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segunda-feira, 11 de março de 2013

Espanha deverá indenizar livreiro filonazi porque não teve julgamento "justo" (Pedro Varela)

Tribunal declara que o dono da livraria filonazi Europa não teve um julgamento justo

María Peral | Madrid. Atualizado terça-feira, 05/03/2013 - 11:47 horas

Pedro Varela. | Santi Cogolludo
O Tribunal Europeu de Direitos Humanos declarou que a Espanha violou o direito de Pedro Varela, dono da Livraria Europa de Barcelona, a ter um julgamento justo, e por isso ele deverá ser indenizado em 13.000 euros.

A Corte de Estrasburgo considerou por unanimidade que a Espanha não respeitou esse direito porque Varela foi condenado em segunda instância pela Audiência Provincial de Barcelona por um delito - apologia de ideias ou doutrinas que justificam atos de genocídio - que não fora incluído nos escritos da acusação pelos quais foi julgado na primeira instância pelo Tribunal Penal número 3 de Barcelona.

Varela foi condenado em 16 de novembro de 1998 pelo Tribunal Penal a um total de 5 anos de prisão por um delito continuado de negação do genocídio nazi e outro por incitação à discriminação e ódio por motivos racistas e antissemitas.

Em 2008, depois que o Tribunal Constitucional declarara inconstitucional a tipificação delitiva da negação do genocídio, a Audiência de Barcelona condenou Varela a sete meses de prisão (tag Pedro Varela) por um delito de justificação do genocídio e lhe absolveu do resto das acusações.

O TEDH considera que, para poder modificar a qualificação das acusações (de negação do genocídio nazi à justificação do mesmo) a Audiência "devia dar a possibilidade ao acusado de exercer seu direito de defesa sobre esse ponto de uma maneira concreta e efetiva", o que não aconteceu nesse caso.

Fonte: Elmundo.es (Espanha)
http://www.elmundo.es/elmundo/2013/03/05/barcelona/1362480302.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
España deberá indemnizar al librero neonazi Varela con 13.000 euros (El País)
España, condenada a indemnizar al dueño de la librería filonazi Europa (Periodistadigital.com)
El TEDH condena al Estado a pagar 13.000 euros al filonazi Pedro Varela (LavozdeBarcelona.com)
Estrasburgo condena a España a indemnizar al dueño de una librería filonazi de Barcelona (20minutos.es)
El Tribunal de la UE considera que Pedro Varela, condenado por vender material nazi, no fue informado de las acusaciones (elperiodico.com)
España debe indemnizar a un librero nazi porque su juicio no fue justo (elperiodico.com)
España deberá indemnizar a un librero filonazi (lavozdigital.es)

quarta-feira, 30 de março de 2011

Tribunal revisa a condenação por venda de material nazi na livraria Kalki de Barcelona

Efe | Europa Press | Barcelona

Os acusados, durante o julgamento
O Tribunal Superior celebrará nesta quarta-feira uma audiência para revisar a sentença ditada em 2009 pelo Fórum Provincial de Barcelona que condenou a penas de até três anos e meio de cárcere, quatro responsáveis pela desaparecida livraria Kalki da cidade condal e de uma editora de Molins de Rei (Barcelona) por vender material de ideologia nazi.

A Sala que deliberará sobre este assunto será integrada pelos magistrados Adolfo Prego, Andrés Martínez Arrieta, Alberto Jorge Barreiro, Diego Ramos e Miguel Colmenero, que serão componentes da resolução, segundo informaram fontes do alto tribunal.

A sentença ditada em outubro de 2009 pela Audiencia de Barcelona considerava provado que, entre janeiro e julho de 2003, os condenados venderam, através da livraria situada na rua Argenter do bairro de Sant Pere e de sua página web, todo tipo de publicações nas quais se justificava e exaltava o regime nazi e se incitava o genocídio do povo judeu.

Segundo o tribunal, alguns dos livros e revistas confiscados da livraria e dos domicílios particulares também incitavam a discriminação, a exclusão e a eliminação de distintos grupos raciais e sociais enquanto que exaltavam e justificavam os regimes fascistas totalitários baseados na supremacia da raça ariana.

Assim mesmo, alguns documentos ridicularizam ou banalizam o Holocausto, o que, para os magistrados, equivale a justificá-lo.

A venda deste tipo de livros constitui um delito contínuo de difusão de ideias genocidas e outro contra os direitos fundamentais e às liberdades públicas, segundo recordou a Audiência de Barcelona.

Em concreto, condenou-se a Ramon B.F., presidente do neonazi Círculo de Estudos Indoeuropeus (CEI), a três anos e meio de prisão e a pagar 6.000 euros de multa pela difusão de ideias genoidas, um delito contra os direitos humanos e outro de associação ilícita.

Assim mesmo, a Audiência impôs a Oscar P.G., propietário da livraria e dirigente do CEI, a pena de três anos e meio de cárcere e uma multa de 3.600 euros pelos mesmos três delitos. Carlos G.S., dirigente do CEI, foi condenado pelos mesmos delitos a três anos de prisão e 3.240 euros de multa, enquanto que o quarto acusado, Antonio L.S., propietário da editora, foi condenado com dois anos e meio de cárcere e 2.400 euros de multa por difusão de ideias genocidas e um delito contra os direitos humanos.

O CEI, fundado em Valência em 1997 por Ramón B.F., promovia esta ideologia. Tinha como lema "Irmandade Ariana", e como símbolo, as iniciais deste, I e A(em espanhol H e A), que coincidem com as de Adolf Hitler.

Além disso, obrigava a todos seus membros a vestir uniforme, com camisa parda e pantalonas e botas botas militares, além do bracelete com o símbolo da entidade.

Os dirigentes do grupo pretendiam ser uma espécie de "Estado Maior", autodenominado "SS", que poderia impôr um sistema fascista em qualquer lugar da Europa ainda que o impusesse militarmente. O juramento para pertencer ao grupo paramilitar prometia fidelidade eterna a Hitler e suas ideias.

As investigações começaram em finais de 2002 depois de ter conhecimento de que, através da livraria e da editora, distribuia-se este tipo de material. A citada livraria vendia os livros editados pela empresa editorial, pelo que os Mossos estabeleceram um vínculo profissional e comercial entre os detidos.

Nos registros praticados em julho de 2003 e maio de 2004, os agentes interceptaram 10.000 livros, fitas de vídeo, revistas, publicações em outras línguas, "fanzines" e suásticas. A maioria das publicações eram distribuídas na Europa, sobretudo na França e em Portugal, assim como na América do Sul, principalmente no Chile. A sentença ordena o confisco de todo o material.

Devido à pressão policial, em maio de 2005 o CEI se dissolveu e em novembro de 2006 ingressaram 18.000 euros na condenação em favor das Comunidades Israelitas de Barcelona, SOS Racismo e Amical Mathausen, que se fizeram presentes no julgamento como acusações populares.

Um caso parecido a este foi o da livraria Europa, do bairro de Gràcia de Barcelona, cujo propietário, Pedro Varela, foi condenado por justificar também o Holocausto.

Fonte: Europa Press/elmundo.es (Espanha)
http://www.elmundo.es/elmundo/2011/03/30/barcelona/1301464457.html
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 19 de dezembro de 2010

Dono de livraria neonazi vai pra prisão

Pedro Varela terá que cumprir a condenação de um ano e três meses que a Justiça lhe impôs pelo delito de difusão de ideias genocidas.

Pedro Varela, o proprietário da livraria neonazi Europa, de Barcelona, ingressará à prisão nesta quinta-feira para cumprir a condenação de um ano e três meses de prisão que a Justiça lhe impôs pelo delito de difusão de ideias genocidas. Varela havia pedido a suspensão da mesma ao Tribunal Penal Número 15 de Barcelona, encarregado de executar a pena, mas este, finalmente, denegou-lhe, posto que o livreiro já foi condenado em 2008 a sete meses de prisão.

Varela explicou hoje que recebeu a ordem de ingresso na prisão na sexta-feira, quando já se encontrava fora aproveitando o feriado da Constitução, pelo que assegurou que na volta das férias comparecerá voluntariamente ao centro penitenciário que lhe corresponda. "É inenarrável que me condenem por editar livros. Eu só os vendo, não os edito", afirmou.

O propietário da livraria foi condenado a dois anos e nove meses de cárcere, mas mais tarde a Audiência de Barcelona lhe rebaixou a pena.
__________________________________________________________

Ultimamente o dono da livraria mais conflitiva de Barcelona havia sido notícia pelo assalto que sofreu por parte de uma veintena de pessoas durante a greve geral de 29 de setembro.

Então, Varela rotulou, em declarações à Europa Press, de ato lamentável e sustentou que os assaltantes disfarçam de greve o que é um ato de inimizade política.

Fonte: Publico.es/europapress.es(Espanha)
http://www.publico.es/espana/350640/el-dueno-de-una-libreria-neonazi-entra-en-prision
http://www.europapress.es/catalunya/noticia-propietario-libreria-europa-ingresara-semana-prision-enaltecimiento-genocidio-20101207171725.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Livraria neonazi é destruída em Barcelona

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Livraria neonazi é destruída em Barcelona

Grupo não identificado ataca e destrói livraria neonazi em Barcelona

Um grupo de dezenas de pessoas, não identificadas, atacou e destruiu hoje a livraria Europa, em Barcelona (nordeste de Espanha), do neonazi Pedro Varela, que foi condenado à prisão por difundir obras dessa ideologia.

Os atacantes, muitos com as caras tapadas e que transportavam bandeiras negras, aproveitaram as manifestações devido à greve geral que está a decorrer hoje em Espanha, para atacar a loja, localizada no bairro de Gracia.

Além de destruir mobiliário e de deixar várias mensagens escritas nas paredes do estabelecimento, os atacantes lançaram para a rua livros, estátuas e bandeiras que estavam à venda no local.

O dono da livraria foi condenado em 1998 a cinco anos de prisão depois de uma rusga na livraria. Em 2008, a pena foi reduzida, depois do Tribunal Constitucional considerar que negar o genocídio não é delito.

O centro de Barcelona tem sido hoje palco de batalhas campais entre grupos antissistema e agentes policiais.

Os grupos aproveitaram as manifestações e piquetes que se realizaram devido à greve geral para queimar carros, incluindo um da polícia, e destruir mobiliário urbano.

Fonte: Ionline(Portugal)
http://www.ionline.pt/conteudo/80907-grupo-nao-identificado-ataca-e-destroi-livraria-neonazi-em-barcelona

Observação: eu ia postar essa matéria antes(matéria data do fim de setembro) só que não consegui achar os links. Antes tarde que nunca...
A livraria em questão só vende/vendia literatura de apologia ao nazismo/fascismo e negacionismo do Holocausto. O dono foi presidente de um grupo de extrema-direita, o CEDADE (Círculo Espanhol de Amigos da Europa) que servia de também como um 'espaço pra circulação' de toda extrema-direita da Europa, situado em Barcelona(Catalunha), Espanha. Era um dos maiores ou mais organizado grupo nazi(ou como eles se autodenominam 'nacional-socialistas') na Europa.

Ver mais:
Livraria neonazi foi destruída em Barcelona

sábado, 12 de junho de 2010

Detidos cinco integrantes de um grupo de música neonazi

Neonazis passaram a quarta-feira a disposição do Tribunal de Instrução 5 de El Vendrell


Material confiscado pelos Mossos d'Esquadra.

A Divisão de Inteligência realizou dois registros em Sabadell e Santa Oliva

Os "Mossos d'Esquadra" detiveram na segunda-feira passada lunes, dia 7, em Santa Oliva (Tarragona), Sabadell, Barberà del Vallès e Sant Vicenç de Castellet (Barcelona) quatro integrantes de um grupo de música por apologia ao nazismo e homofobia, e um outro por posse ilícita de armas.

Segundo informou a polícia catalã, o grupo possui letras de canções que supostamente fomentam o ódio e a discriminação contra homossexuais, judeus e outros grupos sociais, e enalteciam o regime nazi, e que difunciam em concertos ao vivo, na Internet e em CDs.

Os agentes detiveram Juan M.V., de 23 anos, próximo de Santa Oliva; Daniel M.M., de 23 e próximo de Sant Vicenç de Castellet; Luis Alberto P.L., de 22 e próximo de Sabadell; Daniel M.H., de 23 e próximo de Barberà del Vallès, assim como Juan Jaime M.V., de 56 anos e próximo de Santa Oliva - por posse ilegal de armas-.

Os investigadores da Divisão de Inteligência realizou dois registros em Sabadell e Santa Oliva, onde apreenderam propaganda xenófoba, simbologia neonazi, material nacional-socialista(nazista) e armas.

Os cinco detidos passaram a quarta-feira a disposição do Tribunal de Instrução número 5 de El Vendrell por delitos contra o exercício dos direitos fundamentais e contra a comunidade internacional, assim como um delito de posse ilegal de armas.

Fonte: Elmundo.es, Europa Press(Barcelona, Espanha)
http://www.elmundo.es/elmundo/2010/06/11/barcelona/1276280461.html
Tradução: Roberto Lucena

Outras matérias:
Tribunal espanhol condena 14 membros de grupo neonazista

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A mezuzá nos pés da Madona - a fantástica história dos gêmeos Samuel e Joel

Os irmãos Sequerra

A fantástica história dos gêmeos Samuel e Joel

Nelson Menda, presidente do Conselho Sefaradi

No dia 24 de agosto de 1913, nasciam na cidade litorânea do Faro, no Algarve, sul de Portugal, os irmãos gêmeos Samuel e Joel Sequerra, filhos de um próspero empresário do ramo pesqueiro. Seu pai comandava com pulso firme uma frota de barcos especializados na captura de sardinhas, que eram enlatadas na unidade fabril da própria família. Os Sequerra tinha chegado ao Algarve no século XIX, provenientes da Inglaterra, e se orgulhavam do seu passado judaico-português. Duzentos anos antes do retorno, um Sequeira havia sido queimado pela inquisição em Portugal e seus três filhos tiveram de se refugiar na Inglaterra, passando a utilizar o sobrenome Sequerra. Em 1928, uma tragédia se abateu sobre a família. O pai de Samuel e Joel sofreu um grave acidente ferroviário em Portugal, vindo a falecer pouco tempo depois. Com a morte do patriarca, e tendo de enfrentar a crise mundial de 1929, a empresa dos Sequerra foi à falência.

Em 1933, a viúva mudou-se para Lisboa com seus cinco filhos: Semtob, o mais velho, os gêmeos Samuel e Joel, então com 20 anos, Mazal, a única mulher e Jacob, o caçula. Quem me relatou esses fatos foi o Salomão Sequerra, um experiente consultor de Informática, sentado em uma confortável poltrona na sala de seu apartamento no Leme, Rio de Janeiro, em março deste ano. Salomão é um homem tranqüilo de fala pausada que ainda conserva um forte sotaque português. Nasceu em Lisboa em 1943 e mudou-se com os pais e os irmãos para o Brasil em 1958, aos 15 anos de idade. Ele é filho de Joel e sobrinho de Samuel, dois heróis anônimos do século XX que ajudaram a salvar um número significativo de refugiados do nazismo, judeus e não judeus. É uma história comovente que somente agora, em pleno século XXI, exatos 60 anos depois, começa a ser revelada.

"A Espanha representou, durante os anos sombrios da II Grande Guerra, uma tábua de salvação para os fugitivos do ódio nazista"

Tudo começou em Barcelona, capital da Catalunha, Espanha, em 1942. Era uma época conturbada em todo o território europeu, com a expansão militar da Alemanha nazista, que àquela altura já tinha invadido e ocupado a Áustria, Polônia, Tcheco-Eslováquia, Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica, Romênia, Bulgária, Iugoslávia, Grécia e, especialmente, a França, país limítrofe à Espanha. Legiões de refugiados vagavam de um país ocupado para o outro, em busca desesperada da única rota possível de fuga: a fronteira franco-espanhola.

A travessia dos Pirineus, a pé, levava alguns dias e era realizada sob as piores condições climáticas possíveis, debaixo de frio, vento e neve. Os refugiados, além disso, precisavam driblar a vigilância da polícia francesa de fronteiras, que colaborava abertamente com a gestapo na caça aos fugitivos judeus, sem falar nos ladrões e contrabandistas que perambulavam pela região em busca de dinheiro fácil. A Espanha não havia sido invadida pelas tropas de Hitler porque era considerada uma aliada fiel do regime nazista.

O país saíra, há poucos anos, de uma sangrenta insurreição armada que representara, na verdade, uma avant-première da II Guerra Mundial. O generalíssimo Franco tinha sido o vitorioso, com o apoio financeiro, militar e ideológico da Alemanha. Barcelona, importante reduto republicano e anti-fascista, foi uma das cidades mais castigadas pelas falanges franquistas. O dialeto catalão estava proibido e até mesmo a sardana, dança folclórica tradicional, era considerada subversiva e punida com prisão. Apesar de toda a simpatia e gratidão que Franco nutria por Adolf Hitler, a Espanha representou, durante os anos sombrios da II Grande Guerra, uma tábua de salvação para os fugitivos do ódio nazista. O governo espanhol fazia vista grossa para os refugiados judeus que entravam no país, recusando-se a devolvê-los à polícia francesa ou à gestapo.

Os irmãos Sequerra desempenharam um importante papel na criação desse ambiente favorável junto às autoridades espanholas, o que permitiu a salvação de um expressivo número de homens, mulheres e crianças. Samuel e Joel portavam credenciais de voluntários da Cruz Vermelha Portuguesa e eram também funcionários da JOINT, a American Jewish Joint Distribution Committee, uma entidade de assistência aos refugiados mantida por particulares e que havia sido fundada em 1914 pelo filantropo norte-americano Jacob Schiff.

Assim que desembarcaram em Barcelona, vindos de Lisboa, os dois irmãos se hospedaram no Hotel Bristol, em plena Plaza de la Cataluña, que se transformou, em muito pouco tempo, no ponto de encontro dos refugiados que conseguiam chegar à cidade. Samuel tinha se graduado em Economia e era um diplomata nato, com enorme capacidade de relacionamento. Sua missão era contatar e fazer amizade com ministros, embaixadores, cônsules, chefes de polícia, superintendentes penitenciários e até mesmo diretores de hospitais. Joel, um assistente social na completa acepção da palavra, executava o trabalho de bastidores, percorrendo com seu carro os postos de fronteira, as prisões, as delegacias de polícia e os diversos campos de prisioneiros onde pudesse encontrar e socorrer fugitivos da barbárie nazista.

"De 1942 a 1945 Samuel e Joel conseguiram salvar aproximadamente 1.000 pessoas, entre as quais o Barão de Rothschild"

Os dois trabalhavam em total sintonia e contavam com o apoio de um eficiente grupo de voluntários que tinham ajudado a organizar. Uma vez localizado um refugiado, era preciso retirá-lo da prisão e encontrar uma residência digna, roupas, alimentos, um emprego e, mais importante do que tudo, documentos e vistos para que pudesse sair do país em segurança.

De 1942 a 1945 Samuel e Joel conseguiram salvar aproximadamente 1.000 pessoas, entre as quais o Barão de Rothschild, que, no impressionante relato da escritora Trudy Alexi no livro "A Mezuzá nos Pés da Madona" editado no Brasil pela Imago, "chegou com as roupas esfarrapadas, depois de cruzar os Pirineus andando junto com a família".

Trudy, na época uma adolescente, conseguiu fugir do inferno hitlerista pela escarpada fronteira franco-espanhola na companhia de seus pais e um irmão, tendo se radicado, posteriormente, nos EUA. A escritora dedicou parte de sua vida a entrevistar sobreviventes do Holocausto que, como sua própria família, haviam utilizado a rota Pirineus-Barcelona para alcançar a liberdade. É ela quem menciona, pela primeira vez, o nome Seguerra, assim mesmo, com g, citado 14 vezes em sua obra. Um outro livro, de autoria do escritor Haim Avni, publicado em hebraico e inglês, Spain, the Jews, and Franco, também se refere ao trabalho heróico dos dois irmãos.

Cada refugiado necessitava de uma atenção específica, pois não havia dois casos iguais. Para os homens solteiros, a salvação estava, muitas vezes, nas "noivas" portuguesas e espanholas que os irmãos Sequerra, com ajuda da coletividade, tratavam de arranjar. Como "maridos", tinham o direito de conseguir os documentos necessários para a sonhada viagem do casal à América, destino preferido da maioria dos perseguidos. Muitos desses casamentos fictícios, por estranho que possa parecer, redundaram em uniões reais e duradouras. Para outros, a solução era menos complicada.

Bastava ir à respectiva legação diplomática e conseguir passaportes e vistos para um país que os aceitasse. Com a progressão da guerra, contudo, e a política dúbia de muitas nações, estava ficando cada dia mais difícil obter esses documentos, especialmente para os judeus poloneses, que não eram reconhecidos como cidadãos pelo consulado do seu país.

Em alguns casos, quando havia risco iminente de deportação, o refugiado era internado às pressas em um hospital, onde um cirurgião amigo constatava a necessidade urgente de uma cirurgia para retirada do apêndice. Extirpava-se, na maioria das vezes, um órgão saudável, mas em contrapartida salvava-se uma vida.

Quando se esgotavam as possibilidades de conseguir passaportes e salvo-condutos em território espanhol, os Sequerra encaminhavam os refugiados para Portugal, país que também ajudou muitos judeus a escapar do inferno nazista. Em Lisboa, a comunidade judaica havia montado uma estrutura para prestar-lhes auxílio médico e financeiro, além de assistência para a obtenção de passaporte português e um providencial visto para uma terra que os acolhesse. Além dos Estados Unidos, Marrocos, no norte da África, Cuba, México e Bolívia foram alguns dos poucos países que aceitaram receber refugiados, em um período em que as portas se fechavam para os judeus.

Essa intensa atividade dos irmãos Sequerra em Barcelona não passou despercebida da Gestapo, que mantinha numerosos agentes na cidade. O escritório da Joint já havia sido transferido do Hotel Bristol para uma sede maior, no Paseo de Grácia. Uma noite, Samuel e Joel foram salvos pela própria dedicação ao trabalho.

Com excesso de tarefas, tiveram de fazer serão, tendo sido surpreendidos pelo ruído de uma violenta explosão, que destruiu completamente seu carro, estacionado nas proximidades. Tivessem saído na hora habitual, provavelmente teriam sido mortos pela bomba-relógio que os nazis colocaram sob o veículo.

A esse atentado seguiram-se outros dois, mas Samuel e Joel não esmoreceram e levaram a cabo sua meritória atividade até que tivessem retirado do território espanhol todos os refugiados que assim o desejassem. Alguns decidiram, com o fim da guerra, permanecer na Espanha, dando origem a uma florescente comunidade judaica.

Samuel e Joel continuaram suas atividades comunitárias em Portugal, mudando-se para o Brasil nos final dos anos 50. Samuel, solteiro, foi para a iniciativa privada, sendo eleito e reeleito Presidente do Cemitério Comunal Israelita, no Rio, cargo que exerceu com enorme competência e dedicação até sua morte, em 1992.

Bem à entrada dessa necrópole, no bairro do Caju, uma placa em bronze presta uma merecida homenagem ao herói anônimo que nunca aceitou, em vida, qualquer tipo de honraria e que se encontra sepultado na própria entidade que dirigiu com extremo zelo.

Seu irmão Joel, que veio com a esposa e os quatro filhos para o Rio de Janeiro em 1958, continuou desenvolvendo seu trabalho em entidades de auxílio aos refugiados, participando de projetos em prol dos judeus da Hungria, Egito, Romênia e Bulgária. Depois dessas campanhas, Joel atuou de forma decidida na colocação de bônus de Israel junto à coletividade judaica no Brasil, papéis destinados a financiar o desenvolvimento econômico daquele país.

Em 1979, aos 66 anos, Joel Sequerra se aposentou, transferindo-se para Haifa com a esposa Simy. Naquela aprazível cidade israelense já vivia, há vários anos, seu filho Arão, um brilhante arquiteto com Mestrado e Doutorado no Technion. Arão precisava de alguém com coragem suficiente para enfrentar o caótico trânsito israelense e transportar em segurança até a escola seus filhos pequenos e ninguém melhor do que o vovô Joel para tão arriscada tarefa.

Depois de ter ajudado a salvar a vida de milhares de refugiados judeus nas perigosas estradas da fronteira espanhola, Joel Sequerra curtiu seus últimos anos como motorista particular dos seus dois netos, vindo a falecer em Haifa, onde está enterrado, aos 74 anos, em 1988.

Além do internauta Salomão, que me relatou, emocionado, a maior parte dessa comovente história e do arquiteto Arão, Joel e Simy Sequerra tiveram mais dois filhos: Moisés, um virtuose do violino radicado em Lyon, França e Thea, uma jornalista que residia em Lisboa e faleceu em um acidente automobilístico em 1976.

Simy Sequerra, a viúva de Joel, mora com o filho Arão e os netos em Haifa, Israel. Os gêmeos Samuel e Joel Sequerra nunca gostaram de conversar com a família e os amigos sobre o que presenciaram durante os anos de chumbo da II Guerra e sempre recusaram receber qualquer tipo de homenagem, alegando, modestamente, que não haviam feito mais do que sua obrigação.

Uma frase de Joel, todavia, merece ficar registrada para a posteridade, pois resume em poucas palavras o misto de esperança e amargura que o acompanhou por toda a vida: "eu gostaria de acreditar que esse tenha sido o último Holocausto".

Texto publicado por Jorge Magalhães, em 09/05/2007:
http://hebreu.blogspot.com/2007/09/os-irmos-sequera.html

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