A mentira final: Negação do Holocausto na Alemanha
No verão de 1942 Heinrich Himmler, Reichfürhrer e chefe da polícia alemã, ordenou a criação de um campo de concentração em umas antigas barracas proximidades do povoado de Oswiecim, no distrito de Kattowitz, Polônia. Poucos anos depois, Auschwitz-Birkenau se converteria no maior campo de extermínio construído pelos nazis em terreno polonês, símbolo do genocídio dos judeus europeus durante a Segunda Guerra Mundial e peça central da conciência nacional do povo germânico.
Dita consciência coletiva do Holocausto se caracteriza pela presença de sentimentos de culpa e vergonha. Parte da população manifesta seu sentir buscando a “salvação através do filosemitismo emocional”. Muitos outros, ao tratar de despojar-se dessa culpabilidade introjectam um novo ressentimento face aos judeus, justificando os crimes cometidos pelos nazis mediante a negação sistemática dos fatos históricos, fenômeno que tem sido descrito como a “segunda culpa”.
Estudos recentes sobre as tendências antissemitas na Alemanha e a negação do Holocausto demonstram que a hostilidade perante os judeus surge de um ressentimento que poderia descrever-se como um “antissemitismo secundário”, isto é, que deriva da dificuldade de confrontar o passado.
Da Apologia a Negação
Através dos “Julgamentos de Nuremberg”, testemunhas e sobreviventes do Holocausto nazi revelaram ao mundo crimes impossíveis de se crer. Centenas de milhares de cidadãos germânicos preferiram ignorar a realidade convertendo-se assim em sujeitos suscetíveis a manipulação.
Os anos quarenta. Nos primeiros anos do pós-guerra um crescente número de publicações apologéticas inundaram o mercado alemão. Os fatos eram ainda demasiado recentes para se intentar banalizar ou minimizar o Holocausto. Durante os Julgamentos de Nuremberg - levados a cabo entre outubro de 1945 e 1946 - os oficiais nazis não negaram os crimes cometidos, só pretenderam justificar suas ações. Não obstante suas confissões não convenceram a aqueles que se negavam a crer na responsabilidade da Alemanha nazi.
Os anos cinqüenta. O antissemitismo ressurgiu na República Federal Alemã nos finais da década de cinqüenta. Em tão somente um mês - de dezembro de 1959 a janeiro de 1960 - se perpetraram 470 incidentes motivados por sentimentos antijudaicos. Na Alemanha Ocidental circulavam publicações de extrema-direita de natureza apologética, nas que se defendia a “inocência” dos soldados alemães que “supostamente” desconheciam a existência dos crimes nazis. Posteriormente começaram a editar-se livros - como foi o caso de "Tu também Fostes Parte", de Peter Kleist - justificando a guerra expansionista de Hitler.
Os anos sessenta. Depois do impacto d julgamento de Eichmann em Jerusalém(1961) e dos julgamentos de Auschwitz em Frankfurt (1963-1966), a Alemanha começou a aceitar o Holocausto. Sem dúvida, a consciência humana, confrontada com a abundância de informação, permaneceu muda.
O tema central dos apologistas desta década foi a denúncia do que eles chamavam de “a mentira culpa-de-guerra”. Nas ditas publicações não se mencionava o extermínio dos judeus.
Os anos setenta. Quando em 1972, Willy Brandt, Chanceler da Alemanha, se ajoelhou ante o monumento construído em memória dos judeus assassinados no Gueto de Varsóvia foi severamente criticado pelos nascentes círculos neonazis. Dessa vez, incrementou-se o vandalismo antijudaico assim como a publicação de documentos que negavam o Holocausto e criavam legendas sobre o “lado positivo” dos crimes do Nacional-Socialismo.
Os anos oitenta. A diferença dos anos anteriores no que um importante grupo de historiadores alemães aceitava que o antissemitismo havia sido um elemento central da ideologia nazi e descrevia o Holocausto como un evento único na história, durante a década de oitenta se generalizaram os intentos de relativizar os crimes do Terceiro Reich. Tal foi o caso de Ernst Nolte, um dos mais controvertidos historiadores alemães, que negou a singularidade do genocídio judeu em sua obra "A Disputa dos Historiadores". De acordo com Nolte, “o antissemitismo de Hitler podia ser compreendido como uma resposta legítima e racional a ameaça comunista. De fato, o Führer tão somente imitou as práticas exterminadoras de Stalin”.
Assim mesmo, “experts” pseudo-científicos publicaram o 'Relatório Leuchter' e nele negavam a existência das câmaras de gás nos campos de concentração alemães, documento que foi utilizado pelos 'revisionistas históricos' para difundir sua propaganda.
A circulação de livros e publicações desmentindo ou justificando o Holocausto continuou ao longo desta década, apesar de que em junho de 1985 se integrou ao Código Penal alemão uma lei proibindo a difusão deste tipo de idéias.
Os anos noventa. Para muitos alemães a divisão da Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial constituiu um castigo pelo Holocausto. Por isto a reunificação foi interpretada como uma reabilitação de seu passado nazi. Com a queda do Muro de Berlim, desapareceu o tabu que rodeava o antissemitismo e se incrementaram os atos de vandalismo contra instituições judias.
Depois de prolongados debates em dezembro de 1994, se promulgou uma lei para impôr uma sentença de cinco anos a quem negasse o Holocausto e extenderam a proibição ao uso de símbolos e slogans nazis. Não obstante, os revisionistas - como Ernst Nolte - continuam afirmando que a dita ação restringe o direito constitucional a liberdade de expressão.
A SITUAÇÃO LEGAL
A negação do extermínio judeu é considerada uma ofensa na Bélgica, Áustria, França, Espanha, Suíça e Alemanha. No caso específico da Alemanha, o parágrafo 194 do Código Penal estipula que a propagação da “mentira de Auschwitz” pode ser perseguida pelas autoridades ex officio quando é cometido publicamente, isto é, sob a forma impressa, em reuniões públicas ou através de meios eletrônicos.
Ante a impossibilidade de operar na Alemanha, os “revisionistas do Holocausto” difundem sua propaganda onde não existe uma legislação a respeito como é o caso de Dinamarca, Grã-Bretanha ou países da Europa Oriental.
BIBLIOGRAFIA
Rembiszewski, Sarah
La Mentira Final: Negación del Holocausto en Alemania
The Project for the Study of Antisemitism, UTA, Israel, 1996
Fotos: Militante neonazista; Marcha neonazista em Berlim(2005), Ernest Nolte.
Mais informações sobre "revisionismo" e neonazismo(em inglês): http://www.martinfrost.ws/htmlfiles/neonazism1.html
Texto original em espanhol: Negación del Holocausto en Alemania
http://www.jafi.org.il/education/espanol/ciclo/iomhashoa/pages/negacion02.html
Tradução(português): Roberto Lucena
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Alemanha diz que não pagará mais para sobreviventes do Holocausto
Governo disse que pagará o que foi acordado em 1952.
Representante das vítimas afirma que não foi tratar de dinheiro com Berlim
"O governo alemão se recusou a pagar mais indenizações para os sobreviventes do Holocausto e disse que já foram pagos 60 bilhões de euros (mais de R$ 158 bilhões), frutos de um acordo de 1952.
A informação foi dada por um porta-voz do ministério das Finanças após uma reunião com um representante das vítimas do nazismo.
O secretário-geral da organização que representa todos os sobreviventes do Holocausto, Noah Flug, considera insuficientes as indenizações concedidas até agora pela Alemanha pelos crimes cometidos pelo nazismo contra os judeus até o fim da Segunda Guerra Mundial.
Flug afirmou, porém, que não tratou de dinheiro com o governo alemão. “Nós não estamos pedindo dinheiro. Nós falamos sobre a responsabilidade do governo alemão, disse Flug.
Flug, que representa os interesses de aproximadamente 250 mil sobreviventes, afirmou que o pagamento dessas indenizações beneficiou especialmente a Alemanha, já que permitiu ao país voltar a se integrar na comunidade internacional.
As críticas de Flug se somam às do ministro israelense para Assuntos dos Aposentados, Rafi Eitan, que exigiu há duas semanas o pagamento de novas indenizações por parte da Alemanha para os sobreviventes do Holocausto.
Eitan afirmou que, ao assinar os tratados, há mais de 50 anos, ninguém pensou no elevado custo da vida atual nem em que a esperança média de vida aumentasse em dez anos desde meados da década de 50."
(Foto, segunda): Noah Flug e Angela Merkel
Fonte: G1
Representante das vítimas afirma que não foi tratar de dinheiro com Berlim
"O governo alemão se recusou a pagar mais indenizações para os sobreviventes do Holocausto e disse que já foram pagos 60 bilhões de euros (mais de R$ 158 bilhões), frutos de um acordo de 1952.
A informação foi dada por um porta-voz do ministério das Finanças após uma reunião com um representante das vítimas do nazismo.
O secretário-geral da organização que representa todos os sobreviventes do Holocausto, Noah Flug, considera insuficientes as indenizações concedidas até agora pela Alemanha pelos crimes cometidos pelo nazismo contra os judeus até o fim da Segunda Guerra Mundial.
Flug afirmou, porém, que não tratou de dinheiro com o governo alemão. “Nós não estamos pedindo dinheiro. Nós falamos sobre a responsabilidade do governo alemão, disse Flug.
Flug, que representa os interesses de aproximadamente 250 mil sobreviventes, afirmou que o pagamento dessas indenizações beneficiou especialmente a Alemanha, já que permitiu ao país voltar a se integrar na comunidade internacional.
As críticas de Flug se somam às do ministro israelense para Assuntos dos Aposentados, Rafi Eitan, que exigiu há duas semanas o pagamento de novas indenizações por parte da Alemanha para os sobreviventes do Holocausto.
Eitan afirmou que, ao assinar os tratados, há mais de 50 anos, ninguém pensou no elevado custo da vida atual nem em que a esperança média de vida aumentasse em dez anos desde meados da década de 50."
(Foto, segunda): Noah Flug e Angela Merkel
Fonte: G1
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terça-feira, 27 de novembro de 2007
Recordações de infância de uma exilada em Xangai
Recordações de infância de uma exilada em Xangai
Seleção e tradução do alemão de
Ana María Cartolano.
Entre as crianças que depois do longo exílio em Xangai regressaram a Alemanha em 1947, a bordo do Marine Lynx, estava Sonja Mühlberger. Havia vindo ao mundo em 26 de outubro de 1939 em Xangai, onde seus pais haviam fugido em fins de março desse mesmo ano. Seu pai havia sido liberado do campo de concentração de Dachau com a condição de abandonar a Alemanha imediatamente. Em abril de 1997, Sonja escreveu pela primeira vez sobre algumas de suas experiências de infância em Xangai:
"Em princípio vivíamos da comida do asilo, nem muito boa nem muito substanciosa. Mas ao menos uma vez ao dia havia algo para comer, graças ao auxílio de organizações de ajuda judaico-norte-americanas e de algumas famílias influentes. Por exemplo para mim, que era muito pequena, me colocaram num jardim de infância, construído pela família Sassoon(1) para filhos de emigrados, porque minha mãe havia conseguido trabalho como ajudante de modista. Seu salário era a comida diária. Para mim, que era uma criança, tudo isto não pesava tanto como para meus pais. Como eu me alimentava mal não sentia a fome que com frequência eles deviam sofrer. Mais tarde meu pai, como alguns outros emigrados, começaram a trabalhar como vendedor de ovos no negócio de um chinês, e ao mesmo tempo aprendeu a falar chinês(o dialeto de Xangai). Num escuro quarto traseiro sem janelas, meu pai se sentava numa banqueta, com uns canastros (cestos) grandes de ambos lados; tomava um dos canastros quatro ovos ao mesmo tempo entre seus dedos, apontava-os para refletir frente a uma lâmpada e os punha noutro canastro grande, ou os descartava num menor; eu me sentava a seu lado e o observava. Algumas vezes me sentava sobre o porta-bagagem(bagageiro)da bicicleta, as suas costas, quando ia ao campo comprar ovos ou uns poucos frangos.
Também usava essa bicicleta para repartir os ovos, e frequentemente, para abastecer seus clientes, tinha de subir muitas escadarias com canastros pesados. E com essa mesma bicicleta me levava ao jardim de infância, mais tarde até a escola, e ía me buscar na saída.
(...) Durante dois anos freqüentei a escola Kadoorie, era um curso exclusivamente de garotas no qual também havia três garotas chinesas. A língua que se falava em classe era o inglês. Tínhamos que falar em inglês também nos recreios, mas quando estávamos suficientemente longe das professoras, falávamos em alemão entre nós.
Muitas vezes minha mãe lía para mim contos de fadas alemães de um livro que não sei de onde tirou. Quando uma vez perguntei o que era um bosque ela me disse que eu devia imaginar uma árvore, e depois outra, e assim sucessivamente, e que isso era um bosque. Só depois da abertura do gueto pudemos visitar o Parque Jessfield onde havia mais árvores, e eram maiores, que no pequeno Waysidepark(parque) situado nas proximidades do edifício onde vivíamos.
A princípio tive poucos brinquedos, e a falta deles desenhava roupas para bonecas de papel. Uma vez havíamos ido ver um médico, e na sala de espera pude folhear algumas revistas de moda que me interessaram, assim que eu mesmo comecei a fazer esboços de vestidos para minhas bonecas de papel. A única boneca verdadeira que tive me presentearam aos seis anos; coloquei-a sentada no parapeito de uma das janelas da planta baixa para que pudesse vermos vernos jogar, mas apenas dei uma volta, desapareceu para sempre. Roubaram-na as crianças chinesas que eram todavia mais pobres que nós.
(...) Vivíamos num lugar onde havia uma encruzilhada. à esquerda da casa havia um terreno cheio de escombros, à direita uma casa onde também viviam emigrados; em frente a nossa casa, na esquina, diante do muro da fábrica de cigarros, pela manhã costumavam aparecer várias embalagens colocadas em fila, uma junto a outro.
Quando me levantava e me debruçava à sacada, com frequência ouvia um choramingo. Um dia minha mãe me disse que nos vultos haviam bebês, em sua maioria garotas, que eram abandonados ali durante a noite.
Muitas vezes roguei a mais pais que recolhessem uma daquelas crianças, porque não havia coisa que desejara mais que uma irmã; mas eles não quiseram satisfazer meu desejo: me explicaram que não se sabia se aquelas crianças estavam enfermas e que, ademais, nós não podíamos alimentar a uma criança. Por azar eu sempre podia observar como chegava um garoto num carro que carregavam os corpos sem nenhuma forma de consideração e íam embora com eles. Também podia observar outras coisas desde a sacada. Por exemplo, do outro lado da encruzilhada havia um lugar onde se reuniam os Culis dos "rickshaws" e compravam água quente que, segundo se sabia, passava melhor a sede. Meu pai nunca quis viajar num "rickshaw", achava humilhante ser levado por um homem, se bem que algumas vezes tomava um “pedicab” (um chinês que conduzia uma bicicleta) ou viajava em ônibus.
(...) Teve uma experiência muito ruim antes de nossa partida partida à Alemanha. Meus pais sempre trataram de conservar vivo em mim o amor à Alemanha, sua pátria. E se o fascismo fosse derrotado queriam voltar à Alemanha. Naturalmente eu contei isto a todos os que quiseram me escutar, mas a maioria dos emigrados tinham muitos argumentos contra o regresso a um país onde sua dignidade humana havia sido pisoteada e onde haviam sido assassinados seus parentes e amigos. Estavam muito amargos e pensavam que, apesar de tudo, ali seguiram e estavam as mesmas pessoas, e nisso tinham razão. Mas não pude me esquecer de que sendo uma garota os emigrados alemães me insultaram por essa razão, e até chegaram a cuspir-me; ainda que realmente o que eu menos sabia era que meus pais haviam decidido voltar à Alemanha e não aceitar o oferecimento de emigrar à América.
Integramos o grupo dos que voltaram com o primeiro transporte que levou de regresso a sua pátria a alemães e austríacos. Nosso barco, o transporte de tropas norte-americano Marine Lynx, zarpou de Xangai em 25 de julho de 1947 e chegou a Nápoles em 16 de agosto. Desde ali, os 295 alemães entre os quais meu irmão Peter, com seus dois anos, era o mais jovem, necessitaram ainda de uma semana num trem de carga, até que em 21 de agosto de 1947 entraram na Görlitzer Bahnhof de Berlim. Os homens haviam estendido cordas ante as portas dos vagões, para que nós, as crianças, não pudéssemos cair. Quando o trem parava, nosso amigo Alfred Zacharias, corria a zelar por nossas necessidades, e assim foi que pudemos conseguir até um pouco de palha para dormir no nosso vagão. De vez em quando minha mãe abria alguma lata das que nos tinham proporcionado na UNRRA, e amornava seu conteúdo num esquentadorzinho. Nessa época, a maioria das pessoas se alimentavam com bolachas secas.
Um par de dias depois de nossa chegada, seguindo o desejo de meus pais, viví a experiência de um primeiro dia de classe na escola alemã; apesar de ter frequentado durante dois anos a escola de Xangai, fui inscrita no primeiro grau da escola primária. Durante um tempo, para festejo de meus companheiros, respondi em inglês aos mestres que me interrogavam. Mais tarde também pude fazê-lo em alemão."
Extraído de Leben im Wartesaal. "Exil in Shanghai"(Exílio em Xangai). 1938-1947.
Jüdische Museum im Stadtmuseum Berlin. Berlin: 1997.
Notas
1. A família dos Sassoon era uma família judia de tradição sefardita, estabelecida em Xangai desde o século XIX, que se encontrava entre as dos mais ricos comerciantes da Ásia. Junto aos Sassoon, Kadoorie, Hardoon, que todavia hoje têm importância na Ásia, as famílias Ezra, Shamoon, Baroukh, Toeg, Abraham, Haim e Hillali representavam as personalidades mais cultas da sociedade internacional de Xangai.
Na foto recente(logo acima), Sonja é a primeira da direita para esquerda.
Ver mais fotos no site: http://www.rickshaw.org/childhood.htm
Fonte: Fundación Memoria del Holocausto (Argentina)
http://fmh.org.ar/revista/17/recuer.htm
Texto em espanhol: Ana María Cartolano
Tradução: Roberto Lucena
Seleção e tradução do alemão de
Ana María Cartolano.
Entre as crianças que depois do longo exílio em Xangai regressaram a Alemanha em 1947, a bordo do Marine Lynx, estava Sonja Mühlberger. Havia vindo ao mundo em 26 de outubro de 1939 em Xangai, onde seus pais haviam fugido em fins de março desse mesmo ano. Seu pai havia sido liberado do campo de concentração de Dachau com a condição de abandonar a Alemanha imediatamente. Em abril de 1997, Sonja escreveu pela primeira vez sobre algumas de suas experiências de infância em Xangai:
"Em princípio vivíamos da comida do asilo, nem muito boa nem muito substanciosa. Mas ao menos uma vez ao dia havia algo para comer, graças ao auxílio de organizações de ajuda judaico-norte-americanas e de algumas famílias influentes. Por exemplo para mim, que era muito pequena, me colocaram num jardim de infância, construído pela família Sassoon(1) para filhos de emigrados, porque minha mãe havia conseguido trabalho como ajudante de modista. Seu salário era a comida diária. Para mim, que era uma criança, tudo isto não pesava tanto como para meus pais. Como eu me alimentava mal não sentia a fome que com frequência eles deviam sofrer. Mais tarde meu pai, como alguns outros emigrados, começaram a trabalhar como vendedor de ovos no negócio de um chinês, e ao mesmo tempo aprendeu a falar chinês(o dialeto de Xangai). Num escuro quarto traseiro sem janelas, meu pai se sentava numa banqueta, com uns canastros (cestos) grandes de ambos lados; tomava um dos canastros quatro ovos ao mesmo tempo entre seus dedos, apontava-os para refletir frente a uma lâmpada e os punha noutro canastro grande, ou os descartava num menor; eu me sentava a seu lado e o observava. Algumas vezes me sentava sobre o porta-bagagem(bagageiro)da bicicleta, as suas costas, quando ia ao campo comprar ovos ou uns poucos frangos.
Também usava essa bicicleta para repartir os ovos, e frequentemente, para abastecer seus clientes, tinha de subir muitas escadarias com canastros pesados. E com essa mesma bicicleta me levava ao jardim de infância, mais tarde até a escola, e ía me buscar na saída.
(...) Durante dois anos freqüentei a escola Kadoorie, era um curso exclusivamente de garotas no qual também havia três garotas chinesas. A língua que se falava em classe era o inglês. Tínhamos que falar em inglês também nos recreios, mas quando estávamos suficientemente longe das professoras, falávamos em alemão entre nós.
Muitas vezes minha mãe lía para mim contos de fadas alemães de um livro que não sei de onde tirou. Quando uma vez perguntei o que era um bosque ela me disse que eu devia imaginar uma árvore, e depois outra, e assim sucessivamente, e que isso era um bosque. Só depois da abertura do gueto pudemos visitar o Parque Jessfield onde havia mais árvores, e eram maiores, que no pequeno Waysidepark(parque) situado nas proximidades do edifício onde vivíamos.
A princípio tive poucos brinquedos, e a falta deles desenhava roupas para bonecas de papel. Uma vez havíamos ido ver um médico, e na sala de espera pude folhear algumas revistas de moda que me interessaram, assim que eu mesmo comecei a fazer esboços de vestidos para minhas bonecas de papel. A única boneca verdadeira que tive me presentearam aos seis anos; coloquei-a sentada no parapeito de uma das janelas da planta baixa para que pudesse vermos vernos jogar, mas apenas dei uma volta, desapareceu para sempre. Roubaram-na as crianças chinesas que eram todavia mais pobres que nós.
(...) Vivíamos num lugar onde havia uma encruzilhada. à esquerda da casa havia um terreno cheio de escombros, à direita uma casa onde também viviam emigrados; em frente a nossa casa, na esquina, diante do muro da fábrica de cigarros, pela manhã costumavam aparecer várias embalagens colocadas em fila, uma junto a outro.
Quando me levantava e me debruçava à sacada, com frequência ouvia um choramingo. Um dia minha mãe me disse que nos vultos haviam bebês, em sua maioria garotas, que eram abandonados ali durante a noite.
Muitas vezes roguei a mais pais que recolhessem uma daquelas crianças, porque não havia coisa que desejara mais que uma irmã; mas eles não quiseram satisfazer meu desejo: me explicaram que não se sabia se aquelas crianças estavam enfermas e que, ademais, nós não podíamos alimentar a uma criança. Por azar eu sempre podia observar como chegava um garoto num carro que carregavam os corpos sem nenhuma forma de consideração e íam embora com eles. Também podia observar outras coisas desde a sacada. Por exemplo, do outro lado da encruzilhada havia um lugar onde se reuniam os Culis dos "rickshaws" e compravam água quente que, segundo se sabia, passava melhor a sede. Meu pai nunca quis viajar num "rickshaw", achava humilhante ser levado por um homem, se bem que algumas vezes tomava um “pedicab” (um chinês que conduzia uma bicicleta) ou viajava em ônibus.
(...) Teve uma experiência muito ruim antes de nossa partida partida à Alemanha. Meus pais sempre trataram de conservar vivo em mim o amor à Alemanha, sua pátria. E se o fascismo fosse derrotado queriam voltar à Alemanha. Naturalmente eu contei isto a todos os que quiseram me escutar, mas a maioria dos emigrados tinham muitos argumentos contra o regresso a um país onde sua dignidade humana havia sido pisoteada e onde haviam sido assassinados seus parentes e amigos. Estavam muito amargos e pensavam que, apesar de tudo, ali seguiram e estavam as mesmas pessoas, e nisso tinham razão. Mas não pude me esquecer de que sendo uma garota os emigrados alemães me insultaram por essa razão, e até chegaram a cuspir-me; ainda que realmente o que eu menos sabia era que meus pais haviam decidido voltar à Alemanha e não aceitar o oferecimento de emigrar à América.
Integramos o grupo dos que voltaram com o primeiro transporte que levou de regresso a sua pátria a alemães e austríacos. Nosso barco, o transporte de tropas norte-americano Marine Lynx, zarpou de Xangai em 25 de julho de 1947 e chegou a Nápoles em 16 de agosto. Desde ali, os 295 alemães entre os quais meu irmão Peter, com seus dois anos, era o mais jovem, necessitaram ainda de uma semana num trem de carga, até que em 21 de agosto de 1947 entraram na Görlitzer Bahnhof de Berlim. Os homens haviam estendido cordas ante as portas dos vagões, para que nós, as crianças, não pudéssemos cair. Quando o trem parava, nosso amigo Alfred Zacharias, corria a zelar por nossas necessidades, e assim foi que pudemos conseguir até um pouco de palha para dormir no nosso vagão. De vez em quando minha mãe abria alguma lata das que nos tinham proporcionado na UNRRA, e amornava seu conteúdo num esquentadorzinho. Nessa época, a maioria das pessoas se alimentavam com bolachas secas.
Um par de dias depois de nossa chegada, seguindo o desejo de meus pais, viví a experiência de um primeiro dia de classe na escola alemã; apesar de ter frequentado durante dois anos a escola de Xangai, fui inscrita no primeiro grau da escola primária. Durante um tempo, para festejo de meus companheiros, respondi em inglês aos mestres que me interrogavam. Mais tarde também pude fazê-lo em alemão."
Extraído de Leben im Wartesaal. "Exil in Shanghai"(Exílio em Xangai). 1938-1947.
Jüdische Museum im Stadtmuseum Berlin. Berlin: 1997.
Notas
1. A família dos Sassoon era uma família judia de tradição sefardita, estabelecida em Xangai desde o século XIX, que se encontrava entre as dos mais ricos comerciantes da Ásia. Junto aos Sassoon, Kadoorie, Hardoon, que todavia hoje têm importância na Ásia, as famílias Ezra, Shamoon, Baroukh, Toeg, Abraham, Haim e Hillali representavam as personalidades mais cultas da sociedade internacional de Xangai.
Na foto recente(logo acima), Sonja é a primeira da direita para esquerda.
Ver mais fotos no site: http://www.rickshaw.org/childhood.htm
Fonte: Fundación Memoria del Holocausto (Argentina)
http://fmh.org.ar/revista/17/recuer.htm
Texto em espanhol: Ana María Cartolano
Tradução: Roberto Lucena
sábado, 24 de novembro de 2007
Cuidemos das palavras
Toda discriminação é odiosa, mas quando o ser humano pretende hierarquizar a seus semelhantes segundo caracteres biológicos, entra em uma alienação repugnante e suicida: ao considerar a seus semelhantes desde a perspectiva autoritária como o faz com o gado, ele mesmo passa a considerar-se um bom cavalo de raça, mas com ele se perde a dignidade do homem e não alcança a nobreza do animal.
A Europa jogou durante séculos com o discurso racista, usando-o para legitimar ou racionalizar guerras nacionais e internacionais e empresas colonialistas genocidas, até que o introjetou e o elevou a paradigma "científico". Nada foi necessário inventar aos formadores de opinião de uma turba alucinada para reunir o pioer de meia Europa. Nem sequer tiveram criatividade, inventividade, bastou-lhes servir-se do que já era oferecido no mercado de porcarias e resíduos ideológicos. Elevaram o discurso de escórias mal alinhadas a ideologia de estado e quase acabaram com a Europa e o mundo civilizado. Seu primitivismo suicida os fez protagonizar o fato mais degradante da humanidade. E foram acompanhados por acadêmicos e "cientistas", em nome de uma "ciência" de burocracia e escalão.
O poder havia caído vítima de seu própio discurso e havia arrastrado em sua queda a milhões de inocentes. A margem do precipício girou em cento e oitenta graus e assinalou o novo norte, o verdadeiro: o artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos não é outra coisa senão a consagração expressa da mudança de paradigma. Pôr a proa no norte correto não significa que se siga sempre no caminho exato e sem que sequer não haja contramarchas, mas ao menos há um norte que aponta a má consciência.
Nós não somos inocentes. A Argentina não é imune ao racismo, como também conheceu várias versões. O ponto mais baixo não teve as mesmas dimensões do universal, mas foi mais anacrônico e por isso mais insólito e tosco, grosseiro e primitivo.
Agora temos na Constituição a Declaração Universal e os tratados de Direitos Humanos, que pesa ao coral de vocês que se levantaram para impedi-lo. Entre eles, não faltaram alguns que pretenderam ridiculizar o próprio artigo primeiro, como banal e como mera declaração ética ou moral. Muitos o fizeram por oportunismo, outros por ignorância, mas também o fizeram, sem dúvida, outros que sabiam do que falavam.
Não sei se aos últimos lhes pode servir de muito, mas pelo menos aos primeiros, é necessário chamá-los a reflexão, convidá-los a que se informem minimamente sobre a história deste século, ainda que mais não seja, que se esforcem tratando de pensar um pouco - que não doa - e que, por favor, não sigam jogando irresponsavelmente com o racismo, porque essa frivolidade os pode levar a que um dia, ao levantar-se, encontem no espelho, outra vez, uma quimera, sem dignidade humana e nem de nobreza de um animal."
Fonte: Fundación Memoria del Holocausto
Texto original(em espanhol): Eugenio Zaffaroni
http://www.fmh.org.ar/revista/1/cuipal.htm
Tradução(português): Roberto Lucena
A Europa jogou durante séculos com o discurso racista, usando-o para legitimar ou racionalizar guerras nacionais e internacionais e empresas colonialistas genocidas, até que o introjetou e o elevou a paradigma "científico". Nada foi necessário inventar aos formadores de opinião de uma turba alucinada para reunir o pioer de meia Europa. Nem sequer tiveram criatividade, inventividade, bastou-lhes servir-se do que já era oferecido no mercado de porcarias e resíduos ideológicos. Elevaram o discurso de escórias mal alinhadas a ideologia de estado e quase acabaram com a Europa e o mundo civilizado. Seu primitivismo suicida os fez protagonizar o fato mais degradante da humanidade. E foram acompanhados por acadêmicos e "cientistas", em nome de uma "ciência" de burocracia e escalão.
O poder havia caído vítima de seu própio discurso e havia arrastrado em sua queda a milhões de inocentes. A margem do precipício girou em cento e oitenta graus e assinalou o novo norte, o verdadeiro: o artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos não é outra coisa senão a consagração expressa da mudança de paradigma. Pôr a proa no norte correto não significa que se siga sempre no caminho exato e sem que sequer não haja contramarchas, mas ao menos há um norte que aponta a má consciência.
Nós não somos inocentes. A Argentina não é imune ao racismo, como também conheceu várias versões. O ponto mais baixo não teve as mesmas dimensões do universal, mas foi mais anacrônico e por isso mais insólito e tosco, grosseiro e primitivo.
Agora temos na Constituição a Declaração Universal e os tratados de Direitos Humanos, que pesa ao coral de vocês que se levantaram para impedi-lo. Entre eles, não faltaram alguns que pretenderam ridiculizar o próprio artigo primeiro, como banal e como mera declaração ética ou moral. Muitos o fizeram por oportunismo, outros por ignorância, mas também o fizeram, sem dúvida, outros que sabiam do que falavam.
Não sei se aos últimos lhes pode servir de muito, mas pelo menos aos primeiros, é necessário chamá-los a reflexão, convidá-los a que se informem minimamente sobre a história deste século, ainda que mais não seja, que se esforcem tratando de pensar um pouco - que não doa - e que, por favor, não sigam jogando irresponsavelmente com o racismo, porque essa frivolidade os pode levar a que um dia, ao levantar-se, encontem no espelho, outra vez, uma quimera, sem dignidade humana e nem de nobreza de um animal."
Fonte: Fundación Memoria del Holocausto
Texto original(em espanhol): Eugenio Zaffaroni
http://www.fmh.org.ar/revista/1/cuipal.htm
Tradução(português): Roberto Lucena
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quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Shoá e Direitos Humanos
Pablo Freinkel; escrito em 15-9-2003
"Tive a grande oportunidade de assistir na qualidade de bolsista(convidado)ao Seminário que foi organizado pela 'Fundación Memoria del Holocausto' nas últimas quinta-feita e sexta-feita do mês de agosto passado, que recebeu o título de "Shoá: Memória e História". A este encontro de caráter internacional se fizeram presentes na qualidade de expositores dois dos mais reconhecidos estudiosos dessa temática, os doutores Jaim Avni e Leonardo Senkman, professores da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Yad Vashem. A eles se uniram os historiadores Abraham Huberman;, Abraham Zylberman e o filósofo Pablo Dreyzik. Também relataram suas terríveis experiências quatro sobreviventes desses duríssimos anos.
Foram duas árduas jornadas de conferências, conversas e intercâmbios de idéias com os participantes durante os breves instantes em que se fazia uma pausa para o café, que sempre se extendia, apesar do zelo dos organizadores por cumprir o que foi pautado no programa, em razão do nível que alcançavam essas rápidas conversações.
Uma das qualidades deste Seminário foi seu caráter federal. Com efeito, representantes da maioria das províncias argentinas foram credenciados podendo participar livremente das atividades. Uma grande porcentagem deles eram docentes de nível secundário e universitário; alguns, vinham em nome de uma Instituição; e, outros, como em meu caso, chegaram até o velho e renovado casarão da rua Montevideo 919, na qualidade de estudiosos da Shoá. Assim mesmo, houve representantes do Uruguai e Panamá. Todos fomos recebidos com calidez e a boa predisposição da Lic. Sima Weingarten de Milmaniene, a professora Graciela Nabel de Jinich e a coordenadora srta. Daniela Urfeig, junto com os demais empregados dessa Casa.
Na Sexta-feira ao meio-dia se realizou uma reunião exclusiva com as pessoas que provinham do interior e exterior do país. A idéia consistia em que cada um informasse acerca de suas tarefas específicas sobre a temática desenvolvida, com o objetivo de tomar conhecimento acerca do que se faz nas diferentes cidades da Argentina. E, em verdade, algumas das coisas que ali se mencionaram são dignas de comentário.
Na 'Universidad Nacional de San Luis' existe uma Cátedra Livre que se denomina "Genocídio e Holocausto", na qual se estudam os diferentes massacres cometidos durante o século passado, tomando como ponto de partida o maior crime cometido contra o povo judeu; por outra parte, a docente que servia como porta-voz, assinalou que dentro do Liceu Policial da província puntana o Holocausto é uma assinatura obrigatória para os cadetes que ali cursam sua instrução.
Na 'Universidad Nacional del Comahue', em Neuquén, a Faculdade de Ciências Humanas(Humanidades)conta com uma Cátedra Livre de Estudos Hebraicos onde também se estuda esta delicada questão. Uma professora chaquenha informou que a pedido do Ministério da Educação dessa província se organizou uma série de módulos para serem apresentados em diferentes escolas e que, apesar de não ser curricular, o interesse que despertara nos alunos entre quinze e dezessete anos fez com que os cursos sejam cada vez mais numerosos. Na Faculdade de Direito da 'Universidad Nacional de Rosario' funciona um Instituto sobre Direitos Humanos que tem a Shoá como um dos temas de referência ineludíveis. Casos similares se repetem em Córdoba, Mar del Plata, Mendoza, Santa Fe, Moisesville e, por suposto, em Bahía Blanca que através do Centro Raoul Wallenberg - Mostra Permanente do Holocausto-Shoá - realiza conferências com convidados especiais, visitas a escolas públicas e privadas, e que propiciou a criação no âmbito da 'Universidad Nacional del Sur' a Cátedra Livre Raoul Wallenberg.
Cabe então perguntar-se acerca das motivações que propiciaram este súbito interesse nos âmbitos não-judaicos por conhecer e difundir a Shoá.
Para intentar uma aproximação utilizarei alguns dos pontos desenvolvidos pelos catedráticos visitantes e que, em definitivo, constituíram o miolo do Seminário. O professor Avni expressou que o Holocausto tardou uma geração para se fixar na memória coletiva. Ao concluir a segunda guerra, o mundo se ocupou da reconstrução mais que dos conflitos internos das pessoas. Os Estados Unidos estavam já imersos na guerra fria além de receber agentes nazis, a França queria desconhecer seu passado e a Inglaterra se apresentava como heroína e mártir. Por sua parte, a União Soviética emergiu da disputa, destroçada e com um único salvador: Stalin. A ideologia oficial não reconhecia o judaísmo como povo, e em conseqüência os que tombaram na guerra foram cidadãos soviéticos, o qual implicava que tampouco houve Holocausto judeu, negado inclusive como política de Estado.
Em tanto que em Israel, a guerra de liberação, a criação do Estado e a recepção dos imigrantes mantiveram calados os ecos da tragédia. Uma plena efervescência pelos êxitos obtidos pelos israelis que contrastava com a passividade das vítimas durante o massacre, cujo resultado foi a humilhante imagem de "deixar-se levar como ovelhas ao matadouro". Recentemente em 1951, o Parlamento israelense deu luz a uma Lei de Perseguição contra Nazis e Cúmplices. Dois anos mais tarde, promulgou-se a Lei da Memória do Holocausto e da Resistência, dispondo-se a criação do Yad Vashem(Museu do Holocausto). Contudo, estas disposições oficiais encontravam pouca receptividade em ambos os setores da sociedade israelense. Tudo isto mudou com a captura e posterior julgamento de Adolf Eichmann.
Até esse crucial momento, o Holocausto não era material de estudo nas escolas e os sobreviventes mantinham um obstinado silêncio, sem dúvida porque advertiam que não desejavam ser escutados. O caso Eichmann permitiu a entrada do fenômeno na consciência dos israelis.
As repercussões do julgamento ao criminoso nazi capturado na Argentina coincidiu com as deliberações do Concílio Vaticano II e ambos elementos permitiram o ingresso do Holocausto no mundo católico.
O silêncio das vítimas sobreviventes, contudo, não implicava no esquecimento do que lhes havia acontecido e da perda de seus entes queridos. O Dr. Leonardo Senkman aludiu a esta questão. O duelo e a angústia individual transcendeu a comunidade, que fez dele o ato de recordação. Na Argentina, no início de 1946, a Associação dos Judeus Poloneses promoveu a primeira iniciativa de rememorar de forma coletiva. Surgiu, a partir de então, um acúmulo de escritos sem pretensão literária, tão só crônicas espontâneas, que recuperavam o povo(shtetl), a sua gente, os costumes e as tradições, o idioma, a vida diária. Entre 1946 e 1966 se publicaram 176 volumes em Yidish.
Na continuação, os que sobreviveram começaram a procurar-se entre eles, porque cada um podia fazer um ato de reparação para voltar à vida daqueles povos. Assim, como concêntricos que conformam uma rede de povos judeus, construiu-se uma memória coletiva, que permitiu a continuidade do judaísmo apesar da destruição.
Pouco a pouco, a Shoá adquiriu um novo significado, implícito como uma das piores expressões do anti-semitismo. E se sabe que o anti-semitismo configura uma, senão a maior, declaração de discriminação. Em conseqüência, tema obrigatório para quem defende os Direitos Humanos em sua integridade.
Desse modo, a Shoá e o ódio aos judeus(e ao judeu)foi mais além da recordação comunitária para se instalar na consciência daqueles que sustentam que os Direitos Humanos devem ser considerados como um bem superior. A Shoá, ao se tornar universal, não é tema só para os judeus senão para todos os que se dedicam a promoção e ao respeito dos valores e liberdades individuais."
Fonte: Fundación Memoria del Holocausto
Texto original(espanhol): Pablo Freinkel
http://www.fmh.org.ar/holocausto/artinteres/derechos.htm
Tradução: Roberto Lucena
"Tive a grande oportunidade de assistir na qualidade de bolsista(convidado)ao Seminário que foi organizado pela 'Fundación Memoria del Holocausto' nas últimas quinta-feita e sexta-feita do mês de agosto passado, que recebeu o título de "Shoá: Memória e História". A este encontro de caráter internacional se fizeram presentes na qualidade de expositores dois dos mais reconhecidos estudiosos dessa temática, os doutores Jaim Avni e Leonardo Senkman, professores da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Yad Vashem. A eles se uniram os historiadores Abraham Huberman;, Abraham Zylberman e o filósofo Pablo Dreyzik. Também relataram suas terríveis experiências quatro sobreviventes desses duríssimos anos.
Foram duas árduas jornadas de conferências, conversas e intercâmbios de idéias com os participantes durante os breves instantes em que se fazia uma pausa para o café, que sempre se extendia, apesar do zelo dos organizadores por cumprir o que foi pautado no programa, em razão do nível que alcançavam essas rápidas conversações.
Uma das qualidades deste Seminário foi seu caráter federal. Com efeito, representantes da maioria das províncias argentinas foram credenciados podendo participar livremente das atividades. Uma grande porcentagem deles eram docentes de nível secundário e universitário; alguns, vinham em nome de uma Instituição; e, outros, como em meu caso, chegaram até o velho e renovado casarão da rua Montevideo 919, na qualidade de estudiosos da Shoá. Assim mesmo, houve representantes do Uruguai e Panamá. Todos fomos recebidos com calidez e a boa predisposição da Lic. Sima Weingarten de Milmaniene, a professora Graciela Nabel de Jinich e a coordenadora srta. Daniela Urfeig, junto com os demais empregados dessa Casa.
Na Sexta-feira ao meio-dia se realizou uma reunião exclusiva com as pessoas que provinham do interior e exterior do país. A idéia consistia em que cada um informasse acerca de suas tarefas específicas sobre a temática desenvolvida, com o objetivo de tomar conhecimento acerca do que se faz nas diferentes cidades da Argentina. E, em verdade, algumas das coisas que ali se mencionaram são dignas de comentário.
Na 'Universidad Nacional de San Luis' existe uma Cátedra Livre que se denomina "Genocídio e Holocausto", na qual se estudam os diferentes massacres cometidos durante o século passado, tomando como ponto de partida o maior crime cometido contra o povo judeu; por outra parte, a docente que servia como porta-voz, assinalou que dentro do Liceu Policial da província puntana o Holocausto é uma assinatura obrigatória para os cadetes que ali cursam sua instrução.
Na 'Universidad Nacional del Comahue', em Neuquén, a Faculdade de Ciências Humanas(Humanidades)conta com uma Cátedra Livre de Estudos Hebraicos onde também se estuda esta delicada questão. Uma professora chaquenha informou que a pedido do Ministério da Educação dessa província se organizou uma série de módulos para serem apresentados em diferentes escolas e que, apesar de não ser curricular, o interesse que despertara nos alunos entre quinze e dezessete anos fez com que os cursos sejam cada vez mais numerosos. Na Faculdade de Direito da 'Universidad Nacional de Rosario' funciona um Instituto sobre Direitos Humanos que tem a Shoá como um dos temas de referência ineludíveis. Casos similares se repetem em Córdoba, Mar del Plata, Mendoza, Santa Fe, Moisesville e, por suposto, em Bahía Blanca que através do Centro Raoul Wallenberg - Mostra Permanente do Holocausto-Shoá - realiza conferências com convidados especiais, visitas a escolas públicas e privadas, e que propiciou a criação no âmbito da 'Universidad Nacional del Sur' a Cátedra Livre Raoul Wallenberg.
Cabe então perguntar-se acerca das motivações que propiciaram este súbito interesse nos âmbitos não-judaicos por conhecer e difundir a Shoá.
Para intentar uma aproximação utilizarei alguns dos pontos desenvolvidos pelos catedráticos visitantes e que, em definitivo, constituíram o miolo do Seminário. O professor Avni expressou que o Holocausto tardou uma geração para se fixar na memória coletiva. Ao concluir a segunda guerra, o mundo se ocupou da reconstrução mais que dos conflitos internos das pessoas. Os Estados Unidos estavam já imersos na guerra fria além de receber agentes nazis, a França queria desconhecer seu passado e a Inglaterra se apresentava como heroína e mártir. Por sua parte, a União Soviética emergiu da disputa, destroçada e com um único salvador: Stalin. A ideologia oficial não reconhecia o judaísmo como povo, e em conseqüência os que tombaram na guerra foram cidadãos soviéticos, o qual implicava que tampouco houve Holocausto judeu, negado inclusive como política de Estado.
Em tanto que em Israel, a guerra de liberação, a criação do Estado e a recepção dos imigrantes mantiveram calados os ecos da tragédia. Uma plena efervescência pelos êxitos obtidos pelos israelis que contrastava com a passividade das vítimas durante o massacre, cujo resultado foi a humilhante imagem de "deixar-se levar como ovelhas ao matadouro". Recentemente em 1951, o Parlamento israelense deu luz a uma Lei de Perseguição contra Nazis e Cúmplices. Dois anos mais tarde, promulgou-se a Lei da Memória do Holocausto e da Resistência, dispondo-se a criação do Yad Vashem(Museu do Holocausto). Contudo, estas disposições oficiais encontravam pouca receptividade em ambos os setores da sociedade israelense. Tudo isto mudou com a captura e posterior julgamento de Adolf Eichmann.
Até esse crucial momento, o Holocausto não era material de estudo nas escolas e os sobreviventes mantinham um obstinado silêncio, sem dúvida porque advertiam que não desejavam ser escutados. O caso Eichmann permitiu a entrada do fenômeno na consciência dos israelis.
As repercussões do julgamento ao criminoso nazi capturado na Argentina coincidiu com as deliberações do Concílio Vaticano II e ambos elementos permitiram o ingresso do Holocausto no mundo católico.
O silêncio das vítimas sobreviventes, contudo, não implicava no esquecimento do que lhes havia acontecido e da perda de seus entes queridos. O Dr. Leonardo Senkman aludiu a esta questão. O duelo e a angústia individual transcendeu a comunidade, que fez dele o ato de recordação. Na Argentina, no início de 1946, a Associação dos Judeus Poloneses promoveu a primeira iniciativa de rememorar de forma coletiva. Surgiu, a partir de então, um acúmulo de escritos sem pretensão literária, tão só crônicas espontâneas, que recuperavam o povo(shtetl), a sua gente, os costumes e as tradições, o idioma, a vida diária. Entre 1946 e 1966 se publicaram 176 volumes em Yidish.
Na continuação, os que sobreviveram começaram a procurar-se entre eles, porque cada um podia fazer um ato de reparação para voltar à vida daqueles povos. Assim, como concêntricos que conformam uma rede de povos judeus, construiu-se uma memória coletiva, que permitiu a continuidade do judaísmo apesar da destruição.
Pouco a pouco, a Shoá adquiriu um novo significado, implícito como uma das piores expressões do anti-semitismo. E se sabe que o anti-semitismo configura uma, senão a maior, declaração de discriminação. Em conseqüência, tema obrigatório para quem defende os Direitos Humanos em sua integridade.
Desse modo, a Shoá e o ódio aos judeus(e ao judeu)foi mais além da recordação comunitária para se instalar na consciência daqueles que sustentam que os Direitos Humanos devem ser considerados como um bem superior. A Shoá, ao se tornar universal, não é tema só para os judeus senão para todos os que se dedicam a promoção e ao respeito dos valores e liberdades individuais."
Fonte: Fundación Memoria del Holocausto
Texto original(espanhol): Pablo Freinkel
http://www.fmh.org.ar/holocausto/artinteres/derechos.htm
Tradução: Roberto Lucena
sábado, 17 de novembro de 2007
Nazistas usam internet para recontar história
Nazistas usam internet para recontar história
SÃO PAULO – Uma pesquisa de mestrado da Unicamp mapeou as características dos neonazistas que divulgam suas idéias na internet.
Segundo a autora do estudo, a antropóloga Adriana Abreu Magalhães Dias, grupos neonazistas encontraram no anonimato da internet um campo adequado para propagar suas idéias e defender princípios preconceituosos.
De acordo com o estudo da Unicamp, uma das estratégias centrais do neonazismo é usar a internet para revisar a histórias.
Diversos fóruns e comunidades dedicam-se a desconstruir a idéia de que o nazismo é uma ideologia detestável e perigosa para a sociedade. Nos textos exibidos pela antropólogas, os neonazistas tentam justificar os crimes cometidos na Europa e pelo mundo durante o auge dos regimes nazistas, notadamente na Alemanha.
O objetivo central dos blogs e fóruns nazistas, diz a antropóloga, é atrair novos adeptos para o movimento e convencê-los de que não é vergonhoso integrar um grupo nazista.
A autora afirma ainda que os neonazistas tentam demonstrar que é possível construir um modelo político racista mesmo num país miscigenado, como o Brasil. O objetivo será implementar um racismo de Estado, que excluísse grupos não brancos do acesso às universidades, cargos políticos e de direção.
Felipe Zmoginski, do Plantão INFO
Fonte: "PLANTÃO INFO / 11/2007 / internet
Terça-feira, 13 de novembro de 2007 - 18h34
http://info.abril.com.br/aberto/infonews/112007/13112007-21.shl
Foto: The Time(Grã-Bretanha)
SÃO PAULO – Uma pesquisa de mestrado da Unicamp mapeou as características dos neonazistas que divulgam suas idéias na internet.
Segundo a autora do estudo, a antropóloga Adriana Abreu Magalhães Dias, grupos neonazistas encontraram no anonimato da internet um campo adequado para propagar suas idéias e defender princípios preconceituosos.
De acordo com o estudo da Unicamp, uma das estratégias centrais do neonazismo é usar a internet para revisar a histórias.
Diversos fóruns e comunidades dedicam-se a desconstruir a idéia de que o nazismo é uma ideologia detestável e perigosa para a sociedade. Nos textos exibidos pela antropólogas, os neonazistas tentam justificar os crimes cometidos na Europa e pelo mundo durante o auge dos regimes nazistas, notadamente na Alemanha.
O objetivo central dos blogs e fóruns nazistas, diz a antropóloga, é atrair novos adeptos para o movimento e convencê-los de que não é vergonhoso integrar um grupo nazista.
A autora afirma ainda que os neonazistas tentam demonstrar que é possível construir um modelo político racista mesmo num país miscigenado, como o Brasil. O objetivo será implementar um racismo de Estado, que excluísse grupos não brancos do acesso às universidades, cargos políticos e de direção.
Felipe Zmoginski, do Plantão INFO
Fonte: "PLANTÃO INFO / 11/2007 / internet
Terça-feira, 13 de novembro de 2007 - 18h34
http://info.abril.com.br/aberto/infonews/112007/13112007-21.shl
Foto: The Time(Grã-Bretanha)
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
A ficha corrida do "revisionista" francês
Tradução livre, Roberto Lucena:
Sobre Vincent Reynouard, é um engenheiro e um autor "revisionista" francês. Nasceu em 1969. Antigo professor em matemática e engenheiro químico de formação, foi excluído em 1997 da Educação nacional(França)por ter conservado num computador do seu liceu documentos que negam o Holocausto.
Exilado na Bélgica no seguimento dos processos judiciais intentados contra ele por seus trabalhos que contestam a história do massacre de Oradour-sur-Glane, não consegue prosseguir com sua atividade editorial. Vincent Reynouard é muito marcado pelo catolicismo tradicionalista (ele é sedevacantista), que ele tende a associar à sua atividade "revisionista".
Na Bélgica, desde os anos de 1990, tem contato com Hervé Van Laethem. Este último foi dirigente e fundador do grupo neonazista L'Assaut(O Assalto)de 1988 à 1993, fez parte da juventude do Front Nacional Belga(Front national belge - FNB) e por fim em 1999 do Movimento Nação(Mouvement Nation). Vincent Reynouard afirma pra si que faz parte de um movimento nacional-socialista(nazista), "revisionista" e católico tradicionalista. Foi membro do Partido Nacionalista francês e europeu(PNFE).
Em 8 de Outubro de 1992, o Tribunal de Recurso Caen o condenou a um mês de prisão com prorrogação e 5.000 francos de multa por contestação da existência de um ou vários crimes contra a humanidade(acórdão n° 679), Reynouard, de acordo com o Tribunal de cassação, "tem dirigido a vinte e quatro alunos de um liceu, laureados do concurso Resistência e Deportação, cartas anônimas às quais era anexada a fotocópia de escritos que contestam a existência das câmaras de gás na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial".
Por um acórdão de 26 de Maio de 1994(recurso n° 92-85638), o Tribunal de cassação quebrou parcialmente, sem referência, este acórdão, nas suas únicas disposições relativas ao encarceiramento, de que não pode ser indiciado por uma infração que tem um caráter político, os delitos de imprensa assimilados a infrigimentos políticos.
Em Junho de 2004, o Tribunal de Recurso de Limoges condenou-o a vinte e quatro meses de prisão, seis dos quais exploração agrícola, por apologia a crimes de guerra, devido à realização e a divulgação de uma fita de vídeo intitulada "Tragédia de Oradour-sur-Glane: 50 anos de mentiras oficiais"; o Tribunal de cassação quebrou este acórdão, por conta de que os fatos mencionados não constituem uma apologia de crimes de guerras, mas sim a uma contestação de crimes de guerra, o que não é restringido por lei.
Vincent Reynouard foi condenado em 8 de Novembro de 2007 a um ano de prisão e a uma multa de 100.000 euros pelo tribunal correccional de Saverne (Bas-Rhin), por contestação de crimes contra a humanidade. Ele foi acusado nominalmente de difundir uma brochura intitulada "Holocausto?" O que escondem"." A Liga internacional contra o racismo e o anti-semitismo (Licra), teve 3.000 euros de prejuízo com a manufatura de impressão e o seu presidente, onde foi distribuído o documento, 150 euros.
Na foto acima, Vincent Reynouard é o segundo da esquerda para direita.
Referências do artigo da Wikipedia em francês sobre o "revisionista":
« Révisionnisme : Honfleur : professeur révoqué », Le Figaro, 23 avril 1997 ;
« Révisionniste », Sud Ouest, 7 avril 1998.
« Oradour-sur-Glane : condamnation d'un révisionniste », L'Humanité, 11 juin 2004 ;
« Six mois ferme pour le révisionniste », La Nouvelle République du Centre-Ouest, 10 juin 2004 ;
« Oradour : cassation de la condamnation du révisionniste Vincent Reynouard », Agence France-Presse, 13 avril 2005
«Un ex-professeur condamné à un an de prison pour révisionnisme », Reuters, jeudi 8 novembre 2007.
Sobre Vincent Reynouard, é um engenheiro e um autor "revisionista" francês. Nasceu em 1969. Antigo professor em matemática e engenheiro químico de formação, foi excluído em 1997 da Educação nacional(França)por ter conservado num computador do seu liceu documentos que negam o Holocausto.
Exilado na Bélgica no seguimento dos processos judiciais intentados contra ele por seus trabalhos que contestam a história do massacre de Oradour-sur-Glane, não consegue prosseguir com sua atividade editorial. Vincent Reynouard é muito marcado pelo catolicismo tradicionalista (ele é sedevacantista), que ele tende a associar à sua atividade "revisionista".
Na Bélgica, desde os anos de 1990, tem contato com Hervé Van Laethem. Este último foi dirigente e fundador do grupo neonazista L'Assaut(O Assalto)de 1988 à 1993, fez parte da juventude do Front Nacional Belga(Front national belge - FNB) e por fim em 1999 do Movimento Nação(Mouvement Nation). Vincent Reynouard afirma pra si que faz parte de um movimento nacional-socialista(nazista), "revisionista" e católico tradicionalista. Foi membro do Partido Nacionalista francês e europeu(PNFE).
Em 8 de Outubro de 1992, o Tribunal de Recurso Caen o condenou a um mês de prisão com prorrogação e 5.000 francos de multa por contestação da existência de um ou vários crimes contra a humanidade(acórdão n° 679), Reynouard, de acordo com o Tribunal de cassação, "tem dirigido a vinte e quatro alunos de um liceu, laureados do concurso Resistência e Deportação, cartas anônimas às quais era anexada a fotocópia de escritos que contestam a existência das câmaras de gás na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial".
Por um acórdão de 26 de Maio de 1994(recurso n° 92-85638), o Tribunal de cassação quebrou parcialmente, sem referência, este acórdão, nas suas únicas disposições relativas ao encarceiramento, de que não pode ser indiciado por uma infração que tem um caráter político, os delitos de imprensa assimilados a infrigimentos políticos.
Em Junho de 2004, o Tribunal de Recurso de Limoges condenou-o a vinte e quatro meses de prisão, seis dos quais exploração agrícola, por apologia a crimes de guerra, devido à realização e a divulgação de uma fita de vídeo intitulada "Tragédia de Oradour-sur-Glane: 50 anos de mentiras oficiais"; o Tribunal de cassação quebrou este acórdão, por conta de que os fatos mencionados não constituem uma apologia de crimes de guerras, mas sim a uma contestação de crimes de guerra, o que não é restringido por lei.
Vincent Reynouard foi condenado em 8 de Novembro de 2007 a um ano de prisão e a uma multa de 100.000 euros pelo tribunal correccional de Saverne (Bas-Rhin), por contestação de crimes contra a humanidade. Ele foi acusado nominalmente de difundir uma brochura intitulada "Holocausto?" O que escondem"." A Liga internacional contra o racismo e o anti-semitismo (Licra), teve 3.000 euros de prejuízo com a manufatura de impressão e o seu presidente, onde foi distribuído o documento, 150 euros.
Na foto acima, Vincent Reynouard é o segundo da esquerda para direita.
Referências do artigo da Wikipedia em francês sobre o "revisionista":
« Révisionnisme : Honfleur : professeur révoqué », Le Figaro, 23 avril 1997 ;
« Révisionniste », Sud Ouest, 7 avril 1998.
« Oradour-sur-Glane : condamnation d'un révisionniste », L'Humanité, 11 juin 2004 ;
« Six mois ferme pour le révisionniste », La Nouvelle République du Centre-Ouest, 10 juin 2004 ;
« Oradour : cassation de la condamnation du révisionniste Vincent Reynouard », Agence France-Presse, 13 avril 2005
«Un ex-professeur condamné à un an de prison pour révisionnisme », Reuters, jeudi 8 novembre 2007.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Francês é condenado a um ano de prisão por questionar o Holocausto
Francês é condenado à prisão por questionar genocídio judeu
Da AFP
Vincent Reynouard, um engenheiro químico francês de 38 anos, foi condenado nesta quinta-feira a um ano de prisão por ter questionado em livretos distribuídos em todo o país a existência do genocídio dos judeus cometidos pelos nazistas.
Reynouard também foi condenado a pagar uma multa de 10 mil euros e 3,3 mil euros por danos às partes querelantes.
Essa é uma das condenações mais severas aplicadas até hoje na França por textos ou declarações deste teor, conhecidas como "revisionistas".
O texto de Reynouard, um fascículo de 16 páginas intitulado "Holocausto? O que ocultam a respeito", considera "impossível o extermínio de seis milhões de judeus entre 1940 e 1945".
Em 1996, Reynouard foi condenado a três meses por fatos similares e, na ocasião, disse que ir ao tribunal não o impediria de continuar escrevendo sobre o revisionismo.
Fonte: AFP/Diário do Grande ABC
http://www.dgabc.com.br/News/90000615670/frances-e-condenado-a-prisao-por-questionar-genocidio-judeu.aspx?ref=history
Da AFP
Vincent Reynouard, um engenheiro químico francês de 38 anos, foi condenado nesta quinta-feira a um ano de prisão por ter questionado em livretos distribuídos em todo o país a existência do genocídio dos judeus cometidos pelos nazistas.
Reynouard também foi condenado a pagar uma multa de 10 mil euros e 3,3 mil euros por danos às partes querelantes.
Essa é uma das condenações mais severas aplicadas até hoje na França por textos ou declarações deste teor, conhecidas como "revisionistas".
O texto de Reynouard, um fascículo de 16 páginas intitulado "Holocausto? O que ocultam a respeito", considera "impossível o extermínio de seis milhões de judeus entre 1940 e 1945".
Em 1996, Reynouard foi condenado a três meses por fatos similares e, na ocasião, disse que ir ao tribunal não o impediria de continuar escrevendo sobre o revisionismo.
Fonte: AFP/Diário do Grande ABC
http://www.dgabc.com.br/News/90000615670/frances-e-condenado-a-prisao-por-questionar-genocidio-judeu.aspx?ref=history
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Brandt de joelhos em Varsóvia
1970: Brandt de joelhos em Varsóvia
No dia 7 de dezembro de 1970, o chanceler federal Willy Brandt e seu ministro do Exterior, Walter Scheel, assinaram na capital da Polônia o acordo de normalização das relações teuto-polonesas, o Acordo de Varsóvia.
(Foto)Gesto do chanceler alemão na Polônia entrou para a história
Ao se ajoelhar diante do memorial às vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia, o gesto de Willy Brandt entrou para a história como símbolo da busca alemã pela reconciliação.
Os nazistas haviam encurralado meio milhão de judeus no Gueto de Varsóvia. Até que em abril de 1943 aconteceu o levante, reprimido violentamente pelas tropas de Hitler. Poucos sobreviventes restaram para contar a história. A queda de joelhos do chefe de governo Willy Brandt (o primeiro chanceler social-democrata do pós-guerra) e o silêncio que se seguiu – interrompido apenas pela chuva de flashs fotográficos – repercutiram no mundo como um símbolo de arrependimento, pedido de perdão e tentativa de reconciliação da Alemanha.
Dentro do país, entretanto, Brandt foi até xingado. Grande parte da população considerou a atitude exagerada. Os conservadores chegaram a xingá-lo de traidor e entreguista, de estar entrando no jogo dos soviéticos, que pretendiam açambarcar também o lado ocidental da Alemanha. Brandt, por seu lado, justificou que seu gesto foi completamente espontâneo, levado pela consternação de não poder expressar em palavras o que sentia no momento.
Para muitos, a derrocada da Cortina de Ferro começou com o sindicato Solidariedade na Polônia e a queda do Muro de Berlim, em 1989. O primeiro embaixador polonês na Alemanha reunificada, Janusz Reiter, por seu lado, considera que a partir de 1989 começou uma nova era política, semeada em 1970 com a reconciliação teuto-polonesa.
Acordo de normalização de relações
Vinte e cinco anos depois do final da 2ª Guerra, a viagem de Brandt à Polônia de regime comunista foi um tema extremamente controvertido na Alemanha. O objetivo era a assinatura do tratado de normalização das relações entre os dois países, que seria seguido de um acordo no mesmo sentido entre a Alemanha e a União Soviética.
Um dos aspectos importantes do Acordo de Varsóvia consistia no reconhecimento pelo governo de Bonn da fronteira ao longo da linha formada pelos rios Oder e Neisse. Um duro golpe para milhões de alemães desterrados que moravam ali antes da guerra.
A coragem e espontaneidade de Willy Brandt naquele 7 de dezembro de 1970 foram apenas um dos motivos que lhe valeram o Prêmio Nobel da Paz do ano seguinte. Um caso de espionagem em seu gabinete causou sua renúncia, em 1974. Na opinião de John Dew, autor de um projeto da peça A Queda de Joelhos em Varsóvia, Brandt tornou-se figura-guia na história do pós-guerra, por ter expressado o desespero, a tristeza e a sensação de impotência das pessoas naquela época. Brandt teve visão e esta visão ajudou a superar a Guerra Fria", conclui Dew.
Volker Wagener(rw)
Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,1564,704988,00.html
Revisitar o Holocausto(coleta de textos jornalísticos publicados sobre o Holocausto)
No dia 7 de dezembro de 1970, o chanceler federal Willy Brandt e seu ministro do Exterior, Walter Scheel, assinaram na capital da Polônia o acordo de normalização das relações teuto-polonesas, o Acordo de Varsóvia.
(Foto)Gesto do chanceler alemão na Polônia entrou para a história
Ao se ajoelhar diante do memorial às vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia, o gesto de Willy Brandt entrou para a história como símbolo da busca alemã pela reconciliação.
Os nazistas haviam encurralado meio milhão de judeus no Gueto de Varsóvia. Até que em abril de 1943 aconteceu o levante, reprimido violentamente pelas tropas de Hitler. Poucos sobreviventes restaram para contar a história. A queda de joelhos do chefe de governo Willy Brandt (o primeiro chanceler social-democrata do pós-guerra) e o silêncio que se seguiu – interrompido apenas pela chuva de flashs fotográficos – repercutiram no mundo como um símbolo de arrependimento, pedido de perdão e tentativa de reconciliação da Alemanha.
Dentro do país, entretanto, Brandt foi até xingado. Grande parte da população considerou a atitude exagerada. Os conservadores chegaram a xingá-lo de traidor e entreguista, de estar entrando no jogo dos soviéticos, que pretendiam açambarcar também o lado ocidental da Alemanha. Brandt, por seu lado, justificou que seu gesto foi completamente espontâneo, levado pela consternação de não poder expressar em palavras o que sentia no momento.
Para muitos, a derrocada da Cortina de Ferro começou com o sindicato Solidariedade na Polônia e a queda do Muro de Berlim, em 1989. O primeiro embaixador polonês na Alemanha reunificada, Janusz Reiter, por seu lado, considera que a partir de 1989 começou uma nova era política, semeada em 1970 com a reconciliação teuto-polonesa.
Acordo de normalização de relações
Vinte e cinco anos depois do final da 2ª Guerra, a viagem de Brandt à Polônia de regime comunista foi um tema extremamente controvertido na Alemanha. O objetivo era a assinatura do tratado de normalização das relações entre os dois países, que seria seguido de um acordo no mesmo sentido entre a Alemanha e a União Soviética.
Um dos aspectos importantes do Acordo de Varsóvia consistia no reconhecimento pelo governo de Bonn da fronteira ao longo da linha formada pelos rios Oder e Neisse. Um duro golpe para milhões de alemães desterrados que moravam ali antes da guerra.
A coragem e espontaneidade de Willy Brandt naquele 7 de dezembro de 1970 foram apenas um dos motivos que lhe valeram o Prêmio Nobel da Paz do ano seguinte. Um caso de espionagem em seu gabinete causou sua renúncia, em 1974. Na opinião de John Dew, autor de um projeto da peça A Queda de Joelhos em Varsóvia, Brandt tornou-se figura-guia na história do pós-guerra, por ter expressado o desespero, a tristeza e a sensação de impotência das pessoas naquela época. Brandt teve visão e esta visão ajudou a superar a Guerra Fria", conclui Dew.
Volker Wagener(rw)
Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,1564,704988,00.html
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