AS DEPORTAÇÕES
Dusan Batakovic |
Em entrevista ao jornal alemão Neue Ordnung, Pavelic declarou: "Quanto aos sérvios, houve confusão nas próprias noções. Não há muitos sérvios de verdade na Croácia: em grande parte, trata-se de croatas de religião sérvio-ortodoxa e Vlachs. Este problema será resolvido da melhor maneira, da qual uma será a mais apropriada. De acordo com as autoridades alemãs, 250.000 sérvios serão enviados para a Sérvia, enquanto os outros podem ficar aqui." (36) Nesta entrevista, Pavelic simplesmente repetiu a teoria favorita, mas impossível de se provar, e adiantada por Starcevic Ante, de que os sérvios ortodoxos na Croácia são, em sua origem, ou croatas ou Vlachs, pastores romenos em transumância nos Alpes Dináricos e que, ao longo dos séculos, teriam se tornado sérvios ao se converterem à religião ortodoxa. A fim de que a memória dos sérvios se desvanecesse, a Ustasha, no início de 1942, criou uma Igreja Ortodoxa Croata sob o comando de um monge emigrante russo chamado Germogen.
A emigração para a Sérvia não poderia ser implementada de acordo com planos de Pavelic por causa da oposição das autoridades alemãs na Sérvia. Até 25 de agosto de 1941, 13.343 sérvios foram 'legalmente' deportados para a Sérvia. Em 22 de setembro de 1941, os alemães disseram que a emigração deveria acabar e que não aceitaria que os sérvios ficassem em alguns determinados campos de concentração, cerca de 3.200 pessoas nos campos de Bjelovar, Slavonska Pozega e Camprag. No entanto, as deportações dos "ilegais" continuou, mesmo no coração dos meses que se seguiram. Para o transporte legal e ilegal, a Ustasha transferiram 118.000 sérvios para a Sérvia antes do final de 1941. (37)
A CONVERSÃO AO CATOLICISMO
O Alto Clero da Igreja Católica havia estabelecido a mais estreita cooperação com as autoridades Ustashis. No seu comando estava o Arcebispo de Zagreb, bispo Alojzije Stepinac, que saudou a criação do novo Estado e deu sua bênção a Ante Pavelic. A maioria dos Bispos Católicos (bispo Saric de Sarajevo, bispo Bonefacic de Split, bispo Pusic de Hvar, bispo Srebrenic de Krk, bispo Buric de Senj, bispo Aksamovic de Djakovo, bispo Garic de Banja Luka, bispo Mileta de Sibenik) têm trabalhado ativamente na propagação do regime Ustasha, e um número de padres e monges vestidos com uniformes ustashis, especialmente os franciscanos da Bósnia, não escondiam o seu envolvimento em crimes. (38)
A Secretaria de Estado para a Renovação - O "Setor religioso" planejou a conversão forçada de um milhão de sérvios ao catolicismo. As disposições legais da lei quanto à fé católica proibia conversões forçadas oficialmente, mas as pressões e temores de retaliação foram os principais 'motivos' de 'pedidos' para se juntar à nova religião. O frade franciscano Dionizije Jurcev, que liderou até novembro de 1941 as ações para a conversão ao catolicismo, disse em um discurso: "Neste país, ninguém além dos croatas pode viver, porque este país é croata e aqueles que não desejam se converter sabemos para onde enviá-los. (...) Hoje, não há pecado em matar até mesmo uma criança pequena de 7 anos, que por acaso dificulte nosso movimento Ustasha (...) Esqueça que eu uso hábitos de sarcedote; sei que posso, quando necessário, pegar uma arma e matar, desde o berço, tudo o que se oponha ao Estado e autoridades croatas." (39)
O ministro ustashi Mirko Puk enfatizou que o NDH "apoia a conversão dos Greco-Orientais para a religião católica, porque essa conversão é que os retorno à religião ancestral", e concluiu dizendo que quem não quer "por qualquer motivo, reconhecer esse fato histórico, deverá sair do território desse Estado." (40) Sempre que as conversões não eram bem sucedidas, prisões e massacres continuaram. Em fevereiro de 1942, as unidades Ustashis realizaram massacres na região de Banja Luka, matando cerca de 2.300 sérvios. E até mesmo ocorreram casos em que os sérvios se tornaram católicos foram levados para os campos. No final de maio de 1942, todos os sérvios de Bosanska Dubica foram levados para um campo de concentração, mesmo aqueles que haviam se convertido ao catolicismo. De acordo com dados disponíveis, cerca de 240.000 sérvios foram objetos de conversões forçadas entre 1941 e 1942. (41)
O governo Ustasha que foi enviado ao Vaticano, Dr. Rusinovic, num relatório datado de 09 de maio de 1942 "fez saber a Zagreb que a Santa Sé estava de posse de pelo menos oito mil fotografias dos massacres de sérvios ortodoxos". O Cardeal francês Eugene Tisserant "indignou-se contra o desaparecimento de 'trezentos e cinquenta mil sérvios' e o comportamento lamentável dos franciscanos da Bósnia-Herzegovina." (42)
O NÚMERO DE VÍTIMAS
Até o momento não temos como determinar com precisão o número definitivo de sérvios que foram vítimas de terror da Ustasha no Estado Independente da Croácia, porque não foram sistematicamente realizadas pesquisas em todos os lugares onde os crimes foram cometidos. As estimativas variam entre 300.000 e 700.000. Se o montante de 35.000 judeus e 25.000 ciganos não é contestado, o número de vítimas sérvias durante várias décadas é tema da manipulação política, porque a redução do tamanho do Holocausto sérvio tende a ser completamente negado ou minimizado para colocá-lo na vingança que foi feita sobre os muçulmanos no leste da Bósnia e do massacre dos Ustashis capturados no final da guerra. Robert Fisk recentemente salientou que a limpeza étnica dos sérvios na Bósnia era de dimensões colossais, e que ele, pessoalmente, teve a oportunidade de ler arquivos em Banja Luka de dezenas de milhares de registros originais da Ustasha. (43)
NOTAS
(34) B. Krizman, op. cit., p. 127.
(35) F. Jelic-Butic, op. cit. p. 172.
(36) Neue Ordnung, Berlin, 24. août 1941.
(37) F. Jelic-Butic, op. cit., pp. 170-171; B. Krizman, op. cit., p. 127.
(38) V. Novak, op. cit., pp. 450-700; F. Jelic-Butic, op. cit., pp. 214-221.
(39) V. Novak, op. cit., p. 627.
(40) F. Jelic-Butic, op. cit., p. 175. Cf. Dokumenti o protunarodnom radu i zlocinima jednog dijela katolickog klera, Zagreb 1946, passim; La nouvelle documentation: Dragoljub R. Zivojinovic-Dejan Lucic, Varvarstvo u ime Hristovo. Prilozi za Magnum Crimen, Beograd 1988, passim.
(41) F. Jelic-Butic, op. cit., p. 175. Cf. Sima Simic, Prekrstavanje Srba u Drugom svetskom ratu, Titograd 1958, passim.
(42) X. de Montclos, op. cit., p. 178.
(43) Robert Fisk, 'Cleansing Bosnia at the Camp called Jasenovac', The Independent, August 15, 1992. Cf. Richard West, 'Convert a third, kill a third', The Guardian, August 20,1992.
Uma versão curta deste artigo foi publicado em: Hérodote, N° 67, Paris 1992, pp. 70-80.
Dusan T. Batakovic
E-mail: dtbatak@eunet.yu
Copyright © 1997 Dusan T. Batakovic
Fonte: Site do historiador Dusan T. Batakovic
Texto original: Le génocide dans l'état indépendant croate 1941-1945
Tradução: Roberto Lucena
Anterior >> O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945 - Parte 2
Próximo >> O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945 - Parte 1
Ler também:
Ustasha (Blog avidanofront)
Ustasha (Blog holocausto-doc)