terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Correção na parte de filmes sobre o Holocausto (filmografia)

Correção: só um aviso, já que passou desapercebido a listagem desse filme junto com os outros na seção sobre filmes sobre o Holocausto, nazismo etc. Página: Filmes - Holocausto - Nazismo - Fascismo - Segunda Guerra.

O filme "Ilsa", com o título original em inglês "Ilsa: She-Wolf of the SS", não é um filme histórico, trata-se de um filme "Nazi exploitation", um "gênero" de filme erótico muito comum nos anos 70.

Título no Brasil: Ilsa
Titulo Original: Ilsa: She-Wolf of the SS
País: EUA
Ano: 1974
Diretor: Don Edmonds

Por engano, ao colocar o nome de vários filmes de uma vez não chequei este, creio que pela associação óbvia do nome do filme com essa nazi conhecida (Ilse Koch) e também porque só fui ver do que se trata o filme bem depois da listagem dos filmes mas não me lembrava de que o mesmo estava listado. Não foi algo que passou batido só comigo, muita gente lê a listagem de filmes e não comentou sobre esse filme na lista pois a parte de comentários serve para isto (se tivessem visto ou notado, poderiam ter comentado, mas isso não aconteceu).

De qualquer forma, peço desculpas pelo engano. Como não há uma atualização da página de filmes há muito tempo, quando passei uma vista nesta página novamente, acabei tomando um susto com a presença desse filme na lista.

O nome filme será removido depois da Página com uma atualização, colocando no lugar o filme francês chamado 'La Rafle' (título original) que no Brasil saiu com o título de 'Amor e Ódio', sobre a deportação dos judeus franceses na França ocupada pela Alemanha nazi, na visão dos franceses.

Trailer do filme: Amor e Ódio (La Rafle), legendado

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 02

3. A Ideologia do Branqueamento no Meio Negro

3.1. O branqueamento de ordem moral e/ou social

É plausível assinalar que o ideal de branqueamento entrou na ofensiva em São Paulo no início do século XX, sendo desenvolvido intensamente pelos publicistas e alcançando, entre outras coisas, penetração no meio negro. Como assinalamos anteriormente, neste instante analisaremos a dimensão ideológica do branqueamento.

Para legitimar sua dominação, parafraseando Karl Marx, a "raça branca" precisa que as demais raças e grupos étnicos, inclusive os negros, assimilem seus valores e passem a se comportar, pensar, sentir e agir conforme sua ideologia racial.5 Por isso, a hipótese desenvolvida no curso deste artigo é a seguinte: uma fração da população negra em São Paulo no início do século XX aceitou conceber-se nos moldes impostos pela ideologia racial da elite branca, uma vez que avaliavam, em larga escala, o processo de branqueamento como fenômeno natural e inevitável. A análise de uma das principais lideranças da comunidade negra da época é sintomática:
Até é lícito afirmar se há em São Paulo, muito mais acentuada que no resto do Brasil, uma ideologia no tocante à população escura, preta; [...] a tendência é, por conseguinte, a branquificação, fato não só histórico como biológico, concorde ao comportamento tradicional da sociedade brasileira. Há, portanto, um entendimento tácito, de absorção das pequenas minorias raciais e de, por meio de cruzamentos até estimulados, diluir o sangue negro. Em pouco mais de dois séculos, talvez, esteja concluído o processo assimilador [...]. (Raul Joviano do Amaral, O Negro na População de São Paulo apud Fernandes, 1978: 112)

Investigaremos de que maneira tais negros, em vez de despirem o caráter racista desta ideologia, passaram a propagá-la no interior da própria comunidade.

O branqueamento moral e/ou social estava fundado na aquisição ou assimilação6 pelo negro de atitudes e comportamentos presumivelmente "positivos" do branco. Para conquistar a "Segunda Abolição", por exemplo, um articulista — que se apresentava como antigo militante negro — escreveu um artigo no jornal da "imprensa branca",7 apregoando a necessidade de os negros se espelharem nas ações políticas dos brancos:
Seguir os brancos nas suas conquistas e iniciativas felizes [...] será o marco inicial da segunda redempção dos negros [...].
Salientamos que a sua liberdade não foram elles [negros] que conseguiram. As tentativas que emprehenderam mallograram desastrosamente. E da mão do branco que odiavam receberam a liberdade dos seus sonhos! (Folha da Manhã, São Paulo, 12/1/1930).

Segundo o autor deste artigo, o negro não tinha personalidade própria, era incapaz de forjar um projeto político e ideológico alternativo. Daí a necessidade da adoção do estilo de vida do branco, acompanhado de sua maneira de ser, estar e ver o mundo. Mais: o negro devia seguir todas as normas do código de conduta moral do "branco".

O patrulhamento da comunidade era permanente. Em "Carta Aberta" publicada no jornal da "imprensa negra",8 Alfinete (12/10/1918), este era o tom:
O Salão Lyra — Ah! diariamente realisam-se bailes de maxixe que na maioria dançam mulheres brancas, que não se deixam de compartilhar as nossas patricias a nossa vergonha, e, a nossa raça ficar completamente desmoralisada.
Não se deve frequentar o celebre salão Lyra.
A nossa raça deve procurar outra convivência...

No início do século XX, os "freges" eram bailes públicos que reuniam a "escória" da sociedade: negros e brancos das camadas populares, vadios, gatunos, prostitutas, cáftens. Eram espécies de gafieiras, das quais se destacava o Bando Prêto, onde predominava o maxixe.9 O casal dançava agarrado, rebolando, em movimentos sensuais, ritmados ao som da música. Nos "freges" quebravam-se as normas sociais do "bom tom". A bebida, a licenciosidade, o despudor, a descontração e libertinagem reinavam. Daí a veemência com que estes bailes eram reprovados.

Na ótica dos negros branqueados social e moralmente, o salão Lyra era um desses antros de depravação na cidade, devendo ser evitado pelas mulheres negras: "a nossa raça deve procurar outra convivência...". Elas deviam se recusar a freqüentar espaços cujos bailes executavam músicas de "preto", como o maxixe. Quem não obedecesse, seria severamente punido: "Foram eliminadas deste Centro, as Senhoritas Benedicta Vasconcellos e Bicota, por frequentarem os bailes publicos de maxixe, no Colombo" (O Alfinete, 9/3/1919).

O Centro Recreativo Smart (uma associação recreativa negra) aplicava sanções rigorosas para quem não cumprisse o estatuto do clube. Pelo simples fato de terem freqüentado bailes que executavam músicas de "preto", essas mulheres foram expulsas da entidade. Os bailes públicos de maxixe eram considerados incompatíveis com os ditames do puritanismo da elite negra.10 Os ataques eram impiedosos com:
[...] as negras sem-vergonhas que fazem ponto nos quatro cantos entre as ruas Silva Pinto da Graça e Três Rios, embriagam-se e depois fazem uma algazarra do diabo, tudo por causa de macho. Criam vergonha, suas negras sem cabellos. (A Sentinella, 10/10/1920)

Desta vez, a ira voltava-se para as "damas" que no carnaval vestiam-se de mulheres de apaches:
Echos do carnaval. Moças que se fantasiam de mulheres de apaches.
Apaches é um individuo vagabundo e ladrão, que vive nas tabernas, premeditando assaltos e crimes.
Que serão as mulheres dos apaches? Nada mais nem nada menos do que uma desgraçada rameira e ladra que só serve para vergonha da cidade em que habita.
Estou certo que esse meu appello, ha de ficar gravado no coração dos paes de muitas moças e meninas, jamais permittindo que as suas filhas ou parentes, enverguem essas fantasias, que muito depõem contra nosso meio social. (Horacio da Cunha, O Alfinete, 9/3/1919)

Em Paris, apache era a patuléia, um indivíduo perigoso e cruel, explorador de mulheres; malfeitor, ladrão. E como os negros da elite se espelhavam nos centros culturais da civilização européia, sobretudo a França, compreende-se o preconceito "anti-apacheano". Apesar de ser uma simples fantasia e fazer parte das festividades carnavalescas, não se admitia que mulher negra assumisse um personagem que, no plano simbólico, subvertia a moral branca.

As ofensivas moralistas se dirigiam, da mesma maneira, às manifestações musicais genuinamente negras, como o samba:
O negro ainda conserva a dança característica de rythmos grotescos e barbaros, que nos foram transmitidos pelos africanos ao som dos "batuques", "quigengues" e "pandeiros", instrumentos de sonoridades insípidas, mas bem rythmadas, que os fazem pular, voltear, numa sensualidade selvagem, verdadeiramente africana. E assim atravessam uma noite toda ao clarão de uma fogueira, que ao amanhecer só resta braseiro e cinza. (O Patrocínio, 19/10/1930, Piracicaba)

O artigo emprega definições extremamente pejorativas para caracterizar ritmos e dança de "preto": "grotescos", "bárbaros", "selvagens" etc. Negava-se tudo que tivesse referência ao mundo negro: forma de andar, falar, dançar, gingar, forma de se vestir, cabelo, tradições culturais e religiosas.11 O repúdio a tais valores culturais era, provavelmente, um recurso de diferenciação social da plebe negra.

Ao assimilarem os valores sociais e/ou morais da ideologia do branqueamento, alguns negros avaliavam-se pelas representações negativas construídas pelos brancos. Era necessário ser um "negro da essencia da brancura".12 Por isso, desenvolveram um terrível preconceito em relação às raízes da negritude. Aliás, a recusa da herança cultural africana e o isolamento do convívio social com os negros da "plebe" eram duas marcas distintivas dos negros "branqueados socialmente":
Parece incrível [...] que possa existir pessoas que, não obstante ser de origem Africana, julgam-se Franceza: como acontece com a Senhorita A. C. da Rua dos Gusmões, que apezar de não pertencer a raça Caucasiana julga-se branca, e escurece os pretos. (O Alfinete, 22/9/1918)

Os ataques, agora, eram desferidos contra o consumo de álcool:
Li há dias num jornal de Sorocaba que uma sociedade recreativa d'aquela cidade deliberou, em reunião, abolir o uso de bebidas alcoolicas por occasião de suas festas, permittindo tão somente o uso das bebidas sem alcool, como sejam: Nectar, Sisi, Gazosa e etc.
Abolindo o alcool do seio das nossas sociedades, e mesmo das mezas do nosso lares, muito conseguiremos em favor da nossa classe de côr.
Creio não haver nisto offensa alguma, pois, simplesmente o ideal de quem estas linhas subscreve, é ver os seus irmãos no lado d'aquelles que sabem presar a sua côr, amar a virtude e despresar o vício.13

Para se afirmar nos valores considerados nobres pela sociedade inclusiva, o negro não devia ingerir bebida alcóolica, assim como não devia jogar, drogar-se, freqüentar o ambiente da malandragem. Pelo contrário, devia defender sem tréguas a moral e os bons costumes da classe dominante, ser religiosamente católico, honrado, regrado e cumpridor de seus deveres. Condenava-se a boêmia, a prostituição, as religiões de matriz africana, a prática da capoeira, o samba, enfim, o negro devia possuir um comportamento puritano.

É importante salientar que todas as prédicas moralistas supracitadas neste tópico foram extraídas dos jornais da denominada "imprensa negra". Pelo prisma de Roger Bastide, a imprensa negra vai ser no Brasil o principal instrumento do puritanismo "preto":
Os sociólogos norte-americanos estudaram muito bem esse puritanismo nos Estados Unidos; viram nele o sinal da ascensão racial, a característica da formação de uma classe média, a linha de separação da plebe de cor, preguiçosa, alcoolizada, supersticiosa, imoral e da aristocracia da raça, instruída, trabalhadeira, vivendo na dignidade e na respeitabilidade. Fenômeno análogo produz-se no Brasil. (Bastide, 1951:71)

Continuando amparados nas reflexões de Roger Bastide, constatamos que o puritanismo se apresenta, antes de mais nada, nas manifestações exteriores da etiqueta burguesa. Historicamente, o comportamento puritano está vinculado ao desenvolvimento da burguesia e sua adoção tornou-se um critério de ingresso dos indivíduos na pequeno-burguesia (ibidem:72). O puritanismo, aliás, praticamente passou a definir o estilo de vida da pequeno-burguesia. Por isso, a fração mais elitizada dos negros paulistas o incorporou com tanta veemência ao seu estilo de vida. O puritanismo da elite negra paulista, reiteramos, foi um mecanismo sobretudo de distinção social, que é típico de grupos em ascensão.

Por sinal, o discurso puritano não era uma característica exclusiva da imprensa negra na época.14 Perpassava, outrossim, pela imprensa alternativa dos anarquistas e das "colônias" étnicas radicadas em São Paulo. Tanto nas associações culturais e recreativas negras quantos nas anarco-sindicalistas e dos imigrantes, a moralização dos costumes, a valorização da educação, o combate ao alcoolismo, o controle do comportamento dos indivíduos, estendia-se das páginas dos jornais até os bailes.15

3.2. Branqueamento estético

A carga ideológica do branqueamento se expressava totalmente no terreno estético. O modelo branco de beleza, considerado padrão, pautava o comportamento e a atitude de muitos negros assimilados.16 Coletamos alguns anúncios e depoimentos que mostravam o desejo do negro de eliminar seus traços negróides, a fim de se aproximar, no plano das aparências, ao branco (nariz afilado, cabelos lisos, lábios finos, cútis clara).

Um exemplo do "branqueamento estético" foram as consecutivas inserções publicitárias nos jornais, tanto da "imprensa negra" quanto da "imprensa branca". Voltado para atender às vontades dos consumidores negros, o enfoque era sempre o mesmo:
Uma invenção maravilhosa!...
"O cabelisador". Alisa o cabello o mais crespo sem dôr.
Uma causa que até agora parecia impossível e que constituia o sonho dourado de milhares de pessoas, já é hoje uma realidade irrefutavel.
Quem teria jamais imaginado que seria possivel alisar o cabello, por mais crespo que fosse, tornando-o comprido e sedoso?
Graças á maravilhosa invenção do nosso "CABELISADOR", consegue-se, em conjuncto com duas "Pastas Mágicas", alisar todo e qualquer cabello, por muito crespo que seja.
Com o uso deste maravilhoso instrumento, os cabellos não só ficam infallivelmente lisos, mas tambem mais compridos.
Quem não prefere ter uma cabelleira lisa, sedosa e bonita em vez de cabellos curtos e crespos? Qual a pessoa que não quer ser elegante e moderna?
Pois o nosso "Cabelisador" alisa o cabello o mais crespo sem dôr. (O Clarim D'Alvorada, São Paulo, 9/6/1929:1)

O alisamento significaria a felicidade do negro, a realização de seu sonho mais profundo; seria a porta de entrada ao mundo moderno de pessoas elegantes. Daí a adjetivação contundente da invenção: "maravilhosa!...".

Depois de um ano, este anúncio permanecia sendo veiculado no jornal O Clarim D'Alvorada, ganhando cada vez mais espaço, levando a pensar que o produto tinha uma imensa aceitação e, por conseguinte, a empresa fabricadora do produto conquistara o mercado consumidor negro. O título do anúncio continuava sendo enfático:
Uma Invenção Maravilhosa!
"O cabelisador"
Alisa o cabello o mais crespo sem dor
Uma causa que até agora parecia impossivel e que constituia o sonho dourado de milhares e milhares de pessoas, já é hoje uma realidade irrefutável.
Quem teria jamais imaginado que seria possivel alisar o cabello, por mais crespo que fosse, tornando-o comprido e sedoso?
Graças á maravilhosa invenção do nosso "cabelisador", consegue-se, em conjunto com duas "Pastas Mágicas", alisar todo e qualquer cabello, por muito crespo que seja. (O Clarim D'Alvorada, São Paulo, 13/5/1930).

O sentido mágico da pasta era ter o poder de subverter a lei natural do negro, seu cabelo crespo. Estava em crescente aumento o número de produtos e serviços que prometiam ao negro alcançar o padrão de beleza dominante. Além de pastas e cremes, toda uma rede de salões "afro" alimentavam este sonho:
Salão para alisar cabelos crespos
Systhema rapido, infallivel e barato
Alisamos qualquer cabello, por mais crespo que seja
São Paulo, Praça da Sé, 14 — 2º andar — sala 4. (ibidem, 25/1/1930)

A simulação de um diálogo cotidiano entre duas mulheres negras, que se encontraram fortuitamente, era a base da propaganda de salão situado no centro da cidade:
Oh! D. Maria, que é que a Sra. fez, que ficou com o cabelo liso, diferente do que se vê ai pela rua?
Ora, D. Thomazia, fui ao Instituto Dulce, e de lá sai assim, como o cabelo liso, sem caspas e sedosos.
Oh, que achado! Por obséquio, diga-me, onde fica essa excelente casa de beleza!...
Ali na Praça Marechal Deodoro, 41.
Hoje mesmo irei lá, e recomendá-lo-ei às minhas amiguinhas.
Obrigada. Até loguinho, sim?! (Progresso, São Paulo, 28/7/1929:2)

Um instrumento específico, com efeito, pressagiava a façanha do alisamento capilar:
Zuavos
NICKELADO — é um pente de aço para alisar cabellos e custa apenas 20$000. Vende-se nesta redação. Faz-se demonstrações gratis, as pessoas interessadas.17

Nem mesmo um branco da elite tradicional paulista ficou indiferente ao fenômeno:
Os cânones estéticos, que sempre inspiraram a Nação, são os mesmos que norteiam a todos os povos chamados ocidentais. Daí nos afastarmos, cada vez mais, dos valores africanos. A mais superficial observação demonstra a verdade do que acabamos de afirmar. Não tem mesmo outra origem o esforço desesperado que fazem os mulatos por parecerem, a todo custo, brancos e os pretos para disfarçarem, tanto quanto possível, as características da sua raça. Exemplo: a mania que se apoderou da maioria dos pretos de combater a carapinha, tornando, por meios mecânicos, lisos os seus cabelos. Isto pelo menos em São Paulo, [...] onde tendem a viver em grupo e em oposição aos brancos. (Freyre, 1959, vol. 2: 359)

No entanto, o "branqueamento estético" não se restringia ao alisamento dos cabelos, atingia a principal marca definidora de raça no Brasil: a cor da pele. Alguns produtos prometiam a proeza de transformar negro em branco mediante a despigmentação, ou seja, através do "clareamento" da pele:
Attenção. Milagre!...
Outra grande descoberta deste século, é o creme liquido. Milagre. Dispensa o uso de pó de arroz... Formula Scientifica allemã para tratamento da pelle. Clarea e amacia a cutis. (O Clarim D'Alvorada, São Paulo, 28/9/1930).

A procedência alemã da fórmula já garantia a qualidade do creme. A beleza alemã, ou melhor, ariana, era considerada exemplar, a qual deveria ser importada pela comunidade negra. Outra questão, não menos importante, é observar no texto de anúncio o aviso de que o produto milagroso iria substituir o uso do pó de arroz como método de "clareamento" da cútis. Não foi fortuito este aviso, porque era comum, sobretudo entre as mulheres negras, passar pó de arroz no rosto em festas requintadas, que exigia esmero na beleza plástica, conforme podemos notar no anúncio publicitário:
A's damas da elite
O melhor creme para "esterelizar a cútis", branquear, adherir o pó de arroz, empingens, massagens, evitar panno, espinhas, etc é a pomada "minancora". A mais bella creação dos últimos 50 annos.
Vende-se em todo o Brasil. (Folha da Manhã, São Paulo, 5/1/1929:2).18

Publicado na segunda página de um jornal da "imprensa branca", o creme de poderes miraculosos seria utilizado para "branquear" a pele ou "aderir o pó de arroz" no rosto. Já o periódico A Cigarra, revista de maior circulação no Estado de São Paulo na época, prometia para suas leitoras a "Arte de ser Bella":
Crême de Beauté Oriental. Pelas suas qualidades [...] embranquece, amacia e assetina a cutis, dando-lhe a transparencia da juventude. Preço 3$000. (A Cigarra, São Paulo, nº XIII, 6/7/1915).19

Segundo a mensagem sub-reptícia do anúncio, para ser bela era necessário clarear a pele. E o uso do creme proporcionaria a "transparência" e o rejuvenescimento. A ideologia do "branqueamento estético" foi um fetiche muito eficaz na alienação do negro. Oficializou a brancura como padrão de beleza e a negritude como padrão de fealdade. Representou um entrave para a formação positiva da auto-estima do negro, pois este passou a alimentar um certo autodesprezo. Ora, na ausência de modelos positivos em que pudesse se espelhar, o negro recusava sua própria natureza, desembocando, muitas vezes, em crise de identidade étnica, descaracterizando-se, na busca pela supressão dos traços raciais afro.
Si os nossos antepassados tiveram por berço a terra africana, é preciso que se note, nós temos por berço a Patria este grande Paiz... Não somos africanos, somos brasileiros! (O Bandeirante, São Paulo, 9/1918:2).

O negro não se sentia mais africano e sim "latino" ou "ocidental". A negação da ancestralidade africana deve ser entendida como um mecanismo simbólico de fuga étnica. Combinado à alienação, o recurso do "branqueamento estético" transmitia à subjetividade do negro a sensação de estar cada vez mais parecido com o modelo sancionado como superior. Portanto, foi uma tentativa de superação da inferioridade que sua cor e seus caracteres físicos representavam.

3.3. Branqueamento biológico

A ideologia do branqueamento, em certas circunstâncias, apresentava desdobramento no terreno biológico. A premissa era de que o negro melhoraria biologicamente sua raça casando com alguém mais claro. Este instrumento ideológico incidia nas relações intrafamiliares. Para se desvencilhar dos recalques, os pais incentivavam os filhos a casarem com pessoas não-negras — o ideal seria de cor branca — na esperança de que seus netos, bisnetos, e assim por diante, parecessem cada vez menos com a filiação afro-negra. Se a criança nascesse mais clara que os pais, consideravam uma vitória, porém, caso a criança fosse mais escura, sentiam-se derrotados.

Pelo fato de o discurso em prol do branqueamento ser um fenômeno que emergia na vida cotidiana da família, não conseguiríamos detectá-lo em outras fontes senão pelo resgate da história oral com negro(a)s que viveram em São Paulo no segundo quartel do século XX. Daí o papel insubstituível desencadeado pelos depoimentos de famílias negras sobre um assunto tabu. Mas por que era tabu? Porque a doutrinação desta modalidade de branqueamento apenas se registrava no âmbito da vida privada, ou seja, na sociabilidade do lar, nos ensinamentos dos pais, nos exemplos dos parentes, que jamais tomavam o escopo de discurso público:
[...] meu pai achava que as filhas tinham que casar com branco e esse era mineiro, a família mora longe "Você não casa, você não casa", tá bom, então não casa.
Mas quando ele descobriu i...a esperar a gente na porta da fábrica [...] ele não queria, ele achava que eu tinha que casar com branco: "Você não vai casar com esse negrinho, [...] só fica fazendo batuque".20

Ao incorporarem os mandamentos do "branqueamento biológico", os pais das famílias negras realizavam uma vigilância rigorosa dos filhos. Desde os amigos do bairro até os namorados passavam pelo crivo da aprovação eugênica. "Casei em 1926 com um amigo de infância, ele era bonito e não era preto, preto chega eu" (Bosi, 1994:386).

Outrossim, esse comportamento da mulher negra foi registrado, em 1925, pelo olhar do cronista Sylvio Floreal: "As pretinhas não querem casar a não ser com mulatos". Já as "mulatinhas, [...] só aspiram casar com homem branco" (Floreal, 1925:165).21

O peculiar desta ideologia foi transformar o discriminado em agente reprodutor do discurso discriminatório, colocando o negro a serviço de uma prática racista.22 Pelo enfoque estritamente psicológico, o coroamento do racismo se materializa quando a vítima assume o papel de seu próprio algoz. Em última instância, estamos diante de um quadro favorável ao "raçacídio", que consistiria no suicídio coletivo de uma comunidade étnica,a médio e longo prazos, com armas ideológicas impostas de fora para dentro e aceitas pelos membros desta comunidade.

O branqueamento via casamento, às vezes, estava intimamente vinculado, no imaginário social, à ascensão do negro. Essa foi a relação que Maria Cristina fez:
É, [...] um preto que tá numa situação financeira boa, ele não vai procurar uma preta, pra melhorar a raça, né, vão, então, aquela riqueza vai progredindo, e tudo, ele vai procurar uma branca, porque ele quer melhorar a cor dos filhos [...].23

Para uma sociedade de classe com mentalidade racista, o casamento misto, em particular do negro com alguém do segmento branco, representava tanto o aprimoramento da raça quanto a premiação pela vitória conquistada: a mobilidade social. A esposa ou marido brancos simbolizavam, de forma combinada, uma melhoria dupla: de raça e de classe social. Já o casamento dentro da própria comunidade étnica era concebido como ameaça, como se apreende das lembranças de Ana Pacheco:
Ninguém queria o casamento, nem meu tio né? (Sr. Benedito). Ele não gostava de preto e meu marido era preto e aí eles não gostavam de preto mesmo.
Minha mãe não gostava. Ela era escura, preta.
Eu não sei porque ela não gostava dele, nem meu tio João Domingos que era rico, morava lá, também não gostava não, ele falava: "Preto não presta menina, é uma raça suja! Olha! Preto quando não caga na entrada, caga na saída e quando não caga na entrada e na saída ele deixa um bilhete: ‘eu volto para cagar’", ele falava isso pra mim.
Tio João falava: "Sem-vergonha! Porca! Suja! Cê vai casar com esse negro, sujar a nossa raça né? [...] casar com preto, pretejando a raça cada vez mais".24

Contrariando a vontade familiar, Ana Pacheco casou-se com um negro, contribuindo para "empretecer" ou "enegrecer" ainda mais os descendentes. Na fase de namoro, o relacionamento com um negro não provocou tanta contestação como no momento em que foi anunciado o casamento. Ora, o casamento significava a constituição da família, a qual, mais cedo ou mais tarde, seria complementada pelo nascimento de filhos. Daí a preocupação dos tios João, Benedito e da mãe. As futuras gerações de negros, segundo os parentes, teriam que se distanciar ao máximo de sua origem racial. A saída apontada pelas famílias negras, geralmente, era bem intencionada: imaginavam que os filhos e os netos dos casamentos com pessoa mais clara levariam uma vida com menos dor, sofrimento e com mais chances de vencer na vida.

As frustrações raciais geradas pela ideologia do branqueamento causavam o sentimento de inferioridade no negro. Este chegava ao extremo de pensar que a cor da pele fosse alguma deformação patológica, cuja cura não tinha ainda sido descoberta:
Ele é mais preto, então, qualquer coisinha, ele é negro. Ele falava assim, que se tivesse um remédio para ficar mais claro, ele tomava.25

O "branqueamento biológico" também poderia ser alcançado por métodos artificiais, "quando se descobrir a droga que poderá lavar a pele" (Progresso, São Paulo, 13/1/1929:4).

Havia casos cujos negros atentavam contra seu próprio corpo e empregavam recursos estapafúrdios para clarear a pele. Acreditavam que comendo barro, ingerindo muito leite, passando alvejante no corpo, tomando banhos demorados com muito sabão, não ficando exposto ao sol, diariamente, era suficiente para "desnegrecer", vale dizer, eliminar a alta pigmentação da pele e, por conseguinte, o complexo de inferioridade. Esta vertente do branqueamento legitimava ideologicamente o eventual genocídio biológico do negro.

NOTAS

4. Apesar de o segmento negro (pretos e pardos) na cidade, em 1920, ser aproximadamente 9% da população total, o índice de natimorto (nascidos mortos) era de 12,7% em 1918; 12,4% em 1922; 13,35% em 1924; 15,9% em 1926 e 15,99% em 1928. Portanto, é possível afirmar que a mortalidade infantil, tendo por base os índices de natimortos, entre 1918 e 1928, era maior entre a população negra, exceto para o ano de 1920, cujo índice foi de 5,8%. Ver Ellis Junior (1932:9-10).

5. "Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, [...] o poder espiritual dominante. A classe que dispõe dos meios da produção material dispõe também dos meios da produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles aos quais são negados os meios de produção intelectual está submetido também à classe dominante" (Marx e Engels, 1998:48). Originalmente, Marx desenvolveu essa reflexão para explicar o mecanismo ideológico da dominação de classe, ou seja, mostrar como as idéias da classe dominante são hegemônicas sob o conjunto da sociedade. Como entendemos que a dominação não se revela estritamente no terreno classista, realizamos um recorte étnico-racial para operar e compreender este mecanismo de dominação ideológica.

6. Neste artigo, assimilação pode ser definida, em síntese, pelo "tipo de mudança étnica pela qual as pessoas se tornam parecidas". Assimilação é um processo que "pressupõe que a minoria irá se adequar aos modos" de vida da maioria étnica ou racial (Cashmore, 2000: 84-5). Esta definição é apropriada para designar a situação de grupo étnico minoritário, a qual se encontrava o negro na época. Nas estimativas apresentadas por Fernandes (1978:108), os "negros" e "mestiços" representavam na população total da capital, no mínimo 11% em 1910; 9% em 1920; e 8,5% em 1934.

7. A "imprensa branca" é uma referência aos jornais regulares da grande imprensa, de ampla circulação, produzidos majoritariamente por brancos e voltados para o público não-negro.

8. A "imprensa negra" é uma referência aos jornais alternativos que surgiram em São Paulo no pós-abolição, produzidos por negros e dirigidos à comunidade negra. Dentre esses jornais, são citados neste artigo O Alfinete, A Sentinella, O Patrocínio, Progresso, O Clarim D´Alvorada, O Bandeirante, O Menelick, Auriverde e Getulino. Sobre o assunto consultar Ferrara (1986).

9. "Apareceu na segunda metade do século XIX no Rio de Janeiro. Resultou da fusão da tabanera pela rítmica, e da polca pela andadura, com adaptação da síncopa africana. Outros o fazem uma prolação do lundu, mesclado com a toada. Era dança de salão, de par unido, exigindo extrema agilidade pelos passos e figuras rápidas, mobilidade de quadris [...]. Foi por algum tempo expoente da nossa dança urbana, tendo cedido lugar ao samba [...]" (Câmara Cascudo, 1988:486).

10. "O segmento negro em São Paulo no início do século XX não constituía um bloco homogêneo. Em linhas gerais, era possível dividi-lo em duas amplas camadas: de um lado, os negros da ‘elite’; de outro, a massa negra ‘plebléia’. A ‘elite’ negra ou ‘negros evoluídos’ eram provenientes dos estratos intermediários da estrutura de classes: jornalistas, funcionários públicos, técnicos, profissionais liberais ou especializados, em suma, os negros letrados e/ou classificados socialmente. O termo ‘elite negra’ não significa uma minoria detentora dos meios de produção material. O termo tem três sentidos específicos: primeiro; político, porque este grupo se configurou como dirigente políticos da comunidade e eram aceitos como tal pelos brancos; segundo, educacional e cultural, porque este grupo era fundamentalmente alfabetizado e considerado culturalmente ‘evoluído’; terceiro, ideológico, porque este grupo reproduzia muitos dos valores ideológicos da classe dominante. Foi este estrato da população que mantinha os jornais da ‘imprensa negra’. O segundo setor, o plebeu, era constituído por desempregados, malandros, trabalhadores braçais, doméstico(a)s, biscateiros, indigentes, prostitutas, em suma, pelos negros desqualificados socialmente" (Domingues, 2001:163-4).

11. Como observou Carlos Hasenbalg (s/d:5) "a pressão no sentido de branqueamento resulta em que negros e mulatos fazem o melhor possível para parecer mais brancos e procuram com energia dissimular ou desenfatizar suas origens negróides. Naturalmente, a hierarquização das pessoas em termos de sua proximidade a uma aparência branca ajudou a fazer com que indivíduos de pigmentação escura desprezem a sua origem africana".

12. Esta foi a forma como o articulista se referiu a José Carlos do Patrocínio, filho de José do Patrocínio (Progresso, 15/2/1930).

13. Carta enviada para Sr. Redactor por Zelindo (O Alfinete, 28/8/1921).

14. Como assevera Otávio Ianni, puritanismo "trata-se de um modo de ser e comportar-se asceticamente, com relação a algumas solicitações habituais da vida social. Não é exclusivo dos negros. A comunidade, habitualmente, conta com tais indivíduos; são pessoas que personificam alguns ideais considerados elevados pela consciência coletiva" (Cardoso & Ianni, 1960:214).

15. Encontramos o discurso moralizante, de condenação ao álcool, aos jogos, bailes, também na imprensa operária, conforme "O Alcool e sua Acção" (Tribuna Operária, Santos, 7/8/1909:4) e na imprensa anarquista, de acordo com "Crítica ao Carnaval" (Terra Livre, São Paulo, 22/3/1910:3) e "O Flagello do Alcoolismo" (ibidem:4).

16. Nas reflexões de Wilson do Nascimento, "o abandono dos valores éticos e estéticos de sua própria cultura é, pois, o coroamento do processo de assimilação. E, na verdade, as instâncias ética e estética são o que existe de mais elevado em cada cultura. Ao abandonar tais valores, o assimilado está, para sua cultura de origem, desde então, morto". Ver Nascimento (1985:44).

17. O Clarim D'Alvorada, São Paulo, s/d. Este anúncio reiteradamente era veiculado: "20$000 Importancia única para se adquirir um dos famosos pentes de aço, para alisar cabellos sem dor e sem perigo — telephonem, hoje mesmo, para 2-1706 ou nesta redacção: rua Major Diogo, 131" (ibidem, 24/11/1929:2).

18. Apesar de muitos desses produtos terem uma finalidade terapêutica, eram usados com a perspectiva de "desnegrecimento".

19. Em anúncio publicitário, veiculado em outro número da mesma revista, o tom era semelhante: "Angelica. A ‘Angelica’ é a agua que faz a cutis branca em poucos momentos sem prejudical-a, tornando-a suave e fresca. Casa Lebre & Cia. Rua 15 de Novembro" (A Cigarra, São Paulo, nº XI, 7/10/1914).

20. Memória da Escravidão em Famílias Negras no Estado de São Paulo (MEFNESP), entrevista com Geraldinha Maria Patrício da Luz, Caixa 5, Vol. 30, São Paulo, 1987, p. 9.

21. Apesar do desejo da "brancura" de algumas mulheres negras e "mulatas", não podemos superestimar a existência de casamentos inter-raciais em São Paulo, pelo menos na década 20, como foi assinalado pelo próprio Sylvio Floreal, que foi testemunha ocular do processo em curso: "Mas a verdade triste é que o número das mulatinhas que conseguem casar de accôrdo com o seu sonho de brancura é tão resumido, que melhor fôra que elas, castigadas pelas rudes experiencias e levadas como tem sido, pela via de amargura da perdição, abandonassem essa tão desastrada mania! Entretanto, tal mania instalada na ansia e nos caprichos dessas creaturinhas, constitue a razão de ser de suas vidas" (ibidem:167).

22. "Eu sempre fui solteira, por duas razões: não queria ter filho preto, porque sofre muito, e também não gostava de homens da minha cor". Cf. Bernardo (1998:62).

23. MEFNESP, entrevista com Maria Cristina Tejeda, Caixa 5, Vol. 33. São Paulo, 1987, p.56.

24. MEFNESP, entrevista com Ana Pacheco de Oliveira Almeida, Caixa 3, Vol. 24, Jaboticabal (Córrego Rico), 1987, p. 34-37-51-52. Os argumentos usados pelo tio João Domingos para abominar o noivo tinha uma forte conotação preconceituosa. Operava-se o que se classifica como expurgo. Como recurso para sentir-se menos negro, o tio João Domingos projetava e transferia no marido da sobrinha tudo aquilo que ele odiava em si mesmo. Frustado em suas expectativas, o tio João Domingos desloca suas ofensas para a sobrinha, Ana Pacheco, tachando-a, entre outras coisas, de suja. Esta adjetivação negativa para se referir à pessoa negra estava em oposição à estereotipia positiva de limpo, normalmente ligado à "raça branca". Como assevera Wilson do Barbosa, "quando a alienação gerada pela assimilação não produz os frutos desejados, o ódio dos assimilados dirigir-se-á contra a comunidade negra, testemunha indesejável e fonte efetiva de seu êxito apenas parcial. Destrói-se em cada negro aquilo que ainda há de negro em si próprio" (Barbosa, 1985:43).

25. MEFNESP, entrevista com Maria Francisca Bueno, 106 anos, moradora de Rio Claro.

Fonte: Scielo (Estud. afro-asiát. vol.24 no.3 Rio de Janeiro 2002)
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-546X2002000300006&script=sci_arttext
Autor: Petrônio José Domingues

Ver também:
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 01
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 03
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 04

sábado, 1 de dezembro de 2012

A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 01

Negros de almas brancas? A ideologia do branqueamento no interior da comunidade negra em São Paulo, 1915-1930

RESUMO

Este artigo investiga o fenômeno do branqueamento, tanto no seu aspecto populacional quanto ideológico. Analisa de que maneira a denominada "ideologia do branqueamento" penetrou no meio negro em São Paulo no período do pós-abolição. O argumento central é de que esta ideologia — apesar de seu caráter racista — foi legitimada ou assimilada, cotidianamente, por setores da população negra. Com efeito, a assimilação desta ideologia converteu-se num mecanismo de inserção psicossocial dos negros em um mundo dominado pelos brancos.

Palavras-chave: negro, racismo, branqueamento, preconceito.

1. Branqueamento: O Conceito-Chave para a Compreensão das Relações Raciais e/ou do Racismo no Brasil

Embora seja tido como um conceito-chave para a compreensão das "relações raciais" e/ou do racismo no Brasil, há relativamente pouca reflexão teórica sobre aquilo que vem sendo chamado de branqueamento. [...] Nos trabalhos mais recentes, a maioria dos autores usa a expressão "ideologia do branqueamento" para enfatizar o fato de que, com esse termo, querem descrever um discurso ideológico. Mas também é comum pesquisadores que insistem nesse refinamento conceitual recorrerem ao mesmo termo para expressar um "branqueamento concreto" da cor da pele da população. Ou seja, ocorre com freqüência que as reflexões sobre essa temática carecem de uma distinção rigorosa entre análise do discurso ideológico e análise da realidade empírica. (Hofbauer, 1999:10)
Como adverte Andreas Hofbauer, o branqueamento é uma categoria analítica que vem sendo usada com mais de um sentido. O branqueamento ora é visto como a interiorização dos modelos culturais brancos pelo segmento negro, implicando a perda do seu ethos de matriz africana, ora é definido pelos autores como o processo de "clareamento" da população brasileira, registrado pelos censos oficiais e previsões estatísticas do final do século XIX e início do XX. Para evitar confusão no momento de operar com tais conceitos, adotaremos neste artigo a seguinte divisão metodológica: na primeira parte, revelaremos de que maneira o branqueamento era concebido como um fenômeno populacional da "realidade empírica" e, na segunda, exploraremos seus aspectos ideológicos.[01]

2. Branquear São Paulo Já: A Morte Premeditada dos Filhos e Netos de Escravos

O branqueamento é uma das modalidades do racismo à brasileira. No pós-abolição este fenômeno era retratado como um processo irreversível no país. Pelas estimativas mais "confiáveis", o tempo necessário para a extinção do negro em terra brasilis oscilava entre 50 a 200 anos. Essas previsões eram difundidas, inclusive, nos documentos oficiais do governo, como, por exemplo, no censo de 1920, materializado no texto de apresentação de Oliveira Vianna (1922). Este texto é uma prova cabal de que o governo era avalista do projeto de branqueamento.2 Salientamos, todavia, que o objetivo era menos o branqueamento genotípico e mais o "clareamento" fenotípico da população. Em São Paulo, a situação não foi diferente: o ideal de branqueamento da população constituiu-se numa das vertentes ideológicas assumidas pelo pensamento racista da Belle Époque.

Na virada do século XIX para o XX, o ideal de branqueamento da população paulista era correspondido, aparentemente, de forma muito notória pelo censo populacional, marcado justamente pela diminuição assustadora da população negra. Pelo menos esse era o caso da capital, como se vê na tabela a seguir.


Os números são reveladores. Pelo censo de 1872, os negros (pretos e mulatos) correspondiam a 37,2% da população da cidade de São Paulo. Já em 1893, o percentual era de 11,1% e, pelas estimativas de 1934, esse percentual declinava para 8,5%. Portanto, o desaparecimento do negro, ou branqueamento da população, era um dos fenômenos estatístico mais evidentes do quadro racial de São Paulo. Diversos observadores estrangeiros descreveram o fenômeno em suas viagens pelo estado. O inglês Maurício Lamberg foi um desses casos: em seu diário, fez questão de registrar que a mestiçagem desencadeava a supressão progressiva do negro no estado:

Há muito quem affirme que a raça negra aqui está desaparecendo, isto custa a creditar, quando se considera a prolific(l)ação das famílias negras. Pode-se admittir, que com o tempo se extingua; mas não por morte, sim pelo cruzamento com caboclos, mulatos e brancos. (Lamberg, 1896:50)

Pierre Denis, um francês que conheceu São Paulo no início do século XX, também endossava, empiricamente, a tese do branqueamento: "apesar de não haver estatísticas, parece certo que a população está hoje em plena regressão no estado de São Paulo. O fim da escravatura levou á eliminação rapida do operario negro (Denis, 19?? [1909]:158).

Segundo este autor, a classe dirigente paulista "empenhava-se para que a população branca augmentasse" (ibidem:167). Realmente, esta foi a tônica da política racial do estado. Entre 1890 e 1929, entraram em São Paulo 1.817.261 imigrantes brancos. A europeização demográfica da cidade chegou ao ponto de, em 1897, haver dois italianos para cada brasileiro.


Instalou-se um círculo vicioso. A entrada em massa de imigrantes brancos reforçava as teses de branqueamento, que, por sua vez, clamavam por mais imigrantes. Estas teses eram propaladas, intensamente, em diversas obras em São Paulo. Por isso, passamos, neste instante, a avaliar uma amostra desta produção intelectual.

A primeira obra a ser analisada, sucintamente, é o clássico Retrato do Brasil, publicada originalmente em 1928, de Paulo Prado (bacharel em Direito, fazendeiro e empresário). Herdeiro da tradição aristocratizante da elite paulista, este intelectual advogava neste livro a perspectiva de arianização do país:
O que se chama a arianização do habitante do Brasil é um fato de observação diária. Já com 1/8 de sangue negro, a aparência africana se apaga por completo: é o fenômeno do passing, dos Estados Unidos. E assim na cruza continua de nossa vida, desde a época colonial, o negro desaparece aos poucos, dissolvendo-se até a falsa aparência de ariano puro. (Prado, 1944:167)
Em uma conjuntura na qual a classe dominante franqueou uma fé "religiosa" no branqueamento, o mestiço, dependendo do grau de pigmentação da pele, era classificado como quase-branco, semibranco ou sub-branco e tratado de forma diferenciada do negro retinto, porém não era considerado um quase-negro, seminegro ou subnegro. Em outras palavras, podemos afirmar que a mestiçagem era via de mão única. No cruzamento do branco com o negro, necessariamente, contava-se com o "clareamento" gradual e permanente da pessoa, mas jamais se cogitava a hipótese de que a mestiçagem gerava o "enegrecimento" da população.

Em artigo na Revista do Brasil, intitulado "Brancos de toda Cor", de 1923, João Ribeiro, na qualidade de um "arguto observador", também profetizava de forma muito otimista o branqueamento do estado de São Paulo e do país, com sua subjetiva estimativa de tempo: "Dentro de cincoenta annos, a parte uma pequena fracção retro-atavica de typos negróides, teremos uma população plausivelmente mais branca que a da peninsula ibérica" (Ribeiro, 1923:378).

Entusiasta do processo de mestiçagem do país, este intelectual entendia que a originalidade do mestiço branqueado estava em se aproximar do tipo ariano: "Eis, pois, a largos traços a situação e a qualidade do homem branco no Brasil, com a sua coloração progressiva de ariano de boas origens" (idem).

Realizando uma pesquisa sobre as condições de saúde, alimentação e habitação, Alfredo Ellis Júnior, formado em direito, político, professor de sociologia e história da futura Universidade de São Paulo (USP), no livro Populações Paulistas, escrito em 1930, fazia um prognóstico dramático para a comunidade negra do planalto paulista: o negro estava caminhando à extinção, num prazo de 40 ou no máximo 50 anos:
Em 1872, os negros e mulatos constituíam no território paulista 62% da população, em 1923, passaram a ser apenas 16%. De 1919 a 1929, o crescimento vegetativo de São Paulo, foi em percentagem: Brancos — 102,9%; Pardos — 0,24%; Amarelos — 0,21%; Negros — teve um saldo negativo de -2,86%. (Ellis Junior, 1934:100-117)
As causas pontuadas para o crescente "déficit" do negro eram: a diminuição assombrosa da natalidade, o aumento da mortalidade e, em último lugar, sua inadaptalidade ao planalto paulista. Na avaliação de Alfredo Ellis Júnior, as causas do déficit eram de natureza fisiológica, ou seja, eram provenientes das deficiências étnicas do negro: "estou convencido de que o negro, mesmo educado, não pode nivelar-se ao branco". Já no livro Pedras Lascadas, originalmente publicado em 1928, este autor explica de que maneira dois fatores da natureza — clima e altitude — estariam contribuindo para acelerar a morte da coletividade negra:
No referente á questão de clarificação das nossas populações, ou da sua europeisação, não é somente a immigração que tem agido nesse sentido.
Em São Paulo, o negro vae desaparecendo muitissimo mais rapidamente do que nas demais regiões. Não será tanto, pela mestiçagem, e por consequentemente por absorpção que esse phenomeno se dá [...]. A principal causa do rapido desapparecimento do negro de São Paulo, repousa em outros fatores.
A tendencia notoria do negro para o alcoolismo, é sem duvida uma força eliminadora e enfraquecedora potente de individuos dessa raça, mas não é ella a principal.
A meu ver a causa primarcial do desapparecimento do negro, sem deixar vestigios de monta, repousa em duas origens que se conjugam, de clima e de altitude, as quaes no Negro, geram a tendência á turbeculose e á outras affecções do apparelho respiratorio, que os elimina rapidamente, a ponto de não poderem ser absorvidos pela mestiçagem, não ficando delles signaes, portanto. (Ellis Junior, 1933:197)
Além da tuberculose, a sífilis era outra epidemia que, segundo Alfredo Ellis, devastava o meio negro. Mas, apesar do rigor "científico", este intelectual estava sendo tendencioso em seus prognósticos. Segundo os dados da Seção de Estatística Demográfico-Sanitária de São Paulo, entre 1918 e 1928, o crescimento vegetativo do negro era negativo, ou seja, a taxa de mortalidade, nestes 10 anos, superava a taxa de natalidade, como podemos observar:









Embora o déficit afetasse drasticamente o "estoque" negro entre 1918 e 1928 (em proporção que oscilava de 1,93% a 4, 8% por ano), não existiam elementos suficientes para se fazer qualquer previsão segura e irrefutável quanto ao futuro étnico do estado.3 Alfredo Ellis se equivocou em suas análises, porque as razões do saldo vegetativo negativo do negro não era sua pretensa inferioridade biológica, mas uma decorrência dos problemas sociais que assolavam este povo, dos quais os principais eram: as condições desumanas de moradia, as doenças, o desemprego, o alcoolismo, o abandono do menor, dos velhos, a mendicância, subnutrição, criminalidade e a mortalidade infantil.4 Estimava-se que três quintos da população negra da capital nessa época vivia em estado de penúria, "promiscuidade e desamparo social" (Fernandes, 1978:147). Assim, os dados coligidos permitiam apenas termos uma certeza: a desigualdade racial nos indicadores da saúde pública quanto aos índices de natalidade e mortalidade (tanto infantil quanto adulta) era abissal, penalizando terrivelmente a população negra em São Paulo no início do século XX.

*Este texto é a versão parcial e reajustada de um dos capítulos da minha dissertação de mestrado, intitulada Uma História Não Contada. Negro, Racismo e Trabalho no Pós-Abolição em São Paulo (1889-1930), FFLCH/USP, 2001. Agradeço às valiosas sugestões dos(as) pareceristas da revista para a melhoria deste artigo.

NOTAS

1. O debate teórico sobre o branqueamento, no seu aspecto populacional ou "empírico" (do final do século XIX e início do século XX), pode ser encontrado em Skidmore (1976), Seyferth (1986:54; 1991). Já o debate teórico sobre o branqueamento, no seu plano ideológico ou cultural, foi ou vem sendo efetuado por Bastide & Fernandes (1959); Figueiredo (2002), Bento & Carone (2002). No plano analítico, a categoria branqueamento foi explorada rigorosamente por Hofbauer (1999).

2. Segundo Carlos Vainer, "as teses que apontam uma relativa neutralidade-indiferença do Estado brasileiro frente à questão racial necessitam ser revisitadas e revistas. Esse Estado, ao contrário do que geralmente se acredita (ou se quer acreditar), concebeu uma questão racial... o Estado se posicionou claramente por uma estratégia racista que projetava o branqueamento da população. Para tal estratégia deveriam concorrer a imigração européia, de um lado, e a miscigenação, de outro". Cf. Vainer (1990:113-14).

3. No entendimento de Samuel Lowrie, a porcentagem do "elemento de côr se manteve mais ou menos constante até o presente", alcançando "cerca de 1/6 da população total do Estado". Este autor descartava, na década de 30, qualquer possibilidade de previsão segura no sentido do branqueamento de São Paulo, argumentando que "as estatísticas que temos em mão e a relativa estabilidade da porcentagem de mulatos e negros na população através de longos periodos historicos, são provas de que o processo é moroso e não muito extenso. A seleção (racial), unicamente por si, não causaria uma rápida mudança na côr da população". Cf. Lowrie (1938:27 e 54).

Fonte: Scielo (Estud. afro-asiát. vol.24 no.3 Rio de Janeiro 2002)
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-546X2002000300006&script=sci_arttext
Autor: Petrônio José Domingues

Ver também:
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 02
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 03
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 04

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mais números (negativos) da "democracia racial" brasileira, no país do "racismo cordial"

Homicídios de negros crescem 5,6% em 8 anos, enquanto de brancos caem 24,8%

Segundo Mapa da Violência, em 2002, morriam assassinados 65,4% mais negros do que brancos no Brasil. Oito anos depois, morreram 132,3% mais negros do que brancos

Agência Brasil

Enquanto a taxa de homicídios de brancos no País caiu 24,8% de 2002 a 2010, a da população negra cresceu 5,6% no mesmo período. Em 2002, morriam assassinados, proporcionalmente, 65,4% mais negros do que brancos. Oito anos depois, foram vítimas de homicídio no Brasil 132,3% mais negros do que brancos.

Outros estudos:
Mapa da violência/mulheres: Mais de 43 mil mulheres foram mortas na última década
Mapa da Violência 2012: Cinco municípios do Nordeste estão entre os dez mais violentos
Mapa da Violência 2011: Em 10 anos, Nordeste tem escalada de mortes violentas
Mapa da Violência 2010: Mapa da Violência mostra que uma mulher é morta cada duas horas
Mapa da Violência 2009: Cidades do interior lideram homicídios no País

Divulgação
Capa do estudo divulgado
nesta quinta-feira
Os dados fazem parte do Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil, divulgado nesta quinta-feira (29), em Brasília, pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir).

De acordo com o estudo, morreram assassinados no País 272.422 negros entre 2002 e 2010, com uma média anual de 30.269 mortes. Somente em 2010, foram 34.983 registros. Para fazer o levantamento, foram considerados os dados do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde.

As mortes por assassinato entre os jovens negros no país são, proporcionalmente, duas vezes e meia maior do que entre os jovens brancos. Em 2010, o índice de mortes violentas de jovens negros foi de 72, para cada 100 mil habitantes; enquanto entre os jovens brancos foi de 28,3 por 100 mil habitantes. A evolução do índice em oito anos também foi desfavorável para o jovem negro. Na comparação com os números de 2002, a taxa de homicídio de jovens brancos caiu (era 40,6 por 100 mil habitantes). Já entre os jovens negros o índice subiu (era 69,6 por 100 mil habitantes).

De acordo com o professor Julio Jacobo, responsável pelo estudo, os dados são “alarmantes” e representam uma “pandemia de mortes de jovens negros”. Entre os fatores que levam a esse panorama, ele cita a “cultura da violência” - tanto institucional como doméstica, e a impunidade. Segundo o professor, em apenas 4% dos casos de homicídios no Brasil, os responsáveis vão para a cadeia.

“O estudo confirma que o polo de violência no país são os jovens negros e não é por casualidade. Temos no país uma cultura que justifica a existência da violência em várias instâncias. O Estado e as famílias toleram a violência e é essa cultura que faz com que ela se torne corriqueira, que qualquer conflito seja resolvido matando o próximo”, disse Jacobo.

O professor defende políticas públicas mais amplas e integradas para atacar a questão, principalmente na área da educação. “Há no país cerca de 8 milhões de jovens negros que não estudam nem trabalham. As políticas públicas de incorporação dessa parcela da população são fundamentais para reverter o quadro”.

Ainda segundo o estudo, a situação mais grave é observada em oito estados, onde a morte de jovens negros ultrapassa a marca de 100 homicídios para cada 100 mil habitantes. São eles: Alagoas, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Mato Grosso, Distrito Federal, Bahia e Pará. A análise por municípios é ainda mais preocupante: em Simões Filho, na Bahia, e em Ananindeua, no Pará, são registrados 400 homicídios de jovens negros por 100 mil habitantes.

O professor enfatizou que as taxas de assassinato entre a população negra no Brasil são superiores às de muitas regiões que enfrentam conflitos armados. Jacobo também comparou a situação brasileira à de países desenvolvidos, como Alemanha, Holanda, França, Polônia e Inglaterra, onde a taxa de homicídio é 0,5 jovem para cada 100 mil habitantes.

“Para cada jovem que morre assassinado nesses países, morrem 106 jovens e 144 jovens negros no Brasil. Se compararmos com a Bahia, são 205 jovens negros para cada morte naqueles países; e no município baiano de Simões Filho, que tem o pior índice brasileiro, são 912 mortes de jovens negros para cada assassinato de jovem”, disse.

O secretário-executivo da Seppir, Mário Lisboa Theodoro, enfatizou que o governo federal tem intensificado as ações para enfrentar o problema que classificou de “crucial”. Ele lembrou que foi lançado em setembro, em Alagoas, o projeto Juventude Viva, para enfrentar o crescente número de homicídios entre jovens negros de todo o país. A iniciativa prevê aulas em período integral nas escolas estaduais, a criação de espaços culturais em territórios violentos e o estímulo ao empreendedorismo juvenil, associado à economia solidária.

O Juventude Viva é a primeira etapa de uma ação mais ampla – o Plano de Prevenção à Violência Contra a Juventude Negra. A meta do governo é expandir o programa no primeiro semestre de 2013 para mais cinco unidades federativas: Paraíba, Espírito Santo, Distrito Federal, Bahia e Rio Grande do Sul.

“O objetivo é garantir um conjunto de serviços às comunidades onde esses jovens residem, como infraestrutura, além de fornecer oportunidade de estudo e de ocupação para eles, aproveitando inclusive os eventos esportivos que o Brasil vai sediar, como a Copa do Mundo”, disse Theodoro.

Agência Brasil | 29/11/2012 16:00:44 - Atualizada às 29/11/2012 16:43:00

Fonte: Agência Brasil/Último Segundo
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2012-11-29/homicidios-de-negros-crescem-56-em-8-anos-enquanto-de-brancos-caem-248.html

Ver também:
Número de negros assassinados no Brasil cresce 29,8% em oito anos (SIC, Portugal)
Amazonas ocupa a quinta colocação em índice de homicídios contra negros (d24am)
Bahia registra maior aumento no número de homicídios da juventude negra

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Deputado da extrema-direita húngara pede “lista de judeus”

Marton Gyongyosi, deputado húngaro de extrema-direita, quer lista com judeus que possam ser “risco de segurança nacional”. Associações judaicas e o Governo húngaro já criticaram estas palavras. Gyongyosi já pediu desculpa.

(Foto) Membros da Guarda Húngara, grupo ligado ao Jobbik e acusados de serem uma unidade paramilitar, numa cerimónia Karoly Arvai/REUTERS

Foi durante uma sessão parlamentar que o vice-presidente da bancada parlamentar do Jobbik, o partido de extrema-direita da Hungria, afirmou ser necessária uma lista com os nomes de judeus húngaros que pudessem representar um “risco de segurança nacional”.

As declarações do vice-presidente da bancada parlamentar do Jobbik foram prontamente reprovadas por vários sectores da sociedade húngara. O Governo húngaro, de direita, lançou um comunicado em reacção às declarações de Gyongyosi, em que garantia: “O Governo quer deixar claro que todos os cidadãos vão ser protegidos de insultos como este”

O comunicado dizia também que o Governo húngaro tem tomado “a acção mais firme possível contra qualquer forma de racismo e comportamento anti-semita” e que tem feito “tudo para poder assegurar que vozes mali-intencionadas incompatíveis com as normas europeias sejam travadas”.

Em declarações à agência Reuters, o director das Congregações Judaico-Húngaras, Gusztav Zoltai, sobrevivente do Holocausto, disse: “É claro que [estas declarações] servem apenas um propósito político.” Mas acrescentou: “A pessoas como eu isto gera um medo imenso.”

Durante o Holocausto morreram entre 500.000 e 600.000 judeus húngaros, de acordo com os número do Centro de Memória do Holocausto em Budapeste.

Jobbik acusado de ter ala militar

Marton Gyongyosi - fascista húngaro que
pediu lista de judeus daquele país
O Jobbik é o terceiro partido com maior representação parlamentar na Hungria. O partido foi fundado em 2003, mas só se estreou nas eleições legislativas de 2010, onde recolheu uns expressivos 16,67% dos votos.

O partido liderado por Gábor Vona é frequentemente ligado a posição anti-semitas, anti-imigração e xenófobas. Um dos assuntos recorrentes deste partido é a minoria étnica roma da Hungria.

É pública a existência de um grupo chamado “Guarda Húngara” que tem ligações ao Jobbik - foi, aliás, fundada por Gábor Vona. São várias as acusações de este grupo agir como um grupo paramilitar, responsável por atacar vários imigrantes, especialmente ciganos, na Hungria. Estas acusações são refutadas pelo Jobbik, que alega que este grupo nunca teve armas e que, por isso, não pode ser olhado como uma milícia.

PÚBLICO. 27/11/2012 - 14:39

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/deputado-da-extremadireita-hungara-pede-lista-de-judeus-1575172

Comentário: mais de uma vez teve gente negando o caráter antissemita e de reabilitação do nazismo do negacionismo do Holocausto. Será que com essas notícias recentes ainda virá gente negar o óbvio? Se deixar esses grupos fascistas repetem o que fizeram na Segunda Guerra, e o pior é que a sociedade civil em alguns países está deixando a coisa crescer. As milícias do Jobbik também são acusadas de perseguir ciganos na Húngria.

Ver mais:
Líder de direita na Hungria causa indignação ao pedir lista de judeus no país (Diário Digital, Portugal)
Hungria: judeus ameaçam a "segurança", diz deputado A Tarde/Agência Estado
Neonazi pide listas de judíos como en el Holocausto (Infobae)
Hungria: Partido de extrema-direita quer referendo sobre presença na UE TSF

Pesquisador diz que piadas racistas reforçam padrão colonial

Piadas sobre negros ainda são usadas para desqualificar e marginalizar essa parcela da população, critica o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Dagoberto José da Fonseca, que pesquisa o tema desde a década de 1980. "Esse tipo de piada, de brincadeira, que não é nada inocente, tem o objetivo de rebaixar, de inferiorizar, de desqualificar o negro, de mostrá-lo como um animal, incompetente ou estigmatizar uma situação de pobreza pela qual passa boa parte dessa população."

Doutor em ciência sociais, ele começou a pesquisar o tema depois de ouvir de um amigo uma piada racista ainda na faculdade. A anedota deu origem a uma tese de mestrado que, engavetada desde então, foi resumida e será publicada no livro Você Conhece Aquela? A Piada, o Riso e o Racismo à Brasileira, com previsão de lançamento em dezembro.

Em 133 páginas, o professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp reúne piadas em que os protagonistas são negros e aparecem como "vadios, malandros, ladrões". Em algumas dessas anedotas são comparados a doenças degenerativas, como câncer, ou têm características físicas, como o nariz e a boca, exageradas, reforçando estereótipos.

É o caso da personagem Adelaide, do programa Zorra Total, da TV Globo. No quadro, ela é uma mulher negra, pobre, sem dentes, que se refere aos cabelos da própria filha como "palha de aço". As aparições da personagem estão sob análise no Ministério Público do Rio de Janeiro, que vai avaliar se há racismo no programa, a pedido da Secretaria de Igualdade Racial (Seppir).

"A personagem Adelaide está colocada dentro dos marcos do passado. Havia uma leitura nas piadas de que os negros eram pobres, desdentados e feios. Ela a personagem não rompe com o passado, como Mussum, Grande Otelo e Chocolate. Adelaide tem o nariz e os lábios exageradamente alargados e o cabelo despenteado, em um clichê, que, no final, a compara a um gorila", criticou.

Sobre o tema da sexualidade, em um dos quatro capítulos da obra, Fonseca também critica o mito da potência sexual, no caso dos homens, ou de lascívia, no caso das mulheres. Segundo o professor, essas ideias surgem na colonização tanto no Brasil quanto na África e refletem teorias de um momento histórico em que o negro era tido como inferior.

"Quando a gente pensa em um negro brutamonte, está associando o negro a um tarado, a um cavalo, a um touro, ou seja, voltamos para a questão da animalização", ressaltou. ''Do outro lado, quando se remete à mulher negra, há ideia de lascividade, de promiscuidade. Tudo vinculado ao processo colonial, em que o dono do corpo era quem escravizava", acrescentou.

Para o professor, por trás das piadas racistas há uma intenção de buscar a "padronização" do corpo, da beleza, por meio da valorização de um "ideal branco", o que tem impactos negativos, especialmente, entre as crianças negras. A tendência, explica o pesquisador, é que elas se sintam inferiores e tenham mais dificuldade para aprender.

Em relação à personagem Adelaide, a Central Globo de Comunicação informou que o humorístico "é notadamente uma obra de ficção, cuja criação artística está amparada na liberdade de expressão". A nota acrescenta ainda que a personagem foi inspirada na avó de seu intérprete e criador, o ator Rodrigo Sant'anna.

20 de novembro de 2012 • 11h34 • atualizado às 13h51

Fonte: Agência Brasil/Terra
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6317037-EI306,00-Pesquisador+diz+que+piadas+racistas+reforcam+padrao+colonial.html

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Testemunho de Eliezer Eisenschmidt, Sonderkommando (sobre remoção de cadávares nas câmaras de gás)

Trecho extraído da página 229 do livro "We Wept Without Tears: Testimonies of the Jewish Sonderkommando from Auschwitz", de Gideon Greif.

Testemunho de Eliezer Eisenschmidt, Sonderkommando.

Da edição em inglês:
In the meantime, what was happening in the gas chambers?

After the people were asphyxiated from inhaling the gas, the doors were opened for ventilation [27] and afterwards the bodies were brought out and taken back to the undressing room.

Who took the bodies out of the gas chambers?

We removed one or two bodies by hand. Sometimes we used a long stick; we grabbed the body by the neck and pulled it out. It was better to use the stick than our hands, since many of the victims soiled themselves as they were being killed. [28] So we didn’t want to touch the corpses with our hands; instead, we preferred to take them out with the stick. After the bodies were treated in the undressing room, they were taken to the furnaces. All the Sonderkommando prisoners took part in removing bodies from the gas chambers. Even those who usually worked elsewhere: the one who did gardening work in the crematorium yard or the one whose job was to bring coal to the furnaces. This was the most complicated and awkward work.
Tradução:
Nesse intervalo o que estava acontecendo nas câmaras de gás?

EE: Depois das pessoas serem asfixiadas ao inalar o gás, as portas eram abertas para ventilação [27] e, depois, os corpos eram levados para fora e levados de volta para a sala de se despir.

Quem levava os corpos para fora das câmaras de gás?

EE: Removíamos um ou dois corpos com as mãos. Às vezes, usávamos uma vara longa; pegávamos o corpo pelo pescoço e o puxávamos para fora. Era melhor usar a vara do que nossas mãos, uma vez que muitas das vítimas se sujavam quando estavam sendo mortas. [28] Portanto, não queríamos tocar nos cadáveres com as mãos; em vez disso, preferíamos tirá-los com a vara. Depois que os corpos eram tratados na sala de se despir, eles eram levados para os fornos. Todos os prisioneiros Sonderkommando participavam na remoção dos corpos das câmaras de gás. Mesmo aqueles que normalmente trabalhavam em outro lugar: como aquela pessoa que fazia o trabalho de jardinagem no pátio do crematório ou aquele cujo trabalho era trazer carvão para os fornos. Este era o trabalho mais complicado e difícil.
Fonte: We Wept Without Tears: Testimonies of the Jewish Sonderkommando from Auschwitz (livro)
Autor: Gideon Greif
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 24 de novembro de 2012

Richard Widmann e Verohnika Clark (Alterado)

Originalmente publicado em: 24 de dezembro de 2009; alterado em 2 de janeiro de 2010.

Richard A. Widmann recentemente fez esta afirmação a respeito de seu novo jornal:
O site Inconvenient History tenta retornar às raízes do revisionismo sem qualquer agenda política ou desejo de tornar atrativos regimes totalitários.
Esta afirmação pode ser comprovada como falsa.

Vários dos contribuidores do jornal tem uma agenda antissemita e a mais extremista se chama Verohnika Clark, a quem Widmann publicou seus textos sob o pseudônimo anglicizado Veronica Clark.

Em 2006, Clark encontrou a 'Adolf Hitler Research Society' (Sociedade de Estudos Adolf Hitler). No mesmo ano, ela escreveu:
Os agora um milhão de registrados [Ain, 1993] que alegam ser "sobreviventes do Holocausto" deveriam ficar totalmente enojados com eles mesmos, e completamente envergonhados por serem tão implacáveis com os sacrifícios de Hitler e da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Eles realmente deveriam ter sido deixados para morrer, como do contrário aconteceu de serem salvos pela SS em fuga.
Em 2007, Clark escreveu:
Judeus são lixos subumanos.

Eu disse isso porque ninguém tem mais 'colhões'. Deveria eu clamar por um genocídio contra os judeus? Bem, se eu fosse presidente dos Estados Unidos, então, "Sim, eu o faria." Gostaria de bombardear a merd* vivente em Tel Aviv e cortar todo o financiamento para todos os judeus. Gostaria de amarrar numa corda seus líderes de circo - Chertoffsky iria balançar em uma corda. Então, livrar-me dos Bush, Levy, Feinstein, Feingold, Boxer, Schumer, Lieberman, Clinton e todos os outros judeus e cripto-judeus no governo judeumericano (Jewmerican).
Não é surpresa que Clark seja apoiada por Fritz Berg, que deu a ela esta introdução:
Nossa próxima pessoa a falar é Verohnika Clark. Ela é uma cristã, e uma admiradora de Adolf Hitler. Eu mesmo sou um pagão, mas também sou um admirador de Adolf Hitler. Se não fosse por Adolf Hitler, todos nós estaríamos vivendo sob o comunismo hoje, se estivéssimos vivos. O que salvou o Ocidente depois da Segunda Guerra Mundial foi a bomba atômica - sem a bomba atômica antes do fim da Segunda Guerra, quem salvou a civilização ocidental foi Adolf Hitler. Apesar da Sra. Clark e eu termos diferenças religiosas - ambos, ela e eu, somos revisionistas.
...
A Sra. Verohnika Clark entende Hitler melhor que qualquer um que eu conheça. Só há apenas quatro anos atrás que ela fez de Hitler o foco de sua pesquisa e escritos. Uma das mais importates descobertas é que Hitler era um cristão - mas não um típico cristão. Hitler era um um cristão revisionista procurando, e encontrando, o novo significado da mensagem cristã. A Sra. Clark tem dois excelentes websites sobre Hitler que ela criou em apenas um ano e os dirige totalmente sozinha. Em apenas seis meses, ela escreveu mais que uma centena verdadeiros soberbos ensaios, desbravando novos caminhos em muitos casos - e todos eles aparecem em seus websites. É dentro desses ensaios que eu detetei um enorme crescimento dentro dela, não apenas como uma revisionista, mas como uma pessoa que deve inspirar a todos nós. O próprio ato de ser uma ativista revisionista, lutando com a evidência histórica e seus próprios pensamentos sendo ela mesma, ouso dizer, a fez crescer e evoluir espiritualmente. Ela certamente me inspirou. Ela é da Califórnia - que ó - soa como um estranho lugar para o Ocidente. Eu tinha que falar isso porque acontece também da Sra. Clark ter um diploma da Associação de Artes em tecnologia automativa a diesel - bem como um bacharelado em ciência política global.
Em 30 de abril de 2009, Clark fez uma aparição neste programa de rádio usando os pseudônimos de Emma Goldmann e Emma Peters, que ela também costumava usar como administradora do site Adolf Hitler. A entrevista pode ser escutada aqui. Fritz Berg pôs um link para 'Emma' neste tópico da Cesspit*, que cita este texto:
Emma: a mais sangrenta e última-longa guerra da Europa. A Igreja Católica exerceu um proeminente papel no derramamento de sangue deste período. Não é surpresa de que vários Papas são judeus étnicos.
Tão óbvio são os links nazis, e tão insanos os escritos e história da rádio, que isso só pode fazer apenas uma contra-produtiva presença de Clark no jornal de Widmann. Então por que Widmann a publicou? Pode ser talvez por que a visão política de Widmann seja simpática com a dela? Em 2007, Widmann escreveu:
Hoje a cultura branca e herança europeia são denunciadas por serem ultimamente responsáveis pelo pensamento e ideologia que resultaram no Holocausto. No coração da capital de nossa nação, Distrito de Washington, o Museu Memorial do Holocausto dos EUA foi fundado. Uma das primeiras coisas exibidas que é confrontada pelo museu é o vídeo que condena 2000 anos de antissemitismo, que ele alega que resultaram no Holocausto. Isto quer dizer, o Cristianismo (com seus 2000 anos de história) é em última instância responsável por Auschwitz.
Além disso, no mesmo artigo, Widmann afirma que a historiografia do Holocausto e comemoração eram responsáveis pela 'degeneração moral' dos EUA:
Um exemplo recente é status heróico dado a Oskar Schindler, a indivíduo moralmente falido que fez sua vida com trabalho escravo, que traiu sua esposa, e foi um traidor de seu próprio país. (11) A aplicação de tais lições à cultura norte-americana podem apenas resultar na continuidade de sua degeneração moral e ruína.
Widmann ignora o fato que seus herois preferidos, Cristóvão Colombo e George Washington, também ganharam dinheiro com a escravidão. Este flagrante duplo-padrão apenas pode existir na mente de alguém que considera a 'influência judaica' como um problema real.

Atualização, 2 de janeiro de 2010: eu alterei minha descrição de Clark de 'nacionalista branca' para 'neonazi' na subsequente pesquisa. Sua entrevista à rádio, com o link acima, expressa conflitos entre ela mesma e nacionalistas brancos, incluindo uma conversa acalorada com Tom Metzger, discutida por um insano nacionalista branco aqui e aqui. Eu adicionei mais alguns links, como um que eu originalmente postei no site AHRS que está atualmente protegido por senha.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2009/12/richard-widmann-and-verohnika-clark.html
Tradução: Roberto Lucena

*Cesspit: para quem quiser entender o que significa "Cesspit" no contexto do negacionismo do Holocausto, confira o link.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ataque a torcedores na Itália alimenta medo de violência neofascista

ROMA, 23 Nov (Reuters) - Um ataque brutal contra torcedores do clube de futebol inglês Tottenham Hotspur em Roma alimentou os temores na Itália com relação ao crescimento da violência da direita e do antissemitismo.

A capital italiana foi atingida por um aumento da militância da extrema direita desde outubro, com manifestações semanais promovidas pelo grupo de jovens neofascistas Blocco Studentesco, que em geral terminam em confrontos com a polícia.

A mídia italiana inicialmente atribuiu o ataque de quinta-feira aos torcedores linha-dura ou ‘ultras'' da Lazio, time que enfrentou o Tottenham pela Liga da Europa.

Mas dois torcedores da Roma, os principais rivais da Lazio na cidade, estavam entre os 15 detidos por suposto envolvimento no ataque contra um bar no centro da cidade, o que sugere uma possível motivação diferente.

O Tottenham tem muitos torcedores judeus, e testemunhas contaram à mídia italiana que homens mascarados armados com facas e tacos de beisebol gritavam "Judeus, judeus" ao cercar o pub onde os torcedores do Tottenham bebiam, em um distrito frequentado por turistas em um bairro antigo de Roma.

Dez pessoas foram feridas no ataque. O torcedor inglês Ashley Mills, de 25 anos, ficou em estado grave. Ele foi submetido a uma cirurgia por causa de um ferimento na perna na sexta-feira e ainda era monitorado pelos médicos, informou o hospital de Roma em que ele está sendo tratado.

A Lazio divulgou uma declaração na quinta-feira afirmando que qualquer sugestão de que os agressores seriam torcedores do time era "totalmente sem fundamento".

O embaixador de Israel na Itália, Naor Gilon, disse a jornalistas que o ataque contra torcedores do Spurs vinha de "uma nova tendência de antissemitismo na Europa".

O Congresso Judaico Mundial pediu na sexta-feira que a Lazio seja suspensa do futebol europeu, caso o clube não tome medidas contra os torcedores linha-dura antissemitas.

Notícias na imprensa informaram que os torcedores da Lazio cantaram "Juden Tottenham, Juden Tottenham" na partida de quinta-feira.

PERIGO AOS JUDEUS

O caso de violência deu início a uma discussão sobre a segurança dos judeus em Roma.

O chefe da comunidade judaica da cidade, Ricardo Pacifici, disse que o ataque mostra que os judeus não estão suficientemente protegidos.

O comissário de polícia Giuseppe Pecoraro rejeitou a acusação, classificada por ele de provocação. "A polícia faz mais para a comunidade judaica de Roma do que em qualquer outro lugar do mundo", afirmou.

O prefeito de Roma, Gianni Alemanno, anunciou o financiamento de 21 milhões de euros (27 milhões de dólares) para o Museu do Holocausto "a fim de dar uma resposta imediata aos vários sinais de antissemitismo ocorridos recentemente em nossa cidade".

O próprio Alemanno é um antigo líder da juventude neofascista que era cumprimentado com saudações fascistas e gritos de "Duce! Duce!" ao ser eleito prefeito em 2008. Duce é o termo adotado pelo ditador italiano Benito Mussolini.

Por Naomi O''Leary
23 de novembro de 2012 • 14h16

Fonte: Reuters/Terra
http://esportes.terra.com.br/noticias/0,,OI6326623-EI1137,00-Ataque+a+torcedores+na+Italia+alimenta+medo+de+violencia+neofascista.html

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 01

RESUMO

Neste ensaio se analiza a relação entre a experiência original do fascismo italiano e suas expressões homólogas na América Latina (especialmente os casos do Brasil e do México) no período entreguerras. O objetivo principal é expôr as muitas ambiguidades, incertezas e leituras equivocadas que ocorreram em ambos sentidos durante essa época, em particular desde o lado italiano. Assim se chega a desenhar um mapa de encontros e sobretudo desencontros, que matizam a infuência e "difusão" do fascismo de origem italiana na América Latina, abarcando entre outros aspectos alguns elementos culturais e ideológicos. Avança-se assim para detectar os limites de expressão e propagação de um fascismo verdadeiro com respeito a outros fenômenos "nativos" da América Latina tais como as ditaduras e alguns movimentos políticos nacionalistas, e a marcar dessa forma um âmbito mais preciso de utilização da categoria "fascismo" na região.

PALAVRAS CHAVE: Fascismo, nacionalismo, Itália, América Latina, entreguerras.

Artigo recebido: 4 de fevereiro de 2008; Aprovado: 7 de julho de 2008; Modificado: 30 de setembro de 2008.

Introdução

A presença de um modelo político fascista ou semifascista na América Latina foi objeto de discussões e estudos ao longo das últimas quatro décadas, especialmente com relação aos regimes nacional-populistas, as ditaduras militares e alguns grupos nacionalistas radicais e "de direita" [01]. Um dos denominadores comuns das investigações foi o uso extensivo do qualificativo "fascismo" para cobrir um espectro amplo de fenômenos, entre fatos e personagens, oscilando desde o populismo da direita conservadora e autoritária, e passando por forças castrenses (com o modelo prototípico do ditador chileno Augusto Pinochet). A aplicação imprudente e excessiva do termo foi, além disso, característica dos ambientes políticos de esquerda os quais se cultivou por um longo tempo a ideia errônea de que a América Latina foi "a guarida do fascismo em suas formas mais abertamente contrarrevolucionárias e ditatoriais" [02]. Este uso polêmico, genérico e superficial da palavra, pela imprecisão, ou escasso rigor científico e o risco de graves erros de interpretação, foram denunciados por vários investigadores do fenômeno fascista, como Gilbert Allardyce, Stanley Payne e Emilio Gentile [03]. Cabe se perguntar de onde se origina esta ambiguidade ou incertidão semântica ao redor de um fenômeno fundamental do século XX. Neste ensaio se investigará uma das causas originais (não a única, mas sem dúvida importante) no "jogo de ilusões" entre as manifestações latinoamericanas do fascismo e a Itália fascista.

Naturalmente, para qualquer observador atento, na América Latina resultam de imediato evidentes as diferenças a respeito do fascismo europeu, se de "fascismo" se pode falar. Aqui não há movimentos de massas impulsionados pela classe média, líderes messiânicos, "religiões políticas" ou ideologias palingenésicas e poderosos partidos únicos, tampouco se percebe essa difura atmosfera intelectual voluntarista, vanguardista, soreliana e nietzcheana atiçada pelos mitos da guerra mundial, que constitui a base reativa para a formação da filosofia política do fascismo. Stanley Payne assinala a respeito que "a fragilidade ou bem a ausência de um fascismo verdadeiro na América Latina" se deve à "taxa geralmente baixa de mobilização política; um atraso mais que geracional em relação aos países mais atrasados da Europa; o caráter não competitivo do nacionalismo [...]; o controle tradicional elitista-patronal dos procedimentos políticos e portanto, a capacidade dos grupos dominantes e menos radicais [...] para reprimir o nacionalismo revolucionário; a composição multirracial de muitas associações latinoamericanas [...]; o predomínio político da casta militar [...] a debilidade da esquerda revolucionária [...]; a tendência dos nacionalistas latinoamericanos depois de 1930 a rechaçar tanto a Europa como a América do Norte e orientados para um nativismo populista ou de tradição hispânica; a insuficiência da economia social-nacional sindicalista do Estado em países dependientes [...]; o desenvolvimento, enfim, de um modo característico de nacionalismo radical na forma de movimentos populistas [...]" [04].

Na América Latina, contudo, existem também elementos comuns ou facilmente reconhecíveis para quem está familiarizado com os "modelos" europeus: a crise do liberalismo, a crítica à democracia parlamentar, o rechaço às oligarquias tradicionais, os impulsos à modernização nacional, a oposição ao imperialismo anglo-saxão (e a ideia de uma "nova ordem" mundial com a liderança de potências emergentes), a reação contra o "perigo" comunista (mais imaginário que real, ou bem distante geograficamente) e a busca de um sistema de tipo corporativo. O repertório de semelhanças é, sem dúvida, suficiente para perguntarmos não somente sobre a presença e extensão do fenômeno fascista - como assinalou em um momento Hélgio Trinidade - [05] senão precisamente indagar sobre as características das variantes regionais do mesmo. A este "fascismo" não teremos qualificativos tais como o "fascismo de esquerda" (Lipset, Incisa di Camerana) [06] ou o "fascismo desde cima/de direita" (Torcuato di Tella) [07], limitaremo-nos a descrever algumas peculiaridades das formas "fascistas" ou próximas ao fascismo presentes na América Latina, ao dar por certo que este constitui uma fenomenologia de alcance mundial com uma notável variação regional. O que faz falta por agora é, em primeiro lugar, incorporar as tendências mais recentes da investigação internacional sobre o fascismo, que lhe tirou a centralidade de questões tais como as classes sociais (fascismo=mobilização ou revolução das classes médias), as peculiaridades nacionais (fascismo=revanche de países humilhados ou ambiciosos) e a oposição às forças de esquerda (fascismo=anticomunismo), ou a relação com o modelo econõmico (fascismo=ditadura da burguesia ou fascismo=corporativismo) no que se enfoca melhor na ideología, na cultura, na morfologia institucional e na geopolítica [08]. Em segundo lugar é preciso abordar o problema da relação que existe entre todo fascismo e seu modelo original, que é sem dúvida alguma o italiano.

As investigações na Itália, na realidade, nunca perderam a consciência de que o fascismo fora essencialmente um produto "Made in Italy", uma perspectiva excessivamente limitada que em alguns casos (De Felice) dificultava ver os caracteres fascistas presentes em outras experiências extra-italianas, quer dizer, negar que o fascismo fora um fato de alcance mundial e de época. A atenção para a América Latina era óbvia, porque aqui se observavam fenômenos parecidos com características em parte similares e em partes diferentes a respeito do modelo transatlântico, o que criava confusão. Por outro lado, existia também uma linha de estudos que sem exagerar o alcance do "fascismo" como ideologia ou modelo político, destacava a influência do regime de Benito Mussolini como exemplo de Estado forte, autoritário e modernizador. Assim chegavam a ver erroneamente ou superficialmente como um "sucesso" da ditadura italiana tanto a função desta como um modelo, assim como o entrelaçar de contatos entre esta e os regimes latinoamericanos [09]. Este erro se deve em grande medida à falta de distinção entre a influência política e geopolítica por um lado (que foram menos consistentes do que se crê), e a influência ideológica por outro lado (ainda mais débil, muito além das imitações superficiais e as sugestões ocasionais e de toda toda forma, inferior às expectativas) [10].

A confusão dos âmbitos de influências, por demais, está presente já na produção escrita da época especialmente na Espanha e América Latina, onde se lia o fascismo no sentido conservador e autoritário, perdendo de vista ou mal interpretando os aspectos revolucionários, modernistas e progressivos da ideologia fascista [11], o que se levou a incluir apressadamente o fascismo entre "as direitas" [12]. Cabe mencionar além disso o hitlerismo antifascista que se propaga em muitos países entre as organizações trabalhistas e em círculos governamentais (no México), e alcança níveis de alarmismo exacerbado em fins da década de trinta e durante a Guerra, com as denúncias - em grande medida inverossímeis ou francamente exageradas - da presença de uma ubíqua "quinta coluna" fascista em todo o continente [13]. O aspecto mais surpreendente desta falta de entendimento ou alteração perceptiva - como se queira chamar - ao redor da presença fascista na América é talvez a confusão entre o verdadeiro fascismo (italiano) e suas imitações ou formas homólogas latinoamericanas. Os países que talvez podem exemplificar melhor estas confusões são México e Brasil: o primeiro, ao desenvolver um regime populista revolucionário de partido único com várias características em comum com o fascismo (mas derivadas do desenvolvimento autônomo) e o segundo, por ser o berço do movimento popular mais próximo ao fascismo de toda a América Latina. A estes dois casos nacionais lhes dedicaremos mais espaço em nosso percurso pelas formas e as manifestações políticas próximas ou paralelas ao fascismo na região.

O objetivo principal deste ensaio é mostrar através da profunda desilusão italiana pela escassa difusão ideológica e política do fascismo na América Latina, o desencontro com os movimentos, regimes e figuras políticas e intelectuais que se diziam fascistas ou simpatizantes (ou bem tinham esta reputação ou pareciam alinhados), para pôr em evidência como em grande parte da região se experimenta trajetórias político-ideológicas peculiares que, ao se extinguir abruptamente os fascismos "clássicos" europeus em 1945 (e ao mudar, em consequência, o clima ideológico mundial), manifestaram-se mais francamente nos modelos autóctenes de nacional-populismo. Desde o olhar italiano se chegara a descobrir finalmente o jogo de miragens e equívocos que contribuiu para originar a escassa ou errônea compreensão do que foi (e é) o fascismo na região [14].

1. Percepções e Realidades

Para abordar o tema, poderíamos começar por assinalar que o fascismo, ao contrário do comunismo, não é uma ideologia com vocação internacional. Ou melhor, ela o é somente na medida em que os objetivos nacionais se conjugam com as tarefas de elevar o status da "Civilização" (ocidental) e com a luta contra os inimigos desta (bolchevismo, liberalismo, individualismo, cosmopolitismo) e, em geral, contra a "decadência" (que é um conceito axial para todos os fascismos). Cada fascismo expressa, com efeito, um impulso de sua própria realidade nacional, surge - por assim dizer - de cada contexto com características peculiares e únicas, e só secundariamente se entrelaça com a fenomenologia ideológica e política mundial. Com estas exceções pode-se falar de "internacionalismo fascista" (especialmente nos anos vinte), e se pode detetar intenções de buscar laços e sinergias entre os movimentos fascistas internacionais e apregoar um "fascismo universal" (como o fizeram os CAUR [15] e alguns intelectuais italianos na década dos anos trinta). Contudo, todos os intentos de unir os esforços dos movimentos e regimes de tipo fascista se subordinam sempre ao princípio dos interesses nacionais. Não existe - nunca existiu em nenhuma parte - algo assim como uma forma de solidariedade espontânea com consequências políticas, como a que existiu entre os movimentos socialistas e comunistas mundiais e que favoreceu a formação do Komintern no período entreguerras. E fora isto, finalmente, a debilidade fatal do fascismo.

Os observadores contemporâneos mais atentos não se deixaram enganar e expressaram juízos céticos ou negativos sobre o conteúdo "fascista" das ditaduras latinoamericanas [16]. A influente revista Crítica Fascista em 1937 adverte a seus leitores que não tem como se entusiasmar por essas ditaduras e arriscar a fazer "de toda a erva uma só" [17]. O Conde Ciano (Ministro de Relações Exteriores e genro de Mussolini) observou nesse mesmo ano que:
"em todo o continente há uma tendência a considerar como "fascistas" as muitas medidas de caráter autoritário que são, na realidade, as ações de somente ditaduras militares ou semimilitares características desses países [...] para proveito pessoal [...]. O "Fascismo", na realidade, não é conhecido em suas verdadeiras finalidades e em sua essência no continente americano. [...] Em geral, quando se fala de "fascismo" na América do Sul se fala desta ou daquela pessoa que têm tendências de caráter fascista. Todos os demais homens políticos ignoram quase completamente o que são a teoria e práxis fascista" [18].
Os ditadores latinoamericanos, efetivamente, não se ajustavam ao perfil de Mussolini. Ainda que estes homens admirassem o Duce e o fascismo, eram por demais nacionalistas para reconhecer dúvidas a um modelo estrangeiro ou tolerar intromissões políticas externas [19]. Eram, sobretudo, bastante conservadores para aceitar o componente socialista, populista e revolucionário do fascismo. Deste eles tinham, como todo mundo, uma visão parcial e deformada. Por seu lado, o regime fascista não se inclinava a aceitar por princípio o caráter reacionário dos ditadores que eram a expressão de interesses castrenses, oligárquicos e pessoais, ao invés de serem a manifestação autêntica das massas nacionais [20]. Na imprensa fascista era frequente que se dessem "lições" a homens fortes latinoamericanos, para "impedir que alguns simples reacionários ou caudilhos militares exagerassem em se atribuir credenciais ilegítimas do fascismo" [21].

É certo também que a percepção italiana da realidade latinoamericana tinha suas limitações. Os fascistas italianos tão sencíveis em conceder o título de "fascista" a movimentos e regimes estrangeiros, especialmente se eram do tipo militar, personalista ou conservador, não souberam reconhecer os fenômenos paralelos (nacional-populistas) ou francamente próximos (fascismo "de esquerda", se aceitamos a expressão de Lipset e Incisa di Camerana) que se manifestavam na distância das terras americanas. O fascismo italiano tinha um componente populista, mas o populismo como fenômeno político em sentido estrito e completo é em si uma forma política autônoma, quer dizer, como o fascismo é autônomo em relação ao nacionalismo ou ao socialismo (que são suas duas principais raízes históricas) [22]. Os fascistas italianos simplesmente não souberam detetar o populismo. Além disso - enquanto estiveram dispostos a reconhecer formas políticas sui generis - não perceberam ou rechaçaram as formas mais esquerdistas e peculiares de fascismo que também nasciam, com a influência do modelo italiano mas respondendo a uma causalidade local diferente. A luta para construir a nação, derrubar as oligarquias decimonónicas (do séc. XIX) e romper com a dependência das potências anglo-saxãs levou a vários casos à formação de movimentos e regimes de tipo fascistizantes (Brasil, México, Bolívia), que não foram entendidos completamente pela Itália fascista, que os viu como algo exótico, distante e confuso.

Notas

* Este artigo é resultado do projeto de pesquisa do autor entitulado "Nación y nacionalismo", financiado pelo Instituto Nacional de Antropologia e Historia, INAH, do México.

[01] Ver entre os numerosos estudos, Theotonio Dos Santos, Socialismo o fascismo: el nuevo carácter de la dependencia y el dilema latinoamericano (Buenos Aires: Periferia, 1974); René Zavaleta Mercado, "Nota sobre fascismo, dictadura y coyuntura de disolución", Revista Mexicana de Sociología 41:1 (enero-marzo 1979): 75-85; David Viñas, Qué es el fascismo en Latinoamérica (Barcelona: La Gaya Ciencia, 1977); Hélgio Trinidade, "El tema del fascismo en América Latina", Revista de Estudios Políticos 30 (1982): 111-142. Geralmente estes autores se adscriben à teoria marxista e aos modelos de "dependência".

[02 Roger Grifn, The Nature of Fascism (New York: Routledge, 1991), 148.

[03 Cfr. Franco Savarino, "La ideología del fascismo entre pasado y presente", em Diálogos entre la historia social y la historia cultural, eds. Franco Savarino et al. (México: INAH-AHCALC, 2005), 253-272.

[04 Stanley G. Payne, Il fascismo (Roma: Newton, 1999), 345.

[05 Helgio Trinidade, "El tema del fascismo", 111.

[06 Seymour Martin Lipset, El hombre político. Las bases sociales de la politica (México: REI, 1993); Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos. Biografia di un continente (Milano: Corbaccio, 1994).

[07 Torcuato S. Di Tella, "Fascismo desde arriba" en Diccionario de las ciencias sociales y políticas, eds. Torcuato S. Di Tella et al. (Buenos Aires: Emecé, 2001), 271-272.

[08 Em particular as influentes investigações de George Mosse, Zeev Sternhell, Roger Grifn e Emilio Gentile que marcam um "giro" cultural (e institucional) nos estudos sobre o fascismo. Gentile define o fascismo como "um fenômeno político moderno, nacionalista e revolucionário, antiliberal e antimarxista, organizado por um partido milícia, como uma concepção totalitária do Estado, com uma ideologia ativista e antiteorética, com um fundamento mítico, viril e anti-hedonista, sacralizada como uma religião laica que afirma a supremacia absoluta da nação ao que se entende como uma comunidade orgânica etnicamente homogênea e hierarquicamente organizada em um Estado corporativo com uma vocação belicista a favor de uma política de grandeza, de poder e de conquista encaminhando à criação de uma nova ordem e de uma nova civilização". Emilio Gentile, Fascismo, historia e interpretación (Madrid: Alianza, 2004), 19.

9 Por exemplo, em Pietro Rinaldo Fanesi, "Le interpretazioni storiografiche e politiche dell'America Latina nel periodo fascista", en Ruggiero Romano. L'Italia, l'Europa, l'America, ed. A. Filippi (Camerino: Università di Camerino, 1999), 395-405. Mas é uma interpretaçaõ comum. Mugnaini por seu lado, Marco Mugnaini, "L'Italia e l'America latina (1930-1936): alcuni aspetti della politica estera fascista", Storia delle Relazioni Internazionali 2 (1986): 199-244 interpreta o encontro do fascismo com os regimes castrenses em termos de simpatias, interesses e instrumentalizações políticas (203-207).

10 Vê-se uma evaluación bastante precisa destas influências contraditórias em Stanley Payne, Il Fascismo, 345-354; e cfr. Franco Savarino, "Apuntes sobre el fascismo italiano en América Latina (1922-1940)", Reflejos 9 (2000-2001): aquí 107-109. Sobre la infuencia del fascismo entre las comunidades italianas (que se encontra fora do alcance deste estudo) existe já uma boa bibliografia: véase, entre otros a Joao Fábio Bertonha, "A migraçao internacional como Fator de Política Externa: os emigrantes italianos, a Expansâo Imperialista e a Politica Exterior da Itàlia, 1870-1943", Contexto Internacional, XXI: 1 (Enero-junio 1999): 123-64; Emilio Franzina y Matteo Sanflippo eds., Il fascismo e gli emigrati (Roma-Bari: Laterza, 2004); y Eugenia Scarzanella (ed.), Fascisti in Sud America (Firenze: Le Lettere, 2005).

11 Por exemplo, na Espanha um observador contemporâneo (1934) escreve: "Empiezan a existir en España grupos fascistas. Oír a la mayoría de quienes los componen, encoleriza. Se titulan fascistas por haber llegado a la cómoda conclusión de que orden y fascismo son términos sinónimos. Impórtanle un adarme la médula sindicalista, tan en pugna con la tesis conservadora, ni su carácter de doctrina en plena evolución. Ellos lo que quieren es orden, no justicia". Cesar Juarrós, Atalayas sobre el fascismo (Madrid: Ma. Yagües Editor, 1934), 42.

12 Que el fascismo fuera una revolución moderna (al lado y en rivalidad con la comunista) es un hecho aceptado por la mayoría de las investigaciones científicas actuales. El fallecido George Mosse titula significativamente su último líbro The Fascist Revolution. Toward a General Theory of Fascism (New York: Howard Fertig, 1999). La colocación del fascismo sobre el eje derecha-izquierda es más problemática, posiblemente la mejor opción sería asignarle un lugar "central" ("ni derecha ni izquierda" es el título de un famoso estudio de Zeev Sternhell), reconociendo la posibilidad de oscilar en los dos sentidos y marcando una distinción especialmente de las derechas con las cuales suele ser confundido. Cfr. Sandra McGee Deutsch, Las Derechas: The Extreme Right in Argentina, Brazil, and Chile, 1890-1939 (Stanford: Stanford University Press, 1999).

13 Un ejemplo de esta literatura alarmista es la obra de Hugo Fernández Artucio, La organización secreta nazi en Sudamérica (México: Minerva, 1943). Es posible leer retrospectivamente la obsesión por el fascismo internacional de esa época a la luz de la obsesión contemporánea por el "peligro" islámico.

14 Para um exame mais geral e de corte geopolítico das relações italianas com a América Latina remeto a Franco Savarino, "En busca de un "Eje" latino: la política latinoamericana de Italia entre las dos guerras mundiales", Anuario del Centro de Estudios Históricos "Prof. Carlos A. Segretti" 6 (2006): 239-261.

15 Comitati d'Azione per l'Universalità di Roma. Véase Mario Cuzzi, L'internazionale delle camicie nere. I CAUR 1933-1939 (Milano: Mursia, 2005).

16 Oreste Villa (agregado comercial en la Legación italiana en México en los años treinta) critica severamente todos los dictadores latinoamericanos con la excepción de Juan Vicente Gómez. Cfr. Oreste Villa, L'America Latina, problema fascista (Roma: Nuova Europa, 1933), 50-58.

17 Mario Da Silva, "'Fascismi' latino-americani", Critica Fascista, XVI: 3 (diciembre 1937): 44-47. En italiano es un juego de palabras: "fare di tutta l'erba un fascio" (haz=fascio).

18 Ciano a Lojacono, Roma, 26 de abril 1937, en Gianluca André comp., Documenti Diplomatici Italiani (DDI), s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 6, doc. 515, 653. Las palabras de Ciano son también indicativas de lo difícil que era para los fascistas comprender los fenómenos políticos característicos de la región, como el populismo, o reconocer aquí elementos familiares en la maraña de formaciones autoritarias y auto-reivindicaciones o imitaciones del modelo italiano con ninguno o escaso espesor ideológico.

19 Marco Mugnaini, "L'Italia", 208-211.

20 Aldo Albonico, Italia y América (Madrid: MAPFRE, 1994), 166 y cfr. Folco Testena, "Sguardo sommario sulla situazione dell'America di lingua latina", Civiltá Fascista (Agosto 1942): 653-657. Sobre las dictaduras sudamericanas véase Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos, 195-245. Los regímenes militares latinoamericanos resultaron ser menos permeables de lo esperado a las infuencias fascistas, también por la incompatibilidad fundamental existente entre el militarismo y el fascismo. Stanley Payne, Fascism. Comparision and definition (Madison: The University of Wisconsin Press, 1980), 19 y 167-175.

21 Aldo Albonico, "Immagine e destino delle comunità italiane in America latina attraverso la stampa fascista degli anni trenta", Studi Emigrazione XIX:65 (marzo 1982): 43.

22 Sobre el populismo hay una vasta literatura que resultaría imposible reportar aquí. Véase entre los clásicos: Octavio Ianni, La formación del Estado populista en América Latina (México: ERA, 1975); Ernesto Laclau, Política e ideología en la teoría marxista (Madrid: Siglo XXI, 1978); Margaret Canovan, Populism (New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1981). Ver también María M. Mackinnon y Mario A. Petrone (eds.), Populismo y neopopulismo en América Latina (Buenos Aires: Eudeba, 1998); y cfr. Franco Savarino, "Populismo: perspectivas europeas y latinoamericanas", Espiral XIII:37 (septiembre-diciembre 2006): 77-94.

Fonte: Scielo
Texto: JOGO DE ILUSÕES: BRASIL, MÉXICO E OS "FASCISMOS" LATINOAMERICANOS FRENTE AO FASCISMO ITALIANO
Autor: Franco Savarino
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-16172009000100009&script=sci_arttext
Link alternativo: http://historiacritica.uniandes.edu.co/view.php/573/index.php?id=573
Tradução: Roberto Lucena

Ver:
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 02
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 03

Ver também:
O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01

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