sábado, 5 de abril de 2008

O Holocausto: verdade e preconceito - parte 3

Patologia reatualizada

Negar o Holocausto é impossível, embora os esforços da indústria negacionista que opera há 30 anos, metódica e regularmente, nos principais países do mundo. Mas não é apenas no negacionismo que se percebe o renascimento do anti-semitismo. O investimento simultâneo na humanização de Hitler (e de seu regime) e na satanização dos judeus são os extremos da heterofobia anti-semita. Entre tais extremos, há sentimentos mais ou menos intensos, que podem ir da antipatia à aversão, do embaraçado pré-conceito ao preconceito aberto, que não se restringem a fanáticos. Por isto a indústria da mentira gera frutos e não são poucas as pessoas que continuam acreditando que, de alguma forma, os judeus estão no centro causal dos problemas do mundo.

Também por isto, mais fortalecida fica a idéia anti-semita a ponto de ser integrada em programas políticos radicais, de direita, esquerda ou fundamentalistas religiosos, como de fato tem ocorrido na Europa, EUA, Argentina e Brasil, assim como na maior parte dos países do Leste Europeu e nas nações muçulmanas. Os negacionistas repetem que, na década de 40, a Alemanha foi levada à guerra pelos judeus; os campos de extermínio não existiram e o regime hitlerista jamais cometeu as atrocidades que lhe são atribuídas.

Para alguém razoavelmente esclarecido, tais argumentos não passam de chicana repulsiva, mas convém lembrar do alerta de Hannah Arendt: não é a estupidez da idéia ou a desfaçatez dos argumentos, mas sua existência política e o fato dela ser acreditada por muitos que deve nos preocupar. O anti-semitismo, em si mesmo, é um tipo de reducionismo persecutório e racista, mas isso não impediu que se estabilizasse como modalidade amplamente difundida de preconceito ou se materializasse na política, mesmo antes que qualquer coisa parecida com o Holocausto fosse sequer imaginada.

O anti-semita extrovertido e ideologicamente ativo crê na força persuasiva de uma aparição projetiva de sua ideologia. Aparição que usa para tentar convencer ou persuadir pela repetição. Nos anos 50, Hannah Arendt escreveu que o anti-semitismo era uma ofensa ao bom senso, devido à sua condição paradoxal de motivo mistificador insignificante em meio a tantas questões políticas vitais (Arendt: 1998:23). A constatação, sem dúvida válida também hoje, diz respeito a uma ideologia que depende exclusivamente da aparência que seus propagadores produzem, sejam eles demagogos simplesmente ou demagogos fanatizados, que crêem nas mentiras que divulgam. Os anti-semitas autênticos cristalizam a fraude como verdade e fazem dela um "pensamento estereotipado", que dá início à heterofobia ou antagonismo irracional, a que se referiram Marie Jahoda e Nathan W. Ackerman. (1969:26-7).

Por essas discrepâncias que existem na sociedade, muito se sabe e muito ainda se descobre sobre o Holocausto, ao nível da pesquisa sociológica, historiográfica e da reflexão filosófica. O assunto é muito investigado nas universidades e centros de pesquisa da Europa, EUA e Israel. Entretanto, as pessoas em geral são ignorantes sobre o tema, inclusive no meio universitário.

A indiferença intelectual e acadêmica quanto ao negacionismo e, pior, uma certa complacência desses meios com respeito a formas de anti-semitismo que freqüentam meios políticos mais à esquerda é sintomática. Há exceções, mas a regra é esta. Como conseqüência ainda que indireta desse desprezo e dessa complacência, atualmente não se estranha mais que, dependendo da situação e do lugar, não seja difícil dizer que os judeus desejam se apropriar da condição de vítimas do morticínio ou que o número de judeus assassinados é comparativamente exagerado quando confrontado com o número de vítimas das atrocidades cometidas pelos nazistas. Esse tipo de falsidade não é raro e, atualmente, tem sido requisitado por um cada vez mais aceitável anti-sionismo.
Assim, a singularidade do negacionismo reprisa a singularidade do anti-semitismo e se configura como um dogmatismo sociológico. Em vista da ignorância média das pessoas sobre o Holocausto, esse dogmatismo ocupa as margens da institucionalidade acadêmico-científica, como pretensa versão da História, reveladora de "questionamentos e fatos novos" e, desse modo, chega a ser vista como plausível por muitos, como demonstram o crescimento de uma direita radical na Europa e, obviamente, a sua recepção por setores ideologicamente extremistas de esquerda.

Melanie Philips, colunista do Daily Mail, em artigo publicado em 1988 no The Jewish Quarterly (citado por Zygmunt Bauman)[6], expressou o sentimento que recai sobre indivíduos que afirmam seu judaísmo nos meios políticos da esquerda atual, menos instruídos no que diz respeito à condição judaica e seus traços culturais ou nacionais: "Tenho grande prazer em dizer aos meus amigos e conhecidos socialistas" – afirmou ela – "que 'sou de uma minoria étnica' e vê-los se enrolando, histéricos. Como pode ser? Sou poderosa. E a impressão dos socialistas é de que os judeus estão em posição de poder. Eles estão no governo, não estão? Eles dirigem coisas, comandam a indústria, são proprietários de terras" (Phiilips, apud Bauman, 1998: 256, n. 12).

A impressão a que Melanie Philips se referia não é apenas de certos tipos de socialistas, ou de quem têm a tendência histórica de ver os judeus como estamento econômico. O sentimento possui características de um fenômeno multicausal, é socialmente espalhado e, em certa medida, chega a ser até "aceitável". Aqueles que sustentam a negação do Holocausto inegavelmente contam com a eficácia deste preconceito, ainda que subjacente e de difícil detecção, quando não estimulado por alguma ideologia específica.

Essa multicausalidade é própria da condição judaica na modernidade, que se revestiu de relevância política despropositada e assumiu contornos de estereótipo persistente, de uma nova tipologia de discriminação intelectual, ideológica e racial, ativa tanto à direita como à esquerda do espectro político, desde o século XIX.

Fonte: Revista Espaço Acadêmico, Nº43, Dezembro de 2004, Mensal, ISSN 1519.6186
Autor: Luis Milman(Doutor em Filosofia, professor da UFRGS)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

O Holocausto: verdade e preconceito - parte 2

O crime e a barbárie

No Julgamento de Nuremberg, (20 de novembro de 1945 a 01 de outubro de 1946), foi usado pela primeira vez, pela acusação, e consolidado pelas sentenças impostas aos hierarcas nazistas condenados, o termo "genocídio", cunhado pelo jurista polonês Raphael Lemkin, que morreu em 1959. Lemkin, judeu, na faixa dos 30 anos, fugiu da Polônia quando seu país foi ocupado, após combater na resistência polonesa durante seis meses.

Ferido, escapou para a Suécia, onde afirmou uma carreira universitária na área de direito e relações internacionais, iniciada ainda na Polônia. Em 1941, foi convidado a lecionar nos Estados Unidos, onde continuou a trabalhar em estudos sobre a tipificação jurídica e a responsabilização criminal de assassinatos em massa perpetrados por estados contra populações civis. Lemkin decidira, nos anos 30, estudar o assunto devido ao genocídio armênio. Por suas pesquisas, e então um respeitado jurista e professor da Duke University e da Yale University, foi designado conselheiro legal de Robert Jackson, Promotor-Chefe dos Estados Unidos, na Direção Para Persecução Criminal do Tribunal Militar de Nuremberg. Lemkin também teve participação destacada na redação da Convenção sobre Genocídio, aprovada pela Assembléia Geral da ONU, em 8 de dezembro de 1948, dois antes da aprovação da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Lemkin cunhou o termo "genocídio", num estudo realizado em 1943 e publicado como livro em 1944:
Novas concepções solicitam novos termos. Por "genocídio" queremos significar a destruição de uma nação ou de um grupo étnico. Essa nova palavra, cunhada pelo autor para denotar uma antiga prática em seu moderno desenvolvimento, é formada pela antiga palavra grega genos (raça, tribo) e a palavra latina cide (assassinato), assim correspondendo, em sua formação a palavras tais como tiranicídio, homicídio, infanticídio, etc. Falando genericamente, o genocídio não significa necessariamente a destruição imediata de uma nação, exceto quando acompanhada de assassinatos em massa de todos os membros de uma nação. Ela pretende antes significar um plano coordenado, com distintas ações, que possui a intenção de destruir as fundações essenciais da vida de grupos nacionais, com o propósito de aniquilação desses grupos. Os objetivos de um plano desse tipo seria a desintegração das instituições políticas e sociais, da cultura, da linguagem, dos sentimentos nacionais, da religião e da existência econômica de grupos nacionais, e a destruição a segurança pessoal, da liberdade, da saúde, da dignidade e mesmo da vida dos indivíduos que pertencem a tais grupos. O genocídio é direcionado contra o grupo nacional como entidade, e as ações envolvidas são dirigidas contra indivíduos, não em sua capacidade individual, mas enquanto membros de um grupo nacional (Lemkin, 1944:79).
O tribunal determinou que "os acusados conduziram um genocídio sistemático e deliberado – o extermínio de grupos raciais e nacionais - contra poloneses, populações civis de certos territórios ocupados, com o propósito da destruição de raças particulares e classes de pessoas e grupos nacionais, raciais ou religiosos, particularmente judeus, poloneses, ciganos e outros".

O termo cunhado por Lemkin foi, pela primeira vez, usado nessa sentença. Mas o que deve ser compreendido, para além dessa tipificação, são as características singulares do genocídio praticado contra os judeus. Para tanto, é fundamental fazer uma observação: o Holocausto não diz respeito apenas aos judeus. Ele é parte da história humana e seu incidência na história demanda uma capacidade de análise crítica sobre os alicerces da própria civilização moderna e seus valores.

O termo Holocausto traduz, por tradição, embora erroneamente, a palavra hebraica Shoah, (literalmente catástrofe ou hecatombe). Perceber as características singulares da Shoah e de suas conseqüências para a própria existência dos judeus como povo é uma coisa. Afirmar que os judeus foram as únicas vítimas de genocídio cometido pela Alemanha nazista não passa de uma infeliz fabulação e não sei de ninguém que tenha sustentado tamanho disparate. Não esqueçamos: houve genocídios anteriores, no século XX, praticados pelos curdos, persas e turcos contra os assírios (entre 1914 e 1918), pelos turcos contra os armênios (entre 1915 e 1923) e pelos belgas no Congo (entre 1885 e 1920), assim como matanças de ocupação, como a praticada por Mussolini na Etiópia.

Os nazistas tiveram predecessores, sem dúvida. Mas se especializaram nessa atrocidade, porque a tornaram essencial para sua geopolítica racial, fundamentada na agressão militar, numa obstinada determinação de eliminar um povo inteiro e na conquista e "arianização" territorial. Dizimaram massivamente, além de judeus, pessoas de "raças" que consideravam inferiores.

Quanto aos ciganos, a outra raça a ser eliminada da Europa, muito se tem estudado e pesquisado. Em Auschwitz-Birkenau havia três crematórios funcionando diariamente, capazes de incinerar 10 mil seres humanos por dia. Parte das vítimas entre os ciganos foi assassinada nesse campo de morte, outra parte em fuzilamentos, enforcamentos, e atrocidades, como as cometidas contra pessoas (crianças, sobretudo) transformadas em cobaias do staff da ciência médica do 3º Reich, em suas "pesquisas e experiências". Cerca de 250 a 500 mil ciganos foram mortos na Europa ocupada pelos nazistas.

Também os poloneses foram vítimas diferenciadas de extermínio. 4 milhões deles foram dizimados, a imensa maioria de civis. A intelectualidade polonesa foi exterminada, em assassinatos que se seguiram à ocupação do país, em campos de concentração e, depois, nos campos de morte, que começaram a operar na no final de 1941. Centenas de milhares morreram ao serem deslocados, quando seu país foi conquistado e dividido em duas partes - a ocidental, incorporada ao Reich, e a oriental, rebatizada como Governo Geral. A parte ocidental foi despolonizada, e destinada à colonização ariana. Poloneses do território incorporado ao Reich foram progressivamente transferidos para o Governo Geral, onde morreram aos milhares em condições sub-humanas.

Outros grupos humanos foram alvos dessas matanças de proporções inimagináveis. Milhares de Testemunhas de Jeová, por convicção ideológica, homossexuais, prisioneiros políticos e opositores do nazismo, doentes mentais. membros da resistência dos países ocupados; milhões de civis russos e ucranianos – afora os soldados em confrontos militares -, prisioneiros de guerra, em campos de trabalho e de extermínio, além de dezenas de milhares de sérvios, após a invasão da Iugoslávia.
Na Europa Ocidental, onde a ocupação alemã tinha características distintas, a política de extermínio foi praticada apenas contra os judeus e membros da resistência. A hecatombe provocada pelo nazismo - cujo único instrumento de ação política eram o terror e a matança -, sem dúvida, abalou os alicerces da humanidade. Na guerra do Pacífico, o expansionismo japonês foi marcado pela insanidade assassina, causando a morte de 15 milhões de chineses.

Singularidade

O que torna, afinal, o Holocausto, uma catástrofe singular. Responder a essa questão não é tarefa difícil, à primeira vista. No entanto, é preciso fixar limites para a compreensão da categoria da singularidade, quando aplicada a matanças em larga escala, dos quais os judeus, no século XX, não foram as únicas vítimas. Logo, singularidade se distingue de unicidade ou exclusividade. Armênios e assírios foram exterminados no início do século. Bósnios foram alvos de matança coletiva na década de 90. Tutsis de Ruanda e cristãos e animistas do Sudão, da mesma forma, foram exterminados aos milhões pela elite muçulmana sudanesa. O extermínio de chineses na era de Mao e de russos, ucranianos, georgeanos na era de Stalin são hoje suficientemente conhecidos.

É justamente nesse contexto que o genocídio judeu se singulariza. Primeiro, porque contra os judeus foram aplicados os métodos jamais imaginados de extermínio; segundo, porque os judeus foram destinados a desaparecer completamente como povo[4]; terceiro; porque contra os judeus, os nazistas travaram uma guerra racial, sem qualquer outro objetivo que não fosse o de exterminá-los completamente; quarto, porque nunca se configurou uma burocracia e uma indústria voltada para a matança de seres humanos tal como a construída pelos nazistas; quinto: não havia salvação dessa matança, que ocorreu em fases distintas e foi sendo paradoxalmente incrementada na medida em que os alemães percebiam que não tinham mais qualquer chance de vencer a guerra.

Em menos de quatro anos, quase 6 de cerca de 12 milhões de pessoas pertencentes a um grupo étnico-cultural simplesmente foram assassinadas em massa. 4.110 por dia, em média, sem distinção entre homens, mulheres, jovens crianças e velhos. Discute-se, entre historiadores, quando a eliminação total da população judaica foi decidida e tudo indica que Hitler e seus hierarcas tomaram essa decisão logo após a ocupação da Polônia. O genocídio foi iniciado na segunda metade de 1941 e sua implementação foi tema de deliberação específica, como demonstra o documento classificado como Geheime Reichssache (assunto secreto do Reich), descoberto por assistentes da Promotoria dos EUA, em março de 1947, e utilizado como prova nos julgamentos de criminosos de guerra que se seguiram ao Julgamento de Nuremberg, inclusive no julgamento de Adolf Eichmann.

O documento ficou conhecido como o "Protocolo de Wanssee" e integrava um conjunto de 18 atas (as demais 17 jamais foram recuperadas) lavradas durante uma reunião de 15 altos funcionários do Reich - entre eles Adolf Eichmann, que o secretariou - com Reinhard Heydrich, então o segundo em comando no Sicherheitspiolizei (RSHA - Serviço de Segurança Nacional) e também encarregado dos territórios tchecos ocupados. Heydrich só era subordinado a Heinrich Himmler, Chefe das SS (a Schutztaffel), que se reportava apenas a Hitler.

A reunião foi realizada em 20 de janeiro de 1942, num castelo às margens de um lago Wanssee, a sudoeste de Berlim[5]. O assunto: operacionalizar, em todos os níveis administrativos e logísticos, a solução final para a questão judaica, que já havia iniciado com a construção dos campos de extermínio em Chelmno e Belzec. Em Chelmno, em dezembro de 1941 foram mortos por gás os primeiros judeus. O genocídio tomaria as proporções que hoje conhecemos quando os alemães invadiram a União Soviética, com o propósito de varrer do mundo o bolchevismo e o judaísmo, que eles tinham como irmãos políticos.

Fonte: Revista Espaço Acadêmico, Nº43, Dezembro de 2004, Mensal, ISSN 1519.6186
Autor: Luis Milman(Doutor em Filosofia, professor da UFRGS)

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O Holocausto: verdade e preconceito - parte 1

Desde 15 de setembro de 1935, quando foram decretadas a Lei de Cidadania do Reich, a Lei de Proteção do Sangue e da Honra Alemãs e o Primeiro Regulamento para a Lei de Cidadania do Reich - este em 14 de novembro de 1935 (o conjunto dos três ficou conhecido como as Leis de Nuremberg)-, a condição judaica foi transformada numa sub-condição humana na Alemanha e os judeus foram desprovidos de qualquer vestígio de direitos civis. A definição de "judeu" consta do Primeiro Regulamento, Artigo V:

1. Um judeu é um indivíduo que descende de pelo menos três avós que eram judeus racialmente puros. O Artigo II, parágrafo, alínea linha 2 será aplicado. (Art. II, alínea 2: um indivíduo de sangue misto judeu é aquele que descende de um ou dois avós que eram judeus racialmente puros, mesmo que não seja um judeu de acordo com a seção 2 do Artigo V. Avós com 100 por cento de sangue judeu são aqueles que pertenciam a comunidade religiosa judaica).

2. Um judeu é também um indivíduo que descende de dois avós puramente judeus:

(a) se era membro de uma comunidade religiosa judaica quando esta lei foi editada, ou se integrou a uma, após a edição desta;

(b) quando a lei foi editada, era casado com uma pessoa judia ou foi subseqüentemente casada com um indivíduo judeu;

(c) é descendente de um casamento no qual um dos cônjuges é judeu, no sentido da seção 1, contraído após a entrada em vigor da Lei para Proteção do Sangue e da Honra Alemã, de 15 de setembro de 1935;

(d) é descendente de uma relação extraconjugal que envolveu um judeu, de acordo com a Seção 1, e nasceu ou é filho ilegítimo nascido depois de 31 de julho de 1936.
Não era possível a qualquer pessoa tipificada pelo regulamento, abdicar da sua condição judaica; por conseqüência, conversos ao cristianismo, que se enquadrassem na categoria regulamentar eram considerados judeus. Assim definidos pelos nazistas, inicialmente banidos da vida social e civil da Alemanha e depois dos territórios que caíram sob seu domínio ou influência, depois confinados e exterminados, não importava, se entre eles, houvesse quem se considerava ateu, agnóstico, protestante, católico, comunista, anarquista ou qualquer outra coisa. No livro Mirrors of destruction. War, Genocide and Modern Identity, o historiador Omer Bartov refere um dos inúmeros casos vividos por pessoas que retornaram, por imposição das Leis de Nuremberg, a uma condição judaica que lhes era estranha e distante antes da chegada de Hitler ao poder:

Bauchwitz, um prisioneiro do campo de trabalho de Stettin, fora batizado quando criança. Quando o comandante do campo decidiu enforcá-lo, ele exigiu ser executado por um pelotão de fuzilamento, em reconhecimento à sua condição de oficial alemão durante a 1ª Guerra, na qual recebeu a Cruz de Ferro de Primeira Classe. O comandante respondeu. "Para mim você é um judeu fedorento e será enforcado como tal". Ao ser colocado no patíbulo, Bauchwitz, pediu aos demais prisioneiros, "Se vou morrer como judeu, peço a vocês judeus que digam o Kadish depois de mim" (Bartov, 2000:144).[1]
Os nazistas enfrentaram problemas técnico-jurídicos com aqueles que tinham o status de "terceira-raça", os mischlinge, muitos dos quais pertenciam a uma '"primeira classe" e estavam integrados a famílias alemãs "puras", logo pretendiam ser quase arianos. Houve doze decretos posteriores editados para tratar desse assunto - objeto de discussão também em Wannsee (ver abaixo), nos quais foram introduzidas as categorias de mischlinge de ordem 1 (descendentes de um avô judeu) e 2 (descendente de dois avós judeus, não pertencente à religião judaica e não casado com um judeu até 15 de setembro de 1935). Para a quase totalidade desta terceira raça, a solução foi o isolamento civil, depois o aprisionamento em asilos e, ao fim a deportação e o extermínio. Houve milhares de mischilinge, por decretos conhecidos como normas de libertação, que foram arianizados e alguns chegaram mesmo a exercer cargos na alta burocracia nazista, além de milhares terem servido no exército e mesmo nas SS.[2]

Agora passemos aos números. Há um certo momento em que a discussão sobre o Holocausto é colocada em escala numérica. A primeira constatação a ser feita sobre esse tipo de parâmetro analítico é que não há um número exato de vítimas, e a razão para tanto é simples: o genocídio foi praticado em escala total. Jamais houve condições para estabelecer um número definitivo porque é impossível identificar individualmente todas as vítimas do Holocausto. A metodologia de escala, pode, por isso, oscilar. O número levado ao tribunal de Nuremberg foi de 6 milhões de judeus. Mas, depois de iniciado com políticas de segregação e isolamento, a matança fez, segundo as menores estimativas, com que entre 5,1 e 5,7 milhões de judeus fossem dizimados na Europa. Destes, foram exterminados em "campos de morte" entre 2,7 e 3 milhões (1 milhão em Auschwitz-Birkenau, entre 750 mil a 800 em Treblinka, 550 mil em Belzec, 200 a 300 mil em Sobibor, 150 mil em Kulmhof e 50 mil em Lublin); 150 a 200 mil em campos de trânsito ou de concentração (trabalho escravo) e 150 mil em campos na Romênia e na Croácia; cerca de 1 milhão e 300 mil, em matanças executadas por "tropas especiais" e aproximadamente 800 mil assassinados por isolamento (fome e doenças) em guetos. Em 1939, por exemplo, havia cerca de 3 milhões de judeus na Polônia. Depois de 1945, restaram alguns milhares de sobreviventes.

Em pouco menos de 4 anos, foi assassinada metade dos judeus europeus e mais de um terço de toda população judaica mundial na época[3]. Jamais houve um genocídio deliberada e calculadamente executado de um povo como o que foi praticado contra os judeus europeus. Obviamente, nessa compreensão em escala da II Guerra, é preciso acautelar-se quanto a comparações entre o número de judeus exterminados e o total das vítimas da guerra. 50 milhões de pessoas, entre civis e combatentes, forma mortos durante o conflito, número por si mesmo suficientemente estonteante. Mas apenas os judeus e os ciganos (em escala comparativamente menor) - cerca de 10 por cento deste total-, foram assassinados por uma política genocida. Por si só é trágico constar que cerca de 20 milhões de russos, bielo-russos e ucranianos foram mortos no enfrentamento e em massacres cometidos pelos nazistas. Somente uma viseira ideológica pode fazer com que alguém desconheça a proporção dessa catástrofe e as marcas que ela deixou nesses povos. Assim, é preciso estar atento para revisionismos inocentes, matizados por motivações distintas, que incidem sobre uma matéria carregada de sofrimento humano, para a qual a precisão e o senso de moralidade são, antes de qualquer coisa, impositivos.

Fonte: Revista Espaço Acadêmico, Nº43, Dezembro de 2004, Mensal, ISSN 1519.6186
Autor: Luis Milman(Doutor em Filosofia, professor da UFRGS)

terça-feira, 1 de abril de 2008

Presidente da FIA Max Mosley envolvido em orgia nazista

Detalhes do escândalo sexual de Mosley. Jornal britânico publica entrevista com garota que teria participado de orgia
GLOBOESPORTE.COM Rio de Janeiro

Max Mosley: alvo de tablóide britânico

O jornal britânico "News of The World" deste domingo põe mais lenha na fogueira do escândalo sexual que envolve o presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Max Mosley. Em entrevista, uma garota de programa conta detalhes sobre a suposta orgia com temática nazistas, revelada pelo próprio jornal na semana passada e que está botando em risco o cargo de Mosley.

- Mosley gravou tudo com uma câmera para poder desfrutar mais tarde - diz a garota.

Ela rebateu a versão de Mosley, que admite ter participado do ato, mas nega qualquer motivação nazista. Segundo a garota, o chefão da FIA pediu para que ela ficasse vestida com um uniforme militar e que lhe desse ordens. Depois, pediu para ser chicoteado até sangrar. Em outro momento, Mosley teria invertido os papéis e começou a dar ordens em alemão ou inglês, fingindo inspecionar presas em um campo de concentração.

A garota conta ainda que a orgia teria sido organizada a pedido de Mosley por uma garota de apelido "Mistress Switch", encarregada de montar a cena nazista. Os uniformes teriam sido comprados em uma loja onde são vendidos excedentes de produção do exército alemão.

- Me disseram que boa parte das conversas seria em alemão e que eu não entenderia nada. E falaram que haveria temática nazista, inspeções corporais humilhantes, brutalidade e duas garotas vestidas como prisioneiras de um campo de concentração - diz ela ao jornal.

Segundo ela, Mosley teria pago 2.500 libras pela orgia - o equivalente a R$ 8,5 mil.

O jornal informou também que enviará para a Fia o material bruto com a suposta orgia: cinco horas de vídeos com Mosley e as garotas de programa.

Fonte: Globoesporte.com
http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Motor/0,,MUL389740-1311,00-DETALHES+DO+ESCANDALO+SEXUAL+DE+MOSLEY.html

Ver mais:
Presidente da FIA admite participar de práticas sadomasoquistas há 45 anos (Globoesporte.com)
Serviço secreto britânico teria armado escândalo sexual de Max Mosley (Globoesporte.com)

Associações britânicas de judeus protestam contra 'orgia nazista' de Max Mosley

(AFP) – 31/03/2008

LONDRES (AFP) — Associações britânicas de judeus se mostraram indignadas, nesta segunda-feira, com a difusão de um vídeo que mostra o presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Max Mosley, durante uma sessão de sexo sadomasoquista que evoca um campo de concentração nazista.

O tablóide 'News of the World' publicou no domingo fotografias de um vídeo no qual Mosley aparece em uma sessão sadomasoquista em Londres, na companhia de cinco mulheres que aparecem vestidas com uniformes de prisioneiras.

Seguno o jornal 'Times', que cita uma "orgia nazista", Mosley fala em alemão no vídeo e assume o papel de guarda de um campo de concentração.

"É um insulto a milhões de vítimas, de sobreviventes, assim como a suas famílias. Teria que pedir perdão. Teria que renunciar", afirma o Centro do Holocausto.

No 'Times', Karen Pollock, diretora geral do Holocaust Educational Trust, qualificou o assunto como "depravado".

"Se alguém tivesse me contado isto sem provas, eu custaria a acreditar", reconheceu o chefão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone.

"É um comportamento nocivo. É incrível, especialmente quando se conhece sua história familiar", declarou à AFP Edie Friedman, diretora do Jewish Council for Racial Equality.

Max Mosley é filho de Oswald Mosley, fundador da British Union of Fascists (BUF) e líder dos 'camisas-negras' britânicos nos anos 30. Os pais do presidente da FIA se casaram em 1936 na casa do dirigente nazista Joseph Goebbels.

Segundo o jornal, Mosley estuda apresentar uma denúncia contra o 'News of the World' por violação de sua vida privada.

Fonte: AFP
http://afp.google.com/article/ALeqM5iyFTeDk_Lbz9MADqlGRHp8hZVQ6g

A História do "revisionismo" do Holocausto

Todos os links:

A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 1
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/o-que-e-quem-est-por-trs-do.html
A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 2
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/o-qu-e-quem-est-por-trs-do-revisionismo.html
A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 3
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/histria-do-revsionismo-do-holocausto.html
A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 4
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/histria-do-revisionismo-do-holocausto.html
A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 5
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/histria-do-revisionismo-do-holocausto_28.html
A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 6
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/histria-do-revisionismo-do-holocausto_29.html

sábado, 29 de março de 2008

A História do "revisionismo" do Holocausto - Parte 6

6. Memória histórica e Holocausto

A manutenção da memória de vítimas e sobreviventes do Holocausto é uma das maiores formas de se manter viva a história. Com o passar dos anos, grande parte dos sobreviventes do Holocausto já faleceu pelos mais variados motivos. Em alguns anos provavelmente não haverá mais testemunhas oculares. É dever, portanto, salvaguardar esta memória, não apenas pessoal, mas coletiva.

As particularidades e horrores do Holocausto não devem ser esquecidos, é parte da função da História e dos historiadores (assim como profissionais de diversas outras áreas do saber) preservarem a memória. O genocídio choca não apenas por seus números, mas também pelos seus métodos e frieza. Para Boris Fausto (2006, p.141),
“[...] nem a discriminação genérica, nem os pogroms, nem mesmo a expulsão dos judeus da Península Ibérica, para ficar em um exemplo histórico ancestral, equivalem aos objetivos de um regime que, desde o início da Segunda Guerra Mundial, decidiu erradicar da face da terra o “bacilo judaico”, embora levasse algum tempo para encontrar a fórmula mais eficaz de extermínio.”

Métodos e concepções divergentes referentes tanto a metodologias quanto à própria historiografia sempre existirão, e isto é um indício do caráter saudável da pesquisa histórica. Porém, é necessário sempre estar atento contra falsificações que pretendem não apenas distorcer a história, mas também a sociedade. Combater preconceitos é algo inerente ao ofício do historiador. Além disso, a problematização da história ajuda-nos a lançar novos olhares sobre o passado, de forma com que a compreensão não somente do passado, mas também do presente seja afetada.

É este ato, de repensar, redescobrir e reescrever a história que deixa a memória e a disciplina vivas, desde que seja feita com compromisso social e seriedade profissional.

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Referências Bibliográficas

“A história do livro mais perseguido do Brasil”. Equipe de reportagem do RS “O jornal do Jockymann”. Porto Alegre: Revisão, 1991.

ARENDT, Hannah. “Entre o passado e o futuro”. 5ª. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
COSTA, Emilia Viotti da. “Da monarquia à república: momentos decisivos”. 7ª ed. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999.

CASTAN, S.E. “Acabou o Gás!... O fim de um mito: O Relatório Leuchter sobre as alegadas Câmaras de gás de Auschwitz Birkenau e Majdanek”. 5ª ed. Porto Alegre: Revisão, 1989.
_______. “Holocausto Judeu ou Alemão: Nos bastidores da mentira do século”. 13ª ed. Porto Alegre: Revisão, 1987.
_______. “SOS para Alemanha: Separada, Ocupada, Submissa”. Porto Alegre: Revisão, 1990.
COHN, Norman. “A conspiração mundial dos judeus: mito ou realidade? Análise dos protocolos e outros documentos”. São Paulo: IBRASA, 1969.

FAUSTO, Boris. “A interpretação do Nazismo na visão de Norbert Elias”. MANA 4(1): 141-152, 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/mana/v4n1/2429.pdf Acesso em julho de 2006.

FUHRMANN, Leonardo. “Nazistas atacam no Sul”. Disponível em: http://www.pazagora.org/impArtigo.cfm?IdArtigo=324 , Acesso em Julho de 2007.

JESUS, Carlos Gustavo Nóbrega de. “Anti-semitismo e nacionalismo, negacionismo e memória: Revisão Editora e as estratégias da intolerância”. São Paulo: Ed. UNESP, 2006.

“Lei nº. 10.639” de 09 de janeiro de 2003, disponível para consulta no site http://www.sinprosp.org.br/arquivos/especiais/LEI_No_10639.pdf ", Acesso em dezembro de 2007.

MILMAN, Luis. & VIZENTINI, Paulo Fagundes. (org.) “Neonazismo, negacionismo e extremismo político”. Porto Alegre: Editora da Universidade (UFRGS); CORAG, 2000.

OLIVEIRA, Sérgio. “Hitler: Culpado ou Inocente?” , Porto Alegre: Revisão, 1989.
_________. “Sionismo x Revisionismo: Fantasia x Realidade”. Porto Alegre: Revisão, 1993.
SCHAFF, Adam. “História e verdade”. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

VIDAL-NAQUET, Pierre. “Os assassinos da memória: O Revisionismo na História”. Campinas: Papirus, 1998.
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1 Aluno do programa de Especialização em História Social e Ensino de História da Universidade Estadual de Londrina e participante do grupo de pesquisa “Grupo de estudos sobre os movimentos autoritários do século XX”. E-mail: odi1984@gmail.com

2 Utiliza-se neste trabalho da seguinte distinção: História (grafado com a inicial maiúscula) refere-se à disciplina, enquanto história (com a inicial em letra minúscula) refere-se à memória de uma maneira geral.

3 Tal livro não é mais editado pela Editora, conforme a mesma nos comunicou. No entanto, existe uma versão da obra disponível em língua francesa e inglesa, no site “Ressources documentaires sur le génocide nazi et sa négation”, (disponível em http://www.anti-rev.org – acesso em março de 2007).

Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto

sexta-feira, 28 de março de 2008

A História do "revisionismo" do Holocausto - Parte 5

5. Negacionismo e mentira organizada

Os argumentos presentes no discurso negacionista passam longe do rigor e seriedade acadêmica, são elementos panfletários, extremistas. É a negação da memória. Vale novamente lembrar como um dos críticos e combatentes ao negacionismo, Pierre Vidal-Naquet, define os negadores do Holocausto: “Assassinos da Memória” (1998, p.37)3.

É justamente na motivação e nos argumentos dos negadores do Holocausto que encontramos os mais sólidos argumentos para a análise crítica desta prática. O judeu nestes é tratado constantemente como um ser conspiratório, elemento ativo de uma organização secreta diabólica. No negacionismo, o Holocausto é apresentado como uma das maiores e inúmeras formas do “judaísmo internacional” lançar suas garras sobre o mundo, controlando as finanças, os meios de comunicação, a mídia e conseqüentemente, a civilização mundial.

O perigo do negacionismo não está apenas em deformar e negar o Holocausto e diversos outros acontecimentos da história da 2ª Guerra Mundial. Ele age como uma mentira organizada, destinado a destruir tudo o que nega e aos que se opõe aos seus argumentos.

Hannah Arendt (2001, p. 285) alerta para o perigo da mentira moderna. Segundo Arendt, diferentemente da mentira tradicional - cujo maior objetivo é ocultar a verdade -, a mentira moderna busca destruir a verdade, e é neste ponto que mora o perigo do uso da mentira moderna como instrumento político. De acordo com a autora, este tipo de mentira tende a idealizar uma reconstrução da realidade, onde tudo se encaixa perfeitamente a partir da descoberta desta nova verdade, que por sua vez destronou a “antiga”.

O Negacionismo age desta maneira, ao colocar em evidência uma suposta nova realidade, em que a descoberta de um elemento (no caso, a “farsa do Holocausto”) muda toda a trama não somente da 2ª Guerra Mundial, mas também da realidade mundial. Se o Holocausto é uma invenção destinada a manipular as pessoas e governos dos países, a descoberta de sua falsidade quebraria uma teia de relações sustentada em uma grandiosa mentira. Além disto, tornaria visível a existência de um complô que supostamente subjugaria a humanidade em sua história.

Arendt sinaliza ainda que este tipo de mentira organizada tende a criar uma aura de verdade, tão perfeita em si, que tem a capacidade de substituir a realidade. Dessa forma, “uma trama factual sem remendos, falhas ou rachaduras” é bastante interessante para quem busca uma realidade supostamente auto-explicativa.

Sabemos que a história não funciona desta maneira, não segue uma linearidade lógica ou previsível, não deve ser explicada por um, dois ou mesmo três elementos, mas sim a conjunção de inúmeros destes. Para o negacionismo, que age como uma mentira organizada, a história da 2ª Guerra Mundial é explicada a partir da queda de duas supostas mentiras: o início da guerra, que seria então causado pelos próprios judeus, e o fim da mesma, em que o “judaísmo internacional” cria uma mentira com proporções gigantescas (Holocausto) para continuar seus planos de dominação mundial. A realidade política e social não apenas do período bélico, mas também atual explicar-se-ia a partir de uma dicotomia em que o mundo seria dividido entre subjugados (maioria da humanidade) e subjugantes (complô judaico de dominação mundial).

Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto

quinta-feira, 27 de março de 2008

A História do "revisionismo" do Holocausto - Parte 4

4. Negacionismo e Justiça Brasileira

Desde o lançamento de “Holocausto Judeu ou Alemão? Nos bastidores da mentira do século” em 1987, uma extensa batalha judicial perdurou até o ano de 2003. De um lado Siegfried Ellwanger e a Revisão Editora e do outro lado seus críticos. Os maiores adversários da Revisão Editora e do negacionismo no Brasil são grupos de defesa de direitos humanos e entidades judaicas que visam o combate ao anti-semitismo e a proteção da memória dos milhões de vitimas do Holocausto.

Em um primeiro momento, a tática utilizada para barrar tal negacionismo foi um boicote ao mesmo, pois se temia que a abertura de um processo acabasse por trazer publicidade ao negacionismo. Entretanto, ficou constatado que esta prática não era muito válida, pois não trazia resultados substanciais. Após certo tempo esta disputa passou aos tribunais gaúchos (pelo fato da editora situar-se em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul), onde uma verdadeira batalha foi travada. Ellwanger conseguiu uma série de liminares e habeas corpus, até que em determinado momento, a questão chegou ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, onde Ellwanger foi condenado pelo crime de racismo, em ultima instância, com denegação do pedido de habeas corpus nº. 82.424.

Ellwanger fora julgado pelo conteúdo de “Holocausto Judeu ou Alemão?”, além da distribuição (via Revisão Editora) dos seguintes títulos: “O Judeu Internacional”, de Henry Ford, 2ª reedição, 1989; “A História Secreta do Brasil”, de Gustavo Barroso, 1ª reedição, 1990; “Protocolos dos Sábios de Sião”, apostilado por Gustavo Barroso, 4ª reedição, 1989; “Brasil Colônia de Banqueiros”, de Gustavo Barroso, 1ª reedição; “Hitler - Culpado ou Inocente”, de Sérgio Oliveira, 2ª edição, 1990 e “Os Conquistadores do Mundo - Os Verdadeiros Criminosos de Guerra”, de Louis Marschalko, 3ª edição. As obras da editora Revisão foram proibidas de circulação.

Porém, há uma rede de apoio mútuo entre autores e leitores negacionistas, que conta com suporte de diversas organizações anti-semitas. A internet é um meio largamente utilizado para disseminação de material anti-semita e negacionista, inclusive no Brasil.

Páginas de internet neonazistas como valhalla88.com e whitepowersp.org (atualmente fora do ar) exibiam mensagens de apoio a Ellwanger e aos ideais da Revisão Editora. O controle, do ponto de vista jurídico, de sites de internet é bastante complexo, tendo em vista que muitos destes ficam hospedados em servidores estrangeiros - onde práticas como anti-semitismo e racismo não são considerados crimes - justamente por proteção (Jesus, 2006, p. 151). O próprio website da Revisão Editora ficou hospedado durante certo tempo em um conhecido servidor estrangeiro que abriga diversas páginas racistas (www.libreopinion.com).

Atualmente a Revisão Editora não conta com uma página oficial na internet, porém é fácil encontrar os livros a venda em páginas de leilão virtual, sebos e livrarias on-line.

Além do próprio discurso anti-semita e preconceituoso, certos episódios mostram a contribuição dos livros negacionistas para a formação de grupos neonazistas no Brasil. Em maio de 2005, em pleno aniversário de rendição nazista (60 anos), um grupo de cerca de oito skinheads neonazistas atacaram três estudantes judeus com idade entre dezenove e vinte e sete anos. Em investigação (mandado de busca e apreensão), nas casas dos jovens presos pelo crime, foram encontrados diversos materiais de propagandas racistas e discriminatórias, além de exemplares de livros da Revisão Editora (Fuhrmann, 2004). Deste modo, a atenção destinada ao Negacionismo não deve ser referente apenas aos conteúdos dos livros, mas também a toda teia de relações em que eles se inserem.

Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto

quarta-feira, 26 de março de 2008

A História do "revisionismo" do Holocausto - Parte 3

3. Revisão Editora e discurso Anti-semita

Em sua obra inicial, Ellwanger defende a tese de que os verdadeiros culpados, interessados e causadores da 2ª Guerra Mundial foram os judeus, a partir de ações advindas de um governo mundial secreto. Dessa forma, a partir do momento que se coloca o judaísmo como causador da guerra, toda a ação do governo nacional-socialista – inclusive a perseguição sistemática a estes - configurar-se-ia, portanto, como uma legítima reação.

Ellwanger apresenta como prova de tal argumento uma suposta declaração de guerra dos judeus aos alemães. Tal prova, porém, trata-se de um recorte da matéria “A Judéia declara guerra à Alemanha”, publicada no jornal inglês “Daily Express”, famoso por seu caráter sensacionalista. O texto apresenta as reações de judeus norte-americanos e ingleses frente às perseguições anti-semitas ocorridas na Alemanha. Como forma de pressionar o governo alemão ou mesmo chamar a atenção da opinião pública dos países em questão, chegou-se a propor um boicote aos produtos alemães. Porém, a forma como foi usada a expressão “declara guerra” passa longe de uma real declaração de guerra (do ponto de vista bélico e político) dos judeus ao povo e ao governo alemão.

A expressão “declara guerra” trata-se de um artifício usado constantemente na mídia em geral, principalmente em jornais. Como exemplo, vale lembrar as inúmeras “declarações de guerra” do governo brasileiro aos altos juros e a inflação durante as seguidas crises econômicas nacionais. Porém, a forma apresentada por Ellwanger não leva em consideração nenhuma destas implicações, de suma importância. Retira-se todo o contexto em que a matéria foi escrita, o momento político e econômico, além de não mencionar que já estava em prática parte da política anti-semita do governo nacional-socialista, como o boicote aos estabelecimentos comerciais judaicos e banimento destes do serviço público e civil.

Além de tudo, tal “declaração” data de março de 1933, ano em que Hitler assumiu o cargo de chanceler na Alemanha, anos antes do início da 2ª Guerra Mundial. O que se vê no argumento de Ellwanger é uma total distorção desta matéria. Uma simples manchete, proveniente de um tablóide, transformou-se numa “autêntica” declaração de Guerra.

Atos explícitos de racismo e preconceito como a “Noite dos Cristais”, (em que milhares de alemães, comandados e incitados por oficiais nazistas saem às ruas para depredar e incendiar estabelecimentos comerciais de propriedade de judeus e sinagogas), são tratados pelo autor como manifestações legítimas de indignação e reação a uma latente escravização do povo alemão pela maquiavélica comunidade judaica.

Para Ellwanger o que provocava a revolta no povo alemão devia-se muito aos resultados da 1ª Guerra Mundial. Isto não é nenhuma novidade para qualquer pessoa interessada no fenômeno nacional-socialista alemão. Um dos maiores motivos de ascensão do nazismo e sua aceitabilidade popular foram justamente os preconceitos e as feridas que ainda estavam abertas no povo alemão, muitas delas provenientes do Tratado de Versalhes, onde segundo os nazistas, o Império Germânico tinha sido covardemente roubado e humilhado. Tal argumento é bastante usado por Ellwanger, que adiciona ainda o que ele chama de espoliação pós-2ª Guerra, causada pelo “Holoconto”.

A situação precária em que se encontrava a Alemanha pós-1ª Guerra era causada, em grande parte, pelo que Ellwanger (e diversas outras categorias de anti-semitas) chama de “judaísmo internacional”. É o velho preconceito anti-semita que cria o mito de dominação mundial dos judeus, dominação essa que se daria via conspiração política, econômica e cultural. Além da própria suposta dominação judaica, contava muito o fato dos judeus “não se misturarem” aos alemães.

Segundo Ellwanger, o que se via na Alemanha pré-nazista era a maioria esmagadora da população alemã subjugada por uma minúscula parcela de judeus, praticamente uma ordem escravocrata. Além de controlar a mídia e os bancos alemães e europeus (afinal de contas, o problema eram os judeus como um todo, não apenas os que viviam na Alemanha), esses judeus não eram verdadeiramente alemães, pois viviam isolados em comunidades, casando-se só entre eles e empregando e beneficiando-se mutuamente, de maneira excludente ao povo alemão, o real necessitado. Coloca-se então, o judeu (ou “judaísmo internacional”) como um ser alienígena dentro de uma sociedade, um câncer social a ser execrado. Dessa maneira, vivendo à parte da sociedade, os judeus conseguiam praticar todas suas ações de dominação e manipulação mundial, em que o “mito” do Holocausto seria uma dentre tantas outras.

Além de “Holocausto: Judeu ou Alemão?”, Ellwanger publicou outros títulos com o mesmo teor editorial negacionista e anti-semita. Em “S.O.S para Alemanha – Separada, Ocupada, Submissa”, ele analisa as reações contrárias a seu livro inicial, além de apresentar supostas provas da existência de um complô que visa manter a mentira do Holocausto, complô este a cargo do governo secreto judaico.

Ellwanger é a figura principal da Revisão Editora, porém Sergio Oliveira também tem alguns títulos lançados, onde o discurso preconceituoso contra os judeus é igualmente perpetuado. Em “Sionismo x Revisionismo – Fantasia x Realidade”, Oliveira busca traçar um paralelo entre o desenvolvimento da disciplina historiográfica e o surgimento do “revisionismo” do Holocausto. Diferentemente de Ellwanger, Sérgio Oliveira aparenta ter uma maior preocupação em soar acadêmico e legitimar seu discurso com uma pseudo-metodologia. Porém, esta pretensão não consegue esconder um velado discurso anti-semita.

Em “Hitler – Culpado ou inocente?”, Oliveira nega a existência das Câmaras de Gás, e ainda que grande parte das mortes judaicas ocorridas no período durante a 2ª Guerra Mundial foram obras dos próprios judeus. Essas mortes seriam apenas mais uma das artimanhas do suposto governo judaico mundial secreto de conseguir o seu ideal maior: a criação do Estado de Israel. Oliveira compartilha ainda da idéia de Ellwanger que afirma que os “verdadeiros” causadores da 2ª Guerra Mundial foram os judeus. Na conclusão de seu livro, afirma que as mortes de judeus na guerra não ultrapassaram a cifra de 500 ou 600 mil pessoas e reafirma a tese de que os judeus foram os reais vilões da história:

“Em primeiro lugar, é preciso compreender que essas mortes ocorreram numa situação muito especial: os judeus estavam em guerra contra a Alemanha (grifo nosso) nacional-socialista, seja através de ações concretas de sabotagem ao esforço de guerra alemão ou empreendimentos de guerrilhas, seja por meio de uma ação sub-reptícia dos agentes sionistas infiltrados nos governos inimigos da Alemanha [...] Estando em guerra, os judeus haveriam de apresentar sua quota de sacrifício em vidas humanas, como de resto ocorreu com todos os beligerantes que tomaram parte do conflito.” (Oliveira, 1989, p. 135)

Tanto na obra de Siegfried Ellwanger, quanto de Sérgio Oliveira, o discurso negacionista referente às Câmaras de Gás faz relação ao já citado “Relatório Leuchter”. Ellwanger inclusive publicou um livro em que apresenta este relatório, sob o título de “Acabou o Gás!... O Fim de Um Mito - O Relatório Leuchter”. Dentre todos os títulos negacionistas distribuídos e publicados pela Revisão Editora, “Holocausto: Judeu ou Alemão?” é o que contêm mais edições (cerca de 30 edições, de acordo com dados da própria editora) e vendagens (Equipe de reportagem do RS, 1991, p.82), além de ser constantemente elogiado como uma das mais completas obras negacionistas existentes, afirmação logicamente provinda dos próprios negacionistas.

Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto

terça-feira, 25 de março de 2008

A História do "revisionismo" do Holocausto - Parte 2

2. Revisionismo Histórico e a negação do Holocausto

A prática de revisão da História é constantemente aplicada, não somente sobre a própria metodologia, mas também sobre objetos e fatos em si, gerando inúmeras compreensões resultantes destas reflexões, sejam elas convergentes ou divergentes. É necessário ressaltar que esta prática de revisionismo atende aos padrões acadêmicos, que “exigem” de qualquer tipo de pesquisa, a existência de um referencial teórico e metodologia aplicada não somente para legitimar a pesquisa, mas também para qualificá-la.

É necessário abordar estas características do legítimo Revisionismo Histórico para se estabelecer contato com o auto-intitulado “Revisionismo” do Holocausto, ou Negacionismo, como é costumeiramente chamado nos meios acadêmicos e legais, distinção esta feita justamente para que haja uma diferenciação entre revisionistas e negadores do Holocausto. Segundo Pierre Vidal-Naquet (1998, p.12), notório combatente das práticas de falsificações históricas do Negacionismo, as primeiras células negacionistas surgiram na própria Alemanha sob o julgo nacional-socialista.

A partir de fortes indícios de um iminente fim de guerra, autoridades nazistas ordenaram a destruição de uma série de documentos e provas. Tal processo era nada mais que uma artimanha encontrada por estes oficiais para esconder, diminuir ou até mesmo negar os crimes cometidos durante a 2ª Guerra Mundial, dentre os quais o maior genocídio organizado e friamente sistematizado de uma série de categorias de “indesejáveis" ao governo nazista, como judeus, ciganos, homossexuais, negros, comunistas, entre outros – o Holocausto.

A passagem do negacionismo da plataforma política (como ato interno e restrito aos meios oficiais) para o meio público e acadêmico teve como principal idealizador e fundador Paul Rassinier, um ex-prisioneiro dos campos de concentração nazista de Buchenwald e Dora-Nordhaussen (Milman, 2000, p.120).

Rassinier, antigo militante da extrema-esquerda francesa era, durante a 2ª Guerra Mundial, membro da Seção Francesa da Internacional Socialista (SFIO) e redator de um jornal clandestino (“La IV. é Republique”). Devido às suas atuações, foi preso em 1944 pela Gestapo e enviado para os campos de concentração.

Livre, após o fim da guerra, retornou à França e começou uma peregrinação por diversas organizações políticas extremistas, tanto de esquerda quanto de direita. Afastou-se gradativamente das tendências esquerdistas, para se aliar a figurões da extrema-direita (Vichystas e colaboracionistas, inclusive) francesa e assumiu gradativamente um caráter fortemente anti-semita, antes mascarado como anti-sionismo ou anti-imperialismo.

O ano de 1951 marca a expulsão de Rassinier da SFIO, após a publicação de seu segundo livro, “A mentira de Ulisses”, em que o autor defende a tese de que a 2ª Guerra Mundial havia sido provocada por um complô judeu internacional de dominação mundial. Tal teoria remete facilmente aos moldes de teoria da conspiração largamente perpetuados pelo livro “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, uma espécie de bíblia do anti-semitismo, que influenciou uma gama variada de anti-semitas, desde o governo Czarista (que foi, aliás, quem encomendou esta fraude) até Adolf Hitler (Cohn, 1969, p.195), passando por brasileiros como Gustavo Barroso (chefe de milícia da Ação Integralista Brasileira, responsável por uma versão traduzida e apostilada deste) e chegando até os atuais negadores do Holocausto.

Rassinier, em um primeiro momento, empreendeu uma relativização do número de mortos nos campos de concentração para, após isto, negar a existência das câmaras de gás e de qualquer programa sistemático do governo nacional-socialista de assassinato de judeus e outros grupos “indesejáveis”.

No que diz respeito à negação da existência das Câmaras de Fás, o maior argumento usado pelos autores negacionistas é o chamado “Relatório Leuchter”. Escrito por Fred A. Leuchter Jr., um suposto engenheiro norte-americano especialista em câmaras de gás. Tal relatório afirma que não haveria indícios de gaseamento nos campos de concentração (no caso, Auschwitz-Birkenau e Majdanek). A validade desse relatório é bastante questionável e suas alegações técnicas (assim como a capacidade e legitimidade profissional de Leuchter Jr.) são constantemente refutadas. Cabe ressaltar ainda que os campos de concentração em que Rassinier esteve confinado eram “apenas” campos de prisão e trabalho forçado. Desta forma, não haveria como Rassinier presenciar alguma sequer Câmaras de Gás no período e locais em que esteve preso, por motivos óbvios.

Os ideais de Rassinier influenciaram uma variada gama de anti-semitas, sobretudo na França pós-guerra. A seu exemplo, parte de ex-militantes esquerdistas verteram suas atuações para grupos de extrema-direita. Personagens como Serge Thion, Robert Faurisson, dentre outros, militantes ativos do grupo intitulado como “A velha toupeira”, formaram um pequeno grupo em volta de Rassinier que logo se tornou um centro de irradiação de material negacionista.

Não tardou muito e os ideais negacionistas se espalharam por grande parte da Europa e mais tardiamente a outros locais da América Latina, como o Brasil. Atualmente, há uma rede de negacionistas que abrange vários países, dentre os quais alguns autores que ficaram mundialmente conhecidos, não necessariamente por suas obras, mas principalmente pelas batalhas judiciais em que são réus na maioria das vezes (e em muitas destas, condenados). David Irving, historiador britânico que dispunha de um relativo respeito nos meios acadêmicos como historiador militar e de guerras, viu sua “popularidade” desabar após escrever livros negacionistas e ser preso na Áustria – onde a negação do Holocausto é crime. Ernst Zündel, alemão, foi condenado à prisão em seu país de origem, mas acabou sendo preso primeiramente no Canadá, onde ficou detido por um período de dois anos. Após este tempo, foi transferido para a Alemanha, onde foi julgado novamente e atualmente cumpre pena de cinco anos de prisão por negar o holocausto e incitar o ódio contra judeus.

A chegada do negacionismo no Brasil data do ano de 1987. Em um período de crescente mobilização pelas eleições diretas e pelo fim da ditadura militar, surge então o mais famoso livro negacionista brasileiro: “Holocausto: Judeu ou Alemão? Nos bastidores da mentira do século” de autoria de Siegfried Ellwanger, brasileiro descendente de alemães.

Ellwanger, que assina seus livros com o pseudônimo de S.E. Castan (segundo ele para fugir da perseguição sionista), funda a Revisão Editora Ltda., com sede em Porto Alegre/RS, para promover a distribuição de seu livro inicial, além de uma série de outros títulos com forte teor anti-semita e racista, muito deles de autores negacionistas.

A participação de brasileiros, porém, é pequena na Revisão Editora. Grande parte dos livros negacionistas nacionais são de autoria de Ellwanger ou então de Sérgio Oliveira, ex-sargento do Exército brasileiro durante a ditadura militar.

Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto

segunda-feira, 24 de março de 2008

A História do "revisionismo" do Holocausto - Parte 1

NEGACIONISMO E ANTI-SEMITISMO NOS TEXTOS DA REVISÃO EDITORA

Resumo: Este trabalho tem por objetivo abordar a chegada do Negacionismo (“Revisionismo” do Holocausto) no Brasil, a partir da fundação da Revisão Editora, assim como as estratégias usadas pelos autores desta editora para negar o Holocausto ocorrido durante a 2ª Guerra Mundial, utilizando alto teor anti-semita em suas argumentações.

1. Introdução

O constante desenvolvimento do campo historiográfico, aliado ao surgimento de novos métodos e teorias, além do auxílio interdisciplinar faz com que a História2 seja palco de debates internos e externos, um contínuo conflito de interpretações.

De acordo com Adam Schaff (1991, p.227), essa constante, antes de negar o terreno objetivo da história, pelo contrário, a confirma. O ato de reescrever e repensar a história é fruto deste desenvolvimento, quebra de paradigmas ou mesmo de “modas” acadêmicas.

O termo Revisionismo Histórico é presença constante dentro deste processo. Abordar um determinado objeto sob uma diferente ótica ou metodologia, normalmente acaba por gerar diferentes compreensões sobre temas e fatos. Dois pesquisadores, ao estudar um mesmo objeto, utilizando-se neste estudo de semelhante arcabouço teórico, certamente acabariam por chegar a conclusões e indagações divergentes em determinados pontos. O ato de reescrever continuamente a história está repleto de exemplos deste tipo, compreensões sobre determinadas épocas estão ligadas diretamente ao mundo atual em que vive o pesquisador, por isso que toda história acaba por se tornar uma história do tempo presente, é função do historiador (e não somente do historiador, assim como de diversas outras áreas do saber) problematizar o passado, a memória, as compreensões e os fatos sob a luz de seu tempo, para buscar soluções e/ou caminhos possíveis.

Voltando ao Revisionismo Histórico, pode-se lembrar da revisão de alguns mitos, visões e conceitos perdurados durantes anos na sociedade e na própria historiografia. Tomamos por exemplo o mito da democracia racial brasileira, segundo o qual no país inexistiriam conflitos de cunho étnico. Teoria padrão em estudos historiográficos e sociológicos durante anos, esta idéia foi objeto de uma série de debates, por pensadores como Emília Viotti da Costa, Sergio Buarque de Holanda, dentre outros.

Com a derrubada do mito da democracia racial brasileira, novas perspectivas de estudos surgiram, assim como a busca de soluções (no âmbito político, inclusive) para problemas da sociedade contemporânea. Indício disto é o caráter atual das discussões sobre implantação ou não de cotas para afro-descendentes em concursos públicos como o vestibular, ou mesmo do ensino obrigatório da história e da cultura afro-brasileira nos Ensinos Fundamental e Médio (Lei nº. 10.639 de 09 de janeiro de 2003).

O Revisionismo Histórico do mito da democracia racial nos leva a observar as mudanças que determinadas visões sobre o passado acarretam sobre o cotidiano. O Revisionismo Histórico configura-se, deste modo, como um fruto deste constante desenvolvimento historiográfico, capaz de indagar não apenas conceitos metodológicos da História e disciplinas afins, mas também de compreensões sobre os mais variados objetos e fatos.

Fonte: Revista eletrônica 'Literatura e Autoritarismo(Dominação e Exclusão Social)
Autor: Odilon Caldeira Neto

80 mil velas pelas vítimas do nazismo

Na quarta-feira, realizou-se, em Viena, na Heldenplatz, ou Praça dos Heróis, uma vigília pelas vítimas do nazismo. Foi acendida uma vela por cada austríaco assassinado pelo regime, incluindo 65 mil judeus. O tributo realizou-se na mesma praça onde, há 70 anos, Hitler celebrou com 250 mil austríacos a anexação da Áustria pela Alemanha. "Eu estou aqui hoje, porque, tenho que admitir, estive aqui quando tinha 14 anos", disse a cidadã austríaca Renate Duchkovitsch, explicando que Hitler sabia como abusar do entusiasmo da juventude.

Mas esta é uma data importante mesmo para aqueles que ainda não tinham nascido nessa altura. "Porque eu acho incrível que a Áustria se tenha reconstruído e que se viva agora em democracia. E é importante ter consciência do que aconteceu, que nunca deve ser esquecido, nem permitido novamente", realçou Andrea Schwindner.

O aniversário da anexação ressuscitou o debate sobre se os austríacos foram vítimas ou cúmplices do nazismo. É que quando, a 12 de Março de 1938, as tropas alemãs invadiram a Áustria, foram recebidas em clima de festa.

Fonte: EuroNews(13.03.2008)
http://www.euronews.net/index.php?article=474877&lng=6&option=1
Imagem:
http://www.truveo.com/%C3%81ustria-relembra-anexa%C3%A7%C3%A3o-pela-Alemanha/id/3526825281

sexta-feira, 21 de março de 2008

Carta de Deborah Lipstadt ao LA Times

Este é o texto dos "Rumores sobre o Sabão Nazi da Segunda Guerra Mundial", uma carta ao editor do Los Angeles Times, 16 de maio de 1981, segunda parte, página 2:

O comovente texto de Rachel Patron (Páginas Editoriais, 30 de abril) sobre uma infância na Sibéria durante a Segunda Guerra Mundial destacou a maneira na qual a guerra pode fazer com que as coisas mais mundanas, neste caso o sabão, convertam-se num luxo.

Ela sobreviveu a anos de fome, horror e brutalidades provocadas por um regime que tratava aos estrangeiros que viviam sobre ele, e inclusive seus próprios cidadãos, de uma forma que nem sequer havia a mínima consideração humana. Patron e sua família eram parte dos milhares de judeus que foram levados a força dos setores da Polônia ocupada pelos russos ao interior da Sibéria e que viveram durante a guerra num estado de semi-cativeiro. Apesar de duras que foram suas condições, ao menos se salvaram da aniquilação sistemática praticada pelos alemães com os judeus que tiveram a miserável sorte de viver na Polônia ocupada pelos alemães.

Ao final da guerra, enquanto a família Patron voltava à Polônia, detiveram-se na cidade ucraniana de Dobra Matka. Enquanto esperavam o trem, Rachel descobriu um alpendre cheio de sabão, e depois de se lavar alegremente e de se desfazer do sebo da Sibéria, levou uns sabonetes para sua mãe. A abundante disponibilidade deste artigo caseiro comum, parecia indicar a Rachel e a sua mãe que a guerra havia terminado.

A alegria das crianças de repente se evaporou quando sua mãe descobriu as letras "RJF" nas barras de sabão. A mãe lhes explicou entre seu pranto de horror que as letras queriam dizer Rein Judisch Fett: Pura Gordura de Judeu. A alegría infantil havia se covertido num pesadelo.

Rachel Patron provavelmente sofre mais pesadelos sobre aquele período. Se sua família houvesse vivido numa parte diferente da Polônia, provavelmente não haveria sobrevivido para sofrer esses pesadelos. Teriam se convertido em uma mais das milhões de crianças judias que pereceram nas mãos dos assassinos nazis. Haveriam-se convertido numa cifra, e não em uma narradora de histórias. Mas não haveriam se transformado em sabão.

A realidade é que os nazis nunca usaram os cadáveres de judeus, ou os de quaisquer outros, para a produção de sabão. O rumor sobre o sabão foi muito espalhado durante e depois da guerra. Pode ser que teve sua origem na história sobre as atrocidades da fábrica de cadáveres que surgiu na Primeira Guerra Mundial. As letras "RJF" provavelmente eram o nome da fábrica que produzia o sabão. O rumor sobre o sabão foi detalhadamente investigado depois da guerra e se demonstrou que era falso.

Os nazis levaram a cabo inumeráveis atos de horror. Atos que, se não houvesse provas definitivas e inegáveis de que ocorreram, poderiam ser desestimados como demasiado incríveis para ter ocorrido. O cabelo das mulheres alemãs era reenviado ao Reich para que o povo alemão o utilizasse. Retirava-se o ouro das dentaduras dos judeus e se enviava aos bancos alemães para que o fundissem.

Em alguns campos, como Buchenwald, tiveram lugar fatos ainda mais macabros. Ali a jovem esposa do comandante usou pele de judeus para fazer cúpulas de abajur e outros objetos para seu lar. E o maior ato de horror foi, evidentemente o quase exitoso plano dos nazis para eliminar o povo judeu do continente europeu.

Durante a guerra os nazis realizaram um grande esforço para ocultar suas ações ao público. Usaram todo tipo de eufemismos para camuflar suas ações em relatórios oficiais: "eliminado", "acabado", "submetido a tratamento especial", e "solução para a questão judaica". Haveria de estar completamente contra a sua política de ocultação o ato de imprimir as siglas de "Pura Gordura de Judeu" em barras de sabão que distribuíam entre a população do Reich e os países ocupados.

A necessidade de exatidão ao enfrentar os horrores da guerra se converteu em algo ainda mais importante hoje em dia quando existem grupos que tratam de nos fazer crer que o Holocausto é uma "invenção". O Institute of Historical Review (IHR) de Torrance tem aparecido como o principal defensor americano deste argumento. Existem grupos similares na Europa. Estes grupos dizem que ainda que se pudesse morrer muitos judeus devido às privações "normais" da guerra, nenhum morreu numa câmara de gás ou como resultado de um assassinato sistemático. A base de sua argumentação é que os únicos que se beneficiam do mito do Holocausto são os sionistas.

O IHR quer nos fazer crer que os sionistas propagaram a história do Holocausto e utilizaram a simpatia do mundo para conseguir êxito em seus fins. Ao apresentar esta conclusão ignoram a quantidade de detalhadas declarações de testemunhas, tanto de vítimas como de perpetradores destes crimes.

As faculdades e os estudantes da Univerdidade da Califórnia tem se tornado muito sensíveis com respeito as perigosas palhaçadas do IHR. Em novembro de 1981, o IHR dera uma conferência sobre "a invenção do Holocausto" no centro de retiro da Universidade da Califórnia no lago Arrowhead. Ele tem alugado o centro disfarçando-se de entidade educativa. Tem que se assinalar que, dado que o centro de Arrowhead recebe fundos públicos, os cidadãos do estado da Califórnia, cujos impostos financiam a Universidade da Califórnia, estão apoiando dessa forma ao IHR e a seu intento de se burlar da verdade.

Enfrentando um panorama tão inquietante, é muito importante que todos aqueles que escrevem e falem sobre a aniquilação dos judeus da Europa o façam com o maior cuidado e precisão. É também muito importante que todos aqueles que valorizem a verdade e a honestidade lutem contra os intentos do IHR de propagar suas falsas opiniões.

Deborah Lipstadt
Los Angeles

Lipstadt é professora de História Judaica Moderna na UCLA.

Engano e Tergiversação
Técnicas de Negação do Holocausto
Apêndice 5

Fonte: http://www.nizkor.org/features/techniques-of-denial/appendix-5-02-sp.html
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 19 de março de 2008

Os Estados Unidos e o Holocausto

O resgate dos refugiados não era uma prioridade do governo dos Estados Unidos. Não era tampouco sempre claro aos líderes Aliados como se poderia levar a cabo um resgate de grande escala das linhas alemãs. Por causa em parte do anti-semitismo, o isolamento, a Depressão e a xenofobia, a política para com os refugiados do departamento de Estado dos Estados Unidos (a cargo do Secretário de Estado Cordell Hull) lhes fora dificultada a conseguir vistos de entrada.

O departamento de Estado também demorou em publicar os relatórios de genocídio. Em agosto de 1942, o departamento de Estado recebeu um telegrama confirmando os planos nazis para assassinar os judeus europeus. O relatório, enviado por Gerhart Riegner (o representante em Genebra do Congresso Judaico Mundial), não foi disseminado. O departamento de Estado pediu ao rabino americano Stephen Wise, que também havia recebido o relatório, que se abstivesse de anunciá-lo. As reportagens das atrocidades nazis a miúde não eram recolhidos pela imprensa americana. Em 1943, o mensageiro polonês Jan Karski informou ao presidente Franklin D. Roosevelt sobre as notícias de assassinatos em massa recebidas por líderes judeus no gueto de Varsóvia. Nenhuma ação foi tomada.

Em 19 de abril de 1943, representantes dos Estados Unidos e Grã-Bretanha se reuniram em Bermuda para resolver o problema dos refugiados. Nenhuma proposta significativa foi considerada na Conferência de Bermuda. Em janeiro de 1944, Roosevelt estabeleceu a Junta para os Refugiados de Guerra como parte do departamento do Tesouro para facilitar o resgate de refugiados em perigo. Fort Ontario em Nova York começou a servir ostensivamente como um porto livre para os refugiados. Mas os refugiados que chegavam a Fort Ontario não eram das áreas ocupadas pelos nazis, se não das zonas liberadas.

Já na primavera de 1944, os Aliados sabiam dos gaseamentos em Auschwitz-Birkenau. Os líderes judeus suplicaram sem sucesso ao governo estadunidense que bombardeasse as câmaras de gás e vias(ferrovias) de trem que chegavam ao campo. Desde 20 de agosto até 13 de setembro de 1944, a força aérea dos Estados Unidos bombardeou o complexo industrial de Auschwitz-Monowitz, menos de cinco milhas das câmaras de gás em Birkenau. Não obstante os Estados Unidos mantiveram sua política de não-participação no resgate, e não bombardearam nem as câmaras de gás e nem as vias de trem usadas para transportar prisioneiros.

Foto: Cartaz anti-semita que equipara os judeus com o comunismo. Estados Unidos, 1939.
— Jewish War Veterans Museum
http://www.ushmm.org/wlc/media_ph.php?lang=sp&ModuleId=10005762&MediaId=3390

Fonte: USHMM(United States Holocaust Memorial Museum)
http://www.ushmm.org/wlc/article.php?lang=sp&ModuleId=10005762
Tradução: Roberto Lucena

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