quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Nem os soviéticos nem os polacos encontraram valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres …

… ou então, é isto que Mattogno & Graf contam aos seus leitores na página 226 do seu livro sobre Treblinka, onde escrevem o seguinte:

Ora, considerando que, segundo um dos estudos mais completos que existem sobre o assunto, só os Einsatzgruppen teriam abatido 2.200.000 de pessoas (judeus e não judeus), que unidades da Wehrmacht, das SS e da polícia também são acusadas de centos de milhares de assassinatos, e que – conforme já foi salientado – nem os soviéticos nem os polacos encontraram quaisquer valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres, os 'Destacamentos Especiais 1005' devem ter exumado e queimado entre um milhão e meio e três milhões de corpos.


Questiono-me se a fonte de Mattogno, o estudo sobre os Einsatzgruppen publicado em 1981 pelos historiadores alemães H. Krausnick e Hans Heinrich Wilhelm, de facto atribuiu 2.200.000 mortes aos Einsatzgruppen, mas não é este o assunto de momento. O assunto é se a afirmação de Mattogno/Graf de que «nem os soviéticos nem os polacos encontraram valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres» resiste à verificação.

A fim de averiguar isto, olhei para alguns relatórios de investigações soviéticas de locais de matanças que tenho à minha disposição. As partes pertinentes desses relatórios são traduzidas a seguir.

1. Extracto de O Veredicto do Povo: um relatório completo do procedimento nos julgamentos de atrocidades alemãs em Krasnodar e Kharkov– Ignatik Fedorovich Kladov; Ivan Fedorovich Kotomtsev, acusado; Reinhard Retzlaff, acusado; Wilhelm Langheld, acusado. (NY: 1943, 1944), páginas 110 – 111 (cortesia de Scott Smith, vide a minha mensagem de 20-Feb-2006 21:50 no fórum RODOH). Os destaques são meus:

Sessão da manhã, 17 de Dezembro de 1943.
Factos apurados pela Comissão de Peritos Médico-Legais:

"Em Kharkov e nas localidades circundantes os peritos médico-legais examinaram os locais dos crimes dos invasores fascistas alemães — os lugares onde estes efectuaram o extermínio de cidadãos soviéticos. Estes incluem o bloco queimado do hospital do exército, onde abateram e queimaram prisioneiros de guerra — pessoal do Exército Vermelho gravemente ferido; o local do fuzilamento em massa de pessoas saudáveis ou doentes, de crianças pequenas, adolescentes, pessoas jovens, homens e mulheres de idade no parque florestal de Sokolniki, perto da aldeia de Podvorki, na ravina de Dobritsky, e na colónia terapêutica de Strelechye. Nestes locais os peritos médico-legais examinaram as valas de sepultura e exumaram corpos de cidadãos soviéticos abatidos a tiro, envenenados, queimados ou de outra forma brutalmente exterminados.

"Os peritos médico-legais examinaram os lugares onde os invasores fascistas alemães queimaram corpos para destruir a evidência dos seus crimes — o envenenamento com monóxido de carbono. Este é o sítio da conflagração no terreno das barracas da fábrica de tractores de Kharkov. O exame dos terrenos onde os corpos foram queimados ou enterrados, o exame das valas de sepultura e das posições dos corpos dentro destas, e a comparação do material assim obtido com os dados do procedimento do Tribunal, dão razões para considerar que o número de corpos de cidadãos soviéticos chacinados em Kharkov e arredores chega às várias dezenas de milhares, enquanto o número de 33.000 cidadãos soviéticos indicado pelos acusados e algumas testemunhas é apenas uma aproximação e sem dúvida demasiado baixo.

"Nas 13 valas de sepultura abertas em Kharkov e na sua vizinhança imediata foi encontrado um grande número de cadáveres. Na maioria das valas os corpos estavam deitados de forma extremamente desordenada, entrelaçados uns com os outros de maneira fantástica, emaranhados de forma indescritível. Os corpos estavam deitados de tal forma que se pode afirmar que não foram enterrados nas valas comuns, mas amontoados ou arremessados para dentro das valas. Em duas valas no parque florestal de Sokolniki os corpos foram encontrados deitados em filas rectas, com os braços dobrados no cotovelo e as mãos apertadas contra as faces ou os pescoços. Todos os corpos tinham feridas de bala nas suas cabeças. A posição dos corpos não era acidental. Prova que as vítimas foram forçadas a deitar-se com a cara para baixo e abatidas nessa posição.
Nas valas em que os corpos se encontravam e nos lugares onde os corpos tinham sido queimados, os peritos médico-legais encontraram artigos de uso diário e efeitos pessoais, tais como malas, sacos, facas, tachos, canecas, óculos, fitas para sujeitar malas de mão de senhora, etc. O facto revelado pela investigação — nomeadamente, que antes de serem assassinados os cidadãos soviéticos foram privados do seu calçado — é plenamente confirmado pelos exame médico-legal: durante as exumações os peritos, na maior parte dos casos, descobriram corpos nus ou seminus.

"A fim de certificar quais os cidadãos soviéticos exterminados e de que forma, os peritos exumaram e examinaram 1.047 corpos em Kharkov e arredores, incluindo os corpos de 19 crianças e adolescentes, 429 mulheres e 599 homens. A idade dos mortos ia dos dois até aos 70 anos. O facto de terem sido descobertos os corpos de crianças, adolescentes, mulheres e homens de idade nas valas de sepultura, bem como artigos de uso doméstico e efeitos pessoais nos corpos ou perto destes, prova que as autoridades fascistas alemãs exterminaram cidadãos soviéticos independentemente do sexo ou da idade. Por outro lado, o facto de nos corpos de homens jovens e de meia idade terem sido encontradas vestimentas de corte militar utilizadas no Exército Vermelho, bem como artigos de equipamento militar (tachos, canecas, cintos, etc.) é evidência de que se trata de prisioneiros de guerra soviéticos.
[…]
"Com base em todos os dados dos seus procedimentos no seu conjunto, os peritos médico-legais estabeleceram o seguinte:

"(a) Um grande número de locais de sepultura na cidade de Kharkov e nas suas imediações.

"(b) Um grande número de corpos nas valas de sepultura.

"(c) Que em várias valas os corpos foram enterrados em alturas diferentes.

"(d) Vários graus de preservação dos corpos nas mesmas valas.

"(e) Distinção dos corpos por sexo e idade.

"(f) Uniformidade dos métodos de extermínio de seres humanos.

"Consideramos o acima exposto como prova do extermínio em massa sistemático, metodicamente organizado, de civis e prisioneiros de guerra soviéticos.

"Perito médico-legal chefe do Comissariado do Povo para Protecção da Saúde da U.R.S.S., Director do Instituto Estatal de Pesquisa de Medicina Forense do Comissariado do Povo para Protecção da Saúde da U.R.S.S., Prozorovsky.

"Professor de Medicina Forense do Segundo Instituto Médico de Moscovo, Doutor de Ciências Médicas Smolyaninov.

"Cientista sénior do quadro do departamento tanatológico do Instituto Estatal de Pesquisa de Medicina Forense do Comissariado do Povo para Protecção da Saúde da U.R.S.S., Dr. Semenovsky.

"Perito médico-legal chefe do 69º Exército, major do Serviço Médico Gorodnichenko.

"Anatomista – patologista Major do Serviço Médico Yakusha.

"Após tradução do relatório dos factos apurados pelos peritos médico-legais para a língua alemã, o Presidente, Juiz Major-General Miasnikov, declarou concluídos os procedimentos do Tribunal."


2. Extracto do relatório de uma comissão investigadora soviética em Zhitomir, 5 a 16.02.1944
Fonte: Ernst Klee/ Willi Dreßen, »Gott mit uns« Der deutsche Vernichtungskrieg im Osten 1939-1945 (»Deus está connosco« A guerra de extermínio alemã no leste 1939-1945), páginas 31 e seguintes. Referência: processo de julgamento criminal da Alemanha Federal Js 4/65 GstA Frankfurt/Main, ficheiros russos, Volume 1. Segue-se a minha tradução do texto alemão, que por sua vez é uma tradução do original em língua russa.


[…]A comissão de peritos em medicina forense, composta pelo professor Voronyj Ju. e os médicos Stoliza, B., Iskra F.I., Skalkij M.N., na presença do Representante da Comissão Estatal Extraordinária, Candidato em Direito Vjel’nikov D.G, dos membros do Comité de Apoio Regional de Zhitomir, Reverendo Padre Feodot Tysljukjevich, Kharchenko, K.S., Coronel Shapovalov, Roshanchuk N.M., e um grande número de habitantes locais, estabeleceram que os ocupadores alemães fascistas e os seus ajudantes abateram a tiro habitantes locais nos seguintes lugares:
1) 500 metros a sul da fábrica de Dovshik, que se encontra na floresta a 10 quilómetros da cidade de Zhitomir, foram encontrados dois locais de fuzilamento e enterramento de cadáveres. Primeiro foram encontrados dois locais ao longo do caminho que conduz da estrada N.-Volynsk ao quilómetro 9 a partir da fábrica Dovshik. Foram encontradas seis sepulturas, das quais foram desenterrados 962 cadáveres humanos de ambos os sexos e várias idades. Logo, no caminho que conduz da fábrica até à estrada no quilómetro 8, foi encontrada uma área de dois hectares que estava vedada por arame com uma altura de três metros que tinha sido entrelaçado com grossos ramos de carvalho para impedir a vista de fora. Nesta área foram encontradas 13 sepulturas, com as medidas de 16 x 2 x 2,5 metros. Quando as sepulturas foram abertas encontrou-se um cadáver masculino, os restos de um cadáver parcialmente devorado pelo fogo e grande número de ossos humanos. Durante a exumação notava-se um forte cheiro a cadáveres.
As testemunhas presentes na exumação afirmaram que no local vistoriado cidadãos civis tinham sido abatidos e também enterrados no decurso dos anos 1941/42. Em Julho de 1943 esta área tinha sido vedada, e tinham sido colocados guardas. As testemunhas tinham observado que durante um mês tinha saído fumo do local vedado, que tinha um cheiro extremamente desagradável e se tinha espalhado de tal forma que ainda se lhe podia sentir nas casas da fábrica de Dovshik, a 500 – 600 metros do local.
A comissão de peritos em medicina forense chegou à conclusão de que na referida área tinham sido enterrados e logo desenterrados e queimados cadáveres humanos, em número não inferior a 20.000.
2) A sul da estrada de N.-Volynsk, a 8 quilómetros de Zhitomir, na floresta ao longo do caminho que conduz à aldeia de Barachevka, foram encontradas 28 sepulturas e duas valas descobertas. Quando se abriu as sepulturas foram encontrados 14.110 cadáveres. Foi encontrada uma sepultura inteira cheia de corpos que estavam completamente despidos. Numa das sepulturas foi encontrado o cadáver de uma mulher que tinha uma liga com uma grande cruz vermelha no seu braço. Uma grande parte dos corpos tinha as suas mãos atadas com arame ou tiras.[meu ênfase – RM] Numa das valas descobertas foram encontrados quatro cadáveres bem conservados, 3 homens e uma mulher. Nas roupas do cadáver masculino foram encontrados papéis com o nome de Vlassov, F.I., residente em Zhitomir, Proviantskaja 13/14. A esposa do homem morto, Sra. Vlassova A.C., afirmou que ele tinha sido detido pela Gestapo em Dezembro de 1943 sob suspeita de ter escondido judeus e guardado uma espingarda no seu apartamento.[…]


3. Extracto de um Comunicado da Comissão Estatal Extraordinária Soviética sobre a Liquidação de Prisioneiros de Guerra e Civis em Smolensk e Arredores de Julho de 1941 a Setembro de 1943 (minha tradução da tradução alemã do russo, que se encontra no livro de Paul Kohl, Der Krieg der deutschen Wehrmacht und der Polizei 1941 – 1944 (A guerra da Wehrmacht e da polícia alemãs 1941 – 1944), páginas 269 e seguintes)

[…]O material examinado, o número de cadáveres nas valas em massa abertas e o exame dos locais de valas em massa levam à conclusão de que nos locais examinados da cidade de Smolensk e seus arredores o número de cidadãos soviéticos que foram assassinados ou morreram durante a ocupação temporária alemã excede os 135.000. Este número distribui-se pelos vários locais como segue:

1. Na área da antiga estação de rádio de Smolensk junto à vila de
Gedeonowka cerca de 5 000 cadáveres
2. Na área das aldeias de Magalenchina e Vjasowenka 3 500 "
3. Na área do jardim de frutos e vegetais junto à aldeia de Readowka 3 000 "
4. Na área do jardim (de pinheiros) Pionerski 500 "
5. Na área da Casa do Exército Vermelho 1 500 "
6. Na área do grande campo de concentração 126 45 000 "
7. Na área do pequeno campo de concentração 126 15 000 "
8. Na área de Medgorodka 1 500 "
9. Na área da aldeia de Jassenaja 1 000 "
10. Na área do antigo hospital alemão para prisioneiros de guerra e da residência de estudantes da Universidade de Medicina, Avenida Roslawl 30 000 "
11. Na área da serralharia e da fábrica de licores 500 "
12. Na área do campo de concentração junto à aldeia de Petcherskaja 16 000 "
13. Na área da aldeia de Rakitnja 2 500 "
14. Na área da fábrica de aviões 35 à volta da estação ferroviária de Krasny
Bor, do terreno estatal Passowa, da aldeia de Alexandrovskaja, do aqueduto, dos estabelecimentos de Serebrjanka e Dubrovenka 12 000 cadáveres


São estes apenas três de entre os muitos locais de matança investigados pelos soviéticos (segundo o livro de Alan Bullock Hitler and Stalin. Parallel Lives., Londres 1993, página 818 e seguintes, os documentos reunidos pela Comissão Soviética para Investigação dos Crimes Alemães abrangem cerca de dois milhões de páginas), e o relatório soviético sobre cada um destes locais desmente a afirmação de Mattogno/Graf de que «nem os soviéticos nem os polacos encontraram valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres», uma vez que a primeira fonte aponta para, no mínimo, 33.000 corpos na área de Kharkov, a segunda para 14.110 corpos «a sul da estrada N.-Volynsk, a 8 quilómetros de Zhitomir» e a terceira para mais de 135.000 corpos encontrados em valas em massa na área de Smolensk.

É certo que os relatórios soviéticos acima citados podem estar afectados por exageros, tais como os que salienta o historiador alemão Christian Gerlach, a respeito de valas em massa na área de Minsk na Bielorússia, no seu livro Kalkulierte Morde, do qual foram tirados os seguintes extractos.

Nota de rodapé 1471 na página 770 (minha tradução)
O número e o tamanho das valas em massa não é bem claro; apenas algumas foram abertas. Geralmente o seu número em Blagovshchina é dado como sendo de 34 (Rübe e Heuser falaram em 15-18, vide interrogatório referido na nota anterior), das quais, contudo, e contrariamente à descrição de Kohl, página 97, apenas algumas tinham até 50 metros de comprimento, em vez de todas terem tido um comprimento de 60 metros. O seu volume, portanto, era consideravelmente inferior do que 25.000 metros cúbicos (os quais, considerando um máximo de 6 corpos por metro cúbico, teriam correspondido a até 150.000 pessoas chacinadas), mas não pode ser indicado exactamente. Até o tamanho original das valas em massa dificilmente podia ser determinado já em 1944, uma vez que o Destacamento Especial 1005 tinha efectuado trabalhos de terra com máquinas de construção. Vide "A Evidência Recolhida em Minsk", Documento de Nuremberga USSR-38, Arquivos Federais em Freiburg 16030; dados sobre Trostinets no Arquivo Central do Estado em Minsk 845-I-62, páginas 1-48, especialmente página 1, e interrogatório sem data de W.A. Buzewich, páginas 27-32; Acta da Cidade de Minsk datada de 13.08.1944, Arquivos Especiais Moscovo 1525-1-1473, páginas 309-316, ver também: Beluga (editor), páginas 224-226.


Nota de rodapé 1472 nas páginas 770/771 (minha tradução)
Havia um número de outros locais de extermínio nas redondezas de Minsk. Além das sepulturas de Glinishchi no noroeste com cerca de 66.000 e em Urechye com cerca de 12.500 (oficialmente 30.000) prisioneiros de guerra destruídos havia a vala de Drosdy (10.000 mortos civis) e as sepulturas de Petrashkevichi (14.000 a 20.000 mortos civis; oficialmente 25.000 segundo uma fonte, 54.000 segundo outra) e em Tuchinka, no cemitério judaico, no parque cultural, etc. Vide supra e Kohl, nota 132, páginas 264 e seguintes. As referidas diferenças entre a minha estimativa e as cifras oficiais resultam parcialmente – não sempre – das medidas das valas em massa, desde que conhecidas. Relativamente a outros locais de matança em Minsk vide Kohl, páginas 77-90; Schlootz, página 75; interrogatório de Eberhard Herf em 26.12.1945, ZStl 202 AR-Z 184/67, Volume 1, página 67.


Páginas 852 e seguintes (minha tradução)
Na área de Minsk o maior fuzilamento de prisioneiros de guerra soviéticos em solo bielorusso teve lugar em Janeiro de 1943. Segundo os depoimentos de várias testemunhas, especialmente o executor alemão Alois Heterich, o 3º Batalhão do Regimento de Infantaria 595 foi descarregado em Minsk em Janeiro de 1943 durante o transporte da 327ª Divisão de Infantaria para Krasnodar, e tinha ordem para abater 10.000 pessoas, na sua maioria prisioneiros de guerra do campo na estação de comboios de mercadoria, a alguns quilómetros de distância, durante três noites no fim de Janeiro e início de Fevereiro de 1943. Só o pelotão de Heterich terá executado 1.500 pessoas. Alegadamente houve mais chacinas em massa com camiões de gaseamento nos próximos dias. As vítimas (entre elas, segundo o resultado da exumação, também um número reduzido de civis, incluindo mulheres) foram abatidas com um tiro na nuca e portavam uniformes das forças blindadas soviéticas. O número de mortos na vala em massa de Urechye, 6 quilómetros a leste de Minsk, que as autoridades soviéticas estimaram em 30.000 tendo em conta os depoimentos de testemunhas, era de 12.500 segundo a descrição das valas em massa. [Nota de rodapé: Havia 10 valas em massa com uma área de 24 por 5 metros, onde os corpos foram encontrados em três filas e sete camadas uns encima dos outros. Vide Acta de 13.8.1944, Cidade de Minsk, Arquivo Especial Moscovo 1525-I-473, páginas 309-316; "A Evidência Recolhida em Minsk", Documento de Nuremberga USSR-38, Arquivos Federais em Freiburg 16030.


No entanto, mesmo as estimativas mais baixas que Gerlach faz do conteúdo das valas em massa que menciona ainda apontam para muito mais do que apenas alguns poucos milhares de corpos em cada uma destas valas.

Portanto, será que os relatórios de investigação soviéticos são necessariamente tão inexactos, ou até fraudulentos, como Mattogno/Graf gostariam que fossem?

Uma forma de estabelecer isto consiste em comparar os relatórios soviéticos sobre um dado local de chacina em massa com outra evidência relativa às matanças naquele local, à qual os soviéticos não tinham acesso ou sobre a qual não tinham influência.

Considere-se, por exemplo, a descrição dos corpos nas valas em massa de Kharkov, na primeira das fontes acima citadas:

Nas 13 valas de sepultura abertas em Kharkov e na sua vizinhança imediata foi encontrado um grande número de cadáveres. Na maioria das valas os corpos estavam deitados de forma extremamente desordenada, entrelaçados uns com os outros de maneira fantástica, emaranhados de forma indescritível. Os corpos estavam deitados de tal forma que se pode afirmar que não foram enterrados nas valas comuns, mas amontoados ou arremessados para dentro das valas. Em duas valas no parque florestal de Sokolniki os corpos foram encontrados deitados em filas rectas, com os braços dobrados no cotovelo e as mãos apertadas contra as faces ou os pescoços. Todos os corpos tinham feridas de bala nas suas cabeças. A posição dos corpos não era acidental. Prova que as vítimas foram forçadas a deitar-se com a cara para baixo e abatidas nessa posição.


Aquilo que a comissão considerou provado dada à posição dos corpos, i.e. que as vítimas tinham sido forçadas a deitar-se face abaixo e abatidas nessa posição, também resulta aparente dos depoimentos de dois participantes nas execuções à volta de Kharkov (Karl G., antigo membro do batalhão de polícia 314, e Viktor T., antigo membro do destacamento especial Sonderkommando 4 a) perante autoridades de justiça penal da República Federal Alemã na década de 1960, cuja transcrição e tradução para inglês se encontram na minha mensagem de 25-Jul-2005 11:01 no fórum RODOH. Segue-se a tradução para português:

Karl G.
Os judeus tiveram que se despir e deitar-se junto à aberturas no solo ou dentro das mesmas. As aberturas eram naturais e não valas contra tanques ou outras escavações. Nestas valas of judeus foram abatidos a tiro pelo SD [Sicherheitsdienst – Serviço de Segurança, n.d.t.].


Viktor T.
Recebi ordens de juntar-me ao destacamento de execução. O destacamento de execução, composto por 10 homens, entrou na abertura que ia cerca de 20 metros para dentro da montanha. Os judeus foram conduzidos para dentro em grupos de 20-25 pessoas e tiveram que deitar-se no solo. Foram abatidos com disparos na nuca de pistolas–metralhadoras.


Outra convergência existe entre o número de judeus executado na chamada "Ravina Drobizk" perto de Kharkov segundo a Acta da Comissão Estatal Extraordinária Para A Cidade de Kharkov Para Investigar os Crimes Lá Cometidos, e o número que resulta do depoimento de Phillip F., antigo membro da 297ª Divisão de Infantaria, em 23 de Marco de 1961 perante a Procuradoria da Cidade de Hamburgo. Ambas fontes também são citadas na minha mensagem no fórum RODOH atrás referida. Segue-se a tradução para português:

Acta da Comissão Estatal Extraordinária Para A Cidade de Kharkov Para Investigar os Crimes Lá Cometidos
[...]Segundo dados incompletos, nos meses de Dezembro de 1941 e Janeiro de 1942, perto das fábricas de Rogan, a 8 quilómetros de Kharkov, na chamada "Ravina Drobizk", foram abatidos a tiro mais de 15.000 judeus, habitantes da cidade de Kharkov. Estes crimes monstruosos contra a população pacífica são confirmados pelos depoimentos de testemunhas, o relatório de medicina forense e outro material documental. [...]
Em 14 de Dezembro de 1941 o comandante militar alemão da cidade de Kharkov emitiu uma ordem segundo a qual toda a população judaica devia trasladar-se para a periferia da cidade dentro de dois dias, para as barracas das instalações de uma fábrica de máquinas. Na ordem constava que as pessoas que não obedecessem esta ordem seriam abatidas. Assim, alguns dias depois uma multidão de muitos milhares de pessoas idosas, mulheres e crianças se deslocava através das ruas da cidade em direcção ao local de realojamento. Uma vez que era proibido andar pela cidade depois das 16ºº horas, mas muitos daqueles a serem realojados ainda estavam a caminho nessa altura, o movimento parou. Estas pessoas passaram a noite na rua, sob o frio glacial. Devido a isto muitos morreram já no caminho. [...]


Depoimento de Phillip F.
[...] Foi em meados de Dezembro de 1941, quando passei várias semanas em Kharkov. Ainda me lembro exactamente que foi no dia 15.12.1941 que vi em Kharkov como uma procissão de vários quilómetros de comprimento, de judeus em longas filas com carros de mão e bagagem, se movia da cidade para leste em direcção à fábrica de tractores. A fábrica de tractores se encontra a cerca de 15 quilómetros do centro da cidade. Entre os judeus havia homens, mulheres e crianças. Alguns carros eram puxados por pequenos cavalos que às vezes caíam sob o peso. Encima dos carros havia às vezes crianças pequenas, mulheres e pessoas doentes, sentados na bagagem. O frio era de cerca de 15 graus (centígrados) abaixo de zero. Vi os judeus a passar durante uma hora inteira, e ainda a procissão não terminava. Estimo o número de judeus que nesse dias foram conduzidos de Kharkov para a fábrica de tractores em cerca de 15.000 pessoas.
Ainda me lembro que a procissão estava segredada e guardada por homens de uniforme. Já não consigo lembrar-me, contudo, se estes eram membros das SS ou polícias auxiliares ucranianos de uniforme. Não observei nenhuns maus tratos aos judeus durante este processo. Quando no próxima dia conduzi com o meu carro de Kharkov para Tshugev, utilizei a mesma estrada que os judeus tinham utilizado no dia anterior. À direita e à esquerda da estrada vi várias vezes cadáveres que eram da procissão dos judeus. Não posso dizer se estes judeus tinham morrido de maus tratos ou sido abatidos a tiro, ou se tinham sucumbido à exaustão. Os cadáveres estavam lá abandonados e ninguém se preocupava com eles.
A razão pela qual sei exactamente que os judeus foram conduzidos à fábrica de tractores em 15.12.41 é que naquela altura havia cartazes em língua alemã e russa pendurados em todo lado na cidade, em que os judeus eram chamados a reunir-se num certo local da cidade a fim de serem levados para fora. Já não me lembro qual foi o serviço que colocou esses cartazes. Mas ainda lembro exactamente que os cartazes referiam o dia 15.12.1941 como sendo o dia da congregação. [...]


As ênfases nas citações supra são minhas e destacam as semelhanças entre a informação contida nestas duas fontes, que são tão independentes uma da outra como os depoimentos de Karl G. e Viktor T. são independentes do relatório dos Factos apurados pela Comissão de Peritos Médico-Legais, acima citado, relativamente às valas em massa na área de Kharkov. Estas convergências tornam improvável a hipótese de que as comissões de investigação soviéticas tenham manipulado os seus relatórios, e as duas fotografias relativas à "Drobitski Yar perto de Kharkov" mostradas na minha mensagem de 25-Jul-2005 11:01 no fórum RODOH reforçam a conclusão de que, ao menos neste caso, os soviéticos não recorreram a uma alegada prática manipulativa da qual Mattogno/Graf os acusam nas páginas 218 e seguintes do seu livro, a de fotografar um número relativamente reduzido de corpos encontrados num local de matança desde vários ângulos por forma a criar a impressão de que o número de corpos encontrados era muito maior. (Não faz sentido, por acaso, tomar o número de corpos fotografados como indicação do número de corpos encontrados. É difícil ter havido uma investigação de chacina em massa mais publicitada e utilizada para efeitos de propaganda do que a investigação alemã da massacre soviética de prisioneiros de guerra polacos em Katyn, e no entanto estas fotografias, que parecem ser a maior parte das 80 fotografias que, segundo Mattogno, acompanhavam o relatório de investigação dos nazis, parecem mostrar no máximo algumas poucas centenas dos cerca de 4.000 corpos encontrados.)

No que respeita às valas em massa na área de Minsk mencionadas por Gerlach, quem duvidar que houve matanças com dezenas de milhares de vítimas naquela área durante a ocupação alemã apenas precisa de ler o memorando secreto datado de 31 de Julho de 1942, enviado por Kube, o governador comissionado da Ruténia Branca, para o Gauleiter Hinrich Lohse, governador comissionado dos Territórios Orientais, ou a tradução daquele documento apresentada, junto com outra evidência, no julgamento das Einsatzgruppen em Nuremberga. As chacinas em massa na área de Minsk não estavam de forma alguma concluídas quando aquele memorando foi escrito.

No que respeita ao relatório da comissão de investigação soviética na área de Zhitomir, a evidência independente corroborativa de que tenho conhecimento – e que abrange apenas uma parte do período de ocupação nazi naquela área – provém dos Relatórios de Situação Operacional URSS dos Einsatzgruppen, em que se basearam as alegações adiante traduzidas, incluídas na acusação do "Caso dos Einsatzgruppen" em Nuremberga:

(A) Durante o período de 22 de Junho de 1941 a 3 de Novembro de 1941, nos arredores de Zhitomir, Novo Ukrainka e Kiev, o Einsatzgruppe C assassinou mais de 75.000 judeus.

(B) Em 19 de Setembro de 1941, em Zhitomir, o Einsatzgruppe C assassinou 3.145 judeus e confiscou a sua roupa e objectos de valor.

(C) Durante o período de 22 de Junho de 1941 a 29 de Julho de 1941, nos arredores de Zhitomir, o Sonderkommando 4a assassinou 2.531 pessoas.


Relativamente às valas em massa na área de Smolensk, mencionadas pela Comissão Estatal Extraordinária soviética, desafortunadamente não tenho à minha disposição evidência independente das investigações soviéticas que permita sequer a verificação por alto da exactidão dos dados soviéticos que fiz nos outros casos, fora do que sei em geral, principalmente através de fontes alemãs utilizadas pelos historiadores Christian Streit e Christian Gerlach, sobre o tratamento que os nazis deram aos prisioneiros de guerra soviéticos, que perfaziam uma grande parte das vítimas encontradas na área de Smolensk.

Penso que, a fim de fazer uma avaliação mais ou menos fiável do grau em que os relatórios das comissões soviéticas sobre a investigação de locais de matança nazis podem ser considerados fiáveis, seria necessário comparar os respectivos relatórios de investigação soviéticos com evidência independente dos mesmos relativamente ao maior número possível de locais de matança nazis. Este tipo de trabalho de pesquisa histórica – do qual o artigo de Nick Terry, Mass Graves in the Polesie [tradução para português], é um brilhante exemplo – não é, desde logo, o que se pode esperar de pessoas como Mattogno & Graf, que parecem felizes em concluir, com base num um único alegado exemplo (o do campo de Osarichi, discutido nas páginas 218 e seguintes do seu livro; no que respeita a Babi Yar fazem uma barafunda ridícula, seguida por uma conclusão non-sequitur do tipo "poderiam ter feito, deveriam ter feito, portanto teriam feito" derivada do facto de os soviéticos terem publicado fotografias da escassa evidência física que sobreviveu à operação de encobrimento dos nazis), que os relatórios de investigação soviéticos em geral tendem a enfermar de manipulações e conter cifras e outras conclusões baseadas em pouca ou nenhuma evidência.

Como era de esperar neste contexto, Mattogno/Graf vêem manipulações não apenas do lado soviético, mas também do lado dos próprios assassinos nazis, que supostamente exageraram desmedidamente o tamanho das suas massacres e até inventaram algumas. Mattogno/Graf fazem tais alegações não apenas em relação a Babi Yar (vide os artigos de Sergey Romanov a este respeito ou as respectivas traduções para português: Porque é negação e não revisionismo, Partes III a IV: negadores e o massacre de Babiy Yar III(1), IV (2), V (3), VI (4) ), mas também (páginas 223 e seguintes) no que respeita ao massacre de 5.090 judeus pelo Einsatzkommando 3 em Marijampole em 1 de Setembro de 1941 (partilhando assim a vergonha da pesquisa desleixada de Germar Rudolf, salientada no artigo de Sergey Romanov Deniers and the graves of Marijampole (tradução para português: Porque é negação e não revisionismo. Parte II: negadores e as valas de Marijampole)) e o massacre de 10.000 a 12.000 judeus em Simferopol (páginas 210 e seguintes). A última destas alegações, em relação à qual Mattogno cita o advogado de defesa de Manstein, Reginald T. Paget, é abordada no meu artigo The Simferopol Massacres [versão em português].

[Tradução adaptada do meu artigo Neither the Soviets nor the Poles have found any mass graves with even only a few thousand bodies … no blog Holocaust Controversies]

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Nazistas eram os outros

Campo de concentração de Dachau: memoriais não garantem conscientização sobre o passado nazista

Grande parte dos alemães acredita que sua própria família não compactuou com o nazismo e o holocausto. Pesquisador investiga discrepância entre saber histórico e memória familiar.

Um quarto da população adulta do Terceiro Reich ajudou os perseguidos, 13% participaram ativamente da resistência ao nazismo, 17% sempre se pronunciaram sobre as injustiças cometidas, apenas 1% dos alemães compactuou de fato com as atrocidades do regime, e anti-semita mesmo era apenas 3% da população. Isso foi o que revelou uma detalhada e representativa pesquisa de opinião realizada entre famílias alemãs. Se a história no nazismo fosse escrita de forma subjetiva, a partir das memórias familiares dos alemães, o holocausto não passaria de uma ficção.

Auto-indulgência – Com base numa enquete encomendada ao instituto alemão de pesquisa Emnid, Harald Welzer, psicólogo social do Instituto de Ciências Culturais da Universidade de Essen, constatou uma nítida discrepância entre as recordações familiares e o trabalho coletivo de memória. "Enquanto a memória histórica oficial enfatiza o holocausto e os crimes dos alemães, a memória do cotidiano cultiva a imagem de que os nazistas eram os outros, nunca os membros da própria família", afirma o estudioso em artigo divulgado pelo diário Süddeutsche Zeitung.

Informação não falta – Sobretudo os netos de quem viveu durante o Terceiro Reich costumam reinterpretar as histórias familiares, destacando a resistência cotidiana e a coragem civil dos avós. O extermínio dos judeus tem apenas um papel marginal nas recordações familiares. Na avaliação de Welzer, isso não significa que os alemães ignorem o passado nazista ou que a formação histórica adquirida na escola seja insuficiente.

Peso emocional – Para o psicólogo, o perigo está justamente nesta fixação no saber cognitivo: "A consciência histórica abrange mais do que o mero armazenamento de datas e números de vítimas. A dimensão emocional da representação do passado costuma ser extremamente subestimada nas aulas de história", afirma Welzer. "Se a meta for proporcionar um aprendizado moral, e não apenas cognitivo, é um erro fixar-se apenas na transmissão de saber." O problema é que a formação política e moral nas escolas alemãs está dissociada de uma prática social e escolar, constata o estudioso.

Alemães como vítimas – Cerca de 65% dos entrevistados declararam que seus familiares sofreram muito na guerra e 63% acreditam que eles viveram este período com espírito comunitário, um argumento estilizado da propaganda nazista que aparentemente sobrevive até hoje. Harald Welzel, co-autor do livro Opa war kein Nazi (Vovô não era nazista, ed. Fischer, 2002), acredita que o papel de vítima dos alemães possa se cristalizar como a versão dominante da história do Terceiro Reich, uma versão em que os "alemães" também teriam sofrido horrores por causa dos "nazistas".

Inutilidade dos memoriais – "Desta forma, é provável que a memória coletiva alemã acabe eliminando Auschwitz", conclui Welzel. "A onipresença dos memoriais ao holocausto não contradiz esta tendência. Quando a memória é fixada em monumentos, ela se torna supérflua. Como Robert Musil dizia, memoriais são invisíveis: eles não atrapalham o trânsito que passa em torno deles sem levá-los em consideração."

(sm)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,634692,00.html

Os "Piratas" da resistência

Os "Piratas" da resistência

Piratas Edelweiss: Jean Jülich à direita, com o violão

Embora ainda considerados pela história oficial criminosos comuns, os Piratas Edelweiss escreveram um capítulo na história da resistência ao nazismo. Jovens e avessos ao regime, eles sonhavam, entre outros, com o longínquo Rio de Janeiro.

A origem do nome não é certa. O que se sabe é que o movimento juvenil conhecido como Os Piratas Edelweiss (Edelweiss Piraten) não teve final feliz. Em novembro de 1944, a Gestapo enforcou 13 adolescentes nas dependências de uma residência em Colônia. Os adeptos daquilo que simbolizava uma alternativa à Juventude de Hitler (Hitler Jugend), sabotadores do regime nazista, arriscaram não apenas serem detidos e torturados, mas suas próprias vidas.

Hoje, 60 anos depois, a história oficial ainda registra os jovens Piratas Edelweiss como meros ladrões e criminosos. Seus atos de resistência, embora ignorados pelas autoridades na Alemanha, já obtiveram o reconhecimento até mesmo do Estado de Israel. Em 1984, o Memorial Yad Vashem prestou uma homenagem a Jean Jülich, um dos sobreviventes do grupo.

Recuperando registros da memória

Jean Jülich

Enquanto as autoridades em Colônia debatem sobre a possibilidade de reescrever a história da resistência feita pelos Piratas Edelweiss, Jülich já publicou suas memórias há cerca de um ano, sobre as quais se produziu um documentário –...Piratas Edelweiss, eles são fiéis. Além disso, no CD Foi em Xangai bandas de Colônia interpretam canções dos Piratas. Um DVD e um livro sobre o assunto completam o projeto. Todas as obras são fruto de um trabalho árduo, uma vez que todo o material foi recolhido através da lembrança dos sobreviventes.

Estima-se que havia, nos anos que antecederam o fim da Segunda Guerra Mundial, cerca de três mil Piratas Edelweiss vivendo em Colônia e mais centenas de outros nas cidades vizinhas. Estes jovens não estavam aliados a nenhuma facção política ou organização religiosa, nem tampouco o movimento possuía uma estrutura organizada.

O que tinham em comum era não se identificarem com a ideologia propagada pela Juventude de Hitler, após a ascensão dos nazistas nos anos 30. Eram, em princípio, um grupo de adolescentes rebeldes como outro qualquer. A diferença é que viviam sob um sistema extremamente autoritário, sendo que muitos deles acabaram pagando o preço disso com suas próprias vidas.

Subcultura própria

Piratas Edelweiss

Segundo Nicola Wenge, historiadora do Centro de Documentação sobre o Nazismo em Colônia (cuja sede fica em um dos antigos quartéis da Gestapo), "os Piratas Edelweiss criaram sua própria subcultura nas regiões do Reno e do Ruhr, ao usar determinado estilo de roupas, cantar suas baladas românticas e, mais tarde, canções antinazistas".

Ao contrário do que determinavam as normas do regime, o movimento permitia a interação entre garotos e garotas, que viajavam juntos pela região, levando com freqüência um violão e uma gaita. "Por esta razão, eram perseguidos pela Juventude de Hitler, pela polícia e pela Gestapo. E até mesmo pela Justiça, que os tratava como criminosos e delinqüentes sexuais", conta Wenge.

Sabotagem e riscos

Piratas Edelweiss

Quando os aliados bombardearam Colônia e a ordem pública foi se desestabilizando aos poucos, os Piratas Edelweiss começaram a sabotar fábricas de munição e a colocar, por exemplo, água com açúcar nos tanques de gasolina de carros pertencentes aos nazistas. Além disso, distribuíam folhetos de propaganda contra o regime. Em 1944, porém, vários adeptos do movimento foram presos. Jülich, que na época tinha apenas 15 anos, passou quatro meses preso em uma cela em Colônia, tendo sido interrogado e torturado pela Gestapo. Outros 13 companheiros dele foram enforcados, o mais jovem deles tinha apenas 16 anos.

Culpa coletiva e exceções

Para a historiadora Wenge, os Piratas Edelweiss deveriam ser reconhecidos oficialmente como vítimas do nazismo, embora ela alerte para uma certa cautela no uso do termo resistência neste contexto. "Eu descreveria o movimento como uma conduta de oposição", opina Wenge, lembrando porém que distribuir panfletos, disseminar slogans contra o regime nos muros da cidade ou remover bandeiras nazistas eram ações que exigiam uma boa dose de coragem.

O reconhecimento do que foi feito pelos Piratas Edelweiss toca mais uma vez em um tema sensível na Alemanha: a culpa coletiva pelos horrores cometidos durante o holocausto da Segunda Guerra. Enquanto muitos defendem a idéia de que é preciso reaver a memória sobre o que foi um movimento de resistência ao nazismo, outros aconselham cautela em relação à tendência de supervalorizar comportamentos que foram uma exceção, se comparados ao da maioria da população na época.

Rumo ao "Rio de Schaniro"?

Rio de Janeiro: aportou aqui algum Pirata Edelweiss?

O desejo de abandonar a Alemanha nazista foi certamente um dos elementos que acompanharam estes adolescentes durante o período. No porão da casa onde estiveram presos os Piratas Edelweiss, pode-se ler a inscrição Rio de Schaniro encravada na parede. "Supõe-se que se trata de uma referência a Quando as Sirenes Ressoam, uma das várias canções que falam de lugares longínquos", diz Jan Krauthäuser, um dos responsáveis pelo projeto de produção do CD Foi em Xangai.

"Esta postura não é atípica na história da cultura alemã e durante a repressão, através da ditadura nazista, foi ainda mais alimentada. Sabemos de várias vítimas do nazismo, que durante ou depois da guerra procuraram outros lugares para viver. Mas se, concretamente neste caso, há ex-Piratas Edelweiss que chegaram a ir para o Rio ou para outros lugares do Brasil não sabemos. Para nós, seria muito interessante entrar em contato com possíveis Piratas Edelweiss brasileiros, se é que eles existem", completa Krauthäuser.

jm / sv

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,1401132,00.html

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Declaração de Brasil, Argentina e Venezuela sobre Discriminação e Intolerância na Costa do Sauípe

Declaração dos Presidentes da República Argentina, da República Federativa do Brasil e da República Bolivariana da Venezuela de condenação ao racismo, à discriminação e intolerância religiosa, à discriminação racial e a outras formas correlatas de intolerância.

Os Presidentes da República Argentina, da República Federativa do Brasil e da República Bolivariana da Venezuela, reunidos na Costa do Sauípe, Brasil, no dia 16 de dezembro de 2008: Observam com grande preocupação que, no início do terceiro milênio, um número imenso de seres humanos continuam sendo vítimas do racismo, da discriminação e da intolerância religiosas, em particular do anti-semitismo e do antiislamismo da discriminação racial, e de outras formas correlatas de intolerância, e que ressurgiram ou persistem ideologias e práticas racistas e discriminatórias em diversas regiões do mundo.

Reafirmam os princípios de igualdade e não-discriminação, reconhecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração Americana sobre os Direitos e Deveres do Homem, e reconhecem a importância fundamental do pleno cumprimento das obrigações derivadas da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial.

Por esse motivo, os Presidentes declaram sua mais enérgica condenação ao racismo, ao anti-semitismo, ao antiislamismo, à discriminação racial e a outras formas correlatas de intolerância, e renovam seu compromisso de continuar trabalhando, em âmbito nacional, regional e internacional, para fortalecer os mecanismos de promoção e proteção dos direitos humanos, a fim de assegurar seu pleno respeito, sem distinção de raça, cor, sexo, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra índole.

Fonte: Portal Fator Brasil(19.12.2008)
http://www.revistafator.com.br/ver_noticia.php?not=62972

sábado, 20 de dezembro de 2008

Porque é negação e não revisionismo. Parte VII: relatórios dos Einsatzgruppen

Porque é negação e não revisionismo. Parte VII: outras patéticas objeções aos relatórios dos Einsatzgruppen

Nós já vimos em seu livro sobre Treblinka como Mattogno e Graf tentaram desacreditar os relatórios dos Einsatzgruppen (e fracassaram miseravelmente).

Esta postagem endereçará um par de "numéricos" argumentos daquele livro.

Podemos considerar que a parte sobre a Lituânia foi discutida.

Penso que deveria apenas mencionar que de acordo com a mensagem no. 412 de 09.02.1942, das 138.272 pessoas mortas pelo EG-A, 55.556 eram mulheres e 34.464 eram crianças.

Apenas idiotas e negadores argüirão que isto era qualquer forma de ação anti-partisan.

Na realidade, destes 138.272 pessoas apenas 56 eram partisans, e 136.421 - judeus.

Agora vamos examinar as afirmações de Mattogno sobre a Letônia.

Ele cita o Einsatzgruppe A, Gesamtbericht vom 16 Oktober 1941 bis 31 Januar 1942 como segue:
O número total de judeus na Letônia no ano de 1935 era de: 93.479 ou 4.7% do total da população. [...]

No registro das tropas alemãs ainda havia 70.000 judeus na Letônia. O resto tinha fugido com os bolcheviques. [...]

Mais adiante até outubro de 1941, cerca de 30.000 judeus foram executados por este Sonderkommando. Os judeus restantes, ainda indispensáveis devido a importância econômica, foram recolhidos pros guetos. Seguindo o processo dos casos de crimes na base de não usar a estrela judaica, negócio ilícito, furto, fraude, mas também na contagem do perigo preventivo de epidemias nos guetos, mais execuções foram feitas até depois. Assim, em 9 de novembro de 1941, 11.034 foram executados em Dünaburg, 27.800 em Riga no começo de dezembro de 1941 por uma operação ordenada e realizada pelo Superior das SS- e Chefe de Polícia, e 2.350 em Libau no meio de dezembro de 1941. Desta vez houve judeus letonianos nos guetos (à parte dos judeus do Reich) em:

Riga aproximadamente 2.500
Dünaburg " 950
Libau " 300
(Nota: havia 300 em Libau, não 3.000, como digitado incorretamente na versão online; mas os cálculos são baseados em cima do número correto).

Mattogno então resume os dados e chega a seguinte conclusão:
Mas se adicionarmos juntos os números daqueles abatidos (30.000 + 41.184 =) 71.184 a aqueles que ainda viviam nos guetos (3.750), chegamos a 74.934 judeus, um número que é maior que o número alegadamente presente no registro dos alemães dentro da Letônia. Numa tabela que resume o relatório e leva o título de "Número de execuções feitas pelo Einsatzgruppe A além de 1 de fevereiro de 1942," o número daqueles abatidos é indicado como sendo 35.238, para os quais são adicionados 5.500 judeus mortos "por pogroms," mas "de 1 de dezembro de 1941;"[590] logo temos 40.738 vítimas judias. Embora esta cifra inclui um adicional de 5.500 judeus mortos em pogroms não mencionados no relatório, o número total daqueles mortos é de longe mais baixo: 40.738 em oposição a 71.184.
Aliás, o mapa de caixão de Stahlecker é baseado nos mesmos dados, obviamente.

Então, há um erro no relatório? Sim, há um.

Sabemos que 1.134 judeus foram mortos em Duenaburg/Dvinsk/Daugavpils pelo EG-A naquela ação particular. "11.034" é um erro tipográfico (I. Altman, Zhertvy nenavisti, Moscou, 2002, pp. 238, 239; a fonte de Altman é GARF, f. 7021, op. 148, d. 215, l. 48). Este erro provavelmente é originário do rascunho do relatório das operações do EG-A em dezembro de 1941 (o mapa de caixão é um apêndice para este relatório), e é assim desse modo presente em dois documentos. Não era uma inflação deliberada, como a soma errada mostra.

Sem este erro temos cerca de (30.000+1.134+27.800+2.350=) 61.284 vítimas judias. Mais havia 3.750 judeus vivos. Também note o idioma: "Seguindo o processo dos casos de crime ... mais execuções foram feitas até depois. Assim, em 9 de novembro de 1941, 11.034 foram executados em Dünaburg...". Penso que isto implica que eles não listararam necessariamente todas as ações, apenas as maiores delas.

O próximo argumento é que o resumo do número de execuções pelo EG-A (incluindo pogroms) foi de 40.738 em vez de 71.184 (ou 61.284, corrigido por Duenaburg).

O argumento é auto-refutável. Relendo o título: "Número de execuções feitas pelo Einsatzgruppe A além de 1 de fevereiro de 1942". "Número de execuções feitas pelo Einsatzgruppe A...". Agora relendo o relatório: "27.800 em Riga no começo de dezembro de 1941 por uma operação ordenada e conduzida pelo Superior das SS - e Chefe de Polícia". "Ordenada e feita pelo Superior das SS - e Chefe de Polícia". O Superior das SS - e Chefe de Polícia e seus homens não eram do EG-A. Sim, é fácil assim. No relatório eles estavam listando informações gerais até sobre execuções não conduzidas por eles mesmos, mas o resumo pertence apenas ao Einsatzgruppe A.

Isto é tudo, pessoal.

Mas espere, nosso amigo, o Moonbat, quer dizer alguma coisa:

Mas não é fato que os relatórios dos EG contém erros tipográficos minando a história inteira do Holocausto? Você sabe, talvez 2.780 judeus não foram abatidos em Riga, e sim 27.800? (Eu penso que nenhum foi abatido e tudo isto são mentiras judias, mas pela segurança do argumento...)
Bem, o que eu posso dizer? Tudo é possível. Mas ninguém precisa de evidência para afirmar que este ou aquele número é um erro tipográfico, não de outra forma. Além do que, alguém pode sempre estabelecer a exatidão dos dados por checagem cruzada com outros pedaços de evidência. Considere o que o Prof. Richard Evans tem a dizer em seu relatório do julgamento de Irving:
Além do mais, Irving na sua principal narrativa em Goebbels: Mastermind of the ‘Third Reich’(Goebbels: cérebro do 'Terceiro Reich'), fracassou em esclarecer a seus leitores sobre o segundo massacre dos judeus de Riga que ocorreu em 8 de dezembro de 1941. Apenas em suas notas-de-ropapé ele faz reconhecer que o Einsatzgruppe A relatou que em início de dezembro de 1941 um total de 27.800 judeus foram executados em Riga. Entretanto, Irving imediatamente lança dúvidas sobre estas cifras, afirmando que elas são ‘possíveis numa exageração’.655 Já as dúvidas de Irving não são confirmadas por outras fontes. A corte em Hamburgo em 1973 estabeleceu que entre 12.000-15.000 judeus foram assassinados em 8 de dezembro de 1941, trazendo um número total de judeus mortos pelos nazistas em Riga entre 30 de novembro de 1941 e 8 de dezembro de 1941 de entre 25.000-30.000. 656 Usando vários métidos para calcular as vítimas em Riga, o historiador Andrew Ezergailis também chegou certamente a cifra de cerca de 25.000 judeus mortos. 657

[...]

655 Irving, Goebbels, p. 645, nota 42.
656 IfZ, Gh 02.47/3, Urteil des Schwurgerichts Hamburg in der Strafsache gegen J. und andere, (50) 9/72, vom 23.2.1973.
657 A. Ezergailis, The Holocaust in Latvia 1941-1944(O Holocausto na Letônia 1941-1944) (Riga, 1996), p. 261.
Eu devia também assinalar que Mattogno e Graf deviam saber acerca deste erro tipográfico. É mencionado em numerosas fontes - no livro de Altman estes itens de notícias (no qual o real número é citado), H.-H. Wilhelm, um dos co-autores de Die Truppe des Weltanschauungskriege, como relatado aqui, e também na introdução de Rudolf para Dissecting the Holocaust(Dissecando o Holocausto).

Então, agora que suas objeções foram refutadas (e estou certo que eles apresentaram o melhor que eles tinham), Mattogno e Graf aceitarão os números de judeus assassinados e tudo que eles implicam? Ou eles sonharão com outras desculpas? Penso que a resposta é auto-evidente.

[Eu desejo agradecer a Nick pelo auxílio generoso.]
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Com esta postagem eu conclui minha contribuição com estas séries. Roberto continuará o trabalho, examinando vários outras argumentos falaciosos. Obrigado por sua atenção.

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Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/08/thats-why-it-is-denial-not_115488858935311686.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

Porque é negação e não revisionismo. Parte VI: negadores e o massacre de Babiy Yar (4)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VI: negadores e o massacre de Babiy Yar (4)

O argumento de John Ball tem sido aceito sem críticas por muitos negadores. Aqui estão apenas algumas fontes "revisionistas" do feliz trago de bobagens de Ball: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8. Etc. Tolices.

Uma fonte deve nos interessar em particular - o livro sobre Treblinka de nossas vítimas favoritas, Mattogno e Graf. Numa resenha deste livro Graf escreve:

Treblinka: Extermination Camp or Transfer Camp?(Treblinka: campo de extermínio ou de transferência?) é quase todo trabalho de Carlo Mattogno, desde que ele editou sete dos nove capítulos. Eu sou o autor do primeiro e do quinto capítulo, e da introdução e conclusão...
I.e. o autor do capítulo, que estivemos discutindo nestas séries, é Carlo Mattogno. Claro, Graf sozinho também escreveu sobre Babiy Yar em The Giant with Feet of Clay(O gigante com pés de barro) e Holocaust or Hoax?(Holocausto ou Fraude?) afirmando que o "caso de Babi Yar fornece uma prova irrefutável da falsidade destes relatórios operacionais", repetindo argumentos de Tiedemann e Ball, e geralmente soltando o usual nonsense sem inspiração. Mas Graf é
muito menos da metade da dupla, Mattogno é o principal pesquisador e um "mentor". Então alguém poderia esperar uma análise um pouco mais refinada dele. Cara, isto faria alguém ter uma decepção!

Suponho que deveria ser mencionada apenas a passagem em que Mattogno acha Ball e Tiedemann confiáveis:

"e. Babi Yar
No “Relatório de atividade e situação no. 6 dos Einsatzgruppen da polícia de segurança e da SD na URSS,” lemos isto a respeito do período de tempo de 1 a 31 de outubro de 1941:595 “Em Kiev todos os judeus foram presos e, em 29 e 30 de setembro, um total de 33.771 judeus foram executados.” Isto procede com o (in)fame ‘Massacre de Babi Yar.’ Entretanto, como Udo Walendy e Herbert Tiedemann provaram, isto não aconteceu, pelo menos não remotamente no escopo alegado. 596 Provavelmente próximo à Kiev, como em Simferopol, várias centenas de pessoas foram mortas. Retornaremos ao caso de Babi Yar.
595 102-R. IMT, Vol. XXXVIII, pp. 292f.
596 Udo Walendy, “Babi Jar - Die Schlucht ‘mit 33.771 murdered Jews’?”, em:
Historische Tatsachen
no. 51, Verlag für Volkstum und Zeitgeschichtsforschung, Vlotho 1992. Herbert
Tiedemann, “Babi Jar: Critical Questions and Comments”, em: Germar Rudolf (ed.), op. cit. (nota 81), pp. 501-528."


Em 26 de setembro, a Luftwaffe tirou uma fotografia aérea de área na qual Babi Yar estava localizada. John Ball publicou isto com o seguinte comentário:[...]
Com respeito a uma secção ampliada da mesma fotografia, Ball diz:[...]
Ball deduz disto:[...]
Estes achados têm o maior valor desde, de acordo com a única testemunha, supõe-se que a cremação dos corpos em Babi Yar tenha sido completada em 25 ou 26 de setembro, correspondendo ao mesmo dia ou o dia anterior em que as fotos aéreas foram tiradas.

Então começa a idiotice pura:

Este Vladirmir K. Davidov é aparentemente a única testemunha que afirma ter participado da cremação dos corpos de Babi Yar. Seu conto é totalmente inacreditável. O número de corpos - 70.000 - é mais que o dobro do número de mortos de acordo com o relatório do evento, que por si só já é muito alto.
"Aparentemente a única testemunha". Isto sozinho desqualifica Mattogno de ser um sério pesquisador. Isto quer dizer que ele não se esforça para estudar a literatura disponível do massacre e dos seguintes eventos. Aqui está uma (provavelmente incompleta) lista da literatura disponível no período que Mattogno escreveu esta frase que contém outros testemunhos de Sonderkommandos além de Davydov:

  • O livro de 1993 com as versões em russo, inglês e alemão dos testemunhos dos Sonderkommandos de Babiy Yar, Jakov Kaper e David Budnik, editado por um pesquisador de Babiy Yar, Erhard Roy Wiehn, e publicado por Hartung-Gorre Publishers, D-78465 Konstanz/Alemanha (Hartung.Gorre@t-online.de) com o ISBN 3-89191-666-3 (da última vez que verifiquei ainda estava disponível);
  • O excelente Babi Yar: A Document de Anatolij Kuznetsov no formato de uma novela, no qual Mattogno poderia aprender que quando Kuznetsov estava escrevendo o livro, pelo menos nove Sonderkommandos ainda estavam vivos: Jakov Stejuk, Vladimir Davydov, Vladislav Kuklya, Jakov Kaper, Zakhar Trubakov, David Budnik, Semyon Berlyand, Leonid Ostrovskij and Grigorij Iovenko;
  • protocolos de interrogações de Berlyant, Stejuk e Davydov publicados em 1991 (Babij Jar. K pyatidesyatiletiju tragedii 29, 30 sentyabrya 1941 goda, Jerusalém, 1991; "Babyn Jar (veresen' 1941 - veresen' 1943)", Ukrainskij istorychnyj zhurnal, 1991, no. 12).
Mais, testemunhos de Sonderkommandos foram usados em diferentes tribunais de crimes de guerra, tal como o julgamento do SK1005 em Stuttgart em 1969; eles também deram testemunhos à Comissão Extraordinária. (para completar eu mencionarei que os Sonderkommandos e outras testemunhas também foram interrogadas muitas vezes desde 1943, mas a maioria desdes documentos foram publicados apenas recentemente, no volume de 2004 citado anteriormente).

Por fim, mas não finalmente, o Relatório de 1944 da Comissão Soviética Extraordinária (cortesia de David Thompson), que declara (p. 201, Eng. edn.):
As testemunhas L. K. Ostrovsky, S. B. Berlyand, V. Yu. Davydov, Ya. A. Steyuk e I. M. Brodsky que escapou do fuzilamento em Babi Yar em 29 de setembro de 1943 atestaram o seguinte: "Como prisioneiros de guerra fomos mantidos no campo de Syrets nos arredores de Kiev. Em 18 de agosto, 100 de nós foram enviados para Babi Yar. Lá fomos presos em algemas e forçados a escavar e queimar os corpos de cidadãos soviéticos exterminados por alemães [...]"
A descrição detalhada do processo segue abaixo.

Como Mattogno não veio a examinar este relatório?

"O número de corpos - 70.000 - é mais que o dobro do número de mortos de acordo com o relatório do evento, que por si só já é muito alto." A ignorância de Mattogno revela-se de novo. Ele não mostra que o número nos documentos alemães do período de guerra é "excessivamente alto". E está claro que ele não entende que de acordo com numerosas testemunhas, a ravina serviu como um local de execução por dois anos desde o início do massacre. Então o número de corpos na ravina não deveria corresponder ao número de vítimas dos relatórios alemães, e nem todas as vítimas eram judias.



O número real de vítimas nunca será conhecido. Sabemos de muitos testemunhos (e.g. aqueles publicados no livro Babij Jar citado na postagem anterior) que fuzilamentos continuaram por vários dias depois da ação inicial. Quantos foram mortos é desconhecido. Sabemos por testemunhos que as execuções continuaram depois, por dois anos - muitos milhares (possivelmente, 20.000-25.000) de prisioneiros de guerra soviéticos foram mortos e enterrados nas proximidades do canal; ciganos, partisans, nacionalistas ucranianos e outros foram mortos na ravina. Vans com gás também foram usadas.

Temos numerosos testemunhos de sobreviventes judeus que trabalharam na ravina e enterraram os corpos. Eu calculei o número total por seus testemunhos sobre o número de corpos aqui. Como é o único a ser aguardado, há diferentes estimativas e detalhes. Penso que será razoável estimar o número mínimo de vítimas como 70.000. Possivelmente, o número real é de cerca de 100.000. Não é sabido quantas das vítimas eram judias e quantas muitas eram não-judias. Provavelmente, se aceitarmos a mais baixa estimativa, a proporção certa é de 1:1, enquanto que com as estimativas maiores temos mais vítimas não-judias que vítimas judias.

Mais tarde Mattogno reafirma a sua ignorância:
Assim, eis a mais importante evidência material sobre o fuzilamento de 33.771 (ou 70.000) judeus...
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Adiante, Mattogno explora a questão da evidência física. Primeiramente, o que deveria ser relembrado:
Com a data especificada no quarto capítulo, a cremação de 33.771 corpos deveria requerer aproximadamente 4.500 toneladas de lenha e aproximadamente 430 toneladas de freixo de madeira e cerca de 190 toneladas de cinzas humanas teriam sido geradas no processo.

Vamos tomar a data da postagem do Roberto sobre Mattogno e Belzec (mantendo em mente que poderá ser corrigido no futuro, se uma nova data aparecer), e assumir que 100.000 corpos com uma média de peso de 45 kg (havia muitos de crianças e mulheres entre as vítimas, embora provavelmente não tanto quanto em Belzec). Isto é cerca de 4.500 toneladas de corpos. 5% disto são 225 toneladas (se seguirmos as regras de Mattogno). Novamente, aceitando as generosas hipóteses de Roberto (i.e. sem considerar a decomposição dos corpos), o freixo de madeira constituiria cerca de 360 toneladas. Juntos - 585 toneladas. SKs atestam que estavam misturando as lenhas com areia e terra dentro e ao redor da ravina, e escavando isso nas proximidades dos hortos, campos, etc. Eles estiveram trabalhando por cerca de 40 dias. I.e. em média teriam que transportar e dissipar algo em torno de 14.6 toneladas de lenha por dia. Estiveram trabalhando entre 12-15 horas, de acordo com seus testemunhos. Assumindo 12 horas de trabalho diário, eles tinham que gastar 1.2 toneladas de lenha por hora. Assumindo 30 kg por pessoa, eles precisariam de cerca de 40 SKs cheios de lenha pra consumir - cada um tendo que gastar 30 kg por hora. E eles tinham que pelo menos ter 300 pessoas trabalhando na ravina. Esses números são muito aproximados, e possivelmente a situação era muito melhor do ponto de vista logístico, e a flexibilidade é bem grande. Suponha que eles estavam sempre trabalhando 15 horas. Então precisariam de apenas 32 homens. Suponha que não precisavam de uma hora para consumir 30 kg de lenha... Etc., etc., etc. Então sim, era possível dispersar lenha e ossos ao redor da área.

Não, não seria possível destruir as lenhas e pedaços de bones completamente, mas ninguém afirma que isto foi feito.

E.g. em seu livro Anatolij Kuznetsov descreve sua viagem à ravina com seu amigo não muito depois da incineração ter parado:
Sabíamos deste riacho perfeitamente... continha areia de textura granulada, mas agora por alguma razão foi cheio com seixos brancos.

Eu parei e me aproximei para dar uma olhada de perto. Era um pedaço queimado de um osso, tamanho de um cravo, branco de um lado, escuro do outro lado. O riacho os carregou para algum lugar. [...]

Então andamos por um longo tempo ao redor destes ossos, até alcançarmos o início da ravina, onde o riacho desaparecia - isto é originado de muitas fontes filtradas de camadas arenosas, e isto é de onde os ossos vieram.

A ravina tornou-se estreita... e o local da areia tornou-se cinza. De repente nós compreendíamos que estávamos andando sobre cinzas humanas.

[...]

Nós andamos ao redor um pouco, encontramos muitos ossos inteiros, crânio fresco(ainda molhado) e novamente pedaços de cinzas negras entre a areia cinza.

Eu apanhei um pedaço, de cerca de dois quilogramas, levei isso comigo e o mantive. Isto são as cinzas de muita gente, tudo está misturado neles - cinzas internacionais, por assim dizer.

(JFYI, Kuznetsov não era judeu, ele era meio-ucraniano, meio-russo; ele escapou da URSS em 1969, levando uma versão não censurada de Babij Jar com ele. A versão completa é extremamente crítica ao regime stalinista, então, claro, não poderia ser publicada na URSS por completo. Numa carta de 1965 a Shlomo Even - Shoshan Kuznetsov escreveu:
Eu não me identifico nem com os sionistas, e nem com os anti-semitas - ambas [ideologias] são igualmente repulsivas para mim, e eu estou escrevendo minha história do que penso ser a única posição correta - a internacionalista).
Agora, considere os disparates de Mattogno sobre as fotos feitas pela comissão soviética:
Depois dos soviéticos terem reconquistado Kiev, uma comissão de investigação feita a sua maneira foi para Babi Yar e tirou algumas fotografias, que foram imortalizadas num álbum. Três das fotos supostamente exibidas numa primeira e segunda "zona onde os corpos foram queimados."[643] Em outra, os "fragmentos dos fornos e da gruta dentro da qual os prisioneiros que tinha cremado os corpos conseguiram escapar" são alegadamente mostrados.[644] Os títulos destas fotos são absurdos; a única atual, onde os objetos que são claramente reconhecíveis são uns poucos sapatos podres e alguns farrapos, que foram detalhadamente fotogrados pelos soviéticos e foram descritas como se segue:[643]

"Fragmentos de sapatos e pedaços de roupas dos cidadãos soviéticos mortos pelos alemães."
Por que os títulos são "absurdas"? Fotos por si só não são suficientes, e os títulos fornenecem o contexto. Certamente, e exatamente porque não são muito "reconhecíveis" nas fotos, os títulos são necessárias.
Dessa forma, o material de evidência mais importante para o fuzilamento de 33.771 (ou 70.000) judeus e posterior escavação e cremação de seus corpos, que foram descobertos na cena do crime pelos soviéticos, consiste de poucos sapatos e alguns farrapos! Se, entretanto, os soviéticos tivessem se esforçado para documentar as coisas, que não tinham nenhuma conexão com as acusações, que circo propagandístico teriam apresentado se eles tivesem realmente descoberto as valas em massa com com um total de mais de um milhão judeus assassinados (assim como o incontável número de não-judeus)? Já aquele circo propagandístico fracassou em acontecer, desde que os soviétivos não encontraram nada que pudessem ser comparáveis às descobertas feitas por alemães em Katyn e Vinnitsa!
De repente Mattogno salta do tema de Babiy Yar para o tema das valas em massa em geral, com as quais nós tratamos aqui e aqui. No que especificamente diz respeito à Babyi Yar, não já existem mais valas em massa lá, nada para o "circo propagandístico".

O foco, portanto, foi sobre a investigação das proximidades do campo de Syretsky, na qual muitos corpos não queimados foram encontrados.

E que eu saiba não há qualquer "circo propagandístico" associado com estes horríveis achados.

O circo real aqui é o tratamento dos negadores ao massacre de Babiy Yar, que se espelha em seu tratamento do Holocausto no geral.

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Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/08/thats-why-it-is-denial-not-revisionism_06.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Porque é negação e não revisionismo. Parte V: negadores e o massacre de Babiy Yar (3)

Porque é negação e não revisionismo. Parte V: negadores e o massacre de Babiy Yar (3)

John Ball é um negador do Holocausto bem conhecido cuja especialidade é "análise" das fotos aéreas do tempo de guerra dos campos nazistas. Para uma introdução à sua metodologia ver o execelente artigo "See No Evil: John Ball's Blundering Air Photo Analysis"(Não ver nenhum mal: a análise errônea das fotos aéreas, por John Ball). Para informação sobre a credibilidade profissional e intelectual de Ball ver "John Ball: Air Photo Expert?"(John Ball: especialista em foto aérea?) e "John Ball's $100,000 Challenge: Where is John Ball?" (O desafio de $100.000 de John Ball: onde está John Ball?).

Um dos argumentos de Ball a respeito do massacre Babiy Yar está como se segue:
ALEGAÇÕES SÃO DE QUE 33.771 CORPOS FORAM QUEIMADOS NA RAVINA BABI YAR

Em 1941 as ravinas de Babi Yar sofreram uma série de drenagens por canais de subida que uma vez drenaram do rio Dnieper à noroeste de Kiev na região da Ucrânia da União Soviética. Os canais superiores tinham flat bottoms.

É alegado que em 1941 em 28 e 29 de setembro, 33.771 judeus de Kiev foram ordenados a seguir até o final da rua Melnik onde o cemitério judeu encontra a ravina de Babi Yar. Lá eles marcharam em pequenos grupos a beira da ravina e do maquinário de fuzilamento dos soldados das Waffen-SS.

Em 1943 de 18 de agosto à 19 de setembro, 327 trabalhadores viviam na ravina enquanto escavavam os 33.000 corpos e os queimava em trilhos atados e molhados com gasolina.

Durante a cheia dos anos de 1970 a ravina foi arada e hoje não há nenhuma foto ou outra evidência dos outros crimes além dos relatos de testemunhas oculares. (Ref.: _Encyclopedia of the Holocaust_, pages 113-115.)

Os arquivos de Kiev liberaram esta nebulosa foto em 1990 que é a melhor e mais conhecida foto da Babi Yar seca no canal de subida. As vítimas alegadamente caíram na ravina e foram enterradas depois de serem mortas, e só então dois anos mais tarde foram desenterradas e queimadas. Não é conhecido se quaisquer estradas passaram pelos muros íngremes até o fundo plano. (Ref.: Wolski, M., _Fact Sheet on the 50th Anniversary of the Babi Yar Massacre, October, 1991_)

26 DE SETEMBRO, 1943: esta foto foi tirada uma semana depois do fim das supostas cremações em massa na ravina. Se 33.000 pessoas foram exumadas e cremadas, a evidência do veículo e tráfego para suprimento de gasolina deveria ser evidente na área onde o cemitério judaico encontra a ravina de Babi Yar, entretanto não há nenhuma evidência do tráfego ou sobre o fim da estreita estrada que avança para a ravina no fim da rua Melnik, ou na grama e arbustos dentro ou nos cantos do cemitério. [Marcado: Localização dos alegados fuzilamentos e cremações at edge do cemitério judaico na ravina de Babi Yar, ravina de Babi Yar, cemitério ortodoxo, cemitério judaico e rua Melnik.] [Ref.: GX 3938 SG, exp. 104 & 105]

26 DE SETEMBRO, 1943: Uma ampliação não revela nenhuma evidência de que 325 pessoas estavam trabalhando na ravina finalizando a cremação de 33.000 corpos apenas uma semana antes, e que muitos caminhões de combustível teriam que ter trazido, e não existem quaisquer marcas do trânsito do veículo ou na grama ou arbustos ao lado do cemitério judaico ou na ravina onde os corpos foram supostamente queimados. [Ref.: GX 3938 SG, exp. 105]

1943 FOTOS AÉREAS DA RAVINA BABI YAR E DO ADJACENTE CEMITÉRIO JUDAICO EM KIEV REVELAM QUE NEM O SOLO E NEM A VEGETAÇÃO ESTÃO MEXIDOS COMO SERIA ESPERADO SE MATERIAIS E GASOLINA TIVESSEM SIDO TRANSPORTADOS UMA SEMANA ANTES PARA CENTENAS DE TRABALHADORES QUE ESCAVARAM E QUEIMARAM DEZENAS DE MILHARES DE CORPOS EM UM MÊS.
(ou ver aqui.)

Erros factuais flagrantes imediatamente traem a ignorância histórica de Ball. E.g., é sabido que muito mais que 33.000 pessoas foram queimadas em Babiy Yar (isto será discutido na próxima postagem das séries). Os Sonderkommandos não pararam seu trabalho em 19 de setembro (ver abaixo; esta pode ter sido um errata na fonte usada por Ball ("19" em vez de "29"), but even so, mostra que Ball simplesmente não pesquisou a questão adeqüadamente). E há muito mais evidência pro massacre que simples testemunhos.

Fotos tiradas em 26 de setembro, 1943 podem ser examinadas no site do USHMM(Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos).

Você pode ver a área "analisada" por Ball neste site.

Aqui um pequeno exercício: compare a área examinada por John Ball com a ravina na foto. Deixe-me tornar isso mais fácil pra você:

OK, então Ball "esqueceu" a maior parte da ravina em sua "análise". Para aqueles que conhecem os 'métodos dos negadores' isto não chega a ser surpreendente.

Quais fontes acadêmicas dizem que pessoas estavam sendo mortas exatamente nesta parte da ravina? Nenhuma que eu saiba.

A questão das localizações exatas dos assassinatos é um pouco controversa em virtude de que durante a tragédia de Kurenyovka de 1961 Babiy Yar foi destruída e as tentativas de pôr os locais exatos dos fuzilamentos em massa nos mapas parecem datar após 1961. Até então Babiy Yar, exceto por um breve período de guerra e período pós-guerra, foi uma mancha política dolorida para dirigentes soviéticos, que até tentaram gradualmente destruir a si mesmos, ao se desfazer da cobertura na ravina. E, de fato, isto foi o que conduziu pra tragédia que tirou muitas vidas em 1961.

Pode ser dito com certeza que pessoas foram mortas em diferentes partes de Babiy Yar (e não poderia ter sido de outra forma, considerando o número de vítimas e tempo restritos). Mas em nenhum dos planos vi a área de Ball ser alegada a ser o local dos fuzilamentos.

Aqui estão vários planos, a considerar:

1) O plano de http://www.jewukr.org/observer/jo15_34/map_main1.php, baseado em vários outros mapas e fontes. Prováveis locais dos fuzilamentos (de acordo com o site) são indicados por "1".

2) Um plano relativamente recente de "Kyivprojekt", no qual cruzes indicam os prováveis locais dos fuzilamentos de acordo com suas fontes.

Fonte: Babij Jar: chelovek, vlast', istorija, vol. 1, compiled by T. Yevstafjeva, Vitalij Nakhmanovich; Kiev, Vneshtorgizdat Ukrainy, 2004.

Aqui está outra versão deste plano (fonte), com mudanças no relevo pré-guerra marcado em vermelho. O relevo pré-guerra foi comparado com uma pesquisa geodésica de 1960. I.e., este plano denota possíveis áreas de fuzilamento/enterro (isto porque os nazis tentaram usar explosivos para explodir os "muros" da ravina). Deveria ser notado que por si só a falta de mudanças nos contornos não significa necessariamente que alguns lugares não foram usados por execuções.

3) O plano de 1969 com a área geral de fuzilamentos foi estabelecido com a ajuda de vários sobreviventes. Novamente, o plano foi feito várias anos depois de Babiy Yar ter sido obliterada, então não espere absoluta exatidão ou perfeição.

Fonte: Yevstafjeva, Nakhmanovich, op. cit.

Repetindo: em cada um dos planos a informação pode não ser completa mas nenhum deles considera a área de Balll como o local onde quaisquer assassinatos foram cometidos.

Sem palavras, realmente. Aqui nós temos um vil ignorante, tentando "provar" que assassinatos de dezenas de milhares não ocorreu, baseado em nada além de sua própria idiotice.
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Agora, o que podemos dizer sobre a relevância das fotos aéreas feitas em 26 de setembro de 1943? De acordo com o sobrevivente do Sonderkommando Vladimir Davydov, em 25-26 de setembro, a ação de incineração tinha sido quase finalizada. (Yevstafjeva, Nakhmanovich, op. cit., p. 148). A última fase desta ação consistiu na execução de um repasse de coisas - desmantelar camuflagem, nivelar a terra, levantar uma última pira (ibid.). SKs adivinhou que esta pira era para eles mesmos; e provavelmente eles estavam corretos. De qualquer forma, os Sonderkommandos revoltaram-se em 29 de setembro de 1943 (exatamente dois anos desde o começo do massaccre) e vários deles organizaram a fuga. Então, a foto foi tirada durante a fase final, vários dias antes da fuga, e basicamente, isto significa que não é necessário que nós devêssemos ver quaisquer colunas de fumaça nas fotos. Podemos encontrar algo, mas então novamente, poderemos não encontrar. Ambos resultados são compatíveis com a história comprovada.

São traços de atividade associada com incineração em massa (remoção de sinais/alteração de terra próxima e dentro da ravina) visível nesta foto? Está acima para especialistas decidirem, mas parece que as datas destas fotos não foram seriamente analisadas por quaisquer especialistas em fotografia aérea (Ball não conta, mil perdões).

Minha reconhecidamente interpretação amadorística é de que uma enorme parte da ravina está coberta por sombra, então é inteiramente possível que simplesmente não ]podemos ver algumas coisas interessantes que estavam acontecendo naquele momento. É difícil para eu dizer se há qualquer "remoção" de carros, etc., em qualquer lugar na foto, mas negadores certamente não provam que não há qualquer uma, ou, se isso não é certamente visível na foto aérea que tinha que estar numa escala grande, como também ser visível. Eles nem mesmo mostraram como aquela remoção de sinais/alteração deveria parecer, de acordo com as fotos aéreas análogas. Então, como eles dizem, a decisão é deles*.

[* Nota da tradução: pode haver na frase um trocadilho com o nome de John Ball com uma a expressão idiomática "the ball is in their court" que significa algo como "tomar uma decisão"]

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Fonte: Holocaust Controversies
Texto(inglês): Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/08/thats-why-it-is-denial-not-revisionism.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

Os 60 anos de um clássico de Primo Levi

Em 1947 Primo Levi publicou É isto um Homem?, livro de testemunho em que o narrador se vê constrangido à incômoda posição de personagem e se defronta com os limites da linguagem para dar conta do indizível.

(Foto)Ítalo Calvino

O prazer da leitura, especialmente a de um clássico, é o de ler e reler um texto, à procura de novos aspectos, camadas e nuanças, pois "de um clássico, cada releitura é uma leitura de descoberta, como a primeira leitura", como afirma Italo Calvino, em seu Por que Ler os Clássicos. Por coincidência, foi o próprio Calvino que, literalmente, "descobriu" e resenhou o romance autobiográfico É Isto um Homem? (Rocco, 1988) de Primo Levi, publicado há 60 anos, pela pequena editora De Silva, de Turim. O livro relata sua terrível experiência em Auschwitz e, em sua resenha, Calvino aponta para a novidade desse texto, ligado ao aspecto especificamente literário do livro. Em seu Prefácio a É Isto um Homem? Levi escreveu que "este meu livro nada acrescenta quanto a detalhes atrozes" (p. 7). A novidade está no paradoxo de um texto que quer descrever uma experiência radical, que está evidentemente para além do dizível ("Pela primeira vez, então, nos damos conta de que a nossa língua não tem palavras para expressar esta ofensa, a aniquilação de um homem." p. 24) e, em parte graças a isso, manifesta seu caráter notadamente literário. Calvino escreveu:

Acredito que todo o sobrevivente que tentou escrever suas próprias memórias sobre aquela terrível experiência foi tomado por uma pena desolada: ter vivido uma experiência que passa os limites do dizível e do humano, uma experiência que ele não poderá nunca comunicar em todo seu horror a ninguém e cuja lembrança continuará a persegui-lo com a aflição de sua incomunicabilidade, como uma extensão da pena... Para fatos como os dos campos de aniquilamento parece que qualquer livro seja inferior à realidade, para poder dar conta deles. Mesmo assim, Levi nos deu sobre esse tema um magnífico livro, que não é somente um testemunho muito eficiente, mas contém páginas de uma autêntica potência narrativa, que ficarão em nossa memória entre as mais bonitas da literatura da Segunda Guerra Mundial (1)

É Isto um Homem? foi antecedido por um "Relatório sobre a Organização higiênico-sanitária do campo de concentração para judeus de Monowitz (Auschwitz - Alta Silésia)", publicado em 1946 na revista Minerva Medica (2), assinado por Leonardo Debenedetti, um cirurgião, e por Primo Levi, químico. O texto fora encomendado pelo comandante russo do campo de refugiados de Katowice, onde Levi se encontrava após a libertação de Auschwitz. Esse relatório descreve de forma minuciosa algumas das doenças contraídas pelos prisioneiros dos campos e, de forma sucinta, mas precisa, o funcionamento das monstruosas câmaras de gás. Muitas das anotações do relatório serão incluídas no livro posterior de Levi, mostrando sua inconfundível contribuição à redação do documento e ao tom pacato de seu estilo. Mas, conforme diz no Prefácio, o livro "não foi escrito para fazer novas denúncias objetivas; poderá, antes, fornecer documentos para um sereno estudo de alguns aspectos da alma humana" (p. 7). Um sinal inconfundível do estilo de Levi e do caráter literário de sua obra é o uso de uma sutil e quase paradoxal ironia, num livro que contém a verbalização de uma experiência autêntica e inaudita. O livro começa com estas palavras: "Por minha sorte, fui deportado para Auschwitz só em 1944" (grifo meu). O texto certamente quer apontar para uma fase em que a máquina de aniquilação nazista tencionava suavizar relativamente a vida no campo, com o objetivo de prolongar a vida média dos prisioneiros. Mas logo no texto do primeiro capítulo, "A viagem", moldado a partir de uma visão da Divina Comédia (a descida, Caronte, o barqueiro infernal e outros elementos), o sobrevivente-testemunha declara, num surpreendente tom auto-irônico:

Fui detido pela Milícia fascista no dia 13 de dezembro de 1943. Eu tinha 24 anos, pouco juízo, nenhuma experiência, e uma forte propensão [...] a viver num mundo só meu, um tanto apartado da realidade, povoado de racionais fantasmas cartesianos, de sinceras amizades masculinas e minguadas amizades femininas. Cultivava um moderado e abstrato espírito de rebelião (ib., p. 11).

O tom escolhido em É Isto um Homem? contradiz o objetivo enunciado, que nasceu da "necessidade de contar 'aos outros'. De tornar 'os outros' participantes" (Prefácio, p. 7-8). Mas esse esforço está associado à frustração prévia, que o sonho típico do sobrevivente mostra - um sonho que ele e outros ex-deportados descreverão, diferente na forma, mas idêntico na substância, pois Levi sonha que ele volta para casa e conta aos amigos e familiares dos horrores no campo e gradativamente os interlocutores desaparecem, deixando-o com a sensação de não conseguir se comunicar - que aponta para a sensação de impotência, de incapacidade de verbalizar sua tremenda experiência. A escrita é, ao mesmo tempo, uma escrita secreta ("Então pego lápis e caderno e escrevo aquilo que não saberia confiar a ninguém", diz Levi em É Isto um Homem?, p. 144), vencendo o constrangimento e a necessidade contraditória de querer se livrar a qualquer custo da memória do horror.

O paradoxo da incomunicabilidade da experiência de que fala Calvino em sua resenha sobre É Isto um Homem? encontra-se expresso, de maneira especialmente clara, num capítulo do livro intitulado "O canto de Ulisses". Esse capítulo realiza uma operação de memória literária, através da releitura e da reinterpretação do personagem criado por Dante, um Ulisses temerário e louco. Trata-se de um capítulo muito curto, uma espécie de mise en abîme, uma micro-história que aponta para a macro-história do relato literário do sobrevivente: neste capítulo: o narrador relata uma hora de conversa entre ele e Pikolo (um jovem prisioneiro que representa a figura na base da hierarquia no Lager, entre os judeus), tecendo uma história que se espelha na história do Lager como um todo: a literatura como resistência contra o horror do campo de concentração. Durante o trajeto para buscar a sopa (propositalmente mais longo, para esticar o tempo da caminhada) Pikolo, que é um alsaciano e, portanto, bilíngüe (um típico exemplo da Babel de línguas do Lager) pede que lhe dê uma aula de italiano e Levi escolhe como tema o Canto XXVI da Divina Comédia de Dante Alighieri, "O Canto de Ulisses". O tempo da narrativa amplia-se e permite uma inserção de uma verdadeira aula de literatura. "Quem sabe como e por que [a Comédia] veio-me à memória" (p. 114), declara ele, dando vida a uma paradoxal aula de língua e literatura italiana, que ele ministrou durante essa caminhada ao lado de Pikolo, e da qual se lembrou, enquanto escrevia o livro, registrando-a em meia hora.

Levi descreve (no tempo do narrador, lembrando o episódio do campo) sua tentativa de lembrar os versos de Dante, uma vez que obviamente não dispunha do texto no Lager. Ele arrola fragmentos de versos, frases truncadas, versões não confirmadas, hipóteses, na desesperada tentativa de reconstruir uma mensagem coerente que, por sua vez, tem como objetivo transmitir a Pikolo algo da língua e da literatura italiana e algo das questões filosóficas e existenciais desse Canto. O tempo preme: "Esta hora já não é mais uma hora..." (p.114), declara Levi angustiado e, logo adiante: "Estou com pressa, uma pressa danada" (p. 116). E ainda: "É tarde já, é tarde, chegamos à cozinha, vou ter que concluir" (p. 117).

No texto, Levi acena com novas interpretações, intuições, leituras que surgem somente no instante de agora (na hora de recitar para o Pikolo os versos de Dante ou na hora de escrever sobre o episódio? Isso não fica claro). Seja como for, a metáfora de Dante é sutilmente utilizada para mostrar a impossibilidade de descrever a situação monstruosa e irrepresentável do Lager, algo para além de qualquer imaginação, sem fazer uso da literatura. No capítulo 2 de É Isto um Homem?, significativamente intitulado No fundo, o texto apresenta a perversa inscrição Arbeit macht frei (o trabalho liberta) como uma alusão à inscrição que consta no canto III da obra de Dante: Lasciate ogni speranza o voi que entrate. "Este é o inferno. Hoje, em nossos dias, o inferno deve ser assim..." (p. 20 ). A metáfora do Inferno de Dante, como reconhece o crítico Cesare Segre, perpassa todo o livro de Levi.

Ao final do Canto XXVI de Dante, Ulisses descreve sua louca aventura, consciente de que encontrará a morte desafiando tanto os deuses pagãos quanto o deus cristão. Relata um episódio que termina com a punição divina pelo desafio, isto é, relata sua própria morte. Ulisses é, antecipadamente, a testemunha integral, no sentido em que Levi a define em Os Afogados e os Sobreviventes. Embora personagem de ficção reinterpretado por Dante Alighieri, Ulisses, de fato, é a única testemunha a conseguir descrever sua própria morte. Ele é ao mesmo tempo o terceiro distanciado do episódio (enquanto narrador do episódio) e o sobrevivente envolvido. É ele a testemunha integral. E o canto de Dante e o capítulo de Levi terminam com os seguintes versos:

Faz três vezes girar a nau que aferra;
e na quarta levanta a popa à altura,
e a proa declina, fiel a quem impera;
E nos fecha das águas na clausura (3) ■


Andrea Lombardi é professor de Literatura Italiana na Universidade Federal do Rio de Janeiro e realiza atualmente pesquisas sobre o tema do exílio na literatura

1 - Revista Riga, op. cit., p. 113.
2 - Minerva Medica, nº XXXVII, julho-dezembro de 1946, p. 535-44 em Primo Levi. Opere a.c. Marco Belpoliti. Turim, Eianudi 1997 I, p. 1335-60. O texto em italiano desse relatório encontra-se em www.dignitas.it/pdf/Monowitz.pdf . Um ótimo comentário, em língua francesa, em Philippe Mesnard www.revue-texto.net/Inedits/Mesnard_Levi.html .
3 - Haroldo de Campos in Boitani, op. cit., p. 202.

Fonte: Revista 18(Centro de Cultura Judaica)
http://revista18.uol.com.br/visualizar.asp?id=897

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

David Irving - O embaixador "revisionista" de Hitler

"Historiador" diz que Hitler era "uma pessoa muito humana"

MADRI - O historiador britânico David Irving, conhecido por negar a existência do Holocausto, disse que Hitler era "uma pessoa muito humana" e que o campo de concentração de Auschiwitz, na Polônia, é hoje uma "espécie de Disneylândia".

As declarações foram dadas em Madri, Espanha, onde Irving esteve no último domingo para participar de uma conferência, informou o jornal local El Mundo.

O britânico, de 70 anos, diz que o líder nazista não tinha conhecimento dos massacres cometidos durante o regime, cujas responsabilidades devem cair sobre seus funcionários. "Considero-me um embaixador de Hitler para o futuro. Ele não pode se defender", afirmou o historiador.

Sobre os campos de concentração nazistas, Irving questiona o número real de pessoas mortas e a existência das câmaras de gás, além de afirmar que Auschwitz é hoje uma "espécie de Disneylândia para turistas".

A conferência, que primeiramente seria realizada em um hotel no bairro de Salamanca, foi transferida de última hora para um outro hotel localizado nas proximidades da estação de Chamartin, a fim de evitar o encontro entre manifestantes de extrema-direita e de esquerda.

O historiador já teve diversos problemas com a justiça devido às suas teorias, tendo sido condenado a um ano de prisão na Áustria, além de ser considerado persona non grata na Austrália e na Nova Zelândia.

Fonte: ANSA/Panorama Brasil
http://www.panoramabrasil.com.br/Noticia.aspx?idNot=265645
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Comentário: com bastante freqüência, negadores do Holocausto tentam a todo custo negar até suas afinidades ou filiações idológicas acerca do nazismo, no caso, de que não seria nazistas, proto-nazistas, simpatizantes do nazismo/fascismo ou coisa do tipo e que seriam apenas meros "estudiosos" ou "revisadores" do Holocausto.

Está aí mais uma declaração do principal negador do Holocausto(o que tem mais peso pois foi o único que conseguiu algum eco fora do meio 'outsider' negacionista), ou "guru" dos negadores(pois os seguidores do dito "revisionismo" mais parecem filiados a alguma seita religiosa fanática), deixando claro sua defesa da figura de Adolf Hitler e conseqüentemente do nazi-fascismo(extrema-direita).

As ligações entre "revisionismo"(negação do Holocausto)com o anti-semitismo/racismo e o nazismo são incontestes, por mais que os negadores que se aglomeram pela rede(internet)tentem negar tudo cinicamente(não só o Holocausto como principalmente suas afinidades ideológicas pra não chamar a atenção daqueles que não tem noção ao certo do que se trate o negacionismo do Holocausto e de seus ideólogos pró-nazismo).

Primeira visita a Israel da sobrinha neta de Goering

Trauma. Holocausto levou-a a ser operada para não ter filhos

Primeira visita a Israel da sobrinha neta de Goering

"Não queria trazer monstros ao mundo. Temia ter em mim a maldita semente da dinastia Goering", disse Bettina Goering. Em entrevista ao diário israelita Yediot Aharonot, acrescentou: "Ser uma Goering é uma herança muito pesada."

Bettina, de 52 anos, é neta do irmão de Hermann Goering e prepara-se para realizar a sua primeira visita a Israel, onde irá participar no Festival de Cinema Judaico. Entre os vários filmes está um documentário de Cynthia Connop, que segue os encontros entre Bettina e a artista judia Ruth Rich, cuja família desapareceu nos campos de extermínio nazi.

A sobrinha-neta do homem que, em 1939, foi indicado como legítimo sucessor de Adolf Hitler, conta como sentiu "vergonha e culpa" ao descobrir que o nome da sua família estava associado ao Holocausto - um sentimento que a levou, aos 13 anos, a consumir drogas e aos 30 a ser operada para não ter filhos. Surpreende-a que os judeus que encontra na América Latina não a odeiem por ser uma Goering, mas sente-se muito mal quando descobre que o judeu com quem acaba de "fazer amor" é um sobrevivente do Holocausto, com um "número tatuado no braço".

Hoje, Bettina vive em Santa Fé, entre duas famílias judias que se odeiam e que ela tenta aproximar; trabalha com Ruth sobre o trauma do silêncio. Das vítimas e algozes.

Lumena Raposo

Fonte: Diário de Notícias(Portugal)
http://dn.sapo.pt/2008/10/24/internacional/primeira_visita_a_israel_sobrinha_ne.html

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