segunda-feira, 14 de abril de 2008

O Mundo Maluco de Walter Sanning - Parte 2

Traduzido por Leo Gott à partir do link:

Na Parte 1 desta série, analisamos a distorção das fontes por Sanning relativas à população judaica da Polônia pré-guerra. Esta segunda parte analisa o tratamento de Sanning a uma fonte judaica do tempo de guerra que se refere aos refugiados judeus poloneses que haviam sido deportados para a URSS.

Em sua tentativa de colocar os judeus da Polônia ocidental e central fora do alcance dos nazistas, Sanning alega que 750.000 judeus cruzaram a linha de demarcação germano-soviética entre Setembro de 1939 e Junho de 1941, e que posteriormente Stalin tinha deportado todos eles para áreas no interior da União Soviética onde a maioria deles posteriormente morreu por maus tratos. Na seguinte passagem (p.43-44) Sanning explica como o valor de 750.000 foi obtido:

A Enciclopédia Judaica Universal [Universal Jewish Encyclopedia] informou que o Comitê Misto de Distribuição - uma grande organização internacional que ajuda refugiados judeus - iniciou um programa de ajuda no início de 1942 -600.000 refugiados judeus de origem polonesa refugiaram-se na Rússia asiática. No entanto, se houvesse 600.000 destes refugiados judaicos na Ásia Soviética, no início 1942, muitos mais devem ter sido enviados para a Sibéria pelos soviéticos, porque a viagem trouxe a morte e o sofrimento a muitos. Em conexão com o transporte desumano para o leste, o Comitê Misto de Distribuição escreveu em seu Boletim de Junho de 1943: "A partir de um quinto até a um terço do número de refugiados morreram... quem não viu as milhares de sepulturas, principalmente das crianças, não pode compreender". Isto significa que o número de refugiados judeus da Polônia Ocidental que foram presos e deportados pelos soviéticos para a Sibéria variou entre 750.000 a 900.000! Mas apenas 600.000 sobreviverem à incrível viagem e chegaram ao seu destino. [...]Por falta de mais uma prova, vamos aceitar o menor valor de 750.000 judeus como tendo abandonado o oeste da Polônia para o antigo território polonês ocupado pela União Soviética.


Uma grave falha de metodologia pode ser encontrada nesta passagem. Porque Sanning depende de uma fonte secundária (A Enciclopédia Judaica Universal), para fazer referência a uma fonte primária (o JDC) cujos arquivos são facilmente acessíveis? Para investigar essa questão, nós contatamos a seção de arquivo do JDC, que gentilmente nos enviou digitalizações da publicação mensal JDC Digest e relatórios anuais de 1942 e 1943. A primeira referência a um valor de 600.000 nestas digitalizações está contida no JDC Digest, Vol. 1, n º 4, Outubro de 1942:

… A JDC está comprando equipamento completo com 6x100 camas-bases de hospitais para cuidar dos muitos enfermos entre os estimados 2.000.000 de refugiados poloneses na Sibéria, dos quais 600.000 dizem ser judeus.

Provavelmente esta fonte é da Universal, mas ainda é visível a partir desta passagem que o valor de 600.000 são boatos: "600.000 dizem ser judeus". Sanning evita a fonte direta porque ele seria envergonhado por ser de natureza de um boato. Mais importante ainda, Sanning teria sido obrigado a mencionar posteriormente que uma JDC Digest, a partir de Abril de 1943, continha um relatório intitulado 'Field Trip to Teheran by Harry Viteles'("Viagem de Campo à Teerã por Harry Viteles"), que admitiu que haviam enormes variações nas estimativas disponíveis:

Estimativas sobre a variação do número de judeus poloneses nas Repúblicas Russas Asiáticas. Algumas alegações foram tão altas como os 600.000, outros indicaram que havia menos de 100.000...


Além disso, Sanning não faz uma pergunta óbvia crítica sobre a origem da suposta informação do JDC: o JDC tinha pessoas no território da Rússia para distribuir ajuda? A resposta pode ser encontrada na edição de Novembro 1942, p.4:

O Governo polonês [no exílio] providenciou este material para entrar com isenção de direitos aduaneiros e ser enviado para a sua embaixada em Kuibyshev, o ponto a partir do qual serão distribuidos para seus 300 escritórios distritais.


Além disso, era uma condição de que esse programa de ajuda tivesse de ser distribuído em uma "base-não-sectária". Esta estrutura, não se aplicava apenas à JDC, mas a todas as associações caritativas. Portanto, não se exige muita imaginação para saber por que razão os funcionários do Governo polonês no exílio poderiam ter alimentado a JDC com falsas informações sobre o número de judeus poloneses na União Soviética.

A JDC deve ter pensado que seus pacotes iriam para Judeus mas estes funcionários devem ter os desviado para seus próprios parentes e amigos.

Esta suspeita é apoiada por um estudo de uma outra entidade de caridade, a "Vaad", que forneceu ajuda aos estudiosos judeus poloneses exilados na Rússia em 1942, e passou por essa mesma burocracia como a JDC, discutido aqui. Note a seguinte passagem:

Este projeto enfrentou formidáveis obstáculos técnicos, uma vez que muitas vezes era difícil localizar as pessoas a quem o Vaad procurou ajudar e, por outro lado, o auxílio do governo soviético foi dificultado pela regulamentação do trabalho. A mais importante diretiva estabelecia que todos os cidadãos poloneses na União Soviética ajudassem em massa, teve de ser canalizadas através de agências do governo polonês no exílio. Enquanto a assistência poderia ser direcionada para indivíduos específicos, poderia haver nenhuma ajuda especial de programas de judeus para judeus. Assim a ajuda enviada para a Rússia teve de ser dividida entre os refugiados-judeus poloneses e não-judeus por funcionários poloneses. Esta medida punha refugiados judeus a mercê dos funcionários poloneses, muitos dos quais eram anti-semitas.

A falta de citação diretamente das fontes do JDC por Sanning deve, portanto, levar a uma suspeita de que ele tenha ocultado as fontes primárias, a fim de evitar revelar que a JDC não tinha funcionários na União Soviética e foi confiando em boatos, que o conduziu a uma citação de um vasto leque de estimativas de "inferior a 100.000" para "600.000". Na citação, Sanning usa a estimativa mais elevada, embora omitindo uma menor do Viteles Report, ou é simplesmente negligente ou fraudulento.

A suspeita de fraude, ao invés de simples negligência é reforçada pelo fato de Sanning ter distorcido da mesma forma a fonte da JDC nos valores para a Polônia Ocidental. No intuito de "mostrar" que 750.000 judeus cruzaram a linha de demarcação, Sanning tenta demonstrar que apenas 630.000 judeus foram deixados na parte ocidental da Polônia, em Junho de 1941. Para isso, ele recorre a uma citação fora do contexto da supracitada Enciclopédia Judaica Universal(Universal Jewish Encyclopedia), sugerindo que o JDC tratava de 630.000 judeus na zona alemã. Conforme demonstrado por Zimmerman, a citação que Sanning retirou do contexto está nesta passagem:

Na área ocupada pela Alemanha cerca de 1.725.000 judeus foram submetidos a força à toda fúria alemã. Cerca de 250.000 perderam a vida durante os 12 meses após a eclosão da guerra. Pelo menos um número igual foi arrancado das suas casas. Eles, juntamente com o restante dos judeus da Polônia, foram confinados em guetos, espancados, expulsos de suas casas, arrastados para trabalho forçado e reduzidos a mendigos. Mais uma vez, fome e doença tiveram seu porte. A taxa de mortalidade no gueto de Varsóvia, contendo mais de 500.000 pessoas em 100 quarteiros de área, subiu para 15 vezes do tamanho no pré-guerra. Durante todo este período trágico a rede de instituições que a JDC tinha acumulado na Polônia desde a primeira Guerra Mundial, elas se mantiveram bem firmes... a ajuda da JDC estava atingindo 630.000 pessoas diariamente em mais de 400 localidades em todo o território ocupado pela Alemanha...


Sanning, portanto, tira o seu valor de 630.000 de uma fonte que declara explicitamente que 1.725.000 judeus foram “guetificados” e postos em trabalhos forçados em grupo, dos quais 500.000 estavam somente no gueto de Varsóvia. Mais uma vez, portanto, nós flagramos Sanning abusando de sua fonte.

O Mundo Maluco de Walter Sanning - Parte 1

Traduzido por Leo Gott à partir do link:
Uma maneira de saber a diferença entre um acadêmico e um “negador do Holocausto” é analisar a forma como estes selecionam e tratam as suas fontes. Um pesquisador que propositadamente limita o seu leque de fontes, que não faz qualquer tentativa para verificar a sua veracidade, e exerce uma falta de julgamento crítico, não iria receber passe na primeira base se tivesse que apresentar os seus trabalhos de revisão aos pares da comunidade acadêmica. Ele seria então, um não-acadêmico, ou mesmo, por assim dizer, um anti-acadêmico. É nossa afirmação de que todos os negadores do Holocausto rotineiramente cometem esses pecados de anti-academia. Além disso, estes anti-acadêmicos também são propensos a mentir e enganar para encobrir a sua ordinária utilização de fontes.

Para ilustrar este ponto, juntamos seis partes do estudo dos métodos utilizados pelo negador do Holocausto Walter Sanning em seu livro A Dissolução dos judeus do Leste Europeu. Nesta primeira parte, discutimos a alegação feita por Sanning (p.33), que número de judeus na Polônia, no final do mês de Setembro de 1939 foi de 2.633.000, uma redução de cerca de 500.000 referentes ao censo de 1931 que era a cifra de 3.113.933. Um estudo de suas fontes e argumentos revela um certo número de omissões deliberadas, distorções e interpretações maldosas dos dados.

Em primeiro lugar, para justificar a sua escolha de fontes, Sanning (p.44) faz uma falsa alegação sobre os dados dos nazistas de população ao afirmar que "os seus números não foram baseadas em um censo, nem mesmo em estimativas". Esta é uma flagrante mentira, porque, Sanning deveria saber que cada gueto judeu na Polônia foi forçado a efetuar um censo. Esta era uma ordem de Heydrich de 21 de setembro, 1939:

(3) Os Conselhos Judaicos foram improvisados para assumir um censo dos judeus em suas áreas locais - separados por sexo, se possível (faixas etárias): a) até 16 anos de idade, b), de 16 a 20 anos de idade, e c)superior [a 20 anos], assim como os principais grupos ocupação devem relatar os resultados no menor espaço de tempo possível.


Sanning contradiz sua própria mentira quando ele discute os valores demográficos nazistas para cidades soviéticas(p.74). Subitamente, nós descobrimos que:

As autoridades alemãs começaram a dar início à contagem detalhada do restante da população. Obviamente, os invasores alemães tinham de obter algumas informações sobre o estoque disponível da população ativa.


No capítulo soviético de Sanning, portanto, a classificação de hipocrisia, pende sobre demografia nazista que ele ignora, no capítulo polonês. Esta desonetidade flagrante é condenável porque ele revela sua verdadeira motivação: evasão e ofuscação do verdadeiro dado histórico.

Em segundo lugar, Sanning afirma que o crescimento natural da população judaica (nascimentos mais mortes), entre 1931 e 1939 foi de apenas 0,2% ao ano. Este valor é refutado por um estudo do Governo polonês, publicado originalmente em 1936, o que é familiar para qualquer demógrafo da Polônia: "A Precisão do Registro de Nascimentos e Óbitos" (Estatísticas, Série C. Pág. 41). Uma equipe de demógrafos examinou registros rabínicos que remontam a 1927 e verificaram que o número de nascimentos da população judaica na Polônia era, pelo menos, 50% maior do que o indicado nas tabelas oficiais de nascimento. Joseph Marcus em The Social and Political History of the Jews in Poland, 1919-1939 (1983, p.173) discute estes dados em profundidade e conclui que a taxa de crescimento natural foi de 1,32% ao ano entre 1931-1935 e 1,29% por ano entre 1936-1938. Sanning (p.26-27) afirma que, em 1931, houve mais de 40.000 mortos e 52.305 nascimentos, mas os dados poloneses indicam uma taxa de natalidade de 2,7% (84.076), e a taxa de mortalidade em 1,38% (42.972). Por isso que Sanning não entende o crescimento natural de 30.000 por ano.

Em terceiro lugar, Sanning imprime um gráfico (p.28) mostrando que, a partir de 1931, o percentual de judeus para não-judeus foi caindo em proporção com o aumento da idade, ou seja, houve proporcionalmente muito mais velhos do que os judeus mais jovens na população total. Ele alega que isso prova que a taxa de natalidade judaica foi bem menor do que para os não-judeus. No entanto, Sanning não menciona a explicação óbvia desses dados, a saber que, como ele próprio observa (p.30), 294.139 judeus emigraram entre os censos de 1921 e 1931, e a maioria destes jovens eram crianças de família.

Em quarto lugar, Sanning alega que 100.000 judeus deixaram a Polônia anualmente a partir de 1933. Conforme Roberto Muehlemkamp demonstrou, Sanning obteve este valor à partir de um artigo de Hermann Graml que teve por base o pressuposto de que o documento imperfeito de sua fonte refere-se à emigração da Polônia quando ele realmente se refere à emigração de toda o Leste Europeu, incluindo a URSS, e não apenas a Polônia. Sanning não faz qualquer tentativa para verificar a fonte de Graml. O “bumbling demographer" faz um erro semelhante ao discutir a emigração de judeus poloneses para os E.U.A.. Sanning (p.31) cria um fato ao afirmar que:

Dos 4,3 milhões de judeus na área geográfica que envolve a Polônia, os Países Bálticos, Romênia e Checoslováquia antes da guerra, cerca de dois terços viveu na Polônia. Portanto, o maior contingente de imigrantes judaicos para a América do Norte entre 1933 e 1943 devem ter chegado a partir desse país.


O grande absurdo dessa posição pode ser demonstrado pela análise do American Jewish Yearbook à partir deste período. Por exemplo, o Anuário de 1937-38 (p.765, Quadro XVII) enumera todos os imigrantes judaicos que entraram nos E.U.A. por país de última residência. O total de todos os países até 30 de Junho de 1936 é 6.252. O número destes, provenientes da Polônia fica em apenas 528. Sanning exibe mais ignorância sobre os Estados Unidos quando se trata especificamente deste país no Capítulo 7, pp. 160-166. Sanning cita um artigo do American Jewish Yearbook (1976, Vol. 77, p.268), em sua alegação ele mostra que a população judaica dos E.U.A. passou de 4.228.029 em 1927 para 4.770.000 em 1937. Sanning argumenta que o aumento destes números não podem ser explicados pelo aumento natural, mas só pode ser devido à imigração clandestina. Se Sanning tivesse consultado a fonte original dos números de 1937(1940-41 Yearbook, p.215-256), ele teria descoberto dois fatos que derrubariam sua suposição. Em primeiro lugar, o autor, H.S. Binfield do U.S. Census Bureau, explicitamente diz, que o crescimento não se deveu a imigração. Em segundo lugar, os dados foram coletados a partir de um censo de órgãos religiosos, ou seja, os números eram auto-reportados pelos judeus. Portanto, é absurda a alegação de que estes judeus entraram nos E.U.A. ilegalmente, com a volta do recenseamento, assim eles iriam se auto-incriminar. A população não iria se revelar como clandestina em um inquérito do governo. A falta de conhecimentos báscicos de Sanning é mais exposta quando ele discute a possibilidade de emigração judaica da Polônia para a França. Ele assume (p.31), que os judeus chegaram na França provenientes da Alemanha ou dos "países do Leste e Sudeste da Alemanha". Ele então diminui este domínio para um país: Polónia! Qualquer pessoa com conhecimento da história judaica francesa saberia que a França tinha um império no Norte de África, que existiam muitos judeus, e estes foram autorizados a entrar livremente França. A França também teve uma forte reputação, antes de 1939, para a imigração judaica da Turquia, Grécia e Iugoslávia, devido ao seu papel histórico como um receptor de refugiados judeus que fugiam do Império Otomano, um papel que continuou depois do período otomano até a década de 30.

Além desta ignorância, a tese de Sanning contém contradições flagrantes. Sua alegação de que houve uma elevada emigração clandestina da Polônia no período de 1918-1939 contradiz sua alegação de que o crescimento natural da população judaica foi muito baixo. Se o ápice da emigração clandestina ocorreu durante os anos 20, não teria necessidade de ser extraordinariamente elevado o excedente de nascimentos mais as mortes entre 1921 e 1931 para substituir a partida da população, caso contrário, a população judaica teria nivelado entre os censos de 1921 e 1931, em vez de realmente aumentar.

No entanto, eu me limito a acusar Sanning de ignorância e de hipocrisia afim de esquecer seus gritantes exemplos de desonestidade flagrante. Vimos acima que Sanning mentiu sobre os dados populacionais nazistas e discutiu sobre os dados de nascimentos e mortes dos judeus poloneses sem fazer qualquer menção ao estudo do governo polonês de 1936, que constitui a pedra angular de toda a demografia acadêmica do período.
Esta desonestidade aparece novamente em sua discussão sobre os E.U.A., quando Sanning cita a alegação do Secretário de Estado Adjunto dos EUA, Breckenridge Long, feita em 1943, de que os E.U. tinham admitido 580.000 refugiados nos dez anos anteriores. Sanning omite citar um fato que ele deve ter conhecimento: pouco depois do depoimento de Long, o congressista Emanuel Celler demonstrou que a citação foi enganosa, porque o número de 580.000 foi a quota máxima limite de imigrantes (e não apenas refugiados), e não o número de refugiados que foram concedidos vistos.

Mais uma vez, portanto, concluímos que Sanning elaborou uma peça de trabalho enganosa e fraudulenta.

sábado, 12 de abril de 2008

"Revisionismo": a "ciência" da negação, a negação da ciência

Técnicas de negação do Holocausto
Autor: Mike Stein

Nos últimos anos, os negadores do Holocausto tem se empenhado a recorrer a argumentos "científicos" para "provar" que o regime nazi não pode sar câmaras de gás para levar a cabo um programa de extermínio contra os judeus e os ciganos. Os "Relatórios Leuchter e Rudolf" intencionaram provar que não havia suficientes resíduos de cianeto de hidrogênio nas câmaras de gás de Auschwitz como para demostrar que não se havia realizado gaseamentos massivos. Friedrich Paul Berg, em seu documento "As Câmaras de Gás de Motor Diesel: Um Mito dentro de um Mito", afirma que é capaz de demostrar que é improvável no melhor dos casos e impossível, no pior, usar os escapes de um motor diesel para matar pessoas na maneira e no tempo descritos por testimunhas oculares nas câmaras de gás de Belzec e Treblinka. Ambos documentos citam experimentos, análises de laboratorio, compostos químicos, etc. Igual que em qualquer documento científico objetivo - ou ao menos isso é o que os autores nos querem fazer crer.

O perigo deste novo planteamento negador é que poucar pessoas têm os conhecimentos técnicos necessários para analisar os documentos e descobrir suas falsidades. Demasiada gente examina os argumentos, vê a palavra "ciência" e imediatamente se perde. Consideram que se é "científico", deve estar certo. Esta negação do Holocausto obtem assim credibilidade "cientítica".

Por desgraça, há uma diferença entre a "ciência" negadora e a verdadeira ciência. O princípio fundamental da verdadeira ciência é este: "qualquer teoria há de ter em conta todos os fatos observáveis relevantes. Quer dizer, a teoria há de ajustar-se aos fatos; um verdadeiro cientista nunca nega os fatos simplesmente porque não se ajustam a sua teoria. O método de trabalho de um cientista honesto é em primeiro lugar realizar observações, e só depois elaborar uma teoria que explique o que foi visto. Se em algum momento os fatos contradizem a teoria, esta é descartada como falsa, e se elabora uma nova.

Os negadores do Holocausto invertem este processo. Em primeiro lugar, decidem como querem que sejam os "fatos", em lugar de recorrer a testemunhas oculares e a provas físicas e documentais. Elaboram teorias para "provar" que os fatos "autênticos" são como eles querem que sejam. Assim, todos os documentos verdadeiros são falsificações ou expressam algo distinto do que parecem dizer, e as testemunhas de fatos que contradigam suas teorias são uns mentirosos, ou se equivocam, ou estão loucos, ou são vítimas de algum tipo de coação que provocou que dessem falso testemunho.

Há outras maneirs de distinguir a ciência autêntica da charlatanice. Os verdadeiros cientistas são cautos. Buscam possíveis explicações alternativas. Buscam possíveis fontes de erros. Explicam todas as limitações e todos os problemas que tenham suas teorias. Procuram evitar fazer suposições, e sem têm que fazê-las, explicam-nas e as justificam abertamente. Todas as conclusões tem por base em fatos e em teorias corretamente estabelecidas, não em especulações e suposições sem demonstrações.

Quando se examina a "ciência" negadora, se descobre que se rompem todas estas regras. Fred Leuchter simplesmente supôs que para matar persoa havia sido usada a mesma a mesma quantidade de cianeto de hidrogênio que havia sido usada para matar piolhos. Isto é falso; Há de se usar muito mais cianeto de hidrogênio para matar piolhos, e há de estar expostos a ele muito mais tempo. Também parece que supôs que os gaseamentos tinham lugar com muito mais freqüência que de fato, ao ter considerado condições anormais no momento frio das deportações da Hungria como as típicas durante todo o tempo em que esteve aberto o campo de Birkenau.

Leuchter também supôs que dado que nos lugares onde se havia efetuado despiolhamentos aparecem manchas azuis(ao aparecer pela presença de compostos cianídricos como o azul da Prússia), nas câmaras de gás deveriam ter aparecido as mesmas manchas. Na realidade, o processo de formação do azul da Prússia a partir da exposição ao cianeto de hidrogênio não é ainda de todo conhecido. A taxa de formação, se é que chega a se formar, pode variar consideravelmente baixo diferentes circunstâncias.

Friedrich Berg argumentou que é muito difícil fazer que um motor diesel gere suficiente monóxido de carbono para matar alguém em meia hora, como declararam diversas testemunhas em Treblinka. Na verdade, está nisto certo - a primeira causa de morete foi provavelmente a asfixia(quer dizer, a simples falta de oxigênio). Sem embargo, Berg rompeu todas as regras. Em primeiro lugar, ignorou os testemunhos explícitos de testemunhas que afirmam que as vítimas morreram asfixiadas. Em segundo lugar, não examinou cuidadosamente outras circunstâncias distintas das que se havia falado sobre Treblinka nas que os escapes de un motor diesel podiam matar pessoas. Fechou os olhos para não perguntar-se a si os efeitos combinados de uma baixa concentração de oxigênio, uma alta concentração de dióxido de carbono, uma concentração média de monóxido de carbono, altos níveis de óxidos de nitrogênio e a aglomeração numa sala muito pequena podiam matar as pessoas presentes na sala ainda que quiça(possibilidade)não houvesse podido matá-las se houvessem entrado na câmara um por um.

Contam uma história, quiça apócrifa, segundo a qual alguém, utilizando a teoria de aerodinâmica, "provou" que os zangões não podiam voar. Sem embargo, os zangões, sem deixar-se impressionar por este triunfo da ciência, se negam a caminhar de flor em flor e seguem voando como eles tem feito sempre.

"Os "cientistas" negadores do Holocausto estão na mesma posição: tratam de provar que os fatos não são fatos. Em todos os sentidos, a "ciência" empregada ao serviço da negação do Holocausto é, na realidade, a negação de todos e cada um dos princípios do método científico - uma total negação da ciência em si mesma.

Fonte:
http://www.nizkor.org/features/techniques-of-denial/denial-of-science-sp.html
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Canal de denúncia do Orkut não funciona, diz procurador

O procurador da República no Estado de São Paulo Sérgio Suiama propôs ao Google, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, no Senado, em Brasília, criar uma central de atendimento telefônico para receber queixas e denúncias de usuários sobre crimes na internet.

Suiama disse que o canal online da empresa, no Orkut, para receber denúncias é ineficiente. "O serviço via internet não funciona", afirmou, ao contar o caso de uma mulher que esperou dias até que fosse tirada do ar uma página com informações falsas e insinuações envolvendo questões sexuais sobre sua filha.

Ao Ministério Público, o Google informou que o conteúdo impróprio é tirado do ar até 15 dias após a denúncia. "É tempo demais diante dos danos causados às pessoas", disse o procurador. Suiama sugeriu ainda que o Google passe a identificar os usuários e faça campanhas de esclarecimento sobre crimes na internet em seu espaço virtual. As informações são da Agência Senado.

Fonte: Agência Estado/Yahoo
http://br.noticias.yahoo.com/s/09042008/25/politica-canal-denuncia-orkut-nao-funciona-diz-procurador.html

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Relatório de Wilhelm Cornides, Oficial da Wehrmacht, sobre Belzec

Em 30 de agosto de 1942, um oficial alemão não-comissionado, Wilhelm Cornides, esteve em Rzeszow, em seu caminho de trem para Chelm. Em seu diário ele registrou que um policial ferroviário em Rzeszow lhe disse que "uma placa de mármore com letras douradas será erguida em 1° de setembro, porque então a cidade estará "livre de judeus". O policial também lhe disse que trens cheios de judeus "passam quase diariamente através dos pátios de baldeação, são despachados imediatamente para seu trajeto, e retornam totalmente vazios, com mais freqüência na mesma noite." Cerca de 6.000 judeus de Jaroslaw, acrescentou o policial, "foram mortos recentemente em um dia."

Então Cornides pegou o trem regular de passageiros de Rzeszow para Chelm, chegando a Rawa Ruska em 31 de agosto, e registrando em seu diário, enquanto esteve na "Casa Alemã" daquele local:

"Ao meio-dia e dez minutos, eu vi um transporte de trem correr para a estação. No teto e nos degraus sentavam-se guardas com rifles. Podia-se ver à distância que os vagões estavam abarrotados de pessoas. Eu me virei e percorri a pé o trem inteiro: ele consistia de 35 vagões de gado e um vagão de passageiros. Em cada um dos carros havia no mínimo 60 judeus (no caso dos transportes de homens alistados ou transportes de prisioneiros, esses vagões comportariam 40 homens; entretanto, os bancos haviam sido removidos e podia-se ver que aqueles que estavam ali trancados tinham que ficar espremidos em pé). Algumas das portas estavam um pouco abertas, as janelas entrecruzadas com arame farpado. Entre as pessoas ali trancadas havia alguns poucos homens e a maioria deles eram velhos; tudo o mais eram mulheres, garotas e crianças.

Muitas crianças se amontoavam às janelas e às estreitas aberturas das portas. A mais nova com certeza não tinha mais de dois anos. Assim que o trem parou, os judeus tentaram passar garrafas para fora a fim de pegar água. O trem, entretanto, estava cercado por guardas da SS, para que ninguém pudesse se aproximar. Naquele momento, um trem chegou vindo da direção de Jaroslaw; os viajantes afluíram em direção da saída sem se preocupar com o transporte. Alguns poucos judeus que estavam ocupados carregando um carro para as forças armadas acenaram seus chapéus para as pessoas que estavam trancadas.

Eu conversei com um policial em serviço na estação da ferrovia. À minha pergunta sobre de onde os judeus realmente vieram, ele respondeu:

"Aqueles são provavelmente os últimos de Lwow. Isso tem continuado por três semanas ininterruptamente. Em Jaroslaw eles só deixaram ficar oito, ninguém sabe por quê."

Perguntei: "Para onde eles irão?" Então ele respondeu: "Para Belzec." "E então?"

"Veneno." Eu pergutei: "Gás:" Ele encolheu os ombros. Então ele disse apenas:
"No começo eles sempre os fuzilavam, acredito eu."

Aqui na Casa Alemã eu só falei com dois soldados do campo de prisioneiros de guerra da linha de frente 325. Eles disseram que ultimamente estes transportes tinham corrido todos os dias, na maiora das vezes à noites. Acredita-se que ontem passou um de 70 vagões."

De Rawa Ruska, Cornides tomou o trem da tarde para Chelm. As coisas que ele aprendeu nessa jornada eram tão extraordinárias que ele fez três entradas separadas em seu diário dentro do período de uma hora, a primeira às 17:30:

"Quando nós embarcamos às 16:40, um transporte vazio tinha acabado de chegar. Eu acompanhei o trem a pé duas vezes e contei 56 vagões. Sobre as portas havia sido escrito em giz: 60, 70, uma vez 90, ocasionalmente 40 - obviamente o número de judeus que eram carregados lá dentro. Em meu compartimento eu falei com a esposa de um policial ferroviário que está atualmente visitando seu marido aqui. Ela disse que esses transportes agora estão passando diariamente, às vezes também com judeus alemães. Ontem seis corpos de crianças foram encontrados ao longo dos trilhos. A mulher acha que os próprios judeus tinham matado essas crianças - mas elas devem
ter sucumbido durante a viagem.

O policial ferroviário que apareceu como companhia de trem juntou-se a nós no nosso compartimento. Ele confirmou as declarações da mulher sobre os corpos das crianças que foram encontrados ontem ao longo dos trilhos. Eu perguntei: "Os judeus sabem o que vai acontecer com eles?" A mulher respondeu:

"Aqueles que vêm de longe não sabem de nada, mas aqui na vizinhança eles já sabem. Então eles tentam fugir, se eles percebem que alguém está vindo atrás deles. Assim, por exemplo, mais recentemente em Chelm onde três foram fuzilados a caminho da cidade." "Nos documentos da ferrovia esses trens rodam sob o nome de transportes de reassentamento", notou o policial da ferrovia. Então ele disse que depois do assassinato de Heydrich, vários transportes contento tchecos haviam passado.

O Campo Belzec deve estar localizado à direita da linha férrea, e a mulher prometeu mostrá-lo a mim quando nós passássemos por ele.

17:40 pm. Uma parada rápida. Em frente a nós, um transporte pára novamente. Eu falo com o policial na frente do compartimento no qual nós estamos viajando. Eu pergunto:

"Você vai voltar para casa, para o Reich?" Sorrindo, ele diz: "Você provavelmente sabe de onde nós estamos vindo. Bom, para nós o trabalho nunca está terminado."

Então o transporte à nossa frente vai embora, com 35 vagões vazios e limpos. Com toda a certeza este foi o trem que eu havia visto às 13:00 na estação Rawa Ruska.

18:20. Nós passamos pelo campo Belzec. Até então, nós viajamos por algum tempo através de uma floresta de altos pinheiros. Quando a mulher chamou, "Agora vem!", podia-se ver uma ponta alta de pinheiros. Um forte cheiro adocicado podia ser percebido distintamente. "Mas eles já estão cheirando mal", diz a mulher. "Oh,
bobagem, é apenas o gás", disse o policial ferroviário rindo.

Enquanto isso - nós havíamos percorrido cerca de 200 metros - o odor adocicado se transformava em um forte cheiro de algo queimando. "Isso é do crematório", diz o policial. Uma curta distância adiante, a cerca acabou. Na frente dela, podia-se ver uma casa de guarda com um posto SS. Um trilho duplo levava para dentro do campo. Um ramal de trilhos se separava da linha principal, a outra corria sobre uma rotunda a partir do campo para uma fileira de celeiros cerca de 250 metros adiante. Um vagão por acaso estava sobre a rotunda. Vários judeus estavam ocupados girando o disco.

Guardas da SS, com rifles sob os braços, estavam presentes. Um dos celeiros estava aberto; podia-se ver distintamente que estava cheio até o teto com fardos de roupas. Enquanto prosseguíamos, olhei para trás mais uma vez. A cerca era muito alta para se poder ver qualquer coisa. A mulher diz que às vezes, enquanto se passa, pode-se ver fumaça subindo do campo, mas eu não percebi nada do tipo. Minha estimativa é que o campo mede entre 800 por 400 metros."

Em seu diário, Cornides registrou conversas que teve com outras testemunhas:

"Na noite de 30 de agosto de 1942, na 'Casa Alemã' em Rawa Ruska, um engenheiro me contou:
"Tirando os poloneses e prisioneiros de guerra, judeus, que foram os principais transportados desde então, também foram empregados em conexão com o trabalho no solo de exercícios eqüestres que está localizado aqui. O trabalho dessas turmas de construção (que incluíam mulheres) atingia 30% do nível de produtividade de trabalhadores alemães em média. Enquanto algumas pessoas recebiam pão de nós, outras tinham que encontrá-lo por si mesmas. Por acaso, recentemente eu vi o carregamento de um transporte desses em Lwow.

Os vagões ficavam ao pé do banco de areia. Usando paus e chicotes de cavalaria, os homens da SS dirigiam e empurravam as pessoas para dentro dos vagões. Aquele era uma visão que não esquecerei enquanto estiver vivo."

Lágrimas vinham aos olhos do homem enquanto ele contava sua história. Ele tinha aproximadamente 26 anos de idade, e usava um emblema do partido. Um capataz de construção dos sudetos que sentava-se à mesma acrescentou:

"Recentemente, um homem SS bêbado sentou-se na nossa cafeteria, chorando feito uma criança. Ele disse que estava servindo em Belzec, e que se as coisas corressem desse jeito por mais 14 dias ele se mataria, porque ele não poderia mais suportar."

Um policial no restaurante do prédio do governo em Chelm disse, em1° de setembro de 1942:
"Os policiais que guardam os transportes judaicos não são permitidos dentro do campo; somente a SS e o Sonderdienst Ucraniano (uma formação policial que compreendia auxiliares ucranianos) eram permitidos. Por causa disso, eles criaram um bom negócio. Recentemente, um ucraniano que esteve aqui tinha um grande maço de notas, relógios, e ouro - tudo que se podia imaginar. Eles encontram tudo isso quando eles juntam e despacham as roupas."

Em resposta à pergunta, sobre o modo como os judeus eram mortos, o policial respondeu:

"Alguém diz a eles que eles precisam ser despiolhados. Então eles se despem e entram numa sala na qual, no início, entra uma onda de calor, e assim eles já receberam uma pequena dose de gás. É suficiente para agir como um anestésico local. O resto vem em
seguida. E então eles são imediatamente queimados."

Quanto à questão de por que toda essa ação era executada, o policial declarou:

"Até agora, os judeus foram empregados em todo o lugar pela SS e pela Wehrmacht, etc., como trabalhadores auxiliares. Naturalmente, eles ouviram um monte de coisas, e além disso eles relataram tudo aos russos. Com tudo isso, eles têm que ir. E então eles também operavam todo o mercado negro e manipulavam os preços aqui. Quando os judeus se forem, os preços podem novamente se tornar razoáveis."
Tradução: Marcelo Oliveira
Fontes: Gilbert, Martin. Final Journey: The Fate of the Jews in Nazi Germany, Mayflower Books, New York, 1979
Longerich, Peter. Die Ermordung der europäischen Juden. Serie Piper 1060, München, 1989
http://www.deathcamps.org/belzec/rawacornides.html
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/6317

terça-feira, 8 de abril de 2008

Trabalhadores forçados serviram à Igreja durante nazismo

Economia do regime nazista sobrevivia graças a 13 milhões de trabalhadores forçados

Igreja divulga relato sobre trabalhadores forçados em instituições católicas durante o nazismo. Documentação contribui para esclarecer o alcance da conivência católica com o Terceiro Reich.

Somente 45 após o fim da Segunda Guerra Mundial é que a sociedade alemã começou a pensar no destino dos trabalhadores forçados do Terceiro Reich. Depois disso, ainda passariam alguns anos até as Igrejas entrarem na discussão e abordarem um tema que até então era tabu: a presença do trabalho forçado em instituições religiosas durante o regime nazista.

Nesta terça-feira (08/04), o cardeal Karl Lehmann apresentou em Mainz um documento sobre a conivência da Igreja Católica. Como presidente da Confederação dos Bispos Alemães, uma função exercida até fevereiro último, Lehman apoiou a condução da pesquisa sobre esse capítulo negro da história recente da Igreja católica.

Através da busca de sobreviventes e da oferta de indenização, os representantes da Igreja afirmam pretender elucidar o sistema que permitiu a exploração de trabalhadores forçados por parte de instituições católicas, como hospitais e mosteiros.

Longo período de cegueira

Cardeal Lehmann apresenta estudo sobre trabalho forçado em instituições ligadas à Igreja Católica

O cardeal Lehmann lamentou durante a apresentação do documento que a Igreja não tenha se voltado para a discussão do assunto anteriormente. "Não se deve esquecer que a Igreja católica se manteve por muito tempo cega frente aos destinos e ao sofrimento de trabalhadores forçados oriundos de toda a Europa, trazidos para a Alemanha, entre estes homens, mulheres, jovens e crianças", observou Lehmann.

O documento intitulado Trabalho Forçado e a Igreja Católica entre 1939 e 1945 expõe como aproximadamente seis mil pessoas (civis), em sua maioria vindos da Polônia, Ucrânia e da ex-União Soviética, bem como prisioneiros de guerra, foram obrigados a trabalhar em cerca de 800 instituições ligadas à Igreja.

Regime de escravidão

Através da pesquisa, foram localizados em torno de 800 sobreviventes, que receberam uma indenização (simbólica) de 2.500 euros. Enquanto estima-se que o número de trabalhadores forçados durante o regime nazista tenha girado em torno de 13 milhões de pessoas, vivendo em regime de escravidão, a Igreja acredita, a partir do atual documento, ter empregado seis mil trabalhadores forçados em hospitais, seminários e conventos.

Essas instituições não apenas obrigaram os trabalhadores estrangeiros às atividades em suas instalações, como também recrutaram pessoas visando forçá-las ao trabalho.

Patriotismo e medo

Entre os motivos que levaram à conivência da Igreja neste contexto estão "motivos patrióticos, bem como o medo da violência da polícia e da SS. Essa situação levou a ambivalências, tensões e ajustamentos, em alguns casos também a erros fatais", diz Karl-Joseph Hummel, editor do estudo sobre o trabalho forçado nas instituições católicas.

As revelações, acredita o cardeal Lehmann, não levam somente a uma melhor compreensão do passado, "mas contribuem também para uma lembrança histórica mais precisa, sem a qual não há reconciliação possível".

Hajo Goertz (sv)

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 08.04.2008)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3253662,00.html

domingo, 6 de abril de 2008

O que é o NPD?

O partido de extrema direita, que poderá vir a ser a terceira agrupação política proibida da Alemanha, tem quase 40 anos de existência.

Fundado em 1964, o Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD) é o único grupo político de extrema direita do país. Ele se autodefine como um agrupação "socialista", acreditando que "o nacional-socialismo é a mais elevada forma de comunidade de um povo". Na década de 60, ocupou cadeiras em diversas assembléias estaduais. Em 1968, alcançou seu melhor resultado (9,8% dos votos), no estado de Baden-Württemberg, porém no ano seguinte não conseguiu alcançar os 5% mínimos para manter representação na assembléia legislativa.

O NPD tem sede em Berlim e há seis anos seu presidente é Udo Voigt. Entre 1996 e 2001, seu número de filiados quase dobrou, de 3500 para 6500. Além disso, acredita-se que a organização Jovens Nacional-Democratas (JN), com 400 membros, funcione como ligação ente o NPD e outros grupos de extrema direita e neonazistas.

Com suas numerosas manifestações e passeatas, o NPD tem criado celeuma e indignação pública. Um relatório do Departamento de Defesa da Constituição (BfV) de 2001 aponta um "parentesco essencial" entre este partido e os neonazistas, além de "xenofobia motivada pelo racismo". Além disso, o NPD praticaria agitação anti-semita e minimizaria os crimes dos nazistas sob Adolf Hitler. Mesmo depois de aberto o processo de proibição, o partido haveria mantido sua "hostilidade pública contra a livre ordem democrática", concluiu o BfV, que é o serviço secreto interno da Alemanha.

A crônica de uma proibição difícil

Em agosto de 2000, após atos de violência de extrema direita na Turíngia, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Brandemburgo e Baviera, o secretário do Interior bávaro, Günther Beckstein, exigiu a proibição do NPD, assim como maior rigor contra os agressores politicamente radicais. De início, o Ministério do Interior é contra uma petição de proibição junto ao Tribunal Federal Constitucional.

Somente em 10 de novembro o Bundesrat (câmara alta do Legislativo) aprovou entrar com um processo de proibição, e logo o Bundestag (Parlamento) seguiu seu exemplo. Em 30 de janeiro, o governo federal entrou com sua própria petição, e dois meses mais tarde as duas câmaras do Legislativo faziam o mesmo: é a primeira vez na história da República Federal das Alemanha que os três organismos constitucionais competentes se empenham pelo veto a um partido.

Em 22 de janeiro de 2002, o processo foi sustado, devido à presença de informantes do serviço secreto na cúpula do NPD, e o Tribunal Constitucional cancelou cinco audiências já programadas. Somente após uma série de justificativas e desculpas por parte do Ministério do Interior e de uma tomada de posição por parte dos três postulantes, uma nova audiência foi marcada para 8 de outubro: de seu resultado depende a retomada do processo.

(av)

Fonte: Deutsche Welle(08.10.2002)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,651885,00.html

sábado, 5 de abril de 2008

EUA: Papa visita sinagoga de rabino sobrevivente Holocausto

O Papa Bento XVI, que visitará este mês, pela primeira vez, os Estados Unidos da América, vai deslocar-se, com carácter pessoal, a uma sinagoga liderada por um rabino sobrevivente do Holocausto.

O rabino Arthur Schneier, 78 anos, que viveu sob a ocupação nazi em Budapeste e emigrou para os Estados Unidos da América em 1947, é o responsável desde 1962 pela sinagoga, em Nova Iorque, que irá receber a visita do pontífice a 18 de Abril.

Bento XVI, 80 anos e de origem alemã, foi em adolescente, aos 14 anos, membro da juventude nazi, tendo participado mais tarde na II Guerra Mundial, da qual desertou em 1944 sob risco de pena de morte.

Esta será a segunda visita do pontífice a uma sinagoga.

Na primeira visita papal ao estrangeiro, em 2005, Bento XVI visitou uma sinagoga em Colónia, Alemanha, que foi reconstruída após ter sido destruída durante o regime nazi.

«Com esta visita pessoal e informal, que não faz parte do programa oficial, Sua Santidade deseja expressar a sua boa vontade perante a comunidade judaica, no momento de preparação da Páscoa Judaica», afirmou David Monsenhor Malloy, secretário-geral da Conferência norte-americana dos Bispos Católicos.

Durante a viagem, o pontífice irá reunir-se com outros dirigentes judaicos e representantes de outras religiões.

Ainda em Nova Iorque, a agenda papal incluirá uma visita e discurso na sede das Nações Unidas e uma deslocação ao Ground Zero, o local dos atentados do 11 de Setembro.

No programa de Bento XVI, que estará nos EUA de 15 e 20 de Abril, estão agendados também encontros com cardeais, bispos e representantes de associações de caridade norte-americanas, estando ainda prevista a celebração de uma missa no Estádio Nacional.

No dia da chegada, em Washington, Bento XVI será recebido pelo presidente norte-americano, George W. Bush.

Fonte: Diário Digital/Lusa(03.04.2008)

O Holocausto: verdade e preconceito - parte 4

Os comunistas, por exemplo: historicamente, desde os primeiros teóricos do socialismo da metade do século XIX, tiveram problemas conceituais com os judeus (inclusive muitos comunistas judeus). Não é preciso recorrer ao anti-semitismo da era stalinista para chegar a essa conclusão. Ser de esquerda e ser anti-semita não são propriedades incompatíveis, desde Proudhon. Não foi Marx que, em seu período de juventude, escreveu "A Questão Judaica", no qual sustentou uma teoria de afinidade entre o judaísmo e o capitalismo?

De modo geral, a "questão judaica" foi utilizada tanto pela esquerda como pela direita: foi álibi no último período do czarismo russo, dividiu a França no Caso Dreyfus (final do século XIX), foi o centro do anti-semitismo de massas na Áustria e na Alemanha (ligado ao pangermanismo) e até incidiu no fraudulento Plano Cohen, utilizado como um dos pretextos para a implantação do Estado Novo no Brasil.

Atualmente, nos países da Europa Oriental, ex-comunistas, o anti-semitismo se reproduz como mutação da antiga tradição antijudaica clerical, como demonstrou Paul Hockenos (1988). No mundo ocidental do pós-guerra, rearticulou-se o preconceito hostil, amoldando-se a populismos e sistemas de crenças que pretendem explicar problemas complexos, como o conflito entre israelenses e palestinos, por meio de esquematismos irracionais. Em certos casos, quando acentuadamente rígidos e associados a uma causa determinada, tais sistemas acorrem à paranóia da conspiração judaica.

Das novas racionalizações anti-semitas, a mais difundida é o anti-sionismo, agasalhado oficialmente pela esquerda comunista ocidental. No Brasil, introduziu-se em um estrato esquerdista-fundamentalista, ativo no PSTU e no PCO, assim como em tendências ultra-radicais do PT e do MST, onde uma esquerda monástica cumpre papel importante na conformação ideológica de uma revolução campesina e na hostilidade a tudo que representa (estou falando de estereótipo) o capitalismo que escraviza o Terceiro Mundo.

O anti-sionismo é uma fórmula excêntrica, presente nesses meios esquerdistas, como nos setores direitistas e integristas; e - é claro - um motivo preferencial, exaustivamente difundido pelos negacionistas. A fórmula é excêntrica pelas razões expostas com clareza e simplicidade por Yehuda Bauer[7], numa conferência feita nos EUA:
O conflito árabe-israelense, e agora a confrontação entre israelenses e palestinos, fornece amplo material para o anti-semitismo que se vê como anti-sionista e não antijudaico. Certamente, alguém pode ser anti-sionista sem ser anti-semita, mas somente se disser que todos os movimentos nacionais são malignos, e todos os estados nacionais devem ser abolidos. Mas, se alguém diz que o povo das Ilhas Fiji têm o direito de independência, e da mesma forma os malaios ou os bolivianos, mas os judeus não possuem tal direito, então esse alguém é anti-semita e na medida em que exclui os judeus por razões nacionalistas, é anti-semita e sobre ele recai uma forte suspeição de ser racista (Bauer, 2003:2).
A crença na ilegitimidade do Estado de Israel atualiza, no campo do discurso político radical, uma retórica agressiva e mistificatória quando se expressa por meio de seus representantes mais descontrolados. Nesses casos, reúne seu habitual panfletarismo com clichês que busca no negacionismo. Da fusão resultam acusações perturbadas, tais como as que financistas judeus levaram Hitler ao poder, que os sionistas foram aliados do nazismo ou que Göering era judeu.

Melanie Philips, em outro artigo, desta feita publicado no Daily Mail de Londres, em 22 de março de 2003, procurou penetrar mais fundo na caracterização do novo anti-semitismo que se vê legitimado por ser anti-sionista. Para ela, tal fenômeno tem relação com a mentalidade política européia com respeito a Israel:
A Europa estava aguardando, por mais de meio século, um modo de culpar os judeus por sua própria destruição. Assim, ao invés de soar o alarme devido ao ódio genocida islâmico contra os judeus, os europeus têm avidamente adotado a nazificação dos judeus, um processo que de fato teve início com a desastrosa invasão israelense do Líbano, em 1982. Esse fato marcou o início de uma sistemática inversão que faz da autodefesa de Israel uma agressão, juntamente com critérios duplos e fabricações maliciosas que nada têm a ver com a legítima (e necessária) crítica à Israel e tudo a ver com a deslegitimação do estado judeu, juntamente com a disposição pelos seu desmantelamento (Philips, 2003).
Nada, no caso desse anti-semitismo de rejeição à existência de Israel pode ser confundido, como salientaram Bauer e Philips com algum tipo de crítica às políticas israelenses. Essa é outra confusão maliciosa, constantemente reiterada por anti-semitas. A malícia chega a ser grosseira porque uma rápida observação revela que a idéia de anti-sionismo não tem equivalente histórico, especialmente depois da era colonial. Ele não expressa um sentimento contra determinadas práticas ou políticas ou mesmo quanto à hegemonia de um país. Ele em nada é semelhante ao sentimento anti-americano, por exemplo. Você pode ser anti-americano por alguma razão, mas você não pensa que a existência dos EUA é ilegítima. Pessoas podem ter idéias contrárias, fundamentadas ou não, sobre as políticas de qualquer país. Mas não são idéias sobre a legitimidade da existência desse país, seja lá qual for. Ninguém jamais lançou dúvidas sobre a legitimidade da existência da Alemanha ou de Bengaladesh ou de qualquer outra nação.

A exceção é o anti-sionismo, que é permeado pelo preconceito anti-semita. Como tal, suas críticas a Israel são sempre existencialmente comprometidas, ou seja, sempre estão agregadas à agenda da ilegitimidade sionista. Idéia que combina traços de psicopolítica do ódio e conspiranóia, expressões que se aplicam ao anti-semitismo concentrado na rejeição a um estado judeu. Por ser uma deformação ideológica, explica-se porque, entre os disparates já citados e outros, os praticantes desse anti-semitismo de Estado, chegam a acusar os judeus de anti-semitas, de nazistas e a propor comparações paranóides entre a situação atual dos palestinos e a situação dos judeus europeus durante a 2ª Guerra.

Uma característica comum ao negacionismo e ao anti-semitismo de Estado é o uso da malícia semântica. Os judeus são acusados de semitas anti-semitas (sic) porque os palestinos também são semitas (sic) e os territórios palestinos estão ocupados militarmente por judeus. A imagem produzida não poderia ser mais repugnante: judeus oprimindo semitas, como os nazistas faziam.

O sofisma é duplamente pervertido, por causa da sua premissa (pois não há semitas) e da sua desconexa conclusão, segundo a qual os sionistas agem, com relação aos palestinos, como os nazistas. Quando nos defrontamos com esse tipo de insanidade, lembro que fazer ou falar uma bobagem é muito mais fácil do que desfazê-la ou desmenti-la. Assim, tentemos desmontar essa confusão elaborada por propagandistas profissionais.

Os territórios palestinos realmente estão ocupados desde 1967, mas isto não faz dos israelenses anti-semitas e, muito menos, permite que sejam comparados a nazistas, ou pior, ligados a nazistas. A ocupação tem uma história, está inserida num contexto de disputa e não será definitiva; mais ainda: os direitos nacionais do povo palestino à autodeterminação são reconhecidos por todos, inclusive por Israel. O problema é, no entanto, gravíssimo. Ele diz respeito aos israelenses e aos palestinos, além de regionalmente envolver jordanianos, egípcios, sírios e libaneses, assim como as potências internacionais.

De todo modo, só quem não sabe o que foi o nazismo ou o que foi o Holocausto é capaz de comparar a ocupação israelense às ocupações da Alemanha nazista dos territórios que dominou. Para se ter a medida desta comparação, basta constatar que se trata, mais uma vez, de uma comparação em isolamento. Ninguém chama os chineses de nazistas por terem anexado o Tibet, ou os ingleses por ocuparem a Irlanda do Norte, ou os russos porque ocupam a Chechênia, ou os espanhóis porque não concedem autodeterminação aos bascos, ou os turcos por abafarem as pretensões nacionalistas dos curdos, ou os sírios, por ocuparem militarmente parte do território libanês.

Da mesma forma, é absurda a alegação de que judeus sionistas oprimem um povo semita (os palestinos). Do ponto de vista social, cultural ou político, o termo semita não tem sentido, pois não há semitas, a não ser que se deseje discutir lingüística, porque a língua árabe e a língua hebraica (próximas entre si como o francês e o português), pertencem ao mesmo tronco. Nesse sentido - o único coerente-, ser semita é como ser falante de uma língua que pertence a um mesmo tronco lingüístico. Seria o mesmo que ser anti-latinista ou anti-swaili.

O anti-semitismo é um preconceito e o que define o termo o é o seu uso social, político e cultural. "'Anti-semitismo' representa o ressentimento contra os judeus.e refere-se à concepção dos judeus como um grupo estranho, hostil e indesejável e às práticas que derivam dessa concepção e a sustentam" (Bauman, 1988:54).

Anti-semitismo é sinônimo de antijudaísmo. Utilizá-lo em qualquer outro sentido é fazer o jogo de palavras dos anti-semitas, que acusam os judeus enquanto povo ou os sionistas (isoladamente há obviamente indivíduos judeus anti-semitas e anti-sionistas) de anti-semitismo. Na época em que foi concebido, o termo "anti-semita" foi circunscrito pela especificidade anti-judaica, como Bauer elucida:
O termo "anti-semitismo" é, como muitos de nós percebemos, o termo errado para aquilo que tentamos descrever e analisar. Ele foi cunhado, paradoxalmente, por um anti-semita, Wilhelm Marr, em 1879, porque ele necessitava de um novo termo para [designar] o ódio aos judeus. O antigo, Judenhass, era identificado como um termo de apelo cristão, basicamente teológico, e Marr era anticristão, porque o cristianismo fora, e nisso ele estava correto, uma invenção judaica. O novo termo soava científico, não mencionava judeus, mas todos sabiam o que ele significava e a quem era dirigido: ele descrevia um fenômeno recentemente desenvolvido, de abordagem nacionalista e bio-racial. Anti-semitismo, especialmente tal como pronunciado, é um absurdo vazio, porque não existe semitismo contra o qual você possa ser. Existem linguagens semíticas e dificilmente você pode ser contra linguagens semíticas. Passamos a usar "anti-semitismo" para descrever a aversão aos judeus desde os dias de Manetho, o sacerdote egípcio de cerca de 300 A.C., cujos comentários sobre os judeus formavam uma combinação de desprezo e ódio, provavelmente motivado pelo assentamento dos judeus em Alexandria. Não há diferenciação no [uso do] termo anti-semitismo, entre um ódio leve, moderado ou radical contra os judeus, ou um fenômeno que pode ser facilmente explicado por uma aversão geral a estrangeiros ou ainda um ódio ou aversão concentrados nos judeus.

O termo é apropriado apenas ao ódio aos judeus לאשי תאנש, desde aproximadamente a metade do século XIX. Mesmo então, a mistura da oposição cristã e muçulmana aos judeus, da inveja econômica e à competitividade tradicional e dos motivos bio-raciais e nacionalistas ideológicos, torna difícil incluir tudo isso nesse termo essencialmente errôneo. Ele traz confusão a programas de pesquisa, assim como interfere com objetivos de diferenciação. De qualquer modo, todos o usamos, simplesmente porque não elaboramos uma terminologia apropriada. Assim, mesmo sabendo que estamos falando de um absurdo quando usamos o termo, que o usemos, faute de mieux. (Bauer, 2003:1).
O anti-semitismo é um fenômeno da modernidade e tal como é hoje praticado, expressa confusa e cumulativamente tanto o antigo ódio ou desprezo aos judeus como o preconceito que deixou de ser motivado por uma apologética religiosa e entrou para a política por meio de uma modalidade "científica". O jargão negacionista e anti-semita reproduz intencionalmente atavismos discriminatórios e faz uso de simulações semânticas esdrúxulas, que servem a extremistas, de direita e de esquerda. Como propaganda continua alimentando uma retórica que se mostra especialmente exacerbada e fantasiosa junto aos grupos radicais e fundamentalistas, desde o Irã até os conhecidos Hamas, Hezbolá e Jihad Islâmica[8].

O anti-sionismo é uma heterofobia de Estado, movido pela crença na ilegitimidade de Israel, que assim personifica um judeu coletivo. Esse desvio de compreensão política se faz ouvir por vozes de intelectuais de uma esquerda supersticiosa e por seu chamado jornalismo de tendência – o melhor exemplo, no Brasil é a revista Caros Amigos; e quando não é insinuado, é defendido abertamente por uma intelectualidade orgânica ligada a esta esquerda emburrada (nos dois sentidos), que se imagina fortalecida, quando, em verdade, mostra apenas que está empanturrada do velho e pernicioso anti-semitismo.
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[1] Bartov refere-se ao testemunho de David Wodowinski, no julgamento de Adolf Eichmann, registrado na página 1117 da coletânea The Attorney General against Adolf Eichmann:Testimonies, vol. 2 (Jerusalem, 1974- hebraico), citado no livro de D. Michman, The Holocaust and Holocaust Research: Conceptualization, Terminology and Basic Issues, Tel Aviv, 1998, p. 232. Kadish é o nome da prece dedicada aos mortos, na religião judaica.

[2] Sobre os mischlinge, Ver Raul Hilberg, The Destruction of the Eurupean Jews, New-York – London, Holmes and Meyer, 1985 e mais detalhadamente, Bryan Mark Rigg, Os soldados judeus de Hitler, Imago, Rio de Janeiro, 2003.

[3] Foram mortos cerca de 18 milhões de civis europeus durante a guerra. Um em cada três era judeu.Para detalhes sobre o número de vítimas e sobre como se processou o Holocausto desde o início da guerra, cf. Raul Hilberg, op. cit. e Yehuda Bauer, A History of the Holocaust, New York, Franklin Wats, 1982.

[4] A documentação da hecatombe é vasta, bem como o testemunho de sobreviventes e de agentes do extermínio. Algumas das obras mais importantes da histografia crítica sobre o assunto estão referidas na bibliografia que acompanha os ensaios dessa coletânea.

[5] Para maiores detalhes da reunião, ver Mark Roseman, Os Nazistas e a Solução Final. A conspiração de Wanssee: do assassinato em massa ao genocídio, RJ, Jorge Zahar, 2002.

[6] Cf. Zygmunt Bauman, A Modernidade e o Holocausto, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 1998. pp. 57-82.

[7] Autor de uma vasta obra sobre o Holocausto e o anti-semitismo, Yehuda Bauer escreveu, entre outros, Antisemitism today: Myth and Reality. Jerusalem: Hebrew University. Institute of Contemporary Jewry, 1985; A history of the Holocaust. New York: Franklin Watts, 1982; Jews for sale?: Nazi-Jewish negotiations, 1933-1945. New Haven: Yale University Press, 1994 e Rethinking the Holocaust,New Haven, Yale University. 2001.

[8] Deve-se registrar que há intelectuais árabes e palestinos que sempre denunciaram o anti-semitismo e o negacionismo. Um dos mais conhecidos, Edward Said, faleceu em 2003. Quanto à incorporação ideológica do anti-semitismo no mundo árabe, cito dois exemplos: o primeiro em nível programático e o segundo em nível de mídia de massa. Em 19 de agosto de 2003, um dos líderes principais do Hamas, Abdal Aziz Al Rantizi, publicou o artigo "Qual é o pior - O Sionismo ou o Nazismo?", no seu site (www.rantisi.net ) no qual cita os negacionistas Roger Garaudy e David Irving para sustentar que o Holocausto não ocorreu e que os sionistas colaboraram com os nazistas. Segundo ele, financistas judeus e bancos sionistas ajudaram os nazistas a chegar ao poder com grandes contribuições em dinheiro. O objetivo dos sionistas era, segundo Rantizi, aterrorizar os judeus a ponto de fazê-los migrar para a Palestina. No segundo caso, Em 2002, uma série em 41 capítulos foi exibida na televisão egípcia, que apresentava como verdadeiros os Protocolos dos Sábios de Sião. A imprensa egípcia registrou protestos de alguns intelectuais egípcios contra a série, que alertavam para o uso político de uma fraude e de métodos de propaganda racista, ao mesmo tempo em que configurava um erro tático, pois o Egito mantêm relações com Israel, que embora congeladas, em virtude dos últimos dois anos de sangrento conflito entre israelenses e palestinos, esse país não rompeu nem pretende romper.

Fonte: Revista Espaço Acadêmico, Nº43, Dezembro de 2004, Mensal, ISSN 1519.6186
Autor: Luis Milman(Doutor em Filosofia, professor da UFRGS)

O Holocausto: verdade e preconceito - parte 3

Patologia reatualizada

Negar o Holocausto é impossível, embora os esforços da indústria negacionista que opera há 30 anos, metódica e regularmente, nos principais países do mundo. Mas não é apenas no negacionismo que se percebe o renascimento do anti-semitismo. O investimento simultâneo na humanização de Hitler (e de seu regime) e na satanização dos judeus são os extremos da heterofobia anti-semita. Entre tais extremos, há sentimentos mais ou menos intensos, que podem ir da antipatia à aversão, do embaraçado pré-conceito ao preconceito aberto, que não se restringem a fanáticos. Por isto a indústria da mentira gera frutos e não são poucas as pessoas que continuam acreditando que, de alguma forma, os judeus estão no centro causal dos problemas do mundo.

Também por isto, mais fortalecida fica a idéia anti-semita a ponto de ser integrada em programas políticos radicais, de direita, esquerda ou fundamentalistas religiosos, como de fato tem ocorrido na Europa, EUA, Argentina e Brasil, assim como na maior parte dos países do Leste Europeu e nas nações muçulmanas. Os negacionistas repetem que, na década de 40, a Alemanha foi levada à guerra pelos judeus; os campos de extermínio não existiram e o regime hitlerista jamais cometeu as atrocidades que lhe são atribuídas.

Para alguém razoavelmente esclarecido, tais argumentos não passam de chicana repulsiva, mas convém lembrar do alerta de Hannah Arendt: não é a estupidez da idéia ou a desfaçatez dos argumentos, mas sua existência política e o fato dela ser acreditada por muitos que deve nos preocupar. O anti-semitismo, em si mesmo, é um tipo de reducionismo persecutório e racista, mas isso não impediu que se estabilizasse como modalidade amplamente difundida de preconceito ou se materializasse na política, mesmo antes que qualquer coisa parecida com o Holocausto fosse sequer imaginada.

O anti-semita extrovertido e ideologicamente ativo crê na força persuasiva de uma aparição projetiva de sua ideologia. Aparição que usa para tentar convencer ou persuadir pela repetição. Nos anos 50, Hannah Arendt escreveu que o anti-semitismo era uma ofensa ao bom senso, devido à sua condição paradoxal de motivo mistificador insignificante em meio a tantas questões políticas vitais (Arendt: 1998:23). A constatação, sem dúvida válida também hoje, diz respeito a uma ideologia que depende exclusivamente da aparência que seus propagadores produzem, sejam eles demagogos simplesmente ou demagogos fanatizados, que crêem nas mentiras que divulgam. Os anti-semitas autênticos cristalizam a fraude como verdade e fazem dela um "pensamento estereotipado", que dá início à heterofobia ou antagonismo irracional, a que se referiram Marie Jahoda e Nathan W. Ackerman. (1969:26-7).

Por essas discrepâncias que existem na sociedade, muito se sabe e muito ainda se descobre sobre o Holocausto, ao nível da pesquisa sociológica, historiográfica e da reflexão filosófica. O assunto é muito investigado nas universidades e centros de pesquisa da Europa, EUA e Israel. Entretanto, as pessoas em geral são ignorantes sobre o tema, inclusive no meio universitário.

A indiferença intelectual e acadêmica quanto ao negacionismo e, pior, uma certa complacência desses meios com respeito a formas de anti-semitismo que freqüentam meios políticos mais à esquerda é sintomática. Há exceções, mas a regra é esta. Como conseqüência ainda que indireta desse desprezo e dessa complacência, atualmente não se estranha mais que, dependendo da situação e do lugar, não seja difícil dizer que os judeus desejam se apropriar da condição de vítimas do morticínio ou que o número de judeus assassinados é comparativamente exagerado quando confrontado com o número de vítimas das atrocidades cometidas pelos nazistas. Esse tipo de falsidade não é raro e, atualmente, tem sido requisitado por um cada vez mais aceitável anti-sionismo.
Assim, a singularidade do negacionismo reprisa a singularidade do anti-semitismo e se configura como um dogmatismo sociológico. Em vista da ignorância média das pessoas sobre o Holocausto, esse dogmatismo ocupa as margens da institucionalidade acadêmico-científica, como pretensa versão da História, reveladora de "questionamentos e fatos novos" e, desse modo, chega a ser vista como plausível por muitos, como demonstram o crescimento de uma direita radical na Europa e, obviamente, a sua recepção por setores ideologicamente extremistas de esquerda.

Melanie Philips, colunista do Daily Mail, em artigo publicado em 1988 no The Jewish Quarterly (citado por Zygmunt Bauman)[6], expressou o sentimento que recai sobre indivíduos que afirmam seu judaísmo nos meios políticos da esquerda atual, menos instruídos no que diz respeito à condição judaica e seus traços culturais ou nacionais: "Tenho grande prazer em dizer aos meus amigos e conhecidos socialistas" – afirmou ela – "que 'sou de uma minoria étnica' e vê-los se enrolando, histéricos. Como pode ser? Sou poderosa. E a impressão dos socialistas é de que os judeus estão em posição de poder. Eles estão no governo, não estão? Eles dirigem coisas, comandam a indústria, são proprietários de terras" (Phiilips, apud Bauman, 1998: 256, n. 12).

A impressão a que Melanie Philips se referia não é apenas de certos tipos de socialistas, ou de quem têm a tendência histórica de ver os judeus como estamento econômico. O sentimento possui características de um fenômeno multicausal, é socialmente espalhado e, em certa medida, chega a ser até "aceitável". Aqueles que sustentam a negação do Holocausto inegavelmente contam com a eficácia deste preconceito, ainda que subjacente e de difícil detecção, quando não estimulado por alguma ideologia específica.

Essa multicausalidade é própria da condição judaica na modernidade, que se revestiu de relevância política despropositada e assumiu contornos de estereótipo persistente, de uma nova tipologia de discriminação intelectual, ideológica e racial, ativa tanto à direita como à esquerda do espectro político, desde o século XIX.

Fonte: Revista Espaço Acadêmico, Nº43, Dezembro de 2004, Mensal, ISSN 1519.6186
Autor: Luis Milman(Doutor em Filosofia, professor da UFRGS)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

O Holocausto: verdade e preconceito - parte 2

O crime e a barbárie

No Julgamento de Nuremberg, (20 de novembro de 1945 a 01 de outubro de 1946), foi usado pela primeira vez, pela acusação, e consolidado pelas sentenças impostas aos hierarcas nazistas condenados, o termo "genocídio", cunhado pelo jurista polonês Raphael Lemkin, que morreu em 1959. Lemkin, judeu, na faixa dos 30 anos, fugiu da Polônia quando seu país foi ocupado, após combater na resistência polonesa durante seis meses.

Ferido, escapou para a Suécia, onde afirmou uma carreira universitária na área de direito e relações internacionais, iniciada ainda na Polônia. Em 1941, foi convidado a lecionar nos Estados Unidos, onde continuou a trabalhar em estudos sobre a tipificação jurídica e a responsabilização criminal de assassinatos em massa perpetrados por estados contra populações civis. Lemkin decidira, nos anos 30, estudar o assunto devido ao genocídio armênio. Por suas pesquisas, e então um respeitado jurista e professor da Duke University e da Yale University, foi designado conselheiro legal de Robert Jackson, Promotor-Chefe dos Estados Unidos, na Direção Para Persecução Criminal do Tribunal Militar de Nuremberg. Lemkin também teve participação destacada na redação da Convenção sobre Genocídio, aprovada pela Assembléia Geral da ONU, em 8 de dezembro de 1948, dois antes da aprovação da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Lemkin cunhou o termo "genocídio", num estudo realizado em 1943 e publicado como livro em 1944:
Novas concepções solicitam novos termos. Por "genocídio" queremos significar a destruição de uma nação ou de um grupo étnico. Essa nova palavra, cunhada pelo autor para denotar uma antiga prática em seu moderno desenvolvimento, é formada pela antiga palavra grega genos (raça, tribo) e a palavra latina cide (assassinato), assim correspondendo, em sua formação a palavras tais como tiranicídio, homicídio, infanticídio, etc. Falando genericamente, o genocídio não significa necessariamente a destruição imediata de uma nação, exceto quando acompanhada de assassinatos em massa de todos os membros de uma nação. Ela pretende antes significar um plano coordenado, com distintas ações, que possui a intenção de destruir as fundações essenciais da vida de grupos nacionais, com o propósito de aniquilação desses grupos. Os objetivos de um plano desse tipo seria a desintegração das instituições políticas e sociais, da cultura, da linguagem, dos sentimentos nacionais, da religião e da existência econômica de grupos nacionais, e a destruição a segurança pessoal, da liberdade, da saúde, da dignidade e mesmo da vida dos indivíduos que pertencem a tais grupos. O genocídio é direcionado contra o grupo nacional como entidade, e as ações envolvidas são dirigidas contra indivíduos, não em sua capacidade individual, mas enquanto membros de um grupo nacional (Lemkin, 1944:79).
O tribunal determinou que "os acusados conduziram um genocídio sistemático e deliberado – o extermínio de grupos raciais e nacionais - contra poloneses, populações civis de certos territórios ocupados, com o propósito da destruição de raças particulares e classes de pessoas e grupos nacionais, raciais ou religiosos, particularmente judeus, poloneses, ciganos e outros".

O termo cunhado por Lemkin foi, pela primeira vez, usado nessa sentença. Mas o que deve ser compreendido, para além dessa tipificação, são as características singulares do genocídio praticado contra os judeus. Para tanto, é fundamental fazer uma observação: o Holocausto não diz respeito apenas aos judeus. Ele é parte da história humana e seu incidência na história demanda uma capacidade de análise crítica sobre os alicerces da própria civilização moderna e seus valores.

O termo Holocausto traduz, por tradição, embora erroneamente, a palavra hebraica Shoah, (literalmente catástrofe ou hecatombe). Perceber as características singulares da Shoah e de suas conseqüências para a própria existência dos judeus como povo é uma coisa. Afirmar que os judeus foram as únicas vítimas de genocídio cometido pela Alemanha nazista não passa de uma infeliz fabulação e não sei de ninguém que tenha sustentado tamanho disparate. Não esqueçamos: houve genocídios anteriores, no século XX, praticados pelos curdos, persas e turcos contra os assírios (entre 1914 e 1918), pelos turcos contra os armênios (entre 1915 e 1923) e pelos belgas no Congo (entre 1885 e 1920), assim como matanças de ocupação, como a praticada por Mussolini na Etiópia.

Os nazistas tiveram predecessores, sem dúvida. Mas se especializaram nessa atrocidade, porque a tornaram essencial para sua geopolítica racial, fundamentada na agressão militar, numa obstinada determinação de eliminar um povo inteiro e na conquista e "arianização" territorial. Dizimaram massivamente, além de judeus, pessoas de "raças" que consideravam inferiores.

Quanto aos ciganos, a outra raça a ser eliminada da Europa, muito se tem estudado e pesquisado. Em Auschwitz-Birkenau havia três crematórios funcionando diariamente, capazes de incinerar 10 mil seres humanos por dia. Parte das vítimas entre os ciganos foi assassinada nesse campo de morte, outra parte em fuzilamentos, enforcamentos, e atrocidades, como as cometidas contra pessoas (crianças, sobretudo) transformadas em cobaias do staff da ciência médica do 3º Reich, em suas "pesquisas e experiências". Cerca de 250 a 500 mil ciganos foram mortos na Europa ocupada pelos nazistas.

Também os poloneses foram vítimas diferenciadas de extermínio. 4 milhões deles foram dizimados, a imensa maioria de civis. A intelectualidade polonesa foi exterminada, em assassinatos que se seguiram à ocupação do país, em campos de concentração e, depois, nos campos de morte, que começaram a operar na no final de 1941. Centenas de milhares morreram ao serem deslocados, quando seu país foi conquistado e dividido em duas partes - a ocidental, incorporada ao Reich, e a oriental, rebatizada como Governo Geral. A parte ocidental foi despolonizada, e destinada à colonização ariana. Poloneses do território incorporado ao Reich foram progressivamente transferidos para o Governo Geral, onde morreram aos milhares em condições sub-humanas.

Outros grupos humanos foram alvos dessas matanças de proporções inimagináveis. Milhares de Testemunhas de Jeová, por convicção ideológica, homossexuais, prisioneiros políticos e opositores do nazismo, doentes mentais. membros da resistência dos países ocupados; milhões de civis russos e ucranianos – afora os soldados em confrontos militares -, prisioneiros de guerra, em campos de trabalho e de extermínio, além de dezenas de milhares de sérvios, após a invasão da Iugoslávia.
Na Europa Ocidental, onde a ocupação alemã tinha características distintas, a política de extermínio foi praticada apenas contra os judeus e membros da resistência. A hecatombe provocada pelo nazismo - cujo único instrumento de ação política eram o terror e a matança -, sem dúvida, abalou os alicerces da humanidade. Na guerra do Pacífico, o expansionismo japonês foi marcado pela insanidade assassina, causando a morte de 15 milhões de chineses.

Singularidade

O que torna, afinal, o Holocausto, uma catástrofe singular. Responder a essa questão não é tarefa difícil, à primeira vista. No entanto, é preciso fixar limites para a compreensão da categoria da singularidade, quando aplicada a matanças em larga escala, dos quais os judeus, no século XX, não foram as únicas vítimas. Logo, singularidade se distingue de unicidade ou exclusividade. Armênios e assírios foram exterminados no início do século. Bósnios foram alvos de matança coletiva na década de 90. Tutsis de Ruanda e cristãos e animistas do Sudão, da mesma forma, foram exterminados aos milhões pela elite muçulmana sudanesa. O extermínio de chineses na era de Mao e de russos, ucranianos, georgeanos na era de Stalin são hoje suficientemente conhecidos.

É justamente nesse contexto que o genocídio judeu se singulariza. Primeiro, porque contra os judeus foram aplicados os métodos jamais imaginados de extermínio; segundo, porque os judeus foram destinados a desaparecer completamente como povo[4]; terceiro; porque contra os judeus, os nazistas travaram uma guerra racial, sem qualquer outro objetivo que não fosse o de exterminá-los completamente; quarto, porque nunca se configurou uma burocracia e uma indústria voltada para a matança de seres humanos tal como a construída pelos nazistas; quinto: não havia salvação dessa matança, que ocorreu em fases distintas e foi sendo paradoxalmente incrementada na medida em que os alemães percebiam que não tinham mais qualquer chance de vencer a guerra.

Em menos de quatro anos, quase 6 de cerca de 12 milhões de pessoas pertencentes a um grupo étnico-cultural simplesmente foram assassinadas em massa. 4.110 por dia, em média, sem distinção entre homens, mulheres, jovens crianças e velhos. Discute-se, entre historiadores, quando a eliminação total da população judaica foi decidida e tudo indica que Hitler e seus hierarcas tomaram essa decisão logo após a ocupação da Polônia. O genocídio foi iniciado na segunda metade de 1941 e sua implementação foi tema de deliberação específica, como demonstra o documento classificado como Geheime Reichssache (assunto secreto do Reich), descoberto por assistentes da Promotoria dos EUA, em março de 1947, e utilizado como prova nos julgamentos de criminosos de guerra que se seguiram ao Julgamento de Nuremberg, inclusive no julgamento de Adolf Eichmann.

O documento ficou conhecido como o "Protocolo de Wanssee" e integrava um conjunto de 18 atas (as demais 17 jamais foram recuperadas) lavradas durante uma reunião de 15 altos funcionários do Reich - entre eles Adolf Eichmann, que o secretariou - com Reinhard Heydrich, então o segundo em comando no Sicherheitspiolizei (RSHA - Serviço de Segurança Nacional) e também encarregado dos territórios tchecos ocupados. Heydrich só era subordinado a Heinrich Himmler, Chefe das SS (a Schutztaffel), que se reportava apenas a Hitler.

A reunião foi realizada em 20 de janeiro de 1942, num castelo às margens de um lago Wanssee, a sudoeste de Berlim[5]. O assunto: operacionalizar, em todos os níveis administrativos e logísticos, a solução final para a questão judaica, que já havia iniciado com a construção dos campos de extermínio em Chelmno e Belzec. Em Chelmno, em dezembro de 1941 foram mortos por gás os primeiros judeus. O genocídio tomaria as proporções que hoje conhecemos quando os alemães invadiram a União Soviética, com o propósito de varrer do mundo o bolchevismo e o judaísmo, que eles tinham como irmãos políticos.

Fonte: Revista Espaço Acadêmico, Nº43, Dezembro de 2004, Mensal, ISSN 1519.6186
Autor: Luis Milman(Doutor em Filosofia, professor da UFRGS)

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O Holocausto: verdade e preconceito - parte 1

Desde 15 de setembro de 1935, quando foram decretadas a Lei de Cidadania do Reich, a Lei de Proteção do Sangue e da Honra Alemãs e o Primeiro Regulamento para a Lei de Cidadania do Reich - este em 14 de novembro de 1935 (o conjunto dos três ficou conhecido como as Leis de Nuremberg)-, a condição judaica foi transformada numa sub-condição humana na Alemanha e os judeus foram desprovidos de qualquer vestígio de direitos civis. A definição de "judeu" consta do Primeiro Regulamento, Artigo V:

1. Um judeu é um indivíduo que descende de pelo menos três avós que eram judeus racialmente puros. O Artigo II, parágrafo, alínea linha 2 será aplicado. (Art. II, alínea 2: um indivíduo de sangue misto judeu é aquele que descende de um ou dois avós que eram judeus racialmente puros, mesmo que não seja um judeu de acordo com a seção 2 do Artigo V. Avós com 100 por cento de sangue judeu são aqueles que pertenciam a comunidade religiosa judaica).

2. Um judeu é também um indivíduo que descende de dois avós puramente judeus:

(a) se era membro de uma comunidade religiosa judaica quando esta lei foi editada, ou se integrou a uma, após a edição desta;

(b) quando a lei foi editada, era casado com uma pessoa judia ou foi subseqüentemente casada com um indivíduo judeu;

(c) é descendente de um casamento no qual um dos cônjuges é judeu, no sentido da seção 1, contraído após a entrada em vigor da Lei para Proteção do Sangue e da Honra Alemã, de 15 de setembro de 1935;

(d) é descendente de uma relação extraconjugal que envolveu um judeu, de acordo com a Seção 1, e nasceu ou é filho ilegítimo nascido depois de 31 de julho de 1936.
Não era possível a qualquer pessoa tipificada pelo regulamento, abdicar da sua condição judaica; por conseqüência, conversos ao cristianismo, que se enquadrassem na categoria regulamentar eram considerados judeus. Assim definidos pelos nazistas, inicialmente banidos da vida social e civil da Alemanha e depois dos territórios que caíram sob seu domínio ou influência, depois confinados e exterminados, não importava, se entre eles, houvesse quem se considerava ateu, agnóstico, protestante, católico, comunista, anarquista ou qualquer outra coisa. No livro Mirrors of destruction. War, Genocide and Modern Identity, o historiador Omer Bartov refere um dos inúmeros casos vividos por pessoas que retornaram, por imposição das Leis de Nuremberg, a uma condição judaica que lhes era estranha e distante antes da chegada de Hitler ao poder:

Bauchwitz, um prisioneiro do campo de trabalho de Stettin, fora batizado quando criança. Quando o comandante do campo decidiu enforcá-lo, ele exigiu ser executado por um pelotão de fuzilamento, em reconhecimento à sua condição de oficial alemão durante a 1ª Guerra, na qual recebeu a Cruz de Ferro de Primeira Classe. O comandante respondeu. "Para mim você é um judeu fedorento e será enforcado como tal". Ao ser colocado no patíbulo, Bauchwitz, pediu aos demais prisioneiros, "Se vou morrer como judeu, peço a vocês judeus que digam o Kadish depois de mim" (Bartov, 2000:144).[1]
Os nazistas enfrentaram problemas técnico-jurídicos com aqueles que tinham o status de "terceira-raça", os mischlinge, muitos dos quais pertenciam a uma '"primeira classe" e estavam integrados a famílias alemãs "puras", logo pretendiam ser quase arianos. Houve doze decretos posteriores editados para tratar desse assunto - objeto de discussão também em Wannsee (ver abaixo), nos quais foram introduzidas as categorias de mischlinge de ordem 1 (descendentes de um avô judeu) e 2 (descendente de dois avós judeus, não pertencente à religião judaica e não casado com um judeu até 15 de setembro de 1935). Para a quase totalidade desta terceira raça, a solução foi o isolamento civil, depois o aprisionamento em asilos e, ao fim a deportação e o extermínio. Houve milhares de mischilinge, por decretos conhecidos como normas de libertação, que foram arianizados e alguns chegaram mesmo a exercer cargos na alta burocracia nazista, além de milhares terem servido no exército e mesmo nas SS.[2]

Agora passemos aos números. Há um certo momento em que a discussão sobre o Holocausto é colocada em escala numérica. A primeira constatação a ser feita sobre esse tipo de parâmetro analítico é que não há um número exato de vítimas, e a razão para tanto é simples: o genocídio foi praticado em escala total. Jamais houve condições para estabelecer um número definitivo porque é impossível identificar individualmente todas as vítimas do Holocausto. A metodologia de escala, pode, por isso, oscilar. O número levado ao tribunal de Nuremberg foi de 6 milhões de judeus. Mas, depois de iniciado com políticas de segregação e isolamento, a matança fez, segundo as menores estimativas, com que entre 5,1 e 5,7 milhões de judeus fossem dizimados na Europa. Destes, foram exterminados em "campos de morte" entre 2,7 e 3 milhões (1 milhão em Auschwitz-Birkenau, entre 750 mil a 800 em Treblinka, 550 mil em Belzec, 200 a 300 mil em Sobibor, 150 mil em Kulmhof e 50 mil em Lublin); 150 a 200 mil em campos de trânsito ou de concentração (trabalho escravo) e 150 mil em campos na Romênia e na Croácia; cerca de 1 milhão e 300 mil, em matanças executadas por "tropas especiais" e aproximadamente 800 mil assassinados por isolamento (fome e doenças) em guetos. Em 1939, por exemplo, havia cerca de 3 milhões de judeus na Polônia. Depois de 1945, restaram alguns milhares de sobreviventes.

Em pouco menos de 4 anos, foi assassinada metade dos judeus europeus e mais de um terço de toda população judaica mundial na época[3]. Jamais houve um genocídio deliberada e calculadamente executado de um povo como o que foi praticado contra os judeus europeus. Obviamente, nessa compreensão em escala da II Guerra, é preciso acautelar-se quanto a comparações entre o número de judeus exterminados e o total das vítimas da guerra. 50 milhões de pessoas, entre civis e combatentes, forma mortos durante o conflito, número por si mesmo suficientemente estonteante. Mas apenas os judeus e os ciganos (em escala comparativamente menor) - cerca de 10 por cento deste total-, foram assassinados por uma política genocida. Por si só é trágico constar que cerca de 20 milhões de russos, bielo-russos e ucranianos foram mortos no enfrentamento e em massacres cometidos pelos nazistas. Somente uma viseira ideológica pode fazer com que alguém desconheça a proporção dessa catástrofe e as marcas que ela deixou nesses povos. Assim, é preciso estar atento para revisionismos inocentes, matizados por motivações distintas, que incidem sobre uma matéria carregada de sofrimento humano, para a qual a precisão e o senso de moralidade são, antes de qualquer coisa, impositivos.

Fonte: Revista Espaço Acadêmico, Nº43, Dezembro de 2004, Mensal, ISSN 1519.6186
Autor: Luis Milman(Doutor em Filosofia, professor da UFRGS)

terça-feira, 1 de abril de 2008

Presidente da FIA Max Mosley envolvido em orgia nazista

Detalhes do escândalo sexual de Mosley. Jornal britânico publica entrevista com garota que teria participado de orgia
GLOBOESPORTE.COM Rio de Janeiro

Max Mosley: alvo de tablóide britânico

O jornal britânico "News of The World" deste domingo põe mais lenha na fogueira do escândalo sexual que envolve o presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Max Mosley. Em entrevista, uma garota de programa conta detalhes sobre a suposta orgia com temática nazistas, revelada pelo próprio jornal na semana passada e que está botando em risco o cargo de Mosley.

- Mosley gravou tudo com uma câmera para poder desfrutar mais tarde - diz a garota.

Ela rebateu a versão de Mosley, que admite ter participado do ato, mas nega qualquer motivação nazista. Segundo a garota, o chefão da FIA pediu para que ela ficasse vestida com um uniforme militar e que lhe desse ordens. Depois, pediu para ser chicoteado até sangrar. Em outro momento, Mosley teria invertido os papéis e começou a dar ordens em alemão ou inglês, fingindo inspecionar presas em um campo de concentração.

A garota conta ainda que a orgia teria sido organizada a pedido de Mosley por uma garota de apelido "Mistress Switch", encarregada de montar a cena nazista. Os uniformes teriam sido comprados em uma loja onde são vendidos excedentes de produção do exército alemão.

- Me disseram que boa parte das conversas seria em alemão e que eu não entenderia nada. E falaram que haveria temática nazista, inspeções corporais humilhantes, brutalidade e duas garotas vestidas como prisioneiras de um campo de concentração - diz ela ao jornal.

Segundo ela, Mosley teria pago 2.500 libras pela orgia - o equivalente a R$ 8,5 mil.

O jornal informou também que enviará para a Fia o material bruto com a suposta orgia: cinco horas de vídeos com Mosley e as garotas de programa.

Fonte: Globoesporte.com
http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Motor/0,,MUL389740-1311,00-DETALHES+DO+ESCANDALO+SEXUAL+DE+MOSLEY.html

Ver mais:
Presidente da FIA admite participar de práticas sadomasoquistas há 45 anos (Globoesporte.com)
Serviço secreto britânico teria armado escândalo sexual de Max Mosley (Globoesporte.com)

Associações britânicas de judeus protestam contra 'orgia nazista' de Max Mosley

(AFP) – 31/03/2008

LONDRES (AFP) — Associações britânicas de judeus se mostraram indignadas, nesta segunda-feira, com a difusão de um vídeo que mostra o presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Max Mosley, durante uma sessão de sexo sadomasoquista que evoca um campo de concentração nazista.

O tablóide 'News of the World' publicou no domingo fotografias de um vídeo no qual Mosley aparece em uma sessão sadomasoquista em Londres, na companhia de cinco mulheres que aparecem vestidas com uniformes de prisioneiras.

Seguno o jornal 'Times', que cita uma "orgia nazista", Mosley fala em alemão no vídeo e assume o papel de guarda de um campo de concentração.

"É um insulto a milhões de vítimas, de sobreviventes, assim como a suas famílias. Teria que pedir perdão. Teria que renunciar", afirma o Centro do Holocausto.

No 'Times', Karen Pollock, diretora geral do Holocaust Educational Trust, qualificou o assunto como "depravado".

"Se alguém tivesse me contado isto sem provas, eu custaria a acreditar", reconheceu o chefão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone.

"É um comportamento nocivo. É incrível, especialmente quando se conhece sua história familiar", declarou à AFP Edie Friedman, diretora do Jewish Council for Racial Equality.

Max Mosley é filho de Oswald Mosley, fundador da British Union of Fascists (BUF) e líder dos 'camisas-negras' britânicos nos anos 30. Os pais do presidente da FIA se casaram em 1936 na casa do dirigente nazista Joseph Goebbels.

Segundo o jornal, Mosley estuda apresentar uma denúncia contra o 'News of the World' por violação de sua vida privada.

Fonte: AFP
http://afp.google.com/article/ALeqM5iyFTeDk_Lbz9MADqlGRHp8hZVQ6g

A História do "revisionismo" do Holocausto

Todos os links:

A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 1
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/o-que-e-quem-est-por-trs-do.html
A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 2
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/o-qu-e-quem-est-por-trs-do-revisionismo.html
A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 3
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/histria-do-revsionismo-do-holocausto.html
A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 4
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/histria-do-revisionismo-do-holocausto.html
A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 5
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/histria-do-revisionismo-do-holocausto_28.html
A História do "revisionismo" do Holocausto - parte 6
http://holocausto-doc.blogspot.com/2008/03/histria-do-revisionismo-do-holocausto_29.html

LinkWithin

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