Hungria aliou-se a Hitler. Deve estar acabado até 31 de maio, para comemorar o 70° aniversário da ocupação nazi da Hungria.

“O governo tenta construir um monumento de pedra e ferro com este significado, nesta praça, negando a responsabilidade da Hungria, quando 437 mil pessoas morreram nos campos de concentração”, afirmou o historiador Istvan Rév.

A maior organização judaica da Hungria decidiu boicotar as comemorações do Estado, em parte por causa da estátua.

Para comemorar o 70° aniversário do início da guetização dos judeus húngaros, a 16 de abril, o presidente da Hungria e o vice-primeiro-ministro participaram numa homenagem, noutro monumento. Admitiram a responsabilidade nacional, tal como um antigo ministro que propôs o dia de memória.

“Não vemos o Holocausto como algo acontecido num país remoto, mas como parte da história húngara, uma vez que os assassinos foram húngaros e as vítimas também. Portanto, isto é um assunto nosso, não um assunto histórico distante”, realçou o ex-ministro da Educação, Zoltán Pokorni.

Os críticos do monumento em construção acusam o Governo de estar a fazer a corte aos eleitores da extrema-direita com este projeto.

Fonte: Euronews
http://pt.euronews.com/2014/04/16/sobreviventes-do-holocausto-protestam-com-desobediencia-civil/

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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Império, Nação, Revolução – As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)

Relações Internacionais (R:I). Versão impressa ISSN 1645-9199
Relações Internacionais n.31 Lisboa set. 2011

As direitas radicais na fase terminal do Estado Novo

Riccardo Marchi
Império, Nação, Revolução – As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)

Lisboa, Texto, 2009, 439 páginas

O livro tem por objetivo o estudo dos movimentos da direita radical na fase terminal do Estado Novo – a década de 1960 e os quatro primeiros anos da seguinte –, procurando enquadrá-los no quadro geral da história política e ideológica do regime. Por isso, o autor vai mais longe e procura definir as linhas de continuidade/descontinuidade entre este período e os antecedentes.

MOVIMENTOS DE INTELECTUAIS

Os movimentos da direita radical em Portugal são essencialmente de extracção intelectual e têm como pólos os principais centros universitários do país: Lisboa e Coimbra. Aliás, era essa a tradição, como acontecera já com o Integralismo Lusitano, na década de 1920, que acabou por se desagregar no imediato pós-28 de Maio de 1926, a partir do qual as suas facções mais radicais ou desaparecem ou se aproximam gradualmente da nova situação, acabando por se integrar no regime autoritário implantado por Salazar a partir da Constituição de 1933 (vide a Ordem Nova, em que pontificavam Marcello Caetano e Teotónio Pereira). A excepção poderia ter sido o nacional-sindicalismo de Rolão Preto – o único movimento da direita radical concebido para as massas –, prontamente proibido e banido por Salazar que, como acentua o autor, «não era um fascista, não era um chefe de massas, não era um líder carismático à maneira dos anos 30» (p. 390).

Aproveitando a conjuntura política ditada pela II Guerra Mundial e a «lógica bipolar da Guerra Fria» na qual Portugal assume um papel estratégico significativo, Salazar pôde, sem grandes dificuldades, «apagar as tensões políticas que tinham emergido no imediato pós-guerra, reprimir o activismo da oposição, afastar o derrube revolucionário da situação e relegar o tema da abertura do regime a um morno debate interno entre ortodoxos e liberais» (p. 15). O que acaba por afectar a capacidade de acção das facções mais radicais da direita portuguesa que, na década de 1940 e no contexto da guerra, se assumiam como defensoras do fascismo italiano e no nacional-socialismo alemão. Daí que na década seguinte se assista a uma letargia profunda da direita radical, ficando os seus membros limitados «a encontros ocasionais e a manter relações epistolares, de troca intelectual» (p. 17).

Como acentua António Costa Pinto no «Prefácio», o reacender da centelha emerge essencialmente de três catalisadores: «o motor intelectual do neofascismo europeu, a derradeira batalha pela sobrevivência do império colonial português e a chegada ao poder de Marcello Caetano, com o seu ímpeto inicial de reforma do regime» (p. 13).

Ao longo das 400 páginas do seu livro, Riccardo Marchi descreve pormenorizadamente o percurso, por vezes labiríntico e sinuoso, dos movimentos da direita radical em Portugal, cuja periodização essencial pode ser feita em torno de três publicações.

A revista Tempo Presente (1959-1961), que tem como director Fernando Guedes e como membros do Conselho de Redacção Caetano de Melo Beirão, António José de Brito, Goulart Nogueira e António Manuel Couto Viana, cujo ideário assenta na defesa de um corporativismo totalitário neofascista.

O semanário Agora (1961-1969), em que reaparecem antigos militantes nacionalistas da década de 1940, como Raul Carvalho Branco (director e editor), Manuel Saldida e José O’Neill, que, como chefe de redacção, é quem controla de facto a publicação, assumindo-se como porta-voz da «direita "caceteira"». Como sumaria Marchi, o tema principal é a guerra em África, em cujo contexto defendem a construção de «uma frente nacional contra os inimigos da Pátria», a luta contra a «Frente Leste interna» (os traidores instalados no regime, os cépticos, os incapazes, os prudentes), que «integra a panóplia dos inimigos que o nacionalismo radical combate já desde os anos de Alfredo Pimenta: o catolicismo progressista longa manus do comunismo, os liberais-democratas, cuja oposição ao Estado Novo enfraquece o Império em proveito do imperialismo russo-americano, o sionismo internacional» (p. 191). Por não se reverem na linha editorial definida por O’Neill, os homens da Tempo Presente não participam até 1967, ano em que este é substituído por Goulart Nogueira que traz para a redacção «toda a componente neofascista do nacionalismo radical» (p. 197).

Quando Marcello Caetano substitui Salazar, em Setembro de 1968, o Agora salienta sobretudo a continuidade do Estado Novo para além de Salazar, de cuja obra o primeiro não deixaria de ser o prossecutor. Mas, dois meses depois, perante as perspectivas de «abertura», passa ao ataque:
«As páginas do Agora tornam-se um apelo semanal à área nacional-revolucionária para que se estreite em torno dos valores originários da Revolução Nacional dos anos 30 e se oponha a todos os dirigentes do Estado Novo [...] que hoje, iluminados pelos valores liberais-democratas, "se entretêm, por mundos e fundos, a dar-nos conta das excelências dos papelinhos pelos quais se decide tudo [...]"» (pp. 202-203).
A resposta marcelista foi inexorável e feita da maneira tradicional: através da Censura. O semanário vê-se obrigado a fechar definitivamente com o número de 29 de Março de 1969.

MARCELLO CAETANO, A LIBERALIZAÇÃO E O IMPÉRIO

A publicação da revista Política (1969-1974), propriedade da sociedade Edições Polémica, constituída com esse único fim, inicia-se a 22 de Novembro de 1969. Tem como director Jaime Nogueira Pinto e entre os sócios fundadores da editora conta-se Francisco Lucas Pires, ambos integrados na corrente nacional-revolucionária. No entanto, acentua Riccardo Marchi, «não é uma revista nacional-revolucionária» na medida em que nela participam «representantes das diversas almas do nacionalismo português, monárquico, republicano, católico, salazarista, todas convergentes em torno das teses integracionistas» (p. 298), «reunidos à volta da aversão ao Governo de Marcello Caetano e, sobretudo, à ala tecnocrática liberal cada vez mais influente no interior do regime e perigosamente activa nos assuntos vitais para o nacionalismo radical, nomeadamente a política ultramarina» (p. 293). É aliás a «Ala Liberal», ou melhor, o seu espírito (p. 304) presente na Assembleia Nacional depois das eleições de 1969, um dos inimigos principais para os redactores da revista, que julgam as suas posições «à luz do princípio de que as guerras subversivas vencem-se nas frentes de batalha e perdem-se nas retaguardas, com a abertura de fendas demo-liberais no tecido do Estado autoritário, disfarçadas de reformismo modernista» (Ibidem). A campanha contra os liberais da Assembleia Nacional é uma constante em todos os números da revista e intensifica-se desde o Verão de 1972, após a publicação do manifesto da SEDES «Portugal: o País que somos e o País que queremos ser». E «o crescente peso que os liberais assumem no interior das instituições do Estado torna-se uma das culpas mais graves imputadas pelos nacionalistas radicais ao Presidente do Conselho» (p. 306).

A última grande batalha da Política foi o I Congresso dos Combatentes, em grande plano na revista em Junho de 1973. A questão é candente e cara aos nacionalistas, porque, para além da deriva liberal do marcelismo dos primeiros anos, agora estava em causa a própria pessoa do presidente do Conselho que fizera aprovar uma revisão constitucional que apontava para a autonomia progressiva das colónias, que podiam, inclusivamente, adquirir a designação honorífica de «estado».
«Quando, no Inverno de 1972/73 se materializa a ideia de um grande encontro que dê voz aos antigos combatentes, os representantes mais activos da área nacional-revolucionária estão prontos a agarrar a ocasião, para dar um impulso à batalha nacionalista, desta vez não só contra os inimigos declarados de Portugal, mas também contra o poder político incerto» (p. 373).
No entanto, o poder político movimenta-se activamente e acabam por ser afastados do Congresso cujo objectivo de politização dos antigos combatentes também falha rotundamente. «Tratou-se – conclui Riccardo Marchi –, de facto, da última ofensiva da área nacional-revolucionária, na tentativa de dar forma a uma revolução há anos sonhada e que outros, dez meses depois, realizarão numa trajectória diametralmente oposta» (p. 382).

O autor descreve também pormenorizadamente os movimentos do nacionalismo revolucionário no seio da Universidade de Coimbra, cuja acção é despoletada pela crise académica de 1969, com destaque para o Orfeão Académico de Coimbra, a Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra e a Sociedade Cooperativa Livreira Cidadela. Esta última, constituída em Novembro de 1970, apesar de ter recebido a aprovação do então presidente do Conselho – que fora previamente consultado sobre a sua constituição – e, consequentemente, o apoio do regime, acaba por se inserir «na rede heterogénea da oposição de direita ao governo de Marcello Caetano» (p. 265).

Este livro, a todos os títulos pioneiro na historiografia contemporânea portuguesa, constitui um excelente estudo sobre os movimentos da direita radical no Estado Novo desde o pós-guerra, salientando-se nas conclusões que nunca existiu uma «idade de ouro» da direita radical portuguesa e que «a geração do nacionalismo radical dos anos 60 não entra na militância política colhendo o testemunho da geração precedente» (p. 383). Não estão já em causa «nem o restauracionismo monárquico, nem a doutrina contra-revolucionária, nem o debate monarquia/república», nem se trata do «despertar do salazarismo extremo, nem tão-pouco do neofascismo lusitano». O cimento que une os numerosos movimentos que se reclamam do nacionalismo radical «é a reacção contra a agressão dos movimentos independentistas» (p. 384). Numa palavra, não é o regime que está em causa, mas o «Império», que «deve ser entendido como uma ideia-valor não gerada pelo Estado Novo, pelo autoritarismo, pelo fascismo, mas pela História, material e espiritual de Portugal», ou seja, trata-se de «defender Portugal e a maneira lusitana de estar no Mundo» (p. 389).

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José Manuel Tavares Castilho

Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1986), mestre em Sociologia pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (1997) e doutor em História Social Contemporânea pela mesma instituição (2008). Actualmente, é investigador do CESNOVA – Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa. De entre as publicações mais recentes destacam-se os livros Os Deputados da Assembleia Nacional, 1935-1974 (2009) e Os Procuradores da Câmara Corporativa, 1935-1974 (2010).

Fonte: Scielo
http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?pid=S1645-91992011000300018&script=sci_arttext
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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Questão indígena brasileira. Ato público em defesa da comunidade Guarani-kaiowá (vídeo)

Repassando adiante pra quem quiser também repassar o vídeo pra mais gente, vídeo com a fala de uma mulher índia em um ato de defesa da comunidade indígena dos Guarani-Kaiowá, no Rio.

Como eu sei que muita gente é impaciente e pode não querer ouvir a fala por conta do começo em algum idioma tupi-guarani, a parte em português começa a partir de 1:37 segundos. Vídeo abaixo:



Vídeo repassado pela Rox aqui.

Pra quem está por fora do que se passa, pode ler a matéria da Deutsche Welle no mesmo post sobre o problema:
Apelo dos Guarani-Kaiowá ecoa na comunidade internacional

domingo, 28 de outubro de 2012

Apelo dos Guarani-Kaiowá ecoa na comunidade internacional

Brasil
Apelo dos Guarani-Kaiowá ecoa na comunidade internacional

Em cartas públicas, populações indígenas pedem que seja decretada sua "morte coletiva" em vez de emitida ordem de despejo. Problema de demarcação de terras que existe desde os anos 1970 ganhou atenção internacional.

Nas últimas semanas, documentos assinados por integrantes do povo indígena Guarani-Kaiowá que vive no estado de Mato Grosso do Sul, região Centro-Oeste do país, circularam na imprensa e nas mídias sociais. O mais comovente deles foi divulgado no início do mês, em resposta a uma ordem judicial de reintegração de posse de uma fazenda no município de Iguatemi. A carta assinada por indígenas Guarani-Kaiowá da comunidade de Pyelito Kue pede que a justiça decrete a "morte coletiva" dos indígenas em vez da expulsão de seu território tradicional.

Assim como esse grupo, outros também procuram formas de tornar público o longo processo de demarcação de terras. O grupo Guarani-Kaiowá de Passo Piraju, por exemplo, divulgou uma carta na última semana em que detalha a situação do assentamento que existe há 12 anos nas margens do rio Dourados, no Mato Grosso do Sul.

"É para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Passo Piraju e para enterrar-nos todos aqui, somente assim, não reivindicaremos os nossos direitos de sobreviver. Esta é a nossa última decisão conjunta diante da decisão da Justiça Federal do Tribunal Regional da 3ª Região (TRF-3) São Paulo-SP", diz trecho da carta.

Nesta quinta-feira (25/10), a organização de defesa dos direitos indígenas Survival International divulgou um comunicado pedindo "que seja permitido aos Guarani permanecer em sua terra, e que todos os territórios Guarani sejam demarcados urgentemente, antes que mais vidas sejam perdidas".

Pixação no Museu do Índio,
em Brasília, marca protesto
A imprensa chegou a falar de um possível suicídio coletivo, mas nota divulgada na noite desta terça-feira pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) alerta para a interpretação equivocada da posição dos indígenas. “Os Kaiowá e Guarani falam em morte coletiva (o que é diferente de suicídio coletivo) no contexto da luta pela terra, ou seja, se a Justiça e os pistoleiros contratados pelos fazendeiros insistirem em tirá-los de suas terras tradicionais, estão dispostos a morrerem todos nelas, sem jamais abandoná-las”, diz o documento, que reflete preocupação da entidade com uma possível onda de alarmismo que pode ser mais prejudicial para os grupos indígenas.

Em entrevista à DW, Cleber Buzatto, secretário-executivo do Cimi, diz que o manifesto reflete o desejo daquela população indígena de defender seu direito à terra. “No nosso entendimento, a carta reafirma a decisão coletiva da comunidade de não sair mais uma vez da terra tradicional pela qual eles vêm lutando nas últimas décadas”, disse.

Segundo dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), até 2010, 43 mil Guarani-Kaiowá haviam sido registrados. Eduardo Backer, advogado da ONG de direitos humanos Justiça Global, disse à DW que o caso dos Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue representa a retomada de território e "é um processo de resistência na tentativa de implementar uma política pública de demarcação que não está sendo feita pelo Estado".

Problema histórico

"A demarcação de terras é um problema histórico no Brasil, mas especificamente no Mato Grosso do Sul é um problema muito grande e acaba gerando uma série de outros problemas: confinamento, aumento dos índices de suicídio e violência", explica Eduardo Backer, ao lembrar que alguns processos de demarcação já duram 20 ou 30 anos.

Um artigo do Guarani-Kaiowá Tonico Benites, mestre e doutorando em Antropologia Social do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), publicado nesta segunda-feira no site da Justiça Global no Brasil, faz um levantamento dos aspectos históricos ligados à demarcação. "Iniciativas de articulação e luta de várias lideranças Guarani e Kaiowá para retornar aos antigos territórios começaram a despontar no final da década de 1970", diz o texto.

Crianças da etnia Guarani-Kaiowá brincam em
torno da escola cuja obra foi interrompida por
falta de verbas
O advogado Eduardo Backer ressalta o poder dos grupos políticos e do agronegócio, predominantes no Estado, e atribui a demora na resolução dos impasses à ação dessas forças. "A proximidade do poder político e de grupos econômicos interessados na preservação de uma determinada estrutura fundiária que favorece a perpetuação de seu poder econômico e político acaba impossibilitando a demarcação desse território sob o argumento falso de que se perderia a capacidade econômica do estado", alerta.

Violência e morte

Para Cleber Buzatto, a demora nos procedimentos de demarcação potencializa situações de violência entre integrantes de um mesmo grupo, suicídio entre jovens e violência por parte de grupos armados comandados, segundo ele, por fazendeiros. "Os Guarani, cansados de aguardar pela ação do Estado, promovem eles próprios ações que chamam de retomada como uma estratégia de tentar fazer com que o Estado se movimente de uma forma um pouco mais ágil", afirmou Buzatto.

Informações repassadas à DW pelo Cimi revelam uma situação tensa no Estado, que já registra centenas de processos de conflitos entre indígenas e latifundiários. Em todo o país, mais da metade dos registros de morte violenta de indígenas ocorre entre o grupo Guarani-Kaiowá. O Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas 2011 registra 503 assassinatos de indígenas entre 2003 e 2011 no país. Desses, 279 são de Guarani-Kaiowá. Dados do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, dão conta de 555 casos de suicídio desse grupo entre 2000 e 2011.

Outro tipo de violência, dessa vez contra lideranças indígenas, também causa preocupação, segundo Eduardo Backer. "Já há vários mortos, principalmente pela atuação de pistoleiros e fazendeiros", disse, ao lembrar que muitas lideranças estão hoje em programas de proteção da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

Preconceito e conservadorismo

Apesar de ser uma garantia constitucional, a preservação de território indígena ainda não recebe apoio amplo da sociedade brasileira. "É importante que a comunidade tenha ciência desses fatos e apoie os Guarani-Kaiowá no sentido de sensibilizar o governo brasileiro para agilizar os procedimentos de demarcação das terras", ressalta Cleber Buzatto.

Para Eduardo Backer, além das forças políticas e econômicas regionais, há o que classificou de conservadorismo e preconceito de parcela da sociedade brasileira que, segundo sua visão, defende um processo de aculturação que "impede que esses povos vivam de acordo com seus modos de vida tradicionais".

Autora: Ericka de Sá
Revisão: Francis França

Fonte: Deutsche Welle/Terra
http://www.dw.de/apelo-dos-guarani-kaiow%C3%A1-ecoa-na-comunidade-internacional/a-16329642
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6253564-EI306,00-Apelo+dos+GuaraniKaiowa+ecoa+na+comunidade+internacional.html

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Hungria vê renascer um antissemitismo soterrado durante ditadura comunista

Budapeste - Entre antigas lideranças do regime nazista perdoadas, criminosos de guerra nazistas em liberdade e outros incidentes que refletem uma tolerância do governo conservador com a extrema direita, a Hungria ainda enfrenta um de seus velhos fantasmas, o antissemitismo.

Em Budapeste há 17 anos, Laszlo Csatary, chefe da polícia do gueto judeu da cidade eslovaca de Kosice (Kassa em húngaro, Kaschau em alemão) durante a Segunda Guerra Mundial, não havia sido perturbado até agora pelas autoridades, apesar das informações sobre seu passado apresentadas há dez meses pelo Centro Simon Wiesenthal, com sede em Jerusalém.

O Centro denuncia o papel de Laszlo Csatary, de 97 anos, na morte ou deportação de 15.700 judeus de Kosice.

A justiça húngara indicou em 16 de julho "problemas" na investigação iniciada em setembro de 2011, baseando-se em informações do Centro, principalmente por causa da distância temporal e geográfica dos fatos, assim como pela localização no exterior das testemunhas sobreviventes.

No ano passado, um tribunal de Budapeste absolveu "por falta de provas" o húngaro Sandor Kepiro, suspeito de crimes de guerra em 1942 na Sérvia, então anexada pela Hungria, aliada da Alemanha nazista. Kepiro morreu alguns meses depois, aos 97 anos de idade.

Renascimento de um "culto Horthy"

Nos últimos anos, a Hungria viu renascer um antissemitismo soterrado durante muito tempo sob a ditadura comunista, oculto por razões ideológicas para explorar a fibra do combate antifascista da Segunda Guerra Mundial.

Prova disso é o ressurgimento do "culto" a certas lideranças nazistas, principalmente ao aliado de Adolf Hitler, Miklos Horthy, regente que ficou no poder de 1920 a 1944, cujo nome foi recentemente atribuído a um parque e que tem sua imagem exibida em bustos e estátuas em localidades húngaras.

O escritor Joszef Nyirö, membro da direção do Partido Nazista da Cruz Flechada, foi homenageado durante uma recente cerimônia na presença do presidente do Parlamento, Laszlo Kövér, membro do partido no poder (Fidesz), e do primeiro-ministro conservador, Viktor Orban.

O renascer de um "culto Horthy", iniciado pelo partido de extrema direita Jobbik (16,71% nas eleições legislativas de 2010), mas apoiado por lideranças do Fidesz, coincide com uma multiplicação dos incidentes de caráter antissemita.

Em janeiro, o pianista húngaro Andras Schiff, que vive nos Estados Unidos, cancelou seus concertos na Hungria, depois de ter sido chamado de "judeu desgraçado" na internet.

Em março, o escritor húngaro de origem judaica Akos Kertész, de 80 anos, deixou a Hungria, pediu asilo político no Canadá e se queixou de ter sido ameaçado por simpatizantes da extrema direita e do governo conservador.

No início de maio, a Federação de Comunidades Judaicas da Hungria (Mazsihisz) denunciou a discriminação racial contra um ator húngaro, Joszef Szekhelyi, que havia sido marginalizado em um festival cultural por suas origens.

No início de junho, o Grã-Rabino Jozsef Schweitzer, de 90 anos, foi insultado na rua: "Ódio a todos os judeus", disse uma pessoa. O governo húngaro denunciou essa agressão verbal.

Fonte: FP (France Presse)
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2012/07/17/interna_mundo,312501/hungria-ve-renascer-um-antissemitismo-soterrado-durante-ditadura-comunista.shtml

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