sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Alguns heróis ciganos

O povo romani reivindica referências como o boxeador Johan Trollmann, o ilustrador Helios Gómez ou o líder anarquista Mariano Rodríguez Vázquez

Da esquerda para a direita, o líder da CNT Mariano Rodríguez Vázquez,
o grafista Helios Gómez, e o boxeador Johan Trollmann.
Jóvenes gitanos plantan cara al antigitanismo
HELENA LÓPEZ / BARCELONA

Quinta-feira, 8 de dezembro de 2016 - 17:18 CET

Johan Trollmann (1907-1944), conhecido como Rukeli, foi campeão nacional de boxe na Alemanha de 1933, ano em que Hitler ascendeu ao poder. Não é estranho dizer, pois, que oito dias depois, os nazis retiraram o título alegando "falta de nível". O Terceiro Reich não podia aceitar exaltar a um cigano. Um jovem como Rukeli, nas antípodas do modelo ariano que o nazismo pretendia impor. Não só por sua tez morena e sua frondosa mata de cabelo azeviche, senão também por seu característico estilo dançarino sobre o quadrilátero, muito longe do duro 'estilo alemão'. Saltos ágeis e muito efetivos que, contam, tiravam os nazis do sério. Assim que, não sendo bastante lhe retirar o título de campeão, ameaçaram-no em lhe negar também a licença para seguir competindo a nível profissional se não deixasse de "dançar" enquanto lutava.

A seguinte peleja que ele participou acudiu depois de terem tirado seu título, Rukeli, desafiante, subiu ao ringue com o cabelo tingindo de ruivo e o rosto polvilhado de branco (algumas versões dizem que com farinha, outras, que com pó de talco). Com a rebeldia própria de sua condição cigana, Rukeli fez caso e, por uma vez, não dançou. Ficou no centro do ringue coberto em pó branco sem mover as pernas até que foi nocauteado no quinto assalto; tudo dignamente. Ali terminou sua carreira, mas esse gesto de galhardia lhe converteu em um herói para o povo cigano. Um gesto simples mas estoico com o qual ridicularizou a todo um regime racista, que acabou o encarcerando em um campo de trabalho forçado.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL HELIOS GÓMEZ
Os anjos negros da 'Capela cigana' da Modelo,
pintados por Helios Gómez na prisão
Histórias como a de Rukeli, ainda referência, são as que os jovens ciganos não só daqui, senão de meia Europa, reivindicam, fazendo pressão tanto a seus governos locais como através das poderosas redes sociais para lhes fazer justiça.

ARTISTA INTERNACIONAL

Em Barcelona também há heróis ciganos com histórias muito desconhecidas, pese o impacto que deixam em quem as descobre (algo que se sente difícil, já que a história do povo cigano não é estudada nos colégios). É o caso de Helios Gómez (1905-1956), autor da 'Capela cigana' (Link2) de 'La Modelo', ainda tapada sob uma capa de cal em uma habitação fechada. Rebelde como Rukeli, Gómez foi anarquista, comunista e de novo anarquista, segundo desencadeou em decepções. Preso em incontáveis ocasiões por sua ideologia, o ilustrador foi 'convidado' pelo cura do cárcere pra que desenhasse em uma das paredes da cela um fresco da Virgem das Mercês (Barcelona). Também ao melhor estilo Rukeli, Gómez - que fora proibido de pintar entre grades - concordou, mas o fez, como não, a sua maneira. Pintou uma Virgem e um menino Jesus rasgos inequivocamente ciganos, acompanhados por uns anjos negros de Machín que acabaram se convertendo em um apelo contra o regime.

O filho de Helios, Gabriel, passa anos trabalhando na associação cultural que leva o nome de seu pai para restituir a memória do ilustrador, grafista e poeta e de "todos os que, como ele, lutaram pela liberdade".

Outra figura cigana muito reivindica, também rebelde e anarquista, é Mariano Rodríguez Vázquez, 'Marianet'. Secretário Regional da Catalunha e da CNT entre novembro de 1936 e junho de 1939, "desempenhou um papel decisivo no futuro anarcosindicalista e na vida política e social da guerra civil espanhola", segundo a Wikipedia. Urge que as petições do coletivo de que se estude e documente a fundo sua história sejam escutadas para poder ir mais além da enciclopédia livre.

Fonte: El Periódico, Barcelona (Espanha)
http://www.elperiodico.com/es/noticias/barcelona/algunos-heroes-gitanos-5674253
Título original: Algunos héroes gitanos
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Restos encontrados em Pskov, Rússia

Um novo artigo foi publicado na semana passada sobre o achado de um túmulo e memorial para 14 judeus, consistindo de "dois recém-nascidos, dois adolescentes, um idoso e nove mulheres" encontrados próximo a Pskov, uma cidade russa à leste da fronteira estoniana. Os restos foram achados por Poisk (Search), uma organização que busca por restos de soldados em áreas de combate pesado da segunda guerra. Poisk poderia verificar que estes eram civis porque, como afirmado pelo porta-voz de Poisk, Rachim Dzhunusov, "os restos eram de crianças, mulheres e idosos, e alguns (crânios) foram quebrados por golpes de coronhadas de rifles [e] e tivemos que os coletar pedaço por pedaço", os mortos "foram despidos, não havia uma única fivela, botão, nada". O artigo deduz da declaração de uma testemunha que os judeus haviam sido capturados depois de fugir da Letônia, mas havia também fontes afirmando que o Einsatzkommando de Sandberger tinha relocado 400 mulheres e crianças da Estônia para Pskov, onde eles foram executados sobre a ordem de Jeckeln em janeiro de 1942. O Yad Vashem tem fontes online sobre os cinco locais de extermínio próximos a Pskov.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2016/12/bodies-found-in-pskov-russia.html
Título original: Remains Found in Pskov, Russia
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Filme: "Holocausto Brasileiro" mostra barbárie em hospital psiquiátrico em Minas Gerais

Baseado no livro homônimo de Daniela Arbex, novo documentário da HBO estreia neste domingo (20) e choca por realidade desconhecida

Depois de inspirar uma série de reportagens e um livro, a história do Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, é tema do documentário "Holocausto Brasileiro", que estreia neste domingo (20), às 21h, no canal MAX.
Divulgação/HBO: "Holocausto Brasileiro" mostra caso
do Hospital Colônia de Barbacena, onde 60 mil pessoas morreram
Baseado no livro homônimo de Daniela Arbex, "Holocausto Brasileiro" conta o que acontecia nos muros do Colônia, que tratava de pacientes com supostos problemas mentais. Cerca de 60 mil pessoas morreram no hospital durante seus 80 anos de funcionamento.

"Muita gente da minha geração não conhecia essa história, então achei importante contar", explicou a diretora em entrevista ao iG. Ela assina o documentário com Alessandro Arbex e a equipe da HBO Latin America.

O filme demorou dois anos para ser produzido, entre 2013 e 2015, e traz depoimentos emocionantes de sobreviventes do hospital. "Não dá para contar uma história dessas sem se tocar", confessou Daniela sobre a produção do documentário. Na época em que ela começou a série de reportagens sobre o Colônia para o jornal Tribuna de Minas, em 2011, a jornalista tinha acabado de ser mãe pela primeira vez. "Mexeu muito comigo ver as histórias daquelas mulheres que tiveram seus filhos tirados delas", admitiu.

O documentário mostra com detalhes as condições as quais as pessoas internadas no Colônia eram submetidas. Entrevistas com funcionários do hospital e jornalistas que acompanharam a situação de perto são a base para o filme, que faz revelações chocantes, como as de que centenas de pessoas morreram de fome na instituição e de que os pacientes chegaram a beber esgoto por não terem água limpa.

Reprodução: O Hospital Colônia de Barbacena,
em Minas Gerais, é o cenário de "Holocausto Brasileiro"
Para a jornalista, o filme serve para documentar a memória das pessoas que sofreram no hospital. Muitas das pessoas que seriam entrevistadas morreram durante a produção do documentário, enquanto outras que aparecem na tela nunca chegarão a assisti-lo. Um deles é o maquinista do trem que levava os internos até Barbacena. "Era o sonho dele estar em um filme", lamenta a diretora sobre o personagem da entrevista que abre "Holocausto Brasileiro", que morreu antes de conseguir ver o filme.

Mexendo no vespeiro

Quando começou a explorar a história do hospital, Daniela Arbex sabia que o tema poderia causar bastante barulho, mas não tinha ideia da grandeza que ele tomaria. "Eu sabia que era uma história grandiosa, mas o filme foi a grande surpresa", contou. Quando a série de reportagens foi publicada, a jornalista lembra de ter recebido milhares de e-mails de pessoas que tiveram parentes internados em Barbacena.

O crescimento da história também tornou o trabalho de Arbex mais difícil. Seu caminho foi se complicando à medida que o caso do Colônia ganhava mais atenção. "Fui muito bem recebida para fazer a matéria, o governo de Minas Gerais até me passou alguns contatos para as entrevistas. Mas quando fui retomar o caso para escrever o livro, passei a incomodar", disse. "O problema maior foi para fazer o filme", contou a diretora, que passou dois meses em Barbacena produzindo o documentário. "As pessoas da cidade não gostavam da gente lá."

Além do Brasil, "Holocausto Brasileiro" também será exibido pela HBO em toda a América Latina. Para Daniela Arbex, isso cumpre seu compromisso com a história. Além do livro ter sido adotado em cursos de ensino fundamental e médio, a jornalista levará o caso do Hospital Colônia de Barbacena para todo o País e o exterior. "O filme é incrível, a gente sabe o potencial dele, e espero que tenha um caminho lindo", disse a diretora.

"Holocausto Brasileiro" mostra barbárie em hospital psiquiátrico em Minas Gerais
Por Caio Menezes | 20/11/2016 09:00

Fonte: Portal IG
http://gente.ig.com.br/cultura/2016-11-20/holocausto-brasileiro.html
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Acréscimo:

Um pequeno adendo (pequena introdução) ao documentário e livro, lembro de uma matéria que tratava do assunto feita pelo Goulart de Andrade sobre um Hospital psiquiátrico em Juqueri (https://www.tvgazeta.com.br/videos/goulart-de-andrade-em-juqueri/). Mais sobre a matéria conferir aqui. Sempre que vejo algo sobre o livro ou documentário desse livro da Daniela Arbex lembro dessa matéria no Juqueri que me impactou profundamente (provocou um ódio profundo das classes dominantes deste país, do desprezo deles pela vida humana, do higienismo ideológico nazi-liberal dessa gente, gente bárbara, asquerosa, gente da pior espécie, sempre que olho as imagens me causa nojo da classe dominante deste país, da perversão pela qual são "fabricados"). Esses hospitais psiquiátricos parecem/pareciam campos de concentração, literalmente.

Eu ia divulgar o livro "Holocausto brasileiro" (Daniela Arbex) no ano em que saiu (acho que em 2013), mas devidos aos altos e baixos do país (com um golpe no meio, sabotagens etc, e um certo desânimo), foi ficando pra depois, depois... e acabou por não se mencionar antes o livro, e agora o documentário sobre o livro. Mas antes tarde que nunca.

O documentário "Holocausto brasileiro" (procurem pelo Youtube, se não tirarem do ar) mostra a outra face do Brasil, a que a "propaganda oficial" do país não mostra pro mundo, pois colocaria abaixo a imagem de "país cordial", "pacato", "diferente de todos os outros" que a propaganda oficial do país costuma vender, e que acaba por acobertar os inúmeros crimes, desrespeitos e brutalidade que ocorrem corriqueiramente no país pelas pessoas "cordiais" do país e aparato burocrático/privado.

Um país que trata doentes mentais desta forma como a relatada nesses documentários e livro, mostra na realidade um país não muito diferente de uma Alemanha nazi, o princípio de internamento dessas pessoas era o mesmo usado no nazismo, e por 80 longos anos (o regime nazi durou 12 anos). Até a escala de mortes é parecida.

A quem quiser ler mais: Doentes mentais e o Nazismo

Há alguns puristas ou fanáticos religiosos (cheios de melindre, serei sincero, não gosto de quem mistura crença religiosa com questões desse tipo, não gosto de fanático religioso) que não gostam que usem a palavra "Holocausto" pro livro e pro documentário.

Sinceramente, sacralizar uma palavra ou confinar a mesma a um episódio histórico é uma postura bem perigosa (e egoísta também) e que em nada ajuda no entendimento dessas questões, até porque o termo mais adequado pro que houve na segunda guerra é genocídio. Não vou entrar aqui na discussão do surgimento e adoção/uso do termo Holocausto pro genocídio nazista, no blog tem explicação pra isso em posts antigos (clique aqui). Também não tenho o menor interesse em que melindra com supostas "ofensas" sobre uso do nome, não acredito nessas ofensas e sim em uma postura fanática, autoritária e possessiva.

Não vou me alongar mais, leiam a matéria sobre o filme (esta introdução ficaria no começo do post mas resolvi pôr no fim pra não atrapalhar a leitura).

Entrevista com a autora: Livros 63: Holocausto Brasileiro - Daniela Arbex

sábado, 5 de novembro de 2016

Nazismo de esquerda? (Richard J. Evans) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 02

A quem não entendeu o post, sugiro ler a Parte 01, pois haverá muitas outras partes (espero) sobre o que nos dizem os Historiadores da segunda guerra, nazismo e neonazismo (neofascismo) sobre o nazismo ser de direita. Não só de Historiadores como também de memórias (de peso) e de jornalistas, como o livro clássico sobre o tema que é o "Ascensão e Queda do III Reich" (PDF aqui), do jornalista William Shirer.

Os posts surgiram em virtude da ampla panfletagem de direita feita no Brasil (não só aqui) de grupos de extrema-direita liberal-conservadores tentando empurrar o nazismo pro "campo esquerda" da política, o que não só provoca um problema de entendimento do fenômeno e histórico, como é pura distorção e desonestidade intelectual aguda pra fins políticos. Em grande parte, no caso brasileiro, esta neurose desses grupos (pelo que observo) é porque em muito suas atitudes autoritárias, preconceituosas e saudosas de ditadura se assemelham com parte do nazismo e fascismo, daí o incômodo em querer se livrarem do xingamento de "nazistas", isso quando alguém da esquerda usa pois da parte da esquerda (e do campo democrático, que é mais amplo) há um combate débil a esse tipo de problema (disseminação de panfletagem mentirosa).

Do segundo livro da trilogia do historiador britânico Richard J. Evans, "O Terceiro Reich no poder", com tradução Lúcia Brito. Vol. 2 da trilogia.

Trechos sobre o caráter direitista e conservador do nazismo, e isso porque não selecionei as partes que só falam dos conservadores/conservadorismo porque ficaria extenso os textos, tanto nesta parte como na primeira parte. Serviço de utilidade pública em um país onde uma direita "radicaloide" (principalmente) e ignorante (e pedante) dá um golpe de Estado contra o país e entrega as riquezas do mesmo a petroleiras como se fosse "algo banal" ao mesmo tempo em que cobravam "melhores escolas e hospitais" (podem pedir esmola pra Shell pras escolas e hospitais agora ou pra Chevron, não era isso que queriam? Ou não sabiam do que estava realmente em jogo com todo o ataque promovido pra desestabilizar o país?). Em outros países esse ato dessa gente seria considerado crime de traição grave.
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Pág. 23
Havia uma enorme variedade de grupos extremistas antissemitas de ultradireita em 1919, especialmente em Munique, mas, em 1923, um deles pairava acima dos restantes: o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, dirigido por Adolf Hitler. Tanta coisa foi escrita sobre o poder e o impacto de Hitler e dos nazistas que é importante destacar que o Partido situava-se na periferia distante da política até o final da década de 1920. Em outras palavras, Hitler não era um gênio político que angariou sozinho o apoio em massa para si e seu partido. Nascido na Áustria em 1889, era um artista fracassado com um estilo de vida boêmio que possuía um grande dom: a capacidade de mobilizar as massas com sua retórica. Seu partido, fundado em 1919, era mais dinâmico, mais implacável e mais violento que outros grupos periféricos da extrema direita.

Em 1923, o Partido sentiu-se confiante o bastante para tentar um golpe de Estado violento em Munique como prelúdio para uma marcha sobre Berlim na linha da bem-sucedida Marcha sobre Roma de Mussolini no ano anterior. Mas o Partido fracassou em conquistar o Exército ou as forças políticas conservadoras da Baviera, e o golpe foi dissipado com uma saraivada de tiros. Hitler foi condenado e colocado na prisão de Landsberg, onde ditou seu tratado político autobiográfico, Minha luta, para seu lacaio Rudolf Hess. Por certo não era um plano para o futuro, mas um compêndio das ideias de Hitler, sobretudo a respeito do antissemitismo e da conquista racial da Europa oriental, para todos aqueles que se interessassem em ler.
Pág. 51
Houve mais detenções e fuzilamentos na manhã seguinte, em 1º de julho. No clima geral de violência, Hitler e seus lacaios aproveitaram a oportunidade para acertar velhas contas ou eliminar rivais pessoais. Alguns, claro, eram grandes demais para se atingir, notadamente o general Erich Ludendorff, que andara causando algumas dores de cabeça para a Gestapo com suas campanhas de extrema direita e antimaçonaria; o herói da Primeira Guerra Mundial foi deixado em paz; viria a morrer pacificamente em 20 de dezembro de 1937, sendo-lhe conferidas exéquias respeitosas pelo regime. Mas, na Baviera, o exministro-presidente Gustav Ritter von Kahr, que havia desempenhado um papel-chave ao esmagar o golpe de Hitler em 1923, foi trucidado pelos homens da SS. O crítico de música Wilhelm Eduard Schmid também foi morto na crença errônea de que era Ludwig Schmitt, um ex-partidário do irmão radical de Gregor Strasser, Otto, que havia sido forçado a renunciar ao Partido devido a suas visões revolucionárias e desde então mantinha, da segurança de seu exílio, uma avalanche constante de críticas a Hitler.

O político conservador bávaro Otto Ballerstedt, que tivera êxito em processar Hitler por interromper uma reunião política na qual ele falava em 1921, resultando em um mês de prisão para o líder nazista em Stadelheim, foi detido e fuzilado em Dachau em 1º de julho. Um alto oficial da SS, Erich von dem Bach-Zelewski, escolheu o momento para se livrar de um rival odiado, o líder da cavalaria da SS, Anton von Hohberg und Buchwald, que foi devidamente abatido em casa. Na Silésia, o chefe regional da SS, Udo von Woy rsch, fez fuzilar seu ex-rival Emil Sembach, a despeito de acordo prévio com Himmler de que Sembach seria enviado a Berlim para que lá tratassem do caso dele. A violência também transbordou para outro setor sem conexão. Quatro judeus foram detidos em Hirschberg e “abatidos ao tentar escapar”. O líder da liga de veteranos judeus em Glogau foi levado a um bosque e fuzilado44.
Pág. 102
Sob o Terceiro Reich, o sistema judiciário e penal regular também continuou a lidar com crimes comuns, não políticos – furto, assalto, assassinato e outros –, bem como a impor a nova repressão do Estado policial. Nisso também houve uma rápida expansão da pena capital, à medida que o novo sistema mexia-se para cumprir sentenças de morte pronunciadas contra criminosos capitais na extinta República de Weimar, mas não levadas a cabo devido à incerteza da situação política no começo da década de 1930. Os nazistas prometeram que não haveria mais longos adiamentos de execução enquanto as petições de clemência fossem consideradas. “Os dias de sentimentalismo falso e piegas acabaram”, declarou com satisfação um jornal de extrema direita em maio de 1933. Em 1936, cerca de 90% das sentenças de morte proferidas pelos tribunais estavam sendo cumpridas.  

Promotores e tribunais agora eram encorajados a acusar todos os homicidas de assassinato doloso em vez do crime não capital de homicídio culposo, chegar ao veredito de culpado e proferir a sentença mais dura, resultando em um aumento do número de sentenças de homicídio doloso para cada mil adultos da população de 36 em 1928 para 76 em 1933-3722. Criminosos eram em essência degenerados hereditários e deviam ser tratados como párias da raça, argumentavam os nazistas, recorrendo à obra de criminologistas ao longo das últimas décadas e deixando de lado as qualificações e sutilezas que cercavam as teses principais de tais estudos23.
pág. 180
No final da década de 1920, Rosenberg havia se tornado líder da Liga de Combate pela Cultura Alemã (Kampfbund für deutsche Kultur), uma das muitas organizações especializadas estabelecidas dentro do Partido na época. Em 1933, a Liga agiu depressa para tomar sob seu controle as instituições teatrais alemãs “coordenadas”46. Rosenberg também estava ávido para impor pureza ideológica sobre muitos outros aspectos da cultura alemã, inclusive música e artes visuais, igrejas, universidades e vida intelectual, todas elas áreas que Goebbels originalmente tencionava que caíssem sob o controle do Ministério da Propaganda47.  

A Liga de Combate pela Cultura Alemã era pequena, mas muito ativa. Sua afiliação aumentou de 2,1 mil em janeiro de 1932 para 6 mil um ano depois, 10 mil em abril de 1933, e 38 mil no outubro seguinte. Muitas das investidas contra músicos judeus e esquerdistas que ocorreram na primavera e no começo do verão de 1933 foram organizadas ou inspiradas pela Liga de Combate pela Cultura Alemã, integrada por um número substancial de críticos de música e escritores de extrema direita. Além disso, Rosenberg tinha uma poderosa arma de propaganda à sua disposição na forma do Observador Racial, o jornal diário nazista, do qual ele era o editor-chefe. Para piorar a situação para Goebbels, as visões de Rosenberg sobre arte e música eram muito mais afinadas com as de Hitler que as dele, e em mais de uma ocasião o pendor de Goebbels por inovações culturais ameaçou dar a vantagem para Rosenberg48.
pág. 265
No fim das contas, porém, composições como Carmina Burana, a despeito de toda a popularidade, ficaram em segundo lugar no panteão musical, atrás dos grandes compositores de épocas passadas mais admirados por Hitler. O primeiro entre esses era Richard Wagner. Hitler era um adorador de suas óperas desde a juventude em Linz e Viena antes da Primeira Guerra Mundial. Elas encheram sua cabeça com retratos míticos de um passado alemão heroico. Wagner foi também o autor de um notório panfleto atacando o Judaísmo na música. Contudo, a influência do compositor sobre Hitler com frequência tem sido exagerada.

Hitler jamais referiu-se a Wagner como fonte de seu antissemitismo, e não há evidência de que tenha lido qualquer um dos textos de Wagner. Ele admirava a coragem resoluta do compositor na adversidade, mas não reconheceu nenhuma dívida a suas ideias. Se Wagner teve influência sobre os nazistas, foi menos direta, por meio de doutrinas antissemitas do círculo que sua viúva Cosima reuniu após a morte dele, e do mundo mítico retratado em suas óperas. Ao menos nessa área eles habitavam o mesmo espaço cultural, repleto de nacionalismo mítico alemão. A devoção de Hitler a Wagner e sua música era óbvia. Já na década de 1920 ele havia se tornado amigo da nora inglesa de Wagner, Winifred, e de seu marido Siegfried Wagner, guardiães do templo do compositor na grande casa de ópera que ele construiu em Bay reuth. Eram partidários resolutos da extrema direita. No Terceiro Reich, tornaram-se algo muito parecido a uma nobreza cultural28.
pág. 293-294
Um exemplo pessoal característico da fusão de patriotismo, militarismo e religiosidade na tradição dominante do protestantismo alemão foi proporcionado por Martin Niemöller, pastor de Berlim nascido em 1892 e filho de um pastor luterano, embora batizado como calvinista. Niemöller tornou-se cadete-oficial da Marinha alemã e então serviu a bordo de submarinos na Primeira Guerra Mundial, assumindo o comando de um em junho de 1918. Suas reminiscências da guerra não são nenhuma obra-prima da literatura, mas exsudam um espírito empolgado comparável a Tempestade de aço, de Ernst Jünger, celebrando com gosto o afundamento de navios mercantes inimigos. Ao atracar em Kiel no final de novembro de 1918 após ouvir pelo rádio as notícias sobre o encerramento da guerra e o colapso da monarquia, ele viu-se, conforme escreveu mais tarde, como “um estranho em meu próprio país”. 

Não havia “um ponto de agrupamento para homens de mentalidade nacionalista” que se opunham “aos manipuladores dessa ‘Revolução’”3. Um período de trabalho em uma fazenda convenceu-o de que devia se encarregar de resgatar sua nação da catástrofe espiritual que julgava ter se abatido sobre ela, e começou a formação de pastor na Westfália. Ativo na liga de estudantes dos nacionalistas alemães, apoiou o golpe abortado de Kapp que tentou derrubar a República em março de 1920. Ajudou a fundar uma unidade das Brigadas Livres de 750 estudantes para lutar contra o Exército Vermelho formado por grupos de esquerda na região. Mais adiante, envolveu-se em outro grupo paramilitar de extrema direita, a Organização Escherich. Em 1923, Niemöller e seus irmãos carregaram o esquife do sabotador nacionalista Albert Leo Schlageter, abatido por tropas francesas em Düsseldorf durante a ocupação do Ruhr4.
pág. 404-405
O sucesso dos nazistas em adequar as universidades a seus propósitos ideológicos foi, portanto, surpreendentemente limitado26. O ensino continuou com mudanças apenas relativas e superficiais na maior parte dos setores. Estudos sobre as teses de doutorado concluídas durante a era nazista mostraram que não mais de 15% delas poderiam ser classificadas de nazistas na linguagem e abordagem27. Professores esnobes e elitistas do tipo tradicional desprezavam abertamente os aventureiros políticos trazidos para dentro das universidades pelo regime, ao passo que a maioria destes ficava tão enfronhada na administração universitária que tinha pouco tempo para propagar suas ideias aos estudantes. Por outro lado, o anti-intelectualismo do movimento nazista assegurou que muitas figuras importantes do Partido, de Hitler para baixo, ridicularizassem muitas daquelas ideias e as julgassem obscuras demais para ter qualquer relevância política real.

Nem Bernhard Rust nem Alfred Rosenberg, as duas lideranças nazistas eminentes no campo da educação e ideologia, eram politicamente hábeis ou determinados o bastante para driblar professores astutos cujas aptidões para intriga e dissimulação haviam sido aguçadas em décadas de luta interna nos comitês universitários. A fundação de um novo instituto dedicado ao estudo de alguma obsessão nazista favorita podia ser saudada pelos professores conservadores como uma forma de se livrar de um colega impopular por meio de um desvio acadêmico, como aconteceu quando o rabugento historiador de extrema direita Martin Spahn ganhou o seu próprio Instituto de Política Espacial na Universidade de Colônia em 1934. Isso matou dois coelhos com uma única cajadada, visto que removeu Spahn do Departamento de História, onde ele era profundamente impopular, para um setor em que não tinha que entrar em contato com os colegas, e ao mesmo tempo demonstrou o comprometimento da universidade com as ideias geopolíticas do novo regime28.
pág. 407
Pacifista, judeu, teórico e partidário da República de Weimar, Einstein representava tudo que Lenard mais odiava. Além disso, os cientistas que tinham validado sua teoria eram britânicos. No debate que se seguiu sobre a relatividade, Lenard assumiu a liderança da rejeição à teoria de Einstein como uma “fraude judaica” e da mobilização da comunidade da física contra ela. Lenard foi parar nos braços dos nazistas quando sua recusa em aderir ao luto oficial pelo assassinato do ministro de Relações Exteriores Rathenau – cujo extermínio ele havia defendido publicamente não muito tempo atrás – desencadeou uma manifestação sindical contra ele em 1922, e Lenard teve que ser levado em custódia policial para sua própria proteção.  

Proibido de retornar ao trabalho por sua universidade, Lenard foi reintegrado em consequência da pressão dos estudantes de extrema direita, em cuja órbita ele então gravitava. Em 1924, louvou em público o golpe da cervejaria de Hitler no ano anterior e, embora não entrasse formalmente para o Partido Nazista até 1937, já era para todos os fins e efeitos um seguidor do movimento e participou ativamente do trabalho de grupos como a Liga de Combate pela Cultura Alemã de Rosenberg. Saudou a chegada do Terceiro Reich com entusiasmo desenfreado, celebrou a remoção de professores judeus das universidades e publicou um texto em quatro volumes sobre Física alemã em 1936-37 que ele com certeza esperava que proporcionasse os fundamentos para uma nova “física ariana” de base racial que eliminaria de uma vez por todas a doutrina da relatividade da ciência alemã33.
pág. 453
Schacht foi catapultado para a fama perto do final de 1923 pelo papel como comissário para a moeda nacional, cargo a que foi indicado por Hans Luther, na época ministro das Finanças. Ele provavelmente deveu a nomeação às extensas conexões que havia construído nos círculos financeiros, ao longo dos anos anteriores, como diretor de uma sucessão de grandes bancos. Seu papel para acabar com a hiperinflação levou-o à indicação para presidente do Reichsbank após a morte súbita do prévio detentor do cargo em 20 de novembro de 1923. Ali ele consolidou a reputação de mago financeiro ao manter com sucesso a estabilidade do rentenmark e depois – com um coro de desaprovação da extrema direita – desempenhar um papel-chave na renegociação das reparações sob o Plano Young.

No começo de 1930, quando o governo renegociou partes do Plano que Schacht considerava que deveriam ter sido mantidas, ele exonerou-se e entrou em aposentadoria temporária. Isso sugeriu que então havia se deslocado para a extrema direita nacionalista em termos políticos; de fato, na época ele deixou o Partido Democrata, embora sem transferir sua lealdade para nenhum outro. Apresentado a Hitler em um jantar dado por Hermann Göring no começo de 1931, ficou favoravelmente impressionado com o líder nazista. Como muitas outras figuras do sistema, Schacht achou que o radicalismo de Hitler poderia ser domado com a associação do nazista a outras figuras mais conservadoras e mais experientes, como ele mesmo62
pág. 472
Não foi surpreendente, portanto, que ele escolhesse um representante de destaque da comunidade empresarial como ministro da Economia do Reich após a saída forçada do intratável nacionalista alemão Alfred Hugenberg5. O escolhido foi Kurt Schmitt, diretor-geral da seguradora Allianz. Nascido em 1886 na modesta família burguesa de um médico, Schmitt foi um entusiasmado membro das fraternidades de duelo na universidade, onde estudou direito comercial, e a seguir trabalhou por curto período no serviço público bávaro sob Gustav Ritter von Kahr, que mais tarde ficaria famoso na extrema direita da Baviera. Pouco depois da eclosão da guerra, Schmitt entrou na filial de Munique da Allianz. Embora trabalhasse muitíssimo, não tinha nada de burocrata insensível. Ele desenvolveu uma abordagem humana para o seguro, fazendo pessoalmente a mediação entre reclamantes e segurados, reduzindo com isso de modo substancial o número de dispendiosas ações judiciais com que a companhia tinha que lidar.

Como era de se prever, isso levou à sua rápida ascensão pelos escalões administrativos, uma ascensão que não foi seriamente interrompida pela guerra, da qual ele teve baixa por invalidez no começo, com um ferimento pequeno que infeccionou repetidas vezes e o impediu de voltar ao front. Tornou-se diretor-geral aos 34 anos de idade. Em breve, encorajado pelos subordinados, Schmitt vestia dispendiosos trajes sob medida e convivia com os maiorais nos clubes de cavalheiros de Berlim. Sob a liderança de Schmitt, a Allianz expandiu-se rapidamente com fusões e tomadas de controle que caracterizaram também outros setores do mundo empresarial na década de 1920. A exemplo de outros empresários, Schmitt estava insatisfeito com as condições sob as quais a iniciativa privada tinha que operar na era de Weimar e fez lobby por uma reforma na lei referente aos seguros por meio da Associação do Seguro Privado do Reich. Isso colocou-o em contato com políticos importantes, dos quais muitos ficaram impressionados com sua competência, determinação e evidente sagacidade financeira. No começo da década de 1930, Schmitt havia se tornado uma figura pública de certo renome. Ele incrementou sua reputação com o desempenho no Conselho Consultivo Econômico implantado por Brüning. Tanto Brüning quanto Papen ofereceram-lhe o cargo de ministro das Finanças. Ele recusou as ofertas na crença de que a situação econômica reinante não lhe permitiria fazer o trabalho com qualquer grau de sucesso6.
pág. 576
No final do século XIX e começo do século XX, o campesinato alemão em geral enquadrava-se no peculiar grupo social amorfo conhecido no discurso político pelo intraduzível termo alemão Mittelstand. A palavra expressava em primeiro lugar as aspirações dos propagandistas de direita de que as pessoas que não eram nem burguesas nem proletárias tivessem um lugar reconhecido na sociedade. Mais ou menos equivalente ao francês petite bourgeoisie ou ao inglês lower middle class (classe média baixa), no início da década de 1930 passou a simbolizar muito mais que um grupo social: na política alemã, representava um conjunto de valores. 

Situado entre as duas grandes classes antagonistas em que a sociedade havia se dividido, representava as pessoas autossuficientes, independentes, que trabalhavam duro, o cerne saudável do povo alemão, injustamente deixado de lado pela guerra de classes que grassava ao redor delas. Era a pessoas como essas – pequenos lojistas, artesãos habilidosos que administravam suas oficinas, fazendeiros camponeses autossuficientes – que os nazistas haviam inicialmente dirigido seu apelo. O programa do Partido Nazista de 1920 era, entre outras coisas, um produto típico da política de extrema direita do Mittelstand alemão; o apoio dessas pessoas estava entre os fatores que de início fez o Partido decolar1.
pág. 583
Artesãos e lojistas não foram o único grupo social que esperou uma melhora de status com a chegada do Terceiro Reich. Funcionários de escritórios e empregados assalariados de empresas privadas há muito invejavam os vencimentos, status e privilégios superiores do funcionalismo público. Conhecidos popularmente como o “novo Mittelstand”, estavam, entretanto, profundamente divididos em termos de política, com organizações social-democratas rivalizando com as de extrema direita, e seus votos no Partido Nazista nos anos de Weimar não ficaram acima da média do país como um todo. Muitos esperavam que o Terceiro Reich estabelecesse mais uma vez as barreiras de status entre funcionários de escritórios e trabalhadores manuais que os anos anteriores haviam derrubado.

O medo da proletarização” havia sido uma importante força motriz dos sindicatos de funcionários de escritórios, seja de esquerda, centro ou direita. Mas eles ficaram amargamente decepcionados quando Hitler chegou ao poder. Os líderes das três alas políticas dos sindicatos de funcionários de escritórios foram detidos e colocados em campos de concentração, e os sindicatos, junto com todas as outras organizações da categoria, foram amalgamados na Frente de Trabalho Alemã16. Além disso, o fato de os operários e suas organizações serem formalmente integrados à comunidade nacional desmantelou mais uma barreira. Os funcionários de escritórios não possuíam as tradições de união ou a cultura distinta de que o trabalho organizado havia desfrutado no movimento social-democrata e em menor grau no comunista, de modo que eram mais vulneráveis à atomização e aterrorização e menos capazes até de resistência passiva17.
pág. 781-782
Ideias e políticas semelhantes podiam ser encontradas em outros países do centro-leste da Europa que lutavam para construir uma nova identidade nacional na época, mais notadamente Romênia e Hungria71. Esses países tinham movimentos fascistas próprios na forma da Guarda de Ferro na Romênia e da Cruz de Flecha na Hungria que pouco ou nada deviam aos nacional-socialistas alemães na virulência do ódio aos judeus; assim como na Alemanha, o antissemitismo ali também estava ligado ao nacionalismo radical, à crença de que a nação não havia atingido a realização plena e de que eram sobretudo os judeus que a impediam de chegar a ela.  

Na Romênia, havia cerca de 750 mil judeus no início da década de 1930, ou 4,2% da população, e, como na Polônia, eram contados como uma minoria nacional. Sob pressão crescente da Guarda de Ferro radical fascista no final dos anos de 1930, o rei Carol nomeou um regime de direita de curta duração que começou a sancionar a legislação antissemita que o monarca continuou a aplicar quando tomou o poder como ditador em 1938. Em setembro de 1939, pelo menos 270 mil judeus haviam sido privados da cidadania romena; muitos haviam sido expulsos da profissão, inclusive do Judiciário, polícia, ensino e corpos de oficiais, e todos estavam sob forte pressão para emigrar72.
pág. 813
Ribbentrop estava longe de ser um nazista de primeira hora. Durante a maior parte da República de Weimar ele compartilhou o ódio da maioria dos alemães de classe média pelo Acordo de Paz, desprezou o sistema parlamentar e ficou consideravelmente alarmado com a ameaça do comunismo, mas não gravitou para a extrema direita até 1932. Como membro do elegante Herrenclub, o clube de cavalheiros de Berlim frequentado pela aristocracia, inclusive Papen e seus amigos, Ribbentrop conheceu Hitler e envolveu-se nas complexas negociações que por fim levaram à sua nomeação como chanceler do Reich em janeiro de 1933. Para o provinciano Hitler, Ribbentrop, assim como Putzi Hanfstaengl, velho amigo íntimo do Líder nazista, parecia um homem do mundo, experiente em viagens ao exterior, poliglota, conhecedor da vida social. Hitler começou a usá-lo em missões diplomáticas especiais, ignorando o Ministério de Relações Exteriores, conservador e limitado pela rotina.

Indubitavelmente com a aprovação de Hitler, Ribbentrop montou um gabinete próprio independente, no estilo do escritório de Alfred Rosenberg, para desenvolver e influenciar a política de relações exteriores. Não demorou muito e tinha uma equipe de 150 pessoas engajadas em uma espécie de guerrilha institucional com os mandarins do Ministério de Relações Exteriores. O sucesso de Ribbentrop ao negociar o Acordo Naval Anglo-Alemão conferiu-lhe a reputação de se dar bem com os britânicos, e no fim do verão de 1936 Hitler nomeou-o embaixador em Londres, com a missão de melhorar ainda mais as relações e se possível produzir uma aliança anglo-alemã38.
Série: Nazismo de esquerda? Parte 1 (Richard J. Evans)

Notas:

Cap. 1 O ESTADO POLICIAL (Repressão e resistência)

44 Göring mais tarde declarou: “Estendi meu dever ao aplicar um golpe também contra esses descontentes”. Que ele tenha feito isso de modo espontâneo e por iniciativa própria ao ouvir falar dos eventos em Munique, conforme sustentaram alguns historiadores, é de se duvidar em vista do cuidado com que todo o restante da operação foi preparado e a veemência com que Hitler havia denunciado Papen e seus associados poucos dias antes. Para a ideia de que a ação foi “improvisada”, ver Longerich, Die braunen Bataillone, p. 218 (embora sua principal evidência, a afirmação de Göring, de fato não demonstre que ele decidiu “estender” sua tarefa espontaneamente e sem consultas; a necessidade de se explicar era óbvia, dado que a justificativa para o expurgo foi proporcionada pelas supostas atividades de Röhm, não de Schleicher e Papen); para evidência do cuidadoso planejamento de antemão, ver Bessel, Political Violence, p. 133-7. Mais detalhes em Kershaw, Hitler, I, p. 512-5; e Heinz Höhne, The Order of the Death’s Head: The Story of Hitler’s SS (Londres, 1972 [1966]), p. 85-121. Sauer, Die Mobilmachung, p. 334-64, nota o trabalho sistemático de preparação executado por Hitler e lideranças do Partido de abril em diante, ressaltando a importância da ofensiva da propaganda contra Röhm e a SA, particularmente dentro do Partido. Para Ballerstedt, ver Evans, The Coming of the Third Reich, p. 181. Para Ludendorff, ver Harald Peuschel, Die Männer um Hitler: Braune Biographien, Martin Bormann, Joseph Goebbels, Hermann Göring, Reinhard Heydrich, Heinrich Himmler und andere (Düsseldorf, 1982).

“Inimigos do povo” III

23 Para um levantamento exaustivo das variedades de teorias sobre criminalidade hereditária e parcialmente hereditária ou moderada, ver Richard Wetzell, Inventing the Criminal: A History of German Criminology 1880-1945 (Chapel Hill, NC, 2000), p. 179-232.

Cap. 2 - A MOBILIZAÇÃO DO ESPÍRITO. Esclarecendo o povo

47 Ver Reinhard Bollmus, Das Amt Rosenberg und seine Gegner: Studien zum Machtkampf im nationalsozialistischen Herrschaftssystem (Stuttgart, 1970).

48 Hildegard Brenner, Die Kunstpolitik des Nationalsozialismus (Reinbek, 1963), p. 7-21, 73-86, fornece uma boa narrativa.

28 Frederic Spotts, Bayreuth: A History of the Wagner Festival (New Haven, 1994), esp. p. 159-88; Brigitte Hamann, Winifred Wagner oder Hitlers Bayreuth (Munique, 2002); Hans Rudolf Vaget, “Hitler’s Wagner: Musical Discourse as Cultural Space”, em Kater e Riethmüller (eds.), Music and Nazism, p. 15-31.

3 Martin Niemöller, From U-Boat to Pulpit (Londres, 1936 [1934]), p. 143.
4 Ibid., p. 180-3, 187; James Bentley, Martin Niemöller (Oxford, 1984), p. 20-30, 39-40.

27 Léon Poliakov e Josef Wulf, Das Dritte Reich und seine Denker: Dokumente (Berlim, 1959), p. 73; Wilhelm Ribhegge, Geschichte der Universität Münster: Europa in Westfalen (Münster, 1985), p. 194.

28 Golczweski, Kölner Universitätslehrer, p. 338-49.

33 Ibid., p. 85-102; citação (93) das memórias não publicadas de Lenard, mencionada em Charlotte Schmidt-Schönbeck, 300 Jahre Physik und Astronomie an der Kieler Universität (Kiel, 1965), p. 119.

61 Hjalmar Schacht, My First Seventy-Six Years: The Autobiography of Hjalmar Schacht (Londres, 1955), p. 10-154.
62 Ibid., p. 155-306.

6 Gerald D. Feldman, Allianz and the German Insurance Business, 1933-1945 (Cambridge, 2001), p. 1-50.

1 Para uma ampla literatura, ver em particular Heinz-Gerhard Haupt (ed.), Die radikale Mitte: Lebensweisen und Politik von Kleinhändlern und Handwerkern in Deutschland seit 1848 (Munique, 1985); David Blackbourn, “Between Resignation and Volatility : The German Petty Bourgeoisie in the Nineteenth Century ”, em idem, Populists and Patricians: Essays in Modern German History (Londres, 1987), p. 84-113; Heinrich August Winkler, Mittlestand, Demokratie und Nationalsozialismus: Die politische Entwicklung von Handwerk und Kleinhandel in der Weimarer Republik (Colônia, 1972); Adelheid von Saldern, Mittlestand im “Dritten Reich”: Handwerker-Einzelhändler-Bauern (Frankfurt am Main, 1979).

16 Günther Schulz, Die Angestellten seit dem 19. Jahrhundert (Munique, 2000), p. 36-7; Michael Prinz, Vom neuen Mittelstand zum Volksgenossen: Die Entwicklung des sozialen Status der Angestellten von der Weimarer Republik bis zum Ende der NS-Zeit (Munique, 1986), p. 92-143, 229.

17 Prinz, Vom neuen Mittelstand, p. 334-5.

71 Mendelsohn, The Jews; Bela Vago, The Shadow of the Swastika: The Rise of Fascism and Anti-Semitism in the Danube Basin, 1936-1939 (Londres, 1975).

72 Mendelsohn, The Jews, p. 171-211; David Schaary, “The Romanian Authorities and the Jewish Communities in Romania between the Two World Wars”, em Greebaum (ed.), Minority Problems, p. 89-95; Paul A. Shapiro, “Prelude to Dictatorship in Romania: The National Christian Party in Power, December 1937-February 1938”, Canadian-American Slavic Studies, 8 (1974), p. 45-88.

38 Jacobsen, Nationalsozialistische Aussenpolitik, p. 298-318.

|***| Nazismo de esquerda? (Richard J. Evans) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 01
|***| Nazismo de esquerda? (Ian Kershaw) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 03

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Nazismo de esquerda? (Richard J. Evans) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 01

A quem perdeu o bonde", o Denilton, nos comentários do post sobre a morte de Ernst Nolte, perguntou se eu concordava que o nazismo foi de extrema-direita, e sobre se fazer um post pra mostrar aos "revis" (negacionistas) que o nazismo é de extrema-direita.

A quem estranhar de onde vem a questão ("Nazismo de direita ou esquerda"), com a expansão da internet no mundo(principalmente na segunda metade da década passada), com a sombra da derrocada da URSS (que caiu nos anos noventa, logo no começo) e o vácuo de poder e instabilidade que isso gerou, com a crise global do neoliberalismo (propagado principalmente pelos Estados Unidos desde sua ascensão como única superpotência, agora em crise interna e por conta da ascensão chinesa), grupos de extrema-direita (radicais) de cunho liberal passaram a disseminar na web a panfletagem de que o "nazismo é de esquerda". Um joguete retórico pra limpar a "mancha" da direita no século XX (principalmente a dos liberais) e a ligação (ou simpatia) da direita tradicional de vários países com os movimentos nazistas e fascistas (e ditaduras conservadoras nacionais), que são de direita. Alguém que está lendo este post não ouviu falar desta panfletagem antes? Vou colocar link da web em inglês com os termos pra verem como a coisa é bem difundida. Link:
nazism is leftist

Tem mais de uma combinação com esses termos, mas uma só basta (é só uma amostragem). Saiu há pouco um texto que menciona isso, também em cima da morte do Ernst Nolte (historiador alemão e de extrema-direita). A quem quiser ler (não foi possível traduzir, está em inglês), segue o link, só que não registrei a existência desse segundo blog aqui, depois comento sobre:
Ernst Nolte’s Revenge

Pois bem, eu já respondi o que penso na parte dos comentários (primeiro link do post), mas concordei que seria relevante fazer um post mostrando o que os historiadores da segunda guerra, nazismo etc descrevem/pensam sobre o que o nazismo é (o nazismo continua existindo com o neofascismo) ou "tenha sido" (o nazismo original), um movimento de extrema-direita (fascista).

Já havia pensado num post deste tipo antes mas... com a onda de extremismo da direita liberal "norte-americanoide" (que é hegemônica no país) que tomou conta do país (e isso desde aquelas malfadas marchas de 2013 (Tag: marchas de 2013), que pôs o país de ponta-cabeça), com direito a golpe de Estado e destruição da soberania do Brasil com um surto de vira-latice profunda (e burrice), bateu um desânimo se as pessoas neste país (a maioria) estão mesmo interessadas em aprender algo ou se só querem repetir idiotices (galhofas) que leem de "gurus" de internet ou youtubers pra encher o saco alheio ou tentar impor opinião sem embasamento algum, negando coisas ou distorcendo outras (ao gosto do "cliente").

Confesso que não tenho mais paciência pra discutir com esse tipo de perfil bitolado político que passou a achar que é detentor de uma certa "sabedoria" porque as "manadas" perderam a modéstia e enchem a "bola" desses caras, seguindo "gurus de internet", e de acharem que por gritar mais alto isso é suficiente pra terem algum tipo de "razão".

Independente destes fatos que mencionei acima, farei o post (ou posts), pois como os trechos são longos, acho que será melhor dividir os posts por historiadores (os de destaque) e trechos de seus livros mostrando o que descrevem ou pensam sobre o nazismo e dele ser de extrema-direita. Alguns desses livros foram lançados no país, mas, infelizmente, a "turba do urro" prefere ler ou ouvir astrólogos (gurus) e seus congêneres dizendo besteira na internet. Aqui vocês ficarão com o que historiadores de peso do nazismo pensam sobre a natureza do movimento e regime, a quem se interessar por "fantasias" e "devaneios" sobre segunda guerra, acho que há pilhas de site dessa natureza pela web pra vocês extravasarem essas touperices por lá, poupe-nos disso aqui.

Em um país normal eu acho que coisas como essa (o assunto do post) seriam encaradas como algo marginal (à margem) ou algo "excêntrico", uma vez que a imprensa de fora sempre cita grupos neonazis e neofascistas como extrema-direita e existe um entendimento melhor desses grupos, mas eu não estou em um país normal então não posso me dar ao luxo de ignorar o problema.

Saiu no país a trilogia sobre nazismo ou Terceiro Reich, do Richard J. Evans, e só no primeiro volume há várias passagens que mostra a posição ideológica do nazismo. Estou dizendo isso pois não dá pra copiar um livro inteiro e ainda tem mais dois volumes. Então, sem mais delongas, seguem alguns trechos do livro, primeiro volume.

Quem é Richard J. Evans, um dos mais prestigiados historiadores sobre nazismo da atualidade: professor régio de História na Universidade de Cambridge e presidente da Wolfson College, Cambridge.

Richard J. Evans - A Chegada do Terceiro Reich Vol. 1
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pág. 17
A despeito de todas as impropriedades, a tentativa de entendimento de Meinecke levantou uma série de questões-chave que, conforme ele previu, continuaram a ocupar as pessoas desde então. Como uma nação avançada e altamente culta como a Alemanha pôde ceder à força brutal do nacional-socialismo tão rápida e facilmente? Por que houve tão pouca resistência séria à tomada nazista? Como pôde um partido insignificante da direita radical ascender ao poder com subitaneidade tão dramática? Por que tantos alemães fracassaram em perceber as consequências potencialmente desastrosas de ignorar a natureza violenta, racista e assassina do movimento nazista?18

As respostas para essas questões variaram amplamente ao longo do tempo, entre historiadores e comentaristas de diferentes nacionalidades, e de uma posição política para outra.19 O nazismo foi apenas uma de uma série de ditaduras violentas e implacáveis estabelecidas na Europa na primeira metade do século XX, uma tendência tão disseminada que um historiador referiu-se à Europa dessa era como um “Continente Sombrio”.20 Isso, por sua vez, levanta questões sobre até que ponto o nazismo estava enraizado na história alemã, e até que ponto, por outro lado, foi produto do desenrolar de acontecimentos europeus mais amplos, e a extensão em que compartilhava características centrais de origem e domínio com outros regimes europeus da época. Tais considerações comparativas sugerem ser
pág. 165
Nessa situação, uma unidade em pânico do Exército Vermelho começou a cometer atos de represália contra os reféns aprisionados em uma escola local, o Ginásio Luitpold. Estes incluíam seis membros da Sociedade Thule, uma seita pangermânica e antissemita fundada perto do fim da guerra. Nomeada em homenagem ao suposto local da pureza “ariana” última, a Islândia (“Thule”), a seita usava o símbolo da suástica “ariana” para denotar suas prioridades raciais. Com raízes na “Ordem Germânica” pré-guerra, outra organização conspiratória de extrema direita, era dirigida pelo pretenso barão von Sebottendorf, que na realidade era um falsificador condenado, conhecido pela polícia como Adam Glauer.

A sociedade incluía pessoas que viriam a ser proeminentes no Terceiro Reich.8 Sabia-se que Arco-Valley, o assassino de Kurt Eisner, havia tentado tornar-se membro da Sociedade Thule. Em um ato de vingança e desespero, os soldados do Exército Vermelho enfileiraram dez reféns, colocaram-nos diante de um pelotão de fuzilamento e os abateram. Entre os executados estavam o príncipe de Thurn e Taxis, a jovem condessa von Westarp e mais dois aristocratas, bem como um professor idoso que havia sido preso por fazer um comentário desfavorável sobre um cartaz revolucionário. Cinco prisioneiros capturados das Brigadas Livres invasoras completaram o grupo.
pág. 173
Os cursos que Hitler frequentou destinavam-se a arrancar quaisquer sentimentos socialistas remanescentes nas tropas regulares da Bavária e doutriná-las com as crenças da extrema direita. Entre os palestrantes estavam Karl Alexander von Müller, professor conservador de história de Munique, e Gottfried Feder, economista teórico pangermânico, que colocou um verniz antissemita na economia ao acusar os judeus de destruir o meio de vida de esforçados trabalhadores “arianos” usando o capital de forma improdutiva. Hitler assimilou as ideias desses homens tão prontamente que foi selecionado por seus superiores e enviado como instrutor em um curso semelhante em agosto de 1919. Ali, descobriu pela primeira vez o talento para falar a um grande público.

Os comentários daqueles que assistiram às suas palestras referiram-se de forma admirada à sua paixão e comprometimento e à sua capacidade de se comunicar com homens simples, comuns. Também foi notada a veemência de seu antissemitismo. Em uma carta escrita em 16 de setembro, Hitler expôs suas crenças sobre os judeus. Em uma metáfora biológica do tipo a que iria recorrer em muitos discursos e textos subsequentes, escreveu que os judeus provocavam “a tuberculose racial dos povos”. Rejeitou o “antissemitismo com base puramente emocional” que levou aos pogroms em favor de um “antissemitismo da razão”, que devia almejar “o combate e a remoção legislativos planejados dos privilégios dos judeus”. “A meta final e inabalável deve ser a remoção dos judeus por completo.”23
pág. 178
No final de 1920, a ênfase inicial de Hitler no ataque ao capitalismo judaico havia se modificado para ter como alvo o “marxismo” ou, em outras palavras, social-democracia e também bolchevismo. As crueldades da guerra civil e o “terror vermelho” de Lênin na Rússia estavam causando impacto, e Hitler pôde usá-los para garantir ênfase às visões comuns da extrema direita sobre a suposta inspiração judaica por trás dos levantes revolucionários de 1918-19 em Munique. Entretanto, o nazismo também teria sido possível sem a ameaça comunista: o antibolchevismo de Hitler era produto de seu antissemitismo, e não o contrário.33 Seus principais alvos políticos permaneceram os social-democratas e o espectro mais vago do “capitalismo judaico”.

Tomando emprestados os argumentos do repertório antissemita de antes da guerra, Hitler declarou em numerosos discursos que os judeus eram uma raça de parasitas que só podiam viver subvertendo outros povos, sobretudo a mais superior e melhor de todas as raças, a ariana. Assim sendo, eles dividiam e jogavam a raça ariana contra si mesma, por um lado organizando a exploração capitalista e por outro liderando a luta contra isso.34 Os judeus, disse ele em um discurso proferido a 6 de abril de 1920, deveriam “ser exterminados”; a 7 de agosto do mesmo ano, falou para a plateia que não deveria acreditar que “se possa lutar contra uma doença sem matar a causa, sem aniquilar o bacilo, nem pensar que se pode lutar contra uma tuberculose racial sem cuidar para que as pessoas fiquem livres da causa da tuberculose racial”. Aniquilação significava a remoção violenta dos judeus da Alemanha por quaisquer meios. A “solução para a questão judaica”, disse ele a seus ouvintes em abril de 1921, só poderia ser resolvida pela “força bruta”. “Sabemos”, disse Hitler em janeiro de 1923, “que, se eles chegarem ao poder, nossas cabeças vão rolar pelo chão; mas também sabemos que, quando pusermos nossas mãos no poder: ‘Que Deus então tenha piedade de vocês!’.”35
pág. 182
Àquela altura, esses homens e muitos mais como eles haviam se filiado ao Partido Nazista; o movimento novato tinha um programa oficial, composto por Hitler e Drexler com uma mãozinha do “economista racial” Gottfried Feder, e aprovado em 24 de fevereiro de 1920. Seus 25 pontos incluíam a exigência da “união de todos os alemães em uma Alemanha Maior”, a revogação dos tratados de paz de 1919, “terra e território (colônias) para alimentar nosso povo”, a prevenção de “imigração não germânica” e pena de morte para “criminosos comuns, agiotas, especuladores, etc.”. Os judeus deveriam ter os direitos civis negados e ser registrados como estrangeiros, e proibidos de possuir ou escrever em jornais alemães. Uma nota pseudossocialista era dada pela exigência da abolição de rendas indevidas, confisco de lucros de guerra, nacionalização dos cartéis empresariais e introdução da participação nos lucros. O programa concluía com a exigência da “criação de um poder estatal central forte para o Reich e a substituição efetiva dos parlamentos dos estados federados por corporações baseadas em estado e ocupação”.42 Era um documento de extrema direita típico da época. Na prática, não significava muita coisa, e, como o programa de Erfurt dos social-democratas de 1891, era com frequência desviado ou ignorado na luta política cotidiana, embora logo fosse declarado “inalterável”, para evitar que se tornasse um foco de dissensão interna.43
págs. 188-189
O nazismo inicial, portanto, assim como a miríade de movimentos rivais da extrema direita nos anos imediatos do pós-guerra, inseria-se firmemente nesse contexto mais amplo do surgimento do fascismo europeu. Por um longo tempo, Hitler fitou Mussolini com admiração, como um exemplo a seguir. A “marcha sobre Roma” galvanizou os movimentos fascistas nascentes da Europa, assim como a marcha sobre Roma de Garibaldi e a subsequente unificação da Itália haviam galvanizado os movimentos nacionalistas da Europa cerca de sessenta anos antes. A maré da história parecia mover-se na direção de Hitler; os dias de democracia estavam contados. À medida que a situação na Alemanha começou a se deteriorar com rapidez crescente ao longo de 1922 e 1923, Hitler começou a pensar que poderia fazer na Alemanha o mesmo que Mussolini havia feito na Itália. Quando o governo alemão não cumpriu os pagamentos de reparação e tropas francesas ocuparam o Ruhr, os nacionalistas da Alemanha explodiram de raiva e humilhação. A perda de legitimidade da república foi incalculável; o governo tinha que ser visto fazendo algo para se opor à ocupação. Uma campanha disseminada de desobediência civil, encorajada pelo governo alemão, levou a represálias adicionais por parte dos franceses, com detenções, prisões e expulsões. Entre muitos exemplos de repressão francesa, os nacionalistas lembravam como um veterano de guerra e ferroviário foi posto na rua e deportado com a família por proferir um discurso pró-alemão em um memorial de guerra; outro homem, um professor, sofreu a mesma sina após fazer seus alunos darem as costas quando tropas francesas passaram marchando.57

Gangues de estudantes raspavam a cabeça de mulheres que se acreditava que estivessem “vergonhosamente mantendo relações com os franceses”, ao passo que outros, de forma menos dramática, demonstravam seu patriotismo caminhando quilômetros até a escola em vez de viajar no trem operado pelos franceses. Alguns poucos trabalhadores tentaram de modo ativo sabotar a ocupação; um deles, Albert Leo Schlageter, um ex-soldado das Brigadas Livres, foi executado por suas atividades, e a direita nacionalista, guiada pelos nazistas, rapidamente agarrou o incidente como exemplo da brutalidade dos franceses e da fraqueza do governo de Berlim, transformando Schlageter em mártir nacionalista muito propagandeado nesse processo. A indústria foi paralisada, exacerbando ainda mais os já calamitosos problemas financeiros do país.58

Os nacionalistas tinham uma potente arma de propaganda na presença de tropas francesas coloniais negras entre as forças de ocupação. O racismo era endêmico em todas as sociedades europeias nos anos entreguerras, como também o era nos Estados Unidos e em outras partes do mundo. De modo geral, os europeus supunham que pessoas de pele escura eram seres humanos inferiores, selvagens a quem o homem branco tinha a missão de domar. 59 O uso de tropas coloniais por britânicos e franceses durante a Primeira Guerra Mundial havia estimulado um certo volume de comentários desfavoráveis na Alemanha; mas foi a presença delas no território alemão em si, primeiro na parte ocupada da Renânia, e a seguir em 1923, durante a breve marcha francesa para o Ruhr, que realmente abriu as comportas para uma vívida propaganda racista. Muitos alemães que viviam na Renânia e no Sarre sentiram-se humilhados, conforme um deles mais tarde explicou, por “siameses, senegaleses e árabes se terem feito de donos de nossa terra natal”.60 Dentro em pouco, os cartunistas estavam atiçando emoções racistas e nacionalistas ao produzir desenhos grosseiros, semipornográficos, de soldados negros bestiais levando embora mulheres alemãs brancas e inocentes para um destino pior que a morte. Na direita, isso tornou-se um potente símbolo da humilhação nacional da Alemanha durante os anos de Weimar, e o mito do estupro em massa de mulheres alemãs por tropas coloniais francesas tornou-se tão poderoso que as poucas centenas de crianças de raça mista que se encontravam na Alemanha no início da década de 1930 eram quase universalmente consideradas fruto de tais incidentes. Na verdade, a esmagadora maioria delas na verdade parecia resultar de uniões consensuais, frequentemente entre colonizadores alemães e nativos africanos das colônias alemãs antes ou durante a guerra.61
pág. 408
Um golpe militar, como muitos temiam, poderia ter levado à resistência violenta dos nazistas, bem como dos comunistas. Restaurar a ordem teria causado um tremendo banho de sangue, levando talvez à guerra civil. O Exército estava tão ansioso quanto os nazistas para evitar isso. Ambos os lados sabiam que suas perspectivas de sucesso se tentassem agarrar o poder sozinhos eram dúbias, para dizer o mínimo. A lógica da cooperação era, portanto, virtualmente inevitável; a única questão era qual forma essa cooperação assumiria. Por toda a Europa, elites conservadoras, exércitos e movimentos de massa radicais fascistas ou populistas encaravam o mesmo dilema. Eles o resolveram de várias maneiras, dando vantagem para a força militar em alguns países, como Espanha, e para movimentos fascistas em outros, como Itália. Em muitos países, as democracias foram substituídas por ditaduras nas décadas de 1920 e 1930. O que aconteceu na Alemanha em 1933 não parece tão excepcional à luz do que já havia acontecido em países como Itália, Polônia, Letônia, Estônia, Lituânia, Hungria, Romênia, Bulgária, Portugal, Iugoslávia ou, na verdade de forma bastante diferente, na União Soviética. A democracia em breve também seria destruída em outros países, como Áustria e Espanha.

Em tais países, violência política, tumultos e assassinatos haviam sido comuns em vários períodos desde o fim da Primeira Guerra Mundial; na Áustria, por exemplo, graves distúrbios em Viena haviam culminado no incêndio do Palácio da Justiça em 1927; na Iugoslávia, esquadrões da morte macedônios causavam devastação no mundo político; na Polônia, uma grande guerra com a União Soviética que nascia havia mutilado o sistema político e a economia e aberto caminho para a ditadura militar do general Pilsudski. Por toda parte, a direita autoritária também compartilhava da maioria das – se não de todas – crenças antissemitas e teorias conspiratórias que animavam os nazistas. O governo húngaro do marechal Miklós Horthy pouco devia à extrema direita alemã no ódio aos judeus, alimentado pela experiência do breve regime revolucionário liderado pelo judeu comunista Béla Kun em 1919. O regime militar polonês da década de 1930 viria a impor severas restrições à grande população judaica do país. Vistos no contexto da época, nem a violência política da década de 1920 e início da década de 1930, nem o colapso da democracia parlamentar, nem a destruição das liberdades civis teriam parecido particularmente incomuns a um observador desapaixonado. Tampouco tudo que aconteceu na sequência da história do Terceiro Reich tornou-se inevitável pela nomeação de Hitler como chanceler. Oportunidade e acaso viriam a desempenhar sua parte nisso também, como haviam desempenhado antes.121
Série: Nazismo de esquerda? Parte 2

Notas:

Do prefácio

18. Daí o catálogo de questões colocadas no início do clássico de Karl Dietrich Bracher Stufen der Machtergreifung, volume I de Karl Dietrich Bracher et al., Die nationalsozialistische Machtergreifung: Studien zur Errichtung des totalitären Herrschaftssystems in Deutschland 1933/34 (Frankfurt am Main, 1974 [1960]), p. 17-8.

19. Entre discussões muito boas da historiografia do nazismo e do Terceiro Reich, ver em especial o breve exame de Jane Caplan, “The Historiography of National Socialism”, em Michael Bentley (ed.), Companion to Historiography (Londres, 1997), p. 545-90; e o estudo mais longo de Ian Kershaw, The Nazi Dictatorship: Problems and Perspectives of
Interpretation (4ª ed., Londres, 2000 [1985]).

Parte 3 - A Ascensão do Nazismo

8. Large, Where Ghosts Walked, p. 70.

23. Hitler para Adolf Gemlich, 16 de setembro de 1919, em Eberhard Jäckel e Axel Kuhn (eds.), Hitler: Sämtliche Aufzeichnungen 1905-1924 (Stuttgart, 1980), p. 88-90; Ernst Deuerlein, “Hitlers Eintritt in die Politik und die Reichswehr”, VfZ 7 (1959), p. 203-5.

33. Ernst Nolte, Three Faces of Fascism: Action Française, Italian Fascism, National Socialism (Nova York, 1969 [1963]), e depois, de forma diferente e mais controversa, Der europäische Bürgerkrieg 1917-1945: Nationalsozialismus und Bolschewismus (Frankfurt am Main, 1987), argumentaram em favor da primazia do antibolchevismo.

34. Hitler, Mein Kampf, p. 289.

35. Tudo citado em Longerich, Der ungeschriebene Befehl, p. 32-4.

42. Citando Deuerlein (ed.), Der Aufstieg, p. 108-12.

43. Dietrich Orlow, The History of the Nazi Party, I: 1919-1933 (Newton Abbot, 1971 [1969]), p. 11-37.

57. AT 567, 199, em Merkl, Political Violence, p. 196-7.

58. AT 206, 379, ibid.; para um ângulo incomum do caso Schlageter, ver Karl Radek, “Leo Schlageter: The Wanderer in the Void”, em Kaes et al. (eds.), The Weimar Republic Sourcebook, p. 312-4 (originalmente “Leo Schlageter: Der Wanderer ins Nichts”, Die Rote Fahne, p. 144, 26 de junho de 1923). Para um relato detalhado da “resistência passiva”,
sublinhando suas raízes populares, ver Fischer, The Ruhr Crisis, p. 84-181; para o passado de Schlageter nas Brigadas Livres, Waite, Vanguard, p. 235-8; para o movimento de sabotagem organizado nos bastidores pelo Exército alemão, Gerd Krüger, “‘Ein Fanal des Widerstandes im Ruhrgebiet’: Das ‘Unternehmen Wesel’ in der Osternacht des Jahres 1923. Hingergründe eines angeblichen ‘Husarenstreiches’”, Mitteilungsblatt des Instituts für soziale Bewegungen, 4 (2000), p. 95-140.

59. Sander L. Gilman, On Blackness without Blacks: Essays on the Image of the Black in Germany (Boston, 1982).

60. AT 183, em Merkl, Political Violence, p. 193.

61. Gisela Lebeltzer, “Der ‘Schwarze Schmach’: Vorurteile – Propaganda – Mythos”, Geschichte und Gesellschaft, 11 (1985), p. 37-58; Keith Nelson, “‘The Black Horror on the Rhine’: Race as a Factor in Post-World War I Diplomacy”, Journal of Modern History, 42 (1970), p. 606-27; Sally Marks, “Black Watch on the Rhine: A Study in Propaganda,
Prejudice and Prurience”, European Studies Review, 13 (1983), p. 297-334. Para seu eventual destino, ver Reiner Pommerin, “Sterilisierung der Rheinlandbastarde”: Das Schicksal einer farbigen deutschen Minderheit 1918-1937 (Düsseldorf, 1979).

Parte 6 – A REVOLUÇÃO CULTURAL DE HITLER

121. Volker Rittberger (ed.), 1933: Wie die Republik der Diktatur erlag (Stuttgart, 1983), esp. p. 217-21; Martin Blinkhorn, Fascists and Conservatives: The Radical Right and the Establishment in Twentieth-Century Europe (Londres, 1990); idem, Fascism and the Right in Europe 1919-1945 (Londres, 2000); Payne, A History of Fascism, p. 14-9.

|***| Nazismo de esquerda? (Richard J. Evans) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 02

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Paul Preston publica "A destruição da democracia na Espanha" (1978)

Entrevista com o historiador britânico (jornal El País)
Juan Cruz; 9 JUN 1978

Paul Preston, historiador britânico especializado em questões espanholas, apresenta hoje no hotel Princesa Plaza, de Madrid, sua última obra, "A destruição da democracia na Espanha" (La destrucción de la democracia en España), que será comentada no citado ato pelo líder socialista Felipe González. O livro, subintitulado como "Reacción, reforma y revolución en la Segunda República" (Reação, reforma e revolução na Segunda República), foi traduzido por Jerónimo Gonzalo e editado por Turner.

Na atualidade, o professor Preston ensina na Queen Mary College, da Universidade de Londres. Estudou sua especialidade - História Moderna - na Universidade de Oxford e agora prepara um amplo estudo sobre a resistência da esquerda espanhola ao franquismo. A destruição da democracia na Espanha, diz Paul Presto, foi para mim a obra mais importante entra as que escrevi. Nasce na realidade da tese doutoral que apresentei em Oxford sobre as conspirações monárquicas contra a República espanhola. Depois de muito trabalho, dei-me conta de que o assalto direitista contra a República não provinha somente dos grupos violentos. Havia dois assaltos direitistas. Um era violento, na realidade, e tinha como fim o estabelecimento por armas de um Estado corporativista autoritário".

"A outra ofensiva direitista contra a República seguiu uma tática legalista para destruir o regime democrático imperante. Ao terminar minha investigação me dediquei a analisar os grupos legalistas de direita, desde a CEDA aos radicais do sul da Espanha. Estudadas as atividades desses grupos, observei o impacto que tais atividades tinham na esquerda de então".

O livro serviu a Paul Preston para concretar as causas determinantes da guerra civil e para fazer um exame amplo da oligarquia espanhola. Esta investigação, além disso, resultou-lhe especialmente útil para seus trabalhos sobre o franquismo. Prova disto é que o livro "Spain in crisis" (Espanha em crise), cuja preparação ele dirigiu e que foi publicada na Inglaterra há dois anos. A edição espanhola está próxima. Na Itália ele já foi publicado.

"Da preparação da minha tese e de minha simpatia pela causa republicana nasceu também meu estudo sobre a esquerda espanhola e sua resistência ao franquismo. Neste volume, que agora preparo, faz-se especial fincar pé no papel que teve o Partido Comunista nessa atitude de resistência".

Paul Preston, que viveu a época republicana só como historiador - agora tem algo mais de trinta anos -, estima que "há implicações claras neste livro para a atualidade", ainda que matiza seu critério.

"A Espanha dos anos trinta - diz o professor Preston - era um país fundamentalmente agrário. Ante essas estruturas, o Partido Socialista e o de Esquerda Democrática tentaram fazer reformas básicas, humanitárias, para melhorar a situação cotidiana dos mais frágeis. Esses intentos reformistas repercutiram logo numa direita latifundiária agressiva e selvagem, que provocou reações muito violentas. Agora a situação econômica mudou de modo radical. Ainda assim, segue havendo uma esquerda - o Partido Comunista e o Partido Socialista - que volta a se plantar a tarefa de fazer reformas básicas, depois do estabelecimento da democracia burguesa, que para a esquerda é o contexto mais adequado para chegar a outras formas de sociedade, também democráticas, mas socialistas".

"Se os intentos reformistas se produziram agora", diz o professor Preston, "quando existe uma profunda crise econômica, poderiam provocar reações fascistas ou autoritárias, similares àquelas que produziria um revolucionarismo aberto. Essa é a situação que devem ter em conta o socialismo e o eurocomunismo na circunstância espanhola".

* Este artigo apareceu na edição impressa de Sexta-Feira, 9 de junho de 1978

Fonte: versão original (castelhana) do El País (até o momento este texto não saiu na "versão" brasileira deste jornal, por isso tomei a liberdade de traduzir)
http://elpais.com/diario/1978/06/09/cultura/266191209_850215.html
Título original: Paul Preston publica "La destrucción de la democracia en España"
Tradução: Roberto Lucena
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Observação 1: este texto estava arquivado há algum tempo (é um texto originalmente de 1978), e infelizmente tem muita coisa em comum com o que se passa no Brasil atualmente. Aos que acham que este golpe branco pode acabar em pouco tempo, a ditadura de Franco durou décadas com um legado de atraso (retrocesso) pesado pra Espanha, só superado (em parte) por uma coincidência conjuntural de terem entrado pra futura União Europeia.
Tem muito "idealista" tosco no Brasil, que acredita em qualquer asneira de "mudança pela mudança" (sem base real pra isso), principalmente na extrema-esquerda (tem uma extrema-esquerda ligada ao PSOL e cia que são incrivelmente ridículos e débeis, liberais mal assumidos) e que vai mudar subestimando as forças políticas fortes e retrógradas do Estado brasileiro. Por conta destas cretinices (a principal delas, mas não a única, aquelas marchas de 2013) o país se vê mergulhado numa encruzilhada política (eu iria comentar isso em outro post mas como este texto tem muito a ver com o presente do país, antecipei algo aqui).

"Ah, mas o golpe não vai sobrar pra mim"... rs, vai sim, tolinho (a), rs. Ninguém brinca de "revolucionário de araque" num país com uma direita arcaica, primitiva, vendepátria e truculenta como esta e sai impune disso. Julgam-se espertos? Pode sempre haver um (uns) mais que vocês, guardem isso como "lição política". Da próxima, quando forem brincar de "política", levem a coisa mais a sério e façam menos "cirandas" (o adjetivo "cirandeiro", de quem dança ciranda, é associado ao PSOL e seus espetáculos públicos ridículos, ou a uma esquerda dita "pós-moderna" com agenda política totalmente vazia e que adora espetacularizar tudo, só que pra tudo há limite, até pra espetáculos/performances teatrais pueris). Os caras ainda conseguiram avacalhar uma dança típico do meu estado com essa associação "macabra".

Observação 2: à turma "crítica" (entre aspas) ao blog (tem aparecido uns chiando nos textos críticos à doutrinação mofada e datada da guerra fria das tais olavetes golpistas apoiadoras de Temer e cia, com a falta de educação habitual, "cheios de si"), não adianta espernear comigo, eu não sigo essa postura "tanga frouxa" do PT ou de uma certa "esquerda cagona" do país ("cagão/cagona" é o mesmo que "frouxo/frouxa", neste sentido, principalmente a de alguns estados do país, ressalto isso pois muita gente de fora do Brasil lê este blog e pode não estar familiarizados com essas expressões do país), nem tenho medo de cara feia (como dizem na minha terra, "cara feia é fome"), se for discutir, discutam a sério, se quiserem brincar, eu também brinco (aponto os erros das bobagens que comentam) e não tenho obrigação de ser "educado" com gente mal educada, tampouco tenho paciência com gente "assim". A "tolerância" pós-golpe com essa "direita excêntrica liberal autoritária" do país, que já não era boa, ficou muito pior. Parece que não adianta avisar uma vez ou duas, sempre esse pessoal quer encher o saco e acaba tomando uma "entrada de sola" (gíria de futebol). O problema é que é estupidez "bater boca" com gente estúpida demais, e isso enche o saco, daí o aviso. Não creio que há mais espaço pra esse comportamento infantil demais desses grupos abobalhados que avacalharam o país por ignorância política aguda.

Caso alguém se incomode com o pessoal do blog ter posicionamento político, não posso fazer absolutamente nada em relação a isso (e nem quero). Todo mundo tem direito de ter o seu, mesmo que este governo ilegítimo - colocado de forma ilegítima no poder por um bando de imbecis e uma emissora golpista e mentirosa - queiram tentar silenciar quem discorde deles, não irão conseguir calar todo mundo, nunca.

Cansei de discutir com gente enviesada (politicamente) até o talo (muitos de direita, que adoravam posar de "moderados" sem ser) achando que os outros não têm direito de ter suas posições, foro o arsenal de idiotices que comentavam. Por muito tempo evitei colocar posicionamentos mais ligados ao presente (exceto o do cenário da extrema-direita de cunho fascista, literalmente), mas uma vez que o radicalismo só aumentou no país (principalmente pelo lado da direita neoliberal e entreguista), não vejo motivo algum com esse "excesso de respeito" com quem apoia isto, até porque há que frisar o seguinte: esta direita neoliberal do país sempre foi autoritária, arcaica e entreguista (contra o país) e não conseguirão impor um regime neoliberal no país sem provocar um conflito civil de graves proporções. Não venham até mim dizer como pensar, eu nunca disse a ninguém como agir e isso é uma via de mão-dupla.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Morre, aos 93 anos, o polêmico historiador alemão Ernst Nolte

O intelectual avivou com sua obra o debate sobre os crimes do nazismo ao tratar de justificá-los. Hoje sua obra é fundamental para o ideário dos grupos ultradireitistas que tomam força na Alemanha.

O historiador Ernst Nolte - AFP
O historiador Ernst Nolte, um dos principais intelectuais revisionistas da Alemanha, faleceu em Berlim aos 93 anos, segundo informaram fontes de sua família. Ao longo de sua carreira publicou obras de grande relevância como "A guerra civil europeia", "O fascismo em sua época" ou "A crise do sistema liberal e os movimentos fascistas", algumas delas muito polêmicas. Grande parte de sua fama como historiador se deve a seu papel na chamada "Historikerstreit"(disputa dos historiadores) que se desatou com seu ensaio publicado no diário "Frankfurter Allgemeine Zeitung" em 6 de junho de 1986, intitulado "O passado que não quer passar".
Nolte defendeu em sua obra que o nazismo foi a resposta lógica ao bolchevismo
Uma das principais teses da obra de Nolte é que o fascismo surgiu na Europa como oposição à modernidade. Além disso, adotou muitas posturas polêmicas com a intenção de justificar de algum modo os crimes do nazismo. Em seu artigo do "Frankfurter Allgemeine Zeitung", Nolte relativizava os crimes do nacional-socialismo e os via como uma reação aos crimes do stalinismo. "Não foi o Gulag anterior a Auschwitz? Não foi o assassinato de classe dos bolcheviques o antecedente lógico e fático do genocídio dos nazis?", perguntava-se Nolte no ensaio. O historiador concluía que a política dos nazis havia sido por fim uma resposta à "ameaça existencial" que representava o bolchevismo.

Sua disputa com Habermas

Trata-se de uma obra que deu lugar a grandes polêmicas e sobre a que se fundaram algumas ideias atualmente em voga como a dos radicais de ultradireita do Alternativa para a Alemanha (AFD). O artigo de Nolte gerou uma resposta do filósofo e sociólogo Jürgen Habermas, publicada no seminário "Die Zeit". Habermas acusava a Nolte de pôr na cabeça de um grupo de intelectuais neoconservadores que procurava liberar os alemães de sua responsabilidade histórica negando o caráter único e sem precedentes do Holocausto. Além disso, Habermas mencionava outros historiadores, como Klaus Hildebrandt e Andreas Hilgruber, a quem os via próximos da posição representada por Nolte.
As ideias de Nolte são fundamentais para movimentos como o Alternativa para a Alemanha
Quando se cumprirem 30 anos do "Historikerstreit" o diário "Die Welt" lhe dedicou um artigo de Nolte no qual afirmava que ele havia formulado muitas posições que agora representam o agrupamento da AFD. A carreira de Nolte como historiador se iniciou em 1963 com a publicação de seu livro "O fascismo em sua época" no qual fazia uma aproximação comparativa do fascismo italiano, o nacional-socialismo e a Ação Francesa (Action Française). Em 1994, Nolte aportou um artigo para um livro intitulado "Die selbsbewuste Nation" (A nação segura de si mesma) no qual se agruparam várias vozes da nova direita alemã, que tratava nesse movimento de aproveitar o jubilo que haviam gerado na reunificação quatro anos atrás.

Fonte: ABC
http://www.abc.es/cultura/abci-fallece-93-anos-polemico-historiador-aleman-ernst-nolte-201608181833_noticia.html
Título original: Muere, a los 93 años, el polémico historiador alemán Ernst Nolte
Tradução: Roberto Lucena

Observação: ao texto. O site ABC é de um jornal com viés de direita/conservador da Espanha. É sempre curioso e irônico colocar matérias como essa mostrando o grau de desonestidade patológico que boa parte da direita brasileira assume quando começam com o mantra do "nazismo de esquerda", que como podem ver acima, não é corroborado por nenhuma publicação minimamente séria de fora, razão essa porque não costumo discutir com paciência com quem vem repetir essa bobagem, pois das duas uma, ou quem prega isso não sabe nem o que está dizendo ou sabe (que é panfletagem) e quer encher o saco.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Nota sobre o envolvimento do OSS (ASE) na localização dos documentos PS-501 das vans de gaseamento

A seguinte informação foi obtida das páginas 179-182 do livro de Michael Salter a respeito de quatro documentos que pertencem ao PS-501 exibido em Nuremberg, discutidas nesta série por Hans. A primeira participação da OSS (ASE)* era de localizar os documentos entre os detidos pela inteligência britânica em Londres. Um cabo de Donovan para Jackson, datado de 01 de junho de 1945, detalhou o papel do Coronel Amen na obtenção de "documentos (originais) que contêm detalhes do gás pela "van da morte" equipada por esse propósito [Salter pág.180, citando cabo 18124 , 6/1/45, Jackson Papers, Box 101, Reel 7, grifo meu].

Estes foram colocados em um dossiê preparado pelo bando X-2 da OSS (ASE) e, eventualmente, pego por Whitney Harris, que discute aqui (págs. 198-199) como ele os usou no interrogatório de Ohlendorf enquanto preparava-se para o caso contra Kaltenbrunner. Os documentos também foram autenticados por Rauff (link2) em Ancona, como Hans mostra aqui. Embora o documento Becker-Rauff tenha se tornado parte do PS-501, ele foi inicialmente apresentado pela OSS (ASE) como Feldpostnummer S2704/ SECRETO. Rauff deu uma confirmação ainda muito mais detalhada do documento no Chile, em 1972, mostrada aqui.

Na lamentação de Weckert e outros sobre as origens desses documentos, remeto os leitores à citação de Zimmerman no post do Roberto (Muehlenkamp) aqui.

*OSS (ASE): Office of Strategic Services, abreviação "OSS" (Agência de Serviços Estratégicos), precursora da CIA.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2016/05/note-on-involvement-of-oss-in-locating.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Note on Involvement of OSS in Locating Gas Van Documents PS-501
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 4 de julho de 2016

78 dias de Golpe de Estado (começou no dia 17 de abril de 2016). "Prestar continência" em Olimpíadas depois no golpe é um escárnio contra o país. O COI deveria ter bom senso e parar de "ignorar" o que se passa

Primeiramente: Fora, Temer. Já que a "coisa" pegou, mas precisa se tornar realidade.

Eu ia fazer este post no dia 18 de abril (um dia após a votação do golpe na Câmara de deputados), mas tive tanto nojo (e o nojo não passou, é algo profundo, é um sentimento de repulsa e asco fora do comum) da parcela da população que apoiou essa palhaçada (farsa) capitaneada por Michel Temer, Eduardo Cunha, PSDB, Globo, FIESP e afins, no efeito manada (se tivessem cabeça não fariam tanta besteira décadas a fio, e não vale passar a mão na cabeça desses pulhas, eles têm total responsabilidade sobre o que se passa) que me pergunto se esse povo é digno de algum respeito. Escrever algo com muita raiva não é prudente. Se esta parcela da população queria ser odiada, conseguiram. Lamento, de fato, de ter nascido no mesmo país dessa parcela populacional, não pelo Brasil e sim por essa parcela da população, a menos que mostrem algum arrependimento por serem tão estúpidos e manipuláveis. Deem urras por terem nascido no Brasil (país que tanto odeiam mas ficam fantasiados com camisa da CBF pra esconder o ódio ao próprio país), em outro país vocês já teriam provocado uma guerra civil com a imundície (mau comportamento) de vocês.

Golpistas Michel Temer e Eduardo Cunha
E antes que apareça algum "desbocado" (como são em sua grande maioria, esse pessoal não consegue nem dialogar racionalmente algo) mandando ir pra Cuba etc (frase padrão e chavão desses), este país é meu (o Brasil), não vou admitir que um bando de imbecis usando uma camisa da Nike da CBF (camisa feia por sinal, a Nike nem padrão sabe fazer, rs) digam a mim em qual país devo ficar ou ser, eu não preciso de um adereço (fantasia), como vocês, pra ser brasileiro. Não preciso de fantasia da CBF usada pra esconder preferência político-partidária, pois essa gente que urrou pelo golpe é tão escrota que não tem coragem de levantar a bandeira do PSDB porque no fundo sentem vergonha disso, vivem numa realidade fantasiosa sonhando com uma guerra fria que não existe mais (a URSS acabou no começo dos anos 90), mesmo votando nesses tucanos há décadas.

Em países normais, usar a bandeira de partidos é algo normal, é parte de uma democracia ao contrário do que esses ignorantes no país pregam, o povo fora (a maioria pelo menos) não costuma se esconder na bandeira do próprio país pra fazer canalhice contra o país (exceto extremistas obtusos), uma vez que a bandeira é símbolo de todos os brasileiros (a bandeira não é, nunca foi e jamais será propriedade privada de vocês, nem as cores do país).

À direita, os bandos montados pelos golpistas com seus ídolos.
À esquerda, o cabeça do golpe no Congresso ao lado de um dos herdeiros da Rede Globo,
a emissora golpista de 1964 e 2016. Todos golpistas.
Não estou tratando aqui de escolha política de A ou B, de alguém ser liberal ou não, de direita, de esquerda etc, e sim de gente que apoia golpes de estado contra seu próprio país, provocando uma ruptura na democracia, golpes esses que beneficiam petroleiras estrangeiras (a Chevron, ou 'Standard Oil' e seu lobby na figura do traidor José Serra, matéria de 2010 pois sequer chega a ser "novidade", o 'molequinho' senador eleito pelo estado de São Paulo), o governo de outros países atacando os BRICS e qualquer política de desenvolvimento nacional autônoma, além da malta rentista do Brasil que quer voltar aos áureos tempos de antes de 2003 reavivando o Apartheid social que sempre impuseram ao país contra grande parte da população, parte esta anestesiada pelo Partido da Imprensa Golpista (ou oligopólio de mídia, liderado pela Globo) e sua lavagem cerebral diária defendendo o desmonte do Estado brasileiro, colocando o país em colapso na maior crise pós-segunda guerra mundial (a crise que assola o mundo e que essa mesma mídia tentou esconder da população, já que a maioria só assiste ou lê, quando lê, esses entulhos panfletários da mídia oligárquica do país).
Entreguistas do pré-Sal. E falta muito mais gente na imagem.
Desde o dia 17 de abril pra cá, o processo de deterioração desse governo golpista foi tão grande (provocado pelo mesmo, todo o governo golpista está metido em corrupção até a raiz do cabelo), mesmo que o próprio PT sequer promova ou ajude com passeatas contra o golpe em defesa da presidente afastada (pudera, comandado por um paquiderme como Rui Falcão, é disso pra pior), que o post inicial perdeu o sentido. Eu iria colocar uma foto do Eduardo Cunha sorrindo no dia da votação do golpe na Câmara sorrindo triunfal como se dissesse rindo que "o crime compensa", só que ele anda "meio" angustiado atualmente pois a malta golpista, que é mais psicopata que ele, quer se livrar do cidadão a todo custo, o problema é se ele abrir a boca e entregar todo mundo (virou um arquivo ambulante que incomoda muita gente que está na "mão" dele). É o acerto de conta do golpe, o núcleo duro do golpe (o Janot, Moro, Lava Jato, Globo, parte do PSDB) querem se livrar do PMDB e do Cunha pra reinarem sós e pegarem todo o butim, e o protagonista do golpe não pretende cair sem atirar pois o comportamento dele sempre foi de uma pessoa insana, politicamente anormal.

A votação do dia 17 de abril foi fruto da arrogância/prepotência da Rede Globo, achando que iria "arrasar" transmitindo aquele espetáculo de circo (ou de horrores) de quinta categoria com sua mentalidade "imperial" (a Globo é o que restou do arcaico Império Português no Brasil), com a pior câmara de deputados já eleita (fruto da "revolução colorida" de 2013 e a irracionalidade que despertou no povo), ela acabou por ridicularizar o próprio golpe que puxou ou foi uma das cabeças (pois há várias cabeças por trás disso). No lugar dessa foto, deixo abaixo uma cena do golpe de estado em 17 de abril (votação na Câmara controlada por Eduardo Cunha), em destaque um político imbecil do meu estado que sujou a bandeira de Pernambuco nessa votação, decerto não sabe nem o significado da bandeira o ignorante, é uma bandeira muito simbólica e valiosa pra ficar em mãos de gente tão tosca e podre. O Brasil feio, que todo mundo odeia, votou pelo golpe, o Brasil dos "vira-latas", que se odeiam e odeiam ao país porque se sentem um monte de entulho em relação ao mundo, com sua baixa autoestima crônica e estupidez política. A foto a que menciono saiu no El País, não lembro se a salvei, caso alguém encontre eu agradeço:
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/17/politica/1460924183_167143.html

"Somos milhões de Cunhas" (e são mesmo, não abandonem o
ídolo de vocês pelo caminho. Força! rs)
Mas eu queria comentar neste post o porquê do logo falando de boicote aos jogos do Rio. A razão é simples e não se trata de uma incoerência, já que critiquei pesado a sabotagem feita por essa corja de canalhas contra a Copa do Mundo no país (leiam mais aqui: tag marchas de 2013, copa do mundo, golpismo), coberta por uma mídia ignorante (principalmente a estrangeira, que parece estar querendo se redimir do mal que fez, porque cobriram toda essa palhaçada omitindo o extremismo, estilo Tea Party, dessa manada que apoiou o golpe, manada antidemocrática, classista e alienada, de forma genérica, tirando os cabeças por trás desses "movimentos", esses sabem bem o que estavam fazendo): a partir do momento que essa direita neoliberal e entreguista do país armou uma palhaçada colossal dessas contra o país, em pleno ano de um evento importante como as Olimpíadas, a mesma perdeu o sentido.

Por sinal, o COI está sendo irresponsável em não ter transferido esses jogos há mais de mês desde o golpe, correndo o risco de estourar confrontos em pleno andamento dele com repressão pesada (que será filmada pela mídia estrangeira). "Ah, mas nunca aconteceu isso antes", há sempre uma primeira vez e é uma vergonha que um Comitê Olímpico não tenha plano B pruma eventualidade, já que não é a primeira vez que há jogos conturbados, o último eu acho que foi as Olimpíadas de 1936 na Alemanha nazista (a que ponto a coisa chegou).

Não há clima no país pra jogos olímpicos, a mídia estrangeira está sendo ridícula (com algumas matérias que tenho visto) repetindo aquele terrorismo midiático mostrando problemas de infra-estrutura do Rio etc (que a maioria está careca de saber e não irão ser mudados em 4 anos ou 7), já que fizeram a mesma coisa na Copa, sendo que em termos de organização a Copa no Brasil colocou qualquer Eurocopa e afins abaixo da mesma em matéria de organização (lembram dos hooligans se pegando na França e estourando bomba em estádio?, "Ah, se fosse no Brasil..." rs). Tiveram que calar a boca depois da histeria que fizeram antes do evento em 2014, por puro preconceito e ignorância. Já tá ficando previsível esse discurso e chato.

O problema dos jogos no Rio (antes fosse) não é o Zika vírus ou infra-estrutura (quem for jogar não sentirá absolutamente nada) e sim político: estamos com um golpe de Estado no país, com um retrocesso brutal (o pior desde a ditadura de 1964, e os caras simplesmente ignoram este fato, acham que o país irá prestar atenção a porcaria de um evento em detrimento do próprio país, é muita calhordice da imprensa de fora ignorar essa questão, calhordice, estupidez, preconceito e ignorância. Aquela notícia de jogador de golfe (esse "esporte popular", imagino o tédio de assistir "partida de golfe", não sei como isso vira esporte olímpico, rs) deixando de vir por conta de vírus diz mais sobre a ignorância deles do que dos jogos em si. Se tivessem deixado de vir condenando o golpe, seria um motivo louvável, mas se atentam a coisas menores, porque em agosto a incidência do mosquito (vetor) é muito baixa (faz frio, nem isso sabem ou procuram saber?) e o impacto desse vírus Zika sobre homens é mínimo (o maior problema foi sobre mulheres grávidas). Eu não costumo relevar esse tipo de ignorância.

Ao pessoal que ler esse post e apoia o golpe, vou falar francamente de novo pois não tenho paciência pra ficar batendo boca com bobalhões (boa parte dos apoiadores são uma calamidade discutindo qualquer coisa, além da falta de educação explícita): eu sempre destaquei aqui que não me importo com a "opinião" de vocês sobre essas questões, deixei de levar a sério pois não são dignos disso (não merecem), não pensem que intimidam com provocação pueril e infantil, o insulto pode causar alguma irritação momentânea mas não altera uma vírgula do que foi dito, tudo o que foi relatado pode ser comprovado, só sobrou o "escárnio" pra vocês (se for possível fazê-lo pois andam calados porque no fundo sabem que fizeram uma besteira monumental). Digo isso porque vocês acham que podem censurar e intimidar a opinião alheia com esse tipo de ataque tosco que fazem na rede (fora os ataques de censura contra blogs mais conhecidos e de conteúdo mais voltado à política nacional etc), por irem de encontro (contra) ao que vocês pregam (esse monte de insanidades que colocaram o país de cabeça pra baixo desde 2013), mas digo e repito, não esperem de mim (e de milhões que não concordam com essa insanidade de vocês) cordialidade ou postura amena depois dessa punhalada que deram no país e na maioria da população, independente dos erros do PT no governo (que são vários, mas em geral não são o que vocês apontam, posso até fazer um post sobre isso depois). Não sou adepto do tal "republicanismo" kamikaze do PT (link2) que dá a outra face pra bater, eu jamais ofereço a outra face.

Antes de encerrar o post (era necessário o desabafo), não é curioso que o pessoal que sabotou a Copa - como esta cidadã aqui do vídeo abaixo (este vídeo se tornou emblemático naquele ano, resume todo o festival de insanidade que assola o país desde então) - tenha sumido?


Cadê o vídeo "Não vai ter Olimpíadas" atacando Temer e cia por parte desses "cidadãos conscientes"? rs.

Ué, a "revolta" passou quando os corruptos do PMDB assumiram (com o arrocho neoliberal e desmonte do Estado) apoiados pelos tucanos do PSDB? Quanta "indignação" seletiva. Como sempre apontei, este povo nunca ligou pra corrupção, o ataque sempre foi partidário e contra a maioria da população pobre do país. Nunca deram a mínima pra questão da desigualdade social do país, tanto quanto os direitos de maioria do povo, incluindo a própria classe média. A "indignação" passou quando os grupos que apoiam chegaram ao poder por vias tortas (golpe via Congresso apoiado pela mídia oligopolizada).

Cadê todo aquele urro (pseudo-indignação) contra eventos no país? Desapareceu? "Urro seletivo"? rs

Estão vendo que cedo ou tarde a máscara política "apartidária" de vocês cairia por terra, uma a uma? É sempre uma questão de tempo, a verdade sempre aparece das ruínas provocadas por vocês (entreguistas). Na Argentina (e em alguns países vizinhos) chamam os entreguistas (do verbo "entregar", "dar") de "vendepátria", ou traidores, como queiram. É até um rótulo mais ilustrativo e certeiro. Ressalto isso pois tem muita publicação de esquerda (tosca) no país que copiam esses termos dos países vizinhos sem dizer de onde tiraram (chega a ser irritante, repetem o erro de forma pedante e nem curiosidade de olhar se a expressão é correta olham), como é o caso da expressão "EEUU" pra Estados Unidos, grafia inexistente na língua portuguesa (é uma grafia do castelhano).

Na época saíram mais dois vídeos, um sobre a Ucrânia e outro na Venezuela, com teor parecido (garotas com boa feição denunciando o "caos" desses países chamando o povo pra se rebelar e ir pra rua), similaridades, porque esses ataques "padrão" coincidentes nunca surgem do nada, um dia se descobrirá toda a 'palhaçada' por detrás disso, como hoje se sabe da participação do governo dos EUA no golpe de 1964 em detalhes. Fica o recado aos golpistas que começaram a palhaçada ainda em 2013 como o vídeo acima: não se iludam, vocês serão marcados pra sempre como golpistas, irão carregar essa cruz pra sempre, principalmente quando a ficha cair pra maioria da população (uma hora sempre cai).

O que disse acima também vale pros que disseram que são "isentões", o pessoal que diz estar "em cima do muro" (cuidado que o muro cai com vocês juntos, rs), com um bla bla bla insustentável sobre essa postura, mas que sempre tem um discurso que favorece os golpistas e o golpe. Vocês não são "isentões", são golpistas enrustidos, ou na melhor das hipóteses: covardes. Não há como se "isentar" no atual contexto, isso é, sobretudo, covardia (e tem seu preço histórico). Não pensem que por se declarar "isentos" que todo este processo que vocês deixaram ocorrer (por covardia) não irá sobrar pra vocês, pois vai.

Ao povo de fora que lê o blog, peço pra não confundir essas questões dos posts com a "extrema-direita" na Europa e afins, os contextos históricos são bem distintos embora a crise global atinja a todos. Digo isso porque sempre que se põe o termo "nacional" no meio há um pessoal que generaliza tudo e conduz a discussão pra outro rumo (vejo isso com frequência na esquerda brasileira, mal sabem definir "fascismo" e chamam tudo de "fascismo", e o pior, ainda ficam com raiva quando alguém critica isso mostrando os erros). Questões como essa (de soberania) nunca foram totalmente resolvidas na América do Sul e resto da América Latina, e sempre foram um entrave à própria democratização da região. Embora a sensação ruim que passa na Europa seja causada pelos mesmos sintomas (austeridade, neoliberalismo, desmonte dos Estados nacionais), pela globalização que só beneficia uma minoria em detrimento do maioria, globalização neoliberal que nunca deu a mínima pra democracia em qualquer país embora diga que pregue a "liberdade" (corromperam até a palavra "liberdade"). O que se passa na América do Sul não é um fato isolado do que se passa na Europa, mas as forças envolvidas possuem conotações diferentes em ambos continentes.

Aos que estão fora, também pensem duas vezes (ou dez) antes de vir a esses jogos. Não digo isso obviamente por conta do "Zika vírus" ou pelo alarde de sempre sobre infraestrutura e violência no país, isso é algo que já se tornou previsível ou banal (esse tipo de publicação), lembram da histeria antes da Copa de 2014 e o que aconteceu? A única tragédia de fato foi aqueles 7x1 nas semifinais (mas pensando bem, por um lado foi lindo ver aqueles coxinhas sofrendo no estádio, rs) e sim pela gravidade do contexto político.

Boa parte da população não está dando a mínima pra esses jogos depois do golpe de estado dado, pode ser que mude um pouco de ânimo (mais por conta dos atletas) quando acontecer, mas dessa vez será diferente de 2014. Ninguém irá mudar de postura porque a mídia estrangeira quer ou acha que manda na população do país (no caso, acham que mandam na parte não aloprada e não-golpista da população, há um golpe aqui e isto é real, ninguém vai ignorar o que se passa por conta da porcaria de um evento).

Se o povo brasileiro não aprender com a farsa que é este golpe de 1916 (a tragédia foi em 1964), não aprende mais. Há mais nuances sobre o golpe, mas vou me ater a essas questões como as Olimpíadas e o porquê do logo do boicote, não prestarei continência pra golpista em Olimpíadas, que a direita neoliberal golpista do país enfiem essas Olimpíadas naquele lugar que eles gostam tanto. Se este golpe servir de lição didática pro povo aprender a não se deixar levar pela mídia oligopolizada do país, terá servido pra algo (há coisas ruins que vêm pro bem e ajudam a mudar a mentalidade de um povo, até uma desgraça pode servir pra algo).

Digo aos brasileiros que têm consciência da gravidade da situação que passamos que se levantem, demonstrem sua repulsa contra o golpe e deixem quaisquer diferenças de lado, não esperem que partidos, centrais e cia tomem a defesa do país, seria bom que participassem, mas na ausência disso o povo pode e deve politicamente se posicionar contra a tirania plutocrática que usurpou o poder do país, tem obrigação cívica disso.

Uma coisa que sempre achei absurdo é gente que se diz "indignada" com Holocausto apoiar coisas como essa, é um contrassenso fora do comum. E as pessoas que criticam o golpe, mesmo em campos opostos, deveriam refletir melhor esse apoio que dão ao tal "revisionismo" ("ouro de tolo") achando que estão fazendo uma "crítica política" com isso, essa questão do "revisionismo" se tornou algo menor no mundo (isso teve seu auge de exposição na década passada) e há coisas mais relevantes a serem discutidas, até porque muito "baluarte" "nacionalista" (entre aspas) que eram admirados por vocês, como o Bolsonaro, mostrou como são uma caricatura da direita brasileira (são neoliberais no fundo, capitães do mato do Império) sobre essas questões do pré-Sal, soberania etc. Essa caricatura olavética escarrada são um bando de entreguistas, cobrem-se com a bandeira do país pra mascarar a entrega do patrimônio do país a petroleiras estrangeiras e desmonte do Estado brasileiro.

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