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sexta-feira, 31 de março de 2017

Nazismo de esquerda? (Mark Mazower) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 04

Dando continuidade à série "Nazismo de esquerda? O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita" (onde irei incluir textos históricos de peso de jornalistas também, vide o do William Shirer, em alguma sequência), quem perdeu a origem (de onde saiu a ideia) da série, ler aqui.

Seguem trechos do livro do Mark Mazower mostrando a mesma coisa dos outros posts, o nazismo na extrema-direita. Eu já adianto, como já disse antes, que considero vexatório ter que fazer um texto sobre isso porque considero essa discussão batida, beirando o ridículo, só em um país dominado por um "analfabetismo político" (e funcional) fora do comum é necessário se chegar a um extremo de ter que mostrar o óbvio (porque os que panfletam bobagens só "leem" sites toscos da extrema-direita liberal que é quem panfleta essa asneira no país, como filial, já que a matriz fica nos EUA), quem afirma que nazismo é de "esquerda", "extrema-esquerda" etc está só panfletando, fora o "nível" de argumentação e discussão que esse pessoal usa pra "justificar" essa baboseira (o povo que critica o "tom" nunca deve ter visto as baboseiras que temos que ler sobre isso, fora os "elogios" recebidos, vulgo "xingamentos"), com esse pessoal rotulando até gente de direita (que chama o nazismo pelo que é, de extrema-direita) como "esquerdistas que foram doutrinados pelo gramscismo" (risos).

Estou "rindo" (aspas) pra não chorar, mas... essa cretinice militante no país preocupa, é só ver os resultados da coisa com o caos que essa gente lançou o país, com a 'anuência' (concordância velada ou não) da outra parte que ficou inerte só "assistindo" o agravamento do caos começado em 2013, na "esperança" sabe-se lá de quê (golpe de estado, perda de direitos trabalhistas, terceirização irrestrita, destruição da previdência social etc), coisas que afetam até esse pessoal que agora está 'meio perdido' sem saber o que fazer ou no que se meteram. É o velho dito, não se mete em briga de "cachorro grande" sem saber o que está por trás da 'peleja', sem saber qual o embate ideológico que atravessa décadas no país que é o implante do [neo]liberalismo e sucateamento do Estado brasileiro pra manter o caráter 'subdesenvolvido' do Brasil como "país periférico", neocolonizado e área de exploração externa, e o povo do país consequentemente "que se dane", pois é só um "detalhe" pra esses grupos de pressão e seus apoiadores (igualmente lacaios).

Mark Mazower: É professor de história da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e do Birkbeck College de Londres. Lecionou também em Sussex (Inglaterra) e Princeton (EUA). Escreve sobre assuntos internacionais para o Financial Times. Ganhou o prêmio Bentinck por Continente sombrio: a Europa no século XX. (descrição tirada do site da Cia. das Letras, quem publicou o livro em português).

Livro: O império de Hitler (A Europa sob o domínio nazista)
Título original: Hider's Empire: Nazi Rule in Occupied Europe

Pág. 80

A preocupação com o sofrimento dos “alemães no estrangeiro” não estava confinada às agrupações paramilitares extremistas ou aos teóricos de perfil nazista. Os poloneses tiveram espetacular êxito na “desgermanização” dos domínios que antes haviam sido prussianos. Assentaram dezenas de milhares perto de Gdansk e construíram um porto rival nos arredores. E a saída de muitos alemães trouxe mudanças drásticas no equilíbrio da população. Em Poznan/Posen, os alemães constituíam apenas 2% da população em 1930, em comparação com os 42% em 1910; em Bydgoszcz/Bromberg, essa proporção caíra de 77% para 8,5%. Em Weimar havia uma preocupação generalizada com os refugiados alemães e um grande apoio às instituições culturais e às associações de assistência social que tinham por objetivo fortalecer a “germanidade”. A venerável Verein fiir das Deutschtum im Ausland (v d a ) — que distribuía recursos estatais e privados para as escolas das minorias alemãs e outras organizações — tinha mais de 2 milhões de associados. A v d a era uma organização oficial, mas também se referia aos governos estrangeiros de maneira hostil, como se travassem uma guerra contínua de extermínio cultural contra os alemães no estrangeiro. Visões mais radicais prosperavam nos novos institutos de pesquisa para o estudo do' Volksdeutsche.1

Pág. 103-104

Mesmo assim, sob o governo de Tiso os políticos católicos conservadores da Eslováquia exploraram com habilidade o pouco espaço de manobra que obtiveram. Tirando vantagem da relutância de Berlim em abandonar sua postura de libertador, eles criaram um sistema político mais autoritário do que propriamente nazista e marginalizaram sua extrema direita. Obrigaram os alemães a duras negociações antes de permitir que usassem a Eslováquia para deslocamentos contra os poloneses e, embora representassem de bom grado uma legislação antissemita alinhada com o exemplo alemão, nem por isso se interessaram em implementar um cunho racial em suas leis internas. Dessa forma, a Eslováquia tornou-se um modelo da Nova Ordem de várias maneiras. Os alemães nunca se sentiram tão seguros quanto gostariam a respeito dos eslovacos. Embora a maioria visse a Eslováquia como um Estado fantoche, alguns dirigentes de Berlim consideravam o país um exemplo do que poderia acontecer quando se permitia que "pequenas nações" tivessem liberdade demais.15

Págs. 107-108

Não havia nada de especificamente nazista em enaltecer uma guerra para reparar as mágoas de Versalhes, pois a maioria dos alemães apoiava essa atitude. O que era característico do regime — e aliás dos que apoiavam os militares — era o extremismo de seus planos para transformar o conflito numa dura luta racial contra os poloneses. Manuais de treinamento apresentavam aos soldados um retrato negativo dos poloneses, e agora seus superiores confirmavam aquilo. “Soldados da 21- Divisão! Isto é pela honra e pela existência da pátria”, proclamou um general às vésperas da invasão.
A Prússia Oriental está em perigo [...] Marcharemos pela antiga terra alemã que nos foi arrancada pela traição de 1919. Nessas antigas regiões do Reich nossos irmãos de sangue sofreram uma assustadora perseguição! Este é o espaço vital do povo alemão.20
Pág. 149

Embora os nazistas tivessem planejado tratar a Noruega da mesma maneira, a invasão do país foi uma tarefa muito mais difícil, tanto militar como politicamente. Depois de um ataque de surpresa que fez Oslo cair em mãos alemãs, os noruegueses reagiram com determinação. Para complicar as coisas, Vidkun Quisling — um radical de extrema direita que tinha pouco apoio no país — aproveitou a oportunidade para declarar a formação de um governo provisório chefiado por ele mesmo. Hider simpatizava com suas ideias, mas o afastou e nomeou em seu lugar, como comissário do Reich, um antigo companheiro do partido. O homem que ele escolheu, Josef Terboven, já era governador provincial da Renânia, onde gozava merecida reputação por sua crueldade. Havia recebido a Cruz de Ferro na Primeira Guerra Mundial, antes mesmo de abandonar a universidade, de participar do Putsch da Cervejaria em 1923 e de se casar com uma ex-secretária de Goebbels. Tendo se mudado para a residência do príncipe herdeiro (onde se suicidou cinco anos mais tarde explodindo uma bomba), o rude Terboven não tinha os dotes de persuasão necessários para convencer os abalados deputados noruegueses a formar um novo governo pró-alemão. O presidente do Parlamento chegou a pedir que o rei Haakon abdicasse, mas este, irritado, recusou o pedido e fugiu para Londres, onde formou um governo no exílio. Enquanto isso, o interregno político em Oslo se arrastava. No fim de setembro Terboven perdeu a paciência: aboliu unilateralmente a monarquia, dissolveu todos os partidos, exceto o Nasjonal Samling (n s , Partido da União Nacional) de Quisling, e anunciou a formação de uma comissão estatal majoritariamente composta de membros do n s para governar o país. Foi um ruidoso tapa na cara da classe dirigente do país e desde o início condenou o novo governo à ilegitimidade. Embora a população fizesse muitas críticas ao rei por ter fugido, Quisling era muito mais detestado, e virtualmente toda a Noruega estava contra ele.

Pág. 409

A realeza italiana foi esperta em ficar de fora: o reino de terror da Ustase (Ustasha) que se impôs explicou amplamente por que em geral os alemães evitavam ceder poder para extremistas de direita. Dos 6,3 milhões de habitantes do novo Estado, apenas 3,3 milhões eram croatas: havia 1,9 milhão de sérvios, 700 mil muçulmanos, 150 mil alemães e 40 mil judeus. Mesmo assim, a Ustase empenhou-se em erradicar com violência os não croatas, em especial a influência no país dos sérvios e judeus. O governo proibiu o uso do cirílico, legalizou o confisco de propriedades de judeus e impôs uma nova lei de nacionalização. Ao mesmo tempo, esquadrões paramilitares embarcaram numa campanha de massacres contra sérvios, judeus e ciganos, e por mais de um mês, até que protestos dos alemães obrigaram uma breve desaceleração, as unidades da Ustase faziam um massacre atrás do outro, às vezes visando sérvios notáveis, mas em outras ocasiões, principalmente na Herzegóvina do Norte, chacinando comunidades inteiras com cenas grotescas de violência e sadismo. Quando as prisões ficaram superlotadas, uma série de campos de concentração foi construída ao redor de Jasenovac, perto do rio Sava, que logo se tornou um notório centro de matanças. Em junho, proeminentes servo-croatas apelaram ao governo sérvio em Belgrado para que os alemães interviessem. Eles não sabiam que Hitler já tinha se encontrado com Paveüc em seu retiro de Berchtesgaden e o havia instado a continuar sua política de "intolerância nacional” por cinquenta anos.50

Pág. 415

O uso de punições coletivas para forçar populações a obedecer foi reforçado quando comandantes de campo sentiram, tão nitidamente quando da ocupação da União Soviética e dos Bálcãs, que estavam com pouco pessoal e forçados ao limite. A essa altura, considerações de prestígio, semelhantes às presentes nas campanhas coloniais lutadas pelos italianos e outros, levaram a caminhos de represálias horríveis. O Exército italiano estava obedecendo a ordens nos massacres da Etiópia de 1937 e na "pacificação” de Montenegro em 1941. Assim como os húngaros em Novi Sad e os búlgaros em Drama. Algumas vezes os aliados dos alemães podem ter se sentido chocados com a brutalidade da Wehrmacht na Ucrânia e na Bielorrússia, mas não reagiram de maneira muito diferente ante a ameaça de seus próprios opositores. A inconfortável verdade é que a guerra de contrainsurgência era mais resultante do produto de certo estilo de luta europeu que do próprio nazismo. A tecnologia havia mudado nas décadas anteriores, mas em outros aspectos eles estavam lutando no mesmo espírito e seguindo as mesmas regras estabelecidas em suas campanhas coloniais e durante a Primeira Guerra. Claro, havia uma diferença crucial: no passado, autoridades civis às vezes conseguiram exercer uma influência moderada sobre as militares — como fizeram, por exemplo, na Sérvia ocupada em 1917. Sob os nazistas, os extremistas eram os civis, sempre instando seus soldados a perder a inibição e aumentar o nível do terror. Diante da ameaça dos partisans, a Wehrmacht em particular perdeu de vista até mesmo as poucas restrições que em outra época inibiram seus predecessores.60

Págs. 482-483

A ideia de colaboração convida a pensar na relação da França com os alemães. Mas isso só levanta a questão de quem representava a França. Pois os conflitos entre as diferentes agências alemãs em Paris — por mais intensos que fossem — empalideciam em comparação com a desunião na própria França. Se o país não estivesse tão amargamente dividido na época da invasão, a ocupação teria seguido um rumo muito diferente, como mostra o exemplo da Noruega. Na verdade, muitos integrantes da direita francesa saudaram o colapso da democracia parlamentar e viram a ocupação como a oportunidade de acertar contas de décadas com a esquerda — do tempo do caso Dreyfus e talvez mesmo da Revolução. Mas só em relação à Frente Popular é que se tratava de um grupo organizado em algum sentido. Alguns oponentes da Terceira República admiravam e adoravam os ocupantes, enquanto outros os odiavam. Muitos apoiavam Pétain, pelo menos por algum tempo, mas havia os que o detestavam e esperavam que os alemães o eliminassem em favor de uma alternativa mais radical de extrema direita. A história do colaboracionismo parece mais uma complicada briga de família que a guerra de conquista da Alemanha expôs e tornou muito pior, e explica por que a ocupação representava tamanha ameaça à unidade nacional e continua a ser assunto tão sensível até hoje.2

Pág. 489

Os ultras estavam agitados — especialmente quando Heydrich e a SS começaram a voltar sua atenção para a França — e eram muito mais extremistas que Déat. Eugène Deloncle era oficial condecorado da artilharia, um personagem sombrio, instável e violento da periferia do fascismo francês de antes da guerra cuja organização paramilitar e antirrepublicana Cagoule fora apoiada na década de 1930 pelos executivos direitistas da gigante dos cosméticos UOréal. Cauteloso, o comandante militar alemão em Paris havia “tolerado”, mas não “autorizado”, o Mouvement Social Révolutionnaire (m sr), sucessor da Cagoule, cuja bandeira era “a construção de uma nova Europa juntamente com a Alemanha nacional-socialista e todos os outros países europeus libertados do capitalismo liberal, do judaísmo, do bolchevismo e da maçonaria”. O m sr — que prezava tanto proclamações quanto as outras agrupações políticas da ocupação — queria regenerar a França “racialmente”, para evitar que judeus “contaminassem” o sangue francês, e criar uma economia socialista. Saquear as propriedades dos judeus era um estímulo adicional, como também, apesar do suposto compromisso com o socialismo, o apoio contínuo da L'Oréal. Mas quando Deloncle tentou tomar de Déat o controle sobre o RNP, os dois acabaram enfraquecidos pelo conflito interno.

Págs. 489-490

Os conflitos internos entre as agências alemãs em Paris eram igualmente ferozes. Deloncle também foi apoiado pela SiPo/SD . Equipados com os explosivos que ela lhes fornecia, seus homens tentaram dinamitar sete sinagogas em Paris na noite de 2-3 de outubro de 1941. Seis dos edifícios foram danificados, juntamente com outros ao redor; dois soldados alemães e inúmeros residentes franceses estavam entre os feridos. Quando a polida militar investigou as explosões, o SD tentou encobrir sua participação, alegando que aquilo não passava de “uma história de judeu”, e houve um choque frontal com o comandante militar da Wehrmacht, que logo descobriu a ligação quando um dos assessores de Deloncle, embriagado, alardeou os fatos numa casa noturna de Paris. O general Von Stülpnagel exigiu a retirada dos dois altos oficiais da SS em Paris e impediu que Deloncle fosse se juntar a seus homens na frente oriental. O caso abriu um fosso entre a Wehrmacht e a ss que afinal deu a Heydrich a abertura para tomar o comando do policiamento na França e nomear seu próprio HSSPF na primavera seguinte. Quanto a Deloncle, ele perdeu o controle sobre o m sr , envolveu-se em contatos com agentes secretos aliados e acabou sendo morto numa troca de tiros com a Gestapo em janeiro de 1944. Não foi um fim atípico no torturado mundo do extremismo francês.8

Págs. 492-493

Céline não foi o único escritor renomado a cultuar o fascismo. O jornalista e crítico Lucien Rebatet publicou uma diatribe violenta e antissemita chamada Les Décombres [As ruínas] contra os responsáveis pela queda da França, elogiava a cultura alemã e via um "profundo significado político” no disciplinado estilo da Orquestra de Câmara de Berlim. Na direção da prestigiosa Nouvelle Revue Française, o escritor Drieu La Rochelle imprimiu-lhe uma linha antidemocrática e pró-alemã e sonhava com uma "terceira via” europeia fascista, entre os Estados Unidos e a ameaça do bolchevismo. O mesmo fazia Robert Brasillach, outro brilhante e jovem literato extremista, que considerava os franceses "um povo absurdo e medíocre” e insistia em louvar os jovens alemães e criticar os velhos senis que ostentavam cargos em Vichy. Seu fascínio por um belo e jovem professor do Instituto Alemão teve um trágico desfecho quando este foi morto em ação na frente oriental. Visitando a floresta de Katyn como jornalista, ele se recordou do amigo e saudou sua amizade como a expressão de uma Europa rejuvenescida que derrotaria tanto a complacência burguesa como "as forças do Leste”. Para Brasillach, Pétain e Vichy tinham chegado a um beco sem saída e, à medida que a colaboração entrava em colapso, passou a confiar exclusivamente nos alemães. A queda de Mussolini o comoveu profundamente e parecia anunciar o fim de seu
ideal de uma Europa fascista: "Uma França fascista numa Europa fascista, que belo sonho!”. Mas, à diferença de muitos outros ultras, ele se recusou a abandonar suas convicções. Mesmo nos dias sombrios do fim de 1944, quando viu que os ventos sopravam na direção "do templo da paz universal, da irmandade imposta a todas as raças e credos”, Brasillach ainda acreditava que o fascismo tinha sido "a verdade mais emocionante do século XX”.10

Aquela era a perspectiva ultra, mas certamente não a de Cocteau: ele não era um extremista e valorizava mais a sociedade e a sociabilidade que a ideologia. "Eventos me entediam”, confidenciou o poeta Valéry a Gerhard Heller por volta dessa época. "Os eventos são a espuma das coisas. É o mar que me interessa.” No que dizia respeito à política, os sentimentos de Cocteau eram muito semelhantes. A situação foi ficando sombria à medida que amigos fugiam do país ou passavam à clandestinidade. Alguns escreveram cartas angustiadas antes de ser presos e deportados, e um ou dois se suicidaram. Junto com Picasso, em 1943 Cocteau foi ao enterro do pintor exilado judeu Chaim Soutine, um ato de solidariedade para com um homem que tinha morrido fugindo da Gestapo. Sua vida social, no entanto, mantinha o ritmo frenético. Encantava-se, como tantas outras vezes, com a "beleza prodigiosa” de Paris — os alemães que apareciam para lhe prestar homenagens, os visitantes da zona livre, sempre "estupefatos pela cidade”, os restaurantes "que vendem de tudo o que supostamente está proibido”; os caçadores de autógrafos perseguindo estrelas e atores de cinema nas ruas. "Como os alemães devem se espantar com esta primavera”, divertia-se ele em maio de 1942. "Essas flores, esses chapéus femininos, esses pequenos carrinhos puxados por equipes de ciclistas, pela incrível graça da resistência do ar! Paris digeretudo e não assimila nada. Um espetáculo de profunda leveza.. .”11

Págs. 494-495

O próprio Cocteau tinha muito pelo que se sentir grato. Era o patrocínio alemão que o protegia dos extremistas franceses. Não particularmente interessado na política, ele demonstrou com que facilidade um espírito independente podia se dedicar às artes sob a ocupação alemã — na verdade, com sustento alemão. Com a aprovação dos censores, sua carreira no cinema durante a guerra decolou. Quando um artigo que o atacava apareceu numa revista de extrema direita, Cocteau observou que "todos os alemães riram do texto". À parte os ultras, a carreira de Cocteau tinha um lugar para quase todos, até mesmo o maréchal, cujo regime o atormentava. Em 1942, ele deu sua contribuição para uma luxuosa
obra de idolatria de Vichy, um livro de homenagem póstuma intitulado DeJeanne D ’Arc a Philippe Pétain [De Joana d'Arc a Philippe Pétain]. Com o subtítulo Quinhentos anos de história francesa, o livro suntuosamente ilustrado apareceu no momento certo para a visita do maréchal a Paris. A ocupação se aproximava do fim, mas Pétain ainda era popular e recebeu uma calorosa recepção. Como tema de guerra, Joana d'Arc era muito conveniente — dada a ambigüidade de suas associações — para a guerra particular de Cocteau: um símbolo de sentimento antibritânico, especialmente depois do desastre de Mers-el-Kebir. Quando o livro surgiu, em 1944, a própria Joana já tinha passado para o lado gaullista como um exemplo de resistência ao invasor. Cocteau não ficava muito atrás.13

Pág. 499-500

Essa continuidade foi de certa forma bastante inesperada. Afinal, Vichy não era um país dirigido por funcionários públicos, como a Bélgica e a Holanda: na França havia um governo legítimo, com um programa político claro de ruptura com o passado. Mas Pétain (como De Gaulle quatro anos mais tarde) tinha todas as razões para preservar a existência das instituições do Estado se quisesse governar com eficácia. Por isso os expurgos produziram menos mudanças do que se poderia esperar, e os extremistas de direita se queixaram amargamente: em 1944, Mareei Déat criticou a “comuna reacionária” da capital, alegando que seus membros eram profundamente attentistes, para não dizer gaullistas. Fossem ou não gaullistas, quase 80% dos prefeitos dos subúrbios de Paris durante a guerra eram republicanos antes do conflito. Quanto às zonas rurais, foram desestimuladas mudanças por motivos puramente políticos: os alemães também temiam o impacto sobre a eficiência e a continuidade. Na Aquitânia e em Charente, por exemplo, quase metade dos funcionários governamentais locais que tinham cargos em 1939 ainda estava presente quando a ocupação terminou.19

Assim, a promessa de Vichy de uma nova revolução autoritária mascarava a realidade de sua dependência do funcionalismo público civil. Naturalmente, os burocratas podiam — e o fizeram — servir como instrumentos de repressão, notadamente nas prisões em massa de judeus e de opositores políticos. Mas em geral não se mostravam propensos a aderir ao dinamismo revolucionário exigido pela extrema direita da França. O culto a Pétain escondia o vazio político no coração de seu governo, e sua recusa em permitir a formação de um único partido político ironicamente fez com que os funcionários franceses nunca se deparassem com algo semelhante à competição radical que os Gauleiters nazistas infligiram a seus pares alemães, ou que o nsb holandês usou — com muito menos sucesso — em seu esforço para assumir o controle do funcionalismo público civil na Holanda. Dessa forma, ter o conservador Pétain no poder protegeu a França do tipo de nazificação que ameaçava outros países, pelo menos até que fosse demasiado tarde na guerra para que fizesse muita diferença. Aumentando o controle sobre as províncias, criando um novo escalão de superprefeitos, impedindo que a maioria dos novos comissariados políticos especialmente formados tivesse grande influência, os altos funcionários franceses presidiram durante a guerra uma expansão da burocracia e uma consolidação do poder estatal que Wilhelm Stuckart, no Ministério do Interior do Reich, teria invejado. Os alemães podiam ter conquistado a França, mas o Estado francês sobreviveu mais ou menos intacto.

Pág. 510

A longevidade de tais figuras oferece uma pista para compreender a dinâmica da colaboração na França durante a guerra. Os franceses não foram um país de colaboradores, embora de início muitos tenham sido atraídos pela ideia. No começo o governo de Pétain foi popular porque parecia prometer o restabelecimento da ordem depois do caos da derrota. Os mais impacientes com ele eram da extrema direita, que desconfiavam que sua Revolução Nacional era na realidade uma restauração conservadora disfarçada, e não a ruptura fascista que almejavam com o passado. Mas no fim de 1941, no máximo — a crise dos reféns foi um ponto de inflexão, mas a crise do abastecimento alimentou o conflito —, o público francês tinha se afastado de Vichy. fA opinião geral parece ser muito desfavorável ao governo”, relatou o governador de Puy de Dome em outubro daquele ano. Cada vez mais afastada da opinião pública francesa, a administração permaneceu fiel aos ideais de colaboração e respondeu de forma positiva aos alemães mesmo quando estes aumentaram muito suas exigências. Enquanto isso, um grande número de seguidores de Pétain entrou para a resistência de uma forma ou outra, garantindo assim uma passagem sem sobressaltos para a Quarta República no pós-guerra. 33

Pág. 563

Se esse foi um exemplo para levar o Exército Nacional a aumentar suas ações, havia outros fora de Varsóvia, pois a atividade da resistência agora se alastrava pelos campos do centro da Polônia. Um ano depois de Hitler ter aprovado seu Plano Geral para o Leste, as prioridades de Himmler tinham mudado drasticamente. No verão de 1943, ele declarou todo o Governo-Geral como uma "zona de guerra partisan” (Bandenkampfgebiet). Instadas por ele a "queimar aldeias inteiras se necessário”, a ss e a polícia, reagiram com as costumeiras táticas de terror, deixando milhares de mortos. Porém, dentro da SS havia sérios desacordos, e Von dem Bach--Zelewski insistia em que "nenhum país pode ser governado apenas com o uso da polícia e das tropas”, e tentou forçar uma política mais astuta (semelhante a outras levadas a cabo nos Bálcãs), que explorasse o anticomunismo dos poloneses e os trouxesse para o lado alemão. A SS esperava poder apelar para o Exército Nacional, cujo comandante, "Grot”, tinha sido capturado por eles em junho; mas sua recusa em cooperar (o que levou à própria morte) significou que eles tinham de se conformar em trabalhar — nos bastidores, e de maneira intermitente — com as Forças Armadas da Polônia (NSZ), menos expressivas e de extrema direita.

Págs. 575-576

As repercussões foram imediatas e duradouras. A violência convenceu Stálin de que poloneses e ucranianos não podiam viver juntos, e Moscou começou a planejar uma série de mudanças forçadas de população entre 1944 e 1947. Na vizinha Galícia, os poloneses agora se voltavam contra os ucranianos por vingança, e o embrionário movimento partisan polonês foi inflado por refugiados de Volínia. Esse movimento depois se espalhou não apenas para o oeste na direção da Polônia Central, mas também para o norte em direção a Vilna e para outras regiões do leste da Polônia de antes da guerra onde os poloneses eram minoria e precisavam se defender. Ao mesmo tempo, o fracasso do Exército Nacional em Volínia encorajou muitos poloneses a preferir procurar os partisans soviéticos. Assim como os ucranianos, os poloneses estavam agora entre os russos e os alemães, e era difícil evitar certos acordos. Tanto os comandantes de extrema direita das n s z como do Exército Nacional negociaram acordos temporários com oficiais da ss alemã e da Wehrmacht para evitar a “ressovietização" da região. (Embora Himmler proibisse esses acordos, eles aconteciam de qualquer forma em pequena escala.) Porém, outros comandantes do Exército Nacional cooperaram com os partisans soviéticos, reconhecendo a futilidade de se opor a eles. Tanto os poloneses como os ucranianos tinham esperança de ver um mundo no qual eles conseguissem abrir um espaço próprio, independentemente dos dois poderes igualmente totalitários. Mas esse mundo precisaria de muito mais que alguns anos para se materializar.61

Págs. 643-644

Para deixar as coisas em perspectiva, pode ser útil lembrar como era a situação aos olhos dos pequenos grupos de nazistas que se recusaram a transigir. Depois da guerra, pequenos grupos marginais, geralmente efêmeros, atacaram tanto americanos como soviéticos e reciclaram ideias tiradas dos escritos de Hitler de trinta anos antes. Também reagiram violentamente contra os movimentos europeístas que se tornavam visíveis na Europa Ocidental do pós-guerra. Karl-Heinz Priester, um antigo oficial da SS que assumiu um papel ativo na extrema direita, apareceu na primeira reunião dos neofascistas europeus em Roma em 1950 e advertiu:
Quanto mais esses homens que dizem amém a tudo nos apressarem para converter não apenas nossa pátria materna, a Alemanha, mas também nossa pátria paterna, a Europa, numa colônia [...] mediante dispositivos como o Conselho da Europa e a “União Europeia” [...] mais depressa aumentará a determinação de todos os alemães honestos e independentes de nos acompanhar em nosso caminho do nacionalismo até a Nação Europa.30
Até mesmo nazistas como Priester poderiam ver que, na era das superpotências, a Alemanha não tinha poder para recuperar sua independência sem apoio regional. Assim, a Nação Europa era a alternativa dos extremistas para Bruxelas e Estrasburgo, uma espécie de versão em tempos de paz das Waffen-ss “europeias” de Himmler. Não obstante, tais homens consideravam a democracia parlamentarista uma falsa "democratura” (Demokratur), acreditavam que o sistema multipartidário tinha de ser abolido e queriam reunificar o país com a ajuda de fascistas estrangeiros que pensavam como eles. Ignorados pelos eleitores, brigavam constantemente entre si, acusando-se mutuamente de vender-se ou transigir na questão racial. Alguns fundaram no ano seguinte o movimento Nova Ordem Europeia para lutar contra o “bolchevismo mongoloide” e o “capitalismo negroide” em nome dos homens brancos. Outros pensaram em atrair nacionalistas
africanos e forjar uma nova Euráfrica, que permitiria à Europa recuperar sua posição no centro da cena mundial.31


Págs. 659-660

Essa postura implacável com certeza estava presente entre os ingleses. Na ocasião do levante da Jamaica de 1865, por exemplo, expressões de um novo autoritarismo racial surgiram na imprensa vitoriana. Segundo o editor da publicação médica The Lancet, pequenos grupos de homens brancos só poderiam se salvaguardar em colônias pelos métodos mais coercitivos; os nativos tinham de “ser mantidos sempre de cabeça baixa com um bastão de ferro ou ser lentamente exterminados". Essas ideias expressavam a possibilidade inerente na prática do próprio império e os britânicos estavam começando a perceber que o “poder dos números" estava contra eles. O tio de Virginia Woolf Fitzjames Stephen escreveu uma famosa carta ao The Times em 1883 afirmando que “um governo absoluto, fundado não no consentimento mas na conquista" — como o dos britânicos na índia —, representava uma “civilização beligerante” que não deveria “se evadir da afirmação aberta, descomprometida e direta de sua superioridade”. Mas essa não era a linha de raciocínio costumeira na Inglaterra, e sempre foi sujeita a críticas. Em última análise, essa foi a base do império de Hitler. Por mais brutais e mortíferos que tenham sido, nenhum poder colonial, britânico ou de outro país da Europa, jamais lidou com o problema do “poder dos números” de forma tão áspera e violenta quanto os nazistas. Sua abordagem em geral era gradualista e experimental, motivada por uma imaginação política restrita pelo extremismo da variedade de fatores do nazismo, que incluía uma cultura mais legalista e uma burocracia de Estado surpreendentemente desmotivada. Se faltavam a ideologia e os recursos para sistematizar a matança em massa na escala da Nova Ordem, faltava também um fundamental sentido de urgência. Depois de conseguirem sua revolução em casa, os nazistas tinham pressa de colher os benefícios no exterior. “Nós queríamos estabelecer um império mundial quatro anos depois de termos introduzido o alistamento militar geral”, foi o resumo de um oficial alemão capturado em 1943. À medida que a própria guerra criava racionamentos, gargalos e grandes problemas novos, o culto da força e da geopolítica racial que os nazistas levavam tão a sério transformou-se num programa de extermínio numa escala sem precedentes.28

|***| Nazismo de esquerda? (Ian Kershaw) O que os Historiadores nos dizem sobre o Nazismo SER de (extrema) Direita - Parte 03

domingo, 15 de novembro de 2015

Hilmar Wäckerle, primeiro comandante de Dachau

Hilmar Wäckerle na batalha de
Grebbeberg, Países Baixos. Original
de waroverholland.nl
Hilmar Wäckerle nasceu em 24 de novembro de 1899 em Forchheim, no norte da Baviera. Aos catorze anos, já começava a Grande Guerra, entrou na escola de oficiais do exército bávaro. Depois de três anos, antes de completar os 18, foi destinado ao regimento de infantaria da Bavária nº2, "Príncipe herdeiro" em agosto de 1917, um dos regimentos mais prestigiados (e com maior índice de baixas) do antigo Reino da Bavária.

Em setembro de 1918, o alferes (Fähnrich) Wäckerle foi ferido gravemente. Recuperou-se do armistício no hospital, longe do front, compartilhando desta forma a mesma experiência de Hitler. No pós-guerra, depois de ingressar no Freikorps Oberland, de 1921 a 1924, estudou engenharia agrícola na Universidade Técnica de Munique, ainda que não consta se se relacionou com quem fora seu condiscípulo de 1919 a 1922, Heinrich Himmler, um ano mais jovem. Hilmar também ingressou no NSDAP um ano antes que Himmler, mas deixou de pagar as cotas e se distanciou da política ao terminar seus estudos. Não solicitou ingressar na SS até 1929, quando Heinrich já era seu Reichsführer. Depois de dois anos de teste, foi admitido como SS-Mann com o número 9.729. Também voltou a ingressar no NSDAP em 1 de maio de 1931, com o número de 500.715. Hilmar nesses momentos era administrador de uma propriedade agrícola em Kempten. Seu irmão, Emil, também era membro da SS.

Em fevereiro de 1933, com Hitler recém nomeado chanceler em 30 de janeiro, Wäckerle chega a SS-Hauptsturmführer (capitão). Em março, Freidrich Jeckeln, chefe da SS do sul da Alemanha, nomeia-o comandante do primeiro campo de concentração da SS, em Dachau. Desde 30 de janeiro, por toda a Alemanha proliferou todo tipo de cárceres "selvagens", casas ou prisões onde Gauleiters (chefes do partido) e grupos da SA detinham e torturaram seus inimigos políticos. Nesses momentos o cargo oficial de Himmler é o de chefe da polícia da Bavária, e decide criar um grande campo centralizado para "reeducar" esquerdistas e inimigos do Estado. A desculpa é o incêndio do Reichstag, que se supõe a um chamamento de um levante comunista. Na realidade quem se levanta são os homens do NSDAP, com o apoio de outros grupos de extrema-direita, como o Stahlhelm.

A primeira denúncia contra Hilmar Wäckerle, como comandante de Dachau, foi feita por Sophie Handschuch pela morte de seu filho. Outros prisioneiros que morreram nesses primeiros dias foram o doutor Rudolf Benario, Fritz Dressel, Sepp Götz, Ernest Goldmann, Arthur Kahn e Erwin Kahn, além de Karl Lehrburger e Wilhelm Aron, judeus. A promotoria também determinou que Herbert Hunglinge havia se suicidado por não poder aguentar as condições de sua reclusão. Em maio, as investigações do promotor se ampliaram para as mortes de Sbastian Nefzger, Leonard Hausmann, o doutor Alfred Strauss e Louis Schloss, esses dois últimos, judeus.

Supõe-se que Himmler destituiu Hilmar Wäckerle de seu cargo em Dachau por todas essas mortes, ainda que só o fez pra manter as aparências. Também é possível que influíra que se conseguisse fugir um deputado comunista, que publicou em agosto o primeiro escrito sobre a vida e morte nos campos de concentração da Alemanha. De todas as formas, Wäckerle foi elevado a SS-Sturmbannführer (comandante) em 01 de março de 1934, menos de um ano depois de sua destituição em Dachau.

Desenvolveu o resto de sua carreira na Waffen-SS, e teve seu momento de glória na invasão dos Países Baixos, em maio de 1940, ao comando do III batalhão do regimento Der F6uhrer. Disfarçou seus homens com uniformes holandeses para tomar pontes de surpresa, e utilizou prisioneiros de guerra como escudos humanos. Estima-se que uns cinquenta prisioneiros holandeses morreram por este tipo de tática. Foi ferido duas vezes, e ainda que fora indicado para a cruz de cavalheiro da cruz de ferro, teve que se conformar com a cruz de ferro de 1ª classe.

Morreu numa emboscada no começo da Barbarossa, no comando da SS-Infanterie-Regiment Westland, da SS-Division (mot) Wiking próximo da atual Lviv, Ucrânia (Lemberg para os alemães, Lvov para os poloneses), em 2 de julho de 1941. Sua morte desencadeou um pogrom em 9 de julho na zona, no qual soldados de sua unidade mataram a uns 600 judeus.

Notas:

1. Tom Segev: Soldiers of Evil, Berkley Books, 1991, pg. 64-68
2. George H. Stein, Las Waffen-SS, pg. 272
3. Richard Rhodes, Los amos de la muerte. Los Einsatzgruppen y la solución final, Seix Barral pg. 109-111
4. A descrição mais detalhada do massacre para vingar sua morte, em Pontolillo, pg. 162
5. Site: http://www.waroverholland.nl/index.php?page=chapter-11---myth-and-reality

Fonte: Blog Antirrevisionismo (Espanha)
https://antirrevisionismo.wordpress.com/2015/11/14/hilmar-wackerle-primer-comandante-de-dachau/
Título original: Hilmar Wäckerle, primer comandante de Dachau
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O Fenômeno dos Voluntários (tropas multiétnicas do Terceiro Reich) - parte 03

Civis dinamarqueses dão boas-vindas aos
Free Corps Danmark, uma unidade da Waffen-SS,
depois do retorno do front no Leste em Agosto de 1942.
Cerca de 8 mil voluntários dinamarqueses lutaram
sob a bandeira dos Free Corps (Batalhão da Liberdade)
  e do 25º Regimento Motorizado.
Ideologia e raça: A Grande Alemanha

O ideal "germânico" que a propaganda da SS e outros bandos di regime nazi frequentemente promoviam emergia da panóplia de correntes ideológicas que rodam o fin de siècle europeu. Enraizado em conceitos do Völkisch, o pensamento germânico colocou valor preeminente sobre a pureza racial em uma sociedade. Com o tempo, essa ideologia tornou-se mutuamente não-cristã e antissemita. Cheio de romantismo, misticismo e utopismo, atraiu poucos seguidores como um movimento intelectual. No entanto, a sua influência sobre a população em geral, leia-se, população geral que lia textos germânicos ou outra literatura romântica refletindo o pensamento germânico, não pode ser avaliada. [15]

As próprias construções ideológicas de Hitler certamente favoreceram a inclusão dos ideais germânicos em qualquer programa do Estado nazista. Embora o Führer nunca articulou precisamente o seu pensamento, seus componentes principais permaneceram sendo o antissemitismo, a expansão territorial agressiva, e uma visão histórica abrangente que enfatizou a vida nacional como uma luta contínua pela sobrevivência. [16]

Hitler consistentemente identificou nacionalidade com "raça". O status racial do indivíduo permanecia inalterado; daí, nações inteiras tiveram seus destinos determinados com base em critérios raciais sob a ordem nazista das coisas. Hitler aceitava a raça germânica como claramente superior. Ele viu isso tendo que criar valores culturais únicos que valessem a pena, e, portanto, serem moralmente destinados a dominar o mundo. Sob a direção de Hitler, as forças armadas alemãs deixaria seu destino para o ocidente e sul e "retomaria o programa expansionista germânico onde ele havia parado 600 anos atrás, e pressionaria mais uma vez sobre as rotas das ordens medievais das cruzadas para as terras do leste." [17]

Quando isto se tornou a concreta expressão do pensamento e ação germânicas, Hitler se mostrou bastante indiferente para formar qualquer utopia germânica. Por exemplo, a ocupação da Dinamarca e da Noruega pela Alemanha ocorreu por motivos estratégicos, não por necessidade ideológica. Esta realidade não impediu que a propaganda nazista em usar doutrinas germânicas numa tentativa de impressionar noruegueses e dinamarqueses agora mantidos em cativeiro. Hitler e seu círculo até falaram da construção do Império germânico, mas o cinismo perspicaz de ingenuidade em tais assuntos permanecia quase impossível. 18

Em última análise, Heinrich Himmler tornou-se o defensor mais agressivo do Reich germânico, não Hitler. Este último insistiu que qualquer definição final, legal ou política, do mundo nazista, teria que esperar por uma conclusão bem sucedida da guerra. A política germânica de Himmler previu a coordenação e a anexação do Norte e Noroeste da Europa, usando partidos colaboracionistas e propaganda alemã no processo. Não provando ser muito atraente para as populações em cativeiro, que, mesmo assim, dobravam-se à letra da norma alemã, se não o espírito. Em último caso, as esperanças de Himmler de um Império Germânico repousava sobre os ombros dos voluntários estrangeiros, que, se recrutados em número suficiente, ganhariam apoio para uma associação Pangermânica com o Terceiro Reich. Serviram em conjunto contra o inimigo em comum - o frequentemente rotulado como "inimigo judeu-bolchevique do mundo" - ligados por braços comuns das SS, produziriam um quadro capaz de converter as populações pacatas em submissas em casa. [19] [20]

Mesmo após as primeiras ofensivas contra a Rússia terem falhado, Himmler continuou convencido de ambos, da vitória final e da realização final de um Império Germânico, com um exército SS multinacional guardando as marchas orientais do império contra as hordas asiáticas. Ele viu o Império Pan-germânico não meramente como uma extensão da antiga Grande Alemanha, mas como parte de um processo que conduziria a um Império "gótico-germânico" que se estende até os Urais, e talvez até mesmo a um "Império Gótico-Franco Carolíngio" cujas dimensões ainda não haviam sido estabelecidas! [20]

Cartaz de recrutamento da Waffen-SS
nos países da Escandinávia, Holanda
e Bélgica para a luta contra o
'inimigo judeu-bolchevique'
Essas noções excitavam tanto os líderes da SS que eles tão facilmente confundiam ovo com galinha. Assim Berger, o chefe de recrutamento, afirmou em um discurso perante generais da Wehrmacht que, "a SS viu o Reich Germânico como seu objetivo final desde 1929, quando o Reichsführer SS [Himmler] assumiu o comando." De acordo com esta visão do passado, a SS então, mais ou menos, empreendeu a missão de "construir um Reich germânico para o Führer". [21]

A SS ficou firme na vanguarda do movimento pangermânico, usando seu prestígio, influência e instituições para dar impulso à agenda germânica. O sucesso de Himmler em estabelecer escritórios administrativos a uma "polícia superior e a SS" na Noruega, Dinamarca, Holanda e Bélgica, deram a ele muito mais da mesma influência que ele recebia no Reich. Algumas medidas concretas em consonância com a ideologia pangermânica surgiram com a conquista em direção ao leste e o assentamento planificado da terra por colonos alemães começara. Nos países de origem, os líderes nativos dos partido e muitos de seus seguidores receberam a classificação da SS. Organizações da SS nativas foram formadas em todos os países nórdicos ocupados se estendendo do Sul à Valônia belga, que recebeu tardiamente o status de "Germânica" em 1943. [22]

Através da própria direção do movimento germânico, a SS revelaram suas fraquezas fatais. Na forma típica da mão pesada, a SS insistiu que o pangermanismo significava a subordinação total ao Terceiro Reich e a suas hierarquias. Qualquer noção de igualdade pangermânica manteve-se operacional apenas em teoria, ou nos sonhos dos colaboradores. Políticas nacionais não tiveram qualquer papel no império definido pela SS, o que reduziu os estados nórdicos ocupados ao patamar de Gaue (províncias) dentro do Terceiro Reich. Veremos que noções germânicas da ideologia pouco afetaram os métodos pelos quais a Alemanha e especialmente a SS iriam tratar as populações em cativeiro da Europa. [23]

Notas:

Nota 15: George L. Mosse, The Crisis of German Ideology: Intellectual Origins of the Third Reich (New York: Grossett and Dunlap, 1963), 13-125, passim; Hans-Dietrich Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik' des Dritten Reiches," Vierteljahrshefte für Zeitgeschichte 8:1 (January 1960): 38. University courses in Germanic Philology, such as those offered before the war at Louvain, may have influenced students and had some impact on the volunteer movement; Interviews with Franz Vierendeels, Groot-Bijaarden, Belgium, 29 May 1982 and Léon Degrelle, Madrid, 8 June 1982.

Nota 16: Eberhard Jäckel, Hitler's Weltanschauung: A Blueprint for Power (Middletown, CT: Wesleyan University Press, 1972), 117-21.

Nota 17: Rich, Hitler's War Aims, vol. 1, Ideology, the Nazi State, and the Course of Expansion (New York: W. W. Norton, 1973),, xlii, 4-7.

Nota 18: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik,'" 39. See also his Quisling, Rosenberg und Terboven (Stuttgart: Deutsche Verlags-Anstalt, 1970), 263.

Nota 19: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik'," 40-56.

Nota 20: Bernd Wegner, "Der Krieg Gegen des Sowjetunion 1942/43" (esp. subsection "Germanische und Volksdeutsche Freiwillige") in Horst Boog, et al., Der Global Krieg: Die Ausweitung zur Weltkrieg und der Wechsel der Initiative, 1941-1943 (Stuttgart: Deutsche Verlags-Anstalt, 1990), 836.

Nota 21: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik,'" 56.

Nota 22: Ibid., 57; Rich, Hitler's War Aims, 2: 348-93. Wegner, Waffen-SS, 334.

Nota 23: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik,'" 62-63; Wegner, Waffen-SS, 332-39.

Fonte: A European Anabasis — Western European Volunteers in the German Army and SS, 1940-1945; Gutenberg-e (Columbia University Press)
Autor: Kenneth W. Estes
http://www.gutenberg-e.org/esk01/frames/fesk01.html
Fonte de uma das fotos: Pinterest
https://www.pinterest.com/pin/560487116102599333/
Tradução: Roberto Lucena

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domingo, 3 de maio de 2015

Os empresários de Hitler e o negócio dos campos de concentração

Se houve um grupo de cúmplices do nazismo que se "safou" de ter má imagem com o fim da Segunda Guerra Mundial, esse foi o dos empresários. Homens de negócios alemães, austríacos, franceses e também estadunidenses que se enriqueceram sob o capitalismo fascista que foi imposto pelo III Reich. Nomes tão conhecidos como Bayer, Ford, Standard Oil ou Siemens colaboram ativamente com Hitler e não tiveram dúvidas em utilizar como trabalhadores escravos a prisioneiros judeus, soviéticos ou espanhóis dos campos de concentração.
Prisioneiros de Mauthausen transportam pedras para a construção do campo
O adjetivo "fanático" é o que mais se tem utilizado na história para definir a Hitler e ao amplo grupo de suplentes que dirigiram o destino da Alemanha nazi. Contudo, há outro qualificativo muito menos utilizado e que se torna imprescindível para explicar sua estratégia política e militar. Hitler e o resto de sua camarilha eram grandes "homens de negócios".

Em suas mentes pesavam mais o dinheiro e as questões econômicas que seu desejo de exterminar judeus. Seu modelo de capitalismo fascista, pese a estar sob uma forte intervenção estatal, tornou-se muito atrativo para os empresários alemães e também para importantes magnatas estrangeiros, principalmente estadunidenses.

A SS criou suas próprias empresas para se beneficiar do trabalho escravo dos milhões de prisioneiros capturados pelo exército alemão. A DEST e a DAW foram as duas mais destacadas. O objetivo de Himmler era que, graças a essas companhias, a SS pode jogar um papel predominante na economia alemã, inclusive no cenário de paz que se abriria depois da guerra.

Fazer negócio a qualquer preço

As empresas de armamento, automotivas, produtos farmacêuticos e tecnologia não podiam contar com os jovens alemães para trabalhar em suas fábricas porque esses se encontravam nas frentes de batalha. Os prisioneiros dos campos e os trabalhadores forçados se converteram na melhor opção e também na mais barata. O negócio dos campos era redondo. A DEST administrava os trabalhadores, a SS oferecia a segurança e as empresas aportavam o resto. Na repartição dos papéis todos ganhavam. Todos menos os deportados, que morreriam aos milhares nas pedreiras e nas fábricas controladas pelo empório da SS e pelas empresas privadas alemães e norte-americanas.
O selo "Hollerith" indica que os dados deste prisioneiro espanhol foi processado pela IBM
A lista de firmas alemãs que colaboraram e se beneficiaram das políticas bélicas e genocidas do regime nazi é interminável. Desde gigantes da automotivas até pequenas empresas familiares e inclusive particulares que utilizaram prisioneiros dos campos de concentração para cultivar suas terras ou trabalhar em suas granjas. Essas são algumas das mais destacadas:

IG Farben - Este consórcio foi o que melhor exprimiu todas as opções de negócio que facilitava o regime nazi. Fabricou combustível e um tipo de borracha sintética chamada "Buna" para o exército alemão, fornecendo os produtos químicos para o extermínio em massa dos "inimigos" do Reich e se aproveitando do trabalho escravo de milhares de prisioneiros dos campos. Três empresas químicas e farmacêuticas constituíam o coração da IG Farben: Bayer, Basf e a Hoechst.

Audi - Empregou em sua cadeia de produção 20.000 trabalhadores forçados.

Daimler - Utilizou em grande escala trabalhadores forçados para a fabricação de automóveis.

Bosch - Empregou cerca de 20.000 trabalhadores forçados.

Volkswagen - Colocou em grande parte de sua produção trabalhadores forçados.

Krupp (atualmente Thyssenkrupp) - Krupp teve a honraria de ser a empresa modelo do nacional-socialismo e empregou mais de 75.000 trabalhadores forçados.

Deutsche Bank - o historiador Harold James analisou o período nazi em 1995. James rotulou a atitude do banco naquela época como "complacente".

Lufthansa - autorizou o historiador Lutz Budraß a realizar um estudo sobre sua participação na criação da Luftwaffe. Os dados oficiais do estudo não foram publicados ainda. A pergunta permanece no ar.

Bertelsmann - Encarregou o historiador Saul Friedländer um estudo que foi apresentado em 2002. A gigante dos meios de comunicação se aproveitou do regime nazi de forma massiva.

Quandt (proprietária da BMW) - Segundo a investigação levada a cabo pelo historiador Joachim Scholtyseck, Günther Quandt enriqueceu no período compreendido entre 1933 e 1945. A empresa do magnata utilizou 50.000 trabalhadores escravos.

Oetker - Abriu seus arquivos em 2007 depois da morte do patriarca, Rudolf August Oetker. O historiador Deren Erkenntnisse revelou que Rudolf A. havia pertencido à Waffen-SS e colaborado ativamente com o regime nazi.

Adidas e Siemens - Permitiram que se investigue seus arquivos. Sabe-se que, ambas empresas, empregaram milhares de trabalhadores escravos.

Cúmplices em Detroit e Nova Iorque

Historiadores e economistas coincidem na opinião de que para Hitler seria impossível se lançar à conquista de Europa sem o apoio de quatro grandes multinacionais estadunidenses: Standard Oil, General Motors, Ford e IBM.

General Motors. Fabricou milhares de caminhões militares em suas fábricas da Alemanha. Seu modelo batizado com o nome de Blitz, Relâmpago, serviu a Hitler para entrar com suas tropas na Áustria. A admiração do Führer pela tecnologia de Opel e seu agradecimento em contar com sua colaboração lhe levou a conceder a Grande Cruz da Ordem da Águia Alemã a seu diretor executivo, James Money. A GM utilizou prisioneiros dos campos de trabalhadores escravos.

Ford. O fundador da companhia, Henry Ford, já era conhecido em fins dos anos 20 por seu profundo antissemitismo. Hitler admirava profundamente a Ford, a ponto de chegar a dizer que era sua inspiração. Esse amor era mútuo e permitiu que a empresa automobilística estadunidense se convertesse no segundo produtor de caminhões para o exército alemão, superado unicamente pela Opel-General Motors. Henry Ford também foi distinguido por Hitler com a Grande Cruz da Ordem da Águia Alemã em 1938. Depois da invasão da França, a empresa estadunidense continuou trabalhando para o Reich e se negou a fabricar motores para os aviões da Royal Air Force britânica. Igual à GM, a Ford se aproveitou do trabalho escravo de milhares de deportados.

Standard Oil Proporcionou a Hitler o combustível e a borracha necessária para empreender a invasão da Europa. O governo nazi, consciente de que as importações de petróleo se reduziriam com o estouro da guerra, decidiu fabricar combustível sintético. O complexo processo de elaboração não havia sido possível sem a aliança entre o consórcio alemão IG Farben e a Standard Oil norte-americana. Os navios cisternas da Standard forneceram combustível a barcos alemães em Tenerife e outros portos da Espanha franquista.

IBM. Seu "mérito" foi dotar o regime nazi de seus ainda primitivos, mas eficazes, sistemas informáticos. Suas máquinas, que funcionavam com cartões perfurados, precursores dos ordenadores, resultaram em uma enorme utilidade para o governo alemão. Himmler era consciente das possibilidades que lhe oferecia a tecnologia da IBM para organizar, distribuir, explorar e eliminar milhões de judeus e prisioneiros de guerra que caíram em suas mãos durante a guerra. Realizaram censos da comunidade judaica que serviram para identificar e eliminar com maior facilidade seus membros. Na maioria dos campos de concentração se abriu um "departamento Hollerith" (nome da filial alemã da IBM) na qual se realizaram fichas de cada deportado, incluindo sua profissão, sua raça ou religião.

Escravos espanhóis

O grosso dos republicanos que passaram pelos campos de concentração trabalhou e morreu pelas ordens da DEST, a empresa de propriedade da SS. As pedreiras de Mauthausen e Gusen, assim como o moinho de pedra localizado junto a esta última, cobraram o maior número de vidas entre os espanhóis. O empório dirigidos pelos homens de Himmler também controlava a maior parte dos trabalhos que os republicanos realizaram em subcampos como Schlier-Redl-Zipf, Bretstein ou Vöcklabruck. Não obstante, houve algumas empresas privadas alemãs e austríacas que, especialmente depois de 1942, exploraram os republicanos que ficaram vivos.

A maior delas foi a Steyr-Daimler-Puch que empregou internos de Mauthausen, desde 1941, para trabalhos de construção em sua fábrica de Steyr. Em 1942 negociou com os altos mandatários do regime a utilização de prisioneiros no processo de fabricação de armamento e veículos para o exército. Fruto dessas conversas, Himmler aprovou a construção de um subcampo, dependente de Mauthausen, que dotasse a fábrica de operários. Meio milhão de espanhóis se viram obrigados a trabalhar em condições inumanas. Uns dez por cento deles morreu no próprio subcampo, assassinados violentamente ou por uma mortal combinação de fome, esgotamento e frio. A empresa também dirigiu fábricas nos túneis de Ebensee e Gusen, pelos quais passaram um menor número de republicanos.

A outra grande companhia armamentista que se aproveitou dos trabalhadores de Mauthausen foi a Masserschmit, que instalou uma de suas maiores plantas nos túneis da Bergkristall, próxima de Gusen. Foram poucos os espanhóis que trabalharam nela fabricando fuselagens e outras peças para diversos modelos de aviões de combate. Contudo, como ocorreu com a fábrica da Steyr-Daimler-Puch de Ebensee, dezenas de republicanos pereceram junto a milhares de soviéticos, poloneses, judeus e tchecos na perfuração das galerias subterrâneas em que se alojam suas fábricas.
Prisioneiras escravas do campo de concentração de Ravensbrück
As prisioneiras espanholas deportadas para Ravensbrück trabalharam em diversas empresas que fabricavam armamento e peças para veículos e aviões do Exército alemão. A mais conhecida delas foi a Siemens und Halske, que em 1942 construiu uma fábrica junto ao campo de produção de componentes eletrônicos destinados aos mísseis V1 e V2. A princípio, as mulheres seguiam dormindo em Ravensbrück e se deslocavam cada dia até a fábrica. Em fins de 1944, para poupar tempo, a Siemens construiu uns barracões na própria fábrica nos quais alojou suas trabalhadoras forçadas. As condições de vida eram igualmente duras como no campo central e capatazes se encarregavam de que as mulheres débeis e enfermas fossem devolvidas a Ravensbrück onde, geralmente, acabavam sendo executadas.

Junto a estas grandes companhias, houve também pequenas empresas que se aproveitaram do trabalho escravo dos prisioneiros. Em Mauthausen destacou, por cima do resto, a empresa local de materiais de construção Poschacher. Seu dono, Anton Poschacher, pagou à DEST para ter a sua disposição um grupo de reclusos. No total, em seu pequeno canteiro trabalharam 42 espanhóis menores de 18 anos. A empresa tirou um grande benefício do emprego desses jovens, pelo que pagava à DEST menos de 50% do salário que havia cobrado um trabalhador austríaco. Depois da guerra, seus responsáveis não foram perseguidos. A empresa não só conseguiu manter suas posses, como ainda ampliou e hoje em dia é a proprietária da maior parte dos terrenos que morreram 120.000 prisioneiros de Mauthausen, entre eles, 5.000 espanhóis.

Este artigo recolhe estratos do livro "Los últimos españoles de Mauthausen" (Os últimos espanhóis de Mauthausen) da Editora B. Nele são citados devidamente as diversas fontes consultadas.

Fonte: El Diario (Espanha)
http://www.eldiario.es/el-holocausto-espa%C3%B1ol/hitler-concentracion-deportado-mauthausen-gusen-ravensbruck-franco_6_369273071.html
Título original: Los empresarios de Hitler y el negocio de los campos de concentración
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 22 de junho de 2014

Direita pró-Dugin versus Direita Radical Anticomunista (e outras direitas radicais) no Brasil

O "embate" do século... esse "quebra pau" (entre aspas) vou assistir da arquibancada (rsrsrs).

Procurando algo sobre o Dugin (Link2), acabo me deparando com essa peça de 'humor involuntário' que mostra o quanto o extremismo surtado, com base em distorções e senso comum, radicalizado ao extremo (inflado pela grande mídia brasileira que tem incitado esse tipo de extremismo, principalmente em algumas revistas e jornais conhecidos, publicando literalmente idiotices e propaganda da guerra fria em pleno século XXI), torna-se algo caricato em si mesmo, quando não representa um risco real à integridade de grupos num país.

A direita brigando pra ver quem é a "verdadeira direita" ou quem está mais à direita lembra aqueles embates da esquerda radical (por exemplo, o PSTU) querendo se mostrar como a "verdadeira esquerda", rs.

Uma outra amostra se encontra aqui nos comentários. É o tipo de "discussão" perdida porque esse pessoal é tão bitolado que ao invés de tentarem entender a divisão do que se entende por direita ficam tentando pregar ou desvencilhar o fascismo (nazismo é um tipo de fascismo) da própria direita (neste caso por desonestidade e panfletagem). O fascismo é um dos seguimentos de direita, não o único. Mesmo que você aponte um teórico (historiador) como o francês René Rémond (que era de direita) num dos comentários, que teorizou essas divisões de direita na França (mostrou como ela se divide na França, o modelo serve pra outros países como o Brasil que segue mais as divisões ideológicas da Europa), esse pessoal continua ignorando e fazendo pregação estéril.

Se alguém quiser rir (tem tanta besteira que acho que até os "revis" vão discordar do seu "irmão de armas"), pode acessar o link abaixo do Stormfront. O Stormfront, é um site/fórum racista dos EUA criado por um ex-"guru" da Klan, talvez o maior fórum supremacista (neonazi) do mundo. Eles abriram uma seção em português quando esses negacionistas começaram a ter destaque no Brasil com a ascensão do Orkut. Pelo menos foi quando a coisa começou a ter algum destaque na mídia e pela web no Brasil.

Pra adiantar, o post é de um "revi" se queixando do "esquerdismo" (rsrsrs) do resto dos "revis" ou como ele chama, da "direita revisionista", vendo "comunismo" em tudo. Tudo o que ele discordar é "comunismo". É mais ou menos a retórica rasa que é difundida em parte da mídia brasileira, rotula-se tudo mesmo sem dizer o que significa ou sem saber o significado das coisas, puro fanatismo e ignorância pesada. Caso dê pra comentar, depois eu coloco o texto inteiro no post e destaco (ou noutro post), mas salvei em pdf caso apaguem. Segue abaixo:

Sua opinião sobre a 'direita revisionista'

Só um trecho:
"Em 2008 lá estavam eles no orkut espalhando a idéia de que haviam negros na SS, usando como 'provas' meia dúzia de fotos de soldados negros com capacetes alemães. Em 2010 eles já estavam apoiando cotas para negros nas universidades brasileiras, baseando-se na idéia de que, se haviam negros na SS alemã, então também deveriam haver negros nas universidades brasileiras."
Essa da propaganda sobre negros na Waffen-SS (que seria uma divisão da SS) ocorreu e ocorre sim, e não é algo original do Brasil. Foi feita uma tradução de propaganda de fora. Tem alguns fóruns neonazis russos com pilhas de fotos disso, que na verdade são divisões árabes (do Norte da África) e indianos na Waffen-SS etc.

A questão foi rebatida neste texto sobre estrangeiros na Waffen-SS e suas tropas "multiétnicas", mas havia sim esse tipo de besteirol no Orkut, inclusive com uma comunidade fácil de achar (se não apagaram com medo) de um cara (muito idiota. por sinal) com fake e nick sugestivo exótico de ditador africano espelhando essas idiotices.

É estranha essa germanofilia que esse pessoal manifesta que confunde uma idolatria à Alemanha com idolatria ao nazismo. Aliás, eles de fato são idólatras do nazismo, tanto faz se o nazismo fosse alemão ou não. Eles acham que Alemanha (país) e nazismo (ideologia) são uma coisa só, quando país/Estado é uma coisa e ideologia/regime é outra coisa, e nação também é outra coisa, confusão que os nazistas pregaram a exaustão mas só repete quem quer. Parece banal ter que comentar isso mas muita gente de fato não faz distinção entre os termos, que não são sinônimos.

Acesso à informação está aí a disposição de quase todo mundo, não há desculpa da maioria hoje não saber dessas coisas quando são indagados sobre essas questões, basta procurar o significado e assimilar (aprender). O que existe é uma falta de interesse real em aprender e uma procura demasiada em ler retórica pra passar por "esperto", "culto", "sabichão", algo que só impressiona pessoas extremamente tolas.

Mas essa das cotas é nova, não sabia disso (que tinha "revi" NS defendendo isso), rsrsrsrs.

Mas é 'curioso' o comentário do cara, por ele então não haveria negros nas Universidades brasileiras (dá pra deduzir isso)... interessante... ah, esses "revis" sempre defendendo o "interesse" da "coletividade" brasileira. E obviamente no entendimento dessas criaturas, o termo "coletivo" é coisa de comunista. Fora as outras bizarrices (idiotices) ao tentar criar mitificações em cima de crenças racistas pessoais ignorando a própria história/formação do país.

É aquele velho ponto que bato na tecla sobre o ensino brasileiro deixar de lado a discussão dessas questões (da formação do país, do ensino de História do Brasil que é uma verdadeira calamidade, pois se fosse bom não haveria essa proliferação de gente pregando besteira sem um mínimo de conhecimento porque não aprenderam nada no colégio), com um roteiro ultrapassado e que continua propagando a mitificação (imagem) feita do Brasil na Era Vargas. Como se já não bastasse a mídia fazer isso.

O próprio negacionismo e racismo no país se prolifera em cima dessa ignorância sobre História do Brasil, aí partem pra remendar o problema criando leis de criminalização, que é isso mesmo: remendo e não solução. Leis pra criminalizar não irão reparar (minar a crença racista que se propaga no desconhecimento e ignorância) ou conter um contingente de gente que cresceu ouvindo bobagem (senso comum, racismo, preconceito regional etc) como "verdades absolutas", isso é feito pela educação e não pela criminalização simplesmente, não menosprezando o valor da legislação antirracista do Brasil, mas eu considero aquilo um remendo e não uma solução. Coloca-se uma lei avançada e tende a se achar que com isso irão acabar com o racismo deixando o ensino precário repetindo as mesmas idiotices de geração em geração, fora a questão do ambiente doméstico que muitas vezes agrava ainda mais essas crenças.

Coisas como a ideologia do branqueamento nem sequer são mencionadas em escolas, o que é algo criminoso já que cria uma realidade mitificada do país em cima de distorções históricas, como se o Brasil nunca tivesse tido racismo institucional na escravidão e como se o país tivesse "começado" a existir na ascensão do Rio de Janeiro (cidade) e São Paulo (século XIX e século XX) quando na realidade o país surge em 1500 do choque entre índios (nativos) e portugueses, mais de meio milênio de história já se passaram até o presente e não um século e meio como fazem nesse recorte regional que a mídia adora martelar pra moldar a cultura do povo.

P.S. e está havendo Copa, por sinal, uma das melhores Copas da história até o momento. Os "pessimistas" atacaram tanto a Copa que o veneno que lançaram acabou se voltando contra eles. Ainda farei um post sobre essa questão da mídia e das "teorias da conspiração" que os "revis" seguem ou propagam pois em virtude da idiotice deles qualquer crítica ao sistema ou à mídia acaba caindo em descrédito ou pode vir a ser manipulada por quem não gosta de tais críticas. Pra turma do #naovaitercopa, fiquem aí se contorcendo de raiva já que a sabotagem de vocês não deu certo (e depois ainda vão negar que um dia fizeram isso) e o povo finalmente rechaçou firmemente essa propaganda cretina que parte da mídia brasileira e parte da mídia estrangeira (com destaque bastante negativo pra imprensa espanhola que não vi fazer uma notícia positiva sobre o mundial) fizeram junto com os grupos mercenários mascarados, apoiados por partidecos com interesses "difusos", fazendo baderna dentro do país.

sábado, 15 de março de 2014

Himmler e a Waffen-SS: suas ideias claras sobre crimes de guerra

Na hora de desculpar ou dissimular os crimes de guerra da Waffen-SS desde o começo da segunda guerra mundial costuma-se tirar dos tópicos: que isto ocorreu devido ao calor do combate, devido à inexperiência dos soldados, quando se contesta outros crimes semelhantes dos adversários... mas todos eles estavam implícitos na concepção nacional-socialista da guerra, e não só contra os "subumanos" eslavos. Himmler tinha muito claro como deveriam se portar os nacional-socialistas muito antes da guerra. Estas foram suas palavras em um discurso dos chefes de grupo (rango da SS equivalente a general de divisão), celebrado em Munique em 8 de novembro de 1938:
Ele disse ao comandante do estandarte "Alemanha" [a segunda grande unidade das embrionárias Waffen-SS, equivalente a um regimento mecanizado] que considero correto - e isto vale também para qualquer guerra vindoura - que nunca deve haver um prisioneiro SS. Antes têm que acabar com sua vida. No nosso bando tampouco haverá prisioneiros. As guerras do futuro não serão um escarcéu, senão uma confrontação de povos, numa luta de vida ou morte [...] Por outra parte — e por muito bondoso e decente que queiramos ser em cada caso individual - seríamos absolutamente impiedosos quando tratarmos de salvar um povo da morte. Então não importaria que tivéssemos que tombar (matar) mil pessoas numa cidade. Eu o faria, e esperaria também que vocês o fizessem.
Longerich, Peter: Heinrich Himmler. Biografía. (Heinrich Himmler. Biographie, 2008)
Tradução de Richard Gross. RBA Libros, Barcelona 2009. pág. 234.

Fonte: blog antirrevisionismo (Espanha)
http://antirrevisionismo.wordpress.com/2011/01/07/himmler-waffen-ss-crimenes-guerra-1938/
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 2 de março de 2014

A crise na Ucrânia, os desdobramentos (um resumo)

Se for o caso eu completo ou reviso este texto à noite, mas como os jornais brasileiros e mesmo a mídia de fora (salvo algumas exceções) evitam comentar sobre os pontos centrais do problema (a raiz dos problemas) como abordei aqui neste texto, de 17 de fevereiro último, então segue logo abaixo do comentário sobre o texto do link um resumo sobre os desdobramentos do golpe de Estado provocado pela extrema-direita/direita ucraniana com apoio dos EUA e União Europeia:
A crise da Ucrânia: fascistas (extrema-direita) perto do poder (Black Blocs atuam)

O texto do link acima lista um histórico do fascismo da direita ucraniana e a origem das revoltas por trás do golpe de Estado naquele país feito com ajuda dos grupos fascistas), acho que dá pra fazer um resumo apontando algumas coisas que os jornalões evitam de citar por conta de alinhamento ideológico com alguns países.

Quem quiser ler mais sobre a Ucrânia, fascismo e unidade ucraniana da Waffen-SS no blog, clique na tag Ucrânia.

Matéria de 3 dias atrás:
Putin ordena inspeção de tropas para verificar se estão prontas para combate
Matéria da BBC hoje, mas tende a piorar:
Ucrânia põe Exército em 'alerta máximo'

Imagem: BBC. Soldado russo na Crimeia, no atual
conflito com a Ucrânia.
Dando sequência, vamos lá.

1. Sobre os desdobramentos, a parte russa da Ucrânia (com maioria étnica russa), ou a parte principal em disputa, a Crimeia, já está com tropas russas no local isolando ela do resto da Ucrânia. Há mais notícias que citam que outras cidades ou povoados com maioria russa está seguindo a mesma direção da Crimeia e se alinhando à Rússia na disputa, o que provoca choques com o povo nativo ucraniano (étnico), provoca conflitos que em casos extremos levam a limpezas étnicas, embora não creio que isso irá ocorrer neste caso a não ser que os Estados e a União Europeia (sob liderança de Angela Merkel) façam mais besteira do que já fizeram ao darem apoio a grupos de extrema-direita xenófobos a darem um golpe de estado num governo eleito (ruim ou não, existe uma coisa chamada urna e eleição pra tirar de forma legítima o cara sem toda essa tragédia que está caminhando pra conflito armado). A questão étnica fornece munição pro conflito, isto é um fato, embora este não seja o pivô da crise e sim o desdobramento dela com o golpe de Estado na Ucrânia apoiado pela UE e pelos EUA.

2. A vizinhança da Rússia é área de sua influência (o que a gente chama no "popular" de "quintal de país forte/grande tal"), fora as questões históricas, de ligação étnica, cultural etc, sendo que a Rússia é uma das únicas potências militares do Globo que podem fazer frente aos Estados Unidos, não se trata de um país caindo aos pedaços do Oriente Médio onde os EUA se lançam em guerras pra mostrar poderio bélico, com um inimigo qualificado a coisa não se resolve desta forma a não ser que queira partir prum ataque fratricida e provocar um conflito mundial, o que seria mais um ato insano e irresponsável do governo dos Estados Unidos, mais precisamente o governo do Democrata Barack Obama, que de liderança política tem demonstrado ser um completo fiasco e com discurso dissimulado e "confuso".

3. A ação da Rússia pode-se explicar pela não aceitação (obviamente, ela tem razão nisto) de possíveis movimentos da UE e EUA pra instalarem bases da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), agrupamento militar criado na Guerra Fria pra fazer contenção política e militar da extinta União Soviética (que não é a Rússia e sim várias repúblicas que compunham um país onde o país principal era a Rússia e a capital Moscou) e do bloco socialista com sua parte europeia sendo chamada de Cortina de Ferro, e que no pós-URSS atua pontualmente em algumas ações da Europa (UE) e com a neurose dos EUA em querer fazer um cerco militar à Rússia, já rechaçado outras vezes como quando a Rússia ameaçou retaliar a Polônia caso esta aceitasse colocar bases de mísseis apontados pra Rússia (ainda no governo George W. Bush) e recentemente, em 2008, no período das Olimpíadas de Pequim, no conflito da Rússia com a Geórgia (ex-república soviética e também na área de influência, "quintal", da Rússia).

Sobre o caso da Polônia e o escudo antimísseis direcionado pra Rússia, a crise, matérias de 2007 e uma de 2011 (a última, do El País):
Rússia ameaça instalar mísseis na fronteira com a Europa
Rússia ameaça instalar mísseis na fronteira com a Europa
Rússia condiciona instalação de mísseis a ação de EUA
Rússia implanta mísseis perto das fronteiras com a Polônia e Lituânia

O conflito com a Geórgia em 2008 na Ossétia do Sul, no período das Olimpíadas de Pequim:
Guerra na Ossétia do Sul em 2008
Rússia X Geórgia: entenda o conflito
EUA exigem que Rússia saia da Geórgia imediatamente
Rússia e Geórgia dividem pódio no tiro feminino; ouro é da China
Entenda o conflito envolvendo Rússia e Geórgia na Ossétia do Sul
Entenda a tensão envolvendo a Geórgia e a Rússia
Rússia e Geórgia. Três anos depois da guerra
Isso aqui foi esse ano:
Otan repreende Rússia por usar Jogos para expandir fronteira sobre Geórgia
Rússia invade território da Geórgia para reforçar a segurança em Sochi

Como podem ver, sempre os mesmos blocos envolvidos, Estados Unidos, OTAN (NATO na grafia portuguesa que mantém a sigla em inglês), União Europeia, ex-repúblicas soviéticas, países que foram parte da Cortina de Ferro e próximos à Rússia, e a própria Rússia. Há uma tentativa de fazer contenção com a OTAN pra acuar a Rússia em seu território, isso feito às claras, pra todo mundo ver, não é nem por debaixo dos panos como era na Guerra Fria. "Ah, mas e o povo?", bom, o povo acaba se tornando um "detalhe" por parte de alguns governos nisso, principalmente os atrelados à OTAN (isso é opinião pessoal, ninguém precisa embora os fatos estejam todos listados acima).

4. Resultado prático de toda esta lambança, criada e fomentada pela União Europeia e Estados Unidos, é que a Ucrânia provavelmente acabará dividida, a Crimeia e outras partes de maioria russa (étnica) poderão ser anexadas à Rússia (a Crimeia já foi dela), a Ucrânia está empobrecida, em crise profunda economicamente e a UE que deveria ajudar economicamente (já que foi uma das responsáveis por essa desgraça) não toma uma atitude. O povo ucraniano moderado (não-fascista) sofrerá em virtude da inconsequência de fascistas, que como sempre, só fazem besteira, explorando sentimentos primitivos étnicos e correlatos.

E isto é um cenário "bondoso", "se" não houver mais interferência pesada e irresponsável de outras potências em caso de conflito bélico. Os EUA incitou a Geórgia a fazer besteira em 2008 (estou citando de memória, como disse acima, à noite eu revido o texto e procuro os links) e quando a Rússia revidou violentamente (morreram mais de 2 mil pessoas neste confronto de pouca duração, 2 semanas), não fizeram nada, deixaram o país (a Geórgia) arcar com as bombas sozinha.

Isto é o que se chama de política delinquente e irresponsável, megalômana. E há brasileiros que com o complexo de vira-latas habitual (de uma parte) ainda vangloria ou idolatra alguns países achando que se tratam de um "poço e perfeição" ou algo parecido, comportamento repulsivo e reprovável, além de desnecessário e que provoca um mal-estar terrível, tudo porque ao invés de analisar friamente o mundo ficam criando idealizações sobre tudo e todos em vez de analisar as coisas como realmente são (as idealizações geram imagens distorcida e idolatria pueril, comportamento altamente imbecilizado e vexatório pra boa parte do país já que nem todos os brasileiros comungam deste ideário complexado, inconsequente e politicamente irresponsável).

Eu acho que não mais retornarei ao assunto Rússia-Ucrânia, então fica o resumo que cita coisas que não tem sido abordadas/citadas na "grande mídia" do Brasil, como se hoje em dia alguém precisasse de TV pra se informar.

P.S.1 como disse lá no começo, irei revisar este texto e ver se acho os links de matérias onde algumas coisas são citadas (de memória), como por exemplo não lembro direito do começo do conflito com a Geórgia mas lembro da incitação dos EUA e o recuo do mesmo deixando a Geórgia sozinha arcando com a situação, mas a origem desses confrontos tem uma coisa em comum: OTAN, bases da OTAN pra contenção da Rússia, conflito Aliados "Ocidentais" (EUA e UE) x Rússia, querendo requentar a polarização da Guerra Fria num mundo totalmente diferente, um ato simplesmente grotesco e inconsequente, com desdobramentos perigosos.

P.S.2 Eu ia postar um texto sobre o Holocausto, mas paciência, fica pra depois.

Ver: A crise na Ucrânia, os desdobramentos - II (a caminho da fragmentação e da guerra)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A memória viva de Stepan Bandera (o fascista antissemita "herói nacional" na Ucrânia)

A memória viva de Stepan Bandera
por Paulo Marcelino, p.marcelino@netcabo.pt

Imagem de Stepan Bandera.
Líder de grupo fascista ucraniano
Em Lvov, ou Lviv, no final de Janeiro foi realizada uma homenagem a Stepan Bandera, nacionalista ucraniano que liderou um movimento de guerrilha nas décadas de 1930 a 1950 pela independência da Ucrânia. O seu lema principal era "limpar" a Ucrânia de indivíduos de outras nacionalidades, em especial de russos e polacos, embora as suas atividades de "purificação" étnica se estendessem a ciganos, húngaros, checos e judeus. Colaborou na altura ativamente com o exército alemão na altura da ocupação nestas ações.

A região da Volynia-Galitsia é uma extensa região da Ucrânia ocidental, sul da Polônia e Lituânia. Foi aí que no século XIV Danilo Galitsi fundou um estado efêmero que perdurou cerca de 100 anos até ser dominado por polacos, lituanos e pelas invasões mongóis.

Será esta a gênese da atual Ucrânia, as origens históricas da sua nacionalidade, que se desenvolveu bem mais tarde em termos de literatura, língua e cultura autônoma.

Já a cidade de Lvov, ou Lviv em ucraniano foi fundada por um nobre polaco, Lev, em 1256 e significa literalmente "dos Leões" de lev, leão. Essa zona do país esteve grande parte sob influência polaca, mas também sob domínio letão e do império austro-húngaro.

Nota disso o teatro de Lviv, réplica do mesmo em Viena, magnificente e belo.

Pertança da Polônia até 1939, quando os russos invadiram a região ao encontro do exército alemão que em 1 de setembro de 1939 invadiu a Polônia, pensando Stalin que criara uma zona tampão para o futuro avanço do exército alemão na Rússia soviética, por mais obtusa que esta ideia se tenha provado.

Em 1933 Stepan Bandera cria um movimento revolucionário com vista à instauração de um estado ucraniano puro, onde não tinham lugar outras nacionalidades.

Criou pouco depois o Exército de Libertação da Ucrânia (bandeiras vermelho/negras visíveis nas manifestações transmitidas pela TV), que atuou ativamente a partir de então.

A missão era no fundo uma limpeza étnica, forçando fundamentalmente os polacos a saírem dessas zonas geográficas. Quando os alemães nazis invadiram a União Soviética, foi um ativo colaboracionista.

Foi nessa altura que as suas "limpezas" deram mais resultado. Estima-se que cerca de 70000 polacos foram exterminados, apesar de uma relação dúbia com os judeus, também participou na sua exterminação; às suas mãos "desapareceram" cerca de 200.000 judeus.

A colaboração cessou em 1943, pois foi entretanto preso pelos próprios alemães, mas em 1944 o exército soviético entrou e ele reiniciou as suas atividades bélicas na zona.

Aproveitando o esforço militar a ocidente, o seu movimento guerrilheiro cresceu em atividade e de fato no final dos anos 40 ocupou uma região de cerca de 160000 km2 na zona.

Progressivamente o novo poder soviético foi tomando conta da situação e o movimento decresceu em importância militar, confinou-se a pequenos grupos de guerrilha nas montanhas dos Cárpatos (de uma beleza digna de visita) e pereceu já na década de 50, Lviv esteve sob lei marcial até 1955.

Stepan Bandera foi assassinado pelos serviços secretos soviéticos no final de Janeiro de 1959 em Munique, efeméride que foi relembrada em Lviv.

O movimento "Svoboda" da atual contestação ucraniana não relega as ideias de limpeza étnica de Stepan Bandera. O seu líder foi a semana passada espancado algures na Ucrânia e prontamente assistido na Lituânia.

Os movimentos do ex-boxeur Klitshko (com o curioso nome de UDAR, que significa MURRO) e de Iatseniuk desmarcaram-se deste movimento mais extremista.

Mas observando com atualidade tudo isto, parece que a Europa revive os momentos de 1933, ano da chegada ao poder do partido de Adolf Hitler.

A aposta no nacionalismo e na pureza da raça, faz eco no crescendo de nacionalismos europeus estúpidos, materializados no recente referendo Suíço, mas também em Le Pen, no Sobbit (Jobikk) húngaro ou na Aurora Dourada grega.

A contestação ucraniana, não isenta de razão ou justificação, se entendida contra um poder de oligarcas com negócios florescentes no Ocidente, aproveita as diferenças seculares entre etnias e nacionalidades, que em vez de funcionarem com impulso para um mundo livre, multicultural e daí interessante, funciona como uma separação irreparável que só serve a desagregação, o conflito e a dependência externa.

Será a Ucrânia a próxima Iugoslávia? Sob o imparável impulso alemão que conquista territórios sem uso da força? Ou caminhamos para um impensável futuro próximo.

Que se recorde Stepan Bandera como europeu da década de 30 e 40, pré-guerra e que se tirem os devidos ensinamentos.

Que estes fatos não se esqueçam hoje, para que na nossa memória fiquem os momentos mais marcantes da nossa maior fragilidade e nossa maior fortaleza: que se preservem as diferenças em nome de uma Europa unida pela diferença e pela diversidade. E que estende de Lisboa a Vladivostok, como dizia De Gaule.

E aguardemos o fim das Olimpíadas de Sotshi, após o que tudo se esclarece e o verniz estala; para recordar a história daquela zona geográfica, tudo é escrito sobre muitos cadáveres...

Fonte: Diário de Notícias (Portugal)
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/jornalismocidadao.aspx?content_id=3693616&page=-1
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Correção: sobre a foto com um agrupamento nazista onde eu apontei (tacitamente) que o do centro seria o Bandera, agradeço a correção feita aqui que aponta que o nazi ao centro é Reinhard Gehlen.

Eu gosto de colocar fotos nos posts e muitas vezes na pressa não dá pra checar todas (se não é foto de um assunto muito específico como foto do genocídio, muitas vezes confiro pelo "tato"), encontrei a foto dos nazis acima numa página de um grupo que denuncia atrocidades deste grupo fascista do Bandera contra poloneses (étnicos) na Ucrânia na época da segunda guerra, só que não lembro o link (acha-se fácil no banco de imagens do Google pelo nome "Stepan Bandera"). De cara achei estranha a foto, apesar dos dois terem algumas semelhanças físicas, porque o fardamento do Gehlen é de oficial da Wehrmacht (exército), que tem aquela águia com a suástica aos pés no fardamento e outras insígnias de oficial de exército, o Bandera não usaria fardamento de oficial do exército alemão.

Como o Bandera era ucraniano, só poderia 'lutar' com os nazis, ou no próprio agrupamento fascista dele (UPA) ou pela Waffen-SS como voluntário estrangeiro, sendo que os voluntários estrangeiros da Waffen-ss não usavam este fardamento de oficial da Wehrmacht, e na gola, em vez do emblema da SS (que só alemães usavam) cada unidade com voluntários de vários países usava uma insígnia pra cada grupo étnico ou país. Só como exemplo, mirem a gola deste agrupamento croata da Waffen-SS, não consta o SS dos oficiais alemães.

Este é um voluntário sueco, mirem a gola com a insígnia da unidade sueca da Waffen-SS. Curiosamente achei um voluntário finlandês com uma insígnia da SS (não só essa foto, algumas), embora a unidade finlandesa possuísse sua insígnia, mas o normal seria usar a insígnia étnica do grupo ao qual ele pertence pela classificação racista nazista.

Este assunto do uniforme é um assunto a ser tratado depois pois. Apesar de aparentar ser banal, o assunto é relevante para identificar os diversos grupos nazis em fotos pois há uma campanha de "revisionistas" (negacionistas) tentando alegar que estrangeiros que eram vistos como inferiores pela doutrina racista nazista seriam "aceitos" pelo exército alemão e isso colocaria em "cheque" o racismo nazista. É algo tão ridículo que eles nem sequer comentam quais e como/de que forma esses grupos eram aceitos no esforço de guerra nazista. Leiam este texto que trata do assunto (ainda falta completar a tradução inteira dividida em partes):
O Fenômeno dos Voluntários (tropas multiétnicas do Terceiro Reich) - parte 01
O Fenômeno dos Voluntários (tropas multiétnicas do Terceiro Reich) - parte 02

A Waffen-SS era o braço militar (tropa) da SS (Schutzstaffel) que era a milícia do Partido Nazi, não eram parte do Exército alemão (Heer) embora tenham lutado juntos.

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