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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Antissemitismo ‘oficial’ de Estado, entre 1933 e 1948: Livro expõe circulares secretas visavam barrar entrada de judeus no País

Entre 1933 e 1948, o governo brasileiro emitiu dezenas de circulares secretas que visavam dificultar, ou até mesmo impedir, a entrada de judeus que fugiam do nazismo e do fascismo que dominavam a Europa. O mito do Brasil cordial, que não é racista, pode ser confrontado agora por meio do livro Cidadão do Mundo – o Brasil diante do Holocausto e dos judeus refugiados do nazifascismo – 1933-1948 (Editora Perspectiva, 476 p., R$75,00). A obra, lançada no início do mês de dezembro, é originada da tese de livre docência da professora Maria Luiza Tucci Carneiro, apresentada em 2001 à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas (FFLCH) da USP.

Refugiados judeus no porto de Lisboa.
Imagem de Roger Kahan (1940)
O livro analisa o contexto desse ‘cidadão do mundo’: trata-se do judeu que começa a ser perseguido na Europa, a partir de 1933 com a ascensão do nazismo na Alemanha. “À medida que os nazistas vão invadindo outros países, surgem novos fluxos migratórios de judeus alemães que vão se somando a novas nacionalidades de judeus refugiados da guerra, como austríacos e poloneses”, explica a professora.

Com a perda da identidade jurídica decorrente da perseguição nazista, esse ‘cidadão no mundo’ foge de seu país de origem e busca rotas de fuga – incluindo o Brasil. “Mas aqui vai encontrar receptividade apenas dentro da comunidade judaica. A posição oficial do governo brasileiro é a de descaso para esse ‘cidadão do mundo’, ou mesmo de omissão em algumas situações bastantes críticas. As circulares secretas mostram que a orientação dada aos diplomatas brasileiros era de dificultar ou negar a emissão de vistos para os refugiados judeus”, conta.

A professora explica que o governo brasileiro vê esse ‘cidadão do mundo’ como perigoso para compor a ‘raça brasileira’ e também para a segurança nacional, pois o judeu era associado com o comunismo, ao parasitismo e a ideia de raça inferior. Por meio desta pesquisa, Maria Luiza demonstra que muitos desses judeus tinham posturas políticas liberais e que, entre 1940-1945, fortaleceram no Brasil os movimentos antifascistas.

Segundo a historiadora, uma minoria de diplomatas se mostrou sensibilizada com a situação vivenciada pelos judeus refugiados e raros foram os que se ofereceram para ajudar. Entre os diplomatas brasileiros que assumiram uma postura humanitária, ela cita Luiz Martins de Souza Dantas, embaixador do Brasil na França de 1922 a 1944, e que concedeu cerca de 500 vistos, desobedecendo as imposições antissemitas do governo Vargas expressas através das circulares secretas. Por suas ações salvacionistas, Souza Dantas é considerado pelo Instituto Yad Vashem, em Israel, como um dos “Justos entre as Nações“, sendo que o processo de reconhecimento foi aberto a pedido da própria professora Maria Luiza Tucci Carneiro. Outro exemplo é o de Aracy Moebius de Carvalho que ajudou a salvar centenas de refugiados judeus favorecendo a emissão de vistos pelo Consulado Geral do Brasil de Hamburgo, onde trabalhava ao lado do diplomata e escritor Guimarães Rosa, então cônsul geral.

Pós-guerra

Mesmo no pós-guerra, a emissão de circulares secretas continuou. A professora conta que em 1947, durante o período de criação da Organização das Nações Unidas (ONU), Oswaldo Aranha, ex-ministro das Relações Exteriores na Era Vargas, produziu um relatório, atendendo ao pedido do ministro Raul Fernandes, então chanceler do presidente Dutra. Neste documento, Aranha avalia alguns dos assuntos que seriam debatidos na primeira reunião da ONU: a discussão sobre genocídio instigada pelas imagens de catástrofe sobre o Holocausto; o controle do uso de armas atômicas, pensando-se do que ocorrera em Hiroshima e Nagasaki, no Japão; e, por fim, a divisão do território palestino com a criação do Estado de Israel.

“No final do relatório, Oswaldo Aranha apontava que se realmente fosse votada a partilha da Palestina, o Brasil poderia ficar tranquilo pois os judeus teriam, a partir de então, um território próprio específico e o país não precisaria mais se preocupar em receber esses ‘cidadãos do mundo’”, destaca a historiadora. “Ao mesmo tempo, Oswaldo Aranha havia recebido a orientação de seguir o voto dos Estados Unidos, fosse qual fosse o voto”, completa, mostrando a posição comprometida do governo brasileiro.

Documentos do Itamaraty revelam a
morosidade e a insensibilidade do governo
Outro ponto apresentado no livro é que a partir de abril de 1944, o Comitê Internacional para Refugiados Políticos apelou, por meio de dezenas de cartas, para dezenas de países, pedindo auxílio para salvar cerca de 10 mil crianças judias órfãs, retirando-as da França e Hungria ocupadas. Segundo a professora, um conjunto de documentos pesquisados junto ao Itamaraty revela a morosidade e a insensibilidade do governo brasileiro em assumir qualquer tipo de responsabilidade sobre a situação que exigia rápidas ações humanitárias.

“O governo de Vargas impõs uma série de condições para aceitar cerca de 500 crianças. Exigia, dentre outras condições, que elas fossem educadas por pais católicos, de forma a anular sua identidade judaica; não poderiam ter contato com a família de origem; e não deveriam ter mais de 10 anos de idade”, conta a professora. Quando o governo brasileiro decidiu oficialmente aceitar as crianças, em junho de 1945 – portanto em pleno governo Dutra -, elas já haviam sido resgatadas graças à ajuda dos Estados Unidos e Grã-Bretanha”, conta.

Mentalidade antissemita

Segundo a professora, a partir da documentação analisada, é possível perceber que os discursos de grande parte dos diplomatas e de um grupo de intelectuais católicos reproduziam as teorias de exclusão nazistas.

“Apesar dessa postura antissemita e da repressão policial, é possível identificar movimentos de resistência ao nazismo, que atuaram nos subterrâneos do governo Vargas e que lutaram em prol da Alemanha, França e da Áustria livres, conforme atestam os documentos pesquisados junto ao Fundo Deops/SP, sob a guarda do Arquivo Público do Estado de São Paulo”, finaliza a historiadora.

Mais informações: (11) 3091-8598 ou email malutucci@gmail.com, com a professora Maria Luiza Tucci Carneiro ou junto ao Arqshoah – Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo disponível no endereço www.arqshoah.com.br

Reportagem de Valéria Dias, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 12/01/2011

Publicado em janeiro 12, 2011 por HC

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Fonte: Agência USP/Ecodebate
http://www.ecodebate.com.br/2011/01/12/antisemitismo-oficial-de-estado-entre-1933-e-1948-livro-expoe-circulares-secretas-visavam-barrar-entrada-de-judeus-no-pais/
http://www.usp.br/agen/?p=45541

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Livro fala sobre a infiltração e influência de Hitler no Brasil

Mais uma obra do jornalista Roberto Lopes promete polêmica e discussão em torno de um dos temas mais temidos, o nazismo. Ele acaba de lançar “Diplomatas e Espiões”, que desvenda a infiltração hitlerista na democracia brasileira. Considerado um livro-bomba, ele traz as influências nazistas sobre dezenas de personalidades brasileiras durante a Segunda Guerra Mundial (1941-1945).

Os materiais que resultaram no livro foram emitidos pelo FBI e pelo Departamento de Estado americano, descobertos pelo jornalista, e autor da obra, em Washington. Os documentos contêm advertências dos militantes brasileiros às autoridades norte-americanas em relação ao encantamento dos oficiais sul-americanos com a máquina hitlerista. Havia também uma manobra de emergência dos militantes americanos no Rio para evitar que grande parte do exército brasileiro passasse para o lado alemão.

A obra também revela servidores do Itamaraty fascinados com o nazismo, defensores públicos e até colaboradores do nazismo. Também há um cônsul que se ofereceu para espionar Berlim de seu apartamento no Rio de Janeiro, porém o governo americano interceptou as negociações. O livro também revela que o general Euclides Gaspar Dutra também não escondia sua simpatia pelo nazismo.

Um fato inacreditável é narrado no livro. Um diplomata, descoberto pelo staff do Palácio do Catete como informante alemão, em vez de ser demitido por Getúlio Vargas, fora promovido e sua nomeação para um período de “descanso” em algum lugar longe da zona de guerra.

Lopes reúne fatos e documentos sobre a realidade e os bastidores da real história no início dos anos de 1940. Ele não só destrói a ideia “Panamericanismo” imposto por Roosevelt, ex-presidente dos EUA, como também afirma de Hitler foi considerado a grande ameaça sobre a Democracia nas Américas.

“Diplomatas e Espiões” contém 160 páginas e custa em torno de R$ 29,90.

Fonte: O Regional
http://www.oregional.com.br/portal/detalhe-noticia.asp?Not=291180

sábado, 31 de outubro de 2009

Arqshoah - Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo

Especiais: História de sobreviventes
30/10/2009

Por Alex Sander Alcântara

Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo, disponível na internet, reconstitui saga de judeus expulsos da Alemanha nazista e dos países colaboracionistas e reúne documentos que revelam a postura do Brasil diante do genocídio (Interior de Pobres II/Lasar Segall)

Agência FAPESP – Ao analisar documentos emitidos pelas missões diplomáticas sediadas no exterior entre 1933 e 1950 percebe-se a postura do governo brasileiro diante do antissemitismo e da perseguição aos judeus na Alemanha nazista e nos países colaboracionistas. Ofícios e relatórios secretos dão uma dimensão dos bastidores da política brasileira no período, como aponta pesquisa coordenada pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).

Milhares desses documentos estão disponíveis na internet desde 17 de outubro, no portal Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo (Arqshoah), projeto do Laboratório de Estudos de Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) do Departamento de História da FFLCH.

Na base de dados, documentos oficiais podem ser cruzados com passaportes, fotografias, passagens e relatos de sobreviventes, permitindo reconstituir o cotidiano de algumas cidades europeias, como Berlim, Viena e Varsóvia, em um momento em que os judeus eram expulsos, presos ou exterminados. Todo esse acervo documental pode ser consultado livremente por pesquisadores, professores e pelo público em geral.

O projeto, intitulado “Arquivo virtual sobre Holocausto e antissemitismo: o Brasil diante do Holocausto e dos judeus refugiados do nazifascismo em 1933-1945”, tem apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular. Tucci Carneiro também coordena o Projeto Temático “Arquivos da repressão e da resistência. História e memória. Mapeamento e análise da documentação do Deops/SP e Deip/SP”, apoiado pela Fundação.

De acordo com a coordenadora, cerca de 10 mil cópias dos documentos originais foram reunidas durante sua pesquisa de doutorado sobre o antissemitismo na Era Vargas (1930 a 1945), concluída em 1987 e publicada pela Editora Perspectiva. A coleta dessa documentação teve continuidade na investigação para sua tese de livre-docência, defendida em 2001 – “Cidadão do mundo – O Brasil diante da questão dos judeus refugiados do nazifascismo (1933-1950)”.

“Grande parte são documentos secretos confidenciais produzidos durante a época de Getúlio Vargas e o período do pós-guerra. Tendo em vista o volume e a riqueza dessas fontes, muitas das quais ainda inéditas, resolvi disponibilizá-las da melhor forma possível por meio de um arquivo virtual. Dessa forma, novos projetos de pesquisa podem ser elaborados ,contribuindo para a construção de novos conhecimentos sobre a história do Holocausto e do Brasil contemporâneo”, disse à Agência FAPESP.

Foram necessários dois anos para selecionar, classificar e digitalizar uma parte significativa do acervo da historiadora, que, somente sobre esse tema, reúne 10 mil documentos que estão sendo identificados pela equipe técnica.

“A maioria dos documentos foi reproduzida do Arquivo Histórico do Itamaraty, que nos autorizou a publicar na internet. Importante ressaltar que esses documentos estão disponíveis para consulta pública no Rio de Janeiro desde 1995. Devemos levar mais dois anos para digitalizar o restante, sem contar com novos documentos cedidos por sobreviventes e de outras bases, como o Arquivo Nacional do Rio de Janeiro”, explicou.

Os documentos fornecidos pelo Itamaraty revelam, segundo Tucci Carneiro, as “decisões diplomáticas articuladas nos bastidores, a postura do governo brasileiro diante do genocídio praticado pela Alemanha nazista e os desdobramentos políticos na Europa durante a Segunda Guerra Mundial”.

“O governo brasileiro se tornou, indiretamente, colaboracionista. Fechou as portas, negando vistos de entrada aos judeus que procuravam fugir da Alemanha e dos países invadidos por Adolf Hitler”, apontou. Apesar de a política emigratória no país estar identificada com a postura intolerante da Alemanha, a posição pública do governo brasileiro era ambígua em relação ao Holocausto e à Segunda Guerra Mundial, disse a cientista.

“O governo se posicionava como solidário à política de salvamento aos judeus refugiados articulada pelos países líderes na Liga das Nações, dentre os quais estavam os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Em vários momentos, o Brasil comprometeu-se a fornecer, por mês, 3 mil vistos de entrada para esses refugiados, mas, na prática, o que se via era o oposto”, disse.

Segundo ela, essa postura foi mais sistemática de 1937 a 1945, endossada primeiro pelo Itamaraty e, depois, pelo Ministério da Justiça. “É como uma orquestra em que se somam ações intolerantes por parte de vários ministérios, que apregoavam o cumprimento das regras impostas por circulares secretas. Circulares que obstruíam o salvamento de milhares de judeus, centenas de ciganos e dissidentes políticos do nacional-socialismo. Essa é uma dívida que o Brasil tem para com o povo judeu e outras minorias tratadas como ‘raças indesejáveis’”, afirmou.

Esse é o conteúdo de grande parte dos documentos disponíveis no site, como, por exemplo, ofícios e circulares secretas antissemitas classificados na época como secretos pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Nesses registros – muitos dos quais são assinados por importante ministros, como Oswaldo Aranha, Gustavo Capanema, Francisco Campos e Raul Fernandes, e por diplomatas brasileiros em missão na Europa – fica evidente a recomendação de dificultar a entrada de judeus no país.

De acordo com a historiadora, ajudar judeus era visto como “um ato contra a nação”. Mas, durante a guerra, alguns raros nomes se sobressaíram como sinônimo de indignação e coragem.

“Foi o caso do embaixador brasileiro em Paris, Luiz Martins Souza Dantas, e de uma funcionária do consulado em Hamburgo, Aracy Moebius de Carvalho, mais tarde esposa do escritor Guimarães Rosa. Tanto Aracy, conhecida como ‘o anjo de Hamburgo’, como Souza Dantas desobedeceram às ordens do governo Vargas e liberaram centenas de vistos de judeus para o Brasil”, contou.

Ferramenta pedagógica

No portal, além de documentos oficiais, os usuários podem consultar um inventário de judeus refugiados no Brasil com dados e correspondências pessoais, fotografias, passagens de navio e bibliografia sobre o tema. Essas informações encontram-se distribuídas em vários links: “Arquivo”, “Justos & Salvadores”, “Periódicos”, “Artistas & Intelectuais”, “Rotas de fuga”, “Testemunhos” e uma “Biblioteca Virtual” com livros de memórias. O site também será alimentado com novos relatos, a partir do link “Indique um sobrevivente”.

O objetivo é disponibilizar histórias e memórias dos sobreviventes de campos de concentração e refugiados do nazifascismo radicados no Brasil até 1960, considerando o árduo e longo processo daqueles que procuraram naturalizar-se brasileiros.

Segundo Tucci Carneiro, a partir de 1950 o Itamaraty adotou uma postura mais liberal, após a divugação das atrocidades praticadas pelos nazistas e da resolução da Organização das Nações Unidas que definiu genocídio como crime contra a Humanidade.

A diplomacia deixou de, por exemplo, usar o termo “raça semita” e as circulares secretas antissemitas caíram no limbo da história. “Houve um esvaziamento da política antissemita enquanto instrumento do Estado, mas nem por isso o antissemitismo deixou de existir alimentado por grupos da extrema direita e da esquerda. Daí a importância do Arqshoah neste momento em que diferentes vozes negam o Holocausto”, disse.

Além de “arquivo-testemunho”, o Arqshoah pretende também ser uma ferramenta pedagógica importante para professores e alunos do ensino fundamental, médio e universitário. Segundo a professora da USP, tanto o Holocausto como o antissemitismo raramente são analisados nos livros didáticos e, quando aparecem, entram como adendo da Segunda Guerra Mundial.

“Normalmente, quando os professores falam sobre a guerra ou sobre a Alemanha nazista têm poucas informações sobre esse contexto. A ideia é romper o silêncio e promover o debate sobre o Holocausto enquanto genocídio singular e crime contra a humanidade”, disse a pioneira nos estudos sobre o antissemitismo na Era Vargas, título do seu livro publicado em 1988.

Memória oral

Além do acervo digitalizado, o portal Arqshoah terá arquivos de áudio e vídeo. Até o momento foram gravados mais de 30 depoimentos com sobreviventes ou seus filhos.

“Alguns dos entrevistados haviam gravado depoimentos para a Survivors of the Shoah Visual History Foundation (Fundação dos Sobreviventes da História Visual do Shoah), fundada em 1994 pelo cineasta norte-americano Steven Spielberg, cujas cópias procuramos recuperar. Novos registros estão sendo gravados sob um outro olhar, sendo esse mais um segmento coordenado pelo professor Pedro Ortiz e pela historiadora Rachel Mizrahi, ambos pesquisadores do LEER”, disse Tucci Carneiro.

“Vamos também tornar públicos os processos de naturalização dos judeus que entraram no Brasil de 1933 a 1950, documentos sob a guarda do Arquivo Nacional e que vão inaugurar a segunda fase do projeto, em 2010. Segundo a legislação brasileira, somente após dez anos os estrangeiros poderiam se naturalizar brasileiros. A partir do passaporte anexado ao processo é possível identificar o diplomata que emitiu o visto e a estratégia de entrada no Brasil, burlando as circulares antissemitas. Além disso, a naturalização exige atestados de trabalhos e, no caso dos intelectuais, eles anexavam também artigos e livros para mostrar sua produção, como ocorreu com o crítico e historiador de arte Otto Maria Carpeaux”, contou.

A difícil trajetória daqueles que conseguiram entrar no Brasil (com documentos falsos ou como católicos) pode ser conhecida através de alguns links, dentre os quais o do “Inventário de Sobreviventes” e “Artistas & Intelectuais”. “Pode também ser vislumbrado um conjunto de obras do pintor Lasar Segall, que entre 1936 e 1947 denunciou a a brutalidade praticada pelos nazistas contra os judeus”, disse Tucci Carneiro.

Mais informações: http://www.arqshoah.com.br/ ou arqshoah@usp.br.

Fonte: Agência FAPESP
http://www.agencia.fapesp.br/materia/11287/especiais/historia-de-sobreviventes.htm

terça-feira, 21 de abril de 2009

Discurso de líder do Irã 'preocupa' Brasil, diz Itamaraty

O Ministério das Relações Exteriores emitiu nesta terça-feira um comunicado lamentando as declarações contra Israel feitas pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, durante uma conferência antirracismo da ONU na segunda-feira.

Diversos diplomatas de países europeus abandonaram a reunião quando Ahmadinejad mencionou Israel e disse que imigrantes judeus da Europa e dos Estados Unidos foram enviados ao Oriente Médio para estabelecer "um governo racista".

"O governo brasileiro tomou conhecimento, com particular preocupação, do discurso do presidente iraniano que, entre outros aspectos, diminui a importância de acontecimentos trágicos e historicamente comprovados, como o Holocausto", disse o Itamaraty.

"O governo brasileiro considera que manifestações dessa natureza prejudicam o clima de diálogo e entendimento necessário ao tratamento internacional da questão da discriminação."

A nota também destaca que "o Brasil atribui grande importância à Conferência de Revisão de Durban sobre Discriminação Racial, que ocorre em Genebra entre 20 e 24 de abril. Para alcançar os objetivos da Conferência, o engajamento de todos no diálogo internacional é crucial", afirma a nota do Itamaraty.

Segundo o Ministério de Relações Exteriores, o governo brasileiro vai aproveitar a visita de Ahmadinejad ao Brasil, em maio,"para reiterar ao governo iraniano suas opiniões sobre esses temas".

A delegação brasileira na conferência da ONU é chefiada pelo ministro-chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção daIgualdade Racial, Edson Santos.

Obama

Também nesta terça-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lamentou as declarações de Ahmadinejad, dizendo que elas "não ajudam, são prejudiciais".

"Eu acho que na verdade isso fere a posição do Irã no mundo", disse Obama.

O mandatário americano, entretanto, disse que as declarações não mudam a estratégia adotada pelos Estados Unidos nas negociações pelo Irã, baseada em uma "diplomacia direta" e "sem que muitas opções sejam retiradas da mesa".

"Nós vamos continuar buscando a possibilidade de melhores relações e de uma resolução para algumas das questões críticas em que tem havido diferenças (entre os dois países), principalmente no tocante à questão nuclear."

Fonte: BBC Brasil
http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2009/04/21/discurso+de+lider+do+ira+preocupa+brasil+diz+itamaraty+5658914.html

Breve comentário: como tem gente que vive fora do país, pode não estar a par da visita que o Armagedonejad, ops, Ahmadinejad fará ao Brasil. Em maio, como diz a matéria, ele estará fazendo uma visita oficial ao Brasil. Espera-se que ele não faça uso da vista ao país pra fins políticos a fim de promover sua agenda política conflituosa e obsessiva(negação do Holocausto e acirramento de conflitos no Oriente Médio) no Brasil.

domingo, 5 de outubro de 2008

Fascínio latino pelo nazismo - Livro

Livro revela relação de amor e ódio entre as Américas e o III Reich

Fascínio latino pelo nazismo
Leonardo Valente

Livro revela relação de amor e ódio entre as Américas e o III Reich
O cenário é a Europa entre as duas grandes guerras. De um lado, diplomatas de toda a América Latina radicados no velho continente enviavam cartas para seus governos, fascinados com o surgimento de regimes totalitários, com a organização desses governos e com a impressionante recuperação econômica, especialmente da Alemanha, após um período de devastação. Do outro, partidários do nazismo e do fascismo, em demonstrações de que consideravam os representantes daquela distante porção pobre da América cidadãos de, no mínimo, quinta categoria, espancavam diplomatas, os ridicularizavam e os menosprezavam em eventos oficiais.

Essas histórias de admiração não correspondida da diplomacia latino-americana pelos regimes de Adolf Hitler e Benito Mussolini - praticamente desconhecidas até mesmo de historiadores mas que ajudam a compreender o comportamento das chancelarias latino-americanas naquele período - são o tema do livro "Missão no Reich - Glória e covardia dos diplomatas latino-americanos na Alemanha de Hitler", (Ed. Odisséia), do pesquisador e jornalista Roberto Lopes, do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação do Departamento de História da USP, e que chega às livrarias na terça-feira. Lopes teve acesso a documentos que mostram um universo de informações até então desconhecidas, e que muitas vezes foram censuradas, sobre a atuação das autoridades latino-americanas diante do crescimento do nazismo e do fascismo, e posteriormente diante da corrida armamentista e da perseguição aos judeus.

- Comecei minha pesquisa em 1978, quando descobri em Londres um livro que tinha uma versão muito fiel da Batalha do Rio da Prata, uma das primeiras batalhas navais da Segunda Guerra Mundial, em 1939, em que um navio alemão foi protegido pelo governo uruguaio por 72 horas. O episódio foi uma saia justa para a diplomacia uruguaia e me fez refletir sobre o seguinte fato: se os uruguaios agiram dessa forma em seu país, como não estariam agindo na Europa? Desde então, não parei mais de pesquisar. Passei três anos viajando pelo mundo e recolhendo documentos que mostram como os diplomatas latino-americanos se comportaram na Europa naquele período, e também como eram tratados - disse Lopes, revelando que a informações encontradas renderam material suficiente para outros futuros quatro livros.

O desdém das autoridades alemãs com os representantes latino-americanos é notório em vários relatos. Em Bremem, em 1928, cinco anos antes da chegada de Hitler ao poder, um cônsul brasileiro chegou a tomar uma surra de milicianos do nazismo, por ter sido confundido com um judeu. Outros diplomatas da região passaram pela mesma situação.
- Desde 1928 observamos vários episódios de agressões a diplomatas latino-americanos, num sinal do que estaria por vir. Ainda sim, parece que esses casos não tiraram o fascínio desses representantes em relação aos regimes que ascendiam ao poder. No caso do Itamaraty, todas as informações sobre incidentes e surras eram omitidas da imprensa e devidamente abafadas, sem que por aqui alguém soubesse o que estava acontecendo - conta o pesquisador.

Em eventos oficiais, a discriminação também era notória. Em 1933, durante uma conferência internacional do trabalho, na Suíça, um sindicalista alemão próximo de Hitler, chegou a chamar os representantes sul-americanos de idiotas. Ministros e embaixadores da região também eram vistos por muitas autoridades do Reich como seres exóticos

- Num jantar oficial, os alemães ficaram horrorizados ao verem um ministro boliviano chegar de mãos dadas com duas mulheres, sua esposa e a irmã dela. O que era normal para os bolivianos, foi relatado como algo exótico e desagradável aos olhos do Reich - disse Lopes.

Apesar do descrédito das autoridades alemãs, os comunicados das embaixadas latinas sobre o que ocorria no país quase sempre eram positivos. Algumas representações, segundo Lopes, também colaboravam sistematicamente com as autoridades nazistas, impedindo a entrada de judeus em seus países.

- Muitas representações dificultavam a emissão de vistos para judeus e, quando emitiam, avisavam as autoridades alemãs sobre o que estava ocorrendo - disse.
Mas, apesar da humilhação, muitos latino-americanos favoreciam os interesses nazistas. Um exemplo, segundo Lopes, era o engajamento do cônsul chileno em Hamburgo, Cruchaga Ossa, na operação de propaganda do III Reich, destinada a convencer o mundo, em 1933, de que deveria ser permitido que a Alemanha se rearmasse, como fator de garantia da estabilidade política da Europa.

- Outro ponto importante da pesquisa é que ela pulveriza a tese de alguns historiadores de que Hitler e seus camaradas desconheciam ou ignoravam o potencial econômico da América Latina. Prova de que Hitler já ouvira falar bastante do Brasil, por exemplo, foi a abertura que ele deu, em 1928, à aproximação do cônsul do Brasil em Munique, Vinício da Veiga, que tentou, inclusive, trazer o líder do Nacional-Socialismo ao Brasil, sem sucesso - disse o autor.

Somente a partir de 1935, com a remilitarização ostensiva da Alemanha, alguns países latino-americanos passaram a ver o que acontecia na região com outros olhos:

- Temos documentos de 1938, pouco antes da guerra, que mostram a preocupação do Itamaraty sobre as relações com a Alemanha. A partir de então, a percepção de muitos governos mudou. Mas é importante ressaltar que nem de todos. A Argentina, por exemplo, continuou bem próxima aos nazistas. Os laços do país com o governo de Hitler eram bem mais fortes. O ministro da Agricultura do III Reich, por exemplo, nasceu em Buenos Aires e fazia parte do círculo íntimo do Füher.

Depois de "Missão no Reich", o próximo volume, previsto para 2009, tem o título "1939: o ano das esperanças mortas", e descreve como os diplomatas reportaram para as suas chancelarias a crise entre Berlim e Varsóvia que desaguou na invasão da Polônia pelos alemães em 1º de setembro de 1939, e no envolvimento de Inglaterra e França no conflito que viria a se transformar na Segunda Guerra. O volume conta, entre outros casos, a venda desenfreada pelos consulados bolivianos de vistos a judeus desesperados e a determinação das autoridades nazistas e fascistas obrigando os países latino-americanos a demitirem seus cônsules honorários judeus. O terceiro volume retrata os anos de 1940 e 1941, e o auge da dominação militar nazista na Europa. Já o quarto abarca a fase de declínio do nazifascismo na Europa, e o quinto retrata as investigações do FBI e dos serviços secretos Aliados sobre o envolvimento de diplomatas latino-americanos em espionagem a favor dos alemães.

Fonte: O Globo, MRE(Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Resenha de Imprensa Nacional)
http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe3.asp?ID_RESENHA=501375

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Eventos no Rio marcam Dia de Lembrança das Vítimas do Holocausto

Uma série de atividades no Palácio Itamaraty, no centro do Rio, marca o Dia Internacional de Lembrança das Vítimas do Holocausto, nesta sexta-feira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa nesta manhã da inauguração da exposição "Holocausto Nunca Mais", organizada pelo Museu Judaico do Rio.

O Dia Internacional de Lembrança das Vítimas do Holocausto, como ficou conhecido o extermínio de milhões de judeus e outros grupos considerados indesejados pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial, é celebrado oficialmente em 27 de janeiro. Neste ano, como cairá em um domingo, as atividades foram antecipadas no Brasil.

A data foi instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2005 para lembrar o dia da libertação dos prisioneiros do campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polônia, ocorrida em 27 de janeiro de 1945.

As Nações Unidas adotaram nova resolução, em janeiro do ano passado, condenando as declarações que negam a ocorrência do holocausto. O documento, aprovado por consenso por mais de cem países, teve o Brasil como co-patrocinador.

A exposição "Holocausto Nuca Mais" ficará aberta à visitação até 15 de fevereiro, no Palácio Itamaraty (Av. Marechal Floriano, 196, no centro do Rio), de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h30.

Fonte: Agência Brasil(25.01.2008)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u366906.shtml

Lula diz que Holocausto deve ser lembrado como exemplo de intolerância

CIRILO JUNIOR
da Folha Online, no Rio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira, em cerimônia referente ao Dia Internacional de Lembrança das Vítimas do Holocausto, no Rio, que a memória do holocausto não deve ser apagada. Lula ressaltou que o episódio deve ser passado aos mais jovens como um exemplo de intolerância e desrespeito aos direitos humanos.

"Participo deste encontro pelo terceiro ano consecutivo, pois acho fundamental rememorar o aparato de terror empreendido pelos nazistas. Lembranças tristes e trágicas como o holocausto não devem ser apagadas e, sim, transmitidas a outras gerações", disse o presidente, durante a abertura da exposição fotográfica "Holocausto Nunca Mais", organizada pelo Museu Judaico do Rio, no Palácio Itamaraty, no centro da capital fluminense.

O Dia Internacional de Lembrança das Vítimas do Holocausto, como ficou conhecido o extermínio de milhões de judeus e outros grupos considerados indesejados pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial, é celebrado oficialmente em 27 de janeiro. Neste ano, como cairá em um domingo, as atividades foram antecipadas no Brasil.

Lula reverenciou todas as pessoas que lutaram na 2ª Guerra Mundial, com destaque especial ao brigadeiro Rui Moreira Lima, que participou do evento. O presidente disse ainda que seu governo vem se empenhando para ampliar a garantia dos direitos humanos. Ele citou como exemplo o fato de, no Brasil, os crimes de racismo serem inafiançáveis.

"Esse ano haverá um grande mutirão de debate por todo o país para que haja uma reflexão de toda a sociedade. Somos um país de índole pacífica e tolerante. Se fosse possível, bateria na porta de cada um para que todos sejamos tolerantes e deixemos a violência de lado", disse. "É possível ter um país mais pacífico, acreditando na utopia da paz".

Após a cerimônia no Palácio Itamaraty, o presidente Lula almoça com o governador do Rio Sérgio Cabral. O retorno de Lula para Brasília está previsto para as 15h.

Fonte: Folha Online(Brasil, 25.01.2008)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u366936.shtml

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