quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com bombas incendiárias

Publicado em 24 junho, 2012

O doutor Ding-Schuler dirigiu os experimentos com bombas incendiárias em Buchenwald. O propósito desses experimentos era comprovar a eficácia de um preparado com dissolvente líquido de tetracloreto de carbono, denominado R-17, e outros líquidos ou pomadas dermatológicas para combater as feridas e queimaduras de guerra causadas pelas bombas incendiárias arrojadas no campo de batalha. Se tivessem sucesso, essas pomadas seriam distribuídas em ambulatórios de socorro contra ataques aéreos a todas as vítimas potenciais dessas bombas.

Entre 19 e 25 de novembro de 1943, o doutor Ding selecionou "cinco sujeitos para experimentação [os quais] foram queimados premeditadamente com fósforo prendido extraído de uma bomba incendiária. As queimaduras resultantes foram muito severas, as vítimas sofreram dores atrozes e lesões permanentes". [Nuremberg Military Tribunals: The Medical Case, vol. 1 pág. 640].

(…)

Em seu testemunho, o doutor Mrugowsky afirmou:
- Depois de um tempo considerável sem notícias do oficial médico, e a propósito dar a conhecer o remédio R-17 aos ambulatórios de socorro contra ataques aéreos, perguntei-lhe a respeito em uma reunião. Ele me disse então que não podia introduzir o remédio porque só possuía propriedades de dissolução do fósforo, mas não contribuía diretamente para a cura das queimaduras.

Ainda que os imputados Genzken, Gebhardt, Mrugowsky e Poppendick fossem acusados de responsabilidade destacada e participação em experimentos com bombas incendiárias constitutivos de delito criminoso, todos eles foram absolvidos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/24/655/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno"
(livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 251-254; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Doutores do interno: experimentos com infecções

Publicado em 25 junho, 2012

Em Dachau e Auschwitz, no outono de 1942 foram levados a cabo experimentos com inflamação e infecção simulando feridas de guerra e intervenções cirúrgicas. Infectava-se artificialmente com pus a reclusos dos campos de concentração, procedimento este que produzia terríveis dores. A metade recebeu tratamentos bioquímicos, e a outra metade foi tratada com sulfanilamida. Os casos de maior gravidade as pessoas se negavam a tomar os comprimidos bioquímicos porque era pedido que elas tomassem isso a cada cinco minutos, durante todo o dia e toda a noite; um tratamento terapêutico desumano.

Numa série de experimentos se usou vinte reclusos alemães, dos quais sete morreram. Numa segunda série, infectou-se quarenta sacerdotes de diversas nacionalidades, morreram doze.

Testemunho de acusação de Heinrich W. Stoehr, enfermeiro e recluso do campo de concentração de Dachau, feito em 17 de dezembro de 1946.

(…)
"Principalmente se tratava o flemón (gangrena). Era muito comum no campo. Ou seja, o flemón (gangrena) era a típica enfermidade do campo. O tratamento era conduzido da seguinte maneira: observavam-se três casos parecidos. A um deles se dava tratamento alopático, a outro o bioquímico e o terceiro recebia só o tratamento cirúrgico normal. Ou seja, o terceiro não recebia nenhum remédio e se tratava a ferida de maneira habitual, com bandagens etc (…)

Durante o outono, um tal de doutor Schuetz disse ao médico do campo, que se chamava Babo, que ele infectara a várias pessoas com pus. (…)"
Os imputados Poppendick, Oberheuser e Fischer foram absolvidos desta acusação. Gebhardt, outro dos acusados, declarou não ter conhecimento prévio desses experimentos ao ser interrogado por seu advogado. Contudo, ele se declarou culpado das segundas acusações (crimes de guerra), terceiras (crimes contra a humanidade) e quarta (pertencia à SS) do texto de acusação, devido a sua implicação não só nesses experimentos com gangrenas, senão com outros doze experimentos já descritos. Foi sentenciado a morrer na forca.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/25/659/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 255-259; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com fenol

Publicado em 26 junho, 2012

Foi este o terceiro grupo de experimentos que não aparecia descritos expressamente no texto de acusação, mas que ainda assim foram ajuizados devido à existência de provas que colocavam de manifesto a comissão de atos desumanos e atrocidades.

O propósito deste experimento consistia em comprovar a tolerância do soro composto de fenol em soldados afetados com gangrena gasosa. Tanto nos campos de concentração como no exército, buscava-se métodos preventivos contra a gangrena gasosa.

O fenol é um potente veneno corrosivo, e sua solução aquosa, o ácido carbólico, é utilizado como antisséptico. As injeções de fenol se converteram assim mesmo no método clínico para o assassinato em massa dentro do programa de eutanásia, sem o objetivo científico de sanar, senão o de melhor "restabelecer" a saúde do Volk alemão mediante a erradicação de todos os "elementos inferiores". Esta categoria laxa (larga) incluía a judeus, ciganos e eslavos; "vidas indignadas de serem vividas": enfermos, retardados, deficientes mentais, epiléticos, enfermos mentais, cegos e pessoas deformes; e "indesejáveis": delinquentes, homossexuais, alcoólicos e outros grupos.

(…)

O doutor Hoven, um dos acusados, testemunho em 24 de outubro de 1946 como médico chefe de Buchenwald (prova 281 da acusação):
"Em alguns casos supervisionei a morte desses reclusos imprestáveis mediante injeções de fenol, a petição dos reclusos. As mortes ocorreram no hospital de campo e vários reclusos me ajudaram. Em uma ocasião, o doutor Ding foi ao hospital assistir as mortes com fenol e disse que não estavam sendo feitas corretamente, assim que ele mesmo deu algumas injeções. Naquela ocasião foram mortas três pessoas com injeções de fenol, e os três morreram em menos de um minuto.

O número total de traidores que foram mortos fora de uns cento e cinquenta, dos quais sessenta morreram por injeções de fenol administradas por mim pessoalmente ou sob minha supervisão no hospital de campo, e os demais presos foram foram mortos de diversas maneiras; por espancamento, por exemplo"
As surras as quais se referia o doutor Hoven ocorriam porque alguns presos recebiam tratamento preferencial. Os reclusos aos quais eram dados postos-chaves no campo, normalmente eram encarcerados por motivos não "políticos", desfrutavam frequentemente de melhores condições de vida. Isso gerava inveja entre os reclusos menos favorecidos que provocavam represálias, inclusive o assassinato. Tal comportamento era comum nos campos de concentração. Hoven usa a palavra "traidor" para dar a entender que os sujeitos da experimentação eram presos políticos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/26/doctores-del-infierno-experimentos-con-fenol/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 262 a 263; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 9 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com gás

Publicado em 10 junho, 2012

Um relatório de Ferdinand Holl fechado em 31 de março de 1945 descrevia experimentos com gás mostarda no campo de concentração de Neuengamme. Holl, mineiro de profissão e preso político durante a guerra, trabalhou como Kapo de reclusos (encarregado) no hospital do campo e declarou como testemunha de acusação em 3 de janeiro de 1947. Afirmou que, em que pese que o doutor Hirt tenha prometido aos reclusos que intercederia ante Himmler para pedir por sua libertação se eles se oferecessem como voluntários, nenhum se ofereceu.

O relatório de Holl afirmava:
"O professor Hirt assistiu os primeiros experimentos. Depois foi um oficial da aviação alemã quem se encarregou de conduzi-los. Os prisioneiros eram desnudados por completo. Entravam no laboratório um a um. Logo eu tinha que lhes segurar os braços, e eles estendiam, para esfregar uma gota desse líquido no braço, dez centímetros acima do antebraço.

Depois as pessoas as quais foram lhes aplicadas o tratamento, tinham que esperar de pé com os braços estendidos. Passadas umas dez horas, talvez um pouco mais, começavam a aparecer queimaduras por todo o corpo. Ali onde os vapores do gás alcançavam, queimava o corpo deles. Além disso, alguns ficaram cegos. A dor era tão intensa que alguém apenas podia suportar estar próximo das vítimas.

Logo lhes fotografavam a cada dia; todas as partes do corpo com lesões: ou seja, as zonas queimadas. Seguindo estes fatos, a partir do quinto ou sexto dia, tivemos nossa primeira morte. E aquele então, os mortos eram mandados para Estrasburgo, porque não havia crematório no campo.

Mandaram o morto para Ahnenerbe (Instituto de investigação da SS) para dissecá-lo. Seus intestinos, pulmões etc, estavam completamente carcomidos. Depois, durante os dois ou três dias seguintes, morreram sete pessoas mais. Este tratamento durou uns dois meses, até que estivessem mais ou menos em condições para trasladá-los; então os mandaram para outro campo.

No dia seguinte, quer dizer, sete dias depois do início do experimento, morreram outros sete sujeitos da experimentação."
Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/10/doctores-del-infierno/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 178 a 179; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Coleção de arte nazista contém obras-primas até então desconhecidas

Atualizado em 5 de novembro, 2013 - 13:27 (Brasília) 15:27 GMT
Reprodução de obra de Chagall (AP)

Quadros foram encontrados durante investigação de evasão fiscal
Obras até então desconhecidas de grandes pintores estão entre as cerca de 1,4 mil peças encontradas em uma valiosa coleção de arte que havia sido confiscada pelos nazistas, anunciaram autoridades alemãs.

A coleção foi encontrada em Munique, em 2012, durante uma investigação de evasão fiscal por parte de autoridades alemãs. Mas o caso só veio a público agora em uma reportagem na revista alemã Focus.

Um curador que está analisando a coleção - com quadros que se supõe terem sido confiscada de instituições e colecionadores judeus durante o nazismo - disse à BBC que o catálogo inclui obras que se pensava que estavam destruídas e outras cuja existência era desconhecida.

Entre elas estão quadros não registrados de artistas como Marc Chagall, Otto Dix, Max Liebermann e Henri Matisse.

Há também obras de Pablo Picasso, Henri de Toulouse-Lautrec e Gustave Courbet.

Com base nisso, historiadores da arte de todo o mundo estão preparando adendos a biografias de diversos artistas modernistas.

Por sua vez, promotores afirmam que ainda estão tentando identificar a quem as obras pertenciam originalmente.

Segredos

O editor de artes da BBC, Will Gompertz, ressalta, porém, que há frustração no meio artístico com a falta de informações fornecidas pelas autoridades alemãs a respeito da coleção - dos cerca de 1,4 mil quadros encontrados, só foram dados detalhes de dois deles.

O caso todo está envolto em sigilo. O catálogo inteiro não será postado online, e pessoas que achem que suas famílias podem ser as donas originais das obras devem tomar a iniciativa de buscar as autoridades.

Questionada em entrevista coletiva o porquê da demora em trazer o assunto a público, a Promotoria alemã afirmou que teria sido "contraproducente" divulgar o caso e que mantém informações em segredo por motivos "práticos e legais".

Investigadores dizem ter "provas concretas" de que ao menos parte da coleção fora tomada pelos nazistas de seus donos originais ou foram consideradas "degeneradas" pelo regime.

Reinhard Nemetz, chefe da Promotoria de Augsburg, disse que a coleção - com 121 quadros emoldurados e outros 1.258 sem moldura - foi encontrada no apartamento de um homem chamado Cornelius Gurlitt, investigado por evasão fiscal.
Obras descobertas do artista Otto Dix (Reuters)

Autoridades alemãs foram criticadas
pela demora em revelar a descoberta
Segundo a Focus, Gurlitt é filho de um colecionador de arte que teria sido recrutado pelos nazistas para vender obras confiscadas no exterior. Depois da Segunda Guerra Mundial, o colecionador alegou que sua coleção fora destruída durante um bombardeio.

Um conhecido dele disse que Gurlitt herdou a coleção após a morte de sua mãe, ainda que aparentemente não a tenha declarado. Ele teria se tornado um recluso mercador de arte em Munique, que vendia os quadros quando precisava de dinheiro. Seu paradeiro é desconhecido e não se sabe ainda se ele sequer cometeu algum crime.

O que se sabe é que estava em posse de uma coleção estimada em 1 bilhão de euros (mais de R$ 3 bilhões).

'Qualidade excepcional'

Representantes de associações judaicas questionaram a demora da Alemanha em revelar a coleção e fizeram um apelo para que ela seja devolvida a seus donos originais - alegando que coleções privadas de arte do Terceiro Reich eram em sua maioria de posse de judeus.

Mas alguns leiloeiros argumentaram que pelo menos parte da coleção recém-descoberta foi comprada pelo pai de Gurlitt por preços irrisórios, em 1938, de uma outra coleção, de obras em posse do governo.

O especialista em arte Meike Hoffmann disse que algumas das obras da coleção estão sujas, mas não danificadas.

"Os quadros são de qualidade excepcional e têm valor muito especial para especialistas", diz ele. "Muitos sequer eram conhecidos até agora."

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/11/131105_colecao_arte_nazista_pai.shtml

Ver mais:
http://www.dgabc.com.br/Noticia/492579/alemanha-colecao-inclui-obras-de-arte-desconhecidas?referencia=minuto-a-minuto-topo (Dgabc, Brasil)
http://www.dw.de/tesouro-de-munique-inclui-obras-de-arte-in%C3%A9ditas/a-17206936 (DW, Alemanha)

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com água marinha

Publicado em 21 junho, 2012

Dachau foi o cenário dos experimentos com água marinha dirigidos principalmente pela Força Área e Exército alemães. Esses experimentos tinham como propósito desenvolver um método para tornar potável a água marinha mediante sua dessalinização. Os pilotos da Luftwaffe que se lançavam ao mar ou caíam nele, assim como os marinheiros alemães que sobreviviam ao bombardeio e ao afundamento de seus barcos, tinham que sobreviver durante longos períodos no mar.

Entre julho e setembro de 1944 se levou a cabo uma série de experimentos para os quais foram utilizados quarenta e quatro sujeitos de idades compreendidas entre os dezesseis e quarenta e nove anos, em sua maioria ciganos alemães, tchecos e poloneses, que eram privados de alimentos entre cinco e nove dias. Pediram reclusos de outros campos que se oferecessem como voluntários para "serviços de limpeza" em Dachau, onde haviam ouvido falar que as condições de vida eram melhores, e por isso aceitaram ir. (…)

Beiglboeck lhes havia prometido rações extras e um trabalho fácil. Só que nunca cumpriu essas promessas. (…)

Os sujeitos de experimentação foram divididos em quatro grupos. O primeiro não recebeu água. O segundo bebeu água marinha comum. O terceiro bebeu água marinha processada mediante o método Berka, chamado Berkatit [água marinha processada para ocultar seu sabor, sem alterar seu conteúdo salino]. O quarto bebeu água marinha tratada para extrair o sal.

Durante o experimento, os designados no "terceiro grupo" não receberam nenhum alimento. Os demais, subministravam para eles rações de emergência marítima: a dieta de naufrágio, consistente de uma onça (28 gramas) de bolachas ao dia, leite condensado e edulcorado, manteiga, gordura ou margarina e chocolate.

[Testemunho de Karl Hoellenrainer, cigano mestiço alemão]

“… Éramos quarenta homens. Então veio um doutor da Luftwaffe e nos examinou. Tivemos que tirar a roupa e ficar em fila. Logo nos disse: "Bem, vão lhes dar boa coisa para comer, como não comeram jamais antes, e logo depois não será dado nenhum alimento e terão que beber água do mar." Um preso que se chamava Rudi Taubmann se levantou em um salto e se negou. Já havia passado por um experimento com água fria, e não queria passar por mais isso. O médico da Luftwaffe então disse: “Se você não se calar e continuar protestando, darei um tiro agora mesmo em você". O doutor da Luftwaffe sempre andava com uma pistola e logo ficamos todos calados. (…)

Havia três classes de água: água branca e água amarela (duas classes); e eu bebi da amarela. Depois de alguns dias a gente começou a ficar louco; saia espuma pela boca. O médico da Luftwaffe veio com um sorriso cínico e nos disse que era de fazer as punções no fígado (…)

As punções no fígado eram feitas pelo próprio médico da Luftwaffe. Em algumas pessoas eram feitas uma punção no fígado e ao mesmo tempo uma punção na medula espinhal. Ele mesmo as fazia. Era muito doloroso. Ao mesmo tempo te corria algo pelas costas. Era água ou algo assim. Não sei o que era."

(…)

As testemunhas de acusação demonstraram que as vítimas desses experimentos sofreram dores agudas, diarreia, convulsões, alucinações, que espumaram pela boca e que, finalmente, na maioria dos casos, acabaram loucos ou faleceram.

(…)

Os imputados Schroeder, Gebhardt, Sievers, Becker-Freyseng e Beiglboeck foram condenados por sua responsabilidade destacada e por suas participações em experimentos com água marinha constitutivos de delito.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/21/doctores-del-infierno-experimentos-con-agua-marina/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 199 a 212; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com transplantes e regeneração de tecidos

Publicado em 19 de junho, 2012

Os experimentos relativos à regeneração de ossos, músculos e tecido nervoso e o transplante de ossos se encontram entre os mais selvagens, sádicos e inumanos. Extraía-se seções de osso, amputava-se braços (incluindo os omoplatas) e pernas à altura da cadeira, e se extraía tecido nervoso e muscular de internos dos campos de concentração, e na continuação se tentava transplantar essas partes do corpo para outras vítimas. Esses testes causavam, no geral, a morte. Mas, para os que sobreviveram, isto foi traduzido em mutilações e invalidez permanentes.

(…) Praticava-se incisões no lado exterior da parte superior da perna e se extraía músculo. Logo se fechava a ferida e se colocava uma tala. Passada uma semana, abria-se a ferida e se extraía mais músculo.

(…)

A doutora Maczka declarou que o imputado Gebhardt supervisionou tanto os experimentos com sulfanilamida como os relativos a ossos, músculos e nervos [no campo de Ravensbrück]. Reconheceu que não foi perdoada a vida de nenhuma pessoa depois desses experimentos. Os testemunhos posteriores colocaram como manifesto que a doutora Oberheuser descuidou-se por completo dos deveres de atenção básica e que seu trato com os pacientes foi cruel e abusivo.

(…)

A doutora Zdenka Nedvedova-Nejedla, uma reclusa originária de Praga, chegou a Ravensbrück num transporte procedente de Auschwitz em 19 de agosto de 1943 e trabalhou ali até maio de 1945. Em sua declaração relativa aos experimentos realizados com suas companheiras de reclusão, afirmou: todas as mulheres as quais foram levado a cabo experimentos cirúrgico, colocava-se em um mesmo pavilhão, e elas eram conhecidas geralmente por "cobaias".

Soube pelo pessoal da enfermaria que se injetavam nas feridas cultivos de estreptococo, estafilococo, tétano e gangrena gasosa* para produzir osteomielite (inflamação do osso) com fins experimentais.

Extraía-se partes dos ossos das pernas até cinco centímetros de largura. As vítimas eram mortas imediatamente depois da operação mediante uma injeção de Evipan.

Os braços e as pernas amputados eram envolvidos em gaze estéril e eram levados ao hospital da SS que havia nas proximidades para tentar implantá-los em soldados alemães feridos.

Os únicos enfermeiros que tinham acesso às reclusas operadas eram os da SS. As reclusas permaneciam toda a noite entubadas, com dores agudas, porque era proibido lhes administrar calmantes. Onze morreram ou foram assassinadas e setenta e uma ficaram inválidas pro resto da vida.

Os imputados Gebhardt, Oberheuser e Fischer foram considerados culpados por conduta criminosa por sua responsabilidade em pôr em prática esses experimentos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/19/doctores-del-infierno-experimentos-con-trasplantes-y-regeneracion-de-tejidos/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 159 a 176; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

* Clique em cada nome pra ver o que são as bactérias: estreptococo, estafilococo, tétano e gangrena gasosa (link2).

domingo, 3 de novembro de 2013

Sobre cobaias de laboratório e humanos, e o "caldo" da segunda guerra

Foto do julgamento dos médicos
no tribunal em Nuremberg,
pós-guerra
Eu resolvi trazer esse comentário (abaixo) pra cá porque poderia desviar o foco do post sobre o julgamento de médicos nazistas em Nuremberg, aqui o link:
O julgamento dos médicos em Nuremberg

A quem quiser ler mais sobre experimentos médicos na segunda guerra, clique na tag (marcador) abaixo:
Experimentos médicos/Cobaias humanas na segunda guerra

Não há condição de deixar passar batido o que houve, primeiro porque é algo sério (tratado com descaso e sensacionalismo pela mídia), e também (principalmente) porque não gostei da abordagem (agressiva e fanática) de uma pessoa comentando sobre esse assunto, e me impressiona como eles embasam um discurso cheio de lacunas - moralista ao extremo - pra criticar os testes de laboratório ignorando a finalidade disso, refiro-me ao caso da remoção dos cachorros (beagles) do laboratório do tal Instituto Royal em São Paulo.

Segue abaixo a cópia do comentário que estava no link acima "O julgamento dos médicos em Nuremberg". Irei remover o comentário do outro post pois já está colocado em um post separado, pra evitar que o outro post sobre o julgamento se perca, caso haja discussão sobre essa questão (estou me precavendo porque as reações que tenho visto são agressivas e emocionais ao extremo, e muitas sem fundamento algum, abaixo eu explico melhor o porquê deu achar isso, e há dois vídeos que espero que as pessoas assistam e reflitam sobre o ocorrido).
____________________________________________

Comentário: esse texto apareceu quando citaram o nome dessa Herta Oberheuser num grupo e não há praticamente referência no verbete dela da Wikipedia em inglês (ao contrário do verbete em alemão) de bibliografia etc, sendo que se enquadra na questão dos médicos e o nazismo, ela fez experimentos no campo de Ravensbrück.

Mas o texto toca inevitavelmente num ponto que foi assunto nas últimas semanas no país que é a questão de cobaias de laboratório e o porquê do uso de animais em experimentos, refiro-me à invasão de um laboratório e a captura de cães da "raça" beagle. Parece que não "tem nada a ver" o assunto, mas tem tudo a ver. Não sei se deveria comentar isto aqui ou em um post à parte. Se for o caso, colocarei em separado o texto com o comentário/observação em outro post posteriormente, pois o intuito ao fazer o comentário não é abafar o tema do post, embora pela reação totalmente emocional que eu observei neste caso, a gente fica com receio de comentar isso neste post e começarem a discutir somente o caso dos cachorros em laboratório.

Um dos motivos do uso de animais em laboratório é justamente este citado no texto, para não usar humanos como cobaias de laboratório, principalmente depois das atrocidades conhecidas na segunda guerra (Holocausto e também o uso de cobaias humanas na China pelo regime japonês) e na guerra fria (houve uso de cobaias humanas de forma não-oficial, clandestina, pelos EUA). Eu coloquei a matéria no blog sobre estes testes na guerra fria mas não estou achando no momento, por isso coloquei o link com o assunto do que saiu na imprensa pra mostrar que foi noticiado (não estou "chutando").

As cenas da captura de animais foi uma das coisas mais bizarras que já vi em muito tempo. Ninguém que afirma que achou as cenas bizarras é a favor de tortural animal ou algo do gênero (pois um dos recursos apelativos usados por quem faz um ativismo maluco e xiita é ficar imputando aos outros que quem é contra atos tresloucados como este só "pode ser a favor" de tortura etc), e caso o laboratório tenha culpa (de maus tratos) que seja apurado, processado e condenado, coisa que agora ficou difícil de apurar pois desmontaram o local e as provas. "Justiceirismo" sempre costuma dar em besteira, é um dos comportamentos que mais vi no Orkut e que simplesmente arruinou aquela rede, e pelo visto segue no Facebook (pior que no Orkut).

Não ter ideia do porquê do uso de animais como cobaias, como fez o grupo que invadiu e tirou os cachorros, beira a algum tipo de fundamentalismo 'estilo talibã' (acho a postura parecida, desculpem-me se por acaso ofender algum ativista sério), anti-científico e totalmente imprudente. Tiraram animais que poderiam estar infectados por experimentos e que morreriam por infecção, doença etc em pouco tempo fora do laboratório ou poderiam passar alguma doença no contato exterior (ao laboratório), além de que ninguém sabe aonde foram parar os cachorros. Pior foi a sucessão dos fatos, saíram bizarrices ainda mais grotescas como colocar um animal pego no laboratório à venda por mais de 2 mil reais, visivelmente não recebendo alimentação adequada e consequentemente podendo morrer:
Beagle vendido por R$ 2.700 na internet era do Instituto Royal, diz anúncio
Beagle que estava à venda na internet é recuperado pelo Instituto Royal

Isso é comportamento de quem gosta de animal? Pôr um cachorro a venda ou deixá-los largados?

Eu li num dos links acima (o link está dentro do outro link do Zero Hora) que foram recolhidos 178 animais do Instituto em questão, e não se sabe onde foi parar a maioria deles, se estão vivos, mortos etc. Tudo fruto de uma histeria coletiva porque acharam que uma determinada "raça" de cachorro é "fofa". Muita gente só se "comove" com a aparência do animal (e já vi muito comentário grotesco falando de testes em humanos, coisa digna de um Mengele), enquanto não se observa a mesma "histeria" com testes em ratos, cobras e animais menos "apresentáveis" visualmente. Parece que pelo fato de uma cobra não ser um "animal fofinho", desperta menos "compaixão" no pessoal com tendência a uma certa histeria coletiva.

Passaram esse vídeo (e acabei vendo outro que também irei colocar o link abaixo) sobre o caso e acho pertinente como espero que assistam (assistam pra depois criticar ou não), são dois, vou colocar os dois vídeos abertos e os links caso alguém queira ver direto no Youtube:



O resgate dos beagles (link do vídeo acima)



Experimentos e beagles: FAQs (link do segundo vídeo, complemento)

Quem citou o o nome do neurocientista Miguel Nicolelis foi o dono do (Canal do Pirulla) dos vídeos acima, por isso achei pertinente mostrar o experimento do cientista brasileiro (muito bem lembrado por ele nos vídeos) que pode fazer com que pessoas paralíticas voltem a andar. Não é pela menção ao vídeo mas já tinha admiração pelo prof. Nicolelis (já vi matérias sobre ele antes), figura sensacional e motivo de orgulho pra qualquer brasileiro.

Pra quem não sabe ou conhece, o Nicolelis faz experimentos em macacos, e se for levar à risca o que esse tipo de 'ativismo xiita' tentou passar pra "opinião pública" com o caso dos cachorros, vai ter gente, por dedução lógica, querendo enquadrar/rotular o Nicolelis como um "sádico que maltrata animais" pois ele faz experimentos em macacos. O que é absurdo e não precisaria nem ser comentado (por ser algo aparentemente óbvio demais) se não houvesse tanta gente propensa a agir de forma extremada e puramente emocional (e irracional):
Nicolelis diz que exoesqueleto será testado no Brasil até novembro
As imagens do joelho robótico: link
Nicolelis divulga simulação do chute de paraplégico na abertura da Copa do Mundo de 2014
"É como pôr um homem na Lua", diz Nicolelis sobre Walk Again link2
Brasileiro faz macacos sentirem textura em objetos virtuais
Em livro, Nicolelis explica plano de fazer garoto tetraplégico chutar bola
Nicolelis reproduz “ilusão da mão de borracha” em macacos; projetos com a AACD são aprovados na Conep

Achei bizarras as cenas do que houve. A gente se pergunta se esse pessoal assistiu a pelo menos alguma aula de biologia no colégio pra que haja um surto histérico coletivo dessa proporção e de ignorância científica também. E não é um problema qualquer como tem sido tratado pela mídia, é algo bem sério pois já houve surto de histeria irracional movido por "crendices" na campanha de vacinação contra a gripe suína e que pode MATAR pessoas (eu, você ou qualquer um podemos ser vítimas da estupidez alheia, são casos que algum orgão sanitário precisa fazer uma chamada se´ria), um tipo de irracionalidade histérica que acomete principalmente gente com pouca capacidade de reflexão e suscetível a sugestões emocionais extremadas e que muitas vezes vão "na onda" da maioria sem refletir sobre o que estão fazendo ou endossando.

Esse tipo de ativismo mais lembra algum tipo de fundamentalismo religioso talibã. Não quero com isso afirmar que não exista gente séria que faça ativismo sobre esta causa, mas não gostei do que vi nesse episódio, além do fato de que ninguém sabe qual destino os animais tiveram (178 animais no total), com um deles sendo vendido em sites de mercadoria e ninguém responde/assume responsabilidades por nada que fizeram ou referente ao destino dos cães.

A ação de "resgaste", se é que houve (eu pelo menos não considero), não deveria se resumir ao "teatro" da histeria no local, como também e principalmente em ações nos dias seguintes como saber quem cuidaria dos cachorros etc, ou acham que são "bichinhos de pelúcia" que não precisam comer? Algo que fatalmente passou batido e que muita gente pode ter antevisto que algo desse tipo iria ocorrer. Foi uma das primeiras coisas que me vieram à mente quando vi as cenas, "e agora, para onde vão levar os cachorros? quem vai cuidar deles?".

Como diz o dito popular: "de boas intenções o inferno tá ...". Mais raciocínio/reflexão (razão) e menos histeria (apelo emocional), todo extremismo inconsequente acaba se tocando. Esse comportamento de "justiceiro", "síndrome de Batman", é algo próximo da barbárie.

O julgamento dos médicos em Nuremberg

Os réus neste caso são acusados ​​de assassinatos, torturas e outras atrocidades cometidas em nome da ciência médica. As vítimas desses crimes são estimadas na ordem das centenas de milhares. Só um punhado ainda está vivo, alguns dos sobreviventes vão aparecer neste tribunal. Mas a maioria dessas vítimas miseráveis ​​foram abatidos em definitivo ou morreram no decorrer das torturas a que foram submetidos.

Para a maioria eles são mortos sem nome. Para seus assassinos, essas pessoas miseráveis ​​não eram considerados indivíduos. Eles vieram em lotes por atacado e foram tratados de forma pior que animais.*
Dessa forma o julgamento dos médicos começou. Este foi o início da declaração de abertura para a acusação, entregue pelo General de Brigada Telford Taylor em 9 de dezembro de 1946, que apresentou ao mundo as experiências terríveis e desnecessárias que foram realizadas por médicos nazistas. No julgamento estavam 22 homens e uma mulher acusados de participação nesses experimentos. A maioria eram médicos, apenas três não eram. Alguns haviam sido médicos eminentes, poucos eram produtos de sua geração. Como essas pessoas poderiam se voltar contra a humanidade?

Embora muitas vezes conhecido como o "Julgamento dos Médicos" e de "Caso Médico", o julgamento foi oficialmente designado de Estados Unidos da América vs. Karl Brandt. Realizado no Palácio da Justiça em Nuremberg, na Alemanha, o julgamento começou em 9 de Dezembro de 1946. Quatro juízes norte-americanos presidiram a sessão - Walter Beals, Johnson Crawford, Harold Sebring, e Victor Swearingen. O julgamento descreveu e documentou alguns dos experimentos médicos mais terríveis e dolorosos, incluindo os de tifo, água do mar, testes de alta altitude, o transplante de ossos, frio extremo, esterilização, balas envenenadas e a coleta de esqueletos.

Depois de ouvir 85 testemunhas e examinar 1.471 documentos que foram apresentados, o julgamento foi pronunciado em 19 de agosto de 1947, com a condenação seguindo no dia seguinte. Dos 23 acusados, sete foram condenados à morte por enforcamento (realizada na prisão de Landsberg), nove foram condenados à prisão e sete foram inocentados.

Réu
Hermann Becker-Freyseng
Wilhelm Beiglböck
Kurt Blome
Viktor Brack
Karl Brandt
Rudolf Brandt
Fritz Fischer
Karl Gebhardt
Karl Genzken
Siegfried Handloser
Waldemar Hoven
Joachim Mrugowsky
Herta Oberheuser
Adolf Pokorny
Helmut Poppendick
Hans Wolfgang Romberg
Gerhard Rose
Paul Rostock
Siegfried Ruff
Konrad Schäfer
Oskar Schröder
Wolfram Sievers
Georg August Weltz
Sentença
Prisão - 20 anos
Prisão - 15 anos
Inocentado
Morte - enforcamento
Morte - enforcamento
Morte - enforcamento
Prisão perpétua
Morte - enforcamento
Prisão perpétua
Prisão perpétua
Morte - enforcamento
Morte - enforcamento
Prisão - 20 anos
Inocentado
Prisão - 10 anos
Inocentado
Prisão perpétua
Inocentado
Inocentado
Inocentado
Prisão perpétua
Morte - enforcamento
Inocentado
Resultado final
Prisão - 10 anos
Prisão - 10 anos
Absolvido
Executado em 2 de junho, 1948
Executado em 2 de junho, 1948
Executado em 2 de junho, 1948
Prisão - 15 anos
Executado em 2 de junho, 1948
Prisão - 20 anos
Prisão - 20 anos
Executado em 2 de junho, 1948
Executado em 2 de junho, 1948
Solta em abril de 1952
Absolvido
Solto em 31 de janeiro, 1951
Absolvido
Prisão - 15 anos
Absolvido
-
Absolvido
Prisão - 15 anos
Executado em 2 de junho, 1948
-

* Declaração de abertura do julgamento pelo General de Brigada Telford Taylor como citado em George J. Annas e Michael A. Grodin, The Nazi Doctors and the Nuremberg Code [Os médicos nazistas e o Código de Nuremberg] (New York: Oxford University Press, 1992), página 67.

Todas as fotografias são cortesia do Museu Memorial do Holocausto dos EUA (Fotos de arquivo)

Fotografia da coleção de Hedy Epstein, cortesia dos Arquivos de foto do USHMM.
Descrição da foto: Médicos nazistas como réus no julgamento dos médicos (Caso #1 dos Processos Subsequentes de Nuremberg) estão sentados no local dos prisioneiros numa sessão do julgamento. (09 de dezembro de 1946 a 20 de agosto de 1947)


Bibliografia:

- Annas, George J. and Michael A. Grodin. The Nazi Doctors and the Nuremberg Code: Human Rights in Human Experimentation. New York: Oxford University Press, 1992.

- Gutman, Israel (ed.). Encyclopedia of the Holocaust. 4 Vols. New York: Simon and Schuster, 1995.

Fonte: Site about.com (20th Century History)
Título original: The Doctors' Trial
http://history1900s.about.com/library/holocaust/aa052998.htm
Tradução: Roberto Lucena

Observação: o comentário que estava aqui sobre cobaias de laboratório foi removido para este post
Sobre cobaias de laboratório e humanos, e o caldo da segunda guerra

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Martelo dos Deuses: a Sociedade Thule e o nascimento do Nazismo, de David Luhrssen (livro)

Martelo dos Deuses, de David Luhrssen: a Sociedade Thule e o nascimento do nazismo (Hammer of the Gods. The Thule Society and the Birth of Nazism) (Potomac Books) avalia um elemento pouco analisado do nazismo e faz isso com precisão histórica e revelação perspicaz. A Sociedade Thule era um grupo de ocultismo de Munique com aspirações políticas. Liderada por Rudolf von Sebottendorff, a Sociedade defendia uma variante da Teosofia, com a superioridade racial dos arianos como ideologia central. Para difundir suas ideias esotéricas para as massas, a Thule estabeleceu um partido de trabalhadores alemães antissemitas, eventualmente transformado por Hitler no Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, conhecido como Partido Nazista. Alguns membros da Sociedade Thule, finalmente, receberam cargos importantes no Terceiro Reich.

É dada uma definição clara ao atoleiro moral em relação à máquina de matar que foi o regime nazista em Martelo dos Deuses (Hammer of the Gods). Este livro retrata a fundação invisível para as políticas cruéis e predestinadas, e fala de questões de como o Terceiro Reich foi capaz de convencer e controlar toda a população alemã.

Este é um livro assustador. É educativo, de fato, mas também repleto de exposição delineada e precisa dos mistérios que influenciaram e conduziram os assuntos de uma nação seguidas de forma pedagogicamente insana sob a regra de não apenas um tirano, mas um possesso e capacitado por forças que nenhum de nós quer reconhecer ou enfrentar. Os relatos factuais, documentadas exaustivamente em anotações, lê-se tão bem como um romance consagrado.

Mas não é ficção, apesar que muitos gostariam que tivesse sido, quando traços da Sociedade Thule são trazidos à evidências manifestas dentro de exemplos contemporâneos. "O nazismo tornou-se inevitável na cultura popular", escreve Luhrssen, abordando tudo, desde a obscura ficção de brochura dos filmes mais populares de Hollywood nas últimas décadas como "Os caçadores da Arca Perdida" (Raiders of the Lost Ark). E ele acrescenta: "a Thule continua a ser um elemento da obsessão mundial com o nazismo."

Luhrssen fornece uma atualizada, mesmo corrigida, história do nazismo, e para aqueles de nós que refletem sobre o destino da humanidade, é um documento da uma realidade final horripilante em relação à condição humana. Não estamos seguros em formas que permanecem desprotegidas, não detectadas e que podem ser verificado (e que ainda assim continuam).

Martelo dos Deuses (Hammer of the Gods) é leitura obrigatória para os historiadores e para cada indivíduo que deseja ser plenamente informado sobre um momento desconcertante na história do mundo. Mas também está na lista de leitura para aqueles que sabem que a verdade sobre o nosso futuro não é como pode parecer, e que entendem exatamente o que aconteceu dentro do Terceiro Reich induz maior compreensão de como a nossa própria existência é governada por forças invisíveis em um contínuo e escurecido movimento. O que é edificante é a pesquisa e a revelação do autor. O que não é aquilo que é descoberto e explicado com a mente de um estudioso e o coração de um poeta.

David Luhrssen falará sobre Martelo dos Deuses (Hammer of the Gods) às 19:00 em 11 de maio, em Boswell Book Co. Glen Jeansonne, autor de uma nova biografia sobre Herbert Hoover, que também está no programa.

David Luhrssen é editor do A&E do Shepherd Express e co-autor de "Elvis Presley, rebelde relutante" (Elvis Presley, Reluctant Rebel) e "Tempos de mudança: a vida de Barack Obama" (Changing Times: The Life of Barack Obama).

Texto de Martin Jack Rosenblum

Fonte: Express Milwaukee.com (EUA)
http://expressmilwaukee.com/article-permalink-18607.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação 1: este livro "Martelo dos Deuses" (tradução livre) foi elogiado pelo historiador britânico Nicholas Goodrick-Clarke (de Oxford), que é uma das referências (ou 'A Referência') quando o assunto é "misticismo nazista", tratando o assunto de forma acadêmica e não como o assunto costuma ser tratado em edições sensacionalistas (porque esse tipo assunto "místico" vende), de crendice ou de superstição para preencher vazios de "cabeças" que se impressionam facilmente tentando buscar explicações "sobrenaturais" pra processos humanos/históricos ou que vivem surfando no "pensamento mágico" delirante. Inclusive o texto que eu iria traduzir com uma sinopse do livro continha os elogios do Nicholas Goodrick-Clarke ao livro junto com de outros historiadores mas achei melhor traduzir o texto acima. Há uma resenha de um livro do Goodrick-Clarke no blog colocado pela mesma razão deste post. Quem quiser conferir, o livro foi lançado em Portugal: Raízes Ocultistas do Nazismo - cultos secretos arianos e sua influência na ideologia nazi

Aproveitando a deixa acima pra fazer um comentário que não tem nada a ver com o post (pra não abrir outro post), ao contrário do que "reza" a crença comum (e que eu mesmo já cheguei a levar a sério): as diferenças de escrita entre o tal "português do Brasil" pro "português de Portugal" beiram a insignificância. Até pedi uma vez ao Roberto Muehlenkamp (que escreve com o português de Portugal) pra eu fazer uma revisão no texto pra "corrigir" alguns termos que não são usados no Brasil (a maioria foram de nomes de localidades/pessoas que não costumam ser traduzidos ao pé da letra como em Portugal, mas coisa pouca), mas foi aí que vi a irrelevância da coisa (da tal "diferença") e passei a prestar atenção nesse mito que difundem dos "dois idiomas", que de fato possui diferença grande na forma de falar (na fonética), pronúncia, mas não na escrita. A pronúncia do português do Brasil está mais próximo do som do galego da Galiza/Galícia (Espanha) que é a "mãe" do próprio idioma português que da pronúncia do português de Portugal, descobri isso por acaso por curiosidade em saber como falam os galegos. Curiosamente a forma de falar de Portugal se distanciou da Galiza e do Brasil, é curiosamente mais fácil, eu como brasileiro, entender um galego falando (e às vezes até um espanhol com pronúncia boa) do que um português com sotaque carregado, mas mesmo assim não há dois "idiomas" como a extrema-direita em Portugal dissemina por pirraça e idiotice.

Observação 2: voltando ao post, eu não publicaria textos de divulgação de livros com conteúdo capenga e duvidoso (não-científicos) sobre esses assuntos, se por acaso sair foi engano nunca por intenção, e há vários "livros" que se enquadrariam fácil neste termo de livro não-científico/histórico (aqueles que falam sobre a "fuga de Hitler" do Bunker dele pra viver na Patagônia, francamente...), pois os considero no mesmo patamar dos livros "revis" (literatura de quinta e ficção/fantasia, muitas distorções, fontes ausentes etc). Uma das razões pra eu publicar dois links com livros acadêmicos sobre o tema "ocultismo nazi no Terceiro Reich" é porque vez ou outra aparecia algum "iluminado" na comunidade de segunda guerra citando o assunto, e ao invés de prestar atenção ao que o pessoal mais lúcido comentava sugerindo leitura crítica disso etc, esse pessoal se apegava de forma emocional, com unhas e dentes, a leituras cheias de fábulas, crendices e coisas desse tipo e ficavam irritados com os comentários tentando equiparar livros de fantasia com livros de História, o que não é aceitável, como se o local fosse destinado a ficar discutindo baboseira de ficção/fantasia.

É um direito de cada um, só que... tanto a comunidade como o blog aborda os assuntos de forma científica, então assuntos "mágicos" (de superstição) são tratados aqui como devem ser tratados a luz da ciência, como superstição e crendice, nada além disso, não adianta ninguém chorar ou espernear, é assim e pronto. Irrita muito ver gente tentando equiparar livros sérios acadêmicos (como os mencionados) com livros de ficção/fantasia, auto-ajuda e de fábulas/crendices (de ocultismo e essas baboseiras, que até podem ser bons roteiros pra filme, eu até gosto, mas são só isso, ficção/fantasia). Se essa minha opinião (que não é só minha) por acaso irritar a quem for crédulo, paciência, os comentários tentando impôr, a mim e a mais gente, crendices e superstições também irritam tão ou muito mais do que a irritação eventual que eu possa provocar e só estou fazendo o comentário por achar que discussão sobre equiparar coisas que não são equiparáveis (livros de História com livros de conteúdo duvidoso) já passou da conta, até porque eu não tento impôr minhas crenças mas já vi muita gente tentando impôr suas "crenças/superstições".

Observação 3: considero esse assunto "misticismo nazi" ou "ocultismo nazi", um assunto marginal na questão do nazismo/fascismo, considero outras questões mais relevantes nos temas nazismo e fascismo, mas era difícil falar isso com a quantidade de crédulos que circulavam no Orkut falando dessas baboseiras como "verdade absoluta" e que ficavam com raiva quando a gente contestava os comentários toscos que eles colocavam. Embora a questão do "misticismo" tenha existido (tanto que os livros citados acima tratam disso), a maior parte dos nazistas da época eram cristãos ou se denominavam cristãos (religião majoritária na Alemanha, com todas as suas denominações/divisões), assunto já tratado em outros posts e que pode ser mais discutido adiante caso alguém se interesse, embora essas crenças racistas esotéricas culturalmente se misturavam às crenças religiosas da época.

Sei que muito religioso não gosta quando se toca no assunto, mas uma forma de não se chocar com isso é admitindo o que se passou na época em relação a essas igrejas e não querer negar o que se passou, não tratar a coisa como "questão de fé" e sim de assunto histórico.

Só finalizando, digo que o assunto do "misticismo" é marginal pois não é um elemento central desses sistemas, pode ser central na estética e em grupos mais radicais (principalmente os liderados por Himmler que era chegado nessas baboseiras), mas não é algo central na economia e política. Só que como o cinema fantasia muito em torno desse tema (Hellboy, Caçadores da Arca Perdida, Indiana Jones e a Última Cruzada) e a superstição é uma praga universal, então acho necessário o post com os livros desses historiadores pois são o que há de mais acurado no assunto no mundo, fora alguma outra publicação em alemão que eu já vi mas não lembro agora do nome (que não é um idioma tão acessível à maioria, ao contrário do inglês e espanhol). Há livros em português do Nicholas Goodrick-Clarke.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Relato do Sr. Aleksander Henryk Laks, sobrevivente do Holocausto (vídeo)

Foi sugerido a mim dar uma olhada na página do Sr. Laks, então acabei resolvendo colocar o vídeo com seu relato pra assistirem. Segue abaixo o vídeo com o Sr. Alexander Henryk Laks dando uma palestra com o relato do que ele presenciou na segunda guerra e obviamente no Holocausto. Ele é oriundo da Polônia e presenciou a invasão nazi àquele país e toda a sequência de confinamento em guetos, campos de extermínio/concentração etc. O vídeo é longo, tem 2 horas e 37 minutos mas vale a pena assistir.

A quem quiser pular logo para seu relato pois há um intervalo no começo do vídeo demorado, o relato começa mais ou menos a partir dos 14 minutos e 50 segundos.

E pra não me alongar, só um adendo, pois muita gente vem abordar a gente de forma não muito "sútil" com pregação/ataque religioso etc ignorando a convicção de cada um do blog. Eu considero pessoalmente que esse adendo nem deveria ser relevante ou ocorrer, mas em virtude da frequência da ocorrência de atritos religiosos no país de uns tempos pra cá, não é demais fazê-lo: a palestra do vídeo foi dada a um grupo evangélico/protestante, inclusive a gravação consta na conta do grupo no youtube. O importante é o conteúdo do relato dele e não questões religiosas. Não sou evangélico/protestante e nem judeu, tampouco religioso (pra tristeza dos "revis", que adoram rotular todo mundo que eles odeiam de "judeu", "protestante", "sionista" etc).

domingo, 27 de outubro de 2013

Rússia: Uma investigação traz a luz vários filmes soviéticos do "Holocausto de balas"

Durante a invasão nazi, os prisioneiros judeus eram executados primeiro
Rússia: Uma investigação traz a luz vários filmes soviéticos do "Holocausto de balas"

Uma cena repetida nos avanços nazis:
os fuzilamentos em massa de prisioneiros
Moscou - Quase uma dúzia de filmes soviéticos exibidos apenas poucas vezes e perdidos durante muitos anos, assim como roteiros para filmes que nunca chegaram a ser rodados, sobre a perseguição de judeus durante a II Guerra Mundial foram recuperadas depois de mais de meio século. Esses registros são reconhecidos no livro "O fantasma do Holocausto: o cine soviético e a catástrofe judaica", um volume publicado esta semana pela Rutgers University Press. "Esses filmes foram praticamente apagados da história", explicou a autora do livro, Olga Gershenson, professora de Estudos Judaicos e do Oriente Próximo da Universidade de Massachusetts Amherst, numa entrevista com a RIA Novosti. "Ao pensar em filmes sobre o Holocausto, virá à cabeça da gente imediatamente "A lista de Schindler" ou "A vida é bela", mas na realidade, quase metade das vítimas do Holocausto, cerca de três milhões de pessoas, foram assassinadas nos territórios da União Soviética, e isto não é parte de forma alguma do imaginário público. Simplesmente está fora de nossa visão, a gente não pensa no que aconteceu na URSS", acrescentou a investigadora.

A trágica história dos milhões de pessoas que morreram nos campos de concentração e extermínio da Alemanha e Polônia está bem documentada em filmes e livros, mas Gershenson nos conta que o que ocorria nos territórios soviéticos se denomina às vezes por "Holocausto de balas", já que os judeus eram simplesmente executados no ato.

Um dos primeiros filmes soviéticos a tratar do tema da perseguição nazi dos judeus foi “O professor Mamlock” em 1938. Escrito por Friedrich Wolf, médico e escritor judeu da Alemanha que chegou à Rússia depois dos nazis terem alcançado o poder, conta a crua história de um doutor judeu alemão capturado pelos soldados nazis e que marcha até sua morte. Foi exibido durante um breve tempo nos cines soviéticos, mas proibiram em finais dos anos 40, segundo contou Gershenson.

Durante várias viagens à Rússia, onde nasceu, Gershenson buscou nos imensos arquivos estatais de história russa e nos registros dos diferentes comitês encarregados de aprovar ou rechaçar os projetos cinematográficos, com o objetivo de encontrar filmes e roteiros. Alguns contavam com versões novas, já que foram emitidas ordens para alterá-los para eliminar personagens judeus.

Todos esses anos, comenta, a maioria dos cineastas ainda vivos que têm entre 80 e 90 anos havia resignado a que seus filmes nunca chegassem ao público e se sentiram "exultantes de gozo" quando souberam do projeto.

É importante quitar esta conta, afirma, já que "forma parte dos formadores não só da identidade judia contemporânea, como também de sua história durante o século XX", conclui a investigadora em entrevista realizada pelo RIA Novosti.

Fonte: site Memoria Verdad y Justicia - Télam (Agência Nacional de Notícias, Argentina)
http://memoria.telam.com.ar/noticia/rusia--rescatan-films-sobre-el--holocausto-con-balas-_n2726
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Os Estados Unidos do ódio

‘El País Semanal’ e Canal + adentram na senda mais ‘conspiranóica’, racista e integrista dos EUA

Assim é o dia a dia do Ku-Klux-Klan, dos extremistas cristãos que se preparam para uma guerra santa racial e dos grupos neonazis que querem limpar o país de homossexuais e judeus

FOTOGALERIA Os EUA ultradireitista, em imagens
Jon Sistiaga 9 OCT 2013 - 00:00 CET

O líder das Nações Arianas. / Canal+ / Hernán Zin

“Você está me dizendo que também os treina para uma possível invasão de zumbis?”, pergunto com cara de estupor a Mike Lackomar, porta-voz e um dos líderes da Milícia de Michigan. “Sem dúvida, tanto faz ser um zumbi ou um reptiliano”, responde com severidade. “Há que procurá-lo corpo a corpo e lhe meter balas no peito e outra na cabeça, como no Vietnã”. E cai em gargalhadas. Mas não ri porque está reconhecendo, com toda seriedade, que suas crianças se preparam nos bosques de Michigan para deter hordas de mortos-vivos, senão pela suposta graça que acaba de fazer. Qual a graça? Eu tampouco sei, então Lackomar esclarece: “Como no Vietnã – sorri -, onde tinha que se ganhar os corações e mentes da população. Exatamente, dois tiros no coração e um na cabeça! Se um zumbi sangra quer dizer que ele pode matar”. Estamos em um parque natural a uns cem quilômetros ao sul de Detroit. É sábado. Ao nosso redor há ciclistas, gente fazendo footing, aprendizes de ornitólogos com seus prismáticos e famílias inteiras se preparando para passar um dia de campo. Uns 20 milicianos vestidos com traje de camuflagem e armados até os dentes começam, por seu lado, uma incursão no suposto território inimigo. Bubba, o alias de Tom, um engenheiro agrônomo que hoje às vezes passa por chefe do grupo, dá-lhes as últimas instruções: se escutam um drone, ou seja, o motor de um avião espião não tripulado, devem se esconder entre as árvores. Estamos no estacionamento do parque, junto a vários corredores que estiram seus músculos se preparando para sair para fazer esporte, mas Bubba acaba sua conversa de motivação mirando-lhes com expressão dura e lhes fala: “Se alguém é capturado ou ferido, que não espere resgate”.

O líder das Nações Arianas, uma organização
que se considera cristã e racista. / HERNÁN ZIN
A Milícia de Michigan é um dos mais de 1.300 grupos patrióticos monitorizados nos Estados Unidos por diferentes associações de direitos civis. Alguns desses grupos são considerados muito perigosos e imprevisíveis pela retórica irracional, emocional e até conspiranóica com que agem. Por isso são conhecidos como Grupos de Ódio. A crise econômica, o aumento do paro e a reeleição de Obama, um presidente negro, de sobrenome estrangeiro e pai muçulmano, fez eles crescerem em número.

“As milícias mais perigosas são aquelas que professam um ódio extremo contra o governo dos Estados Unidos, que se dedicam constantemente a fazer acopio de armas, que possuem enormes arsenais e que secretamente planejam possíveis ações contra o governo federal. Dito isto, a maior parte das milícias são cidadãos normais, que gostam de milícias e que são partidários de porte de armas e das liberdades da segunda emenda”, disse Jack Kay, antigo reitor da Universidade de Michigan e que levou anos estudando o fenômeno das milícias. Desde sua cátedra de Teoria da Comunicação, analisou as estratégias de captação e propaganda de dezenas de grupos radicais e está convencido de que muitos indivíduos violentos encontram aqui o lugar onde socializar todas as suas ocultas pulsões de ódio. Este Estados Unidos racista, integrista, supremacista e cheio de ódio é o ecossistema perfeito para a aparição dos lobos solitários.

Lackomar, o porta-voz dos milicianos de Michigan, parece um tipo muito normal. Casado, com dois filhos e com um bom emprego como caminhoneiro. Quando ele mostrou o porta-malas de sua perua, deixou-me boquiaberto: “Sempre levo meu rifle de combate, um Kalashnikov, uma arma muito boa… e leva 10 carregadores de 30 balas cada um… 300 disparos… Bem, isto é o que levo habitualmente no carro para coisas de emergência, mas sempre que saio de casa, ainda que seja para compra, levo minha pistola e algum carregador a mais, assim tenho sempre 60 balas sempre acima”. As leis de Michigan proíbem levar armas es­condidas sob o paletó ou a calça, é assim que Michael e muitos de seus colegas levam suas pistolas na cintura, à vista de todo mundo, como no Velho Oeste. Lackomar insiste em me dizer que não são ultradireitistas, senão libertários. Que não são racistas, que inclusive têm uma esposa de origem filipina, ainda que me confirme que não há nenhum membro negro, judeu, hispânico ou homossexual. Mas sobretudo, insiste que está farto de que o governo lhes considere um bando de pirados. Eles se consideram constitucionalistas, patriotas, defensores mortais dessa segunda emenda que lhes garante o direito de levar armas e formar milícias. Uma emenda da Constituição que tem 200 anos, do tempo da guerra contra os britânicos e os índios nativos.

DEFCON 4. As teorias da conspiração que manejam estas milícias são de todo tipo: desde aquela de que a Agência Federal de Saúde (FEMA) está preparando campos de concentração nas Montanhas Rocosas até a aquele em que a Casa Branca quer impôr a lei marcial em todo país. Aquela em que Obama vai apreender suas armas até aquela da Agenda 21 da ONU sobre a sustentabilidade do planeta, que pretende roubar os recursos naturais dos Estados Unidos. A Milícia de Michigan nos confirma que rebaixou seu nível de alerta a Defcon 3, nível amarelo, ameaça média, ainda que faça pouco tempo estavam em Defcon 4, estado de alerta quase de pré-guerra. Mas contra quê ou contra quem? Quem é o inimigo?... Segundo Lackomar, todas as milícias deveriam treinar em cinco áreas diferentes, cinco cenários nos quais todos seus homens deveriam estar atentos nesse momento: “Na luta contra o crime, fazendo patrulhas pela vizinhança, algo para o qual estamos muito capacitados; em resposta ante desastres naturais como os recentes tornados de Oklahoma ou as inundações provocadas pelo Katrina; sobre o terrorismo, como o de Boston; ante qualquer tipo de invasão, quer seja de Cuba, Coreia do Norte ou de zumbis, e em lutar contra a tirania de um governo que extrapole suas funções”.

Há mais de 1.300 grupos patrióticos monitorados nos Estados Unidos por diferentes associações civis

As milícias acreditam de verdade que os Estados Unidos estão a bordo de uma espécie de distopia, una sociedade indesejável em si mesma, um pesadelo em vida. Estão convencidos de que vem uma nova ordem mundial que os escravizará, por isso insistem tanto em treinar contra isso que Alexis de Toqueville chamou de “tirania da maioria”. Por isso vivem numa cultura de autodefesa e cultivam uma retórica partisan. Por isso se vem a si mesmos como a resistência, a força de choque. Os que defenderiam os Estados Unidos contra tudo aquilo que lhes ataque. “Algo não funciona nos Estados Unidos, neste país não podemos dizer a palavra ‘patriota’ porque seremos considerados terroristas, onde não podemos dizer ‘constitucionalistas’ porque somos tachados de terroristas”, queixa-se o coronel Robert Cross, o líder da Ohio Minutemen, outra conhecida milícia. Da janela de sua casa, em pleno campo, pode-se ver a vasilha fumegante da central nuclear de David-Besse, junto ao lago Erie. Cross insiste que não é um radical, senão alguém muito preocupado pelo desvio liberal do governo de Washington, mas Cross é um claro exemplo de pensamento cativo e vitimista. Como muitos milicianos, acredita que foi eleito para uma missão muito sacrificada e muito pouco reconhecida: defender os demais, ou seja, sua gente, de tropas federais, de capacetes azuis da ONU, dos mercenários da Blackwater ou dos sicários dos cartéis mexicanos. Todos esses supostos inimigos estão na página da web do supostamente pacífico Cross, que na internet explica como atuar se a gente se ver envolto em um tiroteio: “primeiramente, leve uma arma; o segundo, leve um amigo com armas, e em terceiro lugar, traga todos seus amigos com armas…”.

DETROIT, CIDADE EM RUÍNAS. Faz já alguns anos que não chega nenhum viajante à Estação Central de Detroit, em Michigan. Há décadas foi concebida como o edifício ferroviário mais alto do mundo, mas um dia os trens deixaram de sair. A cidade do motor; que chegou a ser a quarta urbe dos Estados Unidos, entrou em crise e começou a perder população. Seus edifícios se esvaziaram, seus bairros foram abandonados, suas ruas apodrecem e acabou se declarando quebrada ante a impossibilidade de pagar suas dívidas. Esta cidade converteu-se no epicentro dessa teologia do ódio que é defendida por muitos grupos extremistas. Uma cidade falida, quebrada, que perdeu 25% de sua população em 30 anos. Detroit passou de dois milhões de habitantes a apenas 700.000, tem uma taxa de desemprego insuportável de mais de 20% e é a segunda cidade mais violenta dos Estados Unidos (a primeira está também em Michigan, a 100 quilômetros). É uma urbe abandonada a sua própria sorte pela prefeitura, que cortou a luz, a água, coberta de lixo ou de patrulhas policiais em muitos bairros porque, simplesmente, apenas vive gente e já não tem capacidade de cobrança. Uma cidade que é um enorme bodega do fracasso. A primeira, como propõe algum intelectual, acrópole estadunidense. Neste entorno, como não vão surgir apóstolos do ódio que galvanizam todo o ressentimento e a frustração daqueles que sentem suas vidas desperdiçadas?

Estamos preparados para a luta contra o crime e ante qualquer invasão, sejam de cubanos ou zumbis”

“Os crimes de ódio aqui em Michigan aumentaram. Quando a economia falha, há uma tendência de determinada gente a simpatizar com esses grupos de ódio porque necessitam a alguém a quem jogar a culpa. E esse bode expiatório são os judeus, ou as minorias ou os imigrantes”. Heidi Budaj é a diretora da Liga Antidifamação, uma organização que tem mais de cem anos denunciado condutas xenófobas e racistas. Na atualidade monitoram mais de mil grupos dos chamados grupos de ódio, rastreando constantemente suas webs, seus chats, suas mensagens ou os discursos de seus líderes. Um deles, o Movimento Nacional-Socialista (MNS), a maior organização neonazi dos Estados Unidos, tem sua base em Detroit. Pergunto a Heidi, judia de origem húngara que perdeu parte de sua família nos campos de concentração da Alemanha nazista, que lhe diria ao líder do MNS, Jeff Schoep: “A mim me fascina que alguém dedique toda sua vida a difundir o ódio. Eu lhe perguntaria o que o fez lhe converter à sua máquina de odiar minorias étnicas, judeus, afro-americanos, gente que é diferente dele”. Schoep nos recebe na recepção do meu próprio hotel porque seu partido, confessa, não tem sede. Traslado a pergunta de Heidi ao dirigente neonazi, que, sem perder seu meio sorriso, contesta: “Não se trata de ódio, trata-se de amor. Podes nos considerar um grupo de amor, de amor a nossa gente. Queremos tanto esta nação que queremos nos separar de toda essa gente.”

“A suástica apavora…”. Schoep tem cara de bom garoto e uma esmerada presença. Fala pausado e escolhendo suas palavras. Seu discurso é afável, medido, até contido. Jeff está convencido que a raça branca nos Estados Unidos está se convertendo em uma minoria. Seu sobrenome é de origem alemã. Disse-nos sem lhe perguntar, que é orgulhoso de sua suposta ascendência ariana. Não quer dizer quantos membros são, mas em seus próprios vídeos se estima que as manifestações apenas chegue a meia centena. Segundo as estimativas de Jack Kay, o ex-reitor da Universidade de Michigan, “por cada membro real de um grupo radical há uma centena de simpatizantes”.

Jeff escreveu na página da web do MSN (NSM) o ideário de seu partido. Ponto três: “Demandamos territórios e colônias para alimentar nossa gente e enviar o excesso da população”. Um discurso que cheira ao famoso “espaço vital” dos nazis que desencadeou a II Guerra Mundial, ainda que pessoalmente suaviza e dizem que são só ideias soltas. Para posar para fotos, Jeff se coloca diante da bandeira de seu partido. Por que a suástica? Primeiro conta uma longa perorata sobre o significado esotérico das runas e das cruzes gamadas, mas no final reconhece: “A suástica sugere a nossos inimigos que não há conversa. Quando nossos inimigos veem este símbolo, encolhem-se. Se nos desafiam já sabem o que significa: justiça rápida e sem piedade.”

A Milícia de Michigan durante um treinamento. / HERNÁN ZIN

KKK, O IMPÉRIO INVISÍVEL. Muitos desses grupos compartilham ideologias, fins e inclusive até os símbolos. A suástica, por exemplo, e a saudação nazi do braço ao alto são utilizadas com frequência por muitos dos capítulos ou irmandades da Ku-Klux-Klan. A sede dos Cavaleiros Tradicionalistas da KKK fica em um pequeno povoado de Missouri, a uns cem quilômetros ao sul de San Luis. Os escritórios desta confraria autodenominada de "Império Invisível" é um pequeno despacho dentro do domicílio de seu líder máximo, Frank Ancona, grande mago imperial. Aqui nos recebe, entre gatos, cachorros e até um porco que sua esposa nos impede de fotografar por pudor. “Entre todos los capítulos del Klan seremos uns 7.000 membros”, disse Ancona. “Por segurança, não guardamos nenhum arquivo com os nomes de nossa gente. Cada um dos líderes locais sabe quem são. E cada dragão conhece a seus líderes locais”.

Frank Ancona, filho de um klansman e pai de futuros membros desta confraria racista, fala sobre si mesmo como um ativista pelos direitos civis dos brancos. Sua organização é a mais antiga e infame de todos os movimentos supremacistas dos Estados Unidos e em sua longa história tem centenas de assassinatos rituais de afro-americanos. “Eram outros tempos”, sentencia Ancona, que assegura que agora já não são violentos: “Somos uma organização cristã, branca e patriótica que se ocupa dos interesses da raça branca nos EUA. A gente diz que quando você fala que supremacismo branco significa ódio, mas o que nós acreditamos quando falamos de supremacismo é que a raça branca é superior as outras”.

Quase todas as ordens da KKK têm uma receita social para implementar suas teorias racistas. Obviamente, nesses tempos não podem defender nem ideias violentas nem soluções finais, mas continua insistindo no que eles chamam de separatismo branco. Rachel Pendergraft, líder dos Cruzados da KKK no Arkansas e apresentadora na internet de um informativo racista chamado Orgulho Branco, mostra-se categórica: “Estamos seguros de que há um genocídio programado contra a raça branco a nível mundial, e que somos o bode expiatório para tudo o que está funcionando mal em nosso planeta”. Por isso insiste, a única solução é o separatismo. O segregacionismo. A separação das raças. Evitar a mistura. A contaminação. Rachel vive em uma zona, as montanhas Harrison, que do ponto de vista racial é quimicamente pura. Só há brancos. Na sede da KKK se reúnem aos domingos os racistas locais para ir à missa, socializar entre eles e fazer um churrasco. É como um clube de campo que emana ódio. Aqui se defende o apartheid,os guetos para outras "raças", ou uma nova política de bantustões para prender negros judeus ou hispânicos.

A suástica sugere a nossos inimigos que não há conversa. Eles sabem o que significa. justiça sem piedade”

“É difícil encontrar uma organização supremacista branca cujos membros não tenham cometido algum delito ou passado pela prisão. Nas Nações Arianas, os 95% dos membros estiveram na prisão”. Paul Mullet nos encontra na caravana na qual vive e que lhe serve de quartel general da qual provavelmente seja a mais violenta, integrista e radical de todas as organizações extremistas. As Nações Arianas tiveram um passado turbulento, o próprio Mullet se define como um cara violento. Carrega um uniforme que recorda bastante a dos camisas pardas do partido nazi de Hitler e nos pede que falemos baixo porque sua filha de quatro meses está dormindo. Desde que seu ordenador escreveu o manual do cruzado de Deus, o decálogo do bom racista e toda essa besteirada que "arianos", como o próprio Mullet, são uma raça de deus. Os descendentes, assegura, das doze tribos de Israel. Adão e Eva, insiste, tiveram só um filho, Abel, o primeiro da linhagem dos brancos como ele. Eva, contudo, teve uma conjunção carnal com o diabo, com a serpente bíblica, e assim saiu Caim, o irmão mau do qual descendem os judeus, negros e o resto das raças. Paul disse que está tudo documentado. A guarida de ódio, a sede das Nações Arianas, essa organização ultracristã e extrema, é a habitação de Mullet.

“Claro que sou racista. Eu como branco sou superior as outras raças. Por supuesto”. Mullet não tem papas na língua. Não é um racista politicamente correto. O guru de tantos supremacistas é um homem cheio de ódio. Alguém cuja capacidade de amar foi desativada. Um paranoico que acredita ser eleito por seu deus para depurar o mundo. Tipos como ele são os que incendeiam de ira os lobos solitários que acabam pondo em prática todos esses sujetos que vomitam na internet. Graças à Red, Mullet se converteu na referência de uma ideologia alimentada pelo rancor. Antes de irmos a sua casa, perguntei-lhe se sente bem vivendo no ódio. E ele me respondeu: “Sim. Sinto-me bem. É o que sou. Um tipo que odeia.”

O documentário ‘La América del odio’ (Os EUA do ódio) é transmitido no Canal + nesta miércoles, 9 de outubro.

Fonte: El País (Espanha)
http://elpais.com/elpais/2013/10/03/eps/1380801578_189151.html
Título original: La América* del odio
Tradução: Roberto Lucena

Observação sobre grafia de Estados Unidos e "América": 1. pode parecer "bobagem" mas eu só uso o termo exato. "América" é nome de continente e não de país, apesar de faer parte do nome de um país. Usam esta expressão "América" de forma errada e generalizante em alguns países da Europa, principalmente Inglaterra, para se referir aos Estados Unidos. Como também os próprios EUA a usam. A Espanha tem uma certa mania (igual a de alguns países da América do Sul) de repetir esses modismos ou termos impositivos, ou porque acham bonito/diferente imitar britânicos ou norte-americanos (sem levar em conta a carga simbólica do termo) e abrem margem pra crítica. Como só escrevo o nome do país, eu troquei o título original da matéria que estava com "América" para "Estados Unidos". A quem por ventura achar que isso é anti-americanismo (pois tem gente que idolatra tudo e se dói com isso ao tentar politizar ao extremo o idioma, por achar "anormal" que as coisas sejam escritas da forma correta), não é, é apenas a forma correta de se escrever o nome desse país em português. Quem quiser chorar e espernear, à vontade, o termo correto há de prevalecer sobre o incorreto.

2. Muita gente também de forma grotesca usa a sigla EEUU pra se referir a Estados Unidos quando isso é uma grafia do espanhol (que dobra as letras da sigla de um nome quando este está no plural), não existe isso no português (a sigla usada em português pra Estados Unidos é EUA, que também existe no espanhol).

3. O termo estadunidense também é correto, como "ianque" e "norte-americano" (embora este seja referente à América do Norte, por generalização também se usa com mais frequência em relação aos EUA do que pra se referir ao Canadá ou México). Já vi "figuras" no Orkut (e quando fui pegar o link do dicionário pra colocar aqui achei uma pérola num site com o mesmo tipo de bobagem) querer questionar o termo quando em qualquer dicionário são citados todos esses termos. Eu aprendi no colégio. Ao pessoal do "contra tudo", por favor, parem de querer estuprar o idioma por ignorância e por fanatismo político, é ridículo isso.

Os comentários acima não são sobre erros ortográficos que são os mais comuns e frequentes (nos textos pode-se encontra vários), mas me refiro a erros de conceito mesmo e de interpretação, por cretinice, idolatria e/ou ignorância voluntária. Não seria necessário fazer essas observações se o ambiente político do país não estivesse tão polarizado e bitolado.

sábado, 19 de outubro de 2013

"Meu avô nazi, Amon Goeth, teria me matado"

Adotada na infância, mulher descobre ser neta de comandante nazista
Jennifer Teege | AFP

Jennifer Teege foi adotada e sabia pouco
sobre história da família biológica
A alemã-nigeriana Jennifer Teege descobriu já adulta ser neta de Amon Goeth, o célebre comandante nazista do campo de concentração de Plaszow, em Hamburgo, no norte da Alemanha.

Goeth tornou-se mundialmente conhecido ao ser retratado no filme A Lista de Schindler, o grande vencedor do Oscar de 1994, que conta a estória, baseada em fatos reais, de como um industrial alemão salvou mais de 1 mil judeus da morte ao empregá-los em sua fábrica durante a Segunda Guerra Mundial.

Teege é fruto de um breve relacionamento entre sua mãe, filha de Goeth, e um estudante nigeriano. Ela, que acaba de publicar o livro Amon, My Grandfather Would Have Shot Me ("Amon, meu avô, teria atirado em mim", em tradução livre), contou, em entrevista ao serviço Mundial da BBC, como a descoberta de suas raízes mudou sua vida.

Leia o relato.

"Há cinco anos, eu estava em um biblioteca em Hamburgo, no norte da Alemanha, e vi um livro envolvido em um pano vermelho que imediatamente chamou minha atenção.

O título, traduzido para o inglês, era I Have to Love My Father, Right? (Eu tenho que amar meu pai, certo?, em tradução livre). Estampava na capa a foto pequena de uma mulher que me parecia familiar.

Então comecei a folheá-lo. Havia muitas fotos e à medida que virava as páginas, percebi que havia algo errado.

No final, a autora resumia alguns detalhes sobre a mulher da capa e sua família e percebi que se encaixavam perfeitamente com o que eu sabia sobre a minha família biológica.

E entendi que se tratava de um livro sobre a história da minha família.

A mulher na foto era minha mãe e seu pai era Amon Goeth, comandante do campo de concentração de Plaszow, perto de Cracóvia.

Adoção

Minha mãe não tinha me contado nada. Ela me deu à adoção pouco depois que nasci, então não cresci com ela.

Poucas semanas depois do meu nascimento, fui entregue a um orfanato e, às vezes, recebia visitas da minha mãe. Aos sete anos, fui adotada por uma família e, depois disso, não tive mais contato com minha mãe, com exceção de uma vez.

Eu já tinha mais de 20 anos, e ela provavelmente não me contou nada para me proteger – provavelmente ela achou que seria melhor se não soubesse nada sobre meu passado real, sobre a verdade, sobre minha família, sobre meu avô.

E fiquei totalmente chocada quando descobri a história, era como se alguém tivesse puxado meu tapete.

Eu levei o livro para casa e o li da primeira à última página. Havia detalhes sobre a minha mãe, sobre minha avó e meu avô, Amon Goeth.
Libertação

Goeth no campo de concentração de Plaszow.
Ele foi condenado à morte por crimes de guerra.
Com o tempo, comecei a sentir o impacto daquela história sobre mim. Por ter sido adotada, eu sempre soube muito pouco sobre meu passado. E ter me confrontado com ele foi algo muito sério.
Amon Goeth | Museu do Holocaust

Eu tinha assistido ao filme A Lista de Schindler, em que Ralph Fiennes (ator inglês) faz o papel do meu avô. Mas nunca poderia imaginar que eu e Goeth éramos ligados geneticamente e isso foi muito angustiante.

Senti-me parte de sua história, mas ao mesmo tempo distante – o que não aconteceu com minha mãe, porque ela cresceu com a minha avó e deve ter sido muito difícil para ela deixar o passado para trás.

Eu tento não deixar o passado para trás, mas quero colocá-lo no lugar ao qual ele pertence. Isso não significa que eu vou ignorá-lo, mas não quero deixar que ele domine a minha vida.

Eu não sou um reflexo dessa parte da família, mas ainda estou muito conectada a ela. E espero achar uma forma de integrá-la à minha vida.

É uma história única, muito atípica e de significado profundo. Aborda a questão universal de como lidar com o peso do passado no presente e deveria mostrar como este passado pode ser libertador".

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/10/131003_avo_nazista_escritoria.shtml

Ver mais:
My Nazi grandfather, Amon Goeth, would have shot me (BBC)

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Candidata francesa que comparou ministra a macaco é suspensa

PARIS - Uma candidata às eleições municipais que comparou a ministra da Justiça da França a um macaco em sua página no Facebook foi suspensa nesta sexta-feira pelo seu partido de extrema-direita Frente Nacional, após dizer a um canal de TV francês que preferia ver a ministra em uma árvore do que no governo. O incidente foi um golpe para os esforços da legenda anti-imigração, que tenta se distanciar das acusações de racismo.

Anne-Sophie Leclere, candidata na cidade de Rethel, postou uma montagem de fotos na rede social representando a ministra da Justiça, Christiane Taubira, ao lado de uma foto de um bebê chimpanzé. Questionada em uma reportagem da emissora France 2, Anne-Sophie respondeu:

- Eu prefiro vê-la em uma árvore do que no governo - disse. - Francamente, ela é um selvagem, aparece na TV com um sorriso de demônio. Não é racismo.

Florian Philippot, vice- presidente do partido, disse que a candidata sofreria uma advertência disciplinar interna e chamou sua escolha como candidata de um "erro".

A Frente Nacional expulsou vários membros por racismo ou por mostrar simpatia à ideologia neonazista desde que Marine Le Pen assumiu a liderança do partido em 2011 no lugar de seu pai, Jean-Marie Le Pen, que foi condenado por menosprezar o Holocausto.

O movimento liderado por Marine Le Pen tem ganhado terreno em pesquisas de opinião antes das eleições municipais do próximo. Ela projetou-se como uma defensora do secularismo e dos direitos das mulheres e ameaçou processar jornalistas que chamam a Frente Nacional de extrema-direita por difamação.

Fonte: EFE
http://br.noticias.yahoo.com/candidata-francesa-comparou-ministra-macaco-%C3%A9-suspensa-150224257.html

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